Jornal ufg 84

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JORNAL ANO X – Nº 84 NOV/DEZ 2016

Ingrid Costa

Universidade Acessível e (neuro)Diversa

A importância do debate sobre acessibilidade na Universidade não se limita a barreiras físicas, mas também à acolhida a alunos neurodiversos p. 8

Reitor fala sobre atual momento vivido pela UFG e planos para o futuro p. 3

Pesquisa de Catalão usa moringa no tratamento residual de água p. 10

Você sabe o que é computação afetiva? Pesquisadores do INF explicam p. 13


Universidade

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JORNAL

EDITORIAL

Universidade para todos Luiz Felipe Fernandes*

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m sua raiz etimológica, a palavra universidade – do latim universitas – alude ao todo, à totalidade. Corrigindo distorções históricas, aos poucos a Universidade Federal de Goiás converge ações em direção a esta essência em busca da totalidade representativa da sociedade brasileira. A garantia desta diversidade passa pelas condições de permanência daqueles que possuem necessidades específicas. Para isso, a UFG possui, entre outras ações, um Núcleo de Acessibilidade e o Programa Saudavelmente, destaques desta edição. A reportagem traz um conceito que precisa ser mais difundido – o de neurodiversidade, tão

bem representado na arte de Ingrid Costa, que ilustra nossa capa.

A prova de que as universidades federais brasileiras estão mais diversas está em recente pesquisa da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Em entrevista ao Jornal UFG, o reitor Orlando Amaral comenta o levantamento e fala também do cenário que se avizinha com as restrições orçamentárias e a possibilidade de aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que limita gastos públicos – dificuldades que não podem fazer perder de vista o ideal de um ensino superior gratuito e de qualidade. *Coordenador de Jornalismo da Ascom

COMUNIDADE PERGUNTA Qual a diferença entre seminário, congresso, simpósio, encontro, palestra e workshop? Pergunta enviada via “Fale Conosco” Cada evento possui características próprias e distintas que permitem a sua classificação por tipo, sempre fundamentados na ideia de uma reunião, que é o encontro de duas ou mais pessoas com objetivos definidos, tais como debater, discutir, solucionar questões sobre determinado tema de uma atividade comum.

Seminário – Surge no meio acadêmico com o objetivo de que os alunos desenvolvam pesquisas a partir de temas definidos pelo professor. Hoje mais aberto, segue o mesmo princípio de pesquisas sobre um determinado tema em seus diversos ângulos e posterior exposição no formato de painel, debate, mesa-redonda. Congresso – Reunião formal e periódica de pessoas pertencentes a grupos profissionais com o mesmo interesse. Normalmente é promovido por uma organização, entidade, instituição, que discute um tema central, subdividido em temas secundários, mas dentro de um mesmo eixo.

Simpósio – Apresentação de um tema geral de grande interesse dividido em subtemas,

por especialistas de renome, sendo o principal objetivo o intercâmbio de informações com uma tomada de decisão.

Encontro – Trata-se de uma reunião de pessoas de uma mesma categoria profissional para debater temas polêmicos apresentados por representantes dos grupos participantes. Necessita da presença de um coordenador para a apresentação dos participantes e coordenação dos trabalhos.

Palestra – Apresentação de um tema previamente determinado a um grupo de pessoas que já possui informações sobre o assunto. Menos formal que a conferência, requer a presença de um coordenador para moderar as perguntas no debate após a explanação. Workshop – Significa oficina de trabalho e prevê que além de uma explanação teórica também exista uma parte prática, na qual os participantes desenvolvem atividades sobre o tema apresentado. Além das classificações acima, os eventos também podem ser classificados em Assembleia, Colóquio, Concílio, Conferência, Convenção, Curso, Debate, Entrevista Coletiva, Fórum, Mesa-Redonda, Painel, Semana, Videoconferência ou Teleconferência. Simone Antoniaci Tuzzo, professora da disciplina Eventos e Cerimonial do curso de Relações Públicas da UFG.

Direto do Instagram @ufg_oficial

Publicação da Assessoria de Comunicação Universidade Federal de Goiás ANO X – Nº 84 – NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2016 – Universidade – Reitor: Orlando Afonso Valle do Amaral; Vice-reitor: Manoel Rodrigues Chaves; Pró-reitor de Graduação: Luiz Mello de Almeida Neto; Pró-reitor de Pós-Graduação: José Alexandre Felizola Diniz Filho; Pró-reitora de Pesquisa e Inovação: Maria Clorinda Soares Fioravanti; Pró-reitora de Extensão e Cultura: Giselle Ferreira Ottoni Cândido; Pró-reitor de Administração e Finanças: Carlito Lariucci; Pró-reitor de Desenvolvimento Institucional e Recursos Humanos: Geci José Pereira da Silva; Pró-reitor de Assuntos da Comunidade Universitária: Elson Ferreira de Morais. – Jornal UFG – Coordenador de Jornalismo: Luiz Felipe Fernandes; Editora: Kharen Stecca; Editora-assistente: Angélica Queiroz; Conselho editorial: Angelita Pereira de Lima, Cleomar Rocha, Estael de Lima Gonçalves (Jataí), Luís Maurício Bini, Pablo Fabião Lisboa, Reinaldo Gonçalves Nogueira, Silvana Coleta Santos Pereira, Thiago Jabur (Catalão) e Weberson Dias (Cidade de Goiás); Suplente: Mariana Pires de Campos Telles; Projeto gráfico e editoração: Reuben Lago; Fotografia: Carlos Siqueira; Reportagem: Angélica Queiroz, Camila Godoy, Caroline Pires, Giovanna Beltrão e Silvânia Lima; Revisão: Fabiene Batista e Bruna Tavares; Bolsistas: Adriana Silva e Ana Fortunato (Fotografia), Luciana Gomides, Beatriz Oliveira e Tainá Azevedo (Jornalismo); Impressão: Centro Editorial e Gráfico (Cegraf ) da UFG; Tiragem: 7.000 exemplares ASCOM Reitoria da UFG – Câmpus Samambaia Caixa Postal: 131 – CEP 74001-970 Goiânia – GO Tel.: (62) 3521-1310 /3521-1311 www.ufg.br – www.ascom.ufg.br jornalismo.ascom@ufg.br @ufg_oficial

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Em meio à crise, as universidades precisam ser consolidadas Como a pesquisa influencia nas decisões das universidades e do Ministério da Associação Nacional dos Dirigentes das Ins- Educação (MEC)?

Kharen Stecca

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tituições Federais de Ensino Superior (Andifes) apresentou em agosto uma pesquisa realizada com a contribuição do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace), que delineou o perfil dos estudantes de graduação das universidades federais do país. Esta é a quarta atualização da pesquisa e foi realizada com dados colhidos em 2014. Para o reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG) e também 2º vice-presidente da Andifes, Orlando Afonso Valle do Amaral, entre as principais percepções da pesquisa está que mais de 60% dos alunos são de baixa renda. Além disso, a presença de estudantes negros aumentou. São números que mostram que a universidade pública deixou de ser apenas o lugar da elite. O reitor coloca a importância dos números para nortear as políticas internas e, também, do governo em relação às universidades públicas. Em um momento de crise, esses dados podem ser importantes para barrar iniciativas como a de cobrança de mensalidades nas universidades. Confira a entrevista.

Quem são os estudantes das universidades federais hoje?

Essa é a quarta edição da pesquisa e o resultado principal da mesma é a comprovação da mudança significativa do perfil dos estudantes que hoje estão frequentando as universidades públicas. Esta mudança é fruto das políticas de inclusão adotadas pelas universidades e pelo governo federal como, por exemplo, as advindas da implementação da Lei de Cotas. Aproximadamente 130 mil estudantes, cerca de 10% do total de alunos matriculados em 62 universidades federais, responderam as perguntas. O que chamou mais atenção foi o perfil de renda desses estudantes. Cerca de 65% são alunos oriundos de famílias cuja renda familiar per capita está abaixo de 1,5 salário mínimo, critério considerado de baixa renda pelo Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes). São alunos que a princípio demandam algum tipo de assistência para permanecer na universidade e concluir seus cursos. Isso derruba o mito de que o aluno da universidade pública é filho da elite, que poderia pagar pelos estudos e que, portanto, não demandaria o suporte de programas de assistência estudantil. Outro dado importante é o crescimento do número de mulheres nas universidades (52%). Elas estão presentes em todos os cursos, não só naqueles que eram tradicionalmente procurados por mulheres, mas também nos cursos em áreas cuja presença masculina era preponderante, como nas ciências exatas e agrárias. Além disso, outro dado significativo é o aumento dos estudantes negros (47,57% se autodeclararam pretos e pardos).

Essa pesquisa fornece indicadores que podem nortear as políticas internas e também do governo em relação às universidades públicas. Há um debate recorrente na mídia, por exemplo, sobre a cobrança de mensalidade para alunos que têm condições de pagar para estudar. Esses dados comprovam que hoje a maior parte dos estudantes não têm condições de pagar mensalidades. Isso fortalece a nossa defesa do ensino público de qualidade nas universidades públicas. Acreditamos que existem outros meios de sobretaxar as famílias ricas, cujos filhos estudam gratuitamente em escolas públicas. Uma maior taxação de grandes fortunas, de heranças e lucros, são exemplos de políticas já adotadas com sucesso em muitos outros países. Precisamos lembrar que temos uma quantidade de estudantes nas universidades na faixa de 18 a 24 anos que ainda é muito baixa. Hoje apenas 17% dos jovens nesta faixa etária estão matriculados nas universidades brasileiras, sejam elas públicas ou privadas. Devemos nos lembrar que a meta estabelecida pelo Plano Nacional de Educação (PNE) é de alcançar o percentual de 34% até 2024. A taxa atual no Brasil é muito baixa, inclusive, em comparação com nossos vizinhos da América Latina, como Argentina, México ou Bolívia. Esses países têm taxas de alunos dessa faixa etária no ensino superior muito maiores do que o Brasil. Há um longo caminho para aumentar o número de jovens e de estudantes de uma maneira geral nas universidades. A eventual adoção de políticas que restrinjam o acesso de estudantes à educação superior como, por exemplo, a cobrança de mensalidades, aponta na direção contrária a do crescimento e da inclusão. O incentivo deve ser para que mais estudantes estejam no ensino superior. Como as famílias mais ricas vão pagar é outra história. O momento é de ampliar o acesso à universidade para o Brasil recuperar o terreno perdido. Temos uma potencialidade enorme que, muitas vezes, não é concretizada pela falta de profissionais bem qualificados em áreas estratégicas para o desenvolvimento do país.

Como está a negociação com o governo quanto ao orçamento de 2017?

