Tribo Skate Edição 224

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Horace Green * Jay alves * Wesley Gelol * vans Pool Party

Leticia Bufoni Grandes transformações Léo KaKinho Com a palavra, O Bowlrider WaLLace BeLo

Amador x Profissional

Kenny anderson O embaixador Cons Leticia Bufoni, crooks Ano 23 • 2014 • # 224 • r$ 9,90

www.triboskate.com.br

thiago garcia

11 dias intensos










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// índice Tribo SkaTe | culTura Sobre rodaS

junho 2014 // edição 224

especiais> 40. Thiago garcia 11 dias intensos 46. LeTicia Bufoni Guinada 360 Graus 58. Léo KaKinho o Bowlrider 64. WaLLace BeLo amador/profissional 74. Vans pooL parTy reviravoltas do clássico 76. Kenny anderson emBaixador cons seções>

editorial.......................................................................14 Zap.....................................................................................20 casa nova.....................................................................82 Hot stuff ......................................................................90 áudio: Horace Green .............................................92 skateBoardinG militant .....................................94 JpG + mov .......................................................................96 Capa: antes do anúncio de grandes transformações na sua vida, Leticia Bufoni reuniu um belíssimo acervo de fotos para mais uma entrevista na Tribo Skate. Com parceria direta com o fotógrafo Fellipe Francisco, percorreu as ruas americanas com seu skate bonito, puro e técnico. Crooked. Foto: Fellipe Francisco Índice: Durante as gravações do vídeo primeira Classe, do Studio 12mm, Vinicius amorin quase não teve tempo pra concluir o seu encrencado ollie to wallride neste pico de Belo Horizonte. Com o segurança no seu pé, ele teve que ir e finalizar. Depois disso, nesta mesma missão, o cara se contundiu e ficou de molho vários dias. Foto: Mariana Rodrigues

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editorial //

Ebulição Por Cesar Gyrão // Foto Fernando Gomes

A

todos os momentos os sinais são claros da efervescência do skate, sua indústria, seus personagens. Para se ter exemplos claros, tenho ouvido com frequência de pessoas do universo do surf, que o skate está ocupando cada vez mais espaço e chegam a falar que estamos melhor que o mercado deles. Exageros à parte, uso como exemplo a revista Hardcore, que dedicou 14 páginas ao estilo de vida RTMF (Rio Tavares Mother Fuckers, galera de Floripa), em sua edição comemorativa de 25 anos! Não é pouca coisa. Os caras falam da união do surf com o skate e todo este caldo cultural que nos inserimos desde sempre, para ressaltar a enorme evolução dos últimos anos. Certo que no último editorial aqui na Tribo Skate usamos como ilustração um destes personagens, o André Barros, surfista e skatista pai do Pedro, aquele cara que imprimiu um novo gás neste cenário e que é citado como um ídolo, por exemplo, na entrevista do Pedro Scooby, surfista que está bombando em sua profissão. Não foi à toa que duas feiras no curto período recente, entre abril e maio, movimentaram o mercado e consumidores com grande sede de negócios e diversão. Falo da URB Trade Show e da Boardsports Fair, módulo da feira mãe Adventure Sports Fair, ambas em São Paulo. Uma mais direcionada ao comércio, outra à experimentação. Não há vez para o marasmo, mesmo com a proximidade da Copa do Mundo de Futebol, quando muitos vão parar para assistir, protestar ou faturar com o grande evento no país. Na elaboração desta edição, as coisas foram se moldando com o passar dos dias e nos encontramos numa tremenda saia justa, quando nosso personagem de capa e entrevista principal, a tetracampeã mundial de street Leticia Bufoni, anuncia que fechou contrato com a gigante Nike, em sua versão SB (skateboarding). Com tantas mudanças e o calendário de compromissos apertado, suamos para finalizar o texto com ela. Mas, o resultado está em suas mãos para seu deleite. De preferência, para ser compartilhado com os amigos, seja nesta versão impressa em papel de alta qualidade ou na versão virtual que logo será aberta ao público, no www.issuu.com/triboskate. Nossa função aqui é esta, dividir conquistas e multiplicar o sucesso do skate no Brasil e no mundo. Falando português e registrando nossa história. O Estádio da Fonte Nova, em Salvador, é um dos palcos da Copa do Mundo de Futebol. Joseval Tapó faz bom uso do local, como pico de skate. Bs grind.

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Ano 23 • junho DE 2014 • nÚmEro 224

Editores: Cesar Gyrão, Fabio “Bolota” Britto Araujo Conselho Editorial: Gyrão, Bolota, Jorge Kuge Arte: Edilson Kato Redação: Junior Lemos Colaboradores: Texto: Guto Jimenez, Grazi Oliveira, Helinho Suzuki, Pirikito Sem Asa, Thiago Garcia Fotos: Daniel Souza, Diego Sarmento, Eduardo Lobo, Fellipe Francisco, Fernando Gomes, Flavio Gomes, Guilherme Duarte, Helge Tscharn, Heverton Ribeiro, Leandro Moska, Mariana Rodrigues, Mauricio Pokemon, Petronio Vilela, René Júnior, Serafim Henrique, Thomas Teixeira, Vinicius Branca, Wander Willian

Pátria Editora Ltda Presidente: Jaime Benutte Diretor: Iberê Benutte Administrativo/Financeiro: Gisele Freitas Circulação/Comercial: Patrícia Elize Della Torre Comercial: Cezar Toledo (cezar@patriaeditora.com.br) Fone: 55 (11) 2365-4123 www.patriaeditora.com.br www.facebook.com/PatriaEditora Empresa filiada à Associação Nacional dos Editores de Publicações - Anatec

Impressão: Ipsis Gráfica e Editora Bancas: Fernando Chinaglia Distribuidora S.A. Rua Teodoro da Silva, 907, Grajaú Rio de Janeiro/RJ - 20563-900

Distribuição Portugal e Argentina: Malta Internacional

Deus é grande! São Paulo/SP - Brasil www.triboskate.com.br E-mail: triboskate@triboskate.com.br

A Revista Tribo Skate é uma publicação da Pátria Editora. As opiniões dos artigos assinados nem sempre representam as da revista. Dúvidas ou sugestões: triboskate@patriaeditora.com.br





zap // renato Custódio/urB

URB Verão 2015 Por CesaR GyRão // Fotos JUnioR Lemos e Renato CUstódio/URB

fotos Junior Lemos

Com a proximidade da Copa do Mundo de Futebol, o hangar que abrigou a primeira versão da URB Trade Show estava reservado pela Aeronáutica e Exército, portanto o espaço foi vetado para a feira que antecipa os lançamentos do verão de 2015. O Audio Pavillion, ambiente escolhido desta vez, não era tão visual quanto o anterior, mas os corredores ficaram mais largos e tornou visível o crescimento do volume de negócios. Os dois dias do evento reuniram algumas das principais marcas dos segmentos (skate, street e sneakers), entre tradicionais e novas, com maciça presença de seus criadores e dos skatistas profissionais e amadores que “são suas caras”. Horas intensas para medir o calor do mercado em ebulição, com encontros sérios entre quem produz e quem vende ou distribui skate no Brasil. A Tribo Skate marcou presença com a mini ramp montada com apoio da Compacta e alguns pros se mataram no espaço apertado, disputando alguns reais oferecidos pela Kronik. Para uma feira B2B (business to business), a URB desempenha bem seu papel.

Zezinho, Piquet, Alastrão e Fininho.

Lincoln Ueda e Cris Mateus.

Leandro Chico e Ivan Monteiro.

Pablo Groll e Homero Telles.

Felipe Vital e Sandro Soares.

Ricardo Pinguim.

Rui Muleque e Jorge Kuge.

Ligiane, Eliana, filho e irmã.

Silas Ribeiro e Rodrigo Leal.

Paulinho, Ronaldo, Edsinho.

Per Canguru

Crazy, Wagner, PG e Maninho.

Cezar, Junior, Renata, Gyrão, Shaiani.

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zap //

renato Custódio/urB

Junior Lemos

// URB Verão 2015

Karen Jonz.

Fabio Luis “Parteum”. renato Custódio/urB

renato Custódio/urB

Filipe Ortiz e Renato Souza.

renato Custódio/urB

Junior Lemos

renato Custódio/urB

Glauber Marques.

renato Custódio/urB

Robson Reco, Carlos de Andrade, Marcelo Kosake.

Sandro Dias, Marcelo e Serginho.

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Micke Veloso.

renato Custódio/urB

renato Custódio/urB

Paulinho Barata, fs flip. renato Custódio/urB

Fabio Schumacher e Leonardo Tabacow.

Marcelo Amador “Formiga”.



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João Brinhosa

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07 marCeLo mug

Alex Carolino acrescenta mais uma marca gringa aos seus patrocinadores. Desta vez trata-se da Picture Wheel Co, marca australiana de rodas que conta com Dennis Durrant, Benny Fairfax, Chewy Cannon, Tommy Fynn, Cale Nuske e Grant Patterson. (heavyweightbrands.com) • [01] Aqui no Brasil a nova marca de rodas vem do Rio de Janeiro. É a Sinah Skateboard, que conta com os locais Wallace Belo, Ionir Méra, Ademar Lucas e Lorran Freitas no time de frente. • A Posso! mantém a evolução de sua equipe com a entrada do skatista do Vale do Paraíba Luiz Gnomo. A marca conta ainda com os pesos-pesados do skate nacional: Marcelo Formiga, Otavio Neto, Leo Giacon, Felipe Marcondes e Henrique Crobelatti. (posso.com. br) • [02] Lúcio Mosquito manda notícias direto do Nordeste. Ele está com novo patrocínio da Amount, do também profissional Danilo do Rosário, já com dois models de shapes no mercado. Mosquito também conta com patrocínio de roupas da Narina, da Venice Skateshop e de rodas pela Connexion Wheels, que promete modelo de redondas assinado pelo skatista. • O amador João Paulo, de Barra Bonita/SP, é o mais novo integrante da equipe Vegetal, representada pela Hordem Distribuidora. • Rodrigo Petersen “Gerdal” participa do Real Street X Games, disputa baseada em vídeo na qual participam 16 dos mais cabreiros streeteiros mundiais, sendo que oito passam para o 2º round, restando quatro deles na etapa final. Mas apenas um levará a medalha de ouro. O vencedor será anunciado nos X Games 2014, que este ano acontece em Austin no Texas. • [03] #4F Limited é o nome da marca lançada pelo profissional Rogério Mancha junto com sua esposa, a stylist Camila Borba. A iniciativa estreia com a coleção 1986, inspirada na década de 80 e a impactante influência do skate na sociedade, na música, na arte e na moda da época. (4flimited.com) • [04] Garagem de Unicórnio é o nome do canal que a tricampeã Karen Jonz lança no Youtube, com dicas (in)úteis sobre suas experiências no universo do skate. (youtube.com/garagemdeunicornio) • A Öus realiza pela segunda vez o concurso cultural Frases Ímpares, que escolherá cinco frases para estampar as palmilhas dos tênis da nova coleção da série Guerrilha. (ous.com.br) • Giancarlo Machado lança um livro que deve ser obrigatório na biblioteca de qualquer um que acompanha o skate brasileiro. De “carrinho” pela cidade: a prática do Skate em São Paulo é o resultado da sua pesquisa (2009 a 2011) de mestrado em antropologia social pela USP. Garanta o seu: redeintermeios.com • [05] A histórica velha pista pública de Tubarão/SC foi completamente reformada e entregue aos skatistas no mês passado. Na ocasião parte da equipe Drop Dead fez o test drive e comprovou que está tudo certo. A pista é do início dos anos 80 e o editor Cesar Gyrão, esteve entre seus primeiros usuários. • Maio de 2014 fica marcado no calendário do skate mundial como o mês em que a Alien Workshop encerra suas atividades, provavelmente causada por uma mistura de crise mundial e má administração. • [06] Depois de Sfalt (2005), The Show (2007), Out of Shadow (2008) e Passengers (2012), a Cesar Prod, produtora de vídeos do suiço mais brasileiro de todos, Tristan Zumbach, prepara para outubro próximo o lançamento de seu quinto filme de skate, o Mad City. E mais uma vez os brasileiros terão destaque com participações de Glauber Marques, Vinícius dos Santos, Fernando Java, além do francês Max Genin. (cesarprod.com/br) • [07] Kamau e Rashid lançam o EP Seis Sons, resultado que vem de anos e anos de parceria entre os dois. •• A Associação de Skate Universitário (ASU), com orientação do profissional Marcos Camazano, inicia no extremo sul de São Paulo o projeto social Quintal Skate, que oferece aulas de iniciação e também conteúdos ligados à ecologia, saúde e cidadania para crianças e adolescentes. (skateasu.com.br) • [08] Stonix, a pedra negra, é a novidade que Curitiba apresenta para o mercado nacional. A marca vem com o trabalho orientado pela agência Phibra, de Gui Labiak, e apresenta sua equipe no começo do mês. (fb.com/StonixSkateboards). • Pé na Tábua é o novo programa de rádio no qual a jornalista Grazi Oliveira atualiza geral sobre as notícias do skate brasileiro e mundial. Toda quinta-feira, das 22h00 às 24h00, na rádio Ipanema FM, também na internet e em aplicativo para dispositivo móvel. (ipanema.com.br) • [09] André Ribeiro não faz mais parte da equipe Snoway, na qual desenvolveu por 9 anos os mais diversos projetos, buscando a valorização tanto do skatista quanto da marca, enfrentando juntos os altos e baixos do mercado nacional. “Na Snoway sempre fui valorizado e pude mostrar todo meu conhecimento e experiência de mercado. A marca me proporcionou diversos trabalhos e viagens, uma delas foi para a Europa em 2011, muito importante para mim, como skatista e pessoa. Com certeza ficará para sempre a amizade, o respeito e, o melhor, o reconhecimento do meu trabalho por todos esses anos. Obrigado Snoway, por tudo e por todos que ali passaram e fizeram parte da nossa história”. Hiena vai agora se dedicar aos projetos de suas marcas representadas pela Hordem Distribuidora, com novidades pintando em breve.

