Livro 2 - Modelo de Organização do Cooperativismo Solidário

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Livro II: Modelo de Organização do Cooperativismo Solidário


Programa Nacional de Educação do Cooperativismo Solidário Formação e Aprimoramento de Estratégias Organizacionais do Cooperativismo da Agricultura Familiar e Economia Solidária

Modelo de Organização do Cooperativismo Solidário

Ação 2 - Elaboração de Temática: Modelo de Desenvolvimento Cooperativismo Convênio 001/2013 - UNICAFES/SESCOOP

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União Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária U58m Modelo de Organização do cooperativismo solidário. / União Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária. – Brasília: UNICAFES/SESCOOP, 2013. 36 p. 1. Cooperativas. 2. Planejamento. 3. Gestão participativa. 4. Governança cooperativa. I. Título. CDD – 334 Ficha catalográfica: Paulo Rogério de Mendonça – CRB 9/1.335


Editorial UNICAFES NACIONAL - União Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária. Diretoria Executiva Presidente: Luiz Ademir Possamai (PR) Vice-presidente: Bárbara Paes de Lima (PE) Tesoureiro: Silvio Ney Barros Monteiro (TO) Secretário Geral: Valons de Jesus Mota (GO) Secretário de Formação: Armindo Augusto dos Santos (MG) Secretaria de Mulheres: Célia Santos Firmo (BA) Secretaria da Juventude: Jacionor Ângelo Pertille (RS) Elaboração M.P - Guimarães - ME: VITA CRED - VITA EDUC Organização Alcidir Mazutti Zanco Revisão Marisângela Pinto Guimarães Projeto gráfico www.arteemmovimento.org Ilustração Santiago Contepomi Coordenação de arte Patrícia Antunes Impressão Sergipe Soluções Gráficas Ltda-ME Tiragem 1.000 exemplares Brasília, janeiro de 2014. 3


"A sociedade atual fundamenta-se em oportunidades e desafios. Neste cenário, creio que a melhor afirmação para definir o alcance das práticas cooperativas em face dos limites do mundo neoliberal é a seguinte: "Não podendo tudo, a prática cooperativa pode alguma coisa". Esta análise recusa o otimismo ingênuo, mas conscientiza de que um outro mundo é possível" "A sociedade necessita passar por um processo de transformação, está claro que não temos receitas prontas e que talvez ninguém tenha certeza do que possa ou deva ser feito, mas o cenário aponta para a necessidade urgente de ressignificação social e econômica da sociedade e o cooperativismo é uma fonte viva, na qual todos podem construir abrigo e alimentar seus projetos". "Assim como não existem receitas para os desafios sociais, inexiste um diagnóstico de que a mudança não acontecerá. Mas, as mudança da sociedade depende de decisões, de apostas, de cooperação, as decisões estão na mão das pessoas, assumir essa iniciativa é a grande missão das lideranças".

União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária

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Sumário Livro II: Modelo de desenvolvimento do Cooperativismo Solidário Fundamentação | Tema Gerador: Modelo de Organização

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1.1 - Cenário macro organizacional

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1.2 - Processos de gestão organizacional

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1.3 - Modelo de organizacional do Cooperativismo Solidário

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1.4 - Desafios do modelo solidário

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1.5 - Estratégias para fortalecimento deste Modelo Organizacional

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Problematização | Modelo de Organização e Cooperativas Solidárias

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Gestão Participativa

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Gestão Financeira

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Gestão Contábil

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Gestão de Colaboradores

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Gestão de Quadro Social

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Interação | Reflexão a partir de temáticas locais

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Multiplicação | Estratégias para multiplicar o conhecimento

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Livro II: Modelo de Organização do Cooperativismo Solidário "Todo modelo organizacional possui fundamentos e diretrizes existenciais".

O Cooperativismo da Agricultura Familiar e Economia Solidária articula, define e organiza as iniciativas a partir de fundamentos participativos, solidários e inclusivos. Essas diretrizes são construídas de maneira horizontal e fortalecidas pela interação entre associados, cooperativas e centrais. Aprofundar os fundamentos deste modelo de organização, e enriquecê-los é um desafio a ser enfrentado pelas lideranças. Somente com processos de análise e reflexão sobre os diferenciais solidários, se fortalecerá a "chama fundacional", para que esta, continue iluminando a vida das lideranças que constroem e defendem estes diferenciais organizativos. 7


O modelo de organização do Cooperativismo, constrói suas iniciativas em constante enfrentamento aos modelos neoliberais. Para garantir autonomia das pessoas que defendem esta causa é essencial o "reconhecimento e consciência" sobre estes diferenciais, pois a "vivência superficial" deste modelo, diminui a força doutrinal que sustenta a cooperação, podendo gerar confusão nos cooperados e consequente enfraquecimento dos potenciais presentes nas cooperativas. Para ampliar a força das lideranças na governança deste processo é essencial aprofundar a consciência sobre a dimensão estratégica, política e técnica das cooperativas, "construindo jornadas cooperativas", nas quais a formação não pode ser vista e praticada como um mero repasse de conteúdos ideológicos, mas como mecanismo para reposicionar as lideranças no enfrentamento real às problemáticas concretas das cooperativas.