Inicialmente o governo fez uma proposta para o orçamento de 2017 que previa um corte de 18,33% em relação ao orçamento aprovado para 2016. A efetivação de um corte nesta proporção teria um efeito muito drástico sobre as ações desenvolvidas pela universidade. Devemos nos lembrar que nos anos de 2014 e 2015 o orçamento da universidade sofreu cortes, cujos efeitos se propagaram

para 2016. Nestes três últimos anos, mesmo com a adoção de medidas de contenção de despesas, estamos tendo sérias dificuldades em honrar com os nossos compromissos financeiros. Este cenário seria muitíssimo agravado caso fosse concretizado o envio de uma proposta orçamentária para 2017 que não contemplasse a correção inflacionária e fosse 18,33% menor que a de 2016. Uma redução desta magnitude traria sérias dificuldades ao desenvolvimento de nossas atividades. A Andifes demonstrou de forma enfática a sua indignação com esta proposta e buscou o diálogo com o MEC para demonstrar a inviabilidade de sua efetivação. Após uma série de reuniões entre a Andifes e o MEC alguns avanços foram registrados. A proposta original do MEC foi complementada com uma dotação R$ 400 milhões, além de outras dotações específicas para o edital do Proext (R$ 50 milhões) e para o para o Programa Mais Médicos (R$ 42 milhões), que envolve a ampliação dos cursos de Medicina. Depois de uma última negociação com a presença do ministro da educação, a proposta para o orçamento de 2017 das universidades ficou definida como sendo a mesma de 2016, com um corte de 6,74%. Assim, a despeito de toda argumentação utilizada pela Andifes, teremos que conviver em 2017 com um orçamento que é menor que o de 2016. A proposta defendida pela Andifes para o orçamento de 2017 baseava-se na correção do orçamento de 2016 pelo IPCA, além de um acréscimo de 2,5%, que reflete o crescimento do número de alunos nos últimos 12 meses. Uma vez que a proposta orçamentária do governo já foi encaminhada ao Congresso, resta-nos agora trabalhar junto aos nossos representantes parlamentares para a inserção de possíveis emendas ao orçamento proposto. Exatamente por isso participamos, eu e a presidente da Andifes, reitora Angela Maria Paiva Cruz, de uma série de reuniões no Congresso para apresentar ao presidente da comissão de educação e a vários outros deputados, uma proposta de inclusão de uma emenda ao orçamento de 2017 no valor de R$ 500 milhões.

O que se delineia para o futuro das universidades?

Difícil fazer previsões. Existem preocupações sérias em relação aos projetos que serão priorizados pelo Ministério da Educação e pelo governo como um todo. Ainda vivemos um quadro de muitas incertezas e indefinições. A economia do país ainda está em crise e a arrecadação continua baixa. Com a perspectiva da aprovação da PEC 241, que limita os gastos públicos e extingue a vinculação constitucional dos valores destinados à educação, o cenário para as universidades se agrava ainda mais. Tudo indica, assim, que a continuidade do processo de expansão do sistema universitário brasileiro sofrerá uma descontinuidade no futuro próximo. Um cenário razoável para se pensar na atual conjuntura é o de consolidação da expansão. Expandimos muito em curto tempo e existem muitas lacunas para a consolidação desse processo. Serão necessários recursos adicionais para a finalização de projetos de infraestrutura definidos no programa de expansão. O nosso esforço será no sentido de buscar o apoio do governo para que pelo menos isso aconteça. No entanto, a despeito das dificuldades e incertezas do momento, não podemos perder de vista as metas estabelecidas no PNE e o papel das universidades na construção de uma educação de qualidade e inclusiva em todos os seus níveis, que é essencial inclusive para a superação das atuais dificuldades por que passa o país.

Acesse a pesquisa da Andifes completa no link

Entrevista Orlando Afonso Valle do Amaral

Ana Fortunato

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UFG discute política para a comunicação Públicos ligados à Universidade recebem atenção especial na construção da política de comunicação institucional

Silvânia Lima

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uscando melhorar a gestão da UFG, é sempre necessário otimizar processos complexos e estratégicos. A comunicação institucional é um deles. Normalmente lembrada pelas áreas de imprensa e relações públicas, a comunicação envolve canais que permeiam desde atividades exercidas nas unidades acadêmicas e órgãos, como os atos administrativos, institucionais e os sistemas de comunicação, até notícias, vídeos e campanhas de publicidade institucional. Possuidora de uma estrutura comunicacional significativa, entre os desafios da Política de Comunicação da Universidade Federal de Goiás (UFG) estão o atendimento das novas demandas da Universidade e a integração de áreas, veículos, unidades e órgãos. A necessidade de nortear essa política de comunicação levou os profissionais da Assessoria de Comunicação, da Rádio Universitária e da TV UFG a criar um grupo de trabalho, atuante há dois anos, sob a liderança da coordenadora de Relações Públicas da Assessoria de Comunicação da UFG, Daiana Stasiak. Segundo ela, “a viabilização crescente de trabalhos conjuntos entre essas equipes foi o primeiro passo, na prática, corroborando com o objetivo

principal da política de promover a comunicação institucional, integrada, pública e cidadã”. Entre as propostas de ações estão o delineamento das bases da política com a realização de eventos, como o Seminário de Integração das equipes de comunicação e o I Seminário de Comunicação Pública e Cidadania, realizados em 2015. E no segundo semestre de 2016 a realização de uma série de encontros temáticos para a política de comunicação.

A intenção é melhorar as rotinas de comunicação na Universidade por meio da integração e cooperação, otimização, normatização e padronização de algumas ações, bem como a melhoria dos canais de comunicação existentes e a abertura de outros para públicos específicos. O envolvimento da comunidade, reconhecida como corresponsável pela comunicação na instituição, é um dos principais desafios. Com esse propósito, a construção da Política de Comunicação da UFG tem se dado de forma aberta, visando maior participação das pessoas. As ações do grupo são amplamente divulgadas nos veículos institucionais e no site da política onde estão disponíveis todas as ações já realizadas e um canal de comunicação com o grupo. A Política de Comunicação da UFG

está sendo pensada para os diversos públicos da instituição, internos e externos. Internamente, o trabalho prima pela melhoria das ações de comunicação nas unidades e órgãos da UFG, como gerenciamento das redes sociais, manutenção e atualização dos sites, a circulação da comunicação administrativa, a interação com os serviços institucionais, uso da marca, gerenciamento de crises, etc. A fim de auxiliar nesta tarefa, surgiram ideias relacionadas à elaboração de manuais, nomeação de agentes de comunicação nas unidades e órgãos, além da oferta de treinamentos em comunicação, como o media training (treinamento de porta-vozes para atendimento aos jornalistas).

A UFG já possui alguns manuais, como o Manual de Uso da Marca UFG e o Manual das Redes Sociais. Cerca de 20 outros temas já foram elencados a fim de subsidiar a comunidade interna em seus processos comunicacionais. Alguns deles foram selecionados para a série de 11 encontros temáticos da Política de Comunicação da UFG, realizados entre setembro e outubro, na Faculdade de Informação e Comunicação (FIC). A presença de estudantes, servidores técnico-administrativos, docentes e profissionais da área de comunicação nas palestras seguidas de debates, cumpriu o objetivo de discutir sobre os temas de comunicação intrínsecos ao cotidiano da universidade. Os encontros foram transmitidos ao vivo pe gravados no canal do Youtube do Comunica Estúdio (www.comunica.fic.ufg.br) possibilitando a participação da comunidade das demais Regionais da UFG. As contribuições das discussões de cada encontro temático servirão para elaborar um documento-base a ser apresentado no II Seminário de Comunicação Pública e Cidadania, que ocorrerá nos dias 23 e 24 de novembro, no Auditório da Biblioteca Central, Câmpus Samambaia, em Goiânia. O evento terá como foco a Política de Comunicação da UFG e será aberto a todos os interessados. Acompanhe o processo de construção no site

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Onze encontros temáticos possibilitaram a participação da comunidade

2ºSEMINÁRIO 23 24 E

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COMUNICAÇÃO PÚBLICA E CIDADANIA

Fotos: Adriana Silva, Ana Fortunato e Carlos Siqueira

Universidade

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DE NOVEMBRO Certificado para participantes

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AUDITÓRIO DA BIBLIOTECA CENTRAL CÂMPUS SAMAMBAIA - UFG Inscrições gratuitas pelo site:

eventos.ufg.br/SCPC2


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RYD Engenharia

Universidade

minhaufg.ufg.br

Robô combate desperdício de água Tainá Azevedo

Universidade lança aplicativo para dispositivos móveis MinhaUFG vai disponibilizar informações e serviços para a comunidade universitária, com destaque para a segurança Luiz Felipe Fernandes

O aplicativo já pode ser baixado gratuitamente na Play Store e, em breve, na Apple Store. De navegabilidade simples e funcional, por enquanto o MinhaUFG disponibiliza acesso a cinco conteúdos específicos: Segurança, Notícias, Rádio Universitária, Eventos e Restaurantes Universitários. O professor Marcelo Quinta explica que novas janelas serão criadas à medida em que mais conteúdos estiverem disponíveis. Posteriormente, pretende-se disponibilizar, por exemplo, informações sobre linhas de ônibus, calendário acadêmico, Ouvidoria, entre outras.

Segurança

Um dos destaques do aplicativo é o acesso rápido aos telefones das equipes de segurança da UFG. Para isso foi disponibilizada uma linha exclusiva para o atendimento de emergências. Também estão disponíveis os contatos das Regionais Catalão, Jataí e Goiás. Em breve será possível fazer chamados à segurança, com fotos e

Outra facilidade para o usuário do MinhaUFG é a consulta ao cardápio do dia dos Restaurantes Universitários, além de horário de funcionamento, preço e localização. Já no item Notícias, o usuário poderá acessar as últimas informações sobre a Universidade, produzidas diariamente pela equipe da Assessoria de Comunicação da UFG. Também está disponível o calendário de eventos promovidos pelas unidades e órgãos da Universidade. Por fim, é possível ainda ver a programação e acessar a transmissão ao vivo da Rádio Universitária.

Interação

O aplicativo também disponibiliza a aba Mural. A proposta é que, neste local, sejam disponibilizadas notícias específicas para o dia a dia do usuário, como sua agenda de atividades, notícias sobre sua unidade e avisos em tempo real sobre a Universidade. Assim como outros assistentes pessoais, a intenção é tornar a experiência bastante exclusiva, sendo um mural que interage diretamente com a rotina do usuário e dá avisos importantes quando necessário. Baixe o MinhaUFG no celular. Acesse a Play Store e procure o aplicativo pelo nome.

Projetado pelos engenheiros Danilo Sulino, Rauhe Abdulhamid e Yi Lun Lu, o robô VX1-300 demandou dois anos desde a concepção da ideia até a finalização do protótipo. Danilo conta que a incubação no projeto da UFG foi fundamental pela concessão do espaço físico, a noção de gestão e mercado que faltavam aos engenheiros e a credibilidade que o nome da Universidade confere ao produto científico. “É

A RYD Engenharia, criada pelos estudantes, integra o programa de incubação desde 2015 e é especializada na área de Engenharia Elétrica e Computação. Os empreendedores goianos desenvolveram o software e o hardware e contaram com o auxílio de uma empresa paulista para a parte mecânica do experimento. A Fundação de Desenvolvimento de Tecnópolis (Funtec) é apoiadora do projeto.

Preservação hídrica

Cerca de 37% do desperdício de água tratada para consumo se dá antes da chegada às torneiras. Com a intervenção do robô, esse percentual poderá ser reduzido drasticamente sem que haja o desgaste com interrupção do trânsito ou com obras desnecessárias para localizar os problemas. Adriana Silva

C

om o objetivo de facilitar o acesso às informações e criar mais um canal de comunicação com a comunidade, a Universidade Federal de Goiás lançou seu aplicativo oficial para dispositivos móveis. O MinhaUFG foi desenvolvido ao longo de seis meses por estudantes dos cursos de graduação do Instituto de Informática (INF), sob a coordenação do professor Marcelo Quinta. Também participaram do projeto o Laboratório de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Mídias Interativas (Media Lab) e o Centro de Gestão do Espaço Físico (Cegef).

localização, diretamente do celular. A atenção ao item Segurança foi uma demanda da Reitoria da UFG, como parte das ações contínuas para garantir ambientes mais seguros para a comunidade universitária.

