FomeDeBola_LuizZaninOricchio

Page 210

Essas histórias em aparência modestas, contadas com despretensão (e narradas também em um estilo de filmagem low profile) escondem a verdadeira abrangência do projeto. Ugo toca em alguns pontos significativos, como o fato de que o futebol é ainda uma das poucas formas de ascensão social das classes pobres. No entanto, numa sociedade preconceituosa, nem mesmo o sucesso no mundo da bola imuniza um atleta negro da discriminação racial. Em outra história, o craque potencial não escapa ao seu destino porque, antes de ser um menino bom de bola, é um menor infrator e que anda em companhias perigosas. A história de Paulinho Majestade (Aldo Bueno), o que vende os troféus, talvez o melhor episódio de todos, evoca o efêmero da fama, mas fala também na dignidade que se guarda dos bons tempos como um bem que não se perde ou se negocia. Esse painel, que inclui a corrupção, a superstição e também a malandragem, só se torna possível porque o diretor compreende o papel que o futebol desempenha no imaginário brasileiro. Dessa compreensão nasce o resto. Quer dizer, faz-se, pelo futebol, uma radiografia do país, com suas qualidades e terríveis problemas. Já Futebol (1998), documentário de João Moreira Salles e Arthur Fontes, esmiuça os três momentos cruciais na história de um jogador: os esforços para ingressar no profissionalismo; sua trajetória, com seus altos e baixos e, finalmente, o momento em

209


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.