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Gisele ambrosio e os vistos americanos

Contatos: 001 (310) 923-0733 ou (310) 736-4076 email: info@giseleambrosiolaw.com www.giseleambrosiolaw.com

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arquivo PessoaL

Gisele e Leticia.

guiLherme Puff

Como você começou a trabalhar com a comunidade skatista nos EUA? Sempre tive afinidade com essa turma. Na verdade, algumas das minhas melhores amigas em Los Angeles eram skatistas profissionais quando eram mais jovens. As minhas amigas começaram a me apresentar aos seus outros amigos e assim eu comecei a ajudar o pessoal com os vistos. Eu sempre me identifiquei com a cultura e com o jeito de ser dos skatistas. Você trabalha com skatistas, artistas e bandas de música também, certo? Você já levou algum skatista conhecido ou banda famosa para os EUA? Sim. Eu tive a oportunidade de ajudar vários skatistas renomados como Leticia Bufoni, Felipe Gustavo, Kelvin Hoefler, entre outros. E bandas, também, como Brothers of Brazil, formada pelo Supla e João Suplicy. Quais os tipos de vistos que existem para um skatista? Os vistos para atleta são os tipos O e P. Para qualificar para o visto O, o cara precisa mostrar um grande destaque dentro do seu esporte. Para isso, pedimos provas de que ele já venceu várias competições (nacionais ou internacionais); provas de presença na mídia (jornalismo e publicidade); provas de contratos anteriores com patrocinadores de nome; provas de participação em eventos de grande porte; cartas de recomendação de outros atletas renomados ou entidades; provas que o atleta já serviu como juiz em competições, etc. Com este visto ele pode participar de competições, tours, campanhas publicitárias, etc. Muito importante notar que o atleta precisa de um patrocinador ou um agente aqui nos EUA que queira o trazer para trabalhar através do visto O. E para quem ainda não tiver grande destaque dentro do esporte? Se você ainda não tiver um grande destaque dentro do seu esporte, talvez você se qualifique para o visto P. Esse visto serve para indivíduos ou times que estejam vindo para participar de um evento importante. O visto P tem requerimentos mais leves do que o visto O. Por exemplo: o visto P requer um certo destaque do atleta, como participação em competições internacionais (mesmo que seja só na América do Sul), coloção superior em campeonatos, participação passada (ou presente) em algum time de grande porte, carta de recomendação de outros atletas renomados, carta da entidade ao qual você é afiliado. Se o skater estiver vindo com um time, o que conta é a reputação do time, e não somente a reputação individual do cara. Para conseguir este visto, o atleta ou time também necessita de um patrocinador americano para assinar o pedido do visto. Qual a duração desses vistos? Inicialmente o visto O é concedido por no máximo 3 anos, geralmente de acordo com a duração do contrato com o patrocinador americano. O visto P tem a duração inicial de no máximo 1 ano, geralmente de acordo com a duração do evento ou competição para o qual o atleta está vindo participar. É importante saber que existe a possibilidade de se pedir uma extensão nos dois tipos de visto se o patrocinador do atleta provar que continua precisando dele aqui nos EUA. Os dois tipos de vistos também permitem ao patrocinador peticionar o green card para o atleta. E para quem é muito famoso, muda alguma coisa? Se você já for realmente reconhecido pelas suas habilidades dentro do seu esporte, talvez se qualifique sozinho para fazer a petição direta do green card, sem ter que passar por um visto e sem a necessidade de ter um patrocinador assinando os papeis por você. E se eu não quero morar nem trabalhar nos EUA, que outro tipo de visto eu posso pedir? Se você não está vindo para viver nem trabalhar nos EUA, mas apenas para participar de alguma competição ou se encontrar com algum possível patrocinador, o visto B-1 (de negócios) pode ser o suficiente. O problema de visto é que ele tem muitas limitações, pois só te permite ficar dentro dos EUA por 6 meses e não te permite trabalhar, nem receber salário. A exceção é que se você participar de uma competição e ganhar, você pode ficar com o prêmio. Se eu tiver somente um visto de turista e trabalhar/competir dentro dos EUA, o que acontece? Quando você entra nos EUA com um visto de turista (visto B-2), você geralmente recebe uma permissão de 6 meses para ficar aqui dentro. Durante esse tempo, você não tem permissão para trabalhar nem para receber nenhum tipo de compensação (seja isso salário ou prêmio de competição). Se por algum motivo você for pego pela Imigração fazendo alguma dessas coisas, você pode ser deportado e banido de voltar aos EUA por um longo tempo.

ana PauLa negrão

Há algum tempo a Ana Paula nos comenta sobre a advogada que tem ajudado a skatistas e músicos a resolverem suas situações de vistos de trabalho nos Estados Unidos. Muitos têm chances reais de atuar como profissionais em território americano, recebendo por seus trabalhos de maneira segura e oficial. Casos como os dos campeões mundiais Kelvin Hoefler e Leticia Bufoni que hoje têm seu Work Visa e podem entrar e sair do país a qualquer hora, recebem seus salários e premiações com os devidos impostos pagos. Gisele Ambrosio é o nome desta profissional, uma brasileira que conhece o caminho das pedras para quem quer estar legal nos EUA, aproveitando as oportunidades que surgirem. (Gyrão)

Errata Na última edição, a 223, erramos duas legendas na pauta do Gian. Na foto de abertura a manobra é de switch e na sequência omitimos o shovit no meio do combo de manobras. Pedimos desculpas, afinal errar é humano e corrigi-lo é animal!



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skate na adventure Por JUnioR Lemos // Fotos JUnioR Lemos e FLavio Gomes A Adventure Sport Fair, maior feira de aventura e turismo do hemisfério sul, teve uma forte presença do skate na edição de 2014. Acontecendo no famoso pavilhão da Bienal, que fica dentro do Parque do Ibirapuera em São Paulo, foram quatro dias nos quais um grande público teve a oportunidade de vivenciar variadas modalidades esportivas, sendo o skate uma das mais concorridas. Isso porque a Converse, em parceria com o Brasil Skate Camp, ofereceu uma excelente área de street, que contou com concorridos rolês por baterias, aulas de iniciação e apresentação de equipes diversas. Foi skate do começo ao fim! O stand da Tribo Skate foi outro ponto de reunião

da galera. Além da venda dos produtos da marca (bonés e camisetas), distribuição de revistas, adesivos e brindes cedidos pela Mary Jane e Kronik, ainda rolaram por lá interações entre skatistas e público, contando com a presença dos profissionais Fábio Castilho, Karen Jonz, Gian Naccarato, André Hiena e do amador Pedro Quintas. Além disso a Urgh e a V8 trucks também marcaram território, com seus stands apresentando produtos diretamente para o público consumidor. Teve muito skatista praticando slackline, experimentando a sensação do mergulho e ainda se jogando no free fall. Ano que vem tem mais!

Daniel Crazy, nollie heel noseslide.

André Hiena.

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Gian Naccarato.

Karen Jonz.


fLavio gomes

// zap

Binho, Fiorese, Castilho.

Brinde.

Brasil Skate Camp.

James Bambam, switch heel.

Cris, Valdir, Gian, Kuge e Akira.

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diego sarmento

Jay alVes

Wallie.

Podemos dizer que a esplanada do Estádio do Mineirão é o quintal da casa do profissional Jay Alves. E durante os rolês diários de skate por lá, o mp3 player é seu fiel escudeiro e as 20 músicas indicadas abaixo são as que estão entre as mais tocadas nos tímpanos do skatista. A-Trak Kanye’s Soul Mixshow, Intro Bob Marley, Concrete Jungle Boogarins, Infinu Boogarins, Doce Castilho, Consciência Common, Southside (feat. Kanye West) Common, The People Cunninlynguists,War Curtis Mayfield, Move On Up Edi Rock, Thats My Way

Edward Sharpe & The Magnetic Zeros, Day Dream Fitz & The Tantrums, MoneyGrabber Kanye West, Lost In The World KiD CuDi, Pursuit of Happiness (Nightmare) Lenny Wiliams, Cause I Love You Tupac Back, Meek Mill & Rick Ross Mobb Deep, Smoke It Shawlin, O Mago Notorious B.I.G, New York, New York YOka YOka, Pássaro Imigrante

Jay Alves, 29 anos, 17 de skate (Converse, Hagil Wheels, Lixas Hood, Capital Skateboard e Orig Skateshop)

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Futuro de Um Lado o skate está ampLiando Cada vez mais a vida útiL do skatista, poR oUtRo eLe vem ReCeBendo Cada vez mais adeptos qUe maL saíRam das FRaLdas. poR isso o taLkshow deste mês ReveLa aLGUns Rostinhos novos qUe podem viR a seR nomes expRessivos do skate BRasiLeiRo no FUtURo.

@Gianaccarato

@adrianomi

@cezargordo

@guguinhadias

@instagrau_

@jhonypeters

@otavioneto

@rpetersen80

@thiagopingo

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Wesley Gelol eLe é de poá e tem Um LonGo envoLvimento Com a JaiL, maRCa de são BeRnaRdo do Campo LiGada à naRina, Uma das mais tRadiCionais do meRCado BRasiLeiRo. qUando deCidiU se mUdaR paRa a espanha, mais pReCisamente paRa BaRCeLona, as dUas seGUiRam Com o sUpoRte de sempRe, paRa Lhe peRmitiR desenvoLveR o seU pRoFissionaLismo no skate mesmo Com o oCeano atLântiCo os sepaRando. wesLey GeLoL é Um skatista de stReet Consistente. tem na BaGaGem mUitas viaGens paRa FiLmaR e FotoGRaFaR, mas tamBém teve sUa époCa de CompetidoR. seUs amiGos e admiRadoRes estão Bastante CURiosos soBRe sUa nova vida FoRa do país, qUando eLe voLta, Como está se viRando. a maioRia das peRGUntas Foi neste sentido, mas seU Linha veRmeLha tem mais históRias LeGais e meReCe seR Lida, aLém da visUaLização da BeLa Foto saCada peLo GUiLheRme dUaRte em sUa nova Casa.

// Wesley Cardoso Nasceu em Poá/sP mora em BarceloNa/esPaNha 29 aNos, 17 de skate PatrocíNio: Jail, NariNa aPoio: 3rd Floor hardware, sessioN skate shoP

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E aqui em Barcelona, em relação a apoio, tem que estar em cima do skate com personalidade e fazendo acontecer. Creio que é igual a qualquer lugar do mundo, mas o problema é que não tem um mercado forte como o nosso e o dos EUA, mas tem os picos e isso já basta para muitos. • O que o skate mudou na sua vida? E o que você diria para nossos futuros skatistas? (Diego Ferreira, Taubaté/SP) – Salve, Diego. O skate me livrou de várias paradas ruins como drogas e criminalidade; comum em quebradas, principalmente as de São Paulo, onde vemos as coisas ruins acontecerem bem de perto. Eu digo que andem de skate e sejam felizes no que os faz bem; a pior coisa é fazermos o que não gostamos. • E aí Gelol, beleza? Então mano, qual é a diferença entre morar aí em Barcelona e morar aqui no Brasil? Não só sobre skate, mas sobre tudo: cultura, educação, qualidade de vida? O que mudou pra você agora que está aí? (Edmar Sorriso, Jacareí/SP) – Salveee, Edmar! O skate nem precisa citar: é so assistir qualquer vídeo que as imagens são em sua maioria feitas aqui. Sobre outras paradas, sua mente se abre todo dia! Você está em contato, conversando ou morando com muita gente de vários lugares do mundo e acaba aprendendo alguns costumes bons, outros não. É tudo muito natural; cada um faz o que quer e ninguém repara, como acontece aí no Brasil. Um exemplo é que em vários empregos comuns que têm aí, te olham torto se você tem uma tattoo, ou o cabelo diferente, a barba grande. Aqui é normal todo mundo, desde jovens até os mais velhos, o incentivo à cultura e arte. Isso é muito forte e gera turismo vindo da Europa inteira. Então a cidade fica o ano todo em festa, as pessoas te consideram pelo que voce é, não pelo que você tem. Eu saio todo dia de skate ou bike pela cidade e volto para casa com uma informação útil ou aprendizado para minha vida. O que mudou para mim é que agora sei fazer vários rangos, hahahaha! • E aí, meu parceiro Wesley Cardoso. Sei que você já foi várias vezes pra Europa e já disputou campeonatos com vários nomes do skate mundial, mas por que você se identifica tanto com Barcelona? Abraço, mano. Sucesso! (Bruno Inácio, Poá/SP) – Salve, Bruno. Já viajei algumas vezes para Europa e na hora de voltar sempre batia uma parada como: “puts, acabou!” Então dessa vez eu não quero que acabe, quero viver e aprender o que esse lugar mágico tem para me mostrar. Eu também me indentifico muito com Barcelona porque sinto a mesma vibe que sentia quando comecei a andar de skate, quando eu e os moleques da minha rua íamos todo dia de noite pro centro da cidade “fazer um street”, como falávamos na época. • O que você acha que falta no Brasil pra um profissional de skate poder viver somente dele e o skate poder virar uma referência como é o futebol? (Dayana Gomes de Almeida, Poá/SP) – Oi Dayana! Só montando seu próprio bagulho você serafim henrique

• O que mais te anima no skateboard e o que mais te desanima no mercado nacional do skate? Diz aí, meu irmão Gelol. Forte abraço! (Muller Rafael, Birigui/SP) – Chega, Muller! Me anima as amizades que fazemos andando de skate; o corre de agilizar algum pico novo para andar, seja passando por aí e enxergar ou fazendo com as próprias mãos. O mercado de skate brasileiro está melhorando, mas ainda tem alguns sanguessugas que estão na cena pelo dinheiro, para engordar sua conta no banco, que escrevem sk8 ou skateboard e bla bla blá em suas roupas e choram na hora de fazer o trabalho certo. O que vira é a gente, os skatistas mesmo, montar nossas marcas, nossas lojas e investir, da maneira que sabemos e conhecemos, pro bagulho sempre se fortificar. • E aí Gelol, a pergunta é: não volta mais pra casa? Kkkk! Abraços. (Ricardo Morari, Suzano/SP) – E aí, GB. Um dia eu volto! Pode ter certeza. Grande abraço, irmão. • Firmeza, Gelol. Sou de Mogi das Cruzes. Dos moleques de Poá que colavam na pista de Mogi, lembro de você e do Chico se destacando entre os outros; satisfação ver que você está bem. Pergunta: Qual o maior desafio que você teve até hoje no mundo do skate? Abraço, irmão. Fica com Deus. (Arley Adercio Vidal, Mogi das Cruzes/SP) – Arley, satisfação enorme. O maior desafio que eu acho que tive foi viajar para Praga com 18 anos, sozinho, chegando lá com 5 euros no bolso, algumas peças, sem saber se ia vendê-las ou não. Mas graças a Deus vendi tudo e consegui fazer um dinheiro para correr o evento e comer. No skate a gente passa por vários desafios diariamente, mas que eu me lembre, esse foi um desafio que marcou para mim. • Wesley, sei que já andou de skate em vários estados do Brasil. Como você vê a evolução do skate no Nordeste? Sabendo que sua atual city é Barça, quais as vantagens que a cidade proporciona com relação a apoio? Abraço. (Tiago Magalhães, Fortaleza/CE) – Salve, Tiago! Mano o Nordeste é especial. Já fui praí algumas vezes nos últimos anos e a energia é demais. O skate é muito forte, muita gente contribuindo para a evolução, tanto das manobras como do mercado mesmo. Em Fortaleza mesmo, antes de vir para Barcelona, colei e flagrei os picos surgindo como água, skatistas bons de raiz, muitos mármores, muitos monumentos perfeitos para andar, skate parks, eventos bons, fotógrafos; então é só agilizar os vídeos que o Brasil precisa ver mais skate daí.