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té parece ficção científica, mas o robô VX1-300 atua contra o desperdício de água e foi desenvolvido por estudantes da Universidade Federal de Goiás (UFG) . O projeto nasceu em uma empresa do Centro de Empreendedorismo e Incubação (CEI) da UFG, e atende às necessidades de empresas de diversos segmentos na manutenção de serviços de abastecimento, escoamento e tratamento hídrico, além de contribuir para evitar o desperdício de água.

um projeto novo e altamente tecnológico, estar incubado na UFG dá mais credibilidade”, afirmou Danilo Sulino.

Beterraba: riqueza da folha à raiz Camila Godoy

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ue a beterraba traz benefícios à saúde humana muitos já sabem. Além de ser doce e saborosa, essa raiz pode auxiliar na beleza da pele, na formação de glóbulos vermelhos, no fortalecimento muscular, entre outros aspectos, sendo por isso muito comum encontrá-la na mesa dos brasileiros. No entanto, o que poucos sabem é que as folhas e talos da beterraba também são comestíveis, e, além de tudo, bastante nutritivos. Segundo uma pesquisa da Universidade Federal de Goiás (UFG), o consumo dessas partes auxilia a produção do High-density lipoprotein (HDL), considerado o “colesterol bom”, e na redução da pressão arterial.

O estudo, realizado sob a responsabilidade da mestranda Anna Paula Oliveira, com orientação da professora Patrícia Borges Botelho, da Faculdade de Nutrição da UFG, analisou o perfil lipídico e a pressão arterial de indivíduos com níveis de gordura no sangue alterados durante a ingestão de um café da manhã rico em gordura. De acordo com as pesquisadoras, os polifenóis, classe de compostos bioativos encontrados nas folhas e talos da beterraba, atuam sobre o metabolismo lipídico. Elas explicam que para extrair essa substância é necessário bater as folhas com água, em um espécie de suco. Uma novidade que, além de aproveitar um recurso geralmente descartado, melhora a saúde.


Mesa-redonda

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E o Ensino Médio, como fica? Ascom, TV UFG e Rádio Universitária

Debatidas desde 2013, as mudanças no Ensino Médio brasileiro estão propostas em um projeto de lei que tramita até hoje no Congresso Nacional. Com a intenção de acelerar o processo, o governo de Michel Temer editou a medida provisória 746/2016.

A medida polêmica virou alvo de manifestações presenciais e também na internet por todo o Brasil. No final de setembro mais de 60 mil pessoas já haviam se manifestado contra a MP no site do Senado e mais de 500 emendas foram apresentadas por senadores e deputados.

Para discutir esse tema, convidamos o conselheiro do Conselho Estadual de Educação, Marcos Elias Moreira, o vicepresidente regional da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Gabriel Bernardes, e a professora do Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás (UFG), Nyuara Mesquita.

Você pode participar das próximas mesas-redondas enviando sugestões de temas e convidados pelo telefone: 3521-1311 ou jornalismo.ascom@ufg.br

Confira os vídeos do Programa Conexões no QR Code ao lado.

Marcos Elias – A constatação da necessidade de mudar o Ensino Médio brasileiro é quase unânime. Agora, a discussão em torno de quais mudanças são necessárias concretamente, ainda causa debate porque são várias as alternativas. Esse debate sobre as mudanças consideradas necessárias começou em 2013 no parlamento, mas já havia uma comissão específica para fazer essa análise há 16 anos. Esse debate, inclusive, não está só no Congresso Nacional. Obviamente os setores educacionais têm percebido e têm falado da necessidade dessas transformações que precisam ocorrer, tendo em vista a realidade concreta, os números, os dados e as avaliações que apontam para tal necessidade. Evidentemente que em uma questão complexa como essa e, apesar de todos nós sermos em tese a favor das mudanças, há sempre um temor dos desdobramentos dela. Então o que precisa ser feito é um esforço nacional no sentido de discutir melhor como fazer essas mudanças. Precisamos saber se a medida provisória é ou não o instrumento mais adequado. Para alguns é, por se tratar de uma necessidade urgente e por ser um tema que vem se arrastando, para outros é necessário que a mudança seja aprofundada. O que me parece mais importante e mais urgente é que nós, independente do aspecto, tenhamos um olhar mais verticalizado sobre quais as mudanças que de fato precisam ser operacionalizadas para que tenhamos um Ensino Médio capaz de garantir dados positivos do ponto de vista do conhecimento e, acima de tudo, seja capaz de assegurar que os estudantes e a sociedade sejam contemplados com uma escola que forme para o exercício da vida, do trabalho, da cidadania, como a própria lei coloca. Nyuara Mesquita – Entendemos, enquanto formadores de professores, que são necessárias mudanças, que a educação básica toda precisa encontrar o seu lugar. Temos passado por reformas desde a década de 1990 que nunca foram concluídas. A questão que está sendo discutida hoje e que resultou em notas de repúdio e moções da sociedade científica é o porquê de uma medida provisória se já existe um documento da base nacional comum curricular sendo discutido desde 2013. O documento proposto foi colocado para discussão na sociedade civil. Dessa forma, está sendo feita uma ampla discussão a respeito de modificações no ensino básico e médio. Essa base está caminhando dentro dos trâmites legais e entendemos que a medida provisória que, inclusive, reforça a todo momento o documento da base, não tem sentido se a base não está pronta. Questionamos qual é o sentido de uma medida provisória fundamentada em um documento que não está pronto.

Gabriel Bernardes – Vemos que o governo tenta, às pressas, dar uma resposta para a sociedade em vários setores de forma equivocada. Nesse caso não houve um diálogo com os estudantes e nem com os próprios professores. Há uma discussão profunda, da qual eu pude participar, que foi a Conferência Nacional de Educação, que criou inúmeros debates e caminhos para priorizarmos a reformulação do Ensino Médio. E vemos que o governo não tem interesse em dialogar com a sociedade para fazer uma transformação mais plural, que contemple as ideias da população. Temos muitas contribuições para ouvir. Para nós, estu-

A aceitação de professores sem formação em licenciatura, com “notório saber” na área, é um dos pontos mais polêmicos do projeto. Como vocês veem essa decisão?

Nyuara Mesquita – Essa questão do notório saber é muito séria, porque hoje em dia, dados os déficits das diversas áreas específicas, temos muitos professores contratados atuando em sala de aula que não são professores licenciados. Na Química, por exemplo, numa pesquisa de 2011, vimos que na região metropolitana de Goiânia apenas 50% dos professores que atuam na rede pública de ensino são licenciados. No entanto, quando vamos para o interior, são apenas 14%. Nós entendemos que a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) coloca que para ser professor do ensino básico é preciso ter licenciatura plena. Portanto, precisa haver um avanço nesse sentido. Quando uma medida provisória explica que os professores podem ter o notório saber e não explica que tipo de notório saber é esse, ela só vai legitimar uma situação que já existe. Ou seja, qual seria a preocupação em investir num curso de formação de professores se não é mais necessário ter um curso de licenciatura para atuar no ensino básico e no ensino médio? Já vi muitas entrevistas dizendo que esse notório saber é mais para a área de profissionalização, mas isso não está posto na medida provisória. Então existe o risco de uma legislação que traga possibilidades de retroagir num caminho que estávamos percorrendo, com relação à formação de professores. Esse ponto da medida provisória sinaliza que não é mais necessário ser licenciado para atuar no ensino básico. Fotos: Carlos Siqueira

Uma das principais críticas é que o assunto já vem sendo debatido há anos e que a medida provisória atropela o processo de discussão, excluindo os principais atores do processo. Outro ponto polêmico é a não exigência da licenciatura e aceitação de professores com “notório saber”, sem definições explícitas do que seria essa condição.

Essa medida provisória era realmente necessária neste momento?

dantes, fica muito difícil porque a Ubes sempre esteve na luta para encontrar uma melhor solução junto com os professores e os trabalhadores da educação e achamos que essa medida provisória não é correta e não é necessária, pois nós já temos o documento que está sendo elaborado.

Nyuara Mesquita

Quando todas essas propostas não são conversadas com quem realmente efetiva a educação no país, a impressão que nós temos é que a coisa não caminha Gabriel Bernardes – O ensino médio hoje já não é atrativo para o estudante. Se esse aluno percebe que o professor está descrente por estar ali na sala de aula ministrando uma disciplina que não é da sua área de formação, à qual ele dedicou tanto tempo, o que ocorre? Quando percebemos que o professor não está sendo bem remunerado e não está contente por estar ali ensinando o saber que ele aprendeu, podendo fazer mais para a escola, é desanimador. Vemos que os professores tam-


7 esse aspecto que foi aqui levantado das dificuldades salariais, com salários que não são convidativos para uma carreira e isso reflete nessa realidade. Reflete, também, em uma discussão que nós precisamos fazer na universidade, que pode e deve dar uma contribuição muito significativa em como vamos repensar não só os currículos da educação básica, mas também os próprios currículos dos cursos de formação de professores. Temos uma trajetória onde esses cursos são um desdobramento do curso de bacharelado. Você tem um curso de bacharelado, agrega uma ou outra disciplina da área educacional e diz que é uma licenciatura. Ao contrário, acho que deveríamos pensar os cursos de licenciatura como cursos específicos, dialogando o currículo desse curso de formação com o currículo da educação básica.

tivas entre escolas, mas não podemos esquecer também que apesar de supostamente o nosso ensino médio ser igualitário e idêntico, um número divulgado recentemente pelos jornais revela que não é. Foi divulgado que 91% das escolas públicas do Brasil têm média no Enem menor que a média nacional. Esse número por si só revela que há uma discrepância absolutamente inaceitável entre o rendimento das diferentes escolas do Brasil. No caso da adolescência, ela é o período em que deixamos de ser dependentes da nossa família e passamos a ser independentes. E é essa transição que precisa ser melhor trabalhada para que tenhamos uma escola de qualidade.

Outras duas propostas polêmicas dizem respeito ao aumento da carga horária – passando de 800 para 1400 horas – e uma possível flexibilização das disciplinas, como Sociologia e Filosofia. Como percebem essas questões?

