MarleneFranca_MariaDoRosarioCaetano

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Que vontade de ter um sarongue. Uma vez, vi um filme em que a mocinha ganhava um chocolate de Páscoa e, ao abri-lo, encontrava um anel. Eu fechava os olhos, de noite ou de dia, e sonhava: me via vestida com um sarongue, com os cabelos ao vento, recebendo um chocolate (que eu nem sabia que gosto tinha!) e dentro encontrando um anel, mandado por um príncipe encantado. Bastava abrir os olhos para ver a realidade da nossa família, em especial a da minha mãe, com seus muitos filhos, sua pobreza, seu trabalho duro, limpando a Prefeitura e cuidando das tarefas da casa, lavando roupa, cozinhando, rachando lenha. 32

O que me esperava, se eu fosse seguir uma vida igual à da minha mãe? Eu me casaria com um lavrador, ou com um vendedor de doces, ou com um mecânico de oficina? Teria dez filhos? Não. Eu jurava a mim mesma que, um dia, seria atriz, seria famosa, sairia nas capas das revistas. E fazia qualquer sacrifício para comprar as revistas de fãs de cinema, que mostravam as belas casas dos atores e atrizes de Hollywood. Aquelas cozinhas com armários repletos de todos os eletrodomésticos que apareciam nos filmes americanos me alucinavam. Lembro-me destas cozinhas, que povoaram meus sonhos, porque elas foram tema de muitas das discussões que eu viria a manter, depois, com Alex


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