"O Cooperativismo Solidário fundamenta-se na gestão social, prerrogativa que não é mera cópia da gestão empresarial. Iniciativa que não busca disputar com o capital, mas demonstrar que é possível articular uma nova “construção social” fundamentada em processos autogestionários participativos". Este caderno pedagógico aprofunda de maneira complementar a temática desenvolvida no caderno I: Modelo de Desenvolvimento, descrevendo sobre a temática: Modelo de Organização do Cooperativismo Solidário, resgatando os diferenciais solidários, como mecanismo de enfrentamento ao poder hegemônico, propondo análises para construção de alternativas com maior solidez organizacional. Desta forma, convida os participantes para realização de um processo de análise e investigação sob a gestão e governança aplicada no Cooperativismo Solidário, buscando sistematizar avanços e desafios, boas práticas e limites, casos de sucesso e problemas organizacionais. Os eixos desenvolvidos buscarão facilitar o reconhecimento dos valores e das controvérsias a respeito da gestão participativa nos empreendimentos solidários, procurando "salvaguardar" os diferenciais de "cooperação, solidariedade e autogestão". Em várias localidades verificam-se iniciativas que colocam em crise e dúvida a força deste modelo organizacional, assumindo posições contrárias as definições e diretrizes do solidário, no entanto, ao mesmo tempo verificam-se várias iniciativas de sucesso, com parcerias locais, regionais, governamentais e do terceiro setor, fatos que comprovam que este modelo organizacional pode ser bem sucedido, desde que as lideranças realizem processos permanentes de debate e fundamentação dos seus posicionamentos e decisões, diante da cooperativa e do mercado. 8


"O empoderamento social e econômico dos empreendimentos, depende do cenário social e econômico em que a iniciativa está inserida, mas as lideranças que "vivem" neste Cooperativismo Solidário são peças fundamentais para consolidação do sucesso destas organizações" Convivemos com o mundo ideológico do lucro e das sobras. O Programa de Educação deseja a alargar o conceito de “senso comum” e de “bom senso”, especialmente, no referente ao “modo de pensar cooperativo”, pois somente com líderes persistentes, poderemos continuar defendendo a bandeira do participativo na convicção de que outro mundo é possível.

“Antes de chegar ao poder as pessoas buscam ser ‘dirigentes’: mas quando se alcança o poder, facilmente se tornam "dominadores”, sendo arrebatados pela onda dos lucros imediatos. Essa onda deve ser controlada". (Gramsci) Neste modelo organizacional as lideranças são responsáveis pela gestão das cooperativas, atuando como “cérebro pensante”, na articulação da base social para fazer pressão de baixo para cima, na construção da “força transformadora", por isso é essencial que as lideranças tenham claro o modelo de organização que defendem. Caso contrário, como o Cooperativismo é um sistema autônomo e livre, facilmente as cooperativa podem se perder diante das escolhas e pressões que sofrem cotidianamente, "consciente ou inconscientemente".

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Fundamentação Tema Gerador: Modelo de Organização

1.1 Cenário macro organizacional As organizações presentes no século XXI fundamentam sua matriz organizacional na definição de estratégias, processos e resultados. Esses eixos viabilizam a execução de princípios, valores e metas. A aplicação correta da gestão e dos processos, criam na organização uma visão sistêmica do conjunto de interrelacionamentos, norteando as possibilidades de sucesso organizacional. 10


Existem vários modelos organizacionais presentes na sociedade neoliberal, nesse pressuposto, concentra-se na análise de dois modelos que se destacam: o capitalista concentrador que possui como objetivo ganhar mais, e "outro" que busca inclusão sustentável e respeito a diversidade social, ambiental, cultural e a identidade regional, em síntese "outra economia", pautada na autonomia, no fortalecimento das dinâmicas locais, nas relações de proximidade e no protagonismo social. Neste caderno será aprofundado a diferenciação entre gestão social e tradicional, destacando que a gestão social é vista como alternativa à visão tradicional de governança, não necessariamente oposta, mas diferente, sendo reconhecida como um modo especial de organizar e gerir os empreendimentos. O modelo de gestão tradicional segue os parâmetros do lucro, replicando as máximas do sistema capitalista, modelados pela tradição positivista, que tem seu foco de pensamento assentado na visão utilitarista e desenvolvimentista. A gestão social é voltada nas pessoas, seu foco não é estritamente econômico, mas a promoção de modelos decisórios emancipatórios, por meio de práticas sustentáveis, participativas que privilegiem o desenvolvimento social.

"Muitos consideram este modelo de organização uma utopia, por apresentar visão que vai de encontro aos excluídos, não pautando-se simplesmente no lucro como máxima organizacional. Muitos a consideram uma mediação entre a consciência e a realidade, uma forma de fugir do capital". O cenário global convive com intensas transformações no setor econômico, social, político, tecnológico e ambiental. Essas mudanças têm gerado enorme instabilidade social, principalmente no campo econômico onde a revolução tecnológica, a transnacionalização das empresas, a flexibilização do trabalho e das relações, entre outras, provocaram a reestruturação produtiva, mas não provocam mudanças na lógica de atuação e o foco continua na eficiência e no lucro. Esse mundo neoliberal justifica todas as suas ações na sustentabilidade. Várias empresas possuem como slogan publicitário, emblemas e chavões como: inclusão, democracia, participação e emancipação. Contudo, quando se realizam análises mais precisas, verifica-se que estes chavões são meros artifícios para legitimar os princípios da lucratividade. Esse capitalismo busca se impor como sistema mundial infalível. E essa afirmação precisa ser enfrentada.

