Revista valeparaibano

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EDUCAÇÃO Caderno especial traz o que o Vale e o Brasil têm de opção no ensino P44

SOLIDÁRIO Histórias de pessoas que mudaram a vida de centenas de outras P28

Janeiro 2012 • Ano 2 • Número 22 R$ 7,80

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As crianรงas acordam cedo pelos presentes de Natal. As mulheres, pelos perfumes O Boticรกrio.

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Opinião

Palavra do editor

DIRETOR RESPONSÁVEL Ferdinando Salerno

Um ilustre desconhecido

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ouco se faz para valorizar o legado deixado por Cassiano Ricardo. Escassos títulos nas livrarias e sebos do Vale do Paraíba, disputas judiciais e um descaso inexplicável na divulgação das obras do poeta formam um tripé indesejável à memória do escritor nascido em São José dos Campos e imortalizado pela Academia Brasileira de Letras. Neste mês, quando se completa 38 anos de morte do escritor, é esperada a entrega do prédio que abrigará o Memorial Cassiano Ricardo, uma promessa prestes a fazer 12 anos, desde que Oscar Niemeyer projetou o primeiro memorial em homenagem ao poeta, que acabou trocado por um torii em comemoração ao Centenário da Imigração Japonesa. A pedra fundamental de lançamento da obra foi perdida: prefeitura e Fundação Cultural Cassiano Ricardo não sabem onde foi parar. Agora, a promessa do novo memorial vem com a roupagem da tecnologia, em plena era digital, no prédio do Cefe (Centro Educacional de Professores), que está em fase final de construção ao lado do Parque da Cidade. Entretanto, não se sabe ao certo quando o espaço, que abrigará objetos pessoais e contará a história de Cassiano Ricardo, será entregue para visitação. Um ano também se passou desde que a Fundação Cultural informou que editaria os manuscritos do livro “Dexistência” encontrados em 2010 entre as caixas do Arquivo Público de São José. Nem o prometido espaço para repousar as cinzas do poeta, que estão no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, foi construído. O escritor, que sempre enalteceu sua cidade natal, merece ser tratado assim? Cassiano Ricardo está entre os maiores poetas do país, ao lado de Carlos Drummond de Andrade, e não é conhecido nem por seus conterrâneos porque poucos têm acesso à sua obra. Se um país que não valoriza a cultura é um país pobre, que não tem interesse por si e nem pelos outros, o que podemos dizer de uma cidade que renega o trabalho de seu filho mais ilustre?

DIRETORA ADMINISTRATIVA Sandra Nunes EDITOR-CHEFE Marcelo Claret mclaret@valeparaibano.com.br EDITOR-ASSISTENTE Adriano Pereira adriano@valeparaibano.com.br EDITOR DE FOTOGRAFIA Flávio Pereira flavio@valeparaibano.com.br REPÓRTERES Hernane Lélis (hernane@valeparaibano.com.br), Isabela Rosemback (isabela@valeparaibano.com.br) e Yann Walter (yann@valeparaibano.com.br) DIAGRAMAÇÃO Daniel Fernandes daniel@valeparaibano.com.br COLABORADORES Cristina Bedendo, Denis Machado, Franthiesco Ballerini, João Rangel, Letícia Maciel, Marrey Júnior e WR Models COLUNISTAS Alice Lobo, Arnaldo Jabor, Fabíola de Oliveira, Marco Antonio Vitti e Ozires Silva CARTAS À REDAÇÃO cartadoleitor@valeparaibano.com.br As cartas devem ser encaminhadas com assinatura, endereço e telefone do remetente. O valeparaibano reserva-se ao direito de selecioná-las e resumi-las.

DEPARTAMENTO DE PUBLICIDADE REGIONAL Cristiane Abreu, Mellise Carrari,

Tatiana Musto e Vanessa Carvalho comercial@valeparaibano.com.br (12) 3202 4000 RIO DE JANEIRO E BRASÍLIA

Essencial Mídia Carla Amaral e Claudia Amaral (11) 3834 0349

A revista valeparaibano é uma publicação mensal da empresa Jornal O Valeparaibano Ltda. Av. São João, 1.925, Jardim Esplanada, São José dos Campos (SP) CEP: 12242-840 Tel.: (12) 3202 4000

ASSINATURA E VENDA AVULSA Carina Montoro 0800 728 1919 Segunda a sexta-feira, das 8h às 18h FAX: (12) 3909 4605 relacionamento@valeparaibano.com.br www.valeparaibano.com.br

PARA FALAR COM A REDAÇÃO: (12) 3909 4600 EDIÇÕES ANTERIORES: 0800 728 1919

A TIRAGEM É AUDITADA PELA

Marcelo Claret editor-chefe

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BDO AUDITORES INDEPENDENTES

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MODA

Sumário

VERÃO LIGHT P88

CULTURA

Descaso poético Brigas judiciais, políticas ineficientes e a falta de preservação fazem com que a obra e história de Cassiano Ricardo fiquem submetidas a iniciativas que não correspondem à grandeza do poeta

POLÍTICA TRANSPORTES

ESPECIAL SOLIDÁRIO

MUNDO SISTEMA PRISIONAL

Para chegar antes que o trem-bala P12

Fazer a diferença

Cárcere internacional

Governo estadual pretende ligar São José à capital com linha ferroviária regular até 2018

Conheça a história de pessoas que resolveram por conta própria mudar a vida de centenas de outras no Vale do Paraíba

ECONOMIA SETOR AUTOMOTIVO

O investimento milionário da Volks P22 Taubaté e São José estão de olho nos R$ 8,7 milhões anunciados pela montadora ENTREVISTA PAULO STORANI

“Polícia nunca foi a solução para o problema da violência” P34

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P40

P28

EDUCAÇÃO

Tempo de aprender Guia especial ajuda você a conhecer melhor as opções do mercado; do berçário à pós-graduação P44

Pelo menos 3.500 brasileiros se encontram presos no exterior; tráfico de drogas é responsável pela maioria dos casos TURISMO ÁSIA

Uma volta ao passado P82 Ensaio Fotográfico p74 Hi-Tech p92 Cinema p106 Arnaldo Jabor p114

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Palavradoleitor Ozires Silva Uma conversa com um líder da inovação P44 Berlusconi Crise na Europa pode respingar no Brasil P56 Sarah Jessica Parker Elenco milionário no Réveillon P100

Dezembro 2011 • Ano 2 • Número 21 R$ 7,80

A revista valeparaibano publicou reportagem sobre o maior acervo patológico do mundo, que fica em Cunha

Pedaços de VIDA Cunha guarda o maior acervo patológico catalogado do mundo; um laboratório que preserva a morte para salvar vidas

JABOR Felicidade Devemos sempre utilizar crônicas como a do Jabor para parar e refletir sobre a vida. Crônica do coração. Não vamos desperdiçar hoje, vamos valorizar quem nos ama, apoia, conforta. Ser feliz hoje! Família é liberdade, segurança! Rosangela Sene Dentista

SHOPPING Região Muito interessante a reportagem sobre o grande investimento que está sendo feito nos shoppings de São José. Mostra o quanto a região avança para o crescimento e proporciona melhoria na infraestrutura da cidade. Marília Cortez Economista

FOTOGRAFIA Riqueza Muito boas as imagens do fotógrafo Ricardo Martins na edição de novembro. Além de mostrarem uma técnica impecável, revelam locais que não estamos acostumados a ver e que ficam muito próximos de nós todos, ou seja, revela que o Vale do Paraíba é uma região rica de verdade, não apenas por suas empresas. A foto da cachoeira em Itatiaia é sensacional. Parabéns ao profissional!

ENQUETE Você acha que São José preserva a memória de seus cidadãos ilustres?

André Nogueira Administrador de Contratos

21%

REDES SOCIAIS Oswaldo Jr. Obrigado pela matéria na revista. Ficou muito bem escrita e, certamente, nos ajuda a realizar não apenas o primeiro, mas os demais shows de 20 anos da banda.

CORREÇÃO Diferentemente do publicado à página 48 da edição de novembro de 2011 da revista topvale, a Unip (Universidade Paulista) liderou pelo quinto ano consecutivo o ranking regional do prêmio topvale na categoria Universidade/faculdade particular.

79%

SIM NÃO

Os votos foram computados entre os dias 3 e 20 de dezembro de 2011

Enquete www.valeparaibano.com.br

cartadoleitor@valeparaibano.com.br

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Política

Da Redação

por Hernane Lélis

O futuro começa em 2012 na Univap Em entrevista exclusiva, o presidente da FVE (Fundação Valeparaibana de Ensino), Samuel Costa, fala sobre o novo caminho que universidade deve traçar a partir de agora Flávio Pereira

ELEIÇÕES “Mudanças sempre podem ocorrer por necessidades administrativas, mas nunca para impedir que alguém possa ser eleito”

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ano letivo começa apenas em fevereiro, mas para a Universidade do Vale do Paraíba, de São José dos Campos, o calendário estudantil foi antecipado há quase dois meses com a destituição de Baptista Gargione Filho no comando da instituição, em novembro do ano passado. O fim da “Era Gargione”, após duas décadas na até então imponente reitoria, teve como protagonista Samuel Roberto Ximenes Costa, presidente da FVE (Fundação Valeparaibana de Ensino), que teria demitido o reitor depois de diversos escândalos e polêmicas que mancharam a credibilidade e prestígio da Univap. Os bastidores do desligamento de Gargione ainda permanecem obscuros, mas o futuro da universidade foi deixado às claras por Costa em

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entrevista exclusiva concedida a revista valeparaibano. “Prefiro, no momento, olhar para frente”, justificou o mantenedor que promete trabalhar com o objetivo de garantir a excelência de ensino aos alunos da instituição. O que muda na Univap com a aplicação do novo estatuto? < Genericamente, podemos dizer que o estatuto determina que a FVE e suas mantidas, inclusive a Univap, tenham uma gestão baseada na existência de conselhos fortes, na participação da comunidade, na alternância de poder e na democracia, na transparência, na tolerância à divergência, na prática de planejamento e descentralização, no desenvolvimento de pessoas e na meritocracia. Porém, devemos ter em conta que a implantação de tais princípios passa pela criação de uma

cultura que os valorize. Isso nos faz crer que ainda teremos muito que aprender, embora, o próprio processo de discussão do estatuto tenha sido o primeiro passo para criação dessa cultura. A Univap também deverá caminhar no sentido de criar, dentro dela, a cultura que propicie a aplicação dos princípios anunciados. De maneira mais específica, podemos vislumbrar que a Universidade precisa alterar seu próprio estatuto e regimento para se adequar ao estatuto da mantenedora. Como fica a participação da Fundação Valeparaibana de Ensino na Univap? < O novo estatuto deixa clara a posição da FVE como a entidade que determinará as estratégias de todo o sistema, respeitando a autonomia didático-científica da universidade. Assim, é preciso achar o equilíbrio entre

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Domingo 1 Janeiro de 2012

a centralização das decisões estratégicas e a manutenção da citada autonomia. Teremos que aprender com a prática até encontrar o ponto de equilíbrio desejado. Quais melhorias a FVE espera para a nova gestão na universidade? < Cabe ao Conselho Curador da FVE (o conselho máximo da Fundação) definir a visão de futuro de nossa instituição, inclusive do sistema educacional. No entanto, pessoalmente, espero que sejam dados passos concretos em relação à qualidade de ensino de suas mantidas, inclusive na Univap. O novo estatuto da FVE prevê um Conselho Deliberativo com mais autonomia para definir as políticas da Univap. Como isso vai funcionar na prática? < Não é bem assim. Ainda que o Conselho Curador tenha a responsabilidade de estabelecer o planejamento estratégico da FVE como um todo e que a Univap faça parte desse todo, tal estratégia deve atender os anseios e as visões de futuro de todas as mantidas, até porque essas têm representantes no referido conselho. Então, não há como dissociar a Univap da definição de tais estratégias. Além disso, cada mantida, inclusive a Univap, fará o planejamento de como ela irá atuar e contribuir para a estratégia global. Como já disse anteriormente, teremos que aprender como conciliar a centralização das decisões estratégicas da FVE com a autonomia das mantidas. Representantes da sociedade afirmam que o Conselho funcionou nos últimos anos como um órgão que referendava as decisões unilaterais do comando da FVE/Univap, abdicando de seu poder deliberativo. O que pensa sobre isso? < O Conselho Deliberativo se constituía na própria alta administração da FVE. Não há como falar que ele –o Conselho– abdicou de seu poder deliberativo, visto que suas decisões sempre tiveram o poder legal. Mesmo quando o Conselho aprova as recomendações de alguém, seja do Presidente, do Reitor ou de outra pessoa, ele estava assumindo suas responsabilidades legais. O estatuto também exige que os membros oriundos da FVE e Univap, como diretores e professores, sejam eleitos, e não mais indicados. O atual quadro funcional das instituições vai sofrer novas alterações antes das eleições?

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Quando elas vão acontecer? < Vamos esclarecer: o estatuto prevê que os professores, membros do corpo técnico administrativo e diretores que irão fazer parte do Conselho Curador sejam eleitos pelos seus pares. Prevê também a participação da comunidade acadêmica –professores, alunos e corpo técnico administrativo– no processo de definição da lista tríplice para escolha do Reitor, por meio de um regramento a ser feito pela própria universidade. Em relação às alterações do quadro funcional, o que podemos dizer é que, se elas ocorrerem, não serão feitas para alterar possíveis resultados de eleições. Isso quer dizer que mudanças sempre podem ocorrer por necessidades administrativas e/ou operacionais, mas nunca para impedir que alguém possa ser eleito. O novo Conselho Deliberativo deverá ser empossado até março. Assim que formalizado, caberá ao órgão organizar eleições para os cargos de reitor da Univap e presidente da FVE. O senhor pretende continuar a frente da Fundação? < O estatuto prevê que os atuais mandatos de Reitor da Univap e de Presidente da FVE sejam mantidos até o final. O atual mandato se encerra em agosto de 2012. No momento, pretendo cumprir o mandato até o final. Como a FVE pode melhorar a qualidade de ensino na Univap e aproveitar melhor toda sua infraestrutura? < Como já citado, a FVE coordenará o processo de discussão e de estabelecimento da estratégia de todo o sistema de educação. Mas anseio que o conselho estabeleça a melhoria da qualidade de ensino como prioridade e esteja disposto a fazer os investimentos necessários para essa melhoria. Além disso, é preciso compreender a relação da FVE e suas mantidas. Grosso modo, podemos fazer um paralelo com o Estado de São Paulo e com a cidade de São José dos Campos. São José faz parte do Estado de São Paulo, mas mantém um nível de autonomia em relação ao governo do estado. Do mesmo modo, a Univap faz parte da FVE, mas tem grande poder de decisão sobre seu próprio destino. Assim, de qualquer forma, a melhoria de qualidade de ensino na Univap passa por decisões da própria Universidade. Acredita que a imagem da instituição ficou manchada após as denúncias apuradas pelo Ministério Público Estadual? Como resgatar a credibilidade

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da instituição frente à sociedade? < Qualquer informação divulgada para a comunidade que comprometa a imagem de uma organização tem repercussões negativas, sejam elas procedentes ou não. Temos que trabalhar para que, primeiramente, não existam motivos para a divulgação de informações que comprometam a imagem da mantenedora nem de suas mantidas, e em segundo lugar, caso informações inverídicas venham a ser divulgadas, que elas sejam imediatamente desmentidas e esclarecidas. Na sua opinião, quais foram os erros de gestão que levaram a Univap a chegar neste ponto? < Embora esta seja uma pergunta que deveria ser dirigida à Univap arrisco a dizer que é fácil falar em erros quando olhamos para o passado e constatamos que as coisas poderiam ter sido feitas de forma diferente e então, quem sabe, obter resultados melhores dos que obtivemos. É preciso lembrar, entretanto, que decisões difíceis tiveram que ser tomadas e onde quer que o ser humano atue sempre estará longe da perfeição e que, portanto, o que foi feito poderia ter sido feito de outra forma e consequentemente resultados melhores poderiam ter sido alcançados. Por exemplo, é bom reafirmar que a Univap recebeu a nota máxima em avaliação realizada pelo MEC e que, portanto, em termos de infraestrutura, corpo docente e gestão acadêmica está entre as melhores do país. Isto é fruto de muito trabalho, ao longo de muitos anos e realizado por um grande número de pessoas. Prefiro, no momento, olhar para frente e neste sentido precisamos estancar a queda do número de alunos matriculados e dar início a um aumento deste número. Igualmente importante é que os alunos ingressantes tenham a excelência acadêmica mínima necessária para que possamos propiciar uma educação também de excelência. Assim sendo, tenho uma visão e um sonho para as mantidas que em resumo se traduz em serviço educacional de excelência para alunos com excelência acadêmica. A concretização desse sonho depende da nossa disposição em enfrentar alguns desafios e principalmente das mantidas, através de suas comunidades, conselhos e dirigentes, visto que são as mantidas que implementarão as estratégias educacionais a serem definidas pelo Conselho Curador para todo o sistema FVE. Entendo que estes são atualmente os grandes desafios que a Univap deve enfrentar, com o apoio da mantenedora. •

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Política

TRANSPORTES

Lá vem o trem Governo do Estado quer implantar trem para ligar São José à capital; obra orçada em R$ 4,5 bilhões contará com a participação da iniciativa privada

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Fotos: Flávio Pereira

TRILHOS Vista da linha férrea que corta o centro, no entroncamento com a via norte de São José

Hernane Lélis são josé dos campos

ão José dos Campos está nos planos do governo do Estado para receber um dos quatro trechos ferroviários que ligará o interior à capital paulista. O projeto encontrase em análise no Conselho Gestor de PPPs (Parceria Público-Privada), onde é estudada a viabilidade técnica e alternativa de traçado. A proposta é integrar as regiões metropoli-

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tanas por meio de uma única malha, orçada em R$ 16 bilhões. A linha prevista para o Vale do Paraíba, segundo o vice-governador, Guilherme Afif (PSD), terá 103 quilômetros e um custo total de R$ 4,5 bilhões. Para colocar nos trilhos o projeto, o governo trabalha com uma meta ambiciosa: conseguir o maior número possível de parcerias com a iniciativa privada. Os interessados participarão de uma concorrência que será aberta até o final desse semestre. A ideia é licitar em PPP todo o conjunto ferroviário pretendido para o interior, conso-

lidando cada trecho seguindo uma ordem pré-estabelecida pelo Executivo. A previsão é que toda a malha seja finalizada até 2018. Os itinerários teriam como ponto de partida a estação Água Branca, zona oeste de São Paulo, de onde sairiam ramificações com as linhas existentes do metrô. “Você pegaria um trem que faria Campinas, Jundiaí e São Paulo, outro que faria São Paulo, Guarulhos e Vale do Paraíba. O terceiro seria o trem São Paulo, São Roque e Sorocaba, já o quarto é São Paulo, ABC Paulista e Santos. A ordem ainda está sendo defi-

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Política

nida, mas essa linha de São José dos Campos tem que ter urgência para ficar pronta pelo menos até Guarulhos. Tudo isso é analisado também pela Secretaria de Transportes Metropolitanos. Queremos colocar em licitação o quanto antes e aguardar manifestação da iniciativa privada”, disse Afif, contrariando os rumores de que a linha que atenderia o Vale estaria fora dos planos do governo. O vice-governador evitou falar sobre desapropriações e antecipar o traçado que ligará São Paulo ao Vale do Paraíba. Disse apenas que a proposta é utilizar os leitos ferroviários existentes na região para poder fazer a concessão. “Nós acreditamos piamente que esse seja um projeto autossustentável, até porque o custo da passagem tem que ser competitivo com a viagem de carro, incluindo pedágio, já que nossos passageiros estarão substituindo os veículos automotores. Primeiro estamos estudando as linhas isoladas, os traçados, para juntar tudo em um pacote só e licitar”, explicou. Afif apresentou no final do ano passado uma carteira de projetos de Parceria Público-Privada de até R$ 40 bilhões para acelerar os investimentos no Estado. No total, são 18 empreendimentos nas áreas de saneamento, saúde, habitação, sistema prisional e, claro, mobilidade urbana, incluindo a duplicação da Rodovia dos Tamoios. Sete deles, no entanto, já existiam na gestão anterior e continuam em fase de estudo. Outras três estão em operação. O portfólio de projetos em São Paulo por meio das PPPs, segundo Afif, representa o maior volume de investimentos no mundo. Investimentos Luciano Amadio, presidente da Apeop (Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas), acredita que o valor divulgado pelo vice-governador no pacote de PPPs seja um pouco menor, em torno de R$ 33 bilhões, uma vez que apenas 3% da receita estadual pode ser usada neste tipo de contrato. O montante tem animado os construtores, que já se articulam para formar grupos de investimentos para participarem dos processos licitatórios do governo do Estado, inclusive com projetos adiantados e sugestões para a rede de trens metropolitanos. “Temos empresas trabalhando a ideia de monotrilhos, além de outras opções para o transporte ferroviário. As parcerias entre o poder público e o setor privado são as melhores formas para concluir projetos de alto valor agregado e que visam o desenvolvimento do

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INVESTIMENTO Ao lado, o vicegovernador, Guilherme Afif (PSD) prevê gasto de R$ 16 bilhões para interligar as regiões metropolitanas em malha ferroviária; abaixo, a linha férrea em São José

país. O decreto do Estado que prevê manifestações de interesse para novas PPPs trouxe a tranquilidade que os empresários precisavam para participar das licitações. Conseguimos garantias de que o governo vai cumprir com o que foi determinado, mesmo que ocorra durante a obra uma sucessão de poder”, disse Amadio. Descarrilamento O presidente da Apeop explicou ainda que o único risco que existia de o projeto ser engavetado por falta de participação do setor privado seria se todo o investimento ficasse a cargo dos empresários –o que já desconfiguraria uma PPP. “Assim como foi no TAV (Trem de Alta Velocidade), que ligará São Paulo ao Rio de Janeiro, onde a oferta inicial previa apenas linhas de crédito para o grupo investidor, sem nenhuma participação da União. Agora estão revendo a proposta do trem-bala por falta de participação dos investidores. O edital deve ser colocado em audiência pública em novo formato ainda este mês, após duas tentativas fracassadas”,

ressaltou Amadio. Outro motivo que pode descarrilar o projeto de trem de passageiros entre o Vale e a capital é o governo de São Paulo desistir da ideia para evitar atrito com as estâncias federais que apostam no TAV, uma vez que ele também atenderia São José e outras cidades da região. “Não acredito que isso vá acontecer. O perfil de usuários e as necessidades de cada trem são diferentes, por isso aposto em um diálogo entre os dois governos e as empresas responsáveis por cada operação”, concluiu o presidente da Apeop. Carlos Alberto Bandeira Guimarães, professor do Departamento de Engenharia de Trânsito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), endossa a aposta do governo em resolver a saturação rodoviária nos eixos que liga o interior à capital por meio de trilhos. “A opção é competitiva e existe demanda suficiente que justifique os bilhões que serão colocados na empreitada. É a única saída que existe hoje para resolver o problema de saturação nesses corredores”, disse.•

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Política

Ozires Silva

As estratégias para vencer só precisam ser aplicadas presidente americano, recentemente, em uma mensagem ao povo norte-americano, chamou a atenção sobre a importância da inovação no processo de crescimento e de desenvolvimento da nação. Transmite séria mensagem sobre a importância do tema e, com propriedade, assegura que o país precisa continuar a ostentar a posição como a nação mais criativa do planeta. Acentua o presidente que o crescimento econômico baseado na inovação resultará em maiores receitas, empregos mais qualificados, mais saúde e qualidade de vida para todos os cidadãos dos EUA.

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Vale reproduzir o que precisamente constou da fala presidencial: “O futuro crescimento econômico e a competitividade internacional da América depende de nossa capacidade de inovar. Podemos criar empregos e setores do futuro fazendo o que a América faz de melhor –investir em criatividade e imaginação das nossas pessoas. Para vencer no futuro, devemos ser os melhores do mundo em Educação, sempre aperfeiçoando a sociedade para garantir o sucesso de cada cidadão. Também devemos assumir responsabilidade pelos investimentos necessários, cortar o que não funciona e reformar a maneira como o governo funciona, assim podendo promover nosso crescimento econômico”. Note-se que o presidente Obama

CAMINHO “Há anos que o Brasil precisa planejar o futuro e fixar diretrizes” se refere a um tripé fundamental, inovação, educação e investimentos. Há anos que o Brasil precisa planejar o futuro e fixar diretrizes para o sucesso mundial, num mundo agora competente e investindo intensamente em inovação. Deveríamos, há tempos, nos focar em todas as atividades nacionais, governamentais e privadas, caminhando em estradas semelhantes às sendo percorridas pelos países de maior sucesso mundial. Para tanto, afirmam todos, governantes e líderes formadores de opiniões, a ferramenta essencial para tais resultados é a educação. Ou seja, seria possível se pensar em: - Educar as gerações de brasileiros com as habilidades requeridas no século 21, criando competências e gerando vantagens comparativas em relação ao que de melhor é hoje produzido no mundo? - Fortalecer e expandir as possibilidades de pesquisas com o objetivo de chegar a produtos modernos, eficientes e capazes de conquistar posições no mercado mundial? - Construir uma eficaz infraestrutura que garanta uma mobilidade compatível com as necessidades do século 21? - Acelerar a criação de negócios e empreendimentos, com incentivos gover-

namentais, burocráticos e/ou financeiros facilitados, “cortando o que não funciona e reformando a maneira como o governo funciona? - Implementar revolução em termos de energias limpas? - Acelerar os ganhos nos campos tradicionais das tecnologias e promover o desenvolvimento dos novos campos da biotecnologia, nanotecnologia, mecatrônica e indústria avançada? - Avançar nas áreas da saúde e da nutrição e, entre outros? Medida pelos sucessos dos países desenvolvidos e, mais recentemente entre os emergentes, a inovação tem mostrado que se trata de atributo essencial para vencer no futuro, abrindo espaços para o crescimento de longo prazo, sustentável e de competitividade assegurada no seio das nações do mundo moderno. O papel dos governos em todos os níveis e do setor produtivo deve ser o de encontrar formas e processos de melhor cooperar, em benefício do país como um todo e da população em particular. De um lado, o setor produtivo estimulado de modo que possa investir e ganhar condições para competir e vencer no embate da das técnicas de produção e do comércio utilizadas pelos empreendimentos nos países competidores. E de outro, todos trabalharem para garantir que as infraestruturas, humana e material, garantam as vantagens competitivas essenciais para que possam existir produtos nacionais em todos os mercados do mundo. •

Ozires Silva Engenheiro

ozires@valeparaibano.com.br

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Política

JUDICIÁRIO

Justiça de olhos vendados Tribunal de Justiça de São Paulo, o maior do mundo, tem 17 desembargadores acusados de enriquecimento ilícito e de tráfico de influência na mira do CNJ

são josé dos campos

rgão superior do Poder Judiciário no Estado de São Paulo, o Tribunal de Justiça está em xeque. Ao menos 17 desembargadores da cúpula do Tribunal, suspeitos de enriquecimento ilícito e tráfico de influência, estão na mira do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), que repassou aos tribunais estaduais a responsabilidade pelas apurações contra os magistrados depois que o STF (Supremo Tribunal Federal) esvaziou o poder de investigação do conselho. Criado para ser o controle externo do Judiciário, o CNJ sofreu um revés com a decisão do ministro Marco Aurélio Mello, que suspendeu todas as apurações iniciadas diretamente pelo conselho. Entretanto, a manobra do CNJ garante a continuidade das averiguações de pagamentos ilegais a desembargadores por suposta venda de sentenças e a eventual evolução patrimonial de magistrados incompatível com suas rendas. Em todo o país, são 62 os magistrados suspeitos. Os desembargadores também são averiguados por auditores do TCU (Tribunal de Contas da União) e do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) do Ministério da Fazenda, além de juízes e técnicos do Conselho Nacional de Justiça. Quem tem o dever de julgar a sociedade pode acabar no banco dos réus. O epicentro da investigação em São Paulo é um ato do ex-presidente do TJ, Antonio

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Carlos Viana Santos, ex-professor da Unitau (Universidade de Taubaté) que morou mais de 30 anos no Vale do Paraíba. Ele foi encontrado morto em sua casa, em 26 de janeiro de 2011. Viana Santos tinha 68 anos e havia assumido a Presidência do TJ um ano antes. No primeiro ano de sua gestão, de acordo com a denúncia, Viana Santos teria autorizado pagamento de R$ 17 milhões a 17 desembargadores, ele incluído, de uma só vez, em condições privilegiadas. Cada magistrado teria embolsado R$ 1 milhão. O dinheiro teria sido usado para acertar pendências salariais. No entanto, outros integrantes do TJ, que também têm direito aos pagamentos, recebem o dinheiro em parcelas mensais, de valores que giram em torno de R$ 2.000, conforme apurou a reportagem. Viana Santos teria privilegiado a si próprio e a 16 colegas em detrimento dos outros 335 desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo, o maior tribunal do mundo. O primeiro indício da irregularidade apareceu pouco antes da morte de Viana Santos, quando o CNJ recebeu uma denúncia anônima acusando o desembargador de enriquecimento ilícito.

