FomeDeBola_LuizZaninOricchio

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dando aqueles botes de cobra, começou a dominar Ghiggia, Obdúlio Varela primeiro foi para cima de Ghiggia. Deu­lhe uns gritos, uns empurrões. Para Ghiggia deixar de ser covarde. Depois, logo em se­ guida, Obdúlio Varela agarrou Bigode pelo pescoço. Não lhe meteu a mão na cara. Mas que o balançou em safanões, balançou (Mário Filho, p. 287). Mário Filho admite que Bigode não deveria mesmo reagir, pois corria o risco de ser expulso. Mas também diz que, a posteriori, todos analisam Aquela cena como a decisiva, a que mudara o rumo do jogo. Em outra versão, Flávio Costa teria instruído Bigode, um marcador duro, para evitar as faltas, pois os uruguaios, pressentindo a derrota, poderiam usar o jogo mais áspero como pretexto para abandonar o campo e melar o espetáculo. Versões. O certo é que Obdúlio Varela jogou com toda raça – que aliás era uma característica daquele selecionado uruguaio – e incendiou o time com sua disposição. Mas as versões continuam circulando – e na boca de gente que nem era nascida na época daquele jogo, considerado pela pesquisadora Fátima Antunes não apenas o mito às avessas mas o próprio mito fundador do futebol brasileiro. Quase todos os protagonistas e testemunhas estão mortos, o que intensifica o mistério do mito e o solidifica. O surpreendente é que na era do futebol negócio, do esporte globalizado e pragmático,

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