zap //

Wesley Gelol vai conseguir viver legal e não depender de ninguém, fazendo o seu próprio corre. Mas junto com quem está do seu lado porque sozinho também não somos nada. Na real o skate já é referência para quase todo mundo, até para quem joga futebol, porque chutar madeira, como meu amigo Marcelo Melo fala, é bem mais difícil do que chutar uma bola. • Por que até hoje o skate não é considerado um esporte olímpico? (Daniel de Moraes Silva, Araçatuba/SP) - Salve, Daniel. Na minha visão skate é mais liberdade e as competições boas que existem, fogem de normas como as olímpicas. Se fôssemos para as olimpíadas seria bom para divulgação do esporte, mas ruim para a realidade de quem anda! • Como está a ajuda dos seus patrocinadores? Eles estão te fortalecendo aí em Barça? (Felipe dos Reis Borges, SP/SP) – Salve, Felipe. Estou morando em Barcelona e continuo tendo o suporte das marcas que me patrocinam. Eles mandam o salário que eu uso pra pagar o aluguel e comer. Os materiais sempre chegam também, através dos amigos que sempre estão vindo para cá ficar uma temporada. Nós os contactamos e eles trazem algumas peças e roupas para continuarmos fazendo o trampo. Nós temos um relacionamento muito bom e aberto, e com a internet a divulgação dos trampos fica no mesmo nível, eu estando em SP ou aqui. • E aí, truta? De Poá, quem você acha que vai ser o futuro do skate? (Matheus Victor, Ferraz de Vasconcelos/SP) – Salve, Matheus. Em Poá, com a ajuda da Ong Social Skate, estão surgindo vários manos andando muito, evoluindo e sendo lapidados para serem bons skatistas, não só nas manobras como também nas ideias. O Watson, Bruninho, Liph e Benito são os moleques que eu vejo que vão andar para sempre! • Como está sendo viver o skate internacional? Que visão você tem sobre isso? (Jorge Filho, SP/SP) – Salve, Jorginho. Está sendo uma experiência de vida muito foda viver fora do Brasil, principalmente em um lugar que respira skate. Direto saio para andar e trombo no rolê vários malucos que me influenciaram e me influenciam. É bom para a evolução, você estar em um pico e assistir pessoas do mundo inteiro na missão, filmando e marretando ao vivo. • Salve, Gelol. Como você se sente sendo o primeiro skatista pro de Poá a representar a cidade na Gringa? O que você acha do projeto Social Skate? (Carlos Eduardo, SP/SP) – Salve, Carlos. Eu sinto que estou onde Deus me colocou; agradeço muito a Ele por sempre estar me guiando. Se sou influência em coisas boas para os mais novos da minha cidade, fico muito feliz. O projeto da Ong Social Skate, do Sandro Testinha, tinha que entrar como a oitava maravilha do mundo; muito gratificante ver isso na cidade de Poá, onde cresci andando de skate. Se tivesse no meu tempo, eu ía curtir muito! • Fala, Gelol! Como todo skatista tem uma história sobre o começo da sua vida com o carrinho, você também deve ter uma história style! Como foi o seu primeiro contato com o skate e o que a sua família influenciou para que você chegasse onde chegou? (Gabriel Costa da Rocha, Jacareí/SP) – E aí, Gabriel. Lembrei de uma: foi quando caí feio na rua em cima de uma pedra e fiquei com um hematoma de sangue prensado na perna, que doía muito. Então meu pai escondeu o skate no sótão de casa e me falou que roubaram e eu acreditei. Aí depois de umas duas semanas ele me entregou. Foram as piores semanas da minha vida, hahaha! Mas depois disso sempre me apoiaram e me deram muita força nas horas difíceis. Agradeço a Deus por ter pais maravilhosos que sempre foram meus amigos! • E aí, Gelol. Beleza? Aqui é o Pelezinho. Fico feliz por você, rapa. Se lembra da vez da chapinha que você fez no cabelo? Conta pra galera! (Anderson Ferreira, Pelotas/RS) – Salve Pelezinho, quanto tempo meu irmão! Orra, desenterrou essa hein, haha… Foi quando eu tinha cabelo estilo black power. Estávamos aí no Sul e teve esse campeonato de Pelotas. Colou o banca, daí eu e o Didi de Esteio ficamos na casa do Maneca e a gente achava a irmã dele muito gata; ela era mais velha e tal. Aí ela falou: “vamos fazer para ver como fica?”. Eu falei: “demorou, faz aí”, hahaha. Aí ficou engraçado; fomos pro campeonato, que eu passei em primeiro pra final. Me lembro não pelo cabelo, mas pelas tricks mesmo, hahaha. E o Didi, se eu não me engano, ganhou esse champ! * Pergunta escolhida foi a do Bruno Inácio, Poá/SP. Próximo eNFocado: rodolfo ramos eNvie suas PerguNtas Para: triboskate@ymail.Com com o tema linha Vermelha – rodolfo ramos coloque Nome comPleto, cidade e estado Para coNcorrer ao Produto oFerecido Pelo ProFissioNal.

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guiLherme duarte

// zap

Bs bluntslide com aquela volta em diagonal, pra evitar o ladrilho.

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DesDe o início era uma Trip em Família - eu e minha esposa -, mas sempre com os picos clássicos De skaTe Dos anos 90 na cabeça, sem saber o que esperar. nosso DesTino Foi oaklanD, uma ciDaDe preDominanTemenTe negra com uma hisTória De escravos excluíDos pela socieDaDe em são Francisco; os negros Foram para oaklanD consTruir suas viDas. uma ciDaDe De pessoas muiTo recepTivas a qual a culTura negra é griTanTe e aTraenTe, onDe se respira o hip-hop e onDe surgiram os black panThers. me senTi muiTo à vonTaDe por Ter muiTas semelhanças com o nosso brasil! TexTo Thiago garcia // FoTos Eduardo Lobo

Feeble.

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thiago garcia // viagem

De Oakland a S達o Francisco

11 dias

inTEnsos 2014/junho TRIBO SKATE | 41


S

abendo que ficaria apenas onze dias para conhecer o máximo possível de coisas e lugares, comecei uma rotina de levantar bem cedo pra fazer alguns passeios com minha mina no Lake Merritt, passar no mercado e as tardes seriam sempre para o skateboarding. Um bom tempo antes de viajar, o Ricardo Cunha me disse de um amigo em comum que morava por lá, o Eduardo Lobo, que já estava adaptado ao esquema de vida norte-americano e flagrava muito bem os diversos picos da região, clássicos ou não, como por exemplo o Pier 7 e o Embarcadero. Outra pessoa que ajudou bastante foi o Fábio Galembek (Coelho), que morou em Oakland por 15 anos. O primeiro pico que colamos foi o Brown Banks, que fica em Oakland. São umas paredinhas que os caras da Thrasher fizeram umas entradas para ficarem skatáveis e logo pensei: “essa cidade respira muito skate”. No dia seguinte, em mais um passeio matinal, sem querer achei a transição de asfalto na Lake Merritt School. O Eduardo me disse que já tinha visto o pico mas não lembrava de alguém manobrando ali!

Mayday grind.

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thiago garcia // viagem

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viagem // thiago garcia

Bs flip.

No terceiro dia fui para San Francisco e de cara me deparei com o clássico Embarcadero. Naquela hora passou pela minha cabeça todos os vídeos que tinham manobras do Mike Carroll, Henry Sanchez, Chico Brenes, James Kelch e vários outros. O destino era China Town, em uma praça que é algum tipo de memorial chinês e nesse meio tempo passamos pelo China Banks, pelo famoso corrimão que o John Cardiel desceu de 50/50 e pela Union Square. Pausa para o casamento da minha cunhada, uma cerimônia rápida e com algumas coincidências: o fotógrafo do matrimônio era o Joe Brooke, que é do staff da Thrasher; também estava por lá o Brian Anderson, que é amigo do noivo, e mais uma vez senti como São Francisco respira skate. Outra situação bem legal foi poder encontrar com o Haroldo Carabetti. Quem o conhece sabe que ele foi um dos maiores streeteiros do fim dos anos 90 e começo dos 2000, mas a maioria não sabe que hoje em dia ele anda somente de vertical, em um half na cidade de Berkeley. E mesmo fazendo alguns anos que não o encontrava, foram muitas risadas e lembranças de várias histórias do skate brasileiro. Voltando às sessões de skate, o próximo pico tinha um visual bem louco, com a vista da baía e toda a ponte Golden Gate ao fundo. Pelos lados dos piers, bem próximo ao Pier 7, outro pico histórico do skate, achamos uma borda alta e lá fizemos mais uma foto, desta vez com a Bay Bridge ao fundo. Bem próximo dali, passando o Giants Stadium, chegamos ao Third and Army, um lugar com várias bordas e alguns canos brancos, bem conhecido dos vídeos também. Mais uma vez foco na missão e vamos filmar, mesmo com as pernas não aguentando mais! E na volta pra casa passava na minha mente toda a retrospectiva dos 11 dias por lá. Uma mente agora cheia de novas experiências, ideias e uma lição de que ainda temos muito o que aprender em relação aos picos que temos, aos nossos eventos e muitas outras coisas aqui do Brasil. Afinal uma das impressões que mais marcou minha estada na Gringa foi de que os norte-americanos sabem muito bem respeitar o passado e suas histórias.

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entrevista pro // leticia bufoni

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Leticia Bufoni

novos

ares

O skate caiu cOmO uma luva para a pequena leticia, nas ruas de seu bairrO na ZOna leste de sampa. andava cOm Os mOleques e se cOnfundia cOm eles. nunca se intimidOu cOm as habilidades dOs garOtOs, pOis aprendia fácil cOmO qualquer um deles. dali para O skatepark da plasma/central surf, nO shOpping aricanduva, fOi um Ollie na base. uma verdadeira escOla, Onde pOderia ganhar mais cOnfiança e fluideZ nas manObras. aquela menina linda, cOm seus 9, 10 anOs, já demOnstrava um tOm a mais que a média nO dOm de andar de skate. esse talentO a levOu lOnge. cOnquistOu títulOs e eventOs, filmOu e fOtOgrafOu nO mundO tOdO, mudOu para a califórnia para criar uma carreira prOfissiOnal e está sempre em busca de nOvOs ares para explOrar. além de cOmeçar a saltar de paraquedas cOm seu cOlega de equipe, bOb burnquist, tem uma série de ideias nOvas e vai sOltandO aOs pOucOs. assim cOmO vai lançandO uma Obra de arte aqui, Outra ali, em fOrma de manObras cOm seu carrinhO. pOr Cesar Gyrão // fOtOs Fellipe FranCisCo

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entrevista pro // leticia bufoni

Q

uantos saltos você já fez? Seu instrutor é mesmo o Bob, ou está explorando novas áreas do paraquedismo com ele? Tenho 40 saltos. Fiz alguns com o Bob, mas meu instrutor é o Rogério Ipiranga, paraquedista. Já aproveitou e deu uma batidinha no quarterzão da Megarrampa ou pulou o gap na casa dele? Há muito tempo atrás dei algumas batidas no quarter da Mega, mas só de passagem. (risos) Qual sua frequência atual de surf? Você mora mesmo perto da praia? Surfo sempre que estou em casa e tenho uma folga. Moro bem perto da praia. Quando a água não está muito gelada eu me arrisco nas ondas californianas. Você conquistou um invejável lifestyle em poucos anos, mas foi uma batalha duríssima. Desde convencer sua família a deixar você seguir seu caminho a respirar fundo e encarar grandes eventos, como os X Games, com o pé recém saído de uma operação. Como foi sua mudança pros Estados Unidos? Minha mudança pros Estados Unidos foi uma coisa bem rápida e inesperada. Nunca imaginei que minha família me deixaria em outro país sozinha, apenas com amigas. Eu era tão jovem que só pensava em andar de skate, não tinha noção da dificuldade de aprender a falar outra língua e viver outra cultura; me adaptei bem rápido. Foi difícil ficar longe da família com apenas 14 anos, mas isso ajudou muito na minha maturidade. O vídeo Children of Revolution, de 2009, marcou uma época, pois reunia várias criaturas adolescentes que quebravam e você era uma delas. O que representou esta fita pra você? Quando surgiu a ideia do Tony Mag, fundador da Osiris Shoes, de fazer um vídeo de “crianças” achei muito legal, porque normalmente as crianças não têm muitas oportunidades fora os campeonatos. Essa foi minha primeira vídeo parte e marcou muito minha carreira. Até hoje recebo mensagens de fãs falando sobre ela. Você coleciona quatro títulos de campeã mundial de street skate feminino. Você se tornou profissional ao encarar os eventos internacionais? Como foi a transição? Essa transição de sair do Brasil, que na época tinha um nível bem baixo perto do nível americano para competir X Games, Maloof, Super Girl, entre outros. Foi bem difícil pra mim nos primeiros anos. Demorei uns dois anos para entrar no ritmo do skate feminino americano.

Vencer o Maloof Money Cup lhe rendeu uma boa grana, mesmo descontando o valor dos impostos. Além dos seus salários, você sempre tem este a mais com os campeonatos. Como você administra seu dinheiro? Os impostos levam uma boa parte mesmo. (risos) Todo dinheiro que ganho tento investir. No Brasil, minha irmã é minha gerente, então ela toma conta da parte de dinheiro e investimentos. Nos Estados Unidos eu cuido com ajuda dos meus empresários, pois é muita coisa para fazer sozinha. Sempre estou viajando e às vezes não dá tempo de fazer tudo. Passo mais tempo no avião do que em casa! Você é de família de classe média da Zona Leste de São Paulo. Logo seus pais perceberam que você iria brilhar no seu esporte, mas não sem antes ficarem com receio de emancipá-la. Li que seu pai chegou a quebrar um skate seu, mas você não aceitou e seguiu seus instintos. Essa foi a parte mais difícil? Foi bem difícil essa época; não digo a mais difícil, mas não foi fácil convencer meu pai a me deixar andar de skate. Ele tinha uma ideia diferente sobre o esporte. Como ele era acostumado em ver os “noias” na esquina da minha rua com skate debaixo do braço, ele achou que o carrinho era coisa de maloqueiros. Até que um dia o Rogério, pai do Thaynan, e o Anderson Pig, convenceram meu pai a me levar em um campeonato de skate. Foi meu primeiro evento. Meu pai foi e quando viu que não era aquilo que pensava, ele mudou totalmente e se apaixonou pelo negócio. A partir daí, ele virou fã número um de skate e começou a me apoiar em tudo. Essa é sua segunda (ou terceira) entrevista na Tribo Skate. As fotos foram sendo feitas nos últimos três anos, a maioria com o Fellipe Francisco. Algumas destas sessões estão em partes de vídeo. Guardou alguma coisa especial para lançar após esta entrevista? Na real já usei essas imagens. Algumas delas foram pro meu vídeo dos X Games “Real Women” e outras para o lançamento do meu modelo de truck pela Crail. Enquanto fazemos esta entrevista, você está em viagem pela França. Com quem você está e o que tá rolando? Eu e alguns amigos estamos na França para a etapa do mundial da WCS (Far’N High). É um evento bem bacana que já estão fazendo há alguns anos. Esse é meu quarto ano de evento. A primeira menina a se destacar no skate foi a americana Patti McGee. Entre seus feitos está ter se tornado profissional em 1965 (foi a precursora neste sentido) e também ter sido

Foi difícil ficar longe da família com apenas 14 anos, mas isso ajudou muito na minha maturidade.

Saltos com o Bob.

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360 flip teto a teto.