Epicentro da investigação foi um ato do ex-presidente do Tribunal de Justiça, Antonio Carlos Viana Santos, que morou mais de 30 anos no Vale do Paraíba

Porsche O que chamou a atenção das autoridades foi ele ter comprado um apartamento de R$ 1,4 milhão nos Jardins, bairro nobre da capital, em abril de 2010, e presenteado a mulher, a advogada Maria Luiza Viana Santos, 37 anos, de Pindamonhangaba, com um Porsche Cayeenne de R$ 340 mil. O carro foi adquirido em dezembro de 2010 e transferido para o nome da advogada, em janeiro de 2011. Com 42 anos de carreira, Viana Santos recebia de valor bruto R$ 30 mil do TJ, incluindo benefícios da magistratura. Ele ainda ganhava uma aposentadoria como professor universitário. Uma pessoa identificada como “pecuarista e ex-prefeito” apontou dados da evolução patrimonial do magistrado em depoimento ao Ministério Público. Cópias do documento foram enviadas à Receita Federal, Polícia Federal e ao próprio TJ. O denunciante alegou que conheceu uma advogada em São Paulo, ex-aluna de Viana na Unitau, que teria pedido R$ 200 mil para intermediar um acordo com o desembargador. O objetivo seria garantir a vitória em uma ação que tramitava no TJ, cujo alvo seria o denunciante. Parcelado em três vezes, o pagamento da primeira cota de R$ 100 mil, segundo a denúncia, foi feito em um restaurante de São Paulo, dentro de uma caixa de sapatos. O próprio Viana teria recebido a bolada. As outras duas parcelas de R$ 50 mil deveriam ser depositadas em uma conta do Banco do Brasil. “Para minha surpresa”, escreveu o denunciante, “[a conta] tinha como titular o próprio presidente do Tribunal”. E completou: “Obtive resultado desfavorável na demanda judicial. Após assumir a presidência do TJ, Viana passou por grande mudança na vida, principalmente financeira”.

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Política Fotos: Fábio Pozzebom/ABr

ELIANA CALMON “É o primeiro caminho para a magistratura, que está com gravíssimos problemas de infiltração de bandidos escondidos atrás da toga”

Dívidas Segundo desembargadores consultados pela reportagem, Viana Santos havia feito vários empréstimos na Apamagis (Associação Paulista de Magistrados), que possui um fundo para socorrer magistrados com problemas financeiros. “Ele devia uma alta soma na associação”, disse um deles. A dívida teria sido quitada após Viana Santos assumir a Presidência do Tribunal de Justiça e receber o depósito de R$ 1 milhão. A liberação dos R$ 17 milhões autorizada por Viana Santos foi identificada pelo Coaf, órgão do Ministério da Fazenda criado para identificar ocorrências suspeitas de atividade ilícitas relacionada à lavagem de dinheiro. O conselho não quis comentar o assunto. Em nota, limitou-se a informar que “não está autorizado a repassar informações sobre casos específicos”. Também por meio de nota, o Ministério Público de São Paulo informou que instaurou um inquérito civil na Procuradoria-Geral de Justiça, no início de 2011, para apurar suposto enriquecimento ilícito do ex-pre-

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sidente do TJ. Em razão da prerrogativa de função, explicou o MP, só o procurador-geral pode investigar o presidente do Tribunal de Justiça, razão pela qual o inquérito foi instaurado na PGJ, a partir de denúncia anônima. “Como o inquérito tramita sob sigilo, não há mais nada que possa ser informado”, afirmou o MP, que excluiu da investigação o pagamento de R$ 17 milhões para 17 desembargadores do Tribunal. O CNJ informou que só iria se pronunciar após o término das investigações, o que deve ocorrer até março de 2012. Força-tarefa chefiada pelo conselho esteve no TJ na segunda semana de dezembro para coletar documentos e informações, que serão analisadas. O resultado será apresentado primeiro ao plenário do CNJ, composto por 15 membros, que pode pedir novas diligências. O Tribunal de Justiça de São Paulo informou que está “franqueando todos os documentos solicitados” e que só se manifestaria após a conclusão dos trabalhos.

Morte A morte de Viana Santos também é alvo de investigação por parte da Polícia Civil de São Paulo. O primeiro laudo necroscópico indicou “morte súbita, de origem cardíaca” e apontou a falta de evidência no corpo do magistrado de violência ou substâncias que tenham promovido o agravamento do quadro de saúde do desembargador, que sofria de diabetes. Contudo, a perícia indicou um grande teor alcoólico no corpo de Viana Santos, que motivou o pedido de reabertura do caso. A pedido do Ministério Público, o inquérito foi reaberto e transferido para o DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa). “Recebemos o inquérito e estamos conduzindo as investigações”, confirmou o delegado Mauro Argachoff, do DHPP. A reportagem apurou que a viúva de Viana Santos e as filhas do primeiro casamento do desembargador divergem sobre o caso. Procurada pela revista valeparaibano, a advogada Maria Luiza não foi localizada para comentar o assunto. O mesmo ocorreu com o advogado dela, Eduardo Luiz Sampaio, de São José dos Campos. Nenhum dos dois retornou os contatos da reportagem. De acordo com amigos da família de Viana Santos, as filhas do magistrado só irão se pronunciar após o encerramento do inquérito. O advogado Antonio Carlos Meccia, amigo de faculdade de Viana Santos, disse que foi o primeiro a ser comunicado da morte do desembargador. Segundo a polícia, quem encontrou o corpo foi Maria Luiza. Meccia rejeita as denúncias de enriquecimento ilícito e atesta a honestidade do amigo, a quem chama de “homem muito puro”. “Quem chegou ao nível dele, com mais de 40 anos de magistratura, pode muito bem comprar uma casa de R$ 1,4 milhão. É infundada [a acusação]. Ele chegou à Presidência do Tribunal por seus méritos. Era uma pessoa muito querida”, afirmou o advogado. Repercussão Para magistrados da região, todas as denúncias que pesam contra os desembargadores do Tribunal, incluindo os atos de Viana Santos, devem ser investigadas. Contudo, eles defendem que o andamento dos trabalhos seja revestido de cautela. “Não se pode manchar a imagem de qualquer pessoa antes que se comprovem as irregularidades denunciadas, com as garantias de ampla defesa asseguradas”, disse Flávio Fenoglio Guimarães, juiz do Jecrim (Juizado Especial Criminal) de São José e

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diretor de Interiorização da AMB. Para o desembargador Paulo Ayrosa, representante do TJ na região, o CNJ está “certo em levantar e apurar as supostas ilegalidades”. Segundo ele, os magistrados têm direito a receber valores não-pagos pelo Estado, que motivaram ações judiciais e acordos, mas de forma parcelada. “Pode-se questionar o momento do pagamento [de Viana Santos para ele próprio e mais 16 desembargadores], feito para uns e não a outros.” O juiz da 1ª Vara Pública de São José, Silvio José Pinheiro dos Santos, também apoiou a iniciativa do CNJ: “Toda a investigação é bem vinda”, afirmou ele, defendendo que a investigação seja “rigorosa, séria e sem alarde”. Nenhum deles fez comentários sobre o patrimônio, a conduta e as supostas irregularidades que recaem sobre Viana Santos. Disputas A investigação contra os magistrados ocorre em um cenário de disputas políticas internas no Tribunal de Justiça e entre o Conselho Nacional de Justiça e a Associação dos Magistrados Brasileiros, que encaminhou ao Supremo Tribunal Federal a ação de inconstitucionalidade para diminuir o poder de atuação do CNJ. O julgamento da ação, que deveria ter ocorrido em 28 de setembro de 2011, só será realizado após a abertura do ano judiciário de 2012, a partir de 1º de fevereiro. No entanto, em 19 de dezembro, no encerramento do ano judiciário, o ministro Marco Aurélio Mello concedeu em parte o pedido liminar da AMB e suspendeu o poder de investigação do CNJ. Até a avaliação do plenário do STF, o CNJ só poderá atuar após as corregedorias locais. Significa que o conselho não poderá iniciar uma investigação do zero, mas praticar aquilo que o ministro Marco Aurélio chamou de “atuação subsidiária”, obedecendo a autonomia dos tribunais. “Não incumbe ao CNJ criar deveres, direitos e sanções administrativas mediante resolução, ou substituir-se ao Congresso e alterar as regras previstas na Lei Orgânica da Magistratura”, afirmou Marco Aurélio, por meio de nota. Tal medida esvaziou os poderes de investigação do CNJ e paralisou automaticamente todas as apurações iniciadas diretamente pelo conselho, sem passar antes pelos tribunais estaduais. No mesmo dia da decisão do STF, auxiliares da corregedora do CNJ, a ministra Eliana Calmon, selecionaram os processos suspensos para enviá-los aos tribunais nos Estados –uma manobra para dar continuidade às investigações. A medida joga mais lenha no embate entre

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FAC SÍMILE Reproduções de reportagens publicadas nos jornais O Estado de S. Paulo (acima) e Folha de S. Paulo (ao lado) sobre os desdobramentos da decisão do Supremo Tribunal Federal de esvaziar o poder de investigação do Conselho Nacional de Justiça

CNJ e os magistrados. Declarações dadas à APJ (Associação Paulista de Jornais) pela ministra Eliana e publicadas em 25 de setembro de 2011, acirraram os ânimos entre eles. Perguntada sobre a ação que tramitava no STF, Eliana respondeu que reduzir a atuação do CNJ era “o primeiro caminho para a impunidade da magistratura, que hoje está com gravíssimos problemas de infiltração de bandidos que estão escondidos atrás da toga”. As declarações provocaram críticas de um lado e manifestações de apoio, de outro. O presidente do STF, ministro Cezar Peluso, chegou a repreender a ministra em nota divulgada no dia seguinte à publicação da entrevista. Antiguidade No Tribunal de Justiça de São Paulo, a “velha guarda” da magistratura enfrenta a ascensão da oposição. Em dezembro, o desembargador Ivan Sartori confirmou sua eleição à Presidência do Tribunal. Ele venceu o atual presidente, José Roberto Bedran, por 164 votos a 147. Na

lista de antiguidade da Corte, levada em conta para as eleições da Presidência, Sartori ocupa a 137ª posição. Bedran é o quarto. Para assumir o TJ, Sartori precisou da confirmação do CNJ, que rejeitou pedido do desembargador Corrêa Vianna que questionava o resultado das eleições. Para o conselheiro Marcelo Nobre, a eleição de Sartori foi legítima. A reportagem apurou que Sartori se utilizou de um expediente legal para vencer a eleição. De acordo com as regras, da lista de desembargadores que se inscrevem para concorrer ao cargo são escolhidos os três mais antigos para disputar a Presidência. “Sartori registrou a candidatura dias antes de terminar o prazo, para evitar manobras dos mais antigos que o deixassem fora da disputa”, explicou um funcionário que trabalha no Tribunal. Procurado pela reportagem, Sartori informou, através da assessoria de imprensa do TJ, que só se pronunciaria depois da posse, marcada para 2 de janeiro de 2012, após a data de fechamento desta edição. •

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Economia MERCADO AUTOMOTIVO

Motor anticrise Volkswagen ignora crise econômica e traça a rota dos investimentos no Brasil; Taubaté e São José estão de olho nos milhões anunciados pela marca alemã Hernane Lélis São Paulo

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Volkswagen do Brasil está avessa à iminente ameaça de a crise europeia bater às portas brasileiras. A montadora alemã aguarda o resultado de uma consultoria internacional para decidir nos próximos meses se montará uma nova fábrica ou se vai ampliar uma das cinco já existentes no país, entre elas, a planta de Taubaté. A decisão sobre aportar ou não recursos na cidade esbarra principalmente em incentivos fiscais, uma vez que municípios sem tradição no setor automotivo estão compensando a falta de fornecedores e mão-de-obra qualificada com diversos benefícios tributários. No entanto, Thomas Schmall, presidente da Volks, ressalta que os investimentos serão realizados seguindo critérios que perpetuem o crescimento da empresa e garanta maior poder de competitividade no mercado. “Não vamos tomar uma decisão em cima de pressão. Queremos avaliar com muita calma o que faz sentido para a Volkswagen”. O mesmo princípio Schmall garante utilizar na aplicação do aporte de

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R$ 8,7 milhões anunciados no ano passado pela montadora que serão destinados para a produção de novos veículos e melhorias nas plantas locais até 2016. Isso inclui o lançamento de um compacto popular no Brasil, com faixa de preço menor que o Gol, para atingir o valorizado mercado da classe C. A aposta da montadora é o Up!, oficialmente apresentado pela Volks em setembro de 2011, no Salão do Automóvel de Frankfurt, na Alemanha. Ainda não se sabe se a proposta da companhia é trazer o carro pouco alterado ou criar um novo modelo utilizando a mesma plataforma do Up!. Independentemente da proposta, a fábrica de Taubaté é apontada como a responsável pela produção do carro para toda a América Latina. “Você tem mais de 200 aspectos que precisam ser avaliados para cada localização onde está pensando em instalar ou ampliar a capacidade de produção. Por isso, a Volkswagen está trabalhando com uma consultoria internacional, ela está fazendo isso, avaliando todos os aspectos de finanças e não-financeiros para indicar o melhor lugar. Este ano (2012) é um bom prazo para divulgarmos isso”, explicou o presidente da marca no Brasil, ressaltando que a lista de estados que se candidatam para abrigar a nova fábrica só aumenta com o tempo.

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Fotos: divulgação

PRODUÇÃO Linha de montagem do Gol na fábrica da Volkswagen em Taubaté

“A desvantagem dos novos lugares são os custos e a oferta de fornecedores. Eles precisam compensar isso com incentivos, isso faz parte do jogo. Se você tem desvantagens precisa compensar isso com vantagens. A vantagem dos novos estados é o incentivo (fiscal). As vantagens dos estados que já atuamos são a mão-de-obra qualificada e menor custo dos insumos. Existem lados positivos e negativos, você precisa fazer um balanço sobre isso. Ainda não temos nada definido”, afirmou. Entre os estados cotados para receber uma nova fábrica da Volks estão Pernambuco, São Paulo e Paraná. A capacidade atual da unidade de São Bernardo do Campo é de 1.600 carros por dia. Já a planta de Taubaté produz 1.080 veículos, mas até 2013 o volume será de 1.300 graças aos R$ 360 milhões destinados à construção de uma nova área de pintura. De acordo com Schmall, o custo de produção em relação à mão-deobra nos dois locais seriam iguais. Por isso, o que faria diferença na decisão seriam os acordos e benefícios fiscais fechados pela Volks com a administração pública. Se a futura fábrica for tirada dos planos, São Bernardo pode sair na frente pela preferência de ampliação devido a sua área de instalação, além da proximidade em relação

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MODELO O novo Up!, cuja proposta é concentrar sua produção na fábrica da Volks de Taubaté para toda a América Latina

ao Porto de Santos, o que facilita as exportações para o Mercosul e para a distribuição dos veículos no Nordeste do país. Taubaté também aparece bem cotada nesta briga com praticamente os mesmo benefícios do outro pólo automotivo –possui área suficiente para expansão, são 3,8 milhões de metros quadrados e apenas 270 mil de área construída– e, ainda que limitado, fica próxima ao Porto de São Sebastião, que trabalha um plano de expansão. Crise financeira O presidente da Volkswagen do Brasil, Thomas Schmall, está confiante em relação aos efeitos da crise europeia no Brasil. Para o executivo, o governo brasileiro vai tomar medidas rápidas para não deixar que os problemas no exterior façam a economia nacional retroceder. O pior cenário previsto por ele para esse ano é o mercado automotivo no país empatar com os números computados em 2011 e, na melhor das hipóteses, ficar entre 2% e 3% maior. Ele acredita ainda que há potencial para que o segmento tenha vendas de 5 milhões de unidades até 2018. “Acho que o governo está esperto suficiente para tomar decisões certas para proteger o mercado e as montadoras. O maior problema é a competitividade. A questão não é se você vai ou não receber incentivo, o problema é como você vai melhorar a competitividade do país. O mer-

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RAIO-X DO INVESTIMENTO

R$ 8,7 mi VALOR O dinheiro será investido pela Volkswagen em melhorias nas plantas no Brasil e produção de novos veículos

2016 QUANDO Em quatro anos a montadora alemã pretende ter cumprido a meta de investimentos

95% ICMS Alguns estados brasileiros dão isenção quase total do imposto para atrair novas plantas. Taubaté ofereceu à montadora isenção do IPTU

cado brasileiro muda super rápido e, por isso, você tem que tomar decisões rápidas, se você deixar o mercado cair por muito tempo, ele vai levar muito mais tempo para se recuperar”, disse Schmall. Para ele, o governo está estimulando o crédito e o consumo e, com mais dinheiro no mercado, os bancos vão poder investir nas linhas de financiamento para aquisição de veículos. Outra “cartada” do governo é o aumento do IPI (Imposto sobre Produto Industrializado) dos veículos importados fora do acordo Mercosul-México, que entrou em vigor na segunda quinzena de dezembro do ano passado e tem prazo de 12 meses. Schmall considera que o período será desafiador para as montadoras, que precisarão encontrar meios de deixar os produtos nacionais mais competitivos, sem perda de qualidade. “A parede foi empurrada, mas ela continua lá. Temos que achar soluções para melhorar a nossa competitividade porque uma hora esse problema vai estourar”, disse Schmall. A avaliação do executivo ganha força com o estudo encomendado pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), onde foi constatado que a produção brasileira de veículos chega a ser 40% menos competitiva do que a da China, por exemplo. É com esse argumento que as montadoras pressionam o governo para diminuir o custo de operação no Brasil.

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Lobby Para garantir os investimentos anunciados pela Volkswagen, Taubaté ofereceu à montadora isenção de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). O período de vigência do benefício não foi divulgado. Mais incentivos, segundo o diretor de Desenvolvimento Econômico, Marino Lucci, cabem ao governo Estadual, que já sinalizou apoio ao município no objetivo de atrair as promessas de ampliação da fábrica alemã à cidade. “Nós estamos trabalhando, apresentamos uma série de documentos e ofícios mostrando Taubaté e suas vantagens, inclusive de incentivos fiscais. O maior problema não é a concorrência com outras cidades, mas sim com outros estados. Eles oferecem uma redução de 90% a 95% de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), coisa que é competência do Estado”, disse o diretor, confiante na decisão da montadora. “Dentro da nossa legislação oferecemos incentivos, nossa estrutura, qualidade de

vida, cursos profissionalizantes. Temos todas as chances, mas dependemos do que o Estado pode oferecer”, finalizou. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté, Isaac do Carmo, afirma que participou de algumas reuniões com a diretoria da montadora para tratar dos investimentos. Ele defende que a Volks amplie uma unidade. A medida poderia, em sua visão, evitar o ócio produtivo em determinadas plantas. “O ideal é escolher uma unidade para ampliação ou dividir os serviços entre todas as fábricas. Estamos abertos para negociar o que for de interesse da montadora, mas temos o princípio de não prejudicar os trabalhadores das outras plantas também. Não formalizamos ainda a questão do novo carro que será produzido, mas faremos o possível para que o projeto fique em Taubaté”, disse o sindicalista. O único questionamento feito por Isaac é sobre o que denominou de “Guerra Fiscal”. “Os estados possuem outros meios de ne-

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gociar, não precisa dessa ferramenta. Mas se for necessária nossa ajuda num diálogo com o governo do Estado para viabilizar uma decisão a nosso favor, participaremos”, concluiu. São José dos Campos também está de olho nos bilhões prometidos pela Volks que poderão circular no Vale do Paraíba a partir desse ano. José de Mello Corrêa, secretário de Desenvolvimento Econômico, destaca que todo o setor automotivo ganhará com os investimentos, uma vez que o Vale possui uma cadeia de fornecedores amplamente fortificada e ávida por novos pedidos e desenvolvimento de produtos. “São José oferece todas as condições para abrigar qualquer empresa de qualquer segmento. Temos boa infraestrutura, profissionais qualificados e estamos estrategicamente localizados. Somos abertos para negociar. A região toda ganha caso o Vale seja escolhido para receber algum investimento no setor, já que temos diversas empresas fornecedoras do segmento automotivo”, disse Corrêa. •

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Ciência & Tecnologia

Fabíola de Oliveira

As mudanças climáticas são a vanguarda ideológica do século 21

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nvejo alguns poucos colegas jornalistas, aqueles que abraçam uma causa e com ela seguem pela vida afora, cobrindo progressos e retrocessos, verdades cientificamente comprovadas e dúvidas avassaladoras. É o que em inglês chama-se de advocacy journalism, algo assim como jornalismo militante, ou mais literalmente, o jornalismo que defende uma determinada causa. No campo do jornalismo científico certamente o assunto que mais encontra jornalistas militantes é a questão ambiental, sobretudo as querelas políticas que envolvem as mudanças climáticas. Porque o clima de nosso planeta, o campo científico da climatologia, transformou-se nos últimos pouco mais de 30 anos em uma questão de política global, fortemente influenciada por matizes políticas e ideológicas de todas as urbes, culturas e raças. Está certo que existem outros fatos de grandes proporções a nos atormentar, como o terrorismo, a violência, e recentemente a derrocada eminente do até então robusto sistema financeiro europeu. Mas nada disto nos afeta tanto e tão indistintamente como o que pode ocorrer ao clima da Terra. Entre os jornalistas brasileiros dessa cepa um nome que se destaca é o Washington Novaes, que ganhou fama na década de 1980 com a série “Xingu, a Terra Ameaçada”, produ-

ALPES De repente a neve que havia sumido na Suíça voltou a cobrir os picos da cordilheira

zida para a extinta TV Manchete. Desde então, Novaes acompanha de perto todos os grandes acontecimentos relacionados às questões ambientais, sobretudo às mudanças climáticas. Em artigo recente publicado no jornal O Estado de S. Paulo, Novaes deixa transparecer que após mais de 50 anos de militância no jornalismo ambiental, anda meio descrente da capacidade humana de agir com determinação e coerência para diminuir as consequências das mudanças no clima. Em novembro passado a última Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, realizada em Durban, na África do Sul, avançou pouco na solução do que fazer a partir de 2012, quando vence o chamado Protocolo de Kyoto. O documento de 1997 previa reduções das emissões de gases poluentes entre 2008 e 2012, cujas metas não foram cumpridas pela maioria dos 195 países envolvidos. Enquanto isto, lembra Novaes, “em 2010 quase 20% dos municípios brasileiros decretaram

estado de emergência ou calamidade por causa de desastres climáticos.” E aí entram as dúvidas avassaladoras mencionadas no início deste artigo, pois o que acontece e intriga é que sabe-se muito pouco sobre as reais consequências das ações humanas sobre o clima. As controvérsias são constantes, as notícias muitas vezes contrariam o que parece ser verdade científica. Exemplo: a neve nos Alpes suíços, que parecia estar desaparecendo, de repente voltou a cobrir os picos da cordilheira. Outro: temos mais inundações e terremotos, do que aumento de temperaturas. Pode ser tudo consequência e estar tudo ligado às nossas atitudes predadoras? Ou o planeta vivo está apenas vivendo mais um ciclo natural de grandes mudanças? São questões como estas que instigam jornalistas e escritores que adotaram as mudanças climáticas como o maior embate ideológico do século 21 (e quiçá dos próximos). •

Fabíola de Oliveira Jornalista fabiola@valeparaibano.com.br

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Especial SOLIDARIEDADE

Eles fazem a diferença Conheça a história de pessoas que mudaram suas vidas para transformar a realidade de outras que só precisavam de um ato solidário para seguir em frente Denis Machado Vale do Paraíba

esta reportagem, você conhecerá a história de pessoas que abriram mão do individualismo e, cada uma a seu modo, transformou a realidade de centenas de cidadãos, oferecendo oportunidade de emprego e renda, estudo, moradia, alimentação, dignidade. Histórias de valeparaibanos anônimos que não viraram as costas e escolheram praticar o bem. Homens e mulheres que um dia se perguntaram sobre o que podiam fazer para mudar suas próprias vidas e de outras pessoas. Encontram resposta na solidariedade, esse sentimento que não pode ser ensinado, que está além das palavras e somente quem pratica sabe seu verdadeiro significado. Nelson Giovaneli, 49 anos, é um dos fundadores da Fazenda da Esperança, que começou a atender dependentes químicos em Guaratinguetá e hoje realiza o trabalho em diversas partes do mundo. De uma escolha para o seu cotidiano, fez brilhar a centelha da espiritualidade que atualmente devolve a essência da

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vida a milhares de jovens em 12 países. A segunda história é a da catadora de material reciclável, conhecida na comunidade como Katia, 46 anos, que saiu da lama do lixão para o asfalto do bairro Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Aparecida, e consigo trouxe renda e cidadania para muitas famílias carentes daquela região. Conheça também a jornada de José Darcy Ribeiro, o Darcio, um executivo bem-sucedido que deixou a profissão de lado para retornar à Lagoinha, sua terra natal, e realizar um de seus sonhos: ter qualidade de vida. Não deu o peixe, mas ajudou muitos a pescarem bons negócios. Por fim, a experiência de Júlia Machado dos Santos Botelho, 56 anos, que, quando a vida lhe deu oportunidade, passou a atuar como voluntária em praticamente todos os dias, descobrindo e revelando que não há necessidade de nenhuma mudança radical para que se possa ser solidário; basta vontade e disposição. Nelson, Katia, Darcio e Júlia são apenas quatro entre tantas outras pessoas que transformam a própria vida e a vida dos outros, e que hoje nos contam suas trajetórias que acontecem aqui, no Vale do Paraíba, mais perto do que imaginamos.