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"Como método de enfrentamento ao capital desumanizador, a humanidade geralmente apresenta “alternativas de concorrência", quando na realidade deveria apresentar métodos de reforço às novas estratégias fundamentais como, alternativas, autônomas e sustentáveis para a vida da humanidade". A vivência pela busca desenfreada ao capital mostra sua inviabilidade em diversas dicotomias presentes na modernidade: centro/periferia, homem/mulher, riqueza/pobreza, bem como, entre as diversas raças, etnias e classes. Sendo assim, não precisamos elaborar um projeto de negação ao capitalismo, mas precisamos construir propostas que provoquem alternativas para "Além do Capital", numa “Filosofia” pautada na promoção do desenvolvimento sustentável. Os modelos organizacionais presentes na sociedade, causam uma preocupante situação de desigualdade econômica entre as populações continentais e a acelerada degradação das condições naturais básicas e necessárias à sobrevivência planetária (água, ar e energia), colocando em xeque a continuidade, do atual modelo de desenvolvimento da humanidade.

"O homem é a única criatura que pensa sobre possíveis mudanças no meio ambiente, sendo necessário garantir espaços para que as pessoas, com democracia, possam desenvolver processos de construção conjunta".

1.2 Processos de Gestão Organizacional Os processos de gestão podem ser definidos como uma filosofia que visa planejar, organizar, implementar, avaliar e controlar a performance de uma organização, buscando melhorar a qualidade de vida dos participantes, a eficiência dos processos, a eficácia das ações, o aumento da produtividade e o desempenho qualitativo dos serviços, tendo como premissas a sustentabilidade organizacional. A gestão investe na melhoria do clima organizacional, no aprimoramento dos recursos técnico-operacionais, na maximização dos resultados, na profissionalização e qualificação da mão de obra e na real rentabilidade econômica. A gestão capacita a cooperativa a julgar, decidir e agir, qualificando e auditando o desempenho. 12


Esse processo desenvolve competências diretivas, promove sinergias, elabora políticas e diretrizes para aprimoramento organizacional. A aplicação correta do conceito de gestão, cria na organização uma visão sistêmica de todo o conjunto de interrelacionamentos, fornecendo decisões positivas.

1.3 Modelo organizacional do Cooperativismo Solidário O modelo organizacional do Cooperativismo Solidário, busca conciliar a necessidade de desenvolvimento econômico com a promoção do desenvolvimento social, fortalecendo relações de proximidade com as pessoas e ampliando relações de descentralização e autonomia das lideranças, gestores e multiplicadores destes processos participativos e democráticos. As pessoas que fazem parte deste Cooperativismo são empoderados e desafiados a vivência e defesa de processos governança participativos e autônomos, focados na construção local e regional de processos transformadores. Essa diretriz é fundamentada na defesa de que todas as pessoas podem construir um mundo diferente, fato vital para vida social.

"Somente com participação ativa da sociedade acontecem condições para definição de políticas centradas no desenvolvimento. A participação social viabiliza aprovação de Leis que permitam e obriguem os Governos a terem compreensão clara das necessidades da população". O Modelo de Organização do Cooperativismo Solidário, defende que os "diferentes necessitam ser tratados de forma diferente", sendo necessário pressupostos adequados para promover este processo, para tanto é importante que as cooperativas se organizem de maneira diferente, para que as pessoas diferentes, antes excluídas, possam se fortalecer e não simplesmente servirem de "pilastra" para que outras alcancem sucesso. Em 2012 vivemos o Ano Internacional das Cooperativas, no entanto construíram-se poucos avanços estruturais. Em 2014, viveremos o Ano Internacional da Agricultura Familiar, para que o mesmo negativismo não se repita, as iniciativas deste segmento necessitam construir estratégias para defesa de políticas estruturantes para fomento e consolidação deste segmento. 13


"Todas mudança de rumo, exige que abandonemos ilusões, e, assumamos a nossa história, reconstruindo nossa realidade em co-responsabilidade e compromisso com as transformações sociais". A sociedade vive um momento de crise de modelos, os setores excluídos necessitam aproveitar este momento para construção de propostas de reformulação estruturantes. Esta percepção deve ser partilhada por todas as organizações do terceiro setor, buscando a construção de estratégias para maior soberania social. As organizações que seguem esta linha, ainda por não perseguirem objetivos econômicos, tem o econômico somente um meio para se atingir outras finalidades, tendo como pressuposto a emancipação organizativa. Em síntese, esse modelo organizacional fundamenta suas ações na tomada de decisão coletiva, sem coerção, com processos transparentes e autogestionários. Para que as pessoas possam ajudar a transformar a humanidade é preciso que tenham acesso e propostas de empoderamento. No entanto, hoje se convive com problemas fundamentais como o reino do dinheiro e o aumento do poder do Estado, gerando submissão cada vez mais clara de todas as nações à "lei do mercado mundial onde tudo se compra e tudo se vende”.

1.4 Desafios do Modelo Solidário Os modelos de sociedade sempre foram legitimados por disputas entre civilizações. Neste sentido, a história da humanidade tem sido contada a partir de conflitos entre "grupos", com diferentes modelos ideológicos, políticos e religiosos, quase sempre fundamentados por interesses econômicos. Nos tempos modernos, sob a ótica da expansividade política e da hegemonia econômica, esses conflitos são prospectados por novos mecanismos, mas a luta pelo domínio da massa continua forte em todos os setores da sociedade. O Brasil teve sua história marcada pelo autoritarismo e pela centralização. A permanência da colonialidade, mesmo após o fim do colonialismo não permitiu o nascimento do cidadão cooperativo. Esses desafios organizacionais fundamentaram a busca por uma gestão social baseada nos valores da democracia, com uma estratégia de humanização para promoção do desenvolvimento. O processo de democratização trouxe consigo a inserção de alguns mecanismos de participação cidadã. O enfraquecimento das funções provedoras do Estado, bem como, o fortalecimento da sociedade civil foram 14


apresentados como solução para a democratização e diminuição da exclusão social. No entanto, nunca aconteceram avanços na reorganização estrutural e no modelo de desenvolvimento. Para se avançar na construção de um outro modelo de organização, pautado na gestão social como alternativa à gestão tradicional é necessário trazer a tona as estratégias excludentes dos outros sistemas, buscando ampliar a visão de gestão para além do desenvolvimento econômico, representando "uma estratégia de inclusão" das grandes maiorias, excluídas da sociedade.