Marcos Elias

Queremos que o aluno fique o tempo todo sem poder fazer escolha nenhuma e depois faça todas as escolhas quando sai da educação básica, sem perceber que fazer escolhas é parte do processo de aprendizagem Marcos Elias – Primeiro estamos falando de uma realidade que está posta. Temos um conjunto significativo de professores em algumas áreas que não são licenciados em sua área de atuação. Às vezes são até licenciados, mas em outras áreas. Isso vale desde Física até Artes. Aliás, o melhor sistema educativo que temos hoje no mundo em termos de arte e cultura é o do Canadá. O currículo lá, até porque é um país bilíngue, é centrado em torno da cultura e da arte e é a partir disso que desenvolvem o currículo nos ensinos básico e médio. No Brasil minimizamos muito o papel e a influência da cultura e da arte no processo de conhecimento. Tanto isso é verdade que os números indicam que está na Artes o menor número de professores licenciados trabalhando com a disciplina em que são formados. Nos moldes em que está o texto na medida provisória, a licenciatura só é liberada para o professor na educação profissional. O texto fala que haverá o professor com notório saber e remete esse “haverá” ao texto da lei quando ele está tratando da educação profissional. E no caso da educação profissional, esse expediente já existe por portaria do próprio Ministério da Educação há muitos anos porque, de fato, na educação profissional há toda uma justificativa e isso não é uma especificidade só do Brasil. Na educação profissional, às vezes fazemos, por exemplo, um curso de Culinária, e o melhor chefe de cozinha não tem formação. Então é importante que o curso da educação profissional tenha no seu desenvolvimento pessoas com notório saber, que seria experiência e conhecimento profissional naquela área. Nesse sentido, de fato, a falta de formação de professores é um problema da educação brasileira e tem a ver com

Gabriel Bernardes – Encaro como um aspecto deficitário por parte do governo de tentar fazer uma reformulação desse tamanho e mexer, por exemplo, na grade de horas. O estudante hoje passa quatro horas dentro da sala de aula. Tentar deixar esse estudante sete horas dentro de uma escola que não tem um laboratório, que muitas vezes não tem uma quadra poliesportiva, que não tem um refeitório decente e que é deficitária em muitos outros aspectos, é difícil. O estudante já não acha a sala de aula um ambiente agradável, porque as escolas hoje parecem mais uma prisão, cheias de grades, e não são convidativas para que a pessoa fique ali dentro, nem as poucas horas que já fica. Temos um exemplo em Goiás que são as escolas de tempo integral. O governador pegou as melhores escolas antes avaliadas e as transformou em escolas de tempo integral sem resolver 100% os problemas delas. Na escola onde eu estudei, por exemplo, o Colégio Estadual Professor Pedro Gomes, que é grande, comportava mais de dois mil alunos e hoje comporta apenas 500, não tem sequer um banheiro feminino decente e o refeitório não funciona corretamente. Transformar o colégio em escola integral não resolveu nada, porque não mudaram a estrutura. Em relação à questão das disciplinas, acredito que a proposta é ruim porque faz com que se perca a oportunidade dos jovens estudantes tornarem-se cidadãos críticos na sociedade, com pluralidade de conhecimento e discernimento das coisas, não só em relação a Artes, Filosofia ou Educação Física, mas para que possam se tornar cidadãos opinantes dentro da sociedade e possam, por exemplo, participar da política, que é um espaço importante que precisa ser ocupado por todas as camadas da sociedade.

Marcos Elias – A medida provisória remete ao aumento da carga horária a uma proposição que está no Plano Nacional de Educação, que diz que até 2024 teremos 25% dos alunos estudando em tempo integral e 50% das escolas oferecendo essa opção. Esses números já foram projetados. O que a medida provisória fala, nesse caso específico, é em um aporte de R$ 1,5 bilhão do governo federal para essa implementação. Não basta você ampliar a carga horária do ensino médio se não tem condições para assegurar que esse aluno permaneça dentro da escola com uma capacidade concreta de aprendizado. A discussão precisa ser sobre se esse valor é suficiente, porque me parece que não é. A outra questão diz respeito à pluralidade e à possibilidade de escolhas. O Brasil precisa avançar porque nós estamos tratando da adolescência. Queremos que o aluno fique o tempo todo sem poder fazer escolha nenhuma e depois faça todas as escolhas quando sai da educação básica, sem perceber que fazer escolhas é parte do processo de aprendizagem. Precisamos nos preocupar em evitar discrepâncias qualita-

Gabriel Bernardes

Vemos que o governo tenta, às pressas, dar uma resposta para a sociedade em vários setores de forma equivocada. Nesse caso não houve um diálogo com os estudantes e nem com os próprios professores

Nyuara Mesquita – Acho que é um salto muito ousado para a atual conjuntura. Precisamos pensar no financiamento, se ele vai ser suficiente. Não podemos mais patinar nesse sentido. Por isso a discussão com formadores de professores e com professores da educação básica precisa ser uma discussão efetiva. Lembro-me quando vieram os parâmetros curriculares na década de 1990 e eu era professora do ensino básico. Eles chegaram na escola prontos para nós e foi difícil, até hoje eles não foram completamente implementados e não se conseguiu avançar muito. Quando todas essas propostas não são conversadas com quem realmente efetiva a educação no país, a impressão que nós temos é que a coisa não caminha. É uma proposta ousada demais e que falha em alguns aspectos. Quanto ao aumento da carga horária e da flexibilização das disciplinas, quando é colocado um núcleo comum e a vertente da profissionalização, será que isso não é uma forma de elitizar o ensino? Será que as escolas particulares vão adotar a profissionalização nessa etapa da educação? A LDB de 1971 implementou o ensino profissionalizante e todas as escolas deveriam ser profissionalizantes. Concluí meu ensino médio numa escola católica e nunca tinha entrado num laboratório, por exemplo, e no meu diploma constava que eu era técnica em análise patológica, porque por força de lei o ensino tinha que ser profissionalizante, mas as escolas particulares não implementavam isso, só constava no documento. Então precisamos pensar nesse sentido, se profissionalizar o ensino não vai elitizar a escola. Por isso a discussão precisa ser feita e a melhor maneira não é por medida provisória, que imagino, não irá funcionar.

Mesa-redonda

bém querem contribuir muito para a formação dos estudantes quando há uma valorização de sua própria formação, para que ele possa, inclusive, se tornar mestre e doutor naquela área. Quando percebemos que há uma descrença por parte desse profissional, também nos sentimos para baixo e ficamos pensando se compensa entrar na universidade e nos tornarmos professores. Isso faz com que haja, além disso, uma diminuição na procura dos cursos de licenciatura. Um país onde não se procura licenciatura é um país que não investe em educação, em nenhum dos níveis. Isso nos leva a continuar sendo considerados um país de terceiro mundo, o que nenhum de nós queremos.


Carlos Siqueira

Inclusão

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Saudavelmente desenvolve projeto de atenção aos alunos com Aspenger

Ilustração: Ingrid Costa

Neurodiversidade: um conceito que integra Proposta do Núcleo de Acessibilidade atende pessoas com funcionamento neurocognitivo diverso, como os autistas e portadores da Síndrome de Asperger, auxiliando-os na vida acadêmica

Beatriz Oliveira

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Capítulo IV da Lei Federal nº 13.146/2015, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, determina, no artigo 27, que “a educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem”.

Para garantir que esses direitos sejam assegurados, a Universidade Federal de Goiás (UFG) criou, em 2008, o Núcleo de Acessibilidade, que tem como objetivo propor e viabilizar uma educação superior inclusiva aos estudantes com deficiência por meio da eliminação ou minimização de barreiras atitudinais, arquitetônicas, pedagógicas, informacionais e comunicacionais. Atualmente o Sistema Integrado de Núcleos de Acessibilidade da UFG (Sinace) atende 219 alunos com deficiências diversas nos cursos de graduação. “As ações do Núcleo de Acessibilidade têm foco no respeito às diferenças, buscando a formação e a sensibilização da comunidade acadêmica,

melhorando a acessibilidade nos espaços e nos processos educativos desenvolvidos na instituição”, afirma a professora Vanessa Dalla Déa, coordenadora do Núcleo de Acessibilidade. “É importante lembrar que as pessoas podem ter diagnósticos iguais, mas suas necessidades são, na maioria das vezes diferentes. Assim fazemos estudo de caso com os alunos, buscando a adaptação avaliativa, pedagógica ou tecnológica mais coerente”, continua a professora.

Neurodiversidade

“A neurodiversidade é um paradigma que desconstrói a ideia de que pessoas com funcionamento neurocognitivo diverso, como os autistas, por exemplo, sejam caracterizados como doentes ou portadores de transtornos”, explica a psicóloga clínica Tatiana Dunajew, que atua desde 2015 no Programa Saudavelmente da UFG. O conceito de neurodiversidade é abraçado por indivíduos autistas e pessoas com condições diversas, que consideram que o autismo não é uma doença a ser curada, mas sim parte de sua identidade. “A neurodiversidade seria a expressão da biodiversidade humana, bem como a orientação sexual e a etnia, e não algo patológico que precisaria ser adequado ao modelo comum ou usual de neurocognição”, continua a psicóloga.

Dentro do paradigma da neurodiversidade se encontra também a Síndrome de Asperger, que é uma condição neurológica do espectro do autismo caracterizada por dificuldades significativas na interação social e comunicação não-verbal, além de padrões de comportamento repetitivos e interesses restritos. A Síndrome de Asperger foi descoberta durante a Segunda Guerra Mundial e só veio a se tornar um diagnóstico nos anos 1990. Alunos com Asperger apresentam

altas habilidades cognitivas, como explica a psicóloga: “São alunos autodidatas, com competências cognitivas superiores à média, que buscam a excelência do aprendizado à exaustão, mas que praticamente são invisíveis aos professores, os quais atuam na expectativa do aluno cujo desempenho cognitivo seja usual e acabam por não conseguirem se adequar, pois o modelo acadêmico atual não pressupõe o neurodiverso. Por consequência, essas pessoas apresentam alto desempenho cognitivo, mas muitas vezes baixo desempenho acadêmico”. O mestrando em Sociologia, Renato Moreira, tem Síndrome de Asperger e declara que já teve problemas, mas que hoje não se vê como diferente e que se sente bem na Universidade. “No começo eu tive um pouco de dificuldade, mas agora eu já tenho mais amizades com o pessoal. Na Universidade eu tive esse espaço”, afirma. O mestrando, de 27 anos, só chegou ao diagnóstico de Asperger tardiamente, há três anos.

A psicóloga explica que o diagnóstico dos Aspies, como as pessoas com a Síndrome também são chamadas, costuma ser tardio por conta da ignorância que cerca o tema. “Estes indivíduos não apresentam atraso na aquisição da linguagem, possuem

inteligência na média ou na maior parte das vezes acima da média, entretanto, quando adentram à vida escolar, apresentam resistência a pertencer a grupos, a olhar nos olhos e a interagir como as crianças usualmente o fazem. Por isso, muitas vezes são consideradas desinteressadas, arrogantes ou rebeldes. A escola, não estando preparada para receber esse aluno, acaba por proporcionar o ambiente propício à exclusão e ao bullying e, por consequência, o intenso sofrimento psíquico”, explica.

O Saudavelmente, programa da Coordenação de Serviço Social da Pró-Reitoria de Assuntos na Comunidade Universitária (Procom), desenvolve um projeto de atenção aos alunos com Asperger, do qual a psicóloga Tatiana Dunajew é coordenadora. Desde abril de 2016, cinco alunos com Asperger recebem atendimento individual, acompanhamento psiquiátrico quando necessário, e participam de um grupo semanal com foco na melhoria da qualidade de vida e do desempenho acadêmico. “Este é um trabalho pioneiro que esperamos que inspire outras instituições de ensino a efetivamente incluir os neurodiversos”, declara Tatiana. O aluno do quarto período do curso de Jornalismo, Tiago Abreu, foi diagnosticado com Asperger em 2015 e participa do grupo de atenção aos alunos com Asperger desde o seu início. Para ele essa interação é importante porque possibilita que ele e outros alunos com Asperger não passem tão despercebidos no meio acadêmico, muitas vezes excludente. “No grupo, além de conhecermos outras pessoas com Asperger, pudemos nos identificar mais com outras pessoas e isso fez com que não nos sentíssemos extremamente sozinhos ou diferentes no ambiente acadêmico”.