Lugar certo, hora exata “Eu não queria mais chegar em casa e ver minha mãe sofrer, chorar... decidi parar, e sei que sozinho não vou conseguir. Eu quero sair dessa e preciso de uma pessoa que me acompanhe 24 horas, logo pensei em você. Já tem dias que não uso... por favor, me ajude.” Nelson ouviu surpreso o pedido de Antonio, que acabara de conhecer. As palavras tinham força, sentimento que Nelson ainda não havia percebido nos outros jovens que se reuniam todas as noites para consumir droga na esquina das ruas Tupinambás e Guaicurus, no bairro Pedregulho, em Guaratinguetá. Mas o caminho de Nelson, entre seu trabalho de office boy, igreja e casa, esbarrou, por alguma providência, na situação estanque daqueles jovens. Sua vontade de ajudar o aproximou do grupo, vencendo a covardia frente o medo, amparado naquilo que seria, mais tarde, seu propósito na vida. Incentivado pela espiritualidade do frei

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Fotos: João Rangel

ESPERANÇA Nelson Giovaneli, 49 anos, um dos fundadores da Fazenda da Esperança, em Guaratinguetá

Hans Stapel, em encontros na Paróquia Nossa Senhora da Glória, decidiu compartilhar frases escolhidas do evangelho com Antonio, que mais tarde decidiu também vivenciar essas mensagens com os amigos da esquina. O descobrir de um novo sentido na vida contagiou o grupo com o desejo de largar as drogas, de deixar a boca. E essa decisão trouxe consigo um passo fundamental na vida de milhares de outros jovens. Naquela época, Nelson Giovaneli, 20 anos a completar, morava sozinho na Guará de 1983. Sua família havia deixado o país, estava em Moçambique, e o jovem decidira ficar no Brasil. Por cartas, contava aos pais seu dia a dia e os encontros dos jovens, que passaram a acontecer em sua própria casa, assim que decidiram se afastar da esquina. Com a guerra civil explodindo no país africano, sua família retorna à cidade do Vale Histórico. “Quando meus pais voltaram, não tinha mais espaço na casa, e todos ti-

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nham de ir cada um para a sua. Aí surgiu a ideia de conviver junto”, conta Nelson. Em uma conversa definitiva, os jovens decidiram que todos deixariam suas casas. Alugaram uma casa próxima à esquina e foram morar juntos. Eram sete. Seis deles lutavam contra a dependência das drogas; o outro era Nelson. De uma maneira espontânea, sem planejamento algum que não fosse a decisão de viver, nascia a Fazenda da Esperança –uma atitude mundial que hoje transforma a vida de milhares de jovens. A Fazenda da Esperança, que acolhe jovens entre 15 e 45 anos em busca de viver sem drogas e álcool, teve já em seu embrião os pilares que sustentam o processo terapêutico de recuperação praticado até hoje. Ninguém melhor do que Nelson para nos explicá-los: “O ponto primeiro é a vivência do evangelho, que está ligado à espiritualidade. O foco é que nós queremos com o grupo fazer uma experiência de amar. São jovens que ajudam

outros jovens e têm a espiritualidade como um princípio fundamental. O segundo é o trabalho, que é a autossustentação, porque desde o início a gente coloca tudo em comum. Quem trabalhava dividia o salário, e quem não trabalhava, procurava um trabalho para poder se sustentar. Todas as Fazendas hoje têm seu trabalho de acordo com a vocação positiva de cada local. O terceiro é a vida em comunidade, em família, a convivência. Mais do que uma obra social, é uma comunidade que quer encontrar o sentido para sua vida. Extrapola o campo de querer fazer uma obra social para resolver problemas sociais”. Hoje, em 28 anos de história, são 81 fazendas espalhadas pelo mundo em 12 países, e 30 outras esperando, já aprovadas, para começar o trabalho. Atendem a quase 3.000 jovens –de todas religiões e ateus– que têm normalmente estadia de 12 meses. No entanto, muitos deles formam grupos quando terminam seu período de vivência no projeto e estendem a ex-

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Especial

LIDERANÇA A catadora de recicláveis, Katia, 46 anos, que virou líder comunitária em Aparecida

periência para seus locais de vida. É grande também o número de ex-dependentes que deixam suas rotinas antigas e passam a viver nas fazendas, com suas famílias. Se privam, às vezes, de algumas conquistas comum à sociedade; renunciam a ter um carro melhor, uma casa na praia, ou o filho estudando fora do país, pois acreditam que, dessa forma, possam ter algo mais essencial do que a sociedade oferece. Para que se estabeleça um modelo de sucesso, Nelson ressalta que, essencialmente, todas atitudes sejam decididas em grupo. É assim que praticam no cotidiano. O primeiro passo partiu de uma atitude pessoal, uma inquietude de sua espiritualidade. E, dali em diante, para que fosse possível a convivência e a troca de experiências, tudo passou a ser em grupo. “Não fosse em grupo, seria impossível levar a minha iniciativa em frente. Todos livremente fizeram a opção de se entregar ao grupo também. Afinal, só se recupera quando recebe um sentido de vida. E nenhum de nós tinha a intenção de criar um obra do tamanho que se formou”, explica Nelson, que prefere não ser lembrado como o único fundador da Fazenda da Esperança. Além desta gratuidade genuína, outros pontos foram importantes para mover Nelson na direção desta esperança: os fracassos e a certeza de que havia um caminho de recuperação.

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Da lama para o asfalto “Um dia tive a curiosidade de ver como era o lixo na cidade, pois durante a semana é uma cidade pacata, morta, e aos finais de semana, transborda. Quando chega a tarde é pior ainda, você olha para a cidade e vê aquele mar de dinheiro jogado no chão. Foi então que falei para todas as mulheres: ‘Gente, nós estamos querendo sair da mão dos vagabundos lá de cima, do lixão, daqueles traficantes. E se a gente começar a pegar o lixo que fica perto da Basílica, dentro do pátio da Basílica?” Tudo aquilo que é descartado pelos romeiros em Aparecida é visto como dinheiro e ganho de vida para Katia. Desde criança, aprendeu por si só a driblar as ausências cotidianas, mas nunca lhe faltou nada à mesa. Pela coragem de enfrentar aquilo que o poder público faz questão de esquecer, se tornou líder entre os catadores de material reciclável da região. E foi movida pelo desconforto que decidiu abandonar o lixão e conquistar seu sustento de forma mais digna. “No lixão o risco era grande, era a céu aberto e não tinha fiscalização. Lá se misturava lixo de hospital, de farmácia, de tudo. Não tinha nem água potável por perto. A gente já estava cansada de trabalhar nessas condições. Para piorar surgiram catadores marginais. Descobriram o lixão e começaram a invadir, já chegaram fazendo casa em cima do lixo”, conta Katia. Depois de aceito o convite por suas colegas de trabalho, Katia se viu forte para en-

frentar o preconceito e começar a coletar material reciclável no centro de Aparecida. Lá, ouvia ofensas e absurdos. Nem mesmo o início de um pensamento global em cuidar do meio ambiente tinha forças para conter a arrogância e estupidez de alguns. Katia nasceu menino: Francisco Ricardo de Oliveira. Desde que se entende por gente, escolheu ser mulher. E é assim, como uma mulher de garra, fibra e coragem que é reconhecida. Conseguiu o respeito de muitos, colocando-se à frente dos problemas e no rumo das soluções. Com pouco estudo, legado de uma família pobre, era ainda menino e vivia a catar tudo aquilo que podia ser vendido. Com este dinheiro, colocava alimento na mesa todos os dias. Fugiu das drogas, do crime, da prostituição. Forjada na segregação, aprendeu muito cedo como sobreviver às situações adversas. Quando o lixão onde trabalhava foi invadido, brigou para manter seu espaço. Quando a chuva de vento levou seu barraco estrada afora, o refez. Quando a terra que ocupa lhe é tomada, reclama por outra, até conseguir. Quando a casa prometida não é construída, levanta lajota em mutirão todos os dias. Quando as mãos não dão conta, usa a voz amplificada da rádio; pede, grita, reclama, orienta-se. A área onde hoje se encontra o bairro Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Aparecida, foi a primeira grande conquista para a comunidade. As 16 famílias que viviam em

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área de risco, à beira da via Dutra, perdiam seus barracos e ganhariam casas. Junto delas, outras 150 famílias se beneficiaram da doação do terreno da arquidiocese local e da verba pública destinada para este fim. A promessa era conhecida, e a fama de promessa política foi mantida. De 2000 a 2004, o suor das próprias famílias levantou as casas, que assim foram entregues; semiacabadas. Não havia acabamento nem eletricidade, muito menos rede de esgoto. Asfalto no bairro seria luxo; acesso decente também. Escola? Supérfluo, besteira. Igreja? Mesmo firmada no contrato da doação das terras, para quê? No entanto, algo não dependia nem da verba nem da vontade política das autoridades. Contando com a ajuda da população, Katia deu início à sua maior riqueza: organizou, documentou e fundou a cooperativa Anjos da Limpeza, que recolhe o material do centro turístico da cidade, não mais do lixão –então extinto. Esse movimento modificou a rotina local. Os moradores passaram a ter outra fonte de renda, ainda que pequena. As drogas e o álcool eram problemas comuns dentre os pais daquelas famílias, e cada vez mais se tornou importante a ação das mulheres que trabalhavam com o material reciclado para que o sustento dos filhos se desse com dignidade. Com olhos podendo se abrir para outras necessidades, em pouco tempo os moradores do mais novo bairro de Aparecida se organizaram para reivindicar melhorias na qualidade de vida. Os problemas: muitos morriam atropelados ao atravessar a via Dutra; furtos e roubos eram em grande número, por não haver luz elétrica nas ruas; correspondência nem serviços chegavam por lá, sequer constavam no mapa do município, as ruas de terra eram intransitáveis em tempo chuvoso; não havia escola. E como conseguir tantas soluções? “Às vezes, paro e penso, vejo que mudou a realidade. E penso de onde tirei tanta força. Vejo que são os degrauzinhos que a gente vai subindo. Eu queria a passarela, consegui a passarela, o que me incentivou a conseguir o calçamento. Do calçamento veio a escola, da escola veio a iluminação. Então acho que uma conquista vai puxando outra, me dando suporte, força... e você vai provando para si mesmo que é capaz. A cada vitória que a gente tem, a gente vê que é capaz de conseguir mudar a realidade”. Andar pelas ruas do bairro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro na companhia de Katia permite a sensação do quão, aos 46 anos, ela é benquista. Há sempre um aceno

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HOLDING José Darcy Ribeiro, que ajuda os conterrâneos de Lagoinha a implantar bons negócios

carinhoso, um olhar respeitoso partindo em sua direção. A comunidade, emana tranquilidade e, à vista de quem não a conheceu antes, não sugere nenhum sofrimento. “Vejo que valeu a pena, aquele sofrimento todo. Conseguimos salvar vidas, levantar a autoestima dessas pessoas. E dar emprego, porque a cooperativa gera renda”, diz. No início, quando retiravam material para reciclagem do lixão, a renda de cada catador não passava de R$ 100 mensais. A divisão, em partes iguais, no último mês chegou próxima a quantia de R$ 800 para cada um dos 23 membros da cooperativa. Um saldo para lá de positivo, não? Para Katia, apenas mais um degrau: “Mesmo tendo isso hoje, a gente está em busca de mais porque o ser humano é assim: quer melhorar, sempre. Meu sonho, de agora, é um curso de computação aqui no bairro, para essas crianças da nova geração. Falta ainda um posto médico aqui, é direito nosso. Um parquinho na pracinha, uma quadra pra esportes...” Alguém duvida?

Maluco Beleza “Eu aqui sentado, numa reunião cheia de gringo. Aturando a prepotência deles, sendo obrigado a falar em inglês e ouvi-los nesse português medíocre. Ainda por cima se acham no direito de colocar os pés sobre a mesa! O que estou fazendo aqui? Agora esta história de promoção. Desta vez, peço as contas”. José Darcy Ribeiro tinha tudo que um homem gostaria de ter: jovem, salário altíssimo, reconhecimento profissional, e agora uma proposta para viver em Nova York. Pode alguém querer mais do que isso? Darcio, como é conhecido, queria. Tanto queria que conseguiu. Manuscreveu sua demissão e decidiu voltar à cidade natal: Lagoinha, 6.000 habitantes, ambiente rural, frota quase equivalente entre carros de boi e automotivos em plena década de 1980. Louco? Sim, era o que todos diziam. Mas o louco tinha lá seus motivos. O estresse o corroía e toda a estabilidade aparente de seu sucesso financeiro e profissional dava lugar à insatisfação, ao descontentamento e às crises

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de saúde. Algo ainda mais forte o perturbava, um desejo de menino. Depois de um acordo com a empresa, juntou seu patrimônio, estimado em US$ 200mil, e pegou o caminho da roça. Além de coragem, trazia consigo alguns sonhos, o anseio latente de felicidade e a necessidade de cuidar de si, de reinventar a vida. Darcio tinha uma ideia em mente e algumas convicções, mas pouco entendia a fundo sobre a realidade daquele lugar. O caos do mundo executivo ainda exercia influência sobre o menino nascido no interior. Quando garoto, deixou a casa dos pais para continuar os estudos em Guará. Lá cursou o colegial, enquanto vivia e trabalhava em um hotel. Num trampolim certeiro, em pouco tempo estava em São José dos Campos trabalhando como operário, onde resolve estudar Economia. O aluno prodígio e funcionário aplicado se sai muito bem e logo é promovido. Seu salário se multiplica por dez, o suficiente para, aos 22 anos, já ter seu primeiro carro zero. Acompanhando a expansão do mercado, se especializa em Processamento de Dados e logo se torna gerente. A rotina intensa de trabalho fez com que, por dois anos consecutivos, trabalhasse quase sem folgas –apenas domingos contados nos dedos, nos quais aproveitava para visitar a mãe em Lagoinha. “Algumas vezes eu entrava na segunda e só saía da empresa na quarta à noite. Trabalhava direto, sem descanso”, desabafa. Com uma ideia em mente e um novo propósito para a vida, o carro zero não tinha mais poder de acalmar teu coração. E o menino da roça anseava sua liberdade. “Fiz uma escolha de trocar um padrão de vida por uma qualidade de vida. Eu precisava dar essa virada, e sempre acreditei que podia fazer algo pelas pessoas de Lagoinha, para que não deixassem o ambiente da cidade por causa de dinheiro ou por melhores condições de vida”, conta Darcio. Não sabia muito bem por onde começar. Acostumado a ter as rédeas das circunstâncias, via seu manga-larga desembestar. Teve ajuda incondicional de sua mulher, Cátia Villela Galheigo, que deixara para trás o desenvolvimento de projetos especiais para o Instituto Tecnológico de Aeronáutica e juntara-se ao marido para partilhar da loucura. Na bagagem, Darcio descarregou a familiaridade com o mundo dos negócios e logo percebeu o sistema que poderia aplicar por ali: Holding. Darcio tinha um plano de desenvolver algo para que fosse possível viver daquilo que é descartado, aproveitar o lixo aparente. Queria, com isso, gerar ocupação e renda à popu-

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lação local, e mais, almejava o ganho social, a ele e aos outros que por lá viviam. “A ideia era de criar empresas que se completassem e se ajudassem, cada uma com um sócio. Nós atuávamos como uma holding, gerindo e organizando a ligação destas empresas. Assim, começamos uma empresa de comércio de material de construção civil, uma olaria, uma transportadora e ainda, aquela que era mesmo meu foco: uma oficina e prestadora de serviços que transformaria aquilo que é descartado em renda”, explica Darcio. No entanto, a época econômica não era apropriada ao ímpeto dos investimentos. Em 1986, o fracasso das medidas econômicas do governo brasileiro, Plano Cruzado, era iminente, e teve consequências fatais para muitos empresários, produtores rurais e quem mais tivesse economias e investimentos. Quem pensa que Darcio se abateu em meio à crise, engana-se. Reinventou-se. Havia perdido tudo menos a capacidade de se superar. As empresas criadas já estavam

nas mãos dos outros sócios, e resistiram. A ele sobrou a menina dos olhos: a oficina de reaproveitamento, ainda por decolar. Via sua vida recomeçar, mas os planos ainda eram os mesmos. “Foi vendendo banquinhos artesanais de madeira que vimos possibilidade real de começar de novo. Eles eram simples, levavam o nome das crianças pirogravados. Toda criança da época deve ainda ter um deste em Lagoinha”, se divertem Darcio e Cátia mostrando o banquinho modelo que guardam consigo, e que pertence a primeira dos quatro filhos que o casal adotou, além dos dois que já tinham. Hoje a família é maior, o patrimônio material menor, mas a alegria é de um tamanho nunca antes sequer imaginado. “Agora posso afirmar que trocamos 100 salários mínimos por um punhado de felicidade. E posso fazer uma das coisas que mais queria quando estava envolvido até o pescoço naquele mundo louco de executivo; só queria mesmo poder sentar e conversar num banco de praça”, revela Darcio, de olhos brilhantes e sorriso aliviado.

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AJUDA Júlia Machado dos Santos Botelho, 56 anos, que se encontrou no voluntariado

Nem por isso sossegou as ideias. Continua inquieto e buscando a transformação e aperfeiçoamento das condições essenciais para a sociedade, mesmo já somando mais de 200 pessoas, direta ou indiretamente, beneficiadas por suas atitudes. Experimenta, num primeiro momento, novos negócios, novas formas de renda e subsistência na chácara onde vive. Investe seu capital em projetos pessoais e, quando tem resultado satisfatório, vai logo espalhando a fórmula para que outros se beneficiem. Darcio é assim, carpinteiro do universo. “Se ganho com essas cabeças de gado R$ 1.000 de lucro num mês, já invisto R$ 2.000 no outro para ver se consigo otimizar o ganho. Se dá errado, fico com o prejuízo. Mas se dá certo, posso dizer como se faz. Aqui, por exemplo, consigo tirar um dinheiro suficiente para sustentar uma família de cinco pessoas com dez cabeças de gado. Agora estou testando se funciona tão bem com doze cabeças. Vamos pagar para ver”, teoriza Darcio, satisfeito com seu mais novo empreendimento rural.

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Simplicidade de cada dia “Eu imagino a dificuldade que é comer para eles... Põe um prato de comida na sua frente, fecha os olhos e tenta comer; é muito difícil! Para eles, todo dia é assim...” Antes ainda de casar-se e criar seus três filhos, Júlia vivia na Vila São José. E antes que ela por ali chegasse, o bairro tranquilo de Taubaté já abrigava o Instituto São Rafael. Totalmente filantrópico e mantido por doações, este órgão de assistência aos cegos começou sua importante ação em 1954 e, em 1966, mudou-se para a Rua Professor Bernardino Querido, 566. Na casa ao lado, morava a família de Júlia que se aproximou pela primeira vez do ambiente deste abrigo quando seu pai doou material e ajudou na construção do refeitório. Desde então, brotava na caçula de 12 irmãos a vontade de ajudar. Levou consigo este desejo latente quando daquela rua saiu e começou sua família. Anos mais tarde, voltou a morar na mesma rua, agora em frente ao instituto. Mais do que coincidência, nos poucos passos deste

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caminho se guardava a descoberta vocacional de Júlia: o voluntariado. “Tenho em mim esse desejo de ajudar, e ajudo porque vejo as dificuldades deles para as coisas que achamos simples; ajudo por carinho, por amor mesmo”, revela. De 1995 pra cá, com os filhos já crescidos, Júlia Machado dos Santos Botelho dedica ao menos uma hora do seu dia a ajudar. Lava, passa, cozinha, organiza, limpa e realiza outras inúmeras tarefas do cotidiano do abrigo. Passou a ser, então, a Julinha –modo carinhoso pelo qual os internos a chamam para dar uma volta, jogar conversa fora ou fazer companhia necessária numa consulta médica. Hoje, somando 16 anos desse cotidiano, Júlia encontra força no carinho que dá e recebe dos moradores do abrigo. Não consegue se imaginar fora desta rotina, e relembra entristecida do período em que se afastou, quando uma mudança na administração do local foi contra o voluntariado: “Às vezes, confundem a boa vontade da gente. Acham que temos outros interesses, e não acreditam apenas na vontade de ajudar. Aí me afastei de lá por um ano, e foi muito difícil pra mim, porque lá dentro esqueço das coisas que tenho de fazer aqui fora. Me envolvo. Eu levanto de manhã, tem dias, e penso: ‘O que vou fazer hoje? Ah, vou lá no instituto, lá tem sempre o que fazer’”. Com uma de suas 24 horas diárias, Júlia descobriu que não precisaria mudar radicalmente sua vida, muito menos se afastar daquilo que já fazia parte de seu cotidiano, para satisfazer uma vontade sempre presente de ajudar: “O que me leva em frente é o amor e a afinidade que tenho por eles, lá dentro. Isso me dá a vontade que eu tenho de ajudar. Quando eu vejo eles precisando, sinto que tenho que me envolver naquilo ali... tá em mim”, explica Júlia, com voz emocionada e olhos de satisfação. Toda esta dedicação tem, pelas palavras de Júlia, maior valor e importância a ela mesma do que aos moradores do Instituto São Rafael. Ali, dia após dia, conheceu a solidariedade em quem recebe carinho e não apenas em quem se doa: “O que recompensa é o carinho e reconhecimento dos próprios internos diariamente, quando a gente percebe que confiam na nossa ajuda. Assim, a gente aprende a valorizar a vida, o dia a dia, as coisas simples.” Hoje, aos 56 anos, divide as manhãs entre seus dois netos e sua família escolhida, os moradores da Rua Professor Bernardino Querido, 566. •

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Entrevista

Dois Pontos >Paulo Storani, 49 anos, é o ex-capitão do Bope do Rio de Janeiro que inspirou o personagem Capitão Nascimento, do filme Tropa de Elite

“Polícia nunca foi a solução para o problema da violência” Yann Walter São José dos Campos

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a ficção, o Capitão Nascimento deixa o comando do Bope (Batalhão de Operações Especiais) para assumir a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro. Na vida real, Paulo Roberto Storani Botelho, um dos três homens que inspiraram o personagem interpretado por Wagner Moura nos filmes Tropa de Elite 1 e 2, saiu do Batalhão para se tornar professor na Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio. Depois de mais de duas décadas passadas na Polícia Militar carioca, Paulo Storani, hoje com 49 anos, empreendeu com sucesso uma reconversão atípica, que o levou a trocar os quartéis pelas salas de aula, e a força das armas pelo poder das palavras. Entretanto, a vida anterior não ficou totalmente para trás. Dia após dia, o ex-capitão do Bope transpõe os princípios adquiridos naquela época às palestras motivacionais que ministra em todo o Brasil para entidades interessadas em saber como os conceitos do Bope podem ser aplicados no microcosmo empresarial. Ele passou por São José dos Campos no dia 30 de novembro, quando animou no Parque Tecnológico um evento sobre o tema ‘construindo sua tropa de elite’. Antropólogo, consultor, pesquisador, professor e expolicial: Paulo Storani é um homem de múltiplas facetas. Na entrevista concedida à revista valeparaibano, ele fala de seu passado no Bope e da situação atual nas

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favelas do Rio de Janeiro, sem se esquivar de assuntos polêmicos como a ineficiência das políticas repressivas atuais e a corrupção do poder público. “Todo problema tem solução senão seria um dogma, uma verdade incontestável. Acredito que o problema é difícil, mas a vontade política e a pressão da opinião pública são fundamentais para se chegar a uma solução”, disse. Ele ainda dá sua opinião sobre o combate ao tráfico, o crescimento das milícias, a importância da educação no longo prazo e a questão da proibição das armas. Apesar do cenário sombrio, ele continua acreditando que todo problema tem solução. Afinal, missão dada é missão cumprida. No entanto, como ele bem lembrou, é imprescindível que haja vontade política. Leia a seguir os principais trechos da entrevista. Fale um pouco sobre sua trajetória. Como, e quando, você se tornou policial no Bope do Rio de Janeiro? Quanto tempo você ficou lá? < Fui oficial da ativa da Polícia Militar do Rio de Janeiro durante 17 anos e servi no Bope durante 5 anos. Encerrei minha carreira quando me tornei professor da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro. Você inspirou o Capitão Nascimento, de Tropa de Elite. Você adotava o mesmo posicionamento ‘linha-dura’ que o personagem no treinamento de aspirantes, no combate aos bandidos e no tratamento aos usuários de drogas? < O Capitão Nascimento do filme reúne a história de três oficiais do Bope, eu sou um deles. Fico preocupado com o termo ‘linha dura’, pois no Brasil é

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PERFIL NOME: Paulo Storani IDADE: 49 anos NATURALIDADE: Rio de Janeiro

TROPA DE ELITE “OS DOIS FILMES FORAM FIÉIS À REALIDADE. MOSTRARAM O QUE DEVERIA SER MOSTRADO COM UMA QUALIDADE RARAMENTE VISTA NO CINEMA NACIONAL”

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FORMAÇÃO: Mestre em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense PROFISSÃO: Professor universitário e consultor em segurança pública

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Entrevista

VIDA REAL Policiais do Bope durante operação de pacificação da Favela da Rocinha, a maior do Rio de Janeiro, em novembro de 2011

entendido de várias formas. Se você quer dizer que fazia o que deveria ser feito, sim, sempre fui e sou até hoje. No treinamento sempre somos duros, exigimos o melhor de cada um, como a realidade que enfrentamos exige. Sobre os usuários de drogas, ao contrário do filme, sempre lamentei o fato de que eles ignoram que financiam a violência relacionada às drogas no país, para ‘curtirem’ momentos de prazer artificial. Os usuários sociais de drogas representam 80% dos consumidores, os outros 20%, os dependentes, são os adoecidos. Estes fazem com que suas famílias e amigos adoeçam juntos. Você acha que Wagner Moura se saiu bem na interpretação de seu papel? < É o melhor ator brasileiro do momento. Absorveu tudo que passamos para ele no treinamento, foi um excelente aluno. Em sua opinião, os dois filmes são fiéis à realidade? < Sim, são filmes etnográficos. Porque você acha que os dois ‘Tropa’ fizeram tanto sucesso? < Mostraram o que deveria ser mostrado com uma qualidade raramente vista no cinema nacional. As pessoas passaram a refletir sobre os temas relacionados, como segurança pública, drogas, traficantes, consumidores, políticos e policiais corruptos e pessoas honestas. Nos próximos 10 anos, quando reavaliaremos a década, descobriremos o que estes filmes foram capazes de fazer.