"Os grandes desafios do Cooperativismo Solidário é desenvolver ferramentas para organização, geração de renda, "libertação" das classes que foram excluídas do modelo neoliberal. Um contra discurso, que navega contra maré, na contra mão da história" No modelo organizacional cooperativo, o principal desafio é gerar diretrizes que provocam a interação entre cooperados e co-responsabilidade com os direitos e deveres. O Neoliberalismo prega o individualismo como regra máxima para a realização. O Cooperativismo prega a união como regra máxima para a realização, compreender e responder as estas diferenças é um desafio permanente dos processos participativos, democráticos e diretivos.

1.5 Estratégias para fortalecimento deste Modelo Organizacional As cooperativas solidárias se configuram como um instrumento importante para se alterar o ambiente social e econômico de muitas regiões do Brasil. Esse modo de organizar e praticar o Cooperativismo pode fortalecer o desenvolvimento sustentável e solidário, articulando iniciativas econômicas que ampliem as oportunidades de trabalho, de distribuição de renda, de produção de alimentos, melhoria de qualidade de vida e erradicação da miséria. Para tanto, destacam-se alguns pontos que devem ser defendidos pelas lideranças: • Defender junto aos gestores públicos, o reconhecimento das cooperativas. Esse reconhecimento é de suma importância para garantir a permanência, fomento e fortalecimento desse sistema na promoção do desenvolvimento. • Articular em nível local e estadual a elaboração e regulamentação de Leis e Programas para fortalecimento das cooperativas, abordando setores de formação, gestão, fiscal, investimentos para consolidação de iniciativas cooperativas. 15


• Desenvolver programas internos para maior participação social, com ações formativas e interativas, ampliando o reconhecimento e legitimidade da cooperativa diante da base associada e da esfera externa. • Construir parcerias de espaço, logística, produtos, industrialização, recursos humanos, com organizações locais e regionais para aprimorar relações junto aos cooperados, viabilizando redução de custos e agregação de valor. • Comemorar e divulgar junto a sociedade, o Dia do Cooperativismo, articulando o maior reconhecimento deste segmento, através de parcerias com meios de comunicação e outras instâncias de articulação regional.

"A organização social e econômica destaca-se como um instrumento imprescindível para ativação do desenvolvimento, sendo essencial um trabalho de conscientização e fomento deste modelo de organização".

Esse modelo organizacional fundamenta-se na Agricultura Familiar, sendo necessário elaborar e aprovar políticas de valorização deste segmento. Esse diferencial necessita ser fortalecido para que essa alternativa organizacional ganhe maior visibilidade e reconhecimento diante da sua missão de interesse público, bem como, pelas ações promovidas em torno do desenvolvimento.

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Problematização Modelo de Organização e Cooperativas Solidárias

O Cooperativismo Solidário fundamenta seus processos de organização, na gestão democrática e participativa, pautando-se em diretrizes de relações de proximidade e autogestão, princípio que demanda constante processo de educação para qualificação e aprofundamento das diretrizes organizacionais e capacitação dos cooperados e das lideranças que coordenam as iniciativas. Neste módulo formativo é importante que as lideranças reflitam sobre as necessidades das cooperativas, diante da organização, controle, tecnológicas e inovações que possam facilitar as decisões e a busca por resultados positivos na organização, produção, comercialização e gestão das cooperativas. Autogestão é um modelo de organização onde todos participam das decisões e dos resultados, extinguindo a autoridade burocrática. Esse sistema não segue determinações. As decisões dependem do reconhecimento e aceitação dos associados.

"A autogestão pressupõe de seus representantes um espírito de coletividade, para incentivar e justificar a tomada de decisão em grupo. A autogestão possui alguns aspectos que demarcam a construção social, com busca de consenso entre os sócios e distribuição mais equitativa dos resultados". Gutierrez. 17


No Brasil não existe uma cultura autogestionária que dê suporte às pessoas que se vinculam a esses empreendimentos. Prevalece a cultura do capitalismo concentrador e individualista. Para superar os limites do sistema é necessário ampliar processos de "qualidade cooperativa" fortalecendo a gestão organizacional priorizando algumas linhas que fazem parte das ações cotidianas:

Gestão participativa Essa estratégia prevê desenvolvimento de ações para maior participação dos cooperados na gestão das cooperativas, pautando-se na máxima de que o processo diretivo, para ser efetivo e eficiente, tem que ser participativo, ou seja, não se pode prescindir das ideias e ações das pessoas que os cercam. Participar não é uma iniciativa natural nos modelos administrativos convencionais. Muitos paradigmas mantêm trabalhadores alienados em relação ao controle de seu trabalho e a gestão da organização. Para vencer estas concepções o papel da liderança é fundamental para constituição de um ambiente adequado, eliminando os obstáculos e criando alicerces sólidos para a relação social.

“As únicas coisas que evoluem por vontade própria em uma organização são a desordem, o atrito e o mau desempenho, resultados positivos dependem de iniciativas motivadas e coordenadas pelas lideranças.” Peter Drucker. Uma liderança solidária vive os objetivos que orientam e fundamentam a instituição. Entende a dinâmica das instâncias que o circundam e vivencia com as mesmas de maneira autônoma, com posicionamento, persistência, humildade, interação, com a certeza de que as suas ações por menor que sejam, ajudam a construir um mundo melhor. Entender a importância destas relações e como elas podem contribuir para o sucesso das cooperativas é fundamental.