9 Esporte

Estudante integra seleção de futebol de surdos Luiz Felipe Fernandes

M

esmo não estando incluídos nas modalidades paralímpicas e sem grandes apoios para a realização de campeonatos, atletas surdos trilham um caminho independente em busca de reconhecimento no mundo do esporte. Estudante de Letras/Libras da Universidade Federal de Goiás (UFG), Lara Geovana de Carvalho Neves é uma delas. Aos 24 anos, ela integra a seleção brasileira feminina de futsal e futebol de surdos. A equipe foi vice-campeã no Mundial de Futsal disputado ano passado em Bangkok, na Tailândia. Uma vez por mês Lara Geovana viaja para São Paulo para treinar com a seleção. No mês passado começaram os preparativos para a Surdolimpíadas 2017 (Deaflympics), que será realizada na Turquia em julho do ano que vem. A modalidade será o futebol de campo. Os treinos oficiais começaram com um amistoso disputado em Jundiaí (SP). A estudante explica que cada atleta banca sua própria despesa e que não há patrocínio oficial para que o grupo viaje para os torneios internacionais. “Temos que pagar do próprio bolso”, lamenta. Ela conta que depois do bom resultado alcançado em 2015, o Ministério do Esporte prometeu o pagamento de bolsas. A Confederação Brasileira de Desportos de Surdos também tenta garantir salário aos atletas. “Quem sabe futuramente tenhamos algum incentivo”, torce.

Carreira no esporte

Lara Geovana começou a jogar futebol há 10 anos. O que no início era só brincadeira acabou se transformando em treinos semanais na Associação dos Surdos de Goiânia. Em 2013,

Foto: Carlos Siqueira

Lara Geovana cursa Letras/Libras e ajudou o Brasil a conquistar o segundo lugar no Mundial de 2015

a estudante foi convocada para a seleção brasileira feminina de futsal e futebol de surdos. Dividida entre os estudos e os treinos, Lara Geovana diz que está mais inclinada à carreira de atleta, embora considere importante a formação superior em Letras, a ser concluída no fim deste ano. A carreira de professora de Educação Física também não é descartada.

Diferente do futebol paralímpico, com adaptações para atletas com deficiência visual e com paralisia cerebral, o futebol de surdos segue as mesmas regras do esporte tradicional. A diferença está apenas na arbitragem. O juiz não utiliza apenas apito, mas também bandeiras para sinalizar as jogadas. Além disso, procura se posicionar de frente para os jogadores, para que eles possam visualizá-lo. Lara Geovana conta que o técnico da seleção brasileira feminina de futebol de surdos não tem fluência em Libras. Por isso a comunicação é feita com gestos e expressões corporais. A Associação de Surdos de Goiânia ocupa a oitava posição no ranking nacional de futsal feminino e a segunda no futsal masculino (ranking atualizado em junho desse ano).

Deaflympics ou Surdolimpíadas

O primeiro evento multidesportivo internacional voltado para atletas surdos foi realizado em 1924, em Paris. Participaram 145 atletas de nove países europeus, em sete modalidades: atletismo, ciclismo, saltos ornamentais, futebol, tiro, natação e tênis. Até 1965 o evento era chamado de Jogos Internacionais Silenciosos. O termo Surdolimpíadas, ou Deaflympics, foi adotado a partir do ano 2000.

Por que não há surdos nas Paralimpíadas? O Comitê Internacional de Desportos de Surdos (ICDC, na sigla em inglês) foi criado 36 anos antes do Comitê Paralímpico Internacional, com o qual se juntou em 1985. Mesmo assim, os eventos para deficientes auditivos continuaram a ser realizados de forma independente. Dez anos depois, o ICDC decidiu se retirar do Comitê Paralímpico Internacional. Alguns fatores são apontados como inviáveis para a participação dos surdos nas Paralimpíadas, como a grande quantidade de atletas (cerca de 2,5 mil pessoas participam das Surdolimpíadas) e a necessidade de muitos intérpretes. Para a Confederação Brasileira de Desportos de Surdos, é necessário dar mais visibilidade aos eventos esportivos voltados para deficientes auditivos, atraindo investimentos e possibilitando, assim, mais reconhecimento aos atletas. Fonte: Agência Brasil


Pesquisa

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Planta auxilia limpeza de resíduo industrial Pesquisa da UFG propõe tratamento natural da água resultante da produção do concreto, dando sustentabilidade à atividade

Silvânia Lima

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urante o processo de produção as usinas de concreto demandam grande consumo de água e enfrentam o desafio da poluição residual. Para cada metro cúbico de concreto são consumidos 500 litros de água, sendo metade na produção e a outra metade nas atividades ligadas a ela, gerando água residual, problema que exige solução eficiente. Pesquisa realizada na Universidade Federal de Goiás (UFG) propõe tratamento natural com o uso da planta moringa oleifera.

Sob a coordenação do professor Heber Martins de Paula, da Regional Catalão da UFG, a pesquisa obteve sucesso na utilização da semente da moringa oleifera, que se apresenta como um importante auxiliar na remoção da turbidez da água oriunda da produção do concreto. Com o tratamento, a água fica apta ao reuso na própria atividade, promovendo economia de recursos hídricos. De acordo com o professor, a introdução de um coagulante natural

no processo de tratamento de água residual, minimizando os resíduos gerados e o consumo de água na produção, contribui para o desenvolvimento de um ciclo sustentável do concreto.

Normalmente, os tratamentos para águas residuais são realizados com coagulantes químicos. Como não havia, ainda, tratamento proposto para a água residual do cimento, o professor resolveu testar um coagulante natural, associado aos coagulantes químicos. A resposta positiva veio com a introdução da semente da moringa oleifera, já adotada em tratamentos de outros tipos de águas residuais provenientes, por exemplo, de laticínios e de curtumes. No tratamento da água oriunda da produção do cimento foi utilizada uma porção de 46,5% da semente da moringa e 53,5% de químicos. “A experiência mostrou ainda que quanto maior a presença de resíduos na água, maior a eficiência do tratamento proposto. A associação da moringa aos coagulantes químicos potencializou o tratamento da água residuária do cimento, atingindo uma

Na pesquisa, foram efetuadas coletas em três pontos de geração de água residual da produção do concreto: (1) entrada da água residual de pátio e dos caminhões betoneira; (2) câmaras de decantação (neste ponto existem seis pequenas câmaras por onde a água passa para efetivar a sedimentação – vide foto); e (3) saída da água após a sedimentação.

eficiência de 99,9% na remoção da turbidez da água”, afirma o professor.

A pesquisa fez parte da tese de doutorado do professor Heber Martins de Paula, realizada na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com o envolvimento de um grupo de professores, alunos e funcionários de uma usina de concreto em Catalão, Goiás, onde um projeto piloto de tratamento está sendo implantado. Em sua fase inicial ganhou o primeiro lugar, na categoria pesquisa, na 20ª edição do Prêmio CBIC de Inovação e Sustentabilidade, promovido pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção, em 2014. Mas o estudo continua. O objetivo da nova fase é utilizar o resíduo sólido proveniente do tratamento da água como aglomerante na produção de blocos de concreto para fins não estruturais, tornando a produção mais limpa. “Os primeiros resultados foram interessantes, com a produção de blocos de vedação resistentes à compressão e que atendem às normas técnicas. Estamos em fase de testes”, informa Heber Martins.

Alto consumo de água

As usinas de concreto são grandes consumidoras de água tanto na produção quanto no volume residual gerado. Uma usina de médio porte produz cerca de 250 m3 a 300 m3 de concreto por mês e o volume de água residual gerado equivale, praticamente, ao mesmo volume de água consumida diretamente na produção do concreto. Trata-se da água utilizada na lavagem de pátio e dos caminhões betoneira e na umectação de agregados. Soluções como essa do uso da moringa olifera no processo de tratamento da água residual do concreto são de grande importância pela eficiência, baixo custo e sustentabilidade.

Planta multiuso Largamente utilizada em algumas regiões brasileiras, a moringa oleifera é conhecida como uma planta medicinal para muitos males, chegando a ser considerada milagrosa. Dela muito se aproveita, das folhas, flores, vagens, raízes, casca, resina, sementes e óleo são registrados mais de 60 usos. Folhas e vagens são alimentos nutritivos que ajudam no combate à fome no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Forrageira para os animais, matéria-prima para a confecção de objetos artesanais diversos. No entanto, são as propriedades purificadoras das sementes na água que mais rendem sua fama. Depositadas em águas turvas e barrentas, as sementes da moringa decantam as impurezas, reabilitando sua potabilidade.

Fácil manejo

A moringa oleifera é uma planta originária da Índia, mas muito bem adaptada ao Brasil. Pouco exigente quanto ao solo, mas muito em relação ao sol; se reproduz facilmente a partir de galhos de plantas adultas, estacas ou sementes, seu crescimento é rápido, podendo atingir entre 5m e 7m. Com menos de um ano já produz as sementes. Para que não falte a planta nas usinas que a adotarem no tratamento da água residual, o professor Heber Martins sugere que sejam plantadas as moringas nas divisas de suas áreas, funcionando, inclusive, como uma barreira natural para dispersão de material pulverulento na atmosfera. Confira o vídeo no Youtube

A proteína produzida pela moringa oleifera, em contato com os químicos, potencializa a capacidade de coagulação dos resíduos presentes na água. O tempo de sedimentação pode variar de 15 minutos a 30 minutos, dependendo do grau de turbidez da água.

Fotos: Divulgação

Solução contendo 46,5% de sementes trituradas da moringa oleifera e 53,5% de sulfato de alumínio e cloreto férrico.

A água tratada pode ser reutilizada na própria indústria para a produção do concreto, lavagem de veículos, descarga de bacias sanitárias e até em rega de áreas verdes e jardins.


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Projeto desenvolvido por professor da UFG trabalha na conscientização para a produção e consumo Luciana Gomides

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A Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás (EA/UFG) desenvolve relevantes trabalhos nessa área. Um deles é o projeto de extensão Conversão para Produção Orgânica, coordenado pelo professor Paulo Marçal, cujas atividades se dividem entre o Câmpus Samambaia e a Fazenda Nossa Senhora Aparecida, onde se encontra a maior parte do plantio. O projeto é uma parceria firmada com a Associação para o Desenvolvimento da Agricultura Orgânica (ADAO) e envolve a participação de alunos e professores da Universidade, além de outras instituições.

Localizada no município de Hidrolândia, a fazenda está na família de Paulo há mais de 100 anos. Dos cerca de 370 hectares de área, 170 estão distribuídos para vegetação nativa e o restante é certificado para a produção orgânica. O pontapé inicial para o segmento foi a orientação de um projeto de Mestrado, em 2002, que consistia no manejo de tomates convencionais sem o uso de agrotóxicos. Durante as visitas aos produtores, o professor e seu orientando entenderam que a utilização dos produtos químicos funcionava como uma espécie de “seguro agrícola”, garantindo a permanência da lavoura.

A partir desse entendimento, os dois pesquisadores pretendiam provar a real possibilidade de ter uma plantação de tomates convencionais sem insumos químicos. “Plantamos e levamos a experiência a palestras. Tinha até um ninho de ‘rolinhas’ no tomatal, tiramos fotos dos ovos e tudo. Ou seja, é algo inimaginável animais se aproximarem de uma plantação contaminada”, lembra Paulo. Em 2005, o manejo foi expandido para a produção de tomates orgânicos, além de outras culturas. Atualmente a fazenda tem mais de 30 espécies cultivadas, dentre elas feijão, araruta, amendoim, mandioca, cúrcuma, milho e soja.