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capa da revista Life, no mesmo ano. Mesmo com tanto tempo de skate feminino e tantas outras skatistas que fizeram a categoria acontecer, ainda falta alguma coisa para as mulheres se firmarem no cenário? O skate feminino está crescendo bastante, mas ainda precisamos de mais oportunidades! Vejo muitas meninas reclamando que não têm patrocínio, que têm que trabalhar para poder viver e andar de skate. Tem bastante evento na Europa, mas muitas meninas não conseguem ir porque não têm um patrocínio que pague para elas irem. Então fica um pouco mais difícil para elas, pois nos Estados Unidos só tem um evento, que são os X Games. Nos últimos quatro anos, você acumulou quatro títulos de campeã mundial e antes disso, em 2009, ficou em segundo, depois da Lacey Baker. Qual deles foi o circuito mais completo e o mais difícil? 2012 foi o melhor circuito até hoje, mais ou menos seis etapas com muitas meninas competindo, principalmente as norte-americanas Lacey Baker e Alexis Sablone, que participaram em todas etapas e assim o circuito se tornou mais difícil para mim. No ano passado foram apenas duas etapas e, por isso, você acabou dividindo o título com outra brasileira, a Pamela Rosa. Como está repercutindo entre as meninas este “esfriamento” do circuito mundial WCS (World Cup Skateboarding)? Ano passado a WCS deu uma caída sim; não sei se foi por causa dos X Games, que deveriam ter três etapas femininas. Também por ser um evento de convidadas, acabou prejudicando as meninas que não entram na lista. Não temos muitos evento fora os WCS e X Games! Esse ano mudou um pouco, vamos ter dois circuitos mundiais, um da World Cup Skateboarding, que terá três etapas femininas, e outro da International Skateboarder’s Union, com duas etapas. Lacey Baker, Alexis Sablone, Elissa Steamer, Evelien Bouilliard, Marisa Dal Santo, Jéssica Florêncio, Pamela Rosa… Quais são as mais complicadas de enfrentar em baterias de campeonatos e quais as suas parceiras de sessions? Todas são complicadas! Mas a Lacey, Alexis e Marisa dão trabalho. Normalmente não ando muito com as meninas, pois todas moram longe. A gente se vê mais em campeonatos ou quando combinamos sessão feminina, o que dificilmente acontece. Gostaria de andar mais com elas, mas o fato de morarmos longe não ajuda muito. Como você encara as caneladas, hematomas e cicatrizes do skate? Pra se manter bonita, disfarça as marcas? Tem sempre um kit de cremes para recorrer? Na real já me acostumei, não tem muito o que fazer quando tem hematomas e cicatrizes! Mas seria bem legal e interessante um kit hematoma, né? Não tinha pensado nisso! (risos)

Estou muito honrada em ser a primeira mulher no time oficial da Nike SB. 50 | TRIBO SKATE junho/2014

Fs fifty.


leticia bufoni // entrevista pro

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Nollie hard heelflip.

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leticia bufoni // entrevista pro

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entrevista pro // leticia bufoni Recentemente você saiu em fotos sensuais na revista Men’s Health, mostrando mais seu lado mulher. A repercussão foi além do skate e é legal ver personagens do skate se sobressaindo além do esporte. Como foi isso pra você? Foi bem legal e diferente do que estou acostumada a fazer. Fiquei muito grata em ter a oportunidade de mostrar meu lado feminino fora do skate! Não temos muitas oportunidades fora do skate, então quando recebi o convite para fazer a matéria da revista, não pensei duas vezes. Não é muito frequente você correr eventos entre os homens, mas no ano passado você entrou na etapa do Mundial em Fortaleza. Qual foi a ideia? Mais pra se divertir ou pra se manter afiada pra você mesma? Ultimamente não estava tendo muitos eventos femininos, então resolvi competir com os meninos, assim posso elevar meu nível

e aprender mais com eles. Sempre é bom andar com quem anda melhor que você. Muito legal você ter ligação com marcas autênticas do skate brasileiro. O caso mais recente, foi o lançamento de seu Crail Trucks pro model, com uma bateria imensa de ações, lotadas de pessoas em São Paulo e outras cidades. Como foi enfrentar tanta gente? A galera tá curtindo seus eixos? Foi muito legal poder estar em contato com o povo brasileiro, fazia bastante tempo que não fazia algo assim no Brasil. A galera tá curtindo bastante os eixos; recebo muitas fotos nas minhas redes sociais da galera usando os trucks. Enquanto produzíamos a edição você foi contratada pela Nike SB. O que representa este novo momento em sua carreira? Estou muito honrada em ser a primeira mulher no time oficial da Nike SB. Vai ser muito bom pra minha carreira estar andando

Eu sempre apoiei qualquer tipo de trabalho social, tanto no Brasil como aqui (EUA).

Bs crooked.

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Fs boardslide.

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de skate com um time tão incrível como o da Nike, tanto o brasileiro quanto o americano. Agora só tenho que trabalhar e representar a marca como deve ser representada. A YeahYeah Skateboards é uma criação sua? Sim! Estava sem patrocínio de shape e acabei tendo a ideia de fazer minha própria marca. Foi meio que uma brincadeira que acabou virando realidade; daqui a algumas semanas vamos ter as primeiras remessas de shapes chegando. Pode adiantar o que tá rolando dos projetos de seus demais patrocinadores, em termos de vídeos, tours, eventos, matérias para revistas? Ainda não temos nada decidido pois essa época do ano tem muitos campeonatos, vamos definir o calendário de tours e demos depois de julho. Você apoia o trabalho da Next Up Foundation, do brasileiro Vina, nos EUA. Qual a importância das pessoas e entidades que usam skate como ferramenta de inclusão social? Eu sempre apoiei qualquer tipo de trabalho social, tanto no Brasil como aqui. É, o Vina faz um trabalho muito legal aqui nos Estados Unidos, e acho que não custa nada ajudar. Se cada um ajudasse um pouco, iríamos tirar muitas crianças das ruas e trazer para o esporte. Apesar de seu foco ser o street skate, você não tem problema algum com transições, banks e bowls. Já correu ou tem ideia de explorar estes terrenos em campeonatos, coisas do gênero? Gosto muito de andar em transições, mas não ando muito. Sempre fico andando no street e acabo esquecendo de andar nas transições. Talvez se eu treinasse um pouco mais eu ficasse mais à vontade de correr campeonatos de bowls. Acabei até correndo os X Games de Barcelona no Super Park, mas não fui muito bem. (risos) Logo mais teremos os 20 anos dos X Games, sempre um evento com muita visibilidade e pressão envolvidos. Tá tudo certinho pra encarar mais esta parada? Tudo certinho, graças a Deus. Não vejo a hora de enfrentar mais uma batalha representando nosso Brasil. Obrigado, Leticia, por mais estas páginas na história do skate. Por falar em história, tivemos o privilégio de estar com você em vários momentos. Pra finalizar, quais são suas melhores memórias com a revista? Obrigada vocês pelo espaço e oportunidade de mostrar um pouco da minha carreira desde sempre. Minha melhor memória com a revista é a da minha entrevista “Preparada para decolar”. Agradecimentos: Deus, família, amigos, Tribo Skate. Patrocinadores: Nike SB, TNT Energy Drink, Oakley, Nixon, GoPro, Journeys, Crail, Bones, Grizzilly, YeahYeah Skateboards.

RobeRto AlegRiA

entrevista pro // leticia bufoni

// letiCia BuFoni 21 anOs, 11 de skate nasceu em sãO paulO mOra em newpOrt beach, ca, eua patrOcíniOs: nike sb, tnt energy drink, Oakley, nixOn, gOprO, bOnes wheels, crail trucks, jOurneys, yeahyeah skatebOards, griZZilly griptape Bs disaster, Barcelona.

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mestre // bowlriding

Léo Kakinho

O BOwlrider GuaratinGuetá, no Vale do Paraíba, em são Paulo, reúne um núcleo ancestral do skate brasileiro. alGuns skatistas de Primeira mão, do início dos anos 70, continuam até hoje na atiVa. entre eles, alGuns resPonsáVeis Pela era dos camPeonatos brasileiros do itaGuará country club, que marcaram os anos 80 e serViram de PlataForma de diFusão de nossa cultura em todo o País. ProVas de Freestyle, de banks, de bowl e de street, com Gente de Vários estados e até do exterior. o bowl keyhole e loGo dePois o banks em oito do itaGuará Foram Palco de batalhas memoráVeis e Formaram uma leGião de bowlriders. numa éPoca em que os que andaVam bem já eram adultos (ou quase), uma criança Pequena de nome léo desPontaVa como um Fenômeno. loGo, kakinho se tornou o Primeiro “younG Gun” tuPiniquim. isso, Por Volta de 86, 87. o menino destruia nas transições e Fez uma Final alucinante contra álVaro Porquê no banks, aos 13 anos, em 87. a cateGoria era semi-ProFissional, Porque não tinha como ele correr este eVento como amador, deVido ao seu alto níVel. léo seGuiu sua trajetória no carrinho exPlorando Vários terrenos, semPre com destaque em Voltas de camPeonato, demos, matérias em reVistas e sessions com os amiGos. Fez Parte de Grandes marcas, construiu um nome e muito resPeito. quando os anos 90 cheGaram com uma série de incertezas na economia e no esPorte, deu uma Guinada em sua Vida e se mudou Pra FlorianóPolis, Para estudar e surFar. tornou-se um dos Pilares do que hoje é conhecido como rtmF, ao ParticiPar da criação do bowl do leo, na casa do raFael, que dePois Viraria a Pousada hi adVenture. surF de manhã, skate à tarde, muito uretano e áGua salGada neste caminho. ajudou a Formatar o estilo de Vida que hoje atraVessa Fronteiras, com seu “aFilhado” Pedro barros, seu Filho Vi e tantos amiGos, como FeliPe FoGuinho, que se radicaram na ilha de santa catarina. a baGaGem de skate do léo é comPartilhada em boas conVersas no dia a dia de quem está Perto e de seus amiGos, seGuidores e Fãs nas redes sociais. desde o início deste ano amadurecemos a ideia de comPartilhar sua exPeriência aqui na tribo skate, Pois o bowlridinG tem uma cultura PróPria, mesmo “conVersando” com outros estilos de skate. sua coluna Vai estrear na Próxima edição, Por isso decidimos dar essa Geral com ele. com a PalaVra, o bowlrider.

Por Cesar GyrãO // Fotos HelGe TsCHarn e PeTrOniO Vilela

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Helge TscHarn

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Bowl do Itaguará Country Club, 1986. Fakie ollie. PeTronio Vilela

L

éo, você é um dos primeiros skatistas a morar no bairro do Rio Tavares, que hoje é uma referência do estilo de vida que une o carrinho e o surf. Quando e como foi sua decisão de mudar pra Floripa? Decidi vir morar em Floripa no final de 92. A minha ideia de vir pra cá foi em busca de um lugar novo que poderia viver o estilo de vida que para mim seria perfeito, com pista em casa e no quintal uma praia alucinante, com altos tubos para viver skate e o surf. O skate passava por um momento difícil, e também fiquei meio decepcionado com o cenário do skate no Brasil. Pouco se investia nos skaters e nas pistas, não tínhamos onde andar, poucas opções. Piorou muito para quem andava em bowls. O surf passou a ser seu principal foco, mas aos poucos você foi retomando o skate, até as primeiras minirrampas surgirem no bairro ou em locais mais distantes. Você chegou a ter um jejum de skate? Como surgiu o bowl no terreno do Rafa? Passei dois anos sem praticamente pisar no skate, só surfando. Surfar pela manhã em Floripa é cultural. Até que conheci o Adriano (Dranho), irmão do Edu da Drop. Ele estava morando em Floripa e estava organizando um evento da Drop Dead de mini ramp, evento que veio Nilton (Urina) e que fez eu me instigar a andar de skate novamente. O Dranho trouxe a Drop Dead pra Floripa e o campeonato de vert profissional na Praia Mole. Esse evento, muito marcante, que fez despertar o skate pra muitos que não o conheciam aqui na Ilha. André (pai do Pedro) e o Rafa, que já eram meus amigos de surf, também estavam instigados com o skate e me deram o apoio para realizarmos nosso sonho de ter um bowl de sonho na nossa nova casa, o Rio Tavares. Você viu os primeiros passos do Pedrinho no skate? Você é um padrinho de fato ou apenas do board? Quem eram seus parceiros de rolê no início do bowl? Convivo com ele desde que nasceu. A primeira vez que o Pedro teve contato com skate nunca mais largou. Deixei meu skate na casa dele pra ir surfar com o André, e quando fui buscar ele não quis me devolver (kkkk), ele não sabia nem falar e andar direito. Essa hora, virei pro André e falei, “esse vai ser skatista”. Eu vi nos olhos deles, eu nem imaginaria o que estava por vir (kkkk). A galera que andava no bowl na época, que não existia nada aqui no bairro, eram meus amigos do surf e a galera do skate que passava por aqui e sabia da existência do lugar. Foi muito legal essa época, porque era bem skate de alma, sessions fim de tarde num lugar alucinante. O André e o Pedro se mudaram pra Austrália durante uns anos e, quando voltaram, o Rio Tavares estava em transformação. Com a volta deles vocês passaram a investir mais em reformas, em mais locais para praticar o skate, em eventos? O Pedro já tinha uma base boa quando foi pra Austrália e ele evoluiu muito pelas pistas diferenciadas que ele andava por lá. Quando eles voltaram para o Brasil, começamos então a fazer todos nossos esforços para o skate, pensando em dar estrutura para essa nova geração de bowlriders que estava por vir. O Vi dropava o bowl da Hi Adventure junto com você, acho que devia ter uns dois, três anos. Quem colocava mais pilha no seu filho, você ou o Pedro? A gente sempre colocou pilha no Vi, eu por ser o pai e o Pedro pra ter um companheiro de sessão. Skate é legal. Session com os amigos, então… Sempre incentivamos uns aos outros. Você participou da criação do desenho do Bowl RTMF, no terreno da família Barros? Era uma construção bem ousada, pois o bowl teve que ser construído na subida do morro. O bowl do Pedro, foi muito doido ter escolhido aquele lugar ali, pois pensamos primeiro no visual que iria proporcionar, sem nos preocupar com o trampo que iria dar. Queríamos num lugar que desse para ver o mar e ficasse também na montanha, mas quando começamos a fazer, vimos que seria sinistro (kkkkk). Mesmo assim, fomos até o fim. Aprendemos muito construindo ele e valeu a pena. Como foi voltar às competições, depois de tantos anos afastado? Agora como master, a pressão diminuiu? Tenho participado de alguns campeonatos para fortalecer a história do skate. Muitos começaram a andar na minha época, usaram meu model de shape que eu tinha pela Urgh, foram nos campeonatos brasileiros de Guará nos 80 e ao me verem andando até hoje, isso fortalece nossa história e divulga o skate. A pressão diminuiu, pois a presença nos eventos agora é o que importa, mas sempre queremos nos superar num campeonato. O skatista sempre pensa assim, não importa a idade. Com a mudança do Eduardo e sua família pra Floripa, você se tornou um pro da Drop Dead, com direito a model. Já são quantos anos de envolvimento? Estou na Drop Dead desde que conheci o Dranho e ele me deu todo apoio possível, desde então. Depois veio o Eduardo se juntar conosco em Floripa, fortalecendo ainda mais. Ele valorizou nossa história, relançou meu model pela Drop, e abraçou nosso envolvimento com a modalidade bowl, apoia nossos iniciantes. A Drop Dead é puro skate e o Edu um catalisador de nossas ideias. Depois que seu irmão, o Gui, construiu o Vert In Roça, em Guará, você voltou a visitar sua cidade natal com mais frequência? Infelizmente tenho ido pouco pra Guaratinguetá. Tenho muitos amigos lá e a vibe do

PeTronio Vilela

mestre // bowlriding

E agora no banks, mesmo ano. Bean plant to fakie.


Helge TscHarn

Buscando no fundo do baú um clássico rocket air. RTMF Bowl.

