Som e imagem: a comunicação no cinema

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52 Jack canta seu tédio por todos os anos serem iguais, alternando comicamente o tom do canto entre um grave imponente e assustador, se gabando de seu talento, e a suavidade sentimental de uma caveira triste e entediada, seu cão, Zero, acompanha tudo. Os trechos com canto assustador são acompanhados por um instrumental marcado, forte e incisivo, mas a música, nesses trechos cantados, parece mais importante que a imagem. A imagem é que acompanha a música. Ao subir um aclive no cemitério, a música com um suave arranjo de cordas, o canto e a paisagem intensificam juntas um sentimento de pesar emocionante. Jack é observado pela personagem que acompanha seus passos e sua expressão acompanha a tristeza do canto de Jack. A música e o canto com ganham andamento mais rápido e cadenciado quando Jack volta a cantar seus talentos horríveis, apesar de sua tristeza. Aparece o som de um saxofone fazendo um contraponto à melodia do canto, melodia que começa a ganhar destaque. Traços de tango, com uso de ataques de instrumentos de sopro, com destaque para o trompete, marcam viradas junto a tambores, aludindo ao tango e gerando uma certa comicidade, outro contraponto à imagem que gera humor. A música volta a ficar triste quando Jack declara não ser um esqueleto feliz. Nota-se muita gestualidade no personagem, uma característica de muitos protagonistas Burton. A melodia principal da canção retorna suavemente quando Jack caminha saindo do cemitério. A música muda, mas preserva a tristeza, mesmo com volume mais baixo, quando Sally aparece dizendo saber como Jack se sente. Ela caminha e coleta ervas venenosas para tentar matar seu mestre novamente, porque a mantem servil. A música continua como antes, criando um clima geral, mas sem muita interferência. As imagens falam por si, e a música volta a gerar um clima geral. Depois de uma elipse, Sally aparece guardando as ervar em um pote. De repente, Dr. Finkelstein aparece e, a música, inicialmente, climatiza medo, mas vai ganhando características que lembram música circense, com o som metálico da tuba e amadeirado do fagote. A voz grave e melodiosa do cientista também é fator interessante como contraponto à sua aparente bondade ou ingenuidade. Ele é solitário e parece apenas ter muito ciume de sua criatura Sally. A música volta à neutralidade ao som de cordas, mas mantém conformidade com o ambiente sinistro do laboratório do cientista. Ele parece compreensivo com Sally, mesmo ela tentando matá-lo três vezes, e costura de volta o braço dela. Jack caminha pensativo por uma floresta sinistra. A música do laboratório continua. Seu cão, Zero, quer brincar. Jack exita.


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