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Ficção O ator Wagner Moura, que intterpretou Capitão Nascimento n nos filmes Tropa de Elite 1 e 2

BOPE “FUI COLOCADO À PROVA MUITAS VEZES. MEUS VALORES E LIMITES FÍSICOS E MENTAIS FORAM TESTADOS. FOI UM GRANDE APRENDIZADO DE VIDA” No primeiro ‘Tropa’, Wagner Moura tortura a namorada de Baiano, o líder do tráfico no Morro dos Prazeres, para que ela entregue o paradeiro do bandido. Você acha válido torturar familiares de traficantes para conseguir informações sobre eles? < Tortura é crime e quem a pratica é criminoso. Você se arrepende de algo que fez quando trabalhava no Bope? < Não me arrependo de nada. No Bope fui colocado à prova muitas vezes. Meus valores e limites físicos e mentais foram testados. Foi um grande aprendizado de vida. Como está a situação no Rio de Janeiro hoje? Você acha que a implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) está contribuindo para reduzir a violência nas favelas? < Os indicadores mostram o resultado. Contudo, polícia nunca foi solução para o problema da violência.

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DROGA “O CONSUMIDOR TEM SUA RESPONSABILIDADE NA VIOLÊNCIA DO TRÁFICO, MAS ACHO QUE A CORRUPÇÃO É BEM PIOR, CONTRIBUI MUITO MAIS PARA A VIOLÊNCIA” Preocupa-me o que está faltando ao programa das UPP: ações que possam reduzir a violência no médio e longo prazos, com atenção aos jovens que perderam o modelo de vida ofertado pelos traficantes e que agora precisam de nova definição para suas vidas. Como fazer para erradicar este problema? Você acha possível eliminar o tráfico de drogas? < Nunca será erradicado. Enquanto houver consumidores haverá drogas e vendedores, é a lógica do mercado. Amenizar o problema é atuar no longo prazo, na educação, da mesma forma que conseguimos reduzir o tabagismo pelas campanhas incessantes nos últimos 20 anos. Se tivéssemos feito o mesmo com as drogas, já teríamos tido resultado. Parece que somos permissivos com esta questão. Por enquanto, o drogado é o filho do outro. Você compartilha a posição segundo a qual os usuários de drogas são os principais responsáveis pela violência do tráfico e deveriam ser mais penalizados? < O consumidor tem sua responsabilidade neste mercado, mas acho que a corrupção é bem pior, contribui muito mais para a violência. Você concorda com os especialistas que defendem a legalização das drogas? < Não. Querem resolver um problema complexo com uma medida pontual. Não temos coragem de discutir o tema profundamente, esquecem que nosso sistema de saúde seria incapaz de absorver a massa de dependentes resultante de uma medida como essa, quando os usuários recorreriam a drogas mais pesadas após cessarem o ‘barato’ das drogas menos prejudiciais. Estes especialistas, então, iriam tentar transformar o uso destas drogas pesadas em crime hediondo? Não se resolvem estes problemas com leis. Você acha que a legalização contribuiria para limitar o poder dos traficantes e, consequentemente, reduzir a criminalidade? < Não limitaria. Eles deixariam de vender drogas legalizadas e venderiam a preços acessíveis as drogas mais pesadas, como já fazem hoje com o crack, o óxi e o hulk (crack de cor verde, supostamente mais puro e com efeitos mais duradouros). Você concorda com as pessoas que afirmam que a política atual de repressão tem sido um fracasso? < Concordo. A chamada ‘guerra contra as drogas’ produziu mais violência. É o resultado de nossa mania de

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resolver problemas complexos com leis e uso da força. Em sua opinião, qual é o maior problema do Rio de Janeiro hoje, os traficantes ou as milícias? < Ainda são os traficantes, mais até a metade da década serão as milícias. O tráfico esta perdendo força e as milícias estão se fortalecendo. Parece ser bem mais difícil resolver a questão das milícias, uma vez que seus integrantes, ao contrário dos bandidos, contam com forte respaldo político. Por isso, não se pode aplicar às milícias a mesma política de linha-dura. O filme ‘Tropa 2’ parece dizer que é um problema sem solução. Você concorda? < Todo problema tem solução senão seria um dogma, uma verdade incontestável. Acredito que o problema é difícil, mas a vontade política e a pressão da opinião pública são fundamentais para se chegar a uma solução. Há alguns anos foi organizado no Brasil um referendo sobre a proibição da comercialização de armas de fogo e munições. Você acha que é uma opção válida para reduzir os índices de criminalidade? < Sem dúvida. Mas o Estado deve, antes, garantir a segurança das pessoas. Como você vê a organização de jogos da Copa do Mundo e das Olimpíadas no Rio de Janeiro? Você acha que estes eventos vão contribuir para melhorar a cidade, do ponto de vista da segurança? < Sim. Os protocolos internacionais obrigam o país, o Estado e o município a tomarem medidas mínimas para garantir a segurança do evento e das pessoas, e espero que estas medidas resultem em legado para a cidade. O que você faz hoje? Fale um pouco sobre o conteúdo de suas palestras. < Sou professor de quatro universidades no Rio de Janeiro em cursos de pós-graduação e coordeno pesquisas na área de segurança pública. Mas boa parte do meu tempo está tomado por palestras que tratam dos conceitos do Bope, vistos no filme Tropa de Elite, aplicados na vida das pessoas e das empresas. No ano passado, você deu uma palestra para os jogadores do Atlético-MG antes de um jogo contra o Cruzeiro, que eles acabaram vencendo por 4 a 3 com três gols de Obina. O que você falou para eles? < O que falo para todos que assistem às minhas palestras. Sobre os motivos pelos quais vale transformar objetivos, metas e tarefas em missão. •

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Vale, Brasil & o Mundo POLÍTICA

Deputados aprovam criação da Região Metropolitana do Vale

9 ANOS

Guerra no Iraque chega ao fim A Assembleia Legislativa aprovou, por unanimidade, o projeto de lei que cria a Região Metropolitana do Vale do Paraíba, Litoral Norte e Serra da Mantiqueira. A expectativa é que a RMVale comece a ser operacionalizada até abril. A RMVale nasce para integrar o planejamento regional nas 39 cidades da região. Trata-se de um instrumento político que cria um Conselho Deliberativo, composto por 39 prefeitos, 39 representantes do Estado e um membro da Assembleia Legislativa para discutir melhorias comuns à região. Na prática, a criação da RMVale, aguardada por 11 anos, possibilitará a unificação das ligações com custo local em toda as 39 cidades do Vale (fim do DDD), aumento do teto de financiamento do programa Minha Casa Minha para R$ 170 mil (hoje de R$ 80 mil nas cidades pequenas). Outra vantagem será a criação de uma agência para implementar projetos e obras que estimulem o desenvolvimento da região e solucionem problemas comuns das 39 cidades. Também será criado um fundo para captação de verbas públicas ou de instituições financeiras, inclusive internacionais.

Frases ”Cada R$ 1 investido em prevenção equivale a R$ 7 gastos em resgate” Do secretário nacional de Defesa Civil, Humberto Viana, sobre a necessidade de criar um plano de prevenção de desastres em áreas de risco

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”O senhor sofreu reu tortura sob os olhos do público. Sei bem o que é isso” Do apresentador Rafinha Bastos, para Inri Cristo em show de humor

Militares desceram a bandeira dos Estados Unidos da haste, fechando o quartel-general do Exército norte-americanos em Bagdá. Assim foi encerrada oficialmente, no dia 15 de dezembro de 2011, a guerra no Iraque, após quase nove anos de presença das tropas norteamericanas naquele país. O encerramento ocorreu duas semanas antes do prazo programado no acordo de segurança assinado entre os governos dos EUA e do Iraque em 2008. O documento estipulava que as tropas estrangeiras deveriam deixar o país do Oriente Médio até o dia 31 de dezembro. Os soldados chegaram ao país em março de 2003. Na cerimônia, um tributo especial foi feito,

porém, aos mais de um milhão de soldados que serviram no Iraque desde 2003, incluindo cerca de 4.400 mortos e mais 30 mil feridos em combate. Com o fechamento do quartelgeneral do Exército norte-americano em Bagdá, é colocado um fim definitivo na presença militar americana no país. As últimas tropas serão retiradas após quase nove anos desde a invasão que derrubou Saddam Hussein. Comandantes do Exército americano decidiram sair antes por acreditarem que não havia necessidade de manter as tropas mais tempos no Iraque, inclusive durante as festividades de fim de ano, uma vez que as conversas sobre manter parte dos soldados falharam.

”Castigo corporal passa a ser qualquer ação que resulte em sofrimento. É o mero uso da força física com a suposta intenção de educar” Do promotor de Justiça Wilson Tafner, sobre a Lei da Palmada

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SISTEMA PRISIONAL

Cárcere internacional 3.500 brasileiros estão em presídios estrangeiros; tráfico de drogas é responsável pela maioria das prisões

Yann Walter São José dos Campos

no após ano, milhares de brasileiros vão tentar a sorte no exterior. Mesmo com a crise financeira mundial, o poder de sedução dos dólares, dos euros e até dos ienes continua intacto. Os Estados Unidos, a Europa e o Japão ainda são vistos como Eldorados, etapas obrigatórias para a conquista de uma vida melhor. No entanto, a realidade dos imigrantes que chegam àqueles países está a anos-luz de distância dos sonhos acalentados antes da viagem. A vida é dura, o trabalho é pesado e o salário, baixo. Frustrados, muitos deles se perdem pelo caminho. Cedem à tentação

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do dinheiro fácil e caem na criminalidade. Outros já saem do Brasil com a intenção de cometer delitos. São, em maioria, traficantes de drogas ou exploradores de mulheres. Há, também, os imigrantes ilegais, que são capturados e deportados. Sem falar das vítimas de erros judiciais, os casos mais trágicos. De acordo com os números mais recentes fornecidos pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil, 3.556 cidadãos brasileiros se encontravam em algum presídio estrangeiro no fim de 2010. Destes, 2.854 estavam cumprindo pena ou aguardando julgamento, e 702 estavam aguardando deportação. Em 2009, estes números chegavam, respectivamente, a 2.568 e 869. Vale ressaltar que muitos casos de detenção de brasileiros não são comunicados aos consulados e embaixadas e não entram na contagem do Itamaraty. Estima-se, portanto, que o número de brasileiros presos no exterior

seja na verdade superior a 4.000. O crime mais praticado pelos brasileiros presos no exterior é, de longe, o tráfico de entorpecentes, que segundo o Itamaraty respondia por 57% dos casos em 2010. Vêm depois os delitos de fraude de documentos (15%), roubo (10%), homicídio (10%) e proxenetismo (8%). A média da pena cumprida pelos brasileiros no estrangeiro varia conforme o país. Segundo as informações disponibilizadas pelo Ministério das Relações Exteriores, ela é de 4 anos e oito meses na Argentina, cinco anos na Itália, seis no Reino Unido, sete nos Estados Unidos e no Paraguai, e nove na Espanha. A Espanha abriga o maior contingente de detentos brasileiros fora do país. Segundo os dados do Itamaraty, 505 cidadãos brasileiros estavam em penitenciárias espanholas no ano passado, sendo 465 cumprindo pena ou aguardando julgamento e 40 aguar-

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Fotos: divulgação

dando deportação. Em 2009, o total era de 945, mas 528 estavam para ser deportados. A maioria dos crimes cometidos por brasileiros naquele país –e na Europa de um modo geral– tem a ver com o tráfico de drogas ou de pessoas. No início do mês passado, as autoridades espanholas desbarataram uma quadrilha internacional que se dedicava à exploração sexual de brasileiras menores de idade no Sul do país. Quinze pessoas, entre elas vários brasileiros, foram presas. Existem também várias gangues especializadas em delitos mais sofisticados. No caso mais recente, a polícia espanhola desmantelou em setembro passado, em Barcelona, uma quadrilha que falsificava documentos e invadia sistemas de segurança de bancos pela internet. Liderada por um hacker radicado no Brasil, o bando teve 30 de seus 39 integrantes presos, entre eles 21 brasileiros.

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Japão Com 397 brasileiros atrás das grades, o Japão aparece no segundo lugar. Cabe frisar que como todos entraram legalmente no país, nenhum está em instância de deportação. Os delitos privilegiados pelos brasileiros na Terra do Sol Nascente são o roubo de carros e autopeças e o furto em lojas e supermercados. Os casos envolvendo tráfico ou consumo de drogas são raros. “O Japão tem uma das maiores comunidades brasileiras do mundo”, lembrou Domingos Dutra, vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. De fato, com mais de 250 mil integrantes, os ‘dekasseguis’ brasileiros constituem o quarto maior contingente de trabalhadores estrangeiros residindo legalmente no país. Apesar de terem alta escolaridade e até curso superior, quase todos trabalham como

operários em montadoras de automóveis e de produtos eletrônicos e são submetidos a jornadas de trabalho exaustivas e mal remuneradas. Os que não falam o idioma japonês ainda sofrem com o preconceito social. Os casos de maus-tratos físicos não são frequentes nas prisões japonesas. No entanto, a disciplina imposta aos presos pelos carcereiros é uma das mais rígidas do mundo. Os detentos têm que pedir permissão para tudo, até mesmo para falar, sentar ou deitar. O japonês é o único idioma autorizado, inclusive durante as visitas, que são sempre acompanhadas por guardas. Quem não se submeter ao sistema é punido com temporadas na solitária. Às vezes ocorrem castigos mais severos. Um brasileiro que cumpriu quatro anos em Nagoya por assalto a mão armada disse que foi obrigado a usar uma camisa-de-força du-

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Mundo

rante 48 horas seguidas, com uma das mãos amarradas na barriga e a outra nas costas, passando por trás da cabeça. O motivo? Deu uma resposta atravessada a um carcereiro. Já na Bolívia, terceiro país em número de detentos brasileiros (342 em 2010, contra 72 em 2009), as denúncias de torturas e sevícias nos presídios são constantes. Em fevereiro deste ano, dois brasileiros condenados a 30 anos de prisão por suposto envolvimento no assassinato de um cidadão boliviano afirmaram estar sofrendo torturas diárias na penitenciária de Villa Busch, que fica na cidade de Cobija, na fronteira com o Acre. Segundo relatos de seus familiares, eles estariam sendo alimentados com vísceras de gado. A grande maioria dos brasileiros encarcerados na Bolívia tem alguma relação com o tráfico de drogas, mas muitos são garimpeiros que trabalham ilegalmente nas jazidas de ouro e pedras semipreciosas do departamento de Santa Cruz, o mais rico do país. Estados Unidos O caso dos Estados Unidos é um pouco diferente. O país é apenas o quarto da lista, se forem considerados apenas os 243 brasileiros que estavam cumprindo pena ou aguardando julgamento em 2010. Porém, se computados também os 246 detidos para deportação, os Estados Unidos se tornam a nação estrangeira com maior número de presos procedentes do Brasil, superando inclusive a Espanha. O ranking de brasileiros presos por país não é o mesmo se contados somente os que aguardam deportação. Neste caso, ainda segundo os dados de 2010, vêm depois dos Estados Unidos o México (164 detentos nacionais), a França (84), Portugal (50), Reino Unido (45) e Espanha (40). Assim, fica claro que os destinos privilegiados pelos imigrantes ilegais provenientes do Brasil são mesmo os Estados Unidos (com o México como zona de passagem) e a Europa. Os Estados Unidos têm algumas características peculiares. Em primeiro lugar, é lá que se encontram a maioria dos brasileiros que cumprem prisão perpétua. Em 2010, segundo o Itamaraty, quatro dos nove cidadãos do Brasil condenados à pena máxima em todo o mundo estavam naquele país. Dois deles, retidos há mais de seis anos em presídios da Califórnia por seqüestro e extorsão, tiveram a sentença anulada por conta de uma série de erros judiciais e foram libertados em novembro. Os outros cinco estavam divididos entre três países

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Brasileiros cumprindo pena ou aguardando julgamento Espanha

Japão

Bolivia

EUA

França

Itália

Portugal

ArgenReino Paraguai tina Unido

465 397 342 243 228 223 220 195 153

78

3.556

Cidadãos brasileiros se encontravam em algum presídio estrangeiro no fim de 2010 Valdeir Gonçalves Santos, 31 anos, acusado de matar uma família de três pessoas em 2009

Nebraska Arizona

Ricardo Costa, 39 anos, preso no Arizona e aguardando julgamento desde dezembro de 2008

da Europa (dois na Grécia, um na Irlanda e um na Inglaterra) e o Canadá. Com exceção dos dois libertados e do casal detido na Grécia, que cumpre pena por tráfico, todos foram condenados por homicídio. O segundo fato que chama a atenção nos presídios norte-americanos é o alto número de presos aguardando julgamento. Entre os brasileiros, um caso se destaca. Ricardo Costa, um ex-modelo de 39 anos nascido em Campinas, está definhando desde dezembro de 2008 em um presídio de Arizona, na espera angustiante da definição de seu futuro pela justiça local que, por sinal, prevê um prazo máximo de 150 dias entre a detenção e o julgamento. Divorciado, ele é acusado pela ex-esposa americana de ter molestado dois dos três filhos do casal. Ele garante que é inocente, e diz que os filhos foram coagidos pela ex-mulher. Em entrevista concedida

ao Jornal Nacional em 2010, Costa revelou que recebeu mais de 20 vezes uma proposta para assumir a culpa pelo crime. Em contrapartida, seria solto, deportado para o Brasil e não veria mais os filhos. Rejeitou a oferta, dizendo-se disposto a morrer na prisão para não ter que confessar algo que não cometeu. “Se eu assinasse, estaria fazendo com que meus filhos soubessem de algo que não é verdade, e fossem assombrados por essa mentira pelo resto da vida deles”, justificou. Neste caso, chama a atenção o valor absurdo estipulado pelo tribunal para que Costa possa responder em liberdade: US$ 75 milhões, a fiança mais alta já pedida em toda a história dos EUA. Para fins de comparação, a fiança do astro pop milionário Michael Jackson, acusado pela segunda vez em 2003 de molestar sexualmente um menor, foi de US$ 3 milhões.

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Brasileiros presos aguardando deportação EUA

México

França

Portugal

Reino Unido

Espanha

246

164

84

50

45

40

57%

Foram detidos por trafico de drogas

Indonésia

Rodrigo Gularte, 37 anos, acusado de tráfico de drogas

Marco Archer, 48 anos, acusado de tráfico de entorpecentes

Indonésia Marco Archer, 48 anos, e Rodrigo Gularte, 37 anos, são outros brasileiros em situação dramática no exterior. Detidos na Indonésia em 2003 e 2004, com, respectivamente, 15 e 6 quilos de cocaína escondida em equipamentos esportivos, eles são os únicos cidadãos do Brasil condenados à morte em todo o mundo. Vale frisar que esta situação pode mudar em breve, já que o mineiro Valdeir Gonçalves Santos, 31 anos, acusado de matar uma família de três pessoas em 2009 no Estado americano de Nebraska, tem grandes chances de ser o próximo da lista. Apesar da intervenção do Ministério das Relações Exteriores, a sentença de Archer foi confirmada em última instância. “Agora somente um indulto presidencial pode salválo e transformar a pena em prisão perpétua. A Indonésia mantém boas relações com o Brasil, então nem tudo está perdido”, disse

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o deputado federal Domingos Dutra. Já Gularte, que também recorreu da decisão, ainda não teve a sentença de morte confirmada pela Corte de Apelações de Jacarta. A Indonésia tem as leis mais repressivas do mundo para o tráfico e o consumo de drogas. No fim de novembro, um adolescente australiano de 14 anos foi condenado a dois meses de prisão por ter sido flagrado comprando uma pequena quantidade de maconha na ilha de Bali, onde passava férias com os pais. “Estive diversas vezes com o embaixador da Indonésia no Brasil para discutir o caso Archer, e ele confirmou que a legislação indonésia é extremamente rigorosa sobre a questão das drogas”, disse Dutra, que pretende solicitar a abertura de uma diligência para acompanhar os casos de Marco Archer e Ricardo Costa. “Funcionários do consulado de Los Angeles e da embaixada de Jacarta estão realizando visitas periódicas aos brasileiros, que

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se encontram em bom estado de saúde física”, destacou, em nota, o Itamaraty. A diligência da comissão certamente vai chamar a atenção sobre os casos de Costa, Archer e Gularte, e fazer com que eles não sejam esquecidos pelas autoridades brasileiras. Tratam-se, porém, de notáveis exceções. “Se o governo não consegue nem garantir a segurança dos presidiários dentro do país, acho difícil que consiga cuidar de forma satisfatória dos que estão lá fora. A comissão não tem condições de atender todas as demandas. O ideal seria monitorar todos os brasileiros presos no exterior, mas isso é praticamente impossível”, avaliou o deputado. Apoio Em nota, o Ministério das Relações Exteriores disse que “os consulados brasileiros realizam visitas periódicas a nacionais que se encontram presos no exterior a fim de acompanhar o tratamento e o processo de execução da sentença”. “Distribuem-se, em caráter humanitário, kits de higiene pessoal em alguns presídios onde a situação é sabidamente difícil”, acrescentou. No entanto, muitos cidadãos brasileiros encarcerados fora não contam com estas regalias. É fato que vários presidiários recusam o apoio consular porque não querem ser deportados, ou para que a família deles não seja informada da detenção. É o caso, por exemplo, do brasileiro canadense Rubens Henderson, condenado à prisão perpétua em 1994 por um homicídio cometido quando ainda era menor de idade e que só recorreu da sentença após passar sete anos em um presídio de Ottawa. Mas muitos detentos do país no exterior reclamam da falta de apoio do Itamaraty. Há alguns meses, um brasileiro flagrado em 2007 na Espanha com um quilo de cocaína e enviado para cumprir uma pena de quatro anos e meio em um presídio perto de Barcelona afirmou ter sido ameaçado, surrado e seviciado diversas vezes por carcereiros. Ele alertou as autoridades consulares, que enviaram um representante. Porém, o diretor do presídio se recusou a autorizar a visita, alegando que o preso não queria contato. Depois, prometeu que apuraria o caso. Após a apuração, concluiu-se que as acusações do detento não procediam, e o Itamaraty deu o assunto por encerrado. Vale ressaltar que o artigo 36 da Convenção internacional de Viena obriga o país que prende a comunicar a detenção ao país de origem. No entanto, poucos países cumprem os tratados por completo, e muitas penitenciárias sequer permitem o contato entre o preso e as autoridades consulares. •

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Educação: tempo de aprender 044-073_Especial-Educação.indd 44

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Guia Temático Por: Letícia Maciel Fotos: Can Stock Photo

Este guia especial de educação traz às suas mãos um resumo do que o Vale do Paraíba e o Brasil oferecem como opções de ensino e aperfeiçoamento para o ano letivo 2012, desde o berçário, primeiro contado da criança com a escola, até os cursos de pós-graduação e de especialização

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Especial

A garantia de um futuro melhor Escolhas e decisões relacionadas ao aprendizado são as que exigem mais responsabilidade e consciência Vale do Paraíba

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desenvolvimento de uma nação não se mede apenas pelo crescimento de suas indústrias, mas também pelo o que ela oferece em educação, cultura e saber. A garantia destes direitos a cada cidadão se traduz por uma sociedade mais igualitária, informada, eficiente na prestação de serviços, mais inteligente no consumo e consciente das necessidades de preservação do planeta. O Vale do Paraíba certamente já contribuiu muito para os resultados econômicos do Brasil, e vem trilhando seu caminho no campo do conhecimento. E as instituições de ensino da região podem, sem dúvida, ajudar neste trajeto. Por isso, este Guia Temático de Educação traz às suas mãos um resumo do que o Vale e o país oferecem opções de ensino e aperfeiçoamento para o ano letivo 2012. Para começar, vamos ver que a formação de um brasileiro divide-se basicamente em quatro estágios: ensino básico (educação infantil e fundamental), ensino médio, ensino superior e pós-graduação (todos os estudos, especializações e cursos posteriores à universidade). Os recursos são mais numerosos em centros urbanos, mas chegam também à zona rural, atendem famílias de baixa renda, portadores de deficiência física e comunidades indígenas. Além das instituições de ensino que seguem programas exclusivamente pedagógicos, existem as escolas confessionais, que propõem formação humano-cristã. Outra modalidade que se atualizou e vem ganhando adeptos a cada ano é o EAD (Ensino a Distância). Com todas estas opções, o número de estudantes está aumentando no Brasil. Entre 2000 e 2010, a taxa de analfabetismo caiu quatro pontos percentuais, passando de 13,6% para 9,6%, de acordo com os Indicadores Sociais Municipais do Censo Demográfico 2010, divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas). Estamos no caminho certo, mas ainda falta muito. As escolhas e decisões relacionadas ao aprendizado são as que mais exigem responsabilidade e consciência. Afinal, elas potencializam nossos talentos e garantem nosso futuro. •

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CENSO Taxa de analfabetismo no Brasil reduziu quatro pontos percentuais entre 2000 e 2010, passando de 13,6% para 9,6%

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Berçário: primeira etapa do ensino

RECURSOS Estabelecimentos modernos têm sistema de monitoramento por câmeras, que podem ser acessadas pela internet

Metodologias de ensino elaboradas impulsionam o desenvolvimento das emoções e inteligência dos bebês Vale do Paraíba

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rimeira etapa do ensino básico, a educação infantil pode começar pelo berçário, preferencialmente a partir do quarto mês de idade, quando termina a licença maternidade e a mãe precisa voltar ao trabalho. O Vale do Paraíba já conta com o que há de mais avançado nesta modalidade. Nas instituições que se dedicam a esta etapa, os bebês não ficam apenas brincando, seguem uma complexa rotina de entretenimento, aprendizado e cuidados, baseada em propostas pedagógicas. Tanto a rede pública quanto a particular adotam metodologias de ensino elaboradas

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para impulsionar o desenvolvimento das emoções, inteligência e capacidade motora dos bebês. A maioria das escolas recebe bebês de 0 a 18 meses, em espaços que contam com banco de leite materno, sala de amamentação, áreas de lazer, sala de alimentação, sala de estímulos, espaço de areia e até ateliê de artes. Em estabelecimentos mais sofisticados, há também sistemas de monitoramento por câmeras, que podem ser acessados via internet. Com isso, os pais podem ver os bebês a qualquer hora do dia na tela do celular, do computador ou de qualquer dispositivo móvel que tenha acesso à web. Com seis meses, os bebês já podem ser inscritos em creches, que atendem crianças até os três anos. Nesta segunda fase, os pequenos aprendem a ser sociáveis, a trabalhar em equipe e solucionar problemas, além de

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desenvolver a criatividade e o senso crítico. As metodologias adotadas na educação infantil variam de acordo com a instituição, porém a maioria dos estabelecimentos aplica as teorias Construtivista e Montessori. Grosso modo, o Construtivismo parte do princípio de que o indivíduo constrói e organiza seu conhecimento através de uma combinação de sua inteligência nata e os estímulos externos que recebe. Já a filosofia Montessori acredita que o ser se desenvolve segundo a linha de sua natureza. Algumas escolas ainda preferem mesclar estes métodos, associando conceitos de outras linhas. A linha naturalista, por exemplo, defende maior contato com a natureza e atitudes sustentáveis. Já o Sociointeracionismo, de Lev Vigotsky, acredita que a vivência em sociedade é essencial para a transformação do homem biológico em ser humano. A partir dos três anos de idade, a educação começa a despertar nas crianças o senso cívico, de respeito à individualidade, respeito ao outro, cumprimento de regras e contato com valores morais. Algumas escolas carregam como princípios da educação a honestidade, a lealdade e a justiça. Outras priorizam valores mais racionais como o protagonismo nas relações, comprometimento e desenvoltura verbal. Mas modo geral, entre os três e cinco anos de idade, as instituições de ensino devem prezar pelo desenvolvimento físico, mental, social e intelectual da criança. •

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MÉTODOS CONSTRUTIVISMO Parte do princípio de que o indivíduo constrói e organiza o seu conhecimento através de uma combinação de sua inteligência nata e os estímulos externos que recebe MONTESSORI Acredita que o ser se desenvolve segundo a linha de sua natureza

LINHAS NATURALISTA Defende maior contato com a natureza e atitudes sustentáveis SOCIOINTERACIONISMO Acredita que a vivência em sociedade é essencial para a transformação do homem biológico em ser humano

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Recursos digitais no Ensino Fundamental Escolas aproveitam a expansão do uso dos computadores para envolver os alunos e melhorar o desempenho no aprendizado

CICLOS Desde 2005, o ensino fundamental passou a ter duração de nove anos, ao invés de oito, por exigência do MEC

Vale do Paraíba

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o Ensino Fundamental, etapa obrigatória da educação, os alunos aprendem a ler, escrever e calcular com as seguintes disciplinas: português, matemática, ciência, história e geografia. Alguns colégios oferecem matérias opcionais como inglês, música, artes e educação física. Ao final deste ciclo, que vai dos 6 aos 14 anos de idade, o adolescente já deve ser capaz de compreender os valores básicos da família e da sociedade, o ambiente natural e social, as tecnologias e o sistema político. Desde 2005, o Ensino Fundamental passou a ter duração de nove anos, ao invés de oito. Com isso, algumas instituições preferiram dividir o ensino fundamental em duas etapas, a que vai da 1ª à 5ª séries (6 a 9 anos de idade) e a que

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vai da 6ª à 9ª séries (10 a 14 anos). As crianças passaram a ter mais tempo de convívio escolar para ter mais oportunidade de aprender. Ao final da primeira etapa, elas podem realizar a chamada Provinha Brasil, do governo federal, para certificar-se de que estão aptas a continuar o Ensino Fundamental, ou seja, de que são capazes de ler e escrever corretamente antes de entrar para a quarta série. Até pouco tempo, todas as escolas usavam como material didático as apostilas impressas, seguindo assim o método de ensino tradicional. Com a expansão do uso de computadores e o desenvolvimento acelerado das crianças, muitas instituições decidiram abrir mão de recursos digitais para envolver os alunos e melhorar o desempenho no aprendizado. Um exemplo disso é o Sistema UNO, que propõe o uso de recursos digitais como complemento para o conteúdo do material impresso. São livros com objetos que se movimentam e que emitem sons, salas multimídia, aulas virtuais, CDs e DVS.