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Helge TscHarn

mestre // bowlriding

PeTronio Vilela

Proliferação de bowlzinhos em Floripa. Sushi, fs smith grind.

lugar e das pistas é demais. Aprendi a andar ali com meus amigos e mestres do skate (Yndyo, Junior e Nando) e outros também. Nossa história aqui em Floripa também tem muita influência de lá. Foi muito difícil convencer o Gui de ir morar em Floripa e somar na equipe de criação do RTMF? Foi um pouco sim, mas ele tem feito muitas pistas em cidades diferentes e morar aqui também facilitou no deslocamento para estas cidades. O Gui é fundamental. Ele é um mestre do skate, ele sabe muito e temos que dar ouvidos para caras assim, além de ser um dos melhores skatistas de bowl que já vi. Recentemente foi criada a ISU (International Skateboarding Union), pra dar uma atualizada no tratamento dos eventos de bowl, até então geridos pela WCS (World Cup Skateboarding). O que se pode esperar desta mudança? Eu acredito que a ISU está decidida em evoluir o skate de competição. Precisamos melhorar muito nessa questão. Com o crescimento nesse patamar que está o skate, precisamos direcionar melhor os recursos e suporte para o skatista. Floripa está borbulhando com a criação de vários bowlzinhos, devido à repercussão do RTMF. Com tantas opções, você tem saído um pouco do Rio Tavares? Tenho viajado bastante pelo mundo, pois visito muitas pistas e também acompanho o Vi e o Pedro em alguns eventos. Nunca viajei tanto pro skate como nesses anos. Pra finalizar, o que podemos esperar de O Bowlrider? Pretendo falar sobre as coisas que tenho vivido e aprendido nesses muitos anos de skate, principalmente sobre skate bowl. Eu e a revista Tribo Skate nos juntamos para dar nossa contribuição ao skate. Muita lenha vai ser lascada, e muita coisa boa vai ser elogiada. Grande abraço. // leOnardO GOdOy BarBOsa 40 anos, 33 de skate de GuaratinGuetá, mora em FloriPa Patrô: droP dead, eVoke, Vans

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1988 em Guará. No footed.


Helge TscHarn

Pico do Vitor Sim茫o, o Colombowl, pr贸ximo a Curitiba. Fast plant.

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entrevista am // wallace belo

É complicado você ser profissional só por categoria e não por profissão mesmo.

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Wallace Mendes

‘Belo’

O BelO é fOda. Para mim e Para muitOs, esta intrOduçãO POderia terminar POr aqui já que O cara é fOda mesmO. se vOcê está afim de saBer mais, POr favOr tOme nOta: ele tamBém é sinistrO, Pica, cruel, Pau Para tOda OBra e muitOs OutrOs adjetivOs que ajudam a descrevê-lO. na minha éPOca de querer ser O jOe castrucci de niterói, O filmava saBendO que O nível de rOlé dele era O mesmO de muitO amadOr na GrinGOlândia e até hOje, 10 anOs dePOis dessas nOssas missões, tem uma POrrada de manOBras mandadas POr ele que ninGuém cOnseGuiu mandar uma melhOr e, na Grande maiOria dOs casOs, nem mesmO cheGOu a cOnseGuir andar nO luGar. PicO ruim? shaPe fOdidO? a vOlta tá mOlhada? O tênis é uma merda? cOm ele nãO tem PrOBlema e diGO mais: a dificuldade O faz crescer mais ainda, dentrO e fOra dO skate. nãO ache estranhO O fatO deu ter cOlOcadO um ‘s’ maiúsculO na maiOria das vezes que a Palavra skate aParece nesta entrevista. POis Para mim, O skate dO BelO cOmeça Grande mesmO. POr Pirikito Sem ASA // fOtOs rené Jr “Wallace Mendes, foi apelidado de Belo pelo meu amigo de infância Beto ‘Bolado’ por sempre usar o cabelo pintado de loiro. Sempre foi motivo de inspiração para mim por motivos óbvios. Por exemplo: ter ido para Buenos Aires durante as gravações do vídeo DSAL, em 2010, com mulher, os seus dois filhos e ao mesmo tempo ter rendido mais do que todos na viagem. Isso para mim foi inacreditável, até porque ele nem estava andando com tanta frequência na época! São grandes detalhes nele que me fazem inspirar cada vez mais nesse ser fora do normal que ele é!” Marcello Gouvêa O que pretende passar para os seus filhos que o skateboard lhe ensinou? Respeitar as diferenças das pessoas, independente de raça, cor, sexo, religião, classe social e/ ou nacionalidade. São princípios que aprendemos com nossos pais mas que no skate também aprendemos, por lidarmos com todos os tipos de pessoas. E que a qualquer momento podemos precisar de qualquer pessoa, até mesmo quem não conhecemos. Passei muito por isso nos perrengues durante as viagens. O Matheus, seu filho mais novo, tem andando direto com você. A sua filha também tem interesse pelo skate? E como é que se deu essa vontade dele andar? Foi ele lhe vendo ou você montou um skate para o pequeno desde cedo? O Matheus é o mais novo, tem 4 anos, e a Isa-

belly tem 6. Acho que rola uma certa influência, sim, porque sempre que posso, os levo para as sessões comigo. O Matheus é viciado em skate, é engraçado porque nunca achei que fosse fazer isso, “logo eu que gosto tanto de skate”. Às vezes é preciso dar um breque nele porque senão não quer fazer mais nada além de andar; se deixar fica o dia todo com o avô, que o leva para andar com a molecada da rua e não entra nem para se alimentar ou tomar banho. Quando o busco, entra chorando (risos)! Além de andar na rua, pega meu chinelo e fica pulando nas coisas dentro de casa como se fosse um skate (risos), é engraçado, essa idade tem muita energia, né? A Isabelly só anda mesmo quando vamos nas pistas ou plazas. Ela, com certeza, é pela minha influência. Ele já dá para ver que gosta mesmo. O primeiro skate dele foi o avô quem deu, era de plástico. Ele só tinha uns dois anos na época, depois eu montei um style para ele. Qual foi a sua reação tempos atrás, quando a galera da Praça XV aplaudiu quando o seu filho mandou um ollie no chão? Muito style, né! Estava o filmando no celular, quando ele mandou o ollie, muita gente gritou e aplaudiu (tinha achado que alguém tinha voltado uma manobra). Aquela galera da XV é foda, vibe totalmente diferente de qualquer outro lugar que já andei; deve ser por isso que ele gosta tanto de ir andar lá. Dalvan “O Leão” é seu sogro, foi ele quem descobriu que você jogava futebol antes de andar de skate? Ele foi o seu empresário? Mais ou menos isso. Quando ele ficou sabendo

que eu jogava bola antes de andar de skate, falava sempre que tinha alguns contatos e que se eu quisesse tinha meios de me profissionalizar, coisa e tal. Só que eu nunca quis; queria viver do skate. Aí minha esposa engravidou, eu tinha três patrocínios na época, dava para levar, fazia o (famigerado) caixa dois e ia me virando, só que as coisas desandaram no skate. Uma marca foi vendida, a outra estava mudando de fábrica e quase sempre faltava tênis e a outra já estava há três anos com conversas para me passar para pro. No ano seguinte, segundo o dono, tinha tomado um super calote de fim de ano e por isso cortou temporariamente a cota de todo mundo, material esse que me ajudava financeiramente na época. Tive que trabalhar. Acordava às 3h30 da manhã, pegava três ônibus para chegar ao trabalho, lá no finzinho de Jundiaí. Já não estava mais andando de skate por falta de tempo e o meu sogro falou: “Você vai lá e vê qual é, se não der certo você volta” e fiquei quase um ano nessa de futebol profissional. Foi uma experiência maneira que vivi! Engraçado que, como sempre gostei de fazer foto, enquanto eu estava jogando, continuavam publicando fotografias minhas nas revistas de skate. Porém tem gente no meio do skate que acha que jogo bola até hoje, foi uma parada que repercutiu bastante na época. Por quais times você passou? Soube que houve uma proposta de um clube internacional e tudo. Era na Grécia? Você chegou a fazer um gol pelo Nacional na Copa Paulista de 2008. Em qual time você começou a jogar futebol e por quê? O que lhe fez escolher o skateboard? 2014/junho TRIBO SKATE | 65


Esse lance aí da Grécia foi um cara que veio com esse papo, só que depois vimos que era o maior 171. Joguei no América antes de andar de skate, até os meus 14 anos. Depois voltei a jogar com 22 anos nesse lance que aconteceu; me profissionalizei no Paranavaí/PR, fui para o Nacional/ SP e depois para o Londrina/PR. Foi onde resolvi voltar para o trabalho, para o skate e para o Rio de Janeiro. Estava morando em Campo Limpo Paulista há uns três anos. Cheguei a fazer um gol sim, no Nacional/SP, contra o São Bernardo na Copa Paulista de 2008. Quando eu morava na Cidade de Deus (Rio) fui ver uns amigos andando no CIEP; dali das primeiras remadas desengonçadas eu já vi que era o que eu queria fazer. Ainda mais que o Sidnei Magal incentivava bastante a molecada, e simplesmente parei de ir aos treinos de futebol. Minha família reclamava bastante por causa do futebol, mas não teve jeito (risos). Qual dos dois esportes a sua família mais chegou a apoiar na época? Cara, acredito que os pais querem o melhor para os seus filhos e eles achavam que jogar futebol era o melhor para mim. Meu pai chegou a jogar até o juniores do Botafogo e do São Cristóvão, e o meu avô sempre foi fanático pela bola. Ainda mais com a pouca informação na época em

Switch bs grind, Inhaúma.

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relação ao skate. Não me perturbaram por muito tempo, não! Pelo contrário, com o tempo foram até me apoiando, só o meu avô que até hoje se lamenta de eu ter largado o futebol. Que tipo de parâmetro você pode traçar entre o skate e o futebol? Pois se não me engano, você comentou uma vez que ambos são uma ilusão, algo como “muitos ganhando pouco e poucos ganhando muito...” No futebol o empresário ganha, mas o jogador ganha também e muito. É um esporte que qualquer jogador mediano fica milionário; claro, se tiver um bom empresário e sorte. Você não precisa ser um Paul Rodriguez Junior para ficar rico. Pensando dessa forma, não tem como comparar o skate com o futebol, em relação a dinheiro, mas existem semelhanças. Tem muitos times profissionais pagando salário mínimo para o jogador, e o jogador, assim como muitos skatistas, fica recebendo aquilo ali a vida toda, na esperança de que um dia vai para um clube grande. Nós skatistas, se formos pensar bem, também somos assim: ficamos na esperança de arrumar um bom patrocínio, que um dia as coisas vão melhorar e que vamos viver do skate. Não estou generalizando, falo por experiência própria e o que vejo que acontece com os meus amigos.

O que você vai fazer se um filho seu virar jogador de futebol? Não só futebol, ele vai ter meu apoio para qualquer outro esporte. De qual circuito amador e/ou campeonato você mais gostava na época da febre desses eventos? Alguma história para contar? Cara, os bem antigos que eu mais gostava eram os da Vertical (marca). Eu era mirim, iniciante. Estes eram bem divertidos, os da Cidade de Deus e todos os eventos relacionados ao skate que rolam na Praça Duó e/ou na Praça XV de Novembro. Nem sempre eu vou por causa do meu trabalho, mas os eventos lá são foda, rua pura. De onde que você tirou a ideia do best trick no valão? Você estava na merda de peça e pensou: “Vou fazer um evento aqui e ganhar, para poder ficar tranquilo de material!”, foi isso? (risos) Não imaginava ganhar nada, até porque foram os próprios skatistas que votaram. Com certeza fiz por influência dos eventos realizados na Praça XV, porque são na rua; pelos da Praça Duó, que são feitos na união da galera mesmo, e por falta de ter eventos no RJ. Fora por achar que seria um pico style para se realizar um evento, pulando o valão. Na verdade era só para ser uma ideia para alguma loja, marca ou crew realizar a


wallace belo // entrevista am

Nollie bs noseslide, Praça Mauá.

parada, mas aí acabei ajudando na organização, com o auxílio de vários amigos e consegui alguns patrocínios para o evento. Foi maneiro demais; espero conseguir fazer todo ano, para dar uma agitada por aqui. Quando ou como você se deu conta que filmar vídeos e fotografar na rua era tão importante como correr campeonatos? Até hoje, você já teve quantas partes em vídeos e em quais? De qual você mais gosta ou se orgulha, e por quê? Apesar de não ser tão antigo assim no skate como muitos caras, ando há 13 anos e acompanhei essa mudança de mentalidade dos skatistas, marcas e da mídia. Porque antigamente davam mais valor ao ganhador de um campeonato do que a um cara que fazia uma vídeo parte. As coisas mudaram, que bom, principalmente pela facilidade de acesso às mídias de skate. Só tive duas partes em vídeo: uma em 2006 no Skatismo e no Dorme Sujo Acorda Limpo/DSAL em 2010,

que na verdade foi uma parte em conjunto com o André Gustavo “Monikão”, Jadson “Bahia” e o Ionir “Mera”. Estou filmando para ver se faço a terceira no VTV (Vai Trabalhar Vagabundo). As duas foram importantes em suas épocas; gosto de ambas. No Skatismo saiu bem no período em que eu estava à milhão nos corres do skateboard. Agradeço a eles pela oportunidade naquele tempo! E o DSAL foi importante porque tinha acabado de voltar para o RJ e a andar mais de skate, além de ter sido feito só com amigos. Com certeza a do DSAL foi a mais foda. O seu relacionamento com a Tribo Skate não é de hoje. Você já saiu na edição de debutante (15 anos) desta publicação e em quais outras edições da mesma? Na verdade saíram só duas fotos que eu fiz com o Shin Shikuma, quando ele estava no RJ. O Rodrigo K-b-ça que me passou o contato dele e conseguimos fazer as duas que foram publicadas em uma mesma sessão. As outras duas foram em

anúncios de um antigo patrocinador e com certeza sair em uma revista com uma história tão importante no skate brasileiro, é uma honra. Cite outras revistas e sites importantes em que você apareceu já? Rio Skate Mag (descanse em paz), Pense Skate, SKT, Cemporcento Skate, Vista, Switch e na Worked (Canadá). Que eu me lembre são essas. Você já tirou fotos com grandes fotógrafos do skateboard brasileiro, alguns como o Shin Shikuma, Atilla Chopa, Dhani Borges, Fernando Martins “Cubango” e agora com o René Junior, com quais outros já fotografou? (risos) Você já falou quase todos. Tem também o Sérgio Garcia, Leandro Moska, Ivan Cruz, Pedro Macedo “Orelha”, Júlio Tio Verde, Rosana Fraga, Alex Carvalho “Besourão” e deve ter mais gente, só não estou lembrando agora. Se você tivesse que escolher um desses, qual seria e por quê? Tem alguma história para contar sobre algum deles? 2014/junho TRIBO SKATE | 67


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wallace belo // entrevista am

Fs noseslide, Méier.