"As Cooperativas Solidárias em sua maioria são geridas por lideranças comprometidas, que dedicam de forma quase que inexplicável, parte do seu tempo para este empreendimento. Essa cultura de cooperação é fundamentada pela compreensão e compromisso, mas o reconhecimento social e financeiro é uma máxima que necessita ser repensada junto aos associados.” 18


No Brasil, a cultura da gestão, especialmente entre organizações sociais, não é difundida devido ao receio da mesma ser comparada com uma empresa privada, mas esse pensamento necessita ser revisto. A cooperativa é uma empresa coletiva e precisa ser bem gerida para ter credibilidade e legitimidade. A gestão das cooperativas necessita priorizar uso de práticas coerentes com as características da organização e do ambiente onde ela está inserida. De nada vale fazer uso de tecnologia gerencial, se as práticas não estejam relacionadas com as características do seu contexto e do seu cooperado. A prática da gestão de uma cooperativa envolve alguns aspectos: • Em primeiro lugar é preciso saber porque a organização precisa ser administrada. No atual mercado, denominado globalizado, a sobrevivência de grande parte das organizações depende de seu poder competitivo ou da capacidade dessas organizações se adaptarem às realidades ou contexto. • Em segundo lugar é preciso conhecer a organização cooperativa, suas características internas, saber o Sistema de onde ela faz parte, conhecer também as diferenças entre cooperativa e outros tipos de organizações. No processo de administração da cooperativa, os dirigentes, precisam ter consciência de que a organização é, ao mesmo tempo, uma associação de pessoas e uma empresa. • Em terceiro lugar o aspecto mais importante na gestão cooperativa é o conhecimento do ambiente econômico onde está inserida. É importante conhecer o ambiente, pois, em função de suas características são adotadas determinadas práticas no sentido de eliminar os efeitos negativos ou aproveitar as oportunidades.

"As variáveis econômicas influenciam muito o resultado das organizações. A cooperativa que não estiver atenta para esses aspectos pode perder o seu associado. E perdendo este, perder a necessidade de existir". O principal desafio das cooperativas é a legitimação diante do quadro social. Apesar de ser proprietário, muitas vezes o associado não se sente como tal. Outro desafio que se apresenta às cooperativas é a capitalização e a fidelidade do associado. A participação do conjunto dos associados é importante, sendo essencial para o sucesso da organização diante do setor produtivo, social e comercial.

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"Uma cooperativa sem participação revela, quase sempre, que os interesses pessoais sobressaem sobre os interesses coletivos. Isso ocorre, muitas vezes, dado à ausência de iniciativas que provoquem esta participação". Na gestão participativa, o desafio da sustentabilidade envolve não só o levantamento e a adequada utilização de recursos financeiros, implica investir no desenvolvimento das pessoas que fazem parte da organização, melhorar a qualidade dos serviços e adequá-los às necessidades das comunidades, buscar a adesão da sociedade à causa da organização e informar de forma transparente. A gestão participativa é fundamentada nas relações de proximidade, nas estratégias desenvolvidas em torno da participação democrática e na maneira como os diretores socializam as estratégias de gestão da cooperativa. Os princípios cooperativos fundamentam a vida de todas as cooperativas, mas a forma de colocá-los em prática depende da iniciativa, formação e dinamicidade das lideranças.

Gestão financeira A gestão participativa provocada pelos processos de autogestão necessita estar amparada em fundamentos sólidos, e a gestão financeira é inerente a este processo, sendo um instrumento importante para viabilidade organizacional. O setor financeiro é amparado por ferramentas de controle e mecanismos que facilitem a gestão do empreendimento (software administrativo) assim como, instrumentos de controle financeiro, como custo de produção, formação dos preços, capital de giro e desenvolvimento social. As cooperativas geralmente possuem meios administrativos centralizados e com o "menor custo possível", no entanto, este setor precisa ser repensado, pois além de prioritário, o mesmo agrupa áreas como: marketing, produção e recursos humanos, setores que fazem parte do cotidiano, seja no controle de recursos ou em aplicações estruturais. O bom controle financeiro facilita o acesso às informações que viabilizam escolhas fundamentadas para atividades operacionais e estratégicas. 20


“A administração da área financeira é fundamental para responder de forma eficaz, perguntas fundamentais: Qual é o mínimo que a cooperativa precisa gerar para ser viável? Qual o mínimo que necessita priorizar no fortalecimento da relação social? Quais serão as possíveis sobras?” Kaminski. Destacam-se alguns conceitos que todo líder necessita dominar e prever: Receita: São todas as entradas do mês. Custo variável: Gastos que variam na mesma proporção que as vendas. Despesa fixa: Custos permanentes vinculados a manutenção da cooperativa. Investimentos: Aplicações com objetivo de agregar valor e diminuir custo. Sobras: Diferença entre todas as entradas e saídas.

