dando aqueles botes de cobra, começou a dominar Ghiggia, Obdúlio Varela primeiro foi para cima de Ghiggia. Deulhe uns gritos, uns empurrões. Para Ghiggia deixar de ser covarde. Depois, logo em se guida, Obdúlio Varela agarrou Bigode pelo pescoço. Não lhe meteu a mão na cara. Mas que o balançou em safanões, balançou (Mário Filho, p. 287). Mário Filho admite que Bigode não deveria mesmo reagir, pois corria o risco de ser expulso. Mas também diz que, a posteriori, todos analisam Aquela cena como a decisiva, a que mudara o rumo do jogo. Em outra versão, Flávio Costa teria instruído Bigode, um marcador duro, para evitar as faltas, pois os uruguaios, pressentindo a derrota, poderiam usar o jogo mais áspero como pretexto para abandonar o campo e melar o espetáculo. Versões. O certo é que Obdúlio Varela jogou com toda raça – que aliás era uma característica daquele selecionado uruguaio – e incendiou o time com sua disposição. Mas as versões continuam circulando – e na boca de gente que nem era nascida na época daquele jogo, considerado pela pesquisadora Fátima Antunes não apenas o mito às avessas mas o próprio mito fundador do futebol brasileiro. Quase todos os protagonistas e testemunhas estão mortos, o que intensifica o mistério do mito e o solidifica. O surpreendente é que na era do futebol negócio, do esporte globalizado e pragmático,
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