Seria injusto escolher só um deles, já que todos têm suas diferentes técnicas, estilos e forma de incentivar. Sem hipocrisia nenhuma, gostei de fotografar com todos que eu citei acima! Mas os mais importantes foram os que fizeram trabalhos grandes de entrevista comigo, como o Atilla Chopa, o René Junior, por este trabalho nosso aqui na Tribo Skate, e principalmente o Dhani Borges, por fazer minha primeira entrevista, a qual repercutiu muito bem na época, abrindo portas para as demais, além de ser um amigo e referência para vários fotógrafos. Nesses seus anos todos andando de skate, teve algum momento que você pensou que ‘agora as coisas vão dar certo’, tipo, passar para pro, coisa e tal, ou jogaram em você a maldição do “eterno amador”? Em 2005/2006, eu estava fazendo uma correria maneira, tinha feito duas entrevistas (SKT e Cemporcento), parte em vídeo (Skatismo) e vira e mexe estava saindo alguma fotografia minha em sites. Quando o trabalho está fluindo, você acha que uma hora vai rolar, aí perdi os patrocínios de uma só vez e na sequência minha filha nasceu. Tive que correr atrás, trabalhar, optei por ficar com minha esposa, Jackeline, e cuidar da minha família. Ainda bem, até porque se tivesse passado para profissional e ficar sem patrocínio depois, ia ser cruel. É complicado você ser profissional só por categoria e não por profissão mesmo. Em relação a passar para pro hoje, não dá para saber. Antigamente era uma coisa que eu queria muito, hoje em dia seria uma consequência de tantos anos e correrias no skateboard. Por que que você ainda anda de skate com essa força de vontade toda? Já que tem carro, moto, uma linda família, emprego, terminou a faculdade... (risos) Quem vê assim, vai achar que eu virei playboy e não é bem assim! (risos) Mas olha só com os caras que eu ando: Raphael Felipe “Índio”, Igor Rodrigues “Iguinho” e o Marcello Gouvêa “Rambo”. Os caras têm muita disposição para se tacar nos bagulhos mais cascas. Ando com eles há mais de 10 anos, com certeza influenciaram bastante nessa minha vontade de andar e pelo mesmo motivo que eu comecei: a diversão. Amo andar de skate, por incrível que pareça, meus filhos têm me incentivado bastante. Às vezes estou cansado, sem disposição e acabo saindo para andar porque eles pedem. Enquanto as pernas aguentarem, eu continuo manobrando por aí. E na Aggou, qual que é que tá pegando? Vai passar para pro? Dá o papo logo! Então, não sei. A AGGOU está começando ainda, é a marca de shape do Marcello Gouvêa e Vitor Aguiar. Tudo depende de como as coisas vão se desenrolar com o tempo. É a marca dos meus amigos, eles têm boas ideias no que se refere ao mercado de skate e ao skatista, então só o tempo dirá. Mas se não rolar, o skateboard não vai parar. Com você literalmente não tem tempo ruim. Anda em corrimão, borda, gap, transição... Mas aonde é que você se sente mais à vontade e por quê? É isso, cara! Skate foi feito pra andar em qualquer lugar e me divirto em qualquer obstáculo. Mas em relação a pico, principalmente aqui no RJ, o que eu mais gostava de andar era no Monumento (Praça dos Expedicionários) e depois já colava na Praça XV. Época boa. Monumento já era mas a Praça XV, está lá. E cada vez melhor, sempre que posso, eu vou. O que você faz da vida hoje em dia? Conte como é a sua rotina de trabalho? E sobre que todos os alimentos levam radiação. Sou tecnólogo em radiologia, trabalho com raio-x de pessoas de todos os tipos. Quando decidi voltar a estudar, pensei em fazer algo que me proporcionasse tempo para a minha família e também para poder voltar a andar de skate durante a semana, não só no fim de semana. De alguma forma, não me lembro como fiquei sabendo que na radiologia só trabalhava 24 horas por 2014/junho TRIBO SKATE | 69


Hard heelflip pra cima da vala, Praรงa Seca.

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wallace belo // entrevista am semana e decidi fazer. Este ano consegui organizar meus horários e só um dia da semana que eu não posso andar de skate porque estou de plantão. Os outros dias, tenho tempo para andar; se não for o dia todo, é de dia ou de noite. Profissão tranquila, me protejo para não tomar radiação, nada demais. Quanto à radiação nos alimentos, não sou especialista nisso, pelo que eu aprendi é apenas para conservar por mais tempo os alimentos e não faz mal algum à saúde. Alguns bons skatistas da sua geração ficaram meio para trás por causa das drogas, e por que você não? Cara, para você se viciar em algo, você tem que usar. Tem gente que usa e não se diz viciado. Por exemplo: eu gosto de tomar uma cerveja de vez em quando e o álcool também fode várias pessoas. Cada organismo reage de uma forma, só que tem droga que derruba o ser humano. Eu sempre fui tranquilo em relação a isso, não uso, mas não critico quem usa, cada um sabe de si. Conheço pessoas que usam e nem por isso deixaram de ser meus amigos, assim como conheço pessoas que usam e infelizmente estão escravos dela. Cada um faz o que quer da sua vida. Buenos Aires. Quantas vezes você já foi para lá e como foi ir com a sua família toda

e ainda sair para dar um rolé com os camaradas? Quem teve essa ideia? Fui duas vezes: em 2005 e em 2010. As duas vezes foram muito style, só sangue bom. Da segunda vez, a ideia foi do André Gustavo “Monikão”! Fui com minha esposa e meus dois filhotes, foi muito maneiro. Só não andei de skate nos dias que estava cansado, fora isso andei todos os dias. Qual é o seu maior lazer hoje em dia? (sair para andar, ficar com a família ou...) Quando eu consigo fazer os dois ou dividir meu dia em andar de skate e ficar com eles; ou quando eles vão comigo na sessão. São quantos anos de amizade com o André Gustavo “Monikão”? Sente falta dele? Cara, já são mais de dez anos de amizade. Além de amigo, é o meu compadre, padrinho da Isabelly. Já passamos várias roubadas juntos e é um dos amigos responsáveis por eu andar até hoje. Agora está morando na Rússia. Anda fazendo muita falta, com certeza. Conte alguma história engraçada/roubada do Felipe “Alastrão” e/ou do Leandro Moska? Cara! Em Campo Limpo Paulista, onde morei por três anos, fiz boas amizades. Eles dois, mais o Ronald “Casquinha”, são foda. Irmãos de vários anos também; já fiz algumas viagens com eles, e

é sempre só risada. Tenho muitas histórias, lembro de uma em Buenos Aires: era Natal, o Leonardo “Mentira”, Nelson Diniz e você, já tinham vindo para o Brasil. Ficou o Leandro “Moska”, Bernardo “China”, Felipe “Alastrão” e eu. Estávamos em um albergue aonde tinha vários israelenses. Aí pensamos: “Estamos longe das nossas famílias, vamos pelo menos jantar bem que hoje é Natal”. Foi quando resolvemos ir a um restaurante meio caro e tal. O Moska disse que não ia, então fomos nós três. Jantamos, bebemos e voltamos para o albergue. Quando chegamos lá, estava um silêncio, ninguém na cozinha e nem na sala. “Cadê o Moska?” Quando passamos em frente ao quarto dos israelenses, olhamos para dentro do mesmo e estava rolando um bagulho muito sinistro, uns dez israelenses fazendo oração, todo mundo de mão dada, linguagem estranha (hebraico), vela no chão, narguilé, luz apagada e adivinha quem estava lá com uma cara de quem estava se cagando de medo? Sim! Ele mesmo: o Moska. Todo mundo de olho fechado orando, meio esquisito e o Moska lá, assustado olhando para eles (risos). Como ele foi parar ali? Nós não sabemos! Ele não falava língua nenhuma além do português. Quem conhece o Moska vai entender o que eu estou falando. Na verdade tem muitas histórias, só da

Switch 360 flip, Cidade de Deus.

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entrevista am // wallace belo Argentina deve ter umas 10 engraçadas, mas aqui não dá para falar né? (risos) O seu biotipo não é de magro. Digamos mais, qual que é dessa sua forma física recentemente? (risos) Seu FDP! Na verdade até o ano passado eu andava no máximo duas vezes por semana, por causa do meu trabalho e me exercitava pouco, fora que só comia porcaria e acabei ganhando um pouco de peso, mas nada demais. Este ano tenho andado várias vezes na semana e já estou perdendo peso (risos). Conte um pouco sobre a vibe da galera do skate de Niterói, já que durante um tempo, você e alguns mais deslocavam-se quilômetros para irem andar por lá... Brother, graças a Deus, aonde eu for andar no RJ, tenho amigos e em Niterói não é diferente. Naquela época eu filmava bastante com você, fazia foto com o Fernando Martins “Cubango” e tem muito pico em Niterói, além de vários amigos por lá (da EGQ Crew). Foi uma época maneira; todo fim de semana eu estava lá, galera boa. Quando você vai andar nas novas pistas que temos e/ou até em um ou outro evento bacana que rola, sente algum tipo de pressão por parte desta nova geração de amadores? Quem é que vem lhe chamando a atenção? Não, pelo contrário: fico empolgado em andar com eles, isso me incentiva, só ajuda a puxar o nível. Tem vários moleques novos andando muito aqui no RJ, o Jonathan “Mentex”, Lorran “Sujinho”, Gabriel “Bila”, Lucas “Cofrinho”, Wallace “Miúdo”, Pedro “Mini-Dead” e vários outros; são muitos e é até injusto citar nomes e esquecer de alguém. Tem o Ademar “Luquinhas”, Ionir “Mera”, que são mais antigos mas estão sempre no corre. Tem uma safra boa de amadores aqui, estão só aguardando a oportunidade deles. Como você vê o mercado? Quem está errado? O lojista, a marca ou o skatista que sustenta uma marca/ loja que não ajuda a cena mas tem preço baixo? E no skate carioca, o que você acha que falta por aqui? Não vou generalizar, mas vou falar pelo que vejo no Rio de Janeiro. Enquanto o dinheiro só for para as mãos dos empresários, enquanto os skatistas comprarem em lojas que não patrocinam skatistas e nem realizam eventos, enquanto ficarmos nessas ideias de “vivência”; nada vai mudar enquanto a palavra certa é na verdade “sobrevivência”. Quer um exemplo? Pensa comigo: quantas marcas de fora do Rio de Janeiro vendem aqui no nosso estado? Várias, né? E quantas dessas marcas patrocinam alguém aqui? Dá para contar nos dedo, certo? E vamos continuar comprando dessas marcas? E vagabundo ainda quer mudança? Sinceramente, para os lojistas e donos de marca não, tão vendendo bem. Um exemplo disso é a quantidade de lojas que estão surgindo no RJ mas eu vejo cada vez menos skatistas com patrocínio. Hoje em dia, comparando com o que havia há 10 anos, não dá, não podemos regredir. A quantidade de vendas no Rio, com certeza, no mínimo triplicou, é complicado. Ao mesmo tempo eu tiro o meu chapéu para o Jorge “Zunga”, por exemplo, que tem marca há mais de 15 anos e sempre teve equipe. E para vários outros, até mesmo lojistas que são bem intencionados. Para alguns skatistas do RJ, um conselho: se já está difícil para quem faz o corre, imagina para quem não o faz? Lembro que você se amarrava nas batalhas de freestyle e gosta de rap. Você ainda acompanha as batalhas? Tem algum artista em especial que recomenda? Fora rap e sertanejo do sogro, qual outro estilo de música você gosta? (risos) Na verdade eu só gosto de rap mesmo, mas escuto de tudo um pouco, sem problemas. Faz tempo que não vou nas batalhas, hein? As de antigamente eram muito melhores, não tenho artista preferido, depende do que der vontade de ouvir. Quando enjoa, passo a ouvir outro e assim vai. // WAllAce mendeS Belo 27 anOs, 13 de skate riO de janeirO/rj PatrOcíniO: aGGOu e sinah rOdas

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Switch shovit, Praça XV.


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evento // vans pool party

CaliforniCes

É uma tradição o evento vans Pool Party, na Pista da vans em orange County, CaliFornia, united skates, oPs, states. nos últimos anos, tambÉm virou um Forte motivo Para seleCionados brasileiros andarem entre os melhores do bowlriding, Pois trata-se de um evento Para Convidados, embora seja válido Para o ranking wCs. todos estranharam muito a ausênCia na Final do Pedro barros, CamPeão Pro dos últimos anos, mas o master bruno Passos aCabou Cobrindo esta Parte da tradição. no mais, mais um Passeio do legend monstro (quase) imbatível Chris miller e muita Festa, que se estendeu nos dias Próximos do evento. o FotógraFo Petronio vilela estava mais uma vez lá e nos trouxe as Fotos. lÉo kakinho estava Presente e Conta um PouCo do que aConteCeu neste bate-bola. Por Cesar Gyrão // Fotos Petronio Vilela

L

éo, como foi este tombo estúpido do Pedro, que o tirou mais cedo do evento? Na verdade o tombo do Pedro se agravou quando ele, ao pular do skate num fs smith, seu pé escorregou na plataforma e ele foi de mergulho no flat do bowl. Foi um susto para todos, mas ele se recuperou rápido e não teve muita gravidade. O Tristan Rennie estreou como pro já com vitória. A gente tinha visto o moleque destruir em 2013 no Red Bull Generation, no RTMF em Floripa. Ele fez o rolê certinho? Sim ele fez um rolê muito bom. Ele vem de uma escola da área do Salba (Badlands) e aprendeu andando em piscinas. Tem uma base incrível nas bordas e é local da Combi Pool. Foi merecido. Andou de bowl mesmo. Por que os demais pros brasileiros, além do Pedro, não avançaram desta vez pra final? A Combi Pool é uma pista muito difícil de chegar e andar. Todos que estavam ali costumam andar sempre lá. Chegar duas semanas antes é pouco tempo, comparado aos outros skaters (locais). Também achei que os juízes se perderam um pouco na eliminatória, pois o nível foi muito alto, difícil de julgar. A nova divisão entre os pro masters e pro legends ainda não deu muito certo, mas o Bruninho “foi obrigado” a vencer. Como foi sua vitória? O Bruninho é um verdadeiro bowlrider, foi muito merecida sua vitória. Ele já fez final na pro alguns anos atrás, e mostrou sua base no bowlzão. Eu acho certo essa divisão, ainda vai se acertar. A galera da master vem de outra geração do skate, seria injusto comparar com os legends. São diferentes estilos de skate; nos próximos anos a categoria master vai se consolidar, pois muitos pros já estão na casa dos 40 e logo mais vão correr a master. Você não pode correr pela política da lista de convidados? Eu poderia correr a qualifying que teve uns dias antes, mas eu achei que deveriam ter dado mais vagas de acesso, pois a categoria era nova e duas vagas disponíveis era pouco. Pra finalizar, fale da forma do Chris Miller. Não teve mesmo pra ninguém novamente? Teve apenas um ano, se não me engano, que ele deixou escapar a vitória para o Steve Caballero. O Chris Miller é um dos melhores skaters de bowl que já existiu e a Combi é sua casa há 30 anos. Entao é muito difícil andar mais que ele ali. O Cab também anda muito, muito constante. Aquele ano o Miller teve alguns erros e Cab soube aproveitar isso.

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Uma brasileirada histórica se reuniu no Skatepark de Huntington.

Rune Glifberg, fs ollie.


O adolescente Tom Schaar estรก aprendendo a explorar novos terrenos. Depois da Mega e dos half pipes, estava ali entre os finalistas. Stale fish.

Huntington.

Thronn.