As espécies são laboradas no tempo ideal de plantio e colheita de cada uma, alternando as culturas. Para evitar o desgaste do solo e auxiliar no seu enriquecimento, é comum o uso de forrageiros, como o sorgo, antes de um novo semeio. A fertilização também é feita através de adubação

A produção da fazenda é revendida, semanalmente, nas feiras especializadas dos Mercados da 74 e Vila Nova (veja quadro ao lado), e a dica é chegar bem cedo, pois tudo é vendido rapidamente. Quem busca maior praticidade pode fazer seus pedidos online através do Orgânicos Pudica (<www.organicospudica.com.br>), cujo nome é uma homenagem à mãe do professor Marçal. O portal envolve, além da Nossa Senhora Aparecida, outros produtores da região, a fim de atender a demanda da lista de itens ofertados. As solicitações são entregues a domicílio nos sábados pela manhã.

Feira Agroecológica

Mercado Municipal da Rua 74, 329 - Centro Sábado, das 7h30 às 11h. (62) 3524-1111

Feira Escola de Agronomia

Avenida Esperança, s/n – Campus Samambaia Quinta-feira, a partir das 7h. (62) 3521-1530

Feira Mercado da Vila Nova

5ª Avenida, s/ - Vila Nova Quarta-feira, das 16h às 19h. (62) 3524-8300

Regulamentação

Professor Paulo Marçal mostra parte de sua produção em sua fazenda em Hidrolândia

Para preservar toda essa diversidade, Paulo mantém intacto algo que os produtores orgânicos consideram como sagrado, as mudas e sementes. Para eles, não é permitida a comercialização, mas a troca, muito comum em feiras, garantindo a dependência mínima de insumos externos, sejam eles fertilizantes ou sementes modificadas. Porém, nem todos conseguem suas próprias sementes e ainda não há empresas no país que as produzam. Uma lacuna que, na crença do professor, pode ser preenchida à medida em que a demanda por matéria-prima orgânica cresça.

Fotos: Adriana Silva

s benefícios da produção orgânica vêm sendo amplamente discutidos nos últimos anos. Em artigo publicado no portal Planeta Orgânico, a nutricionista Mara Cristina de Sousa Miranda conceitua como orgânico o produto originado por processos agrícolas que não utilizam agrotóxicos, aditivos químicos ou modificações celulares nas sementes. Esse tipo de cultivo possibilita o manejo equilibrado do solo, preservando-o de contaminações e tornando-se, assim, uma atividade sustentável. Para quem o consome, isenta o organismo dos malefícios causados pela ingestão excessiva de pesticidas usados nas lavouras convencionais.

A fazenda

Os itens são cultivados em plantações abertas e estufas, sendo a última uma importante aliada na lida com a sazonalidade, principalmente na produção de tomate, ainda o carro-chefe da fazenda. Nas lavouras, aplica-se técnicas de cultivo que estimulam um dos pilares da produção orgânica, que é a independência do agricultor. “Mostramos que, em um espaço só, o produtor pode plantar várias espécies. Por exemplo, fileiras alternadas de tubérculos, bananas e leguminosas. Isso garante produção para o ano todo”, explica Paulo, mostrando uma pequena plantação contendo diversas espécies cultivadas.

natural, com o uso de húmus orgânico, produzido no minhocário da fazenda. Sem nenhum sinal de insumos químicos ou modificados, esse trabalho gera uma produção variada, possibilitando que, em um mesmo espaço, o produtor possa colher, por exemplo, desde o tomate cereja à gigante variação espanhola.

Para ser enquadrado como orgânico, o produto precisa atender a, pelo menos, um dos requisitos estabelecidos pela Lei nº10831, a Lei Brasileira da Produção Orgânica. Em vigor desde 2011, determina três modalidades de garantia ao consumidor, chamadas de certificação. A primeira e mais comum é a certificação por auditoria. Nela, empresas cadastradas no Ministério da Agricultura, como o IBD (certificadora com sede em Botucatu – SP), ficam responsáveis pela inspeção anual dos produtores. Essa auditoria permite que o produtor comercialize seus itens para outros estados.

Extensão

Fazenda incentiva a produção orgânica

O nome do projeto já traduz o seu propósito, que é a conscientização para a produção e consumo de alimentos orgânicos. As ações são voltadas para profissionais da área de Ciências Agrárias, produtores e consumidores, e incluem palestras, visitas e orientações. Nas atividades, o interessado absorve as informações iniciais necessárias a respeito do que o professor Paulo chama de filosofia. “O que fazemos é um trabalho de educação para o consumo, de conscientização para um estilo de vida econômico e sustentável”, afirma. Os princípios dessa prática são evidenciados em todas as atividades desenvolvidas na fazenda.

A segunda é a certificação participativa, que exige a participação de associações. Aqui, os produtores se regulam através de visitas mensais nas propriedades inscritas. Em Goiás, a ADAO se destaca na representação dos produtores já em processo de credenciamento como um Organismo Participativo de Avaliação de Conformidade (OPAC), recomendação que a habilita a selar os produtos como Orgânico Brasil. A terceira e última modalidade é a certificação para venda de produtores locais, tem validade regional, atende aos produtores familiares e é regulamentada por uma Organização de Controle Social (OCS) que, como as OPAC’s, é acompanhada pelo Ministério da Agricultura.


Inaugurado Centro Avançado de Diagnóstico da Mama

Fotos: Thalízia Souza

Saúde

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Unidade é a primeira do Centro-Oeste a disponibilizar aparelho que realiza biópsia da mama a pacientes do SUS

Thalízia Souza

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Hospital das Clínicas da UFG inaugurou no final de setembro o Centro Avançado de Diagnóstico da Mama (CORA), que é a primeira unidade no Centro-Oeste a oferecer o exame de biópsia da mama por meio do aparelho de mamotomia a pacientes usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS).

A obra foi executada em parceria da UFG com o Instituto Avon e entidades públicas e privadas, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), os Ministérios Públicos de Goiás e do Trabalho, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e a ONG Companheiro das Américas. O investimento foi de R$ 8 milhões. Segundo a coordenadora de Ações de Rastreamento do CORA e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG), Rosemar Macedo Souza Rahal, a ideia de construir um centro avançado de diagnóstico do câncer de mama surgiu em 2010, após uma visita da equipe de Mastologia do HC ao Hospital do Câncer de Barretos, no estado de São Paulo, que possui um mamótomo móvel. Ao verificarem as vantagens oferecidas pelo mamótomo no diagnóstico precoce do câncer de mama, ela e o chefe do Programa de Mastologia do HC, professor Ruffo de Freitas Júnior buscaram parcerias para a concretização da ideia.

O coordenador do Programa de Mastologia do HC/UFG e do Cora, Ruffo de Freitas Júnior, afirma que a meta do CORA será reduzir o índice de mortalidade de mulheres por câncer de mama na cidade de Goiânia e,

principalmente, no interior do estado. Segundo ele, o índice se estagnou na capital, mas continua crescendo no interior. Com a inauguração do CORA, a expectativa é dobrar o número de mulheres atendidas no serviço, que hoje é de nove mil por ano.

Parcerias

Segundo a presidente da Fapeg, Maria Zaira Turchi, o CORA é um centro de referência e excelência exatamente por ser criado como um centro de pesquisa científica. “O governo de Goiás, por meio da Fapeg, acredita que essa parceria deve, além de equipar o Centro com equipamentos de ponta, dar continuidade na melhoria do serviço de atendimento em saúde por meio da formação de recursos humanos altamente qualificados. O CORA reúne projetos de mestrado e doutorado que serão acolhidos ali, além de outros já fomentados pela Fapeg, que vão contribuir para salvar vidas por meio da pesquisa aliada à extensão. E essa formação certamente continuará recebendo a atenção da Fundação para receber fomento em nossos diversos editais”, ressaltou. Parceiro do Programa de Mastologia do HC há seis anos, o Instituto Avon aceitou a ideia e destinou R$ 2,5 milhões para a construção da unidade. O diretor executivo do Instituto Avon, Lírio Cipriani, afirmou que se sente realizado com a concretização desse projeto, que beneficiará milhares de mulheres que hoje não têm acesso aos exames de diagnóstico e tratamento do câncer de mama. “O objetivo maior do CORA é reduzir o índice de mortalidade de mulheres por câncer de mama, que hoje está em 35 mulheres por dia”, destaca Lírio.

O CORA Infraestrutura: 1.709,11 m2 divididos em três andares, 15 consultórios, salas para os exames de ultrassonografia, mamografia e mamotomia, além de salas para pesquisas clínicas e auditório com capacidade para 70 pessoas. A unidade também oferece duas amplas recepções, uma sacada e um espaço de convivência. Sala sensorial: É a segunda no Brasil criada para a realização do exame de mamografia. A mulher poderá ouvir o som do mar ou do campo e ver imagens do local que ela escolher. A intenção é trazer mais tranquilidade, reduzindo o desconforto do exame. Investimentos: R$ 8 milhões na construção do CORA provenientes de parcerias público-privadas da UFG com poderes públicos, entidades civis e uma ONG. O Instituto Avon destinou R$ 2,512 milhões; a UFG R$ 2 milhões; a FAPEG R$ 2,150 milhões; a Ebserh viabilizou R$ 614,767; o Ministério Público do Trabalho R$ 420 mil para a aquisição do mamótomo; o Ministério Público de Goiás comarca de Itaberaí, viabilizou cerca de R$ 70 mil; A ONG Companheiro das Américas entregou um cheque simbólico no valor de 50 mil dólares destinado à aquisição de um software de digitalização de imagens, que será utilizado para a impressão das imagens de exames de ultrassonografia, mamografia e mamotomia.

Mamótomo Custo: R$ 420 mil O que faz? Biópsia da mama Quais as vantagens? Permite a coleta de até 12 amostras em um minuto do tecido adiposo onde se encontra o nódulo mamário; não provoca dor na paciente; reduz tempo de fila de espera, custos financeiros e dispensa o centro cirúrgico para realização da biópsia.

Prevenção e diagnóstico Paciente do Programa de Mastologia do Hospital das Clínicas da UFG desde 2013, Maria Aparecida de Lima, 54 anos, realizou em outubro, no Centro Avançado de Diagnóstico da Mama (CORA), a biópsia da mama esquerda por meio do exame de mamotomia. Em abril deste ano, ao fazer o exame de mamografia, o resultado revelou a presença de microcalcificações na mama esquerda de Maria Aparecida, o que levou a equipe médica da Mastologia do HC a solicitar o exame de biópsia. Em 2013, Maria Aparecida foi diagnosticada com câncer na mama direita. Residente da cidade de Itauçu, distante 72 quilômetros de Goiânia, ela foi encaminhada para fazer o tratamento no HC. O diagnóstico revelou que a doença estava no estágio 3 (o estágio mais avançado da doença), por isso Maria Aparecida teve que ser submetida a uma cirurgia para a retirada da mama direita e reconstrução mamária, além de receber sessões de quimioterapia e radioterapia. Desde então, Maria Aparecida é acompa-

nhada pela equipe médica do HC e, a cada seis meses retorna ao hospital para consultas e exames de rotina.