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Formar pessoas competentes na vida acadêmica, no mundo do trabalho e na vida social são objetivos de toda escola. Fazer a diferença é o nosso desafio! Comece escolhendo uma ótima escola.

Alunos bem formados, com visão de futuro, focados na sustentabilidade pessoal e do planeta, são indivíduos prontos para formar um mundo melhor.

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Formando um mundo melhor.

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Especial

Ao interagirem com o material didático virtual, os alunos entram em contato também com a tecnologia dos computadores –ferramenta que entrou para sempre na vida de todos nós. Os livros de artes, por exemplo, trazem vídeos e animações sobre temas do folclore brasileiro. No ensino do inglês, os livros vêm com áudio e músicas.

renda familiar) e Educação Fiscal (que ensina a controlar o orçamento público). Estes dois temas começam a ser tratados agora, em 2012, na rede pública. Outra disciplina optativa curiosa oferecida por escolas particulares é a robótica, em que os alunos aprendem noções de eletrônica e podem criar seus próprios “brinquedos”.

Bilíngue Para o ensino de idiomas, algumas escolas modernas oferecem alfabetização bilíngue. Elas propõem métodos de imersão total das crianças no segundo idioma, com profissionais da área de pedagogia lecionando integralmente em inglês. Em escolas bilíngues ou internacionais, como são chamadas, as crianças aprendem a ouvir e a falar inglês em pouco tempo, mantendo concomitantemente o aprendizado em português, conforme exigido pelo MEC (Ministério da Educação). Com a globalização, o crescimento da economia brasileira, o novo conceito de desenvolvimento sustentável e o acesso fácil às tecnologias, o ensino fundamental adaptou sua grade curricular nos últimos anos, incluindo disciplinas como empreendedorismo, meio ambiente e multimídia. No Vale do Paraíba, a grande novidade nesta modalidade são as matérias Educação do Consumidor (que dá dicas sobre como administrar a

Escolas confessionais Herança do Brasil colonial, as escolas mantidas por entidades religiosas são uma opção para os pais que buscam uma formação mais humanizada para os filhos, com enfoque em valores éticos, morais e cristãos. Elas seguem uma filosofia própria e incluem em sua grade curricular a disciplina ensino religioso. Contrariamente ao que se pensa, estas instituições não são voltadas apenas para católicos, protestantes ou praticantes de outras religiões. Elas apenas oferecem formação humano-cristã, organizam eventos junto à comunidade religiosa, mas não obrigam os alunos a seguirem nenhuma doutrina. Entre as confessionais católicas de maior atuação no Brasil destacam-se as mantidas pelas congregações Salesiana e Franciscana. Já as protestantes de maior sucesso são a Adventista e a Metodista, que oferecem também ensino superior. Todas elas são pagas.

ATIVIDADES ESPORTIVAS As escolas brasileiras propõem uma grande variedade de atividades esportivas aos alunos, como parte da disciplina obrigatória de Educação Física. As metodologias empregadas pelos professores também seguem os Parâmetros Curriculares Nacionais, do Ministério da Educação. Modo geral, os PCNs incentivam a prática de atividades físicas e a valorização das culturas regionais. Nas aulas de Educação Física, em particular, as escolas estimulam o desenvolvimento motor, as capacidades e qualidades físicas do aluno e a aprendizagem de brincadeiras, jogos e modalidades esportivas. A disciplina de educação física deve ser levada a sério desde o ensino básico, pois o desenvolvimento da coordenação motora global deve vir antes do início do desenvolvimento da coordenação motora fina, necessária para o aprendizado da escrita no ensino fundamental. Neste sentido, os professores de práticas esportivas exploram atividades folclóricas, exer-

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cícios naturais (como andar, correr e saltar), e o uso de bolas, cordas, bambolês e outros materiais. Na pré-escola e no primeiro ciclo do ensino fundamental, as crianças aprendem a respeitar a individualidade e o ritmo do outro, para mais tarde poder executar atividades mais complexas. No Ensino Fundamental 2 e no Ensino Médio, eles desenvolvem melhor o acervo motor, usam jogos mais difíceis e conhecem as modalidades esportivas oficiais. No Vale do Paraíba, há escolas que usam a Educação Física e as atividades extraclasse como meio de integração entre os alunos dos diversos períodos de aula. Eles participam de provas de atletismo, jogam handebol, voleibol e futsal e aprendem ginástica rítmica. Muitas escolas formam equipes para participar de jogos amistosos e competições escolares, cultivando assim os valores humanos de respeito, trabalho em equipe, solidariedade, comprometimento, amizade e vitória/derrota.

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ENSINO PARA CRIANÇAS ESPECIAIS O Governo federal prevê, por lei, a inclusão de pessoas com deficiência física e intelectual em escolas da rede pública. Mesmo assim, o Brasil ainda está atrasado na alfabetização deste público, em comparação com nações da América do Norte e da Europa. No Vale do Paraíba, algumas instituições filantrópicas oferecem ensino exclusivamente para pessoas com deficiência, como Síndrome de Down, Síndrome de West e Microcefalia. Nestes casos, os professores devem ser formados em pedagogia e especializados em educação de alunos especiais. Estas instituições trabalham em parceria com o governo municipal ou estadual, seguem os parâmetros do ensino regular, mas adaptam o currículo ao ritmo de cada turma.

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Se os alunos evoluírem bem, podem ser transferidos normalmente para uma escola convencional. Do ensino básico ao ensino fundamental 1, os alunos especiais estudam português, matemática, ciências, história e geografia. Em geral, começam a ser alfabetizados a partir dos sete anos, mas alguns estudam até os 47 anos. Os diferenciais do ensino são as atividades extraclasse como oficinas terapêuticas, aulas de artesanato, informática e educação física, nas quais são desenvolvidas a coordenação motora, a postura do corpo e outras habilidades. Alfabetizadas e educadas, as pessoas com deficiência física ou intelectual são mais facilmente integradas à sociedade e conseguem viver melhor. •

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Especial

Novos desafios para o Ensino Médio Escolas oferecerão em futuro próximo proposta de o aluno escolher as atividades de 20% da carga horária e grade curricular Vale do Paraíba

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ovens conectados, viciados em comunicação virtual e adeptos de celulares formam o público de alunos do Ensino Médio, período escolar em que se inicia a preparação para o ingresso na universidade. Acostumados a receber grande número de informações por dia, encaram os estudos intensivos com naturalidade, mas exigem professores criativos e brincalhões. O professor tem de ter um perfil otimista e levar informações curiosas para a sala de aula. Para educadores de São José dos Campos, as escolas do ensino superior são desafiadas a oferecer um currículo e um material cada vez mais interessante, pois entre os 16 e 18 anos de idade muitos alunos estão distraídos, preocupados com a turma e com seus compromissos fora da escola. Para um futuro próximo, existe a proposta de o aluno poder escolher as atividades de 20% de sua carga horária e sua grade curricular. Filhos de pais trabalhadores, os alunos desta etapa são independentes, sabem lidar melhor com as pressões e encaram com tranquilidade as aulas, as tarefas e as provas. Desde cedo, eles são orientados a buscar equilíbrio e a ter sucesso na carreira. No Ensino Médio, além de revisar e aprofundar o conteúdo do ensino básico, eles estudam biologia, física, química, sociologia e filosofia. Estas duas últimas disciplinas se tonaram obrigatórias em todas as séries deste período escolar em 2008. Nesta fase, os alunos também devem apresentar uma boa base do idioma inglês. Na maioria das escolas, os recursos usados hoje para atrair a atenção dos jovens vão além das velhas músicas inventadas para decorar a tabela periódica e das fórmulas de física. Com a febre persistente da internet, algumas aulas, as leituras complementares e o gabarito das tarefas podem ser consultados on-line. O Ensino Médio também inclui as escolas de educação profissional, científica e tecnológica, sendo a rede privada a responsável por grande parte dos matriculados em todo o país (47,5% de um total de 1.140.388). Entre os cursos mais procurados, sobretudo no interior paulista, estão Enfermagem, Petróleo, Mecânica, Automação Industrial, Edificações e Elétrica. •

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DISCIPLINAS Aulas de Sociologia e Filosofia passaram a ser obrigatórias em todas as séries do Ensino Médio em 2008

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Especial

Cursinho: missão de preparar candidatos Cursos preparatórios para o vestibular têm como meta condensar conteúdo de três anos do Ensino Médio em apenas um Vale do Paraíba

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nsiedade e tensão são palavras que resumem o ano de quem vai prestar vestibular pela segunda, terceira ou quarta vez. Portanto, o desafio dos cursos prévestibulares que se propõe a preparar um candidato é enorme. Além de conteúdo, as instituições de ensino precisam oferecer professores altamente qualificados e criativos, material didático impresso atraente, atividades online e testes frequentes. Com duração de apenas um ano, os cursos preparatórios para o vestibular têm a árdua missão de condensar o conteúdo curricular dos três anos do Ensino Médio. A maioria

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deles oferece também aulas concentradas, plantões de dúvidas, aulas e tarefas por internet, laboratório de redação, simulados semanais de provas, palestras e milhares de exercícios dirigidos, em material impresso e internet. Alguns adotam como metodologia aulas analítico-expositivas, aliadas ao estudo individual do aluno. As aulas devem ser rigorosamente planejadas e dimensionadas para dar conta do extenso programa anual. Para isso, os professores devem ser extremamente dedicados e capacitados. Cada um tem seu estilo e seus recursos. Há professores que recorrem mais à tecnologia, os que são mais teatrais e outros mais tradicionais, e a composição de estilos resulta em um formato muito interessante e dinâmico. É importante que, no momento da escolha de um cursinho, estes aspectos sejam

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COMO ESCOLHER O CURSO CONSULTA Consultar o Cadastro Nacional de Reclamações Fundamentadas, do Ministério da Justiça, disponível na internet, para ter acesso às reclamações contra o curso, solucionadas ou não, feitas por consumidores MATERIAL DIDÁTICO Verificar se o material didático usado em sala já está incluído no preço da mensalidade ou deverá ser comprado a parte

DIFERENCIAL Cursos precisam de professores criativos e qualificados, material didático atraente e atividades online

INFRAESTRUTURA Visitar as instalações onde serão dadas as aulas e perguntar qual é a qualificação dos professores. É direito, inclusive, ter acesso aos documentos que comprovem a qualificação dos professores INFORMAÇÕES Conversar com ex-alunos para saber se os professores conseguem oferecer preparo emocional aos vestibulandos

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cobrados da instituição, porque o volume de trabalho não pode desanimar o candidato no decorrer do curso. Os cursos pré-vestibulares, em geral, preparam o aluno para qualquer tipo de prova, seja ela a Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular), o Enem (Exame Nacional de Ensino Médio), o ITA (Instituto Tecnológico Aeroespacial) ou o IME (Instituto Militar de Engenharia). Entretanto, existem organizações educacionais que oferecem cursos voltados exclusivamente para um ou outro exame. No vestibular do ITA e do IME, por exemplo, não são cobradas as disciplinas de Humanidades, nem de Biologia. Já as disciplinas chamadas de exatas (Matemática, Física e Química) estão em um grau de dificuldade muito maior do que em outras provas. Na FGV (Fundação Getúlio Vargas), a Matemática e o Português têm papel mais relevante que outras disciplinas. Assim sendo, estes vestibulares pedem turmas especiais, que trabalham conteúdos com profundidades diferentes do usual. O vestibular é o modo mais tradicional de ingresso às universidades, mas existem também outras modalidades reconhecidas pelo MEC (Ministério da Educação). O Enem é uma delas e consiste em uma prova com questões objetivas sobre o conteúdo aprendido no ensino médio e uma redação.

EXAMES Pré-vestibulares, em geral, preparam o aluno para qualquer tipo de prova, mas existem escolas que oferecem cursos voltados para um ou outro exame exclusivo

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CURSOS PROFISSIONALIZANTES Os alunos que estão cursando ou já concluíram o Ensino Médio têm como alternativa ao vestibular os cursos profissionalizantes. Eles têm, em média, duração de dois anos e podem facilitar a entrada do estudante no mercado de trabalho, garantindo retorno financeiro enquanto ele se prepara para o vestibular. Nesta modalidade, existem instituições que oferecem Ensino Médio associado à formação técnica em Química, Prótese e Informática. De outro lado, existem as organizações educacionais que trabalham puramente com habilitação técnica profissionalizante. Seus cursos usam como metodologia o desenvolvimento de projetos e de competências, em aulas teóricas e práticas. Estes cursos exigem como pré-

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requisito que o candidato tenha pelo menos o segundo ano do Ensino Médio. Algumas instituições oferecem cursos voltados ao comércio e à prestação de serviços, e outras à indústria. No Vale do Paraíba, os cursos de maior empregabilidade são Técnico em Segurança do trabalho, Técnico em Enfermagem, Técnico em Estética, Técnico em Administração e Técnico em Logística e Informática. Nos últimos anos, foram também procurados os cursos de Designer de Interiores e Gestão ambiental. Acompanhando a tendência, as instituições de ensino profissionalizante também adotaram em sala de aula projetores multimídia, lousa digital e laptos para os alunos nos cursos em que a disciplina exige o uso de computadores. •

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GRADUAÇÃO Cursos de graduação presencial e dado a distância reúnem 6,3 milhões de alunos em todo o Brasil

Qual curso superior? Universidades mudam sistema de ensino e agora conciliam os conhecimentos teóricos aos práticos por meio de laboratórios Vale do Paraíba

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a última década, o número de alunos matriculados em cursos de graduação mais que dobrou no Brasil, de acordo com o Censo da Educação Superior divulgado pelo MEC. Este é um dos melhores resultados do país em termos de acesso à educação. A graduação é a fase de formação do profissional, aquela que define o ramo em que ele atuará por, pelo menos, um bom tempo de sua vida. Portanto, trata-se de um momento chave de sua educação. Hoje em dia, as opções são infinitas. Para citar alguns exemplos de cursos disponíveis em todo o país, temos Medicina, Enfermagem, Nutrição, Serviço Social, Terapia Ocupacional, Tecnologia em Radiologia, Educação Física, Tecnologia em Agroindústria, Farmácia, Medicina Veterinária, Tecnologia em Gestão Ambiental e Biomedicina. Para cada campo do conhecimento, existe uma metodologia diferente de ensino. Existem as áreas mais próximas da prática,

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como Medicina e Odontologia, e outras mais propensas à reflexão teórica, como História e Filosofia. Em linhas gerais, a universidade privilegia a abordagem teórica, mas isso já está mudando. De acordo com coordenadores pedagógicos do ensino superior, as universidades deram conta da necessidade cada vez maior de se articular teoria à prática, e isso pode ocorrer por meio de laboratórios. Alguns alunos da área de pedagogia, por exemplo, fazem estágios em escolas monitorados por seus professores para compreenderem a prática com fundamento na teoria. Além das universidades, faculdades e centros universitários, existem institutos superiores e centros de educação tecnológica oferecendo cursos de graduação. Mas os cidadãos que moram em localidades distantes têm ainda a opção do EAD (Ensino a Distância). Em todo o país, os cursos de graduação presencial e à distância reúnem 6,3 milhões de estudantes, matriculados em 29.507 cursos, distribuídos entre 2.377 instituições de ensino superior públicas e particulares, segundo o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) do Ministério da Educação. •

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Experiências em outros países

FLUÊNCIA Jovens deixam o Brasil para aprender ou aperfeiçoar o inglês, espanhol, francês, alemão ou mandarim

Intercâmbios equivalem a pequenas especializações para alunos de nível médio ou que estejam cursando o ensino superior Vale do Paraíba

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xperiência estudantil bastante valorizada no mercado, os intercâmbios realizados em outros países representam uma alternativa de aprendizado cada vez mais acessível aos brasileiros. Eles equivalem a pequenas especializações para alunos de nível médio ou que estejam cursando o ensino superior. Os alunos podem morar legalmente em países como Estados Unidos, Canadá, França e Austrália para estudar e também trabalhar. Ainda é preciso investir uma quantia relativamente alta para se ter este privilégio, mas o retorno é garantido. A experiência que os candidatos buscam nesta modali-

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dade de ensino é, na grande maioria das vezes, aprender ou aperfeiçoar um idioma, como inglês, espanhol, francês, alemão ou mandarim. Para isso, existem no Brasil agências de intercâmbio que têm convênios com dezenas de universidades mundo afora. Cada uma destas universidades oferece uma metodologia própria de ensino do idioma, mas todas elas buscam desenvolver as quatro habilidades da língua: fala, compreensão, leitura e escrita. Os cursos são ministrados por professores especializados, com material didático, em instalações de última geração. Os estudantes convivem com pessoas de outras nacionalidades, diversificando o vocabulário e aprendendo a empregar as palavras no contexto adequado. Outra grande vantagem de estudar no exterior é a fluência que o aluno adquire com sotaque local. A maioria opta

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por estudar meio período, para ter o restante do dia para visitar museus, ir a restaurantes e conhecer lugares novos. De acordo com profissionais que trabalham em agências de intercâmbio, a procura tem aumentado porque há pacotes de cursos intensivos, de um ou dois meses, que custam mais barato do que um ano de curso de idiomas aqui no Brasil. Estas agências também assessoram pessoas que querem fazer colegial no exterior, participar de programas culturais de férias, seguir cursos de idiomas com um trabalho em paralelo, além de programas universitários. Para quem já tem inglês avançado, estas agências abrem oportunidades de estágios remunerados para início de carreira no exterior. Ensino a distância O ensino a distância é uma modalidade muito antiga, mas se antes acontecia por rádio ou correspondência, hoje está ao alcance das mãos pela internet. Com o aumento do poder aquisitivo do brasileiro e o consequente acesso fácil a computadores, a procura por cursos on-line cresceu significativamente nos últimos oito anos. No mercado de trabalho, os cursos feitos a distância já são considerados complementos importantes para os cursos presenciais. Atualmente, existem

graduações, especializações e MBAs que podem ser feitos pela web, gratuitamente ou não. Segundo profissionais da área de Recursos Humanos, o número de currículos que aparecem em suas mesas com cursos feitos pela internet aumenta a cada ano. Por experiência própria, estes profissionais vêm acreditando cada vez mais nesta modalidade, principalmente quando oferecida por instituições de renome. A metodologia usada no ensino a distância consiste em materiais impressos e virtuais, e videoaulas em tempo real e gravadas, somadas a tarefas e trabalhos que devem ser entregues em prazos estabelecidos pelos tutores de cada turma. Os cursos on-line mantêm um alto nível de exigência com os alunos por meio de avaliações rigorosas e participação ativa em aulas na rede. A grande vantagem desta modalidade está no fato de o aluno poder administrar seu tempo de estudo de acordo com sua rotina de trabalho. Além disso, o aluno de cursos on-line desenvolve capacidades que podem ser determinantes para seu sucesso em multinacionais, como facilidade de se comunicar por escrito e de trabalhar em grupo a distância. Os cursos on-line podem ser de curta ou longa duração, gratuitos ou pagos. A grande maioria deles emite certificado, se o aluno for aprovado na avaliação final. •

ONLINE Cursos on-line mantêm um alto nível de exigência com os alunos por meio de avaliações rigorosas e participação ativa em aulas na rede

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ENSINO Metodologia se baseia no desenvolvimento teórico do conteúdo programático do edital de cada prova

Cursos preparatórios Cada vez mais jovens buscam os concursos públicos atrás do sonho de conseguir emprego com salário acima do oferecido pelo mercado Vale do Paraíba

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ara quem almeja os altos salários do setor público, os cursos preparatórios para concursos são a primeira etapa. A metodologia de ensino nesta modalidade baseia-se no desenvolvimento teórico do conteúdo programático do edital de cada prova. Os professores acompanham os alunos na resolução de exercícios e provas de concursos anteriores, além de orientá-los para a revisão das disciplinas em casa. A didática varia de professor para professor, mas muitos trabalham com os métodos Mapas Mentais e Vade Mecum (livro-guia). Os mapas mentais são esquemas de anotações em tópicos que resumem o conteúdo de cada matéria. Uma aula de três horas, por exemplo, pode ser sintetizada em apenas uma folha de uma hora de estudo. Vade Mecum é uma técnica de estudo em que o aluno anota em um caderno todas as perguntas referentes ao assunto da aula. No fim deste caderno, ele coloca as respostas. Nos intervalos ou em casa, o aluno revê as perguntas, tentando respondê-las sem olhar no gabarito. Através

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desta prática, ele revisa muitas questões em pouco tempo e assimila com mais facilidade o conteúdo do curso. No início de um curso preparatório para concurso, o aluno recebe uma aula de técnicas de estudo, em que aprendem a fazer estes mapas e livros-guias. Com planejamento de aula em mãos, cada um define seu modo de estudo. Para prestar concursos de nível médio, o aluno deve ser maior de idade e ter concluído o ensino médio. Em concursos de nível superior, o candidato deve ter concluído a graduação. Alguns concursos exigem formação específica. Nestes casos, cabe ao candidato ler atentamente o edital para verificar se atende aos requisitos exigidos. Devido à concorrência, as provas de seleção têm sido cada vez mais difíceis e o candidato deve estar bem preparado para garantir uma boa classificação ou se encaixar dentro do limite de vagas disponíveis. No Vale do Paraíba, os concursos mais procurados do nível médio são INSS, Tribunal Regional do Trabalho, Tribunal Regional Eleitoral. Já para o nível superior, a procura oscila entre a área federal (agente da polícia) e área fiscal. A vantagem de prestar concursos está na garantia de estabilidade profissional e financeira do concursado. Além disso, alguns órgãos públicos oferecem plano de carreira. •

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Pós-graduação: o conhecimento mais aprofundado Lista de cursos é extensa e, por isso, estudante precisa ter objetivos definidos para dar direcionamento certo à carreira Vale do Paraíba

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ma vez concluído o ensino superior, a preocupação é garantir uma vaga no mercado de trabalho. Mas o desafio maior talvez não seja este e, sim, manter o cargo na empresa e conseguir promoções. Objetivo final? Satisfação pessoal, profissional competente e salários rechonchudos. Aí entram os cursos de pós-graduação, que vão aprofundar o conhecimento da faculdade, além de garantir contato com profissionais interessados em sua área de atuação. Esta etapa do ensino é dividida em strictu sensu (mestrados e doutorados) e lato sensu (especializações e MBAs). Os mestrados e doutorados podem ser cursados em universidades e, em média, têm duração de dois anos. No primeiro ano, o aluno assiste a aulas para cumprir créditos do curso e começa a preparar sua pesquisa. No segundo ano, ele desenvolve seu projeto sob orientação dos professores. Ao final desta etapa, o mestrando apresenta uma dissertação para uma banca examinadora e o doutorando defende sua tese. Existem ainda os mestrados profissionais, a opção de educação executiva que mais cresce no mercado. As diferenças fundamentais destes para os acadêmicos estão no direcionamento da dissertação, na carga horária menor e no fato de ele ser pago mesmo em universidades públicas. Ainda assim, o aluno deve apresentar uma dissertação final perante uma banca. Em síntese, os alunos da graduação da área de saúde costumam seguir primeiro o caminho acadêmico. Nas demais áreas, a tendência é fazer especializações e MBAs antes de voltar à universidade. Para os cursos de pós-graduação pagos, o governo brasileiro tem alguns recursos de incentivo. Além dos financiamentos a juros moderados que podem ser feitos pela Caixa Econômica Federal, existem o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), entre outras.

