Catálogo de maio de 2010

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Marinha de Guerra do Brasil. Começou a pintar no encouraçado Minas Gerais, em 1925, mas, acometido de tuberculose, foi internado no Sanatório Naval de Nova Friburgo quatro anos depois. Curado, ingressou em 1933 no Núcleo Bernardelli, no qual recebeu orientação do pintor polonês Bruno Lechowski. Viajou bastante por diversas regiões do país, fixando residência por algum tempo em Salvador, na Bahia. Sobre Pancetti, escreveu Frederico Morais: é um pintor econômico, que simplifica ao máximo suas composições e procura definir as situações com um mínimo de recursos expressivos. Segundo Ruben Navarra, sua pintura tem “a pureza das coisas nuas”, ou é resultado de “uma contemplação desnuda”; ele “vê a paisagem com a ternura de um monge”. Ou seja, ele sempre soube captar o essencial da paisagem, suas harmonias mais profundas. Neste sentido é o mais anti-impressionista dos pintores brasileiros figurativos. Sua visão da natureza nunca é superficial, nunca busca os prazeres imediatos. E para chegar a esse despojamento franciscano, contribuíram seguramente as lições que teve com Lechowski, bem como a pobreza material e a vida do mar, suas duas principais escolas de vida. No entanto, ressalva o crítico, Pancetti foi também um pintor de terra firme. Muitas de suas melhores obras foram pintadas longe do mar, em Campos do Jordão ou em São João del Rey, nos anos 1940. E pintou magníficos retratos e, sobretudo, autorretratos, além de naturezasmortas e interiores. Participou das bienais de Veneza (1950) e de São Paulo (1951 e 1953), do Salão Nacional de Belas-Artes, entre 1934 e 1952, recebendo em 1941 o prêmio de viagem ao exterior, que não cumpriu por estar enfermo; o de viagem ao país em 1946 e medalha de ouro em 1948; do Salão Paulista de Belas-Artes, em 1938 e 1949, neste último ano contemplado com o prêmio Governo do Estado; e do Salão Baiano de Belas-Artes em 1954, que lhe valeu medalha de ouro. Figurou ainda em “Um século de pintura brasileira”, no Museu Nacional de Belas-Artes, 1952, e postumamente da mostra “Tradição e ruptura”. Realizou individuais no Instituto dos Arquitetos do Brasil, Rio de Janeiro (1945); no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1955); e nas galerias Itapetininga, São Paulo (1946); Montparnasse, Rio de Janeiro (1946); e Oxumaré, Salvador (1952). Após sua morte foram realizadas individuais no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1962), e galerias Ipanema, Rio de Janeiro (1974 e 1981); Sérgio Milliet, Rio de Janeiro (1977) e Acervo, Rio de Janeiro (1980). Bibliografia: Medeiros Lima. Pancetti (Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1960). José Roberto Teixeira Leite. Pancetti, o pintor marinheiro (Rio de Janeiro: Fundação Conquista, 1979). Frederico Morais. Núcleo Bernardelli – arte brasileira dos anos 30 e 40 (Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982).

pApF, K ARL e RNst d reSden , a leManHa , 1833 – S ão P aulo , SP, 1910 Pouco depois de completar seus estudos de pintura na Academia de Belas-Artes de sua cidade natal, viajou para o Brasil em companhia do fotógrafo Albert Henschel, aportando no Recife em 1867. Já na condição de sócios, trabalhando juntos como fotógrafos, instalaram-se sucessivamente em Salvador, em 1872, Rio de Janeiro, 1877, e São Paulo, 1899. Como pintor, realizou retratos, paisagens, marinhas, naturezas-mortas e flores, especialmente orquídeas, que ele cultivava em sua residência. Definido por Carlos Roberto Maciel Levy como “notabilíssimo fisionomista”, em seus retratos, ele, como paisagista, ainda segundo o crítico e historiador, refletiu a atenção documental voltada para os aspectos panorâmicos da paisagem de montanha, descortinada em grandes planos desiguais. […] O tratamento que dispensou às paisagens deste tipo conserva o cunho romântico e livre que as diferencia por exemplo de Facchinetti. Na monumental exposição realizada em 1882 pelo Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, participou com treze pinturas. A Galeria Acervo realizou, em 1980, exposição retrospectiva de sua obra (pinturas e fotografias), mostra que a seguir foi levada para o Museu Imperial de Petrópolis e para a Pinacoteca do Estado, em São Paulo. Bibliografia: Carlos Roberto Maciel Levy. Karl Ernst Papf: 1883-1910 (Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1980). Donato Mello Júnior e outros. 150 anos de pintura no Brasil (Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1989). pARReIRAs, A NtôNIO n iterói , rJ, 1860 – 1937 Iniciou seus estudos de arte em 1883 na Academia Imperial de Belas-Artes, onde teve como professor de