Ela conta que sentia fortes dores na mama direita, mas que demorou a procurar um médico. Somente depois que sua irmã foi diagnosticada com a doença, em 2012, Maria Aparecida tomou coragem para procurar ajuda. O apoio e o exemplo da irmã, Irani Leite Borges, 58 anos, foram fundamentais para que ela buscasse forças para realizar o tratamento. “Nós estamos sempre juntas, ela me dá muita força”, disse Maria Aparecida para a irmã que a acompanha nas consultas e exames. O exame foi realizado pelos médicos Luiz Fernando Pádua de Oliveira e Lilian Soares Couto, juntamente com o residente Leonardo Ribeiro Soares, do Programa de Mastologia do HC. Segundo a médica Lilian Soares Couto, a realização da biópsia no mamótomo dura cerca de 30 minutos, trazendo agilidade ao procedimento, que não precisa mais ser realizado em um centro cirúrgico. O laudo deve ser liberado em até 30 dias.

Irani Leite, irmã de Maria Aparecida, também já teve câncer de mama e a acompanhou na mamotomia


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Computação afetiva está alterando relacionamento homemmáquina e pode auxiliar áreas como saúde e educação

Mas como os computadores conseguem identificar emoções? Para compreender as emoções do homem, os dispositivos precisam pensar como os homens. “Identificar a emoção é algo extremamente complexo. Para lidar com essa complexidade, precisamos de algoritmos mais inteligentes, que consigam de fato separar e, ao mesmo tempo, identificar emoções de diferentes fontes de dados, como vídeos, fotos, áudios e textos”, explica Celso Camilo. Segundo o professor, a inteligência artificial usa de diferentes fontes de dados, processa por meio de algoritmos inteligentes e, com isso, consegue ter uma acurácia adequada para identificar emoções ou reproduzi-las.

Reuben Lago

O homem pode ser substituído?

Mas o computador vai substituir o homem? Para Celso Camilo, vai chegar o dia em que o computador vai ultrapassar o homem no quesito inteligência, porque muitos computadores já são capazes de fazer coisas que, na maioria das vezes, o ser humano não consegue. “Nós tentamos usar o benefício que a máquina tem em relação ao humano, que é a capacidade de processamento. Há computadores capazes de fazer tarefas específicas tão bem quanto os humanos, inclusive tarefas que envolvem criatividade e análise, como composições de música ou arte. Temos capacidade computacional e algoritmos para superar o homem em algumas coisas”, explica.

No entanto, na opinião do pesquisador, a humanidade não caminha para a competição homem-máquina, mas para a cooperação. “Acredito na composição homem-máquina trabalhando em conjunto para resolver problemas complexos”, opina. Segundo ele, a tecnologia acaba aprimorando a mão de obra, mas não necessariamente a substitui. “A inteligência artificial veio para nos ajudar a resolver problemas complexos para que o ser humano tenha mais tempo para se dedicar às coisas que trazem prazer”, afirma.

E os limites?

Como a computação afetiva ainda é uma ciência nova, o direito de uso das informações detectadas pelas máquinas ainda precisa ser regulado e gera polêmica, especialmente por conta do direito à privacidade. Para Celso Camilo é a sociedade quem deve dizer o que é permitido e o que não é, para isso, os debates são fundamentais. “Acredito que essas ferramentas devem ser utilizadas com cautela e que a relação deve ser consensual, ou seja, o usuário deve aprovar a utilização de suas informações ou sinalizá-las como públicas”, opina o pesquisador. Segundo ele, cientistas estão trabalhando para diminuir e tornar mais acessíveis os termos de aceite para que o usuário tenha uma melhor capacidade de tomar esse tipo de decisão. Celso Camilo explica que os termos utilizados atualmente costumam ser muito complicados e extensos e, por isso, os usuários costumam aceitá-los sem ler ou saber de fato o que estão aceitando. sentihealth.ml

Angélica Queiroz

D

esde a popularização dos computadores, a relação homem-máquina tem sido objeto de estudo dos cientistas e a possibilidade de máquinas que sentem e identificam sentimentos sempre foi considerada, no mínimo, intrigante. No entanto, novos estudos e dispositivos estão transformando essa possibilidade, geralmente explorada na ficção científica, em algo real. Com a computação afetiva, os computadores estão cada vez mais hábeis na tarefa de detectar o estado de espírito dos usuários e oferecer soluções baseadas nessa interpretação. O professor do Instituto de Informática (INF) da Universidade Federal de Goiás (UFG) , Celso Gonçalves Camilo, é especialista em inteligência artificial, ramo da ciência da computação responsável por desenvolver o raciocínio das máquinas, e explica que a computação afetiva ou cognitiva é um conjunto de recursos desenvolvidos para analisar e expressar afetividades por meio de métodos computacionais. “A computação cognitiva veio para ficar e está alteran-

do a forma como nós lidamos com os computadores e resolvemos os nossos problemas do dia a dia. A cada dia nós vamos melhorar e aprimorar essas ferramentas com o apoio da inteligência artificial”, prevê.

Segundo Celso Camilo, muitos programas de computador já são capazes de identificar o estado emocional do usuário e esses dados podem ser bastante úteis e auxiliar áreas como a educação, a partir do desenvolvimento de dispositivos que aliam fatores emocionais e cognitivos em busca de um melhor aprendizado, ou a saúde, com sensores que medem o estresse do paciente, possibilitando um tratamento mais adequado. Além disso, a computação afetiva pode ser aproveitada na própria interação homemmáquina, quando o computador busca oferecer soluções sob medida para o usuário. O professor destaca que a computação afetiva é multidisciplinar. “Ela trabalha desde a psicologia, passando pela sociologia, medicina e, claro, pela computação e engenharia”. Para ele o Brasil ainda explora pouco a área e o grande gargalo é justamente a interação entre as diferentes áreas.

Software ajuda no tratamento do câncer Tendo a computação afetiva como base, pesquisadores do INF da UFG desenvolveram um software que identifica o estado emocional de pacientes com câncer através de mensagens postadas no Facebook e pode ajudar no tratamento da doença. O SentiHealth faz um cálculo, com base em um dicionário emocional, de termos no texto e o classifica. O objetivo é disponibilizar essa informação à equipe médica, para que ela possa estabelecer o ritmo mais adequado de tratamento. “Se um paciente está em alguma etapa do tratamento com estado emocional baixo, isso pode impactar na tomada de decisão do profissional de saúde. Diversos artigos científicos relatam que pessoas mais positivas têm

mais facilidade em concluir seu tratamento”, explica o pesquisador do INF, Ramon Gouveia. O diferencial dessa ferramenta é que ela foca na análise do sentimento do autor do texto. Os pesquisadores submeteram ao software 700 textos publicados em grupos de apoio a pessoas com câncer no Facebook. As mesmas mensagens foram analisadas cada uma por três voluntários humanos e a taxa de acerto ultrapassou os 64%, tornando-se a ferramenta mais adequada atualmente para classificar o estado emocional de pessoas relacionadas ao câncer. A ferramenta pode ser experimentada no site

Tecnologia

Computador tem sentimento?

Mas como?


Pesquisa

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Uma luz no fim do túnel? Projeto da UFG visa melhorar a eficiência energética dos prédios públicos de Goiânia. Uso de lâmpadas LEDs é um dos primeiros passos Camila Godoy

A

construção de uma sociedade mais sustentável e consciente de seus recursos e dos limites do planeta já deixou de ser sonho. Hoje é uma necessidade. Para tanto, cada vez mais as pessoas têm pensado em novas formas de se relacionar com a natureza, criando, transformando e reinventando práticas. Em uma dessas tentativas de mudança, bem no centro do Brasil, uma escola pública poderá economizar R$ 700 mensais em sua conta de energia. A redução só é uma possibilidade por conta de um projeto desenvolvido pela Universidade Federal de Goiás (UFG), em parceria com a Universidade Internacional da Flórida (FIU), que busca melhorar a eficiência energética dos prédios públicos de Goiânia.

O contato com a UFG para dirigir o projeto na capital goiana foi inevitável. Desde então, cerca de 12 pesquisadores, entre professores, profissionais e estudantes da Universidade, se envolveram na ideia. A coordenadora do estudo e docente da UFG, Karla Emmanuela Hora, explicou que o grupo precisou fazer um levantamento do consumo de energia de todos os prédios públicos municipais a partir de 2012. “Calculamos a média de consumo desses prédios e cruzamos esses dados com o tamanho das áreas dos edifícios. Esse foi o primeiro desafio junto à prefeitura, que não tinha essas informações organizadas. Com nosso levantamento, chegamos à média de consumo anual de 80 kWh, o que é relativamente baixo se compararmos com países mais desenvolvidos”, afirma. De acordo com a professora, em seguida o grupo escolheu seis edifícios para fazer um estudo de diagnóstico, sendo dois da área administrativa, dois da Saúde e dois da Educação. “Queríamos conhecer diferentes realidades. Depois de avaliar cada um deles, percebemos que é possível

Fotos: Ana Fortunato

O trabalho começou em 2013, quando a FIU selecionou três cidades da América Latina para desenvolver estratégias que visavam reduzir em pelo menos 10% o consumo de energia elétrica dos edifícios municipais e que objetivava produzir mudanças na legislação municipal para estimular a eficiência energética dessas construções. Assim, além de Goiânia, foram escolhidas as cidades de Valdivia, no Chile, e Trindade e Tobago, no Caribe. Todas com características climáticas

diferentes e um histórico comum de ações de sustentabilidade urbana, que juntas poderiam estabelecer um perfil para a região, com informações preciosas para o mercado de construção.

Lâmpadas de LED já são realidade na Escola Municipal Maria Terra

melhorar a eficiência energética de todos. Para tanto, elaboramos um plano de ação e fizemos várias recomendações”, explica. Como a equipe buscava a propagação das práticas sugeridas, escolheram uma maternidade e duas escolas para apresentar propostas. “Os projetos arquitetônicos desses órgãos geralmente seguem modelos padronizados, que são aplicados em vários locais. Assim, quando novas construções forem ocorrer, elas já poderão adotar práticas mais sustentáveis”, defende.

A equipe classificou os edifícios de acordo com o nível de consumo de energia e percebeu que nas escolas, mesmo fazendo algum nível de melhoria, eles não seriam classificados com bom desempenho. Segundo a professora, essa dificuldade ocorre por conta do padrão dos prédios, que têm poucas árvores e muito concreto, não valorizam a instalação de brises, não aproveitam muito bem a orientação solar e que utilizam tijolinhos aparentes, modelos escuros e que absorvem mais calor. “A prefeitura pode valorizar mais a iluminação e ventilação natural nas próximas construções. No entanto, pensando que os edifícios já estão prontos e não há condições de fazer tanta intervenção, pensamos no que poderia ser feito de forma mais rápida e barata. Escolhemos então a Escola Municipal Maria da Terra, na região Noroeste de Goiânia, e fizemos um projeto piloto com intervenções”, explica.

Com 14 salas e funcionando nos três períodos, a escola escolhida recebeu um novo sistema de iluminação em parte de sua estrutura. A mudança veio da equipe do projeto, que trocou as lâmpadas do modelo incandescente e fluorescente de algumas salas de aula e corredor pelas lâmpadas LEDs, que são mais potentes e econômicas. “Se toda a escola fizesse essa substituição, seria reduzido cerca de 12% de seu consumo energético”, afirma a professora Karla Emmanuela Hora. Além disso, a docente explica que o grupo fará algumas oficinas de educação ambiental com as crianças para explicar o que é eficiência energética. “A ideia é formar multiplicadores”.

