Revista valeparaibano - Agosto 2010

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Especial

por alguns minutos estivemos fora da sala de teatro e o pessoal dos bastidores trocou o cenário. Tudo muda na paisagem. O marrom dá lugar a pinheiros verdes e lá no fim do horizonte, que antes não dava nenhuma perspectiva de mudança, uma montanha com um pouco de neve no cume dá um norte. Estamos a 1.820 metros de altitude e a montanha chega aos 3.500 metros. Começamos a serpentear uma estrada que antes era reta como uma régua e logo o frio aumenta. Deixamos Winona e entramos em Flagstaff onde a Rota 66 é a avenida. Vencemos o primeiro deserto. Décimo dia De Flagstaff para Williams são apenas 70 km pela 66. Então pegamos outro rumo, entramos na HW-180 rumando para o norte, uma estrada linda cercada por pinheiros, e depois entramos na AZ-64 e subimos mais um pouco para chegar num dos lugares

HISTÓRIA Angel Delgadillo não aguentou ver sua cidade ‘morrer’ e criou uma associação para preservar a Rota

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mais bonitos do mundo, o Grand Canyon. São 446 kms entalhados pelo Rio Colorado expondo 2 bilhões de anos de história geológica. Sua largura chega a 25 km em alguns pontos e é visitado por 4 milhões de pessoas por ano. Antes de chegarmos à entrada no parque, desviamos para o aeroporto do Grand Canyon. Entramos num pequeno avião projetado especialmente para sobrevoar o local. Em 50 minutos é possível percorrer 160 km de algo indescritível. O Grand Canyon já era habitado por indígenas há milhares de anos, o primeiro artefato humano encontrado no local data de 12 mil anos atrás. Atualmente ainda moram na região índios das tribos Hualapai, Havasupai, Navajo, Hopi e Paiute. Sua redescoberta para o mundo foi em 1857, graças ao explorador Joseph Christmas, sendo que em 1919 foi criado o Grand Canyon National Park, administrado pelo governo americano. A medida que essa viagem avança, ainda

mais diante de algo tão grandioso e antigo, percebemos nossa insignificância perante o mundo. Fechamos-nos em pequenas realidades que às vezes se limitam a pagar contas e terminar o dia sem lembrar-se do que foi feito pela manhã. Aqui percebemos que nossos horizontes devem ser ampliados sempre que pudermos. Chegamos a Williams. Temos que rumar pela primeira vez para o leste na 66 e encontrar nosso hotel. Nossas almas estão lavadas para sempre com as imagens que vimos. Décimo primeiro dia Saímos bem cedo de Williams, no Arizona, com destino a Laughlin, em Nevada. A Rota 66 não passa por esse Estado, mas ela some entre o final do Arizona e a Califórnia, então para retomá-la é necessário fazer um desvio. O caminho guardava uma grata surpresa. O Arizona preserva a 66, e muito. A maioria das cidades cortadas pela estrada se orgulha e aproveita esse fato deixando seu nome nas avenidas principais que faziam parte do traçado original da Rota e abrindo lojas de souvenires e bugigangas para turistas. Desde Flagstaff, todos os municípios são assim. Isso só foi possível por causa de um homem chamado Angel Delgadillo, de 83 anos. Em 22 de setembro de 1978, a interestadual I-40 foi inaugurada a 25 km de distância de Seligman, por onde a Rota 66 passa. “Foi o dia em minha cidade morreu por 10 anos. Eu nasci aqui e vi isso acontecer. Quando lembro fico até perturbado”, diz Delgadillo. “Por todo esse tempo não tínhamos nem feijão para por no prato das nossas famílias, muitos foram embora. Em 18 de setembro de 1987 resolvi mudar essa situação. Convoquei os moradores que restavam aqui e falei que deveríamos preservar nossa história”. O barbeiro que herdou a profissão e a barbearia do pai, fundada em 1927, decidiu que era hora de tentar salvar sua cidade. Foi aí que ele fundou a “Historic Route 66 Association”, uma associação com o objetivo de resgatar a história e tentar fazer com que isso fosse um meio de vida para os moradores de Seligman. “No início, ninguém acreditava em mim. Quem iria acreditar num pequeno grupo de moradores de uma cidade no norte do Arizona? Então resolvi fazer sozinho e, em dezembro de 1987, o governo do Estado reconheceu nossos esforços. Estamos preservando a América, os valores do passado. Não somos um lugar com McDonald´s ou grandes redes de loja, somos uma cidade de famílias”, conta. Com a associação, Delgadillo arrecada fun-

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