Revista Tela Viva 208 - setembro 2010

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( radiodifusão) operadoras wireless se desenvolva com tecnologias que permitam maior aproveitamento do espectro, como o uso de femtocells, e apregoa que as políticas para o uso do espectro devem usar, na avaliação de eficiência do uso, “fatores culturais, sociais e econômicos”. Roberto Pinto Martins, do Minicom, disse que não há ainda qualquer definição sobre como será ocupado o espectro liberado a partir de 2016 com o fim da TV analógica. Afirmou que este é o momento de se começar a discussão, mas que ela só acontecerá mesmo no próximo governo. “Está em aberto, podem ser criados mais canais de TV, ou ser usado para outros serviços. A faixa dos 700 MHz é nobre, muita gente quer”, disse. Bittencourt, da Globo, manifestou preocupação com a possibilidade da faixa ser compartilhada entre a radiodifusão e serviços móveis. Segundo ele, a convivência entre os serviços é inviável, pelas características técnicas das redes, e só seria possível

entidade, que deve concentrar discussões e resoluções relacionadas a governo eletrônico, entre outras questões, será presidida primeiramente pela Argentina. Os comandos das duas entidades devem ser trocados anualmente, sendo que os próximos presidentes serão escolhidos em março de 2011, no Chile. Os encontros das entidades internacionais de TV digital já começam com duas disputas envolvendo Brasil e Argentina. Uma se refere à interatividade. O governo argentino vem apontando que deve adotar o middleware Ginga NCL-Lua, sem a camada Java adotada no Brasil. Os argentinos estariam relutantes em pagar royalties a uma empresa norte-americana. Vale lembrar que pelas negociações feitas entre Brasil e a Sun, antiga detentora do Java, será cobrado apenas o valor referente ao Java Engine, incapaz de influenciar nos preços dos equipamentos receptores de TV. O governo brasileiro teme que com isso se feche o potencial mercado internacional de software criado com a massificação do middleware desenvolvido no Brasil em parceria com a Sun. Outra questão é em relação ao modelo de adoção do padrão digital por parte da população. A Argentina optou por distribuir caixas receptoras a uma parcela significativa da população desde o início da implementação do padrão. Já os fabricantes brasileiros estão se esforçando para criar um mercado de receptores e televisores com recepção embutida e vê na inciativa argentina uma ameaça a este mercado e à pluralidade de modelos de equipamentos, com diferentes características. O governo, por outro lado, trabalha para desenvolver um set-top popular e que permita aplicações interativas.

FOTOs: Marcelo Kahn

“Está em aberto (o espectro que será liberado com o fim da TV analógica), podem ser criados mais canais de TV, ou ser usado para outros serviços. A faixa dos 700 MHz é nobre, muita gente quer” Roberto Pinto Martins, do Minicom

se cada um ocupasse uma faixa completamente separada. Padrão global Durante o Congresso SET aconteceu ainda um encontro reunindo radiodifusores e governos dos países que adotaram o ISDB-T como padrão na TV digital aberta. No encontro foram criadas duas entidades internacionais que serão responsáveis pela harmonização, normatização, evolução e regulamentação do padrão do ISDB-T. Uma será o Fórum Internacional do ISDB-T, formado por agentes da iniciativa privada de cada um dos países onde a norma de TV digital foi adotada. A entidade, responsável pelas normas técnicas, será presidida primeiramente pelo representante brasileiro, o presidente do Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital, Frederico Nogueira. A segunda entidade é o Congresso Permanente da TV Digital Aberta, formado por representantes dos governos dos países onde o padrão ISDB-T foi adotado. A

Must carry revisto O diretor da Globo Fernando Bittencourt sugeriu no evento que se rediscuta no Brasil a regra do must carry, pela qual as operadoras de cabo são obrigadas a carregar os sinais das emissoras locais, que por sua vez devem ceder o sinal gratuitamente. Bittencourt mostrou vídeos de diretores da NAB (associação de radiodifusores dos EUA) defendendo o modelo de retransmission consent, adotado naquele país. Por este modelo, a emissora pode obrigar o cabo a levar seu sinal (nesse caso gratuitamente) ou pode negociar um valor pela cessão da programação. O argumento das emissoras

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Bittencourt, da Globo, propôs o fim do must carry, com adoção do modelo de retransmission consent, adotado nos EUA.

é que o conteúdo da TV aberta tem grande valor para os operadores, que não pagam nada por isso. Presente à sessão, o presidente da Net Serviços, José Felix, mostrou-se contrário à ideia. “Do jeito que está, o sistema funciona bem, é isonômico. Não acho boa ideia mexer nisso agora”, disse. “Hoje está todo o mundo bem”, afirmou Felix, ao que o diretor da Globo retrucou: “todo o mundo quem?”, demonstrando a insatisfação que o tema gera entre as emissoras abertas.

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André Mermelstein e Fernando Lauterjung


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