Quem não consegue esconder a felicidade com a mudança realizada pelo grupo é a diretora da Escola Municipal Maria da Terra, Juliana Campos, que apoia o projeto. “Nossa escola foi construída em 1999 e precisa de muitos reparos. Essa simples alteração foi percebida, principalmente por alunos do noturno e funcionários, que elogiaram a melhora na iluminação. Nossa intenção é expandir para todas as salas e, em breve, desenvolver um projeto de escola sustentável”. No entanto, apesar da alegria, a diretora alerta para um obstáculo: a insegurança. Segundo ela, a escola já sofreu bastante com furtos e vandalismo e precisa proteger o patrimônio, inclusive as novas lâmpadas.

Eficiência energética na UFG A busca por práticas ecologicamente corretas também é uma realidade na UFG, que em 2012 começou a desenvolver seu Plano de Gestão de Logística Sustentável (PLS). A proposta era ter uma ferramenta de planejamento com objetivos e responsabilidades definidos, que permitiriam à Universidade estabelecer práticas de sustentabilidade e racionalização de gastos e processos. De lá para cá, diversas ações foram realizadas. O coordenador do PLS da UFG, professor Emiliano Godoi, explica que para melhorar a eficiência energética da Universidade, a gestão aposta no aumento da conscientização dos usuários, no aprimoramento dos edifícios construídos, com a incorporação de novos conceitos de gestão de energia nos prédios a serem instalados e na instalação de relógios para monitoramento individualizado de energia. “Algumas campanhas de incentivo e conscientização acerca da redução do consumo de energia elétrica nos câmpus já foram realizadas, mas precisamos que todos se envolvam. Uma medida importante adotada pela instituição é a inclusão de elementos arquitetônicos que favorecem a entrada de maior intensidade de iluminação”, afirma Emiliano Godoi. Além disso, segundo ele, os novos projetos estão utilizando instalações elétricas aparentes, que facilitam a manutenção, e todos os equipamentos que fazem parte da infraestrutura são especificados com elevadas eficiências.


15 CAMINHOS DA PESQUISA

Avaliação institucional e boas práticas acadêmicas Luiz do Nascimento Carvalho é professor do curso de Psicologia da Regional Catalão

Adriana Silva

A *Érika Nunes de Medeiros Borges

Violência contra as mulheres: tentativas de ressignificação

O

problema da violência contra as mulheres é recorrente em diversas histórias de vida, e marca as subjetividades e as memórias como experiências que nem sempre são compartilhadas e ouvidas. Minha pesquisa qualitativa (2016) traz para o espaço público da ciência uma problemática tida como da esfera das relações amorosas e, portanto, de âmbito privado. A violência contra as mulheres tem gênero, cor, raça, etnia e classe. É uma questão de poder, pois a percepção da violência contra as mulheres pelas instâncias da esfera pública como problema social, histórico, cultural e também político é recente, e deve seu percurso às longas e estratégicas formas de luta do movimento feminista e de mulheres.

A violência contra as mulheres tem gênero, cor, raça, etnia e classe A partir da análise de histórias de vida focalizadas de cinco mulheres residentes em Goiânia, que tiveram em comum a exposição a situações de violência desencadeadas por seus namorados ou maridos, focalizei os significados subjetivos atribuídos às experiências vividas, com ênfase nas tentativas de ressignificação e de resistência por parte dessas mulheres, que sinalizaram possíveis rupturas com a situação de violência.

O estudo mostrou que por vezes há a negação de que a violência seja socialmente engendrada, sendo percebido, assim, como traço idiossincrático de seus perpetradores, tais como comportamentos explosivos ou ciúmes. Apontou que mesmo mulheres com alta escolaridade e não dependentes financeiramente de seus companheiros tiveram dificuldade de expor, denunciar e buscar ajuda profissional à época (com exceção de uma que processou o agressor). Alguns dos motivos citados para justificar a não denúncia são: não reconhecimento da violência e sentimento de culpa na

época, dependência emocional, medo, vergonha, impotência, carência de apoio da família e de relações de amizade e ausência de recursos para contratar um/a advogado/a.

Entretanto, as entrevistadas expressaram em maior ou menor grau, mesmo afetadas pelo medo e traumas da situação pós-violência, ter produzido estratégias de resistência aos mecanismos de poder, sujeição e dominação que têm como objetivo normalizar/normatizar, padronizar, regular, controlar e disciplinar as vidas das mulheres, seus corpos e subjetividades. Reconstruindo a memória do evento traumático, todas afirmam ter tido a possibilidade de romper com o agressor nos primeiros indícios de violência (ciúmes, controle sobre a vida, trabalho, agenda, patrimônio, corpo e estética da mulher), porém, não o fizeram devido à complexidade do problema e ao modo como foram socializadas/educadas para verem o mundo sexista de ódio contra e de sujeição das mulheres como natural. Assim sendo, a mudança ocorre no seio da própria dinâmica de poder que a constituiu, cada mulher à sua maneira: militância feminista, contato com o feminismo ou movimento de mulheres, pesquisa acadêmica e profissional, inserção pública e política, maternidade, novos relacionamentos amorosos, profissão que tem significado correlacionado com a violência sofrida ou estar em posição reconhecida socialmente. Portanto, as entrevistas permitiram concluir que essas mulheres conseguiram dar um significado novo às suas vidas, apontando o desejo de se reconstruir, algo já – ou próximo de ser – conquistado nas narrativas de todas elas. Suas tentativas de ressignificação apontam para um deslocamento nas relações de poder, tal como ressaltam estudos feministas que se ocupam do tema das violências.

* Érika Nunes de Medeiros F. Borges é mestra em Sociologia pela UFG (2016) O Jornal UFG não endossa as opiniões dos artigos, de inteira responsabilidade de seus autores.

Universidade Federal de Goiás (UFG) encontra-se atualmente em seu oitavo ciclo avaliativo (2015-2017), um processo que teve início nos anos 1990 (UFG, 2015), com o Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (Paiub). Atualmente, acompanha-se o modelo de avaliação institucional estabelecido pelo Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior (Sinaes), Lei n. 10.861, de 14 de abril de 2004, que é constituído por três componentes principais: avaliação das instituições, dos cursos e do desempenho estudantil, centrado no ensino, na pesquisa e na extensão. Destaca ainda o tema da responsabilidade social, o desempenho dos e das estudantes, a gestão da instituição, o corpo docente, as instalações, dentre outros aspectos (Inep, 2011). Para realizar esse processo utiliza-se de triangulação de instrumentos complementares como a autoavaliação, realizada por órgãos da própria UFG, avaliação externa, Enade, avaliação dos cursos de graduação, além do censo educacional, sob a responsabilidade do Inep. O que vem a ser integridade acadêmica? Seria possível isolar práticas, processos, códigos de condutas ou institutos que, em conjunto, pudessem ser caracterizados como indicativos de institucionalização de práticas sociais íntegras e honestas em uma Ifes? Seria possível identificar, mensurar, acompanhar em uma comunidade acadêmico-científica ao longo do tempo a expressão e a metamorfose de tais processos e suas tendências convergentes ou divergentes em direção a esse constructo? Para se instituir, estruturar e consolidar um Sistema de Avaliação da Integridade Acadêmica é fundamental responder a essas três questões. Integridade ou honestidade acadêmica (Academic Honesty and Integrity) é um conceito ético-político e visa avaliar determinadas práticas em termos de sua correição ou aceitação com base em um juízo de valor acerca do que é aceito como adequado ou inadequado por uma coletividade. O tema vem ganhando força à medida que se avolumam práticas reprováveis que colocam em cheque as atividades acadêmicas nas universidades e a reputação de seus agentes, em particular nas atividades de produção científica.

O fato é que instituições acadêmicas como a UFG encontram-se diante da necessidade de inserir nos ciclos e instrumentos avaliativos o tema da integridade, e abordá-lo de forma sistemática e com base em instrumentos já consolidados no processo de avaliação institucional. Para inserir no processo avaliativo o tema da integridade acadêmica é necessário construir indicadores, ou seja, instrumentos que possibilitem identificar e medir aspectos relacionados ao fenômeno da integridade e traduzir de forma mensurável esse aspecto. Por exemplo: é possível, com base em um levantamento em que estudantes respondem quantas vezes na sua vida acadêmica praticaram a “cola”, estabelecer um índice de “cola” como indicador de integridade acadêmica na graduação. Ao mesmo tempo, do ponto de vista institucional, é possível avaliar a existência ou não de Comitês de Integridade, resoluções específicas sobre o tema, como indicadores institucionais de integridade e atribuir pesos a cada um desses dispositivos. O fato a ser considerado é que se instituindo um programa de avaliação que incorpore o tema da integridade, será possível não apenas avaliar o fenômeno, mas acompanhar o seu desenvolvimento e alterações, bem como os impactos de ações educativas (por exemplo) no processo de mudança nas práticas em direção a um patamar considerado aceitável ou ótimo de integridade.

Opinião

ARTIGO


16 Meio Ambiente

Projeto busca salvar maior primata das Américas Professor da Regional Jataí, é o responsável técnico do projeto de avaliação ambiental para evitar a extinção dos muriquis-do-norte

Caroline Pires

A

s ações da universidade não devem se limitar aos muros de seus laboratórios. Consciente dessa responsabilidade, o professor Fabiano Rodrigues de Melo, da Regional Jataí da Universidade Federal de Goiás (UFG), encabeça um premiado programa de conservação dos macacos muriquis-do-norte (Brachyteles hypoxanthus), do estado de Minas Gerais. Estes animais estão enquadrados na categoria “em perigo crítico” pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN). Isso significa que, caso nada seja feito com urgência, em breve os macacos serão extintos da natureza.

Consciente da necessidade de rápida atuação, o projeto se apresenta com o objetivo de auxiliar na preservação do maior primata das Américas e

que só existe no Brasil. Estima-se que existam hoje cerca de mil animais, que têm sido afetados pela degradação da Mata Atlântica. Com o desmatamento, os muriquis têm ficado confinados em pequenas extensões territoriais, grande parte deles em Minas Gerais.

O programa de conservação dos muriquis de Minas Gerais recebeu no mês de julho a aprovação de um projeto no valor de R$ 400 mil oferecido pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. As ações serão executadas pela Organização Não-Governamental Biodiversitas, sob a responsabilidade técnica do professor Fabiano Melo. Participam também do projeto a ONG Muriqui Instituto de Biodiversidade, a Reserva Ibitipoca, a Universidade Federal de Viçosa e a Storm Security. O projeto também prevê a utilização de modelos matemáticos para avaliar as regiões mais propícias para a vida dos muriquis, por meio da análise das mudanças climáticas futuras, onde regiões com maior propensão ao fogo possam ser detectadas e evitadas, bem como a identificação de áreas mais adequadas para a sobrevivência da espécie.

O programa prevê a utilização de drones para realizar uma estimativa mais exata do número de primatas da espécie e a realização de uma análise da situação ambiental das regiões onde eles habitam. Fabiano Melo lembra que já houve iniciativas para a proteção dos muriquis, mas as ações eram sempre interrompidas por falta de recursos. “Agora vamos articular as ações, o que vai permitir aprofundamentos dos estudos sobre aspectos demográficos, ecológicos e genéticos dos muriquis, além da atuação em regiões não monitoradas. Dados que subsidiam futuras ações de proteção”, explica o professor.

São os maiores primatas das Américas

Daniel Ferraz

Possuem até 1,5 m de altura

Pesam até 15 quilos

Fotos: Fernanda Tabacow

Financiamento


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