paisagem Georg Grimm, que exigia que seus alunos realizassem suas pinturas exclusivamente ao ar livre. Devido à crescente incompatibilidade com a direção e os professores, este se retirou da Academia, sendo acompanhado por vários de seus alunos, entre eles Parreiras, Thomas Driendl, Castagneto e outros que, juntos, criaram em um casarão de Niterói o Grupo Grimm, atuante entre 1884 e 1886. Com uma bolsa do governo brasileiro, prosseguiu seus estudos na Academia de Belas-Artes de Veneza em 1888. De volta ao Brasil, foi nomeado professor interino de paisagem da Academia Imperial em 1890. Com a reforma do ensino daquele ano, que resultou na transformação da academia em Escola Nacional de Belas-Artes, a cadeira de paisagem foi extinta, e Parreiras então decidiu, à semelhança de seu mestre, instalar em Icaraí, Niterói, uma escola ao ar livre, frequentada por um grupo de alunos interessados e independentes. Colocando em prática os ensinamentos de Grimm, ele mesmo se deslocou por grande parte do território brasileiro, fixando em suas telas a diversidade de sua paisagem. Comentando esta faceta de sua obra, o crítico Gonzaga Duque escreveu: Amando a vida em todas as suas manifestações, tendo por índole afinidades com a existência rural, tudo quanto passa por sua retina, árvores e campo, choças e encruzilhadas de caminhos, porteiras derreadas e gado pascendo, ondas pinchantes e areais rútilos, pescadores e campeiros, tudo o abala e o comove. Mas, sendo, como é, um sensitivo, os simples aspectos ou indicações lineares das cousas e dos seres tomam no seu cérebro um exaltamento sentimental. Estimulado por Vítor Meirelles, dedicou-se igualmente à pintura histórica. Contudo, diferentemente do paisagista ousado, expressando-se numa pintura viril, de pinceladas largas e fartas, o pintor de temas históricos manteve-se dentro dos padrões mais conservadores da pintura acadêmica, repetitiva e grandiloquente. Apesar disso, foram suas telas históricas, geralmente de grande porte, que fizeram dele, à sua época, um dos pintores brasileiros mais populares, com obras espalhadas por todo o país, especialmente em palácios governamentais. Figurou na Exposição Geral de Belas-Artes de 1891, recebendo em 1908, no mesmo certame, a medalha de ouro. O filho, Dakir, e o tio, Edgar Parreiras, também foram pintores. Sua residência em Niterói é, desde 1941, sede do Museu Antônio Parreiras, com um considerável acervo de obras e documentos sobre o artista. Bibliografia: Carlos Roberto Maciel Levy. Antônio Parreiras, pintor de paisagem – Gênero e história (Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1981).

peDRO b RuNO P aquetá , r io de J aneiro , rJ, 1888 – r io de J aneiro , rJ, 1949 Pintor, escultor e desenhista. Inicialmente interessado em música, estudou canto na Itália entre 1905 e 1910. De volta ao Brasil já direcionado para as artes visuais, começou seus estudos de pintura com o italiano Schettino em Paquetá, e em 1911 passa a ter aulas com Batista da Costa na Escola Nacional de Belas-Artes. Com o prêmio de viagem ao exterior recebido no Salão Nacional de Belas-Artes, transfere-se em 1919 para Roma, onde se aperfeiçoou em pintura na British Academy Sciortino. Sobre ele, escreveu José Roberto Teixeira Leite: Mais próximo da tradição derivada de seu mestre Batista da Costa quando pintava paisagens, Pedro Bruno revelouse mais “moderno” como pintor de formas femininas. Convencional em temas como Maternidade (que tantas vezes pintou), discreto em suas paisagens, ganha em sensibilidade ao fixar corpos femininos, nus ou vestidos, ao representar pensadores em seus barcos à beira-mar. O nu, particularmente, sai-lhe espontâneo e nervoso, em largas pinceladas cheias de empaste. Participou da Exposição Geral de Belas-Artes (19101920, recebendo a medalha de bronze em 1912 e a de prata em 1913, 1922/pequena medalha de ouro, 1923, 1925/grande medalha de ouro, 1926, 1928, 1929, 1930 e 1933); do Salão de Outono, Rio de Janeiro (1926); da Exposição de Rosário de Santa Fé, Rosário, Argentina (1929 e 1932); do Salão Paulista de Belas-Artes (1937, 1939, 1940, 1943, 1945, 1949), e do Salão Nacional de Belas-Artes (1943). Fez duas exposições individuais no Rio de Janeiro, em 1914 e 1941. Obras suas participaram de diversas exposições, entre elas “Um século da pintura brasileira 1850-1950”, no Museu Nacional de Belas-Artes, Rio de Janeiro (1950) e “A paisagem brasileira, 1650-1976”, no Paço das Artes, São Paulo (1980). Bibliografia: Roberto Pontual. Dicionário das Artes Plásticas no Brasil (Rio de Janeiro: Nova Fronteira,

