Comunicação

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1) tinha acabado de ler um livro; 2) o livro era um romance policial; 3) o romance foi escrito por Fred Vargas; 4) a autora é francesa; 5) o livro é interessante. Da ligação com a conjunção adversativa “mas” decorre a informação implícita de que todos

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os romances policiais franceses são chatos. Observe-se que os conteúdos postos (explícitos) se constroem sobre os pressupostos. Se o autor não julgasse que os romances policiais franceses são chatos, não haveria nenhum sentido em notar que esse policial é francês e é interessante.

Analisemos agora os subentendidos. Em discurso proferido na Festa da Uva, em Caxias do Sul, o presidente Lula disse: - Vocês sabem que no Palácio da Alvorada, todas as recepções que nós damos são com vinho brasileiro. E, obviamente, que, de vez em quando você vê gente de outro país botar na boca e não sentir o mesmo gosto que sente se ele antes passou na França para tomar um vinho francês de qualidade. (O Estado de São Paulo, 18/6/2006) O que o presidente deixou subentendido é que o vinho brasileiro não é de boa qualidade. O subentendido é uma informação implícita veiculada por um falante, cuja atualização depende da situação de comunicação. Qual é a diferença entre o subentendido e o pressuposto? Este é indiscutível tanto para o falante quanto para o ouvinte, pois decorre necessariamente de um marcador lingüístico. Já o subentendido é de responsabilidade do ouvinte. O falante pode refugiar-se atrás do sentido literal das palavras e negar que tenha querido dizer aquilo que o ouvinte inferiu.

No caso do presidente Lula, quando alguém lhe declarasse que ele afirmara que os vinhos brasileiros não têm boa qualidade, ele poderia simplesmente dizer que apenas estava constatando que as pessoas sentem que têm um gosto diferente daquele do vinho francês. No entanto, na situação de comunicação, em que o presidente formulou esta constatação (um almoço oferecido por produtores de vinho, em que afirmou que nas refeições oficiais do governo brasileiro só se serve vinho brasileiro e notou que as pessoas sentem um saber diferente do vinho francês de qualidade, quando provam a bebida servida no Palácio, podese perfeitamente inferir que o presidente não tem em alta conta o produto nacional. No caso, certamente se trata de um deslize no improviso da fala, mas o subentendido é utilizado, argumentativamente, para que o falante diga alguma coisa sem comprometer-se, pois ele apenas sugere, dize sem dizer. O pressuposto é uma inferência que não depende do contexto, enquanto o subentendido está ligado à situação de comunicação em que o ato de fala é produzido. A insinuação e a alusão são dois tipos de subentendidos. O primeiro é um implícito maldoso (por exemplo, em “X cuida muito bem de seu dinheiro, conseguiu, depois que entrou na política, aumentar seu patrimônio vinte vezes”, está-se insinuando que X é corrupto, mas o falante pode dizer que está apenas fazendo uma constatação objetiva e tirando a conclusão de que X é um bom aplicador de seu dinheiro)

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