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TESE Mestrados e doutorados duram, em média, dois anos e garantem contato com profissionais interessados em sua área

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CURR�CULO Especializaçþes e MBAs são boas alternativas para melhorar o currículo

DICAS A ESCOLHA DeďŹ nido o tipo de pĂłs-graduação, MBA ou especialização, conďŹ ra a grade curricular. Nem sempre o tĂ­tulo conferido ao curso reete o conteĂşdo que serĂĄ trabalhado. Fique atento aos seguintes fatores: carga horĂĄria, modularização, sequenciamento das disciplinas e atualização dos conteĂşdos EXPERIĂŠNCIA Procure informar-se sobre a experiĂŞncia da instituição de ensino. VeriďŹ que tambĂŠm a experiĂŞncia e a titulação do corpo docente. Desta forma, ĂŠ possĂ­vel ter uma noção mais precisa da qualidade do curso oferecido pela instituição RECONHECIMENTO Procure saber se a instituição ĂŠ reconhecida pelo mercado acadĂŞmico e proďŹ ssional. VeriďŹ que a produção acadĂŞmica dos professores e alunos da instituição INTERESSE Pergunte a proďŹ ssionais da sua ĂĄrea de atuação sobre como observam o curso e a instituição de ensino de seu interesse

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CURSOS DE MBA E ESPECIALIZAÇÃO As especializações e MBAs (Master Business Administration) também são boas alternativas para melhorar o currículo. As especializações são mais recomendadas para jovens profissionais, com pouca experiência, que querem aprofundar o conteúdo assimilado na graduação. Esta modalidade de ensino é composta basicamente por aulas expositivas e tem no mínimo 360 horas de duração. Já os MBAs, além de aquisição de conhecimento, são voltados para profissionais experientes, mas que querem reforçar determinadas habilidades e se atualizar sobre práticas de mercado. Um aspecto bastante interessante desta modalidade é o networking, ou seja, os contatos e os relacionamentos que os profissio-

nais fazem com colegas da área. Os professores, na grande maioria das vezes profissionais reconhecidos no mercado, trabalham com conceitos e conhecimentos específicos da área em questão, através de análises de casos, com participação efetiva dos alunos. O objetivo do curso é formar gerentes e líderes empresariais. Por fim, existem os MBAs online de instituições brasileiras e estrangeiras, que permitem aos alunos estudarem a distância e viajar periodicamente para aulas presenciais. Depois, existem os MBAs que podem ser cursados integralmente fora do país, ou seja, longe do mercado de trabalho. No entanto, eles são os que mais garantem retorno para a carreira. •

CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS PARA A AVIAÇÃO CIVIL

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Milhares de turistas de todo o mundo visitarão o Brasil, que sediará esses importantes eventos. O avião será o meio de transporte mais utilizado e muitos profissionais qualificados serão necessários para operação e manutenção dessas aeronaves. Não perca essa oportunidade e garanta o seu futuro como profissional qualificado.

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Ensaio fotográfico

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O jornalista e fotógrafo Sérgio Gurgel traz para a terra firme a infinidade de formas, cores e paisagens de uma realidade diferente, onde tudo é mais lento e a beleza se esconde dos que não querem se molhar

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CARDUME Fotografados na Ilha de Búzios, no Litoral Norte, os peixes da espécie Olho de Cão mostram seu balé

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Ensaio

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NAUFRÁGIO Mergulhador fotografa a proa do Moréia, navio que afundou no parque marinho da Laje de Santos

TOCA Uma pequena Donzelinha se abriga nos corais

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MORÉIA A espécie foi registrada em um naufrágio em João Pessoa (PB)

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Ensaio

SEGURANÇA Uma Maria da Toca faz a guarda da entrada da própria casa CORAIS Uma Poliqueta Fogo rasteja sobre uma formação coralínea na Bahia de Ilha Grande, no Rio de Janeiro

BELEZA A proa do Vapor Bahia, um dos mais belos naufrágios da costa brasileira, na Ponta das Pedras, em Pernambuco

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Coisa & Taltigo

Marco Antonio Vitti

A era dos ‘zeladores da Terra’ e as profecias de 2012

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mundo está doente, na UTI! E nesta mesma Unidade de Terapia Intensiva também se encontra a humanidade sofrendo das mesmas doenças que o próprio homem causou na Terra. Somos um pedaço de Terra que anda, pois tudo o que nos compõe se encontra nos alimentos e animais que nos alimentamos.

PREVISÕES “O mundo não vai acabar no ano que vem, assim como a corrupção, a impunidade...”

Como maltratamos a Terra, tirando dela todas as suas energias, priorizando plantar canaviais que foram os responsáveis pelo assoreamento que destruíram as florestas e matas ciliares do Nordeste para produzir o etanol, biodiesel, para alimentar os carros que também poluem o ar, aumentando o CO2 que está acabando com a camada de Ozônio, responsável pela proteção das trocas de CO2 em O2, pelas plantas, zeladoras da Terra. E nós que somos feitos da Terra e para ela voltaremos, estamos apressando nossa morte matando o planeta. Como o discurso que o Chefe Seattle fez ao presidente dos EUA, em 1854, Franklin Pierce, que queria comprar as terras dos índios. Assim falou: “Como pode comprar ou vender o céu, o calor da Terra. Tal ideia nos é estranha. Se não somos donos da pureza do ar, ou do resplendor da água, como então podes comprá-lo? Cada torrão desta terra é sagrado para o meu povo, cada folha reluzente de pinheiro, cada praia arenosa, cada véu de neblina na floresta escura, cada clareira e inseto a zumbir

são sagrados nas tradições e na consciência do meu povo. A seiva que circula nas árvores carrega consigo as recordações do homem vermelho. O homem branco esquece sua terra natal, quando depois de morto, vai vagar por entre as estrelas. Os nossos mortos nunca esquecem essa formosa terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da Terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs: o cervo, o cavalo, a grande águia –são nossos irmãos. As cristas rochosas, o sumo das campinas, o calor que emana do corpo de um cavalo mustang, todos os seres vivos, os rios, os mares, as terras, pertencemos todos à mesma família, etc.” . Que sabedoria, pois com a dizimação dos índios nas américas do Norte, Central e do Sul, exterminamos com os verdadeiros zeladores da Terra. Quanto deveríamos ter aprendido com nossos irmãos índios. A Europa há alguns anos teve grande prejuízo em suas safras, pois as abelhas diminuíram em muito sua população. E quem poliniza as plantas? Os presidente e presidentas, primeiros ministros, parlamentos de senadores

e deputados que no mundo inteiro plantam somente corrupção? Mas já começamos a reconhecer as mudanças que começaram com a Primavera Árabe. Enquanto no Oriente Médio os ditadores são depostos, na América a permanência por muito tempo no poder causa câncer. Tenho minhas profecias para 2012: O mundo não vai acabar, assim como a corrupção, a impunidade; a saúde brasileira vai melhorar, pois os peritos médicos dão alta para doentes graves, sem condições de se tratar, única e exclusivamente, para fazer propagandas maquiadas na mídia, para mentir ao povo que a saúde está boa. Nem a deles está!; as primeiras damas das prefeituras continuarão roubando a merenda das crianças para se vestirem com roupas e jóias com o dinheiro do povo; as reuniões para se discutir o clima jamais chegarão a um acordo, até todos morrerem asfixiados; a impunidade continuará, pois como o corintiano, o povo brasileiro gosta de sofrer injustiças e se calar, e nas eleições cada um pode votar para escolher seu “personal corrupto”. Feliz Ano Novo. Somos maiores e melhores do que esses ladrões. Veja a crise americana que sempre oprimiu os mais pobres para manter o American Way of Life, a Europa que tanto explorou a África e a Ásia está pagando um preço alto pois nosso cérebro não aceita coisas erradas. Mais cedo ou mais tarde, o que está em cima vai para baixo e o que está em baixo vai para cima. Abraços. •

Marco Antonio Vitti Especialista em biologia molecular e genética vitti@valeparaibano.com.br

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ÁSIA

Volta ao passado Ruínas do século 12, tradições milenares e marcas de uma guerra recente são apenas algunas atrativos que levam tanta gente a conhecer o Camboja

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Fotos: divulgação

KHMER As ruínas de Ta Prohm descobertas em 1860 e já foram habitadas por mais de 80 mil pessoas

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Marrey Júnior Camboja

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Camboja é um país para quem ama conhecer as antigas civilizações. O gigantismo, a engenhosidade e a beleza arquitetônica não deixam a desejar para as pirâmides do Egito, os templos gregos, o coliseu romano e as ruínas dos impérios maia, asteca e inca, na América Latina. Berço da civilização Khmer, ele está localizado no Sudeste Asiático e faz divisa com a Tailândia a oeste, ao Vietnã a leste e o Laos ao norte. É no Noroeste do país onde estão os mundialmente famosos templos e monumentos cambojanos. Eles são a herança de um passado de poder que o império Khmer exerceu entre os anos 800 a 1400 num vasto território compreendido onde estão hoje partes do sul da China, Mianmar, Laos, Tailândia, Vietnã e Camboja. Mais de mil templos foram construídos nesse período. As extintas cidades sagradas ficam próximas à Siem Reap, município para onde se dirigem turistas do mundo inteiro. Uma grande feira com barracas de comida se espalha na avenida principal. Com menos de R$ 5 é possível fazer uma refeição completa. A comida cambojana tem influência dos países vizinhos. Geralmente é feita com ingredientes frescos e são cozidas no carvão. Entre os pratos estão o macarrão e o arroz fritos com muitos vegetais e diferentes tipos de carnes, os rolinhos primavera e o famoso peixe Amok, feito com leite de coco e cozido a vapor numa folha de bananeira. Durante a noite, os turistas também aproveitam para comprar artesanatos e relaxar recebendo massagem. A mais curiosa é feita por peixes, que retiram as células mortas dos pés. A sensação é estranha, parece uma infinita sequência de choques, mas tem um efeito tranquilizador. As grandiosas ruínas próximas a Siem Reap ficaram durante muito tempo escondidas do mundo em densa floresta tropical desde a falência do império Khmer. Essa riqueza histórica e arquitetônica veio à tona quando o botânico francês Henri Mahout se viu diante das imensas construções no interior da floresta em 1860. As árvores encobriam tudo. Uma visita a Ta Prohm dá para se ter uma ideia do que encontrou o desbravador francês. Até hoje, raízes de imensas figueiras envolvem tor-

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Turismo

TRADIÇÃO Cultura milenar do país é preservada até os dias de hoje e virou grande atrativo turístico

res, colunas, portais e muros do templo. É como se a floresta quisesse engolir o que o homem abandonou no meio da mata. A falta de preservação está comprometendo toda a estrutura do local, mas cria um ar misterioso, de suspense, de que ainda há muito por se descobrir em meio a tantas plantas e raízes. O templo, que é um dos mais visitados pelos turistas, já foi habitado por mais de 80 mil pessoas entre sacerdotes, funcionários e camponeses, que produziam arroz nos arredores. Grão que ainda hoje é a maior fonte de sustento da população cambojana. O visual surpreende. Foi nesse misterioso templo que Angelina Jolie gravou cenas para a produção norte-americana “Lara Croft: Tomb Raider”. As imagens de Ta Prohm serviram até de cenário de videogame da mesma heroína. Mas esse é só um das dezenas de santuários que fazem parte da civilização perdida de Angkor, a antiga capital do império Khmer, que abrange uma extensão de aproximadamente 200 quilômetros quadrados. Há vários modos de visitar essas antigas ruínas desde Siem Reap. Uma delas é de excursão em ônibus ou vans em grandes grupos, outro jeito é contratar um tuk tuk,

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espécie de triciclo muito utilizada como táxi no Camboja, outro jeito mais econômico, independente e um pouco mais cansativo é alugar uma bicicleta. Uma diária de aluguel de bicicleta dificilmente ultrapassa US$ 2. Angkor é todo plano, apesar das distâncias às vezes parecerem um pouco longas, o maior empecilho para esse tipo de transporte mais alternativo é o calor. O Camboja é muito quente. Os termômetros chegam a atingir 40 graus. As altas temperaturas são comuns o ano inteiro. Há duas estações no país: a seca e a de chuvas. Bonés, filtro solar e beber muito líquido são indispensáveis na hora de se visitar os templos. Embora seja possível conhecer os principais templos em um só dia, especialistas em turismo recomendam mais tempo para as construções. O ideal é de três até sete dias. Adentrá-los mais de uma vez é se surpreender com cada detalhe despercebido nas visitas anteriores. Ora se descobre a riqueza dos entalhes nas paredes, ora o minucioso cálculo de engenharia da construção, ora na luz de diferente parte do dia, que cria uma atmosfera diferente no local já visto. O preço dos ingressos para conhecer Angkor

varia de US$ 20 (1 dia) a US$ 60 (7 dias). É recomendável ir bem cedo, antes mesmo dos primeiros raios de sol e também sair bem tarde, assim que a noite chega. Com a luz do início do dia e no fim também é que as sutilezas dessas construções aparecem e emocionam. O grande templo O pôr-do-sol em Angkor Wat é estonteante, é nesse momento quando toda a imagem do templo se reflete no lago artificial, com formato quadrado, construído há centenas de anos em torno dele. Tamanha criatividade dessa civilização não para nisso. Centenas de imagens que narram os épicos de origem indiana Mahabharata e Ramavana cercam as paredes de Angkor Wat, que também tem em seu interior cinco torres em formato da sagrada flor de lótus, a maior delas com 65 metros. Cerca de duas mil apsaras, as dançarinas celestiais, também decoram boa parte das paredes do templo em alto ou baixo relevo. Angkor Wat é o maior monumento religioso do planeta. Foi construído pelo rei Suryavarman 2º, no começo do século 12, como o templo central dele e a capital do Es-

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tado. O local, de origem hinduísta, dedicado inicialmente a divindade Vishnu, transformou-se em mosteiro quando o budismo substituiu a crença hindu na civilização Khmer. É nesse patrimônio da humanidade declarado pela Unesco em 1992, que monges meditam. Vestidos com mantos laranja, eles enchem de vida e colorem a construção cinzenta literalmente cheia de histórias. Estima-se que aproximadamente 20 mil pessoas tenham vivido entre os muros de Angkor Wat, que além de templo também foi o palácio real e inclusive serviu de tumba para o rei. Os templos khmer não eram concebidos como locais para a reunião dos fiéis, mas para morada dos deuses, pelo qual apenas a elite religiosa e política do país tinham acesso aos recintos centrais. Angkor Wat é um dos principais símbolos do Camboja. A imagem dele está estampada na bandeira nacional, é nome de vários produtos cambojanos e é rótulo da mais famosa cerveja do país. A poucos quilômetros está outro valioso patrimônio: Angkor Thom. Construída no século 12 aos comandos do rei Jayavarman 7º, é para lá que foi transferido o centro de poder. As pontes que dão acesso a essa outra cidade sagrada exibem deuses e demônios lutando para controlar grandes serpentes. São quatro torres de entrada, uma em cada ponto cardeal, todas elas com uma grande face, em que alguns estudiosos acreditam que seja a do próprio rei. Exatamente no centro desse complexo está Bayon. Esse templo é um dos mais intrigantes do Camboja. Cinquenta e quatro torres com mais de 200 faces com budas. O sorriso deles é quase tão misterioso quanto ao da Monalisa, de Leonardo da Vinci. Genocídio recente Ir aos sítios arqueológicos mais distantes e pouco conhecidos pode ser bastante perigoso. Há milhares de minas terrestres espalhadas por campos e florestas em todo o território do Camboja. Não é difícil de deparar com adultos e até crianças com membros dilacerados por causa dos explosivos. Alguns deles encontraram na música um modo de sustento. Bandas formadas por amputados tocam em frente aos templos para comover os turistas e consequentemente ganhar alguns trocados. Os explosivos foram colocados em todo o país, quando todo o território cambojano virou um campo de concentração entre 1975 e 1979 sob o comando de Pol Pot e dos Khmer Vermelho. Milhares foram os mortos sob diferentes tipos de torturas, número infinitamente

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maior que o do holocausto. A população a favor do governo vivia em regime de escravidão. Historia que dificilmente aprendemos na escola. Fatos que fazem os cambojanos terem um pouco de remorso do mundo, que não voltou os olhos para o país quando essas atrocidades aconteciam. Phnom Penh, a capital do Camboja, ainda preserva memórias dessa crueldade. Hoje parte dela é contada no Museu Tuol Sleng. O local, onde funcionava uma escola, virou prisão durante o governo Kampuchea. No prédio ainda foram preservadas as celas, alguns instrumentos de tortura e também fotos que registram essa triste parte da vida de famosos e anônimos prisioneiros e seus algozes. Nos arredores da capital está o Campo dos Mortos de Choeung Ek, terreno reservado para levar os corpos já sem vida durante o regime ditatorial. Por dia, chegaram a ser enterrados mais de 300 corpos. São dezenas de covas coletivas. A maior delas tinha 450 cadáveres. Uma torre foi construída para abrigar todos os ossos encontrados no local. Outro ponto que emociona em Choeung Ek é uma árvore onde crianças eram mortas pelos militares. Muitas delas eram batidas várias vezes no tronco dela até falecerem. Mas lentamente, a população cambojana supera esse passado. O progresso chega aos poucos nesse país em que mais de um terço da população está abaixo da linha da pobreza, segundo índices de desenvolvimento humano mundiais. Ainda é possível ver elefantes transitando entre os carros em movimentadas avenidas do país. As calçadas também são locais de lucrativo comércio e onde é prestado uma série de serviços, como por exemplo, cortes de cabelo, restaurantes e conserto de automóveis. Tem até festa nesses passeios públicos. É nelas que se estendem “puxadinhos”, que se transformam em salões de festa. Numa delas, uma senhora que completava 90 anos recebia homenagens de toda família. Ainda que a capital tenha cerca de um milhão de habitantes, são nas praças que a população se confraterniza todas as noites. Eles saem bastante para se refrescar do calor. Os moradores fazem ginástica e dançam ao som de diferentes aparelhos e caixas de som que são espalhadas nesses espaços públicos. Apesar da pobreza um tanto latente, até para nós brasileiros, a população é feliz e toda essa alegria contagiante nas praças é apenas uma amostra de um povo que recebe quem vem de fora sempre com muito sorriso, como os esculpidos nas imagens dos Deuses dos antigos templos. •

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Informe Especial

Artigo

Nutrição

Paracelso: a diferença entre o veneno e o remédio está na dose

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nutrição talvez seja a profissão que mais tenha se destacado na última década. Nunca antes se falou tanto em qualidade de vida e sobre as propriedades dos alimentos. Todos já ouvimos falar da linhaça, da quinoa, da chia. Todos já ouvimos falar de ômega 3 e do azeite. As castanhas, as fibras, o vinho tinto com seu precioso resveratrol, os chás verde, branco e vermelho ricos em antioxidantes... parece até uma disputa para saber qual deles é o que oferece mais vantagens. Paracelso, famoso químico da Idade Média, já dizia que a diferença entre o veneno e o remédio está na dose. A relação com o que comemos não é diferente. Vivemos num paradoxo: temos oferta abundante de alimentos e a ascensão social, que permite que o carrinho do mercado fique sempre cheio, mas se comermos tudo o que nos é oferecido, acabamos adoecendo. Temos que nos imaginar como uma máquina cheia de engrenagens que, para funcionar perfeitamente, precisa receber o melhor combustível, o melhor nutriente. Precisamos conhecer o funcionamento dessa máquina fantástica e poder selecionar com exclusividade, até porque nenhuma máquina é igual, o que se tem de melhor para ela. Somos o que comemos? É o que a Nutrigenômica, um ramo da nutrição, tem tentado descobrir. Já estamos no verão e não podemos deixar de citar a quantidade de dietas malucas que nos são impostas, com perdas de peso cada vez maiores em tempo cada vez menores. Você já deve ter feito ou conhece alguém que já fez pelo menos uma dieta. E o

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EQUILÍBRIO Ideal é ter uma alimentação equilibrada, sem privações radicais

resultado? Temos a certeza que você já descobriu. Depois da milagrosa dieta, que a fez voltou a engordar e, às vezes, até mais do que antes. Já parou para pensar porque isso acontece? Segundo estudo publicado pela revista The New England Journal of Medicine, quando nos submetemos a uma perda de peso rápida, um hormônio chamado leptina, que diz ao cérebro quanta gordura corporal está presente, diminui. Quando o nível de leptina cai, o apetite aumenta e o metabolismo desacelera. Assim, além dos quilinhos extras, a leptina que nos avisa quando é hora de parar de comer, também é perdida, daí a vontade louca de comer. Que injustiça, não é mesmo? Por isso que o melhor a fazer é procurar uma alimentação equilibrada, sem privações radicais e que a perda de peso seja gradual. Comer é um ato instintivo, mas sabemos que não comemos apenas o que nos nutri, mas uma série de significados está associada ao ato de comer. Primeiro porque comer é um ato social: casamentos, batizados, aniversários, conquistas, estão sempre acompanhadas de pessoas em torno de uma mesa, de preferência, farta. Segundo porque alimentar é cuidar, uma canja para um doente, um bolo

para o netinho. Comer é um programa, nos divertimos comendo. É por isso que a nutrição tem de ser exercida como uma parceria, o que requer tempo e dedicação. Não podemos transformar essa relação em “isso pode, isso não pode”. Compartilhar segredos só é bom quando nos sentimos acolhidos e não julgados. Estão envolvidas questões socioculturais, financeiras e médicas. Crianças, idosos, jovens são públicos distintos e merecem atenção diferenciada. Mas será que no fundo nos preocupamos com nossa saúde? Por que é tão difícil mudar? O prazer fala mais alto do que nossa saúde? O prazer em se alimentar é fundamental, mas para isso precisamos nos abrir a novos sabores, sair do convencional que nos foi proposto e ensinado. Toda mudança causa resistência, ainda mais diante de tanta tentação. Encontrar a equação ideal entre comer e nutrir, saúde e doença, é tarefa das mais árduas, mas sem dúvida muito ainda vai ser descoberto para nos ajudar a trilhar esse caminho. • Por: Patricia Pinesi e Patricia Pacheco

Nutricionistas

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Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei nº 8.069, de 13/07/1990. Lei Municipal nº 7.600, de 11/07/2008. Lei Municipal nº 8.087, de 08/04/2010. Para saber mais, acesse o site: www.sjc.sp.gov.br/antidrogas

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Moda&estilo ALTA TEMPORADA

Verão light Aposte nos looks mais confortáveis e cheios de estilo nas férias; marcas criam roupas práticas, que podem ser usadas tanto como saída de praia quanto num visual mais urbano

Cristina Bedendo São José dos Campos

J

aneiro é sinônimo de férias e não há nada melhor que rechear a mala com looks confortáveis e cheios de estilo para os momentos de relax. Para quem tem como destino as cidades litorâneas, a maioria das marcas de moda praia hoje trabalha com looks práticos que podem ser usados tanto como saída de praia quanto num visual mais urbano. E é essa característica que devemos observar nas roupas das coleções Resort, que são voltadas para esse tipo de praticidade. Entre as opções mais versáteis estão as camisas em tecidos fluidos, que podem ser usadas com a parte de baixo do biquíni de modelagem maior ou até mesmo com um short, para um passeio depois da praia. As saias e vestidos longos ou com comprimento midi (na altura da panturrilha) também garantem ótimas opções de looks. E a principal novidade dessas peças são as fendas, que adicionam um charme especial e deixam as produções mais frescas. As saias longas com fendas são ideais para serem usadas com sandálias rasteiras e, por conta da abertura, ficam restritas às ocasiões informais. Para as versões fechadas, quem está com o corpo em forma pode aproveitar outra tendência: a dupla saia longa com cintura alta e blusas cropped, que são mais curtinhas e deixam uma pequena faixa do estômago à mostra (e não da barriga). Outro ponto alto do verão são as peças em crochê, que ganhou status fashion para a temporada em bolsas, blusas e vestidos. Para os pés, as melhores opções são as sandálias rasteiras com pedrarias –ótimas também para looks mais sofisticados– ou as anabelas com solado de corda, que aparecem em diferentes versões e estão disponíveis numa cartela de cores bem ampla, que permite combinações color blocking e bem tropicais. Na praia, use o mínimo de acessórios e aproveite para acrescentar apenas um chapéu, que garante estilo ao look e também auxilia na proteção da pele e cabelos. Os modelos de abas mais largas oferecem maior proteção e são ideais para as adeptas do estilo lady like e para as mulheres mais altas. O clássico panamá ou outras versões menores em palha garantem composições mais básicas, para diferentes estilos. •

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Fotos: Agência Fotosite/divulgação

CONFORTO Na foto maior, look da Água de Coco; acima à esquerda, os longos que combinam com sandálias rasteiras; à direita, a leveza que serve bem para a praia; abaixo à esquerda, blusa pode ser usada no look urbano e também praiano; à direita, para quem tem um corpo que pode aproveitar a silhueta, mais uma opção de vestido longo; na página ao lado o crochê de Carlos Miele

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Tempos ModernosArtigo

Alice Lobo

Diminua e neutralize a sua pegada de carbono neste Ano Novo

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ais uma Confederação das Partes da Organização das Nações Unidas pelas Mudanças Climáticas chegou ao fim no mês passado. Mas, desta vez, algumas resoluções foram assinadas. Ainda bem, pois o fracasso da COP15 e da COP16 foi vergonhoso e não podia se repetir. O Protocolo de Kyoto, que termina em 2012, foi renovado de 2013 até 2017, período em que os países têm de reduzir em 24% a 40% suas emissões de carbono (com base nos dados de 1990). Mas a boa notícia é que os maiores poluidores do mundo, os Estados Unidos e a China, que não são signatários do protocolo, se comprometeram a entrar em um acordo global para redução de emissão de GEE (Gases Efeito Estufa) a partir de 2020. Tudo parece tão distante, mas não são só os governos que devem ter esta preocupação. A grande verdade é que cada um pode tentar diminuir sua pegada de carbono, ou seja, reduzir as próprias emissões de gases poluentes no mundo. E, mais do que isso, neutralizar o que não puder ser evitado. Isso mesmo. Para reduzir, as dicas são simples: economize energia elétrica, troque as lâmpadas de casa por LEDs, prefira aparelhos com carregadores solares, use menos gás na sua casa, deixe seu carro na garagem sempre que possível e pedale, encare um

CARBONO Se você não consegue reduzir, a boa ideia é neutralizar com plantio

transporte público ou ande a pé, produza menos lixo, recicle o que pode e tente fazer uma composteira em casa para transformar lixo orgânico em adubo para as plantas. Agora, não vai ser de mim que vocês vão ouvir a “dica” de deixar de viajar ou pegar um avião. Sou super a favor do turismo, de conhecer novas culturas e países. Mas, para fazer isso sem peso na consciência, neutralize seu passeio, o que pode ser feito plantando árvores de matas nativas ou ainda comprando créditos da bolsa internacional de carbono. Algumas empresas e ONGs sérias estão no mercado brasileiro e trazem no seu site uma calculadora

para você computar suas emissões não só de férias e viagens, mas do gasto do dia a dia em casa e com deslocamentos. Depois disso é clicar para neutralizá-las. Um valor referente ao plantio das mudas nativas será cobrado e varia de R$ 14 a R$ 17 por árvore, o que equivale à neutralização do consumo médio mensal de eletricidade de uma casa com duas pessoas. A organização Iniciativa Verde e o Banco da Árvore são dois exemplos que merecem atenção. Dá uma olhada no site deles e calcule suas emissões de CO2. E você, já neutralizou sua pegada de carbono? Que tal colocar na sua lista de tarefas para 2012? •

Alice Lobo Jornalista alice@valeparaibano.com.br

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ž /8*$5 12 3$Ë6 Fonte: Folha de S.Paulo,18/11/2011.

ESTADO DE SĂƒO PAULO**

BRASĂ?LIA GOIĂ‚NIA MANAUS

RESULTADO BRASIL

ODONTOLOGIA

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*Anchieta, Chåcara Santo Antônio, Cidade Universitåria/Pinheiros, Indianópolis, Marquês de São Vicente, Norte, Paraíso/Vergueiro e TatuapÊ. **Araçatuba, Araraquara, Assis, Bauru, Campinas, Jundiaí, Limeira, Ribeirão Preto, Santana de Parnaíba/Alphaville, Santos, São JosÊ do Rio Pardo, São JosÊ do Rio Preto, São JosÊ dos Campos e Sorocaba.