1969). Carlos Cavalcanti e Walmir Ayala (org.). Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos (Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1973). José Roberto Teixeira Leite. Dicionário Crítico da Pintura no Brasil (Rio de Janeiro: Artlivre, 1988). Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais. Disponível em <www.itaucultural.org.br> (*)

peDROsA, JOsé ALVes rio aCiMa, MG, 1915 – Belo Horizonte, MG, 2002 Nasceu numa fazenda, caçula de oito irmãos. O pai o queria médico ou advogado. Tinha cinco anos quando a fazenda foi vendida, e seu pai, transferindo-se com a família para Belo Horizonte, adquiriu um sítio. Na capital, enquanto frequentava o grupo escolar e, depois um colégio de padres, fez de tudo um pouco: plantou e vendeu bananas, foi caixeiro de armazém, “lanterninha” de cinema, ajudante de mecânico numa empresa de ônibus e jogador de futebol. E nas horas vagas desenhava e modelava. Em 1930, muda-se para o Rio de Janeiro, inscrevendo-se no curso livre da escultura de José Otávio Correia Lima, abandonando-o antes de completar um ano. Em 1942 frequenta o curso de escultura de August Zamoiski (artista polonês recémchegado ao Brasil), de quem se torna assistente. Entre 1943 e 1945 trabalha em ateliê montado no subsolo da Biblioteca Nacional, tendo como colegas Bruno Giorgi e Alfredo Ceschiatti. Com bolsa de estudos do governo francês, viaja a Paris, onde permanece até 1948 e mantém contatos com Despiau, Giacometti e Brancusi. Nesse período realiza quatro viagens à Itália. Participou do Salão Nacional de Belas-Artes em 1941, 1944 e 1945, nos quais recebeu medalhas de bronze, prata e ouro, do Salão Paulista de Arte Moderna, entre 1952 e 1954, recebendo neste último ano o segundo Prêmio Governador do Estado, e da Bienal de São Paulo (1955) e do Salão Nacional de Arte Moderna (1954), no qual recebeu o Prêmio de Viagem ao País, exposição que ficaria conhecida como o Salão Branco e Preto, por ter reunido apenas obras em preto e branco, como uma forma de protesto dos artistas contra a proibição da importação de tintas e outros materiais. Figurou ainda nas mostras “O nu na arte contemporânea” (1964) e “A figura feminina” (1970), ambas na galeria do Ibeu, “Escultura brasileira anos 50” (1985), no Centro Empresarial Rio, “JK e os anos 50: Uma visão da cultura e do cotidiano” (1986), na Investiarte, e das remontagens do Salão Branco e Preto (1985) e das duas mostras “Os dissidentes” da Enba (1986). Ao longo de sua carreira realizou apenas três exposições individuais, na Petite Galerie (1964), na associação dos Amigos do Museu de Arte Moderna de São Paulo (1966) e uma retrospectiva no Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte. Soraia Cals realizou, em 2006, a exposição “José Pedrosa: Vitória modernista”. Joaquim Cardoso e Roberto Alvim Correia, em 1945, e Flávio de Aquino, em 1955, saudaram José Pedrosa como um dos melhores escultores brasileiros. Para Alvim Correia a beleza perseguida por Pedrosa está quase 100% concentrada no corpo humano, especialmente o feminino. Ele tem o culto do corpo. As formas, as linhas, os movimentos e os volumes combinados precisam flexível e liricamente esses corpos de mulheres – tão decisivos em sua obra. Aquino diz que ele “assesta um rude golpe no seu próprio idealismo, criando, então, um naturalismo menos ideal, uma realidade mais viva e uma emoção mais quente”. E mais recentemente, Frederico Morais apontou sua escultura Pampulha, localizada no jardim que antecede à entrada do antigo cassino, hoje Museu de Arte da Pampulha, como a mais bela escultura brasileira dos anos 40, afirmando que Pedrosa traduz para os tempos modernos, as qualidades formais e semânticas das Vitórias grega e etrusca. Na sua escultura, da mesma forma, a figura feminina se lança impetuosa, no espaço. Sua vitória modernista é, porém, menos idealista na redondez de seu corpo liso e robusto. Libertou-se de sua segunda pele, a túnica herdada, pregueada e transparente. Não é mais uma deusa, intocada. É mulher – o corpo exposto, em diagonal ascendente. Pérola barroca. Bibliografia: Frederico Morais. José Pedrosa: vitória modernista (Rio de Janeiro: Galeria Soraia Cals, Rio de Janeiro, 2006). peReIRA, A RtHuR C aCHoeira do B ruMado , MG, 1920 – 2003 Pedreiro e lenhador que nunca deixou sua cidade natal, começou a produzir trabalhos de cunho pessoal em 1960, com estranhas composições de homens e animais trabalhados em um único bloco de madeira que, para Roberto Pontual, se aproximavam da tipologia do ex-voto esculpido, somado ao mistério e à 345


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