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O Embaixador Cons

Kenny anderson no Brasil ElE tEm 38 anos E o título dE Embaixador. PodE até ParEcEr quE não Estamos falando dE um skatista, mas kEnny andErson Encara a missão dE viajar PElo mundo difundindo o sEu Estilo com a mEsma ElEgância com quE anda dE skatE. E não PodEríamos PErdEr a chancE dE falar com EssE skatista nascido Em vEgas E rEsidEntE Em la durantE sua PassagEm PElo brasil, Para divulgar o sEu novo Pro modEl PEla cons, o ka - ii. Em sua sEgunda viagEm PElo nosso País - na PrimEira oPortunidadE navEgou PElo amazonas - ElE aPostou nas PrinciPais mEtróPolEs como são Paulo E rio dE janEiro. aProvEitE Para conhEcEr mElhor EssE vErdadEiro diPlomata quE soubE cativar E sEr cativado Por nós, brasilEiros. sEja sEmPrE bEm vindo E voltE logo, sir. Por Grazi oliveira // fotos Heverton riBeiro

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kenny anderson // visita

D

e onde vem esses olhos puxados? Minha mãe é do Japão e meu pai é americano. Daí vem essa mistura. Mas nasci e cresci em Las Vegas; atualmente moro em Los Angeles. Pelo jeito nem em Los Angeles você fica por muito tempo, pois está sempre viajando. Certo? Verdade. Gosto de explorar lugares novos. E a melhor coisa quando viajo é não ter um plano, só caminhar e viver diferentes experiências. É incrível como a Converse apoia o skate e seus riders, assim como eu. Com esse suporte posso conhecer diversos países, encontrar pessoas diferentes, comer algo novo e ter boas vivências. Em todo lançamento do seu pro model a Converse produz um comercial que tem a ver com a sua história. Qual foi a mensagem dessa edição? Diferente do último vídeo que realizamos, o maior nose manual (que percorreu o percurso entre LA e Vegas) com a presença dos amigos, o Ka2Cons passa outra ideia. O “The Joy Ride” não tem skate, pois naquele período da gravação estava lesionado. Então tivemos a ideia de trazer a bike como um item de sustentabilidade. Mas, na real, o vídeo tem vários significados. Acredito que o objetivo era tentar ser divertido mostrando o valioso sentido do incentivo dos amigos. É a segunda vez que você vem ao Brasil, quais lugares você explorou nessa trip? Primeiro conheci a Amazônia, em 2010, onde rendeu o documentário “The Amazon Trip” com participação do Adelmo Jr. e Vitor Sagaz. Desta vez conheci outros lugares pois estava na tour da Glassy. Foi muito rápido, mas valeu a pena ver as cidades de Brasília, Curitiba e Porto Alegre. Como acabei me atrasando, deixei para visitar São Paulo e Rio de Janeiro nas atividades do lançamento de meu pro model de tênis. Curti todos os lugares que passamos. Só a mudança do clima foi que pesou. Um dia estávamos em Brasília fritando no sol, poucos dias depois passando muito frio na terra dos gaúchos. Foi demais a experiência! Você imaginava encontrar muitos skatistas no Brasil e essa legião de admiradores? Sabia que existia um número expressivo de skatistas, pois TX e o Buchecha já haviam comentado que o skate é um dos esportes mais praticados no Brasil. O que me impressionou foi ver o carinho e o respeito da galera em prestigiar nossa presença. Acredito que isso não é mérito meu, e sim do ska-

te. Esse público é fã do skate, por isso valoriza. Fiquei admirado também com o nível da nova geração. Não é à toa que o Brasil tem a fama de apresentar os melhores skatistas do mundo. Vi com meus próprios olhos muita gente nova andando bem. Acredito que em dois anos essa galera vai estourar. Garanto que irei vê-los em breve andando lá na Califórnia. Seus amigos brasileiros fizeram uma lista de picos para você manobrar. Conseguiu visitar algum deles? Sim. Não poderia deixar o Brasil sem conhecer o Vale do Aguangabaú, em São Paulo. O Rodrigo TX me intimou para conhecer a área dele. De longe, quando vi o lugar, achei que o chão fosse liso. Quando cheguei perto desacreditei que era pedra portuguesa. Respeitei muito quem anda lá. Realmente o pico é bem difícil. Sua passagem no Brasil terminou na cidade maravilhosa. Pretende voltar logo? Com certeza. O Rio é um lugar mágico! Não consegui curtir tudo que queria, mas valeu muito a pena visitar a cidade e realizar sessões de autógrafos nas skateshops. Andei de skate no bowl no topo do morro do Arpoador, com uma visão privilegiada para o mar. Isso não tem preço. Confesso que no meio dessa viagem acabei fazendo planos de voltar para o Brasil ainda esse ano. Quero ficar mais dias aqui e ter outros momentos incríveis como esses que passei.

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kenny anderson // visita

Bs nosebluntslide no Arpoador, Rio.

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kenny anderson // visita

Bs tailslide to fakie manual fakie ollie, AnhangabaĂş, SP.

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casa nova //

Fs flip.

Gabe // Fotos Daniel Souza Ser skatista: É um estilo de vida único, é persistência, amizade e evolução. Quando não está andando de skate: Estudo e trabalho. Dificuldade em ser skatista na sua cidade: Muitas marcas têm um grande retorno comercial no estado, mas pouquíssimas investem em skatistas catarinenses, onde tem muitos talentos a serem descobertos. Skatista profissional em quem se espelha: Wes Kremer. Skate atual: Shape Foundation, rodas Legitime, trucks Destructo e rolamentos Spitfire. Marca fora do mercado de skate que gostaria de ter patrô: Red Bull. Som pra ouvir na sessão: Rap nacional. Parceiros de rolê de skate: Viiish, são vários.

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Melhor viagem: Londrina. Melhor pico de rua: Avenida Batel, Curitiba. Melhor pista: Iapi, Porto Alegre. Sonha alcançar com o skate: Viver dele, seja como skatista ou trabalhando no meio. Aquele salve: Meu pai, que faleceu em 2011 e que sempre me deu o maior incentivo; minha mãe, meus amigos; Giuliano (u1000d), Kico (Vale Skate Movie), Daniel Souza, VSM Crew e todos que me apoiaram e me ajudaram de alguma forma; e muito obrigado pelo espaço. Paz! // Gabriel rodriGues Mansano Garcia 18 anoS, 9 De Skate Blumenau, SC PatroCínio: u1000D oriGinal ShoP

‘‘Skate or Die!’’


˜ leo giacon ˜

respeito

Foto jr lemos

à cultura

do skate

brasileiro

Onde encontrar: Dropp Surf: rua afonso Vergueiro, 1583, centro - sorocaba/sp Feeble Skate Shop: av. santos Ferreira, 89 - canoas/rs Grind Skate Shop: rua são Francisco, 40 - joinville/sc Matriz Skate Shop: online - matrizskateshop.com.br total - av. cristóvão colombo, 454 - porto alegre/rs Wallig bourbon - av. assis brasil, 2611 - lj 248 - porto alegre/rs Planet Surf: rua são josé, 947, centro - piracicaba/sp Roots Skate Shop: rua leopoldo de bulhões, 166, centro - anápolis/go Sagaz Skate Shop: rua Ferreira pena, 120, centro - manaus/am

produtostriboskate@gmail.com

www.triboskate.com.br facebook.com/triboskate twitter.com/triboskate instagram.com/triboskate


casa nova //

Bs flip na chuva.

Jonathan // Fotos ViniciuS Branca Ser skatista: É um lifestyle muito louco e que eu valorizo muito. Quando não está andando de skate: É porque estou machucado ou sem peças. Dificuldade em ser skatista na sua cidade: No meu caso a distância da minha casa até as pistas. Skatista profissional em quem se espelha: Andrew Reynolds. Skate atual: Shape Nobre, trucks Thunder, rodas Spitfire e rolamentos Reds. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Julio Simões, ônibus grátis todos os dias. Som pra ouvir na sessão: Rap e rock n’ roll. Parceiros de rolê de skate: Gilder Teixeira, Abner Modesto, João Ricardo, Iago Carrasco, Marcio Roberto, Marcelo Melo e Mauricio Teodoro.

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Melhor viagem: Curitiba. Melhor pico de rua: Avenida Paulista. Melhor pista: Mogi Skate Plaza. Sonha alcançar com o skate: Condições financeiras pra andar de skate todos os dias e em vários lugares. Aquele salve: Agradeço aos meus pais por tudo que fazem por mim, Marcelão que me deu muita força nos tempos de La Clika, minha namorada Nathy, meus amigos que somam todos os dias, meus amigos de Cristina/MG, Miltinho, Douglas Fernandes, Tiago (Karma Media), Jean Furquim, Vinicius Branca e Tribo Skate. É nóis! // Jonathan Mendes 19 anoS, 8 De Skate São JoSé DoS CamPoS/SP

‘‘

Faça por amor e tenha fé, vai dar certo!

’’



casa nova //

Bs ollie 360.

matheus Ferreira // Fotos ThomaS Teixeira Ser skatista: É ser livre. Quando não está andando de skate: Videogame e rap. Dificuldade em ser skatista na sua cidade: Falta de visibilidade e investimento em boas pistas. Skatista profissional em quem se espelha: Rodrigo TX. Skate atual: Shape, parafuso e lixa Simple, trucks Thunder, rodas Bones, rolamentos Reds. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Nixon. Som pra ouvir na sessão: Gasper, Marcelo D2 e Little Brother. Parceiros de rolê de skate: Gabrielzim,

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Espanhol, Ceará, Pedro Dezzen e Ramon Ovídio. Melhor viagem: Piracicaba/SP. Melhor pico de rua: Ginásio de Campinas/SP. Melhor pista: Itatiaia, Goiânia. Sonha alcançar com o skate: Conhecer o mundo. Aquele salve: Agradecer a Deus e toda rapaziada que me incentivou a andar de skate até hoje; minha família de sangue, a família do skate e aos meus patrocinadores. // Matheus Ferreira 15 anoS, 4 De Skate Goiânia/Go PatroCínio: SimPle aPoio: DmarkS

humildade ‘‘sempre. ’’



casa nova //

Hard flip sobre o cano.

Vinicius de lima // Fotos mauricio Pokemon Ser skatista: É um estilo de vida. Quando não está andando de skate: Estou surfando ou fazendo um pesca sub. Dificuldade em ser skatista na sua cidade: Falta de pistas adequadas para a prática do skate. Skatista profissional em quem se espelha: Rodrigo TX. Skate atual: Shape Seed 8.1, lixa e parafusos Seed, trucks Venture, roda Bones 52 mm e rolamentos Everlong. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Gol Linhas Aéreas. Som pra ouvir na sessão: Rap e MPB. Parceiros de rolê de skate: Galera do Picos e Pistas (Carlinhos, Victor Bob, Juan Robles, Henrique Hc e por aí vai.).

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Melhor viagem: Trip de Campina Grande, com Pedro Victor, Alisson Kbssa, Jordão e Pokemon. Melhor pico de rua: Marco Zero, Recife. Melhor pista: Cara de Sapo, Aracaju. Sonha alcançar com o skate: Andar de skate até ficar velhinho. Aquele salve: Pra minha coroa, que foi meu mãetrocínio durante um bom tempo, e um alô pra Click Skateshop e pro Picos e Pistas, que me dão um suporte. Valeu galera, tamu junto! // Vinicius nasciMento de liMa 25 anoS, 14 De Skate De reCiFe, mora em iPoJuCa (Porto De GalinhaS)/Pe aPoioS: CliCk SkateShoP e PiCoS e PiStaS

‘‘

’’

Vai dar certo!


// shops! Elas mantêm a chama acesa O papel das skate shops não é apenas vender produtos. É oferecer um atendimento de qualidade, que satisfaça o cliente e alimente seu desejo de andar de skate, vestir-se bem, entender e viver esta cultura. Neste cenário, a informação é mais uma alavanca para o sucesso e é justamente aí que algumas lojas se sobressaem. Elas são pontos de convergência, investem no esporte e ajudam a construir a história do skate brasileiro. > Mato Grosso do sul - Campo Grande Rema Boardhouse Rua Pedro Celestino, 1387, Centro (67) 3213-2504

> rIo Grande do sul - Porto Alegre Matriz (Total) Av. Cristovão Colombo, 545/1072,1073, Floresta (51) 3018-7072

> Paraná - Curitiba THC Skate Shop Pça Rui Barbosa, s/n - loja 196 (41) 9933-2865

Matriz (Wallig) Av Assis Brasil, 2611 - loja 248, Cristo Redentor (51) 3026-6083

- Guarapuava Atrito Board Shop Rua XV de Novembro, 7860, loja 1, Centro (42) 3623-6818

> santa CatarIna - Joinville Grind Skate Shop Rua São Francisco, 40, Centro (47) 3026-3840

> rIo de janeIro - Armação dos Búzios Geribá Skate Shop Rua Maria Rodrigues Letina, 8, Geribá (22) 9 9843-1020 / 9 9796-6764

> são Paulo - Mogi Guaçu Alta Tensão Skate Punk Rua Sargento Aviador Oswaldo Fernandes, 36, centro (19) 3019-6950

- Pompeia Exalt Skate Shop Rua Senador Rodolfo Miranda, 225, Centro (14) 9 8115-2318 / 9 8164-5397 - São Paulo All Store Boards Sports Av. do Cursino, 1.722, Saúde (11) 5058-1540 - Sorocaba Xtreet Skateshop Rua Alfredo dos Santos, 166, Vila Carol (15) 3226-3011 / (15) 99151-2511

Mantenha você também a chama do skate brasileiro acesa, leve a Tribo Skate para sua loja! Envie-nos email: triboskate@ymail.com

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hot stuff // junho

// Oakley Com diferentes acabamentos a linha Luxury traz dois modelos clássicos em novas releituras. Frogskins e Holbrook ganham agora suas versões LX, abreviação de Luxury, com cores e texturas que trazem um design arrojado e autêntico. (11) 5189 4597 / oakley.com.br

// ZiOn Distribuída pela Dog For Life, a Zion conta com uma linha completa de peças para skate, de parafusos até rodas e shapes. A marca de Israel, pilotada no Brasil por Homero Telles e Pablo Groll segue apresentando novidades. Tel: (11) 98438 4070 / brazil@dflskate.com

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// Venture Uma das marcas de eixos mais vendidas nas skateshops brasileiras volta a ser representada com exclusividade pela Plimax. E neste retorno à distribuidora o estoque conta com diversos modelos e cores. (11) 3251 0633 / edgar@plimax.com


// urgh Feitos tanto para o asfalto, concreto ou madeira, os novos modelos de rodas Urgh são produzidos com matéria prima de alta qualidade e passaram por testes complexos pelos skatistas da marca. Destaque para o pro model de Ítalo Peñarrubia, feito especialmente para a modalidade vertical e testado por ele no half e na Megarrampa. (11) 3226 2233 / urgh.com.br

// kanui A Ride é uma das novas marcas próprias da Kanui e tem como principal característica peças despojadas, estampas com personalidade e muito conforto. A marca chega ao mercado e oferece skates street e longboard, com alta qualidade e designs exclusivos, além de acessórios, mochilas e roupas. (11) 3014 4960 / kanui.com.br

// Shit griptape Uma das peças de maior evidência no skate é a lixa e nada como ter estampada nela imagens icônicas da cultura na qual o skate está inserido. E é justamente essa a grande sacada da Shit griptape, subverter em forma de tags alguns dos mais expressivos ícones da atualidade. (11) 3045 0784 / instagram.com/shitgriptape

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Wander Willian

áudio //

Horace Green

A pArtir dessA edição, vAmos mostrAr o que tem de novo nA cenA independente brAsileirA, de norte A sul, de leste A oeste. pArA o pontApé iniciAl, temos os pAulistAs do HorAce Green, umA dAs bAndAs dA novA sAfrA que vem se destAcAndo, lAnçAndo discos, orGAnizAndo sHows e levAndo o seu HArdcore melódico pArA cAdA vez mAis lonGe de são pAulo. por HelinHo Suzuki

F

ala Shamil, como tão as coisas? Para começar fale um pouco da história do Horace Green e sua formação. Opa, Hélio. Prazerzasso estar aqui. Bom, o Horace Green começou bem na brincadeira, com quatro amigos querendo fazer um som que gostávamos em comum. Na primeira formação tínhamos dois técnicos de som, ou seja, apesar de uma qualidade ao vivo a gente nunca iria con-

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seguir fazer shows, né, afinal os caras trabalham aos finais de semana. Mas com o tempo, foi ficando mais sério, as músicas aparecendo e mais e mais shows rolando e por consequência mudamos a formação também, né? Hoje seguimos com quatro integrantes: eu, Fernando “Chero” Martins, Clayton Romero e Guilherme “Fox” Amato. Você sempre tocou baixo em suas outras bandas, o Ponto Final, Inkognitta e o Jelly Pupies.