"O bom empreendedor deve fazer sempre três previsões: otimista, realista e pessimista. "O mesmo precisa ser otimista, mas deve se preparar de maneira realista para as possibilidades e para a previsão pessimista". Para boa gestão cooperativa é fundamental a implantação um sistema de informações gerenciais, que possibilite aos diretores conhecer a situação financeira da cooperativa e facilite decisões adequadas. Mas a gestão financeira requer mais do que implantar ferramentas de controle financeiro é necessário obter informações que ajudem a cooperativa ser melhor. Destacam-se alguns pontos: • Ter um planejamento administrativo. Saber qual é o seu ponto de equilíbrio, ou seja, o mínimo que a cooperativa precisa vender para não operar com prejuízo. • Conhecer os custos fixos e variáveis para conseguir formular o seu preço de venda com coerência, socializando os resultados de maneira transparente. • Descobrir a margem de contribuição por produto para saber qual produto está contribuindo mais para pagar seus custos fixos, priorizando iniciativas. • Ter certeza se a cooperativa está operando com sobras, e se a sobra está de acordo com o ramo de atividade que ela atua e o plano da cooperativa. • Gerir as contas com ciência sobre as entradas e saídas, reconhecendo financeiramente as datas críticas do mês, antecipando-se nas decisões. 21


• Conversar com seu contador para saber qual é a melhor forma de tributação para a cooperativa evitando custos ou pagamento de tributos desnecessários.

"Sua cooperativa possui um planejamento financeiro? Como realizam-se os processos de controle interno? São realizados momentos permanentes de análise dos resultados e redefinição das metas institucionais?" Para fazer uma gestão financeira de qualidade é importante que as lideranças tenham claro o significado de administração e a missão dos diretores. Em geral, a administração tem como finalidade fazer acontecer a missão da cooperativa, atendendo os objetivos dos associados, enfrentando desafios e oportunidades diante dos associados e das relações comerciais.

Gestão Contábil A Contabilidade é uma ferramenta indispensável para a gestão das cooperativas. Os procedimentos contábeis vão além do simples cálculo de impostos e atendimento de legislações comerciais, previdenciárias e legais. Vão além da alimentação e manutenção de estrutura de informações como: livro diário, razão, inventário, conciliações, etc. Informações relevantes podem ser desperdiçadas, quando a contabilidade é encarada como mera burocracia. Importante que as cooperativas aprofundem sua forma de trabalhar os diferenciais da contabilidade cooperativa, a questão do enquadramento tributário dos diversos ramos e os procedimentos que podem ser desenvolvidos através do Ato Cooperativo. Para que a contabilidade se mantenha atualizada e conciliada com a realidade da cooperativa, pressupõe-se alguns itens: • Contas bancárias devidamente “fechadas” com os respectivos extratos, sendo as diferenças demonstradas de modo a não afetar o regime de competência. • Provisões de encargos, férias e salários, com base em relatórios detalhados do departamento de recursos humanos. • Depreciações e amortizações, contabilizadas com base em controles do patrimônio; Registro dos tributos gerados concomitantemente ao fato gerador. 22


Gestão de Colaboradores Nas cooperativas solidárias os colaboradores são chamados a fazer parte da cooperativa, em muitos casos prestam serviços como associados, intensificando a importância da gestão dos colaboradores. Importante que toda cooperativa possua parâmetros para definir perfil e papéis dos colaboradores, destacando a necessidade de ampla formação política e organizacional, com foco na ocupação de espaço adequado e definição de posicionamentos pertinente aos colaboradores. Na gestão participativa as lideranças também ocupam cargos de direção, cabendo aos colaboradores apoiar neste processo, podendo opinar e sugerir, mas nunca, intervir ou sombrear as decisões das lideranças. Destaca-se a necessidade de saber interferir em momentos oportunos, visando maior empoderamento das lideranças, com exercício pleno das atividades delegadas pela governança.

"Importante que todas as cooperativas construam um plano de cargos e salários, buscando integrar perfil e diretrizes dos mesmos na dinâmica cooperativa, estabelecendo atividades pautadas na confiança, resultados e confiança entre Conselheiros, Diretores executivos e Colaboradores". A confiança faz com que os perfis habilidades e talentos apareçam. Os colaboradores fazem parte da cooperativa, e necessitam ser incluídos de maneira co-responsável. Esse fato será fortalecido se os diretores tiverem autonomia e empoderamento nos processos técnicos e administrativos, para decidir, descentralizar e verificar os resultados destes processos de interação social.

Gestão do Quadro Social A gestão de pessoas consiste na maneira pela qual a cooperativa se organiza para gerenciar e orientar o comportamento humano. O Cooperativismo Solidário fundamenta-se nas relações de proximidade. A gestão do quadro social é fundamental para o sucesso cooperativo, sendo importante que a cooperativa desenvolva instrumentos para relação, informação, motivação, participação e transparência junto ao quadro social. O primeiro passo para ter boas relações com o quadro social é conhecer bem os associados, saber quais são as oportunidades e desafios que enfrentam. 23


Assim, a direção poderá construir estratégias para elevar o desempenho do "time num todo". No mundo dos negócios, a importância do comportamento humano está assumindo cada vez mais espaço nas diversas fases organizacionais. É relativamente fácil perceber no dia a dia das organizações que a cultura organizacional recebe influência do modelo de gestão de pessoas. Nas organizações, as pessoas que trabalham em determinadas áreas ou profissões são considerados seres humanos diferentes dos outros.

"As cooperativas solidárias defendem um modelo de gestão emancipadora, fundamentada numa abordagem crítica da organização, de seus métodos e de suas práticas. Baseada em valores éticos e na realização pessoal e social dos indivíduos. Neste espaço todos são importantes". Habermas. A estrutura ou modelo organizacional delineia as características do modelo de gestão de pessoas, por isso, o processo interação deve incentivar a visão sistêmica da organização, prevendo estratégias para participação e empoderamento social, com maior envolvimento dos associados com as decisões da cooperativa.

