realidade que a envolve, não quis, sob pena de negar-se, fugir ao compromisso com a terra. Teria sido certamente mais fácil, mas corajosamente manteve sua opção inicial. 6 – A posição de Djanira na pintura brasileira é muito peculiar. Não retrata grandes tragédias humanas como Segall, não revela o hedonismo sensual de Di Cavalcanti, as contradições ideológicas de Portinari, como também não metamorfoseia a paisagem brasileira em visões edênicas ou paradisíacas como muitos pintores naifs, não é a intérprete plástica de teorias eruditas e sofisticadas. Djanira não faz pintura autobiográfica, não expulsa seus fantasmas em exorcismos pictóricos, nem faz pintura intimista, visceral ou confessional. Como afirmou tantas vezes, “assunto não faz pintura ser válida”. Pintar, portanto, não é apenas fixar um tema, mas hierarquizar, sintetizar, envolver toda a composição em um ritmo só, de tal maneira que se possa localizar na tela, com clareza, um autor e considerar o resultado final como uma efetiva contribuição á cultura de uma nação. 7 – Se entre 1973 e 1976, nas séries de mineradores de carvão e cal, Djanira aprofunda e amadurece as conquistas formais e os temas de 1957–1959, o período
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de 1944–1948, que inclui os três anos que residiu em Nova York, tem um sentido bem
MarCIEr, EMErIC
diferente. Se as composições recentes são monumentais, solenes e algo impositivas na
figuras
sua frontalidade, as telas dos anos 40 são alegres, soltas, quase infantis nos sonhos e devaneios dos seus personagens. São ao mesmo tempo mais reveladoras das influências
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1916 – 1990
aquarela e nanquim s/ papel, ass. e dat. 1939 inf. dir. 20,5 x 27 cm
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