Chegou a cantar no Don Vito & Seus Foguetes e agora parece que você assumiu de vez seu novo “instrumento”. Como foi essa transição? A verdade verdadeira é que eu nunca toquei muito bem (hahahahaha) e quando começamos a falar sobre montar o Horace Green, a única coisa que eu sabia é que precisávamos de bons músicos. Todas as bandas que estavam influenciando a gente tinham ótimos baixistas, como o


Hot Water Music por exemplo. Mas agora temos o Clayton que faz sua parte muito bem! Mas eu ainda gosto de tocar baixo; até montei uma nova banda chamada Faca Preta. Mas o som é bem mais simples e reto, punk rock básico. Aê eu aguento (hahahahaha). Apesar do Horace ter pouco tempo de vida, vocês têm na praça um compacto 7” e acabaram de lançar o novo EP, intitulado “Madeira”. Hoje em dia tá mais fácil lançar disco? Porque me lembro que no começo da década, lançar um cd era praticamente um parto... Tá bem mais fácil, mas não mais barato, né? Tivemos uma experiência traumática para gravar uma demo sem custos, home studio e tals. Foi tão traumático que abandonamos as músicas e recomeçamos a banda. Ano passado vimos que tínhamos que partir pras cabeças e resolvemos gravar duas músicas, que viraram o 7” Sempre Melhor, mas só conseguimos lançar graças ao apoio da Hearts Bleed Blue, a qual topou e entrou de cabeça no projeto. O disco foi prensado pela Pirate Press, em San Francisco e tivemos milhões de problemas e atrasos graças à burocracia do governo brasileiro. Logo depois gravamos seis músicas com o Nando Bassetto (Garage Fuzz) e seguramos para lançar em formato de CD/EP em 2014. Foi bem trabalhoso lançar o produto físico pois tínhamos um projeto diferente do convencional, mas tivemos novamente o apoio da HBB e dessa vez também ajudaram no lançamento, a SpiderMerch e O Homem Coletivo. O CD saiu em um digipack gigante com uma arte feita pelo Clayton. Você chegou a criar um selo coletivo, chamado “O Homem Coletivo” para lançar o disco. Como rolou esse projeto? O Homem Coletivo foi um selo que a gente idealizou não apenas para lançar o “Madeira”, mas também outras bandas do rolê. Como o projeto do nosso EP já estava encaminhado, fizemos um grupo fechado no Facebook e divulgamos para os amigos em nossa página e hoje o grupo tem 200 membros discutindo futuros lançamentos. No nosso EP entraram 33 apoiadores. O grande lance do selo é que além de viabilizar o lançamento físico também ajuda na divulgação e distribuição do trampo, né? No nosso disco, por exemplo, tinha pessoas de Maringá, Campo Grande, Americana, Campinas e Belo Horizonte. E sobre os discos, o que cada um deles tem de especial? Eu sou suspeito, né? É como ter dois filhos e ter que falar sobre eles, mas eu vejo os dois como uma real evolução da banda. O 7” foi uma urgência nossa, precisávamos gravar e mostrar uma nova cara para as pessoas que já estavam se interessando pela banda. O “Madeira” foi bem mais elaborado; a gente ensaiou muito, gravava os ensaios, sentamos para ler as letras e arrumar melodias juntos. Foi muito importante pra gente, ouvir tudo aquilo que passou nas nossas cabeças finalmente pronto, saca? Amo os dois, mas o EP tem sido muito especial até agora, principalmente no retorno que ele tem nos dado. O Horace tem tocado em todo canto para divulgar o disco novo, socaram o equipamento no

carro e pegaram a estrada. Como tem sido os shows? Tá dando pra chegar na segunda-feira de alma lavada após os shows do fim de semana? Bicho tem sido muito gratificante pra gente sair tocando desse jeito. Ano passado só fomos de avião para Campo Grande porque não tinha como ir de carro (hahahaha), mas Belo Horizonte, Blumenau, Curitiba, Rio de Janeiro, Brasília e Uberlândia foi pé na estrada e sem retrovisor, né, devido aos equipos no porta-malas. Mas te digo, independente das horas e do cansaço, quando você chega num lugar novo e percebe que existe uma cena, existe pessoas realmente interessadas que perdem seu final de semana para organizar um show, arrumam lugar pra gente dormir e até fazem comida para que a gente economize! Isso já é gratificante por demais! E os shows têm sido sensacionais. Depois do lançamento do EP e de termos o disponibilizado de graça em nosso bandcamp, estamos passando por uma nova experiência incrível que é chegar a algum lugar e ter algumas pessoas que já conhecem o som. Ou seja, as segundas têm sido chatíssimas depois de finais de semana incríveis!

Você também já organizou festivais, inclusive um contra homofobia, traz bandas de outros estados... Como você vê a cena independente hoje em dia? Parece que a molecada desistiu de ser uma banda do Rick Bonadio e ter uma vida de rockstar e voltou a ter o espírito dos anos 90/00. O pessoal tá botando a mão na massa mesmo? Olha, eu sempre acabo me envolvendo em produção de shows, festivais e tour de bandas de outros estados; queria parar, mas eu amo isso! Pena que não dá pra viver só disso, né? Mas sobre as pessoas estarem botando a mão na massa, isso é muito real fora de São Paulo. No interior ou nos outros estados as pessoas lutam e lutam mesmo pelo que acreditam. Por aqui, nego ainda perde muito tempo reclamando e criando intrigas ao invés de se juntar e se fortificar. Não interessa se o som da banda é punk, indie, crust ou ska, o inimigo é muito maior pra gente ficar perdendo tempo no Facebook dando indiretinha para quem você acha

menos importante do que você, não é mesmo? E sobre o festival Queers and Queens - TodXs JuntXs? Como foi a aceitação em geral? O Queers & Queens Festival chegou ao terceiro ano e para quem imagina que é fácil organizar um evento anti-homofobia, se engana. Temos de lutar contra o preconceito dentro da cena, a torcida contra macho-core babaca e ao mesmo tempo o preconceito de uma cena queer que não aceita um hetero organizar um evento desse tipo. O mais engraçado é que eu faço esse festival junto com o Hanilton, que é homossexual, e mesmo assim tem gente que acha errado, vai entender! Mas eu não desisto, pelo menos não tão fácil! Esse ano encaramos mais um desafio, inicialmente só tocavam bandas que tivessem pelo menos um integrante gay ou bissexual em sua formação. Mas em 2014 colocamos duas bandas pró-gay juntas, por isso o slogan de TodXs JuntXs (os X são usados para não definir gênero sexual). E obviamente houve quem aplaudisse e quem criticasse, mas rolou tudo bem e para 2015 já temos planos maiores. Certa vez vi que você escreveu que prefere trabalhar por conta do que ter um chefe. Você faz bottons e acho que seus parentes devem sempre perguntar: “você vive disso”? E aí, o que você responde para eles? Quais os prós e os contras de levar uma vida, digamos, que DIY? Então desde 2006 eu comecei a trabalhar com bottons. Cheguei a abrir uma loja de roupas, discos e acessórios roqueiros na Rua Augusta, mas acabei voltando e ficando só com os bottons novamente. Assim trabalho em casa, faço meus horários e tals, o que me facilita a vida com a banda. Óbvio que é complicado, tem cobrança da família, medo da namorada, pois trabalhar por conta é sempre um risco a mais, pois tem meses bons e outros nem tanto. O Punk me apresentou a autogestão, e eu tento viver do melhor jeito possível dentro do que acredito, mas me adaptando à burocracia e à realidade brasileira. Até tenho empresa aberta, o que também facilita a família a acreditar que eu estou realmente trabalhando (hahahahahaha). Espaço aberto para você falar sobre o futuro do Horace e seu blog! (risos) Primeiro quero agradecer pela entrevista e por esse espaço. O Horace Green esse ano continua na divulgação do Madeira e estamos compondo coisa nova. Vai sair uma coletânea da Hard Kiss, novo selo do Nenê (Dance of Days) e uma outra da HBB com nossas músicas em breve, e estamos preparando um clipe também; mas disco full só ano que vem! O blog é um projeto com a minha namorada (hehehehe). Depois de tanta gente nos chamando de breguinhas, resolvemos assumir isso para o mundo e criamos o insuportavelmentecafona.com, mas não é um blog só de amor. Lá é o nosso espaço aberto, falamos sobre o que gostamos. Já falei sobre livros que li, sobre discos e tal, mas o que tem mais feito sucesso são as receitas veganas que estamos postando. Eu gosto de escrever, e fico feliz em ter um espaço pra isso sem nenhuma restrição. Contatos: http://www.facebook.com/horacegreen http://horacegreen.bandcamp.com/ 2014/junho TRIBO SKATE | 93


skateboarding militant // por guto jimenez*

30 anos depois

Ivan ShupIkov

al eSpoRtIvo RepRodução vISu

Skateboarding. A experiência de editar em si não é nova, já que havia sido responsável pela Skate&Bordas no final dos anos 90 (mais uma vez, junto com o “Tatu”) e pelo “Na Base Skt Zine” na virada do século com o Maurice Chalom, meu camarada de longs de longa data. A diferença é que as antigas publicações tinham como foco o skate no Rio de Janeiro, ou seja, um alcance bem mais limitado do que o atual. Hoje, procuramos publicar aquilo que rola de mais interessante no Brasil e ainda somos afortunados em conseguirmos material vindo dos mais diversos países do mundo. É uma tarefa muito maior do que imaginava, sem dúvidas, mas a resposta do cenário ao produto é o mais gratificante de tudo e a maior recompensa de todas. “Ô sorte!”, você deve pensar. Realmente, é muito gratificante estar colocando as minhas ideias pros meus irmãos e irmãs skatistas depois de tanto tempo, mas acredite: sorte não tem muito a ver com isso. Faço minhas as palavras de Samuel Goodwin, um dos maiores produtores de filmes e donos de estúdio em todos os tempos: “quanto mais eu trabalho, mais sorte eu tenho”. Perdi a conta das noites passadas em estradas pelo Brasil afora, ou em aviões pelos céus do planeta, somente pra estar no lugar certo e na hora certa apenas pra assistir e registrar depois da melhor maneira possível. Da mesma forma, são incontáveis as festas perdidas e os shows dispensados por conta de alguma responsabilidade profissional da qual não poderia abrir mão. O melhor de tudo é que não me arrependo de nenhum deles, pois estava executando uma das missões que a vida colocou pelo caminho. Na verdade, eu me enganei. O melhor de tudo é ter a liberdade pra escrever o que quiser e a consciência limpa de sempre ter feito o meu melhor, e você pode ter certeza de que não há dinheiro que possa pagar por isso! É por isso que os tais 30 anos parecem ter passado como 30 dias, de tão acelerados e agradáveis que foram – descontando os ralados, as lesões e fraturas que me mantiveram longe do skate, claro... Moral da história? Siga seus instintos e faça o que tiver vontade sempre que puder; você pode até não acertar o tempo todo, mas terá sempre um sorriso na alma que faz a vida ser bem melhor!

APOIO CULTURAL * Guto Jimenez está no planeta desde 1962, sobre o skate desde 1975.

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aRquIvo YndYo

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sse período de meio de ano de 2014 marca uma data significativa em minha carreira: já se foram 30 anos desde que o meu primeiro texto foi publicado por um veículo impresso. Tudo bem que eu já tivesse um mínimo de experiência em escrever pra que outras pessoas lessem, já que editava o meu primeiro fanzine (o “Punkarioca”, da cena de punk rock do Rio) e colaborava com o Jorge Luiz de Souza “Tatu” em seu “Manifesto Punk”. Apesar do movimento punk na cidade ter nascido na pista de skate de Campo Grande e de nós sermos pioneiros da cena, só fui incluir o skate nas páginas xerocadas do zine lá pela terceira edição, quebrando um paradigma ridículo que havia na época que dizia que “skatista é tudo playboy” – e, acredite, não foram poucas as vezes que ouvi essa idiotice das bocas de punks de outras cidades... A tal revista pioneira se chamava Visual Esportivo, era focada no surfe e tinha como complemento alguns informes de outros esportes de ação, como o windsurfe, o voo livre e o skate. As seis ou oito páginas bimestrais sobre o que acontecia no cenário brasileiro e mundial era tudo o que tínhamos na época, e a gente lambia os beiços mesmo sendo muito pouco, pois era melhor do que nada. O responsável pelo carrinho era o Cesinha Chaves, que me pediu um texto sobre o evento que havíamos acabado de fazer em Búzios (o qual você leu na edição passada), e aí foi dada a largada numa carreira jornalística. Muito asfalto, concreto e metal passaram embaixo dos uretanos das rodas que gastei, e muitas digitais foram gastas em máquinas datilográficas, teclados e disparadores de câmeras. Falando em fotos, comecei registrando o Mundial de Münster que disputei em 1987, com uma câmera Olympus Pen emprestada de minha irmã que duplicava os cromos e gastei dois filmes de 36 poses. É claro que a maior parte do material não tinha qualidade alguma, mas pelo menos serviu pra registrar o evento com exclusividade nas páginas da Yeah!, uma das revistas exclusivamente de skate que existiram nos anos 80; a outra era a Overall, de onde saíram Cesar Gyrão e Fabio Bolota, a dupla de editores responsável pela Tribo Skate. Antes de me unir à dupla na primeira edição dessa revista que você lê agora, fiz parte do staff da Skatin’, a única revista de skate nacional publicada por um grande grupo editorial em todos os tempos. Muitas experiências boas, algumas nem tanto, algumas viagens a lugares inesperados e um aprendizado de como funcionava a máquina no meio de “gente grande” do ramo foram as lições que ficaram desse período bastante corrido na vida. Ao longo desse tempo todo, continuei a “agir por fora”, por assim dizer. Nos anos 80 / 90, editei os zines Jam Session, Fast Forward e JimeneZine, esse o meu trabalho mais autoral até os dias de hoje. Já colaborei com quase todas as revistas norte-americanas, como Thrasher, TWS e Slap (já extinta), sem falar na conceituada Concrete Wave, a única que fala de todas as modalidades do skate com uma ênfase maior nas modalidades de skate de ladeira. Ainda bem que sou cria das ladeiras e que já publiquei algumas matérias na 40 Polegadas, a “pequena grande” revista que foi a primeira publicação dedicada aos longboards em nosso país, e um dos maiores exemplos de uma ideia genial na época errada que já vi na vida. Há quase dois anos, assumi o maior desafio da carreira que é editar uma revista especializada em skate de ladeira, a CRVIS3R



Prestes a embarcar Para barcelona, antônio Juneka solta na rede o ‘meu calhambeck’, vídeo que mostra o rolê de skate em uma carcaça de carro na famosa fábrica de manobras de indaiatuba/sP. confira no triboskate.com.br! smith no que restou do calhambeck (assim grafado Pelo autor). foto leandro moska

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