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DIREITO

ADMINISTRAĂ‡ĂƒO

CIÊNCIAS ECONÔMICAS

CIĂŠNCIAS CONTĂ BEIS

PSICOLOGIA

PEDAGOGIA E LICENCIATURAS* ENGENHARIAS**

COMUNICAĂ‡ĂƒO SOCIAL

TURISMO

* LETRAS E MATEMĂ TICA **CIVIL, MECĂ‚NICA E DE PRODUĂ‡ĂƒO

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ValeViver CULTURA

Descaso poético Brigas familiares, promessas políticas, um acervo que sofre com a falta de preservação e nem os restos mortais de Cassiano Ricardo descansam em paz Isabela Rosemback São José dos Campos

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o país da ausência de circulação da obra deixada pelo poeta joseense Cassiano Ricardo, morto em 14 de janeiro de 1974, São José dos Campos ainda engatinha na promoção de ações que serviriam para sustentar a memória e um maior reconhecimento desse homem múltiplo imortalizado pela Academia Brasileira de Letras. O escritor que, com o suor do próprio rosto, ganhou notoriedade internacional enquanto vivo, hoje tem seu nome evocado em eventos pontuais, nem sempre está integrado a propostas educativas, é pouco reeditado e serve de mote para embates judiciais entre herdeiros. Nas palavras dele, seria como se sua existência, hoje, consistisse em “ficar azul de rosto/ para não poder ser visto”, considerando que o próprio memorial do autor ainda não saiu do plano das ideias. Em vésperas da entrega de um espaço doado pela Secretaria de Educação para a implantação do Memorial Cassiano Ricardo, em um prédio cuja obra já foi atrasada por quatro vezes desde que foi iniciada, em 2008, nada

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de concreto foi elaborado para a sua ocupação. “Estamos em fase de pré-cotação para contratar a empresa que vai desenvolver os projetos museológico e museográfico”, afirma Vitor Chuster, diretor de Patrimônio Histórico da FCCR (Fundação Cultural Cassiano Ricardo), referindo-se a conceitos para a utilização do espaço e a práticas para viabilizá-la, respectivamente. “Ainda não sabemos que atividades serão realizadas, apenas definimos três temas que serão trabalhados”, completa. Um ano se passou desde que a FCCR afirmou à revista valeparaibano que editaria, até o início de 2011, o livro “Dexistência” –manuscritos inacabados de Cassiano que eram tidos como perdidos, mas que foram encontrados em 2010 em um saco plástico ocultado entre caixas do Arquivo Público de São José dos Campos. Outros três anos se passaram desde que o município optou por ignorar a promessa feita, há 12, de inaugurar o memorial dedicado ao poeta na avenida que leva o seu nome, para, no lugar, construir um jardim temático em homenagem ao Centenário da Imigração Japonesa no Brasil. Do outro lado da moeda, a família do autor trava embates judiciais que atrasam os planos de tornar “Dexistência”, livro que não foi terminado por Cassiano em razão de sua morte, bem

PERFIL NOME: Cassiano Ricardo VIDA: 1895 - 1974 NATURALIDADE: São José dos Campos TRAJETÓRIA: Deixa São José na adolescência, torna-se poeta e jornalista, transitando em diferentes linguagens. Participa do movimento modernista. É imortalizado pela ABL em 1937

como outros títulos, acessíveis aos interessados. As versões sobre a demora em editar os inéditos divergem entre os herdeiros e a FCCR. “Estamos a um passo de resolver um problema jurídico que impede a publicação, mas já resolvemos os impasses para a regularização dos direitos autorais”, garante a neta do poeta, Regina Célia Ricardo Gianesella, 56 anos. Também é de interesse da família que os despojos de Cassiano tenham um espaço digno para serem guardados em São José dos Campos, sob justificativa de que o poeta teria demonstrado, por meio de cartas e poemas, interesse em ser enterrado em sua cidade natal. “Mas quando conseguimos autorização para trazer as cinzas, não construíram o túmulo dele aqui, como haviam se comprome-

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Fotos: Flávio Pereira

RETRATO

Alguns poucos pertences do poeta joseense que estão no acervo da Fundação Cultural Cassiano Ricardo

tido a fazer. Não foram atrás disso e perdemos a oportunidade”, lembra Regina Célia. Essa vontade de Cassiano Ricardo, entretanto, pode ser contestada se considerado o trecho de uma ata da Academia Brasileira de Letras enviado à revista valeparaibano pela sua assessoria de imprensa. No documento, de 17 de janeiro de 1974, Austregésilo de Athayde, então presidente da instituição, mandou transcrever uma carta que ele teria recebido do poeta joseense com data de 8 de junho de 1973. Nela, constava: “Meu caro Austregésilo de Athayde: cumpro o dever de lhe comunicar que, por ocasião de minha morte, desejo ser enterrado no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras no Cemitério S. João Batista, onde repousam os nossos companheiros

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desaparecidos. Desejo também, como última vontade, que minha mulher Maria de Lourdes Ricardo, por ocasião de sua morte, (que espero não venha tão cedo) seja sepultada ao meu lado, no mesmo jazigo. Receba o meu grande abraço de amigo e companheiro de sempre. Cassiano Ricardo.” Memorial O diretor presidente da FCCR, Mário Domingos de Moraes, expressa a vontade de transportar as cinzas do poeta para São José dos Campos. “A cidade inteira pensa em trazê-las, então é de nosso interesse deixá-las futuramente no memorial”, afirma. O espaço a que ele se refere, em homenagem a Cassiano Ricardo, deverá agora ser montado em uma área

de 288 metros quadrados do Cefe (Centro Educacional de Professores). Outros 1.500 dos 10.300 metros quadrados totais do prédio serão para uso da fundação. A unidade que capacitará professores e demais servidores foi construída na avenida Olivo Gomes, ao lado do Parque da Cidade, com última previsão de entrega anunciada para este mês –o quarto atraso da obra, que está em fase de acabamento. “Temos orçamento estimado em R$ 250 mil para montarmos o memorial. Tão logo inaugure esse prédio, já colocamos em prática nossas atividades”, afirma Moraes, em início de conversa. Entretanto, em pouco tempo o diretor presidente da FCCR admite que não foi elaborada sequer uma planta sobre como será utilizado o espaço. “Não tem. Está sendo

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ValeViver

pensado um projeto para a Secretaria de Educação ceder o local para, em troca, cedermos serviços de memória do poeta. Será um trabalho conjunto, aberto ao público, com atividades educacionais”, completa. A chefe de Divisão de Apoio Educacional da Secretaria de Educação de São José, Teresinha de Melo Neves, responde pelo Cefe e afirma que ainda não há nada definido sobre a parceria que será estabelecida com a FCCR. “Nada, ainda, foi conversado com a fundação sobre os procedimentos que serão adotados ou sobre como será a gestão da parte que lhe diz respeito. Apenas resolvemos questões referentes ao espaço que será cedido, no prédio, para a instalação do Arquivo Público e do Memorial Cassiano Ricardo. Essa cessão estava prevista desde o início do projeto. Há uma planta, sim, mas apenas que delimita essas divisões”, esclarece. Quem tem mais detalhes sobre o memorial é o diretor de Patrimônio Histórico da FCCR, Vitor Chuster. “Será um local específico, que deverá ser visitado por um público espontâneo. Definimos três eixos temáticos que serão apresentados ao público: a relação de Cassiano Ricardo com a cidade, os perfis dele como político e literato e as obras do autor. Há empresas que já estão visitando o lugar destinado ao memorial, para então fazermos uma pré-cotação. Acredito que definiremos tudo até o final de fevereiro, para então abrirmos licitação”, afirma. Isso pressupõe uma espera de, pelo menos, mais quatro meses até que o espaço seja inaugurado. “Será um lugar propício à leitura, com exposição de objetos pessoais do poeta. Queremos, também, que seja um espaço interativo. Melhor que um memorial externo, com certeza”, diz Moraes, diretor presidente da FCCR. Ele refere-se ao prometido memorial que chegou a ganhar um projeto do arquiteto Oscar Niemeyer, além de ter a sua pedra fundamental fincada, em 2000, na praça em que hoje existe um jardim japonês, na avenida Cassiano Ricardo. Pedra, essa, que nem a prefeitura nem a FCCR sabem informar onde foi parar. “Aqui é que não está”, afirma Moraes. Por meio de nota, a assessoria de imprensa da Prefeitura de São José afirma que o memorial prometido para aquela área surgiu em outra gestão da FCCR e que, portanto, não tem responsabilidade sobre a nova destinação dada à praça. “O renomado arquiteto de fato conversou com o então presidente e fez um esboço, mas não chegou a desenvolver nenhum projeto. A prefeitura da época avaliou os altos custos desse futuro projeto e desistiu

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MAUSOLÉU

Lápide no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras que abriga os restos mortais de Cassiano Ricardo e sua segunda mulher

dele ainda na fase de discussões. Com essa desistência, a área foi reservada para projetos de ampliação viária [recentemente concluída] e uma parte contígua foi utilizada anos mais tarde para homenagear o Centenário da Imigração Japonesa”, defende. A revista valeparaibano teve acesso, por meio do escritório de Oscar Niemeyer, ao projeto elaborado pelo arquiteto ao final do ano 2000. Com uma vasta área coberta, o prédio de cerca de 7.000 metros quadrados criado por Niemeyer seria composto por um auditório com 450 lugares, salão para exposições, uma biblioteca, espaço para alimentação, além de halls e salas secundárias. Tudo, com materiais para a construção, com medidas e com sistemas, como os de refrigeração, devidamente especificados na planta. O preço estimado da obra, noticiado à época, era de R$

1,2 milhão. O escritório não confirma valores. “O projeto era interessante, mas ficou parado na prefeitura. Alegaram não ter dinheiro. Relegaram o meu avô ao ostracismo depois que gastaram uma fortuna com essa praça japonesa”, reclama a neta de Cassiano Ricardo, Regina Célia Ricardo Gianesella. Vale lembrar que o jardim onde hoje está o torii [portal nipônico] foi inaugurado em 2008 e custou R$ 800 mil, com verba da prefeitura e com contrapartidas privadas. Recentemente, foi revitalizado por um valor de R$ 100 mil. Planos Regina Célia afirma que tem novos projetos para divulgar a obra do avô, mas diz que não pretende firmar parceria com a FCCR neste momento. “Pouco do que ela se compromete a fazer ela cumpre. Por mais que

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PROJETO

Plantas do projeto de Oscar Niemeyer às quais a prefeitura se refere como esboços A 1

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ela tenha melhorado o site, dando melhor visibilidade para o vovô, e feito uma bonita comemoração do centenário dele, não vou mais contemporizar. São José hoje não tem a consciência de quem era Cassiano Ricardo, poeta que não negava a sua origem. A impressão que tenho é a de que poucas pessoas têm interesse em cultura, e de que muitos a usam para se projetar”, critica. No último ano, Regina Célia afirma ter corrido atrás dos demais herdeiros para regularizar as questões dos direitos autorais que, até então, eram apontados pela FCCR como um dos entraves para a edição dos livros do poeta joseense. “São nove herdeiros e passei esse ano buscando cada um deles, com quem havia perdido contato. Demorei oito meses para localizar o testamento do vovô, que estava em uma seção de queimados depois que houve um in-

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cêndio no cartório em que estava”, garante ela, em resposta aos rumores de que os herdeiros não estivessem entrando em comum acordo. Com o testamento, Regina Célia afirma ter ficado claro quais os direitos de cada beneficiário. “Agora, estamos a ponto de resolver um problema jurídico para lançar três inéditos do vovô. Não posso entrar em detalhes, mas quando tudo estiver certo, trabalharemos na ampla divulgação”, resume a neta do poeta. Enquanto isso, a FCCR repete que está em boa negociação com a família para editar o livro “Dexistência”, encontrado em 2010 entre caixas do Arquivo Público. “No ano passado, não tínhamos orçamento. Também enfrentamos problemas com os herdeiros, que estão resolvendo problemas na Justiça. Agora já reservamos verba e a ideia é que sejam impressos 3.000 livros, número baseado em

SEBOS Nos cinco sebos visitados pela reportagem em dezembro, no centro de São José, a versão mais recente de “Martim Cererê” estava acessível. Em um deles, edições do mesmo livro, datadas de outras décadas, estavam disponíveis por preços que variavam de R$ 10,50 a R$ 18. Raridades foram encontradas em duas lojas. O sebo Eros concentrava edições de 1962, 1972 e 1974 do mesmo título, com um exemplar que continha ilustrações de Tarsila do Amaral, pintora também modernista. “Geralmente fazem parte da biblioteca de alguém que morreu. Vêm no meio da pilha de livros que os filhos ou netos trazem”, conta a proprietária Elisangela Torres Corrêa, 37 anos. Tanto ela, como os outros donos de sebos consultados, dizem que a procura por esses livros não é tão grande, apesar de a rotatividade dos exemplares que oferecem ser razoável. Pessoas mais velhas e adolescentes que pesquisam o autor para algum trabalho escolar estão entre os principais compradores das obras. “O problema é que, como dizem, ‘santo de casa não faz milagre’. Cassiano sai pouco”, afirma Francisco de Assis Freitas, 48 anos, do sebo Alexandria. Mas alguns espaços reservam surpresas. No sebo Atlântico, por exemplo, há uma edição do livro “Poemas Completos” datada de 1957. “Veio em um lote de um professor que me vendeu toda a biblioteca dele. Esse exemplar me chamou a atenção. Fui pesquisar e é uma edição rara. Guardo separadamente e só mostro para quem demonstra interesse. Já teve gente que quis levá-la, mas que desistiu quando viu o preço”, diz o proprietário Leandro Parra dos Santos Torres, 33 anos, que pede R$ 200 pelo livro. No sebo Literacia, dois exemplares raros autografados pelo poeta joseense estão guardados, ainda sem preço: as primeiras edições do livro de ensaios “O Homem Cordial e Outros Pequenos Estudos Brasileiros”, de 1959, e de “Antologia Poética”, de 1964. Com exceção dos sebos Estação Cultural e Atlântico, todas os demais tinham no acervo os livros “Vamos Caçar Papagaios” e “A Flauta que me Roubaram” no dia em que foram visitadas.

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ACERVO

No Arquivo Público de São José, duas prateleiras abrigam as obras do poeta

experiências anteriores”, diz o diretor presidente da FCCR, Mário Domingos de Moraes. Acesso à obra Dos 36 títulos lançados em vida pelo poeta joseense, apenas dois deles foram recentemente reeditados e podem ser encontrados com mais facilidade apenas em sebos de São José dos Campos –“Vamos Caçar Papagaios” (1926) e “Martim Cererê” (1928). A revista valeparaibano percorreu livrarias da cidade para identificar que obras do autor estão disponíveis ao público. Nas grandes redes instaladas em shoppings, as vendas desses poucos títulos são feitas apenas por encomenda, e os atendentes chegam a demonstrar estranheza ao ouvirem o pedido. “Cassiano Ricardo está entre os quatro maiores poetas paulistas, ao lado de Mário de Andrade. Ele foi um pouco prejudicado por ter apoiado o Estado Novo de Getúlio Vargas, atraindo certa resistência de outros escritores, mas hoje as novas gerações não o conhecem é por um outro motivo: porque não têm acesso aos seus livros, que não são editados”, avalia Lêdo Ivo, poeta também imortalizado

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pela ABL e com quem Cassiano Ricardo mantinha forte amizade (leia entrevista ao lado). O Arquivo Público de São José dos Campos possui uma estante em que preserva 96 exemplares de livros diversos do autor, bem como outros variados livros que pertenciam à biblioteca particular do poeta, que sempre cantou as paisagens e as suas lembranças de São José dos Campos. É no mesmo arquivo que cerca de 400 exemplares de “Vamos Caçar Papagaios” e de “Martim Cererê”, reeditados pela FCCR com 3.000 cópias cada, respectivamente em 2005 e 2006, permanecem à espera de doações que não costumam seguir um critério claro. Essas unidades, às vezes, são destinadas a crianças que visitam o arquivo, outras vezes são dadas de presente a jurados de festivais como os de teatro e de dança, que acontecem anualmente na cidade, ou a pesquisadores. Outros exemplares, a autarquia afirma já terem sido distribuídos em universidades do país. Na internet, os mesmos livros são encontrados nas grandes redes de compras online, por preços que variam de R$ 19 a R$ 42. Eles também podem ser encontrados

diretamente nos sites das empresas que os imprimiram. Ainda assim, editoras afirmam que esses são títulos que têm pouca saída. A Companhia Editora Nacional, por exemplo, informa, por meio de sua assessoria de imprensa, que “Vamos Caçar Papagaios” tem em estoque 1.200 dos 3.835 exemplares impressos por ela em uma edição de 2007. A editora Global, que lançou em 2003 e em 2008 tiragens da coletânea “Melhores Poemas de Cassiano Ricardo”, organizada pela professora Luiza Franco Moreira –que atualmente leciona nos Estados Unidos– informa que, até 31 de agosto de 2011 (último relatório da empresa), o estoque do título havia fechado com 1.170 dos cerca de 5.000 exemplares impressos. “As pessoas gostam ou não de Cassiano Ricardo sem nem terem acesso à sua obra. Será que ele merece ser tratado assim? Um poeta que passou por todos os movimentos literários de sua época, sendo parnasiano, modernista e até concretista? Mais que discutir onde ele tem de ser enterrado, penso que é hora de questionar onde está a obra do escritor. Lançar um título a cada dez anos e distribuir em

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faculdades sem que os alunos saibam do que se trata não é o caminho. Tinha de ter um trabalho iniciado pela Educação”, opina a escritora Dirce Araújo, que por anos trabalhou na Biblioteca Cassiano Ricardo e que é membro da Academia Joseense de Letras. Iniciativas públicas Procurada, a Secretaria de Educação de São José dos Campos informou, por meio de sua assessoria de imprensa, trabalhar a memória do autor com ações pontuais de algumas escolas em ocasiões como a Semana Cassiano Ricardo –evento literário que, por lei, tornou-se obrigatório na cidade e que é realizado anualmente. O MEC (Ministério da Educação), por sua vez, informou que a obra “Vamos Caçar Papagaios” foi incorporada pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola em 2006. “Ela foi selecionada para o acervo dos finais do Ensino Fundamental”, diz sua assessoria de imprensa. Isso significa que o livro foi distribuído para bibliotecas de escolas do país, mas não quer dizer que ele tenha sido trabalhado com os alunos –as ações educacionais ficam a critério de cada unidade escolar. A FCCR afirma trabalhar a memória do poeta disponibilizando as reedições dos dois títulos já citados em espaços de leitura livre, mantendo o acervo do escritor preservado no Arquivo Público e evocando o seu nome durante as atividades relacionadas à obra dele na anual Semana Cassiano Ricardo. “O nome do poeta é conhecido na cidade, mas o conteúdo de suas obras não. Mas temos valorizado a literatura em eventos, para despertar esse interesse. A Semana é uma dessas ações culturais que fazemos, para trabalhar o entendimento da obra dele”, diz o diretor presidente da FCCR, Mário Domingos de Moraes, que admite não ter funcionários capacitados para indicar ou tirar dúvidas sobre a obra do poeta nos espaços de leitura livre, por exemplo. “A ideia é que as pessoas façam as suas escolhas nesses pontos”, defende. Para Julio Ottoboni, organizador do livro “A Flauta que me Roubaram” –que reúne poemas do escritor joseense e que também é encontrado em sebos de São José dos Campos–, a Semana Cassiano Ricardo não basta. “Não é promovendo gincanas que garantem notas aos alunos que é possível fomentar a memória do poeta. Tem de se estabelecer programas e planejamento para médio e longo prazos. Caso contrário, ler Cassiano Ricardo de forma impositiva pode se tornar um martírio”, diz ele, que já foi curador da mostra.

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ENTREVISTA

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para o Brasil. Depois da queda do Estado Novo, parece até que existia no jornal “O Estado de São Paulo” uma espécie de lista negra de nomes que não podiam sair [no periódico]. E havia muitas restrições a Cassiano, por ele ser Getulista. Então eu fui chamado para um projeto de um novo suplemento literário do jornal, entre as décadas de 1950 e 1960, com projeto de Antônio Cândido e direção de Décio de Almeida Prado. Décio resistia a Cassiano, mas pedi que o poeta escrevesse um artigo sobre a fundação da Universidade de São Paulo, que teve grande repercussão. De modo que contribuí para que o paulista eminente fosse reconhecido por um meio de comunicação de São Paulo. Carlos Lacerda também o via com muita reserva.

Em seu apartamento, no Rio de Janeiro, o poeta também imortalizado pela Academia Brasileira de Letras, Lêdo Ivo, 87 anos, lembrou histórias de Cassiano Ricardo. “Foi um convívio muito demorado, que traz saudade”, diz, sobre o amigo com quem conviveu na França e no Brasil. “Era um homem amável, que foi o primeiro, inclusive, a celebrar a tecnologia em poemas. Foi um editor que modernizou jornais no Rio, além de ser um nome permanente da literatura. Mas criou no meio literário uma certa incompreensão injustificável contra ele, por ter sido fiel ao seu ideário político”, define o alagoano, lamentando que as obras do joseense não estejam sendo reeditadas. “Porque a literatura tem épocas em que há esquecimento de ouvido e outras em que há reaparições”, diz ele, que já tem um memorial em seu nome, em Maceió, além de um acervo no Instituto Moreira Salles. “De repente Cassiano reaparecerá”, torce, otimista

Essa confusão entre o lado artístico e o político de Cassiano é algo que pode ter atrapalhado a sua memória? < Não, isso sempre houve. O que eu acho que atrapalha muito o Cassiano, hoje, é que a obra dele não está circulando por causa dessas dissidências familiares. A lei de direitos autorais, hoje, é muito ultrapassada. Essa geração não o conhece porque os livros estão inacessíveis. Tentaram publicar poemas dele, recentemente, mas não conseguiram. Ele se sentia valorizado em São José dos Campos? < Ele sabia que era o orgulho de sua terra natal e apreciava muito ser conhecido. Quem é, em São José, mais importante que ele? Só se houve algum barão! (risos) Literariamente, ninguém. A vida dele foi uma autoafirmação, embora fosse modesto. Se fosse vivo, suas obras estariam sendo reeditadas. Ele morreu em plena consagração.

Quando o senhor diz que havia pessoas que não compreendiam o lado político de Cassiano Ricardo, poderia dizer como elas demonstravam essa não-aceitação? < Havia sempre uma resistência em relação aos intelectuais que apoiavam o Estado. Cassiano tinha uma certa visão de Brasil, a favor de uma espécie de democracia autoritária. Achava que o modelo liberal talvez não fosse justo

O senhor lembra de algum ensinamento que ele tenha passado? < O convívio entre escritores é sempre uma coisa frutuosa, proveitosa para ambas as partes. Eu diria que a grande lição que ele me deu foi a fidelidade à poesia. Ter escrito poemas até a sua morte e ter sido fiel à literatura. E também a de ter sido um escritor brasileiro, ter tido um sentimento pelo Brasil, coisa que nem todo escritor tem. •

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MÍDIA

valeparaibano: 60 anos de história Após seis décadas de existência, empresa segue norteada pelo mesmo compromisso: proporcionar um conteúdo editorial de qualidade aos leitores, com reportagens fundamentadas no jornalismo independente

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São José dos Campos

o centro de Caçapava à avenida São João, em São José dos Campos, escreveramse seis décadas de história. Neste período, a empresa valeparaibano, que completa 60 anos este mês, passou por inúmeras transformações, mas segue norteada pelo mesmo compromisso: proporcionar um conteúdo editorial de qualidade para seus leitores, com imparcialidade e transparência. Sessenta anos se passaram desde o dia 6 de janeiro de 1952, quando o jornalista Francisco Pereira da Silva, mais conhecido como Chico Triste, finalizou a primeira edição do antigo

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jornal valeparaibano, com 500 exemplares. À época, trabalhou mais de uma semana, com uma impressora alemã da marca Bremensis, para montar as páginas letra por letra. Desde então, a valeparaibano testemunhou e retratou as mudanças mais significativas ocorridas no Vale do Paraíba. A empresa foi criada nos anos 50, em uma década marcada pela construção da via Dutra e a instalação do antigo CTA e das primeiras multinacionais estrangeiras, como General Motors e Johnson & Johnson. Os processos de urbanização e industrialização pelos quais passaram o Vale certamente favoreceram a disseminação da informação entre os habitantes, desejosos de acompanhar de perto as mutações socioeconômicas da região. Já no fim dos anos 50, a valeparaibano

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Especial

passou por uma fase de reforço do enfoque jornalístico no tratamento das notícias. O golpe militar de 1964 e a censura que se abateu sobre a imprensa em todo o Brasil não impediram que a empresa continuasse a crescer e a angariar novos leitores. A publicação passou a ter as primeiras coberturas de fôlego naquela época, como a destruição de Caraguatatuba por uma tromba d’água que deixou centenas de mortos e milhares de desabrigados em 1967. Nos anos 70, continuou a retratar o crescimento industrial da região –impulsionado pela inauguração, em 1969, da sede da Embraer em São José– e a subsequente migração das áreas rurais aos centros urbanos. A segunda grande transformação ocorreu em 1976, quando a empresa foi vendida ao empresário Ferdinando Salerno, que investiu pesado na modernização do maquinário, trocando a impressão a chumbo pelo sistema de impressão off-set. Com a nova tecnologia, a imagem passou a ser mais valorizada. Em 1977, quando a publicação foi relançada em cores, uma equipe de jornalistas implantou o novo projeto editorial, que assumiu de vez seu caráter regional, consolidando o diário como o principal veículo de informação do Vale do Paraíba, com sucursais e correspondentes. Com uma linha editorial fortalecida, os anos 80 foram marcados pelo surgimento de cardernos especiais. Durante os anos 90, modernizou os processos de gráfica e edição com duas reformas gráficas e editoriais, uma em 1994 e outra em 1997, ano em que começou a ser usada a colorização na impressão e marcou a entrada da empresa na era da internet. Ao inaugurar seu próprio site, pôde também transmitir a informação em tempo real.

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Revista Mas foi em 2010 que a valeparaibano conheceu a quarta grande transformação de sua história, provavelmente a mais radical. Sob a impulsão de seu diretor responsável, Ferdinando Salerno, a empresa mudou sua plataforma de levar a notícia aos leitores, tornando-se uma revista de informação com periodicidade mensal. A sede foi transferida para a avenida São João, no bairro Jardim Esplanada, região centro-oeste de São José, e a primeira edição da revista valeparaibano saiu em abril de 2010, com tiragem de 30 mil exemplares. Vendida em cidades do Vale do Paraíba, Litoral Norte, Serra da Mantiqueira e região do Alto Tietê, traz matérias de política, economia, cultura, comportamento, turismo, saúde e tecnologia, além de reportagens especiais sobre assuntos variados. O enfoque regional, uma das principais bandeiras da empresa desde os anos 90, foi mantido na nova publicação, que chega às mãos do leitor com reportagens aprofundadas e fundamentadas no jornalismo democrático, independente, que defende a liberdade de expressão e de pensamento. A revista também traz notícias do Brasil e do mundo, sempre com um olhar especial voltado para a região. E essa diversidade de assuntos abordados na publicação conquistou leitores em outros estados brasileiros –uma realidade pouco provável para uma revista que circula em municípios do interior paulista. Além das cidades da região, a revista valeparaibano conta com assinantes no Ceará, Sergipe, Rio de Janeiro, Brasília, entre outros.