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Interação Reflexão a partir de temáticas locais

A governança das cooperativas é formada por diversos setores organizacionais que vinculam recursos humanos, projetos e financeiro. Para que a governança social tenha resultados é importante que sejam estabelecidas diretrizes que fortaleçam estas vertentes, tornando a ação harmônica e equilibrada. Para equilibrar esta balança um dos pontos que exige maior cuidado é o princípio da dupla qualidade. Neste, o cooperado ao mesmo tempo é dono e usuário. 25


O dono e o usuário nem sempre tem as mesmas pretensões, encontrar um meio termo para este desafio, e para essa oportunidade, é uma arte que exige maestria. Como é trabalhado o planejamento da sua cooperativa? A gestão de uma cooperativa possui uma complexidade muito maior do que a das empresas não cooperativas. Para que a dupla qualidade do cooperado permaneça em harmonia, é necessário a adoção de métodos adequados de gestão, garantindo que o conjunto cooperativa - cooperados atinja seus objetivos. Uma das dicas é encontrar equilíbrio entre os dois aspectos vitais: o social que valoriza a pessoa e o econômico que fortalece a dinamicidade organizacional.

Que ações sua cooperativa desenvolve para fortalecer a base social. A ação social pode ajudar a vencer os desafios econômicos?

Atualmente a "cooperação" é uma palavra importante nas estratégias capitalistas, pois as empresas utilizam muito este slogan para ganhar simpatizantes. Nas cooperativas, essa deveria ser uma máxima organizacional, no entanto, ainda verifica-se muita concentração, a direção e o controle sempre acabam centralizados nas mãos do presidente ou dos técnicos.

Como está a gestão organizacional da sua cooperativa? A autogestão acontece de maneira sustentável?

"Administrar é saber interpretar tendências e desafios contemporâneos, e estar sempre à frente dos acontecimentos... Administrar é desenvolver recursos humanos para a cooperação, portanto, administrar é educar".

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O sucesso cooperativo à custa da insatisfação dos cooperados é sinal de que os objetivos estão sendo distorcidos: o econômico sim, o social não. Na gestão participativa, um dos principais desafios é qualificar os processos diretivos. O desafio é colocar as pessoas no centro das preocupações da cooperativa, pois os maiores entraves à sua atuação não são apenas de ordem técnica, mas envolvem relações de poder e dominação, conflitos entre grupos heterogêneos que podem reproduzir, dentro da organização, um modelo de desigualdade.

Na sua cooperativa todos os associados são tratados da mesma maneira? Por que existem diferenças? Essas desigualdades são necessárias? Como a cooperativa é uma empresa coletiva com muitos proprietários, é imprescindível que sua administração seja transparente. O desenvolvimento da confiança mútua entre os associados e a diretoria, só se concretiza quando existe transparência nas ações executivas, e nas demonstrações dos resultados.

Que ações a sua cooperativa transparência?

desenvolve para demonstrar

Neste enfoque, as cooperativas solidárias são levadas a um impasse: de um lado há a necessidade do seu fortalecimento para sobreviverem e se destacarem dentro deste ambiente altamente competitivo; de outro, está a dificuldade de desenvolver uma gestão competente sem a racionalidade instrumental. Que ações vossas cooperativas desenvolvem para enfrentar este questionamento?

Como conjugar o caráter solidário com o caráter competitivo na gestão das Cooperativas Solidárias? Como ser sustentável no cenário capitalista?

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"A filosofia autogestionária fundamenta-se na participação social e na gestão democrática, a mesma não substitui as ferramentas de gestão, mas busca colocá-las nas mãos corretas". Carrion. As diretrizes institucionais são ferramentas para fortalecer o modelo organizacional do Cooperativismo Solidário. No processo de interação é importante que os cooperados reflitam sobre a forma de concretização das diretrizes. Destacamos os artigos vinculados diretamente ao modelo organizacional. • Educação: "Organização Social" - O Cooperativismo Solidário fundamenta sua estratégia de governança na autogestão, modelo de gestão que as decisões são tomadas democraticamente, todos participam das decisões e dos resultados. O sistema autogestionário não pode ser implantado por determinações. A autonomia diretiva das lideranças depende de está vinculada aos processos educativos. A educação fundamenta o empoderamento, autonomia e a descentralização.

"A autogestão pressupõe de seus representantes um espírito de coletividade e consciência política. Esses fundamentos demarcam a construção social, processo definido através do consenso entre os sócios". Gutierrez. • Organização: "Desenvolvimento Local Sustentável" - As cooperativas solidárias possuem como maior diferencial, a relação de proximidade com as pessoas, gerando gestão democrática, participativa e autogestão. Neste sentido é importante refletir sobre os instrumentos que as cooperativas possuem para facilitar e executar esta diretriz, caso contrário, a cooperativa pode ter dificuldades na interação entre o que prevê o Estatuto Social e a vivência cotidiana, entre o ideal e o prático". As ações educativas necessitam ser consideradas uma ferramenta para a consolidação socioeconômica.

"No Brasil não existe uma cultura autogestionária fundamentada em relações de proximidade. Prevalece a cultura do capitalismo, com a presença do dono da empresa, do patrão, da subordinação". Liboni.

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• Representação: "Relações Organizacionais" - A autogestão é condicionada por elementos externos, como situação social, tecnologia, tradições e hábitos, mas as decisões das cooperativas devem ser autônomas e completamente livres. As cooperativas são formas de autogestão independentes, mas podem deixar de ser legítimas, se cederem às interferências do governo e do mercado.