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Site O mesmo ocorre na versão digital da revista, que é vista por leitores de diversos cantos do mundo. O site (www.valeparaibano.com.br), atualizado diariamente com as notícias mais relevantes, recebe visitas de internautas dos Estados Unidos, Portugal, Espanha, Japão, Itália, Canadá, Alemanha, Chile, Inglaterra, Suíça, China, Austrália, entre outros países. Ao todo, são mais de 6 milhões de page views (páginas visualizadas) por mês. Desde abril de 2010, quase dois anos se passaram, e a valeparaibano reforça com seus leitores o compromisso de oferecer informação de qualidade nesse novo formato de notícias. Tal empenho e dedicação já se traduzem em resultados. Pesquisa de satisfação revelou que o conteúdo editorial da revista transmite credibilidade para 98,3% dos assinantes. Já as reportagens são classificadas como excelentes e boas por 92,3% dos leitores. Arquitetura Mas a missão da editora valeparaibano apenas começou. A empresa lançou em setembro de 2011 a revista Luxe., voltada para o segmento de arquitetura, design de interiores e paisagismo, com informações sobre os projetos de decoração assinados pelos mais renomados profissionais do país. A Luxe. é uma revista trimestral com layout moderno, criada para apresentar ideias inovadoras, que acompanham as atuais tendências dos projetos arquitetônicos em cidades do Vale do Paraíba, do Brasil e do mundo. A diagramação cede espaço às imagens e os textos tratam o luxo como um item que pode ser vivido e reproduzido pelas pessoas.

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Moda E o compromisso de oferecer um conteúdo especializado continua. No período em que comemora seus 60 anos, a empresa lançará no mercado mais uma revista, a Orphila, do segmento de moda e beleza. A primeira edição da publicação, que também terá periodicidade trimestral, chegará às bancas em fevereiro de 2012. As reportagens da Orphila mostrarão a moda que surge a cada nova estação, do básico e da overdose fashion, e apresentarão com estilo e criatividade esse fascinante universo que influencia comportamentos em todo o mundo. A revista falará sobre as tendências e dará sugestões de looks, maquiagem, tratamentos estéticos e cuidados pessoais. A revista levará ao leitor informações sobre o que há de mais novo no mercado nacional e internacional, com matérias produzidas no Vale do Paraíba, no Brasil e no mundo, por meio de jornalistas correspondentes em Paris e Nova York, além de trazer, em todas as edições, entrevistas com as personalidades mais importantes na área da moda e beleza e editoriais de moda retratando esse universo fashion. Com seis décadas de história no jornalismo, a valeparaibano entra em 2012 com três títulos –as revistas valeparaibano, Luxe. e Orphila– e se consolida como uma das cinco maiores editoras regionais do país associadas à Aner (Associação Nacional dos Editores de Revista). No mercado nacional existem 4.800 títulos de revistas, com circulação projetada em 456,4 milhões de exemplares por mês em 2012 –2% a mais que em 2011.

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MERCADO DE REVISTA CRESCE A CADA ANO O número de títulos de revista em circulação no Brasil dobrou na última década, passando de 2.243 títulos em 2001 para 4.705 em 2010. Essa trajetória de sucesso, em plena era digital, comprova que o meio revista tem vida longa e continuará a ter um papel relevante no mercado. Para se ter ideia do potencial, o mercado de revista cresceu 50% mais que o de jornal entre janeiro e setembro de 2011 –enquanto os jornais tiveram acréscimo de 2,4%, as revistas cresceram 3,6%, aponta o Projeto Inter-Meios. O desempenho comercial do meio revista também segue em expansão –passou de uma receita de R$ 1,3 bilhão em 2000 para R$ 2,5 bilhões em 2011, segundo o IVC (Instituto Verificador de Circulação). De outubro de 2010 a setembro de 2011, a circulação de revistas obteve um crescimento médio de 5,1%, com a entrega de 13,7 milhões de exemplares. No período, as publicações mensais aumentaram 6,6% e as semanais, 2,3%. “Estou absolutamente convencido de que o formato revista garantiu um horizonte novo e mais amplo para nós, valeparaibano. Um horizonte de sucesso. O crescimento do mercado de revistas no país mostra que optamos pelo caminho correto, caminho este que está gerando frutos em pouco tempo, com o lançamento de novos títulos, como a Luxe. e a Orphilia. Arrojo é a nossa marca. A nós não interessa deitar sobre louros já conquistados. Interessa inovar, interessa sermos pioneiros, interessa vencer desafios. É isso que fizemos com a mudança de formato: vencemos, estabelecemos novas fronteiras, fomos além”, disse Ferdinando Salerno, diretor responsável da valeparaibano. “Trabalho com a vontade de combinar patrimônio histórico e vanguardismo editorial, com a certeza absoluta de estar descortinando novos horizontes para o nosso negócio”, acrescentou. •

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NO O EVENTO

O empresário Ferdinando Salerno é cumprimentado tado pelo então secretário de Justiça do Estado, Luiz Antonio o Marrey

CERIMONIAL RIMONIAL

A jornalista Rosana Jatobá que foi a mestre de cerimônia erimônia da festa (abaixo) de lançamento da revista valeparaibano araibano

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CINEMA

Dosedupla O diretor Steven Spielberg chega aos cinemas neste mês com dois longas completamente diferentes; um verte lágrimas e o outro derrama tecnologia Franthiesco Ballerini São Paulo

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teven Spielberg aparece nas telas como diretor com muito menos frequência do que os novatos gananciosos por um espaço glorioso em Hollywood. Foi “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal”, em 2008, a última aparição nas telas do autor de clássicos como “Tubarão”, “E.T. O Extraterrestre”, “A Lista de Schindler” e “Munique”. No entanto, neste início de ano, chegam às telas não um, mas dois filmes dirigidos por Spielberg, devidamente separados em suas estreias para não competirem entre si. O primeiro, “Cavalo de Guerra”, chega à telona dia 6. Dois finais de semana depois é a vez de “As Aventuras de TinTin”. Dois filmes completamente distintos assinados pelo mesmo diretor. E vale a pena esta overdose de Spielberg nas férias? Bem, comecemos com “Cavalo de Guerra”, mais um filme dele ambientado em um conflito mundial, desta vez, na Primeira Guerra, quando um cavalo chamado Joey e

seu dono, o garoto Albert, se separam, pois o exército britânico compra forçadamente todos os cavalos do país para usar na batalha. O cavalo se desloca no meio da guerra num lindíssimo cenário rural do Reino Unido, inspirando a vida de todos que o conhecem, até de soldados alemães. Spielberg, que apesar de não saber andar a cavalo, é dono de oito deles, pois sua filha Mikaela, de 15 anos, é campeã de salto e sua esposa, Kate, também uma fera na montaria. Foi por isso que decidiu adaptar a peça homônima baseada em livro de Michael Morpurgo. Spielberg assistiu ao espetáculo nos intervalos das filmagens de Tintin, em Londres, e ficou encantado. “Me envolveu a alma”, disse durante as filmagens. O filme é o oposto de Tintin, pois praticamente não tem efeitos especiais, tudo filmado no Reino Unido. “Só usamos efeitos especiais em cenas em que achávamos que os cavalos iriam se machucar, mas não vou contar quais são”, comentou o diretor. O espetáculo chegou a Broadway, onde ganhou cinco prêmios Tony

CAVALO DE GUERRA

A história entre o homem e seu animal ‘envolveu a alma’ do diretor Steven Spielberg

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Fotos: divulgação

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pelos efeitos especiais com os cavalos de madeira, bem como o uso de slow-motion. Se por um lado a história não conta com nenhum grande astro do cinema, exceto Emily Watson, e sua trama –a amizade de um cavalo com um garoto– não é assim um apelo automático para ir ao cinema, por outro lado uma parte dos espectadores e da crítica internacional está considerando este um grande retorno do velho estilo do diretor de contar histórias que envolvam o coração do público, num estilo que lembra uma mistura de “E.T” e “O Resgate do Soldado Ryan”. Ao passar pelas mãos de alemães e virar presente para uma menina que está morrendo, o cavalo mostra, indiretamente, as perdas desnecessárias de vida durante uma guerra. Sim, as perdas, conflitos e atos heróicos –sempre para o lado dos Aliados, claro– estão todos lá, exatamente como nos outros filmes de guerra do diretor. E ele segue à risca sua fórmula de maior sucesso: explorar o horror através do olhar inocente, seja de um garoto, seja de um cavalo. Os produtores de “Cavalo de Guerra” mostraram algumas sequências para soldados que estavam voltando feridos do Afeganistão e todos ficaram bastante emocionados –o sinal que eles precisavam para saber que

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estavam no caminho certo com relação à edição do filme, um bom candidato a algumas indicações ao Oscar deste ano. Dos quadrinhos para o 3D Já “As Aventuras de Tintin” tem um conteúdo que remete a emoções semelhantes, porém seu formato é totalmente diferente. A história, criada pelo autor belga Hergé em 1929, ganha uma roupagem tecnológica, ao estilo que anda fascinando muito diretor de Hollywood. Spielberg fez tudo por computador, com a ajuda de Peter Jackson (“O Senhor dos Anéis”), que assina como produtor. O filme utiliza a tecnologia da Captura de Movimento (Performance Capture), usada pela primeira vez em “O Expresso Polar”. Trata-se de uma técnica que coloca vários pontos no rosto dos atores, que atuam em frente a telas verdes e suas expressões são captadas pelo computador e depois incorporadas em qualquer personagem –humano ou animal– na pós-produção. Foi assim que Tom Hanks conseguiu interpretar diversos personagens em “O Expresso Polar”, por exemplo. Quem faz Tintin é Jamie Bell e Red Rackham é vivido por Daniel Craig. É a primeira animação dirigida por Steven

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TIN TIN

As aventuras do repórter belga estão na primeira animação dirigida por Spielberg

Spielberg e também sua primeira adaptação de histórias em quadrinhos. E, claro, o filme só saiu do papel com a promessa de inundar as salas 3D de cinema do mundo inteiro nas férias. Ele se tornou grande fã da franquia quando um crítico comparou “Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida” (1981) com Tintim, que estreou exatamente 30 anos depois deste Indiana Jones nos Estados Unidos. Em 1983, Spielberg comprou todos os direitos do personagem. Spielberg dirigiu sua parte do filme nos primeiros 32 dias, em março de 2009, depois todo o resto foi supervisionado por Peter Jackson, que irá dirigir o segundo filme todo –sim, já existe uma franquia aprovada. O filme conta a história do aventureiro Tintim, que compra de um amigo um modelo de galeão antigo, coincidentemente uma réplica de um navio do cavaleiro Hadoque. O modelo é roubado e a casa de Tintim revirada. É quando o garoto descobre que o navio real estava repleto de tesouros e naufragou. Tintim então decide, com os amigos e o fiel cão, procurar as três partes do mapa para achar o tesouro, tendo que driblar uma perigosa quadrilha. Ao contrário de “O Expresso Polar”, onde o rosto dos personagens soavam falso –ou

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cheio de botox pois não se moviam– aqui a tecnologia melhorou e muito, sem falar nos detalhes do movimento de água, areia e plantas. Ainda não chega a confundir o espectador –seria humano ou digital?– mas está quase lá. Além disso, outra virtude de Tintin são as cenas repletas de ação. Não há descanso em nenhum momento, talvez para o espectador não se sentir enfadado com uma trama que já inspirou diversos outros filmes ao longo de mais de 100 anos. Se tivesse sido feito com atores reais, o filme correria o risco de ficar muito parecido com “A Lenda do Tesouro Perdido” ou a franquia “Piratas do Caribe”, ou quem sabe até Indiana Jones. Ao contrário, Spielberg resolveu apostar todas suas fichas na tecnologia –que de tão aprimorada é capaz de mostrar o nariz dos personagens com detalhes que vão de pintas, rugas a pelos. Mas ao final do filme, sente-se um vazio. O vazio de ter visto um espetáculo tecnológico em personagens que não tocam a alma do espectador em quase nada. Neste sentido, “Cavalo de Guerra” vai muito além, o que mostra que a tecnologia talvez não seja capaz de verter lágrimas ou imortalizar filmes, mesmo nas mãos de gênios como Spielberg. •

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MÚSICA

Quatro em um Los Hermanos completa 15 anos e brinda os fãs com uma miniturnê neste ano. Desde a separação em 2007, eles só tocaram juntos em poucas ocasiões especiais Isabela Rosemback São José dos Campos

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á se deram conta de que em 2012 o Los Hermanos fará 15 anos?” “Pô, então temos de comemorar, vamos fazer uns shows!” “Quando, onde?” “E por aí foi”, conta o tecladista Bruno Medina, buscando na memória o teor dos e-mails trocados com os demais músicos do Los Hermanos antes do anúncio de uma rápida volta do grupo aos palcos em 2012. “Não me lembro precisamente dos detalhes, mas foi algo do tipo. Não houve uma sessão de argumentos, a decisão de celebrar essa data foi unânime. Isso se deu de forma menos complicada do que a maioria das pessoas pensa”, completa. Por discrepância do destino ou não, Medina, Marcelo Camelo, Rodrigo Amarante e Rodrigo Barba estarão juntos novamente (mas não na distância), e deixarão suspensos os seus projetos paralelos por pouco mais de um mês. A miniturnê comemorativa pelos 15 anos da banda –que hibernava desde 2007– acontecerá, a princípio, em diferentes capitais brasileiras em abril e maio. Quem grita alto de euforia é quem curte o som –Belém (PA) e Manaus (AM), por exemplo, foram incluídas no circuito depois de campanhas de fãs em redes sociais. “Acho que a melhor recompensa que um trabalho pode gerar é a percepção de como ele afeta positivamente a quem quer que se destine”, diz Medina, animado com a expectativa criada em torno dos shows marcados, ainda, para Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ),

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São Paulo (SP), Fortaleza (CE), Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR), Brasília (DF), Porto Alegre (RS) e Salvador (BA). “Foram anos muito bem-sucedidos, sendo que durante esse período conseguimos fazer do fruto do nosso empenho algo que é considerado de muito valor para muitas pessoas”, avalia o tecladista. Embora já estejam com as datas cravadas para cada apresentação, nenhuma música foi ensaiada em conjunto até este início de ano, com a justificativa da espera pela volta de Amarante de Los Angeles (EUA). Mas Medina, que se tornou o porta-voz da banda desde que a turnê foi divulgada em seu blog, crê que os próximos meses serão suficientes para a banda retomar o fôlego de antigamente. “Os fãs não precisam se preocupar com isso! Acho que cada um estava treinando suas partes separadamente, apenas para ter as músicas mais complicadinhas nas pontas dos dedos”, comenta, antes de fomentar a esperança de que reservarão surpresas ao público. “Sim, acho que é possível contar com alguma coisa nova no repertório. Não sei se exatamente uma nova composição, mas um ou mais covers, por exemplo”, continua, sem entrar em detalhes. Mas para quem sonha com a volta definitiva da banda ou com uma extensão da temporada de shows, as notícias não são tão animadoras. A agenda do quarteto foi reservada ao Los Hermanos apenas durante o período estipulado. Em junho, eles devem voltar aos projetos que desenvolviam antes da pausa festiva. Isso não inibe, entretanto, o lançamento de novos produtos em celebração à data. “Por enquanto, não existe nenhum plano nesse sentido. Até

AGENDA Abril Dia 20 - Recife (no festival Abril pro Rock) Dia 21 - Fortaleza Dia 27 - Manaus Dia 28 - Belém Maio Dia 5 - Brasília Dia 6 e 7 - Salvador Dia 11 - São Paulo Dia 12 - Porto Alegre Dia 18 - Curitiba Dia 19 e 20 - Belo Horizonte Dia 25, 26 e 27 - Rio de Janeiro

cogitamos lançar os quatro CDs numa só caixa, mas não sei se isso é muito fácil de concretizar, porque depende de acertos com as gravadoras pelas quais passamos”, pondera Medina. Como o tecladista, mesmo, disse, quatro meses pode ser suficiente para o projeto criar mais corpo. Enquanto isso, os fãs acompanham os passos dos ídolos por meio das redes sociais, criadas por eles para divulgarem mais informações sobre a miniturnê. Além dos perfis individuais no Facebook, os músicos criaram a “fan page” Los.Hermanos.Oficial, o twitter loshermanos2012 e o

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Divulgação

site oficial www.loshermanos.com.br. São José Há seis meses tocando músicas do quarteto em São José dos Campos, com a banda Regra de 3, o guitarrista Alison Felipe do Vale, 25 anos, acompanha as novidades com frequência. “Estávamos em reunião quando o Medina anunciou a turnê. Ficamos animados. Os fãs sentem falta, e percebemos isso nos shows que fazemos. Vamos na apresentação deles em São Paulo com certeza e, quem sabe, em outras”, finaliza. •

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LOS HERMANOS A BANDA Formou-se em 1997, no Rio de Janeiro, a partir do encontro de Marcelo Camelo e Rodrigo Barba na mesma faculdade. Bruno Medina e Rodrigo Amarante completaram a formação definitiva PRIMEIRO HIT Embora fugisse do estilo da banda,

o single “Anna Julia” estourou em 1999, tirando o quarteto do circuito underground. Outras músicas, como “Primavera”, caíram no gosto de um público irrestrito e impulsionaram a carreira dos músicos HIATO A banda anunciou sua separação e fez um show de encerramento na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, em junho de 2007

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ValeViver

MĂşsica&mais

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CHICO

SOLTA O PAUSE

ADELE

Livro que reúne a história do artista em fotos raras que fazem também o retrato de algumas épocas

Acompanhe as notícias do mundo da música por meio do blog http://soltaopause.com.br

Gravado no The Royal Albert Halll, o DVD traz duas horas de show e bastidores, além de um CD

WEB

Fotos: Divulgação

YOU’RE BEAUTIFUL

Verão ruivo A bela Florence Welch vem ao Brasil pela primeira vez para o Summer Soul Festival no dia 24, no Anhembi, em São Paulo Adriano Pereira São José dos Campos

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o ano passado, o Summer Soul Festival trouxe Amy Winehouse ao Brasil. Apesar da fraca e rápida apresentação, talvez tenha sido uma das últimas que a cantora ainda apresentava alguma força e talvez uma esperança de recuperação. Bom, nessa edição, o festival não traz ninguém à beira da morte, muito pelo contrário. A voz ruiva e linda de Florence Welch, que lançou disco novo há pouco mais de dois meses, e o bombado (e chato) Bruno Mars são as principais atrações internacionais do evento. Florence and the Machine é uma banda inglesa liderada pela cantora Florence Welch, cujo som é uma combinação de vários gêneros, incluindo o rock, indie, folk e soul. A The Machine (A Máquina) é o nome atribuído à banda de apoio, composta essencialmente de músicos instrumentistas, que variam dependendo das necessidades sonoras das performances realizadas. O nome surgiu da parceria com Isabella “Machine” Summers, com quem Florence se apresen-

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tava. Isabella deixou a carreira por um tempo, mas Florence manteve o nome (hoje Isabela retornou à banda, tornando-se a tecladista permanente). Veio do canal BBC de Londres o grande pontapé na carreira da banda, quando a apresentou no programa BBC Introducing. A partir daí, o Florence and the Machine passou a tocar em vários grandes festivais da Inglaterra, como Reading and Leeds e Glastonbury. O álbum de estreia da banda, intitulado “Lungs”, foi lançado em julho de 2009, e se manteve no segundo lugar da parada inglesa por cinco semanas, atingiu o topo em janeiro de 2010 –ao todo ele ficou na parada por 65 semanas consecutivas. Agenda O Summer Soul Festival acontece em São Paulo no dia 24 de janeiro, no Complexo Anhembi, e no Rio de Janeiro no dia 25 de janeiro, na HSBC Arena –em ambas as cidades apresentando no palco todas as atrações escaladas. Em Florianópolis, a apresentação será no dia 28 de janeiro no Stage Music Park.

CD’S & MAIS

É hora de chorar meu amigo

VALE DESTAQUE LEONARD COHEN “Old Ideas” Primeiro registro de inéditas desde 2004, Leonard Cohen garante que esse é o “mais espiritual e profundo de todos” até hoje

NADA SURF “The Stars Are Indifferent To Astronomy” Sétimo disco da banda que já teve o single “When a Was Young” divulgado

ATACK! ATACK! “This Means War” Com produção do próprio vocalista Caleb Shomo, o terceiro disco da banda sai neste mês

Dono da voz e do hit mais chorosos dos últimos tempos, James Blunt traz a turnê do álbum “Some Kind of Trouble” para o Brasil no dia 18, em São Paulo, no Credicard Hall. Se você não se lembra do rosto com certeza vai se lembrar de “You’re Beautiful”, aquela música grudenta que faz casais se beijarem, velhinhos chorarem e deficientes visuais voltarem a enxergar. Apesar do disco em questão sem um pouco mais “otimista”, os fãs do período mais nebuloso de Blunt ainda poderão ouvi-lo como quem corta uma cebola. Composto gravado em um estúdio londrino, o álbum reflete a nova vida de Blunt, que há cinco anos vive em Ibiza, na Espanha. Além de São Paulo, o músico também se apresenta em Porto Alegre (Teatro do Sesi) no dia 16, no Rio de Janeiro (Citibank Hall) no dia 20, e em Belo Horizonte (Chevrolet Hall) no dia 22.

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Ponto Final

Arnaldo Jabor

A primeira morte do herói romântico

E

stou no passado –há 47 anos. São onze e meia da noite do dia 31 de marco de 64 e eu assisto a um show que inaugura o teatro da UNE, com Grande Otelo e Elsa Soares, para celebrar o socialismo. Acho estranho que festejem uma vitória sem a tomada do poder. Um companheiro me abraça eufórico: “Já derrotamos o imperialismo; agora só falta a burguesia nacional!” Não vejo o Tio Sam de joelhos ali, mas fico animado: “Viva!”. Estou felicíssimo: tenho 20 anos, o socialismo virá, sem sangue, sem balas e com a ajuda do governo do Jango. Cheio de fé, vou para casa, mas voltarei cedo à UNE onde haverá uma reunião política às nove da manhã. Estou de novo dentro da sede, ouvindo as diretrizes do dirigente de nossa ‘base’ do PCB, um comuna velho de nariz de couve-flor e penso: “Como ele pode fazer revolução com esse nariz?” Ele nos garante que o Exército está do lado do povo porque tem ‘origem de classe média’. Sinto-me protegido pelos bravos soldados do povo, quando começo a ouvir gritos e tiros lá fora. “São os estudantes de direita da PUC. Temos de reagir!” –diz alguém. “Com quê?” –pergunto. Onde estão as armas revolucionárias? Nada. Ninguém tem uma reles “beretta”. O dirigente da ”base” fica com o nariz muito branco, que antes era “pink”. Nuvens de fumaça entram pelas salas. A UNE está pegando fogo. Estudantes armados invadem a sede com garrafas de gasolina. O teatro queima. Fujo por uma janela dos fundos, onde rasgo a calça num prego. Apavorado, corro para a porta da

GOLPE DE 64 “A política e as memórias de amor e sexo” UNE, ostentando naturalidade, para ver o que está acontecendo. Reconheço vários colegas ricos de minha faculdade, com revólveres na cinta, numa selvagem alegria destrutiva. Dois colegas da PUC me veem. Eles vêm com armas na mão, afogueados pela guerra santa. “E aí, cara!? Grande vitória, hein?! Acabamos com esses comunas sem-vergonha!” –me gritam. Vejo os tanques, com os “recrutas do povo” montados em cima e entendo que minha vida adulta está começando, mas de cabeça para baixo. Outros companheiros se dispersam à distancia, enquanto a UNE arde. “Ali, estão queimando os nossos sonhos” –penso. “Ali, queima a ‘libertação do proletariado’, ali morre em fumaça minha juventude gloriosa, queima um Brasil que me parecia fácil de mudar, um Brasil feito de esperanças românticas”. Vou andando para longe dali, para o Centro e as árvores do Russel me ameaçam com seus galhos, vejo a estátua de São Sebastião flechado e me sinto mártir como ele, passo pela praça Paris, onde Assis Valente se matou com formicida e penso em sua música: “Está na hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor!” Chego ao Passeio Público cercado de carros de combate e vejo que o mundo mudou. Na Cinelândia, grupos de soldados montam guarda. Numa vitrine, televisões mostram o

Castelo Branco entre generais. Este é o novo presidente? Parece um ET de boné. Vou andando, sem lenço e sem nada. Paro na porta de um cinema onde passa “Lawrence da Arábia”. Finjo que olho os cartazes. Alguém me bate no ombro; viro em pânico e vejo um velhinho vendedor de loteria, que me segreda: “Sua calça está rasgada atrás...” Apalpo o grande estrago do prego da UNE e saio mais tonto. “Meu Deus... eu que imaginava os grandes festivais do socialismo com Lenin e Fidel, eu que era um herói, virei um bunda-rasgada!” Percebo que um Brasil ridículo, que sempre esteve ali, está vindo à tona. Ninguém quer me prender. Sou invisível. Vejo um ônibus que vai para minha casa. Me jogo dentro. Passo em frente a UNE e não quero olhar, pois sei que vou ver o fogo, bombeiros apagando. Não resisto, e o casarão preto passa, entre brasas e fumaça. Chego em casa, trêmulo. Minha mãe está com duas tias na sala. Uma delas, carola de igreja, que marchou pela Família, Deus e Liberdade me beija muito e diz: “Toma aqui essa medalhinha de Santa Terezinha do Menino Jesus pra te proteger!..” E pespega em minha blusa a santinha com uma fita vermelha. Meu desespero é indescritível. Minha mãe me abraça chorando: “Ele não é comunista, não!.. Ele é bom, bom! Está pálido, meu filho... Come esse bolinho de milho...” Fico olhando os bibelôs da sala, mastigando o bolo. Vejo os elefantes de louça, o quadro do Preto Velho, os plásticos nas poltronas, o lustre de cristal, orgulho de mamãe. E, afinal, entendo que minhas tias estão no Poder e que eu não existo. •

Arnaldo Jabor Jornalista e cineasta

jabor@valeparaibano.com.br

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No Brasil, as descobertas em energia colocam o país em um novo nível [...] A Petrobras cresceu no seu próprio ritmo impressionante ao longo de décadas, misturando o progresso com retrocessos enquanto o Brasil lutava com a arrastada dependência do petróleo estrangeiro. Mas as enormes descobertas da Pe-

trobras de petróleo no mar, nos últimos anos, permitem agora aos seus líderes afirmar que poderiam ultrapassar a Exxon Mobil – chamada de Standard Oil no dia a dia de Walter Link – como a maior companhia de petróleo do mundo [...]

Fonte: The New York Times

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