"Um dos principais Princípios do Cooperativismo é autonomia e liberdade organizacional. Importante que as parcerias cotidianas não rompam com estas diretrizes, pois a mesma garante legitimidade". • Inclusão: "Interação Solidária" - A missão do Cooperativismo Solidário é promover o desenvolvimento com inclusão social. O associado não deve ser valorizado pelo seu capital, e sim, pela sua humanidade. No cotidiano, diante dos desafios do mercado esse princípio é facilmente esvaziado e as cooperativas tornam-se espaço dos sócios mais ativos. Jovens e mulheres são minorias no Cooperativismo, mas nunca são considerados público prioritário. Pobreza continua sendo símbolo de desorganização. Importante refletir sobre a missão do Cooperativismo, analisando o perfil e as ações desenvolvida pela cooperativa. • Interação: "Organização em Rede"- As cooperativas Unicafeanas fundamentam-se na gestão local e na articulação em rede. Esse modelo demanda processos que definam processos claros de organização com redução de custos e agregação de valor, a partir de relações de proximidade, complementaridade e interação entre o local e o regional, entre processos organizativos e representativos. A organização em rede é fundamental. As multinacionais constroem fusões para agregar valor a marca, ganhar mercado e aumentar hegemonia. As redes cooperativas podem simplificar essas fusões, mas essa intercooperação precisa estar mais claras para os "cooperados, cooperativas e redes". O Modelo de Organização fundamenta os negócios cooperativos. No entanto, além das diretrizes institucionais é importante que a cooperativa reflita sobre as práticas que utiliza, tais como: avaliação de desempenho, política de remuneração, dinâmicas de interação entre social e econômico, existência de gestão participativa, de ferramentas de controle, de auditoria externa. 29


Multiplicação Estratégias para multiplicar o conhecimento

"Com educação cooperativa podemos articular processos permanentes de interação entre a concepção ideológica e a realidade prática das cooperativas. O grande desafio consiste em refletir sobre questões que provoquem maior reflexão junto aos cooperados. A resposta é uma conquista dos que conseguem questionar a vivência cotidiana. Só tem resposta quem pergunta." Demerval Saviani. 30


Nas ações de multiplicação do módulo que trabalha o modelo organizacional do Cooperativismo Solidário, os educadores e educandos são desafiados a refletir e buscar propostas para fortalecer a organização e gestão das cooperativas. Diante das diversas situações presentes no País, sugerem-se algumas provocações: • Planejamento: Organizar iniciativas para definir propostas e estratégias que possuam mais probabilidade de sucesso. Se o plano da cooperativa estiver bem alinhado com os objetivos organizacionais, os resultados serão mais significativos. • Participação: Estimular a participação faz com que ideias inovadoras surjam e problemas possam ser resolvidos mais facilmente. Articular eventos pontuais ou ações permanentes que motivem os associados a interagir com a cooperativa. • Liderança: As relações de proximidade promovem compromisso e confiança. As relações do líder facilitam organicidade. Articular relações de proximidade entre as lideranças e os associados, acolhendo sugestões críticas se necessário. • Transparência: A cooperativa é uma organização sócioeconômica e na relação com os sócios ou com o mercado as relações devem ser éticas e despertar confiança. Planejar iniciativas que promovam maior transparência cooperativa. • Financeiro: Implantar instrumentos na gestão financeira. Um software pode facilitar o controle e a transparência. Realizar processo de debate sobre as ações e ferramentas de controle que a cooperativa utiliza. • Quadro social: A prática cooperativa é construída junto com os sócios. O contato com as comunidades fortalece o empoderamento das pessoas. Articular processos de interação entre a direção e os associados, ampliando relações de proximidade que fortaleçam a interação social.

Sua cooperativa possui uma carta de princípios exposta num ambiente social da sede social. Esses princípios são debatidos e analisados em espaços participativos? Em algum momento aconteceu um debate sobre um regimento interno que fortaleça as diretrizes e as relações de proximidade? Sua cooperativa possui um plano de relações, cargos e salários? As relações sociais são destacadas de maneira transparente junto aos associados? Realizam-se processo de análise integrada do Planejamento Estratégico? 31


A liderança cooperativa "A liderança cooperativa é aquela que lidera pelo exemplo, aquela que mostra a sua proposta vivendo. É uma liderança reconhecida pela dedicação à missão e aos valores da cooperativa. Essa paixão é demonstrada em seus atos". Uma liderança cooperativa acredita naquilo que defende. Sua vida convence as pessoas que vivem a sua volta. Suas ações encantam, motivam as pessoas para participar, promovem a emancipação dos cooperados, tornando-os autores da sua própria história, mesmo em tempos difíceis. A liderança possui um perfil totalmente diferenciado, pois tem um olhar mais crítico e analista do meio social. Procura sempre ficar atento as manifestações dos cooperados, para que ele possa auxiliar nos desafios e ampliar as oportunidades. Um líder tem a necessidade de inovar, de estar sempre em busca de novos conhecimentos, refletindo sobre situações em que permita transformação social. Esse dinamismo é alimentado pelo diálogo aberto com os cooperados, colocando-se como espelho que reflete segurança, como um canal para que novos caminhos e alternativas possam ser construídos. Uma liderança atua como agente de transformação, mostrando que é possível mudar sua realidade, reduzir as desigualdades, aumentar possibilidades de cidadania participativa e provocar inovação profunda na sociedade. "Ser líder é uma conquista, uma permanente busca. Busca que só existe para quem a faz".

"Toda força será fraca, se não estiver unida". Jean De La Fontaine

Cooperativismo Solidário: Desenvolvimento com inclusão social. 32


Parceria

UniĂŁo Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia SolidĂĄria


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