Ruminantes 28

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Ano 8 - Nº 28 - 5,00€ janeiro | fevereiro | março 2018 (trimestral) Diretor: Nuno Marques

A REVISTA DA AGROPECUÁRIA

www.revista-ruminantes.com

PREÇOS DAS MATÉRIAS PRIMAS CONCURSO NACIONAL DE FORRAGENS Entrevista aos premiados

2011 a 2017

IDENTIFICAÇÃO ELETRÓNICA em ruminantes



EDITORIAL

EDIÇÃO Nº28 JANEIRO | FEVEREIRO | MARÇO 2018 DIRETOR

Nuno Marques | nm@revista-ruminantes.com

Caro leitor, A identificação electrónica (IDE) é obrigatória nos ovinos e caprinos, e nas raças puras de bovinos. Em julho de 2019, essa obrigatoriedade passará a ser extensível a todos os bovinos. A propósito das suas vantagens, entrevistámos nesta edição Paulo Fonseca, percursor em Portugal do chamado RFID, acrónimo de Radio Frequency Identification ou Identificação Eletrónica (IDE). A identificação electrónica é vantajosa para todos os intervenientes, desde o Estado ao consumidor final, e permite aos agricultores a adoção de novas, e importantes, ferramentas de gestão. Claro que estas ferramentas requerem capacidade de investimento, sobretudo no tempo dedicado à sua utilização, mais do que na aquisição de equipamento, mas permitem monitorizar as produções pecuárias, praticar um maneio corretivo atempado... em resumo, tornar as explorações mais eficientes e rentáveis. Parece-me estar aqui uma boa oportunidade para os agricultores que, com esta ferramenta, podem antecipar os resultados e tomar decisões, antes de chegarem ao fim de ciclos produtivos e só aí perceberem que a produção não correu como queriam. Sendo a IDE uma ferramenta tão interessante do ponto de vista de gestão da atividade, com retorno económico maior ou menor dependo do ponto de partida de cada exploração e cada vez mais utilizada na Europa, porque espera o Estado para antecipar e subvencionar a implementação de algo que lhe traz muitas vantagens e permite aos agricultores portugueses aumentarem o controlo e a rentabilidade dos seus negócios e serem mais competitivos? Desde o início do projeto Ruminantes , em 2011, que temos vindo a recolher semanalmente os preços de algumas matérias primas, e a publicá-los no site da Ruminantes (www.revista-ruminantes.com) e em cada edição da Revista na rubrica Observatório de Matérias Primas. Neste número, apresentamos a evolução dos preços praticados nas matérias primas (milho, cevada, trigo, bagaço de soja e bagaço de colza), no porto de Lisboa, entre abril de 2011 e outubro de 2017. Não se pretende que este artigo seja um “guia” de compras mas que sirva como uma boa base de trabalho para os agricultores perceberem como se movimentaram os preços ao longo deste período. A Ruminantes vai continuar a promover e incentivar a utilização de forragens de qualidade na produção pecuária. Em 2018, o Concurso Nacional de Forragens vai passar a ter uma nova categoria – silagem de luzerna – e novas regras de funcionamento, mais simples. Leia nesta edição o regulamento do concurso para as duas categorias e os prémios atribuídos. Bom ano de 2018

Colaboraram nesta edição Albino Gil Gomes; Alexandre Rego; Ana Lage, António Balazeiro, António Cannas; António Moitinho; António Oliveira; Arturo Gomez; Carlos Vouzela; Eduardo Soares; Emanuel Garcia; Filipe Soares; João Marques; João Silvestre; João Vidal; José António Teixeira; José Caiado; José Pedro Araújo; Lázaro Cordeiro; Luís Figueiredo; Luís Queirós; Luís Raposo; Manuel Laureano; Maria Manuela Marinha; Paulo Fonseca; Pedro Castelo; Pedro Meireles; Rui Alves; Sérgio Henriques; Silvestre Silva; Teresa Moreira. Capa Fotografia editada por Francisco Marques

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Nuno Marques

Alguns autores nesta edição ainda não adotaram o novo acordo ortográfico. O “Estatuto Editorial” pode ser consultado no nosso site em: www.revista-ruminantes.com/quem-somos Envie-nos as suas crítícas e sugestões para: nm@revista-ruminantes.com WWW.REVISTA-RUMINANTES.COM WWW.FACEBOOK.COM/REVISTARUMINANTES RUMINANTES JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 3


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ÍNDICE

08 IDENTIFICAÇÃO ELETRÓNICA EM RUMINANTES Nesta edição, Paulo Fonseca aborda a génese desta tecnologia, o ponto de situação em Portugal e na Europa e as alterações na legislação que poderemos esperar em 2019.

ALIMENTAÇÃO

42 EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DAS MATÉRIAS PRIMAS DE 2011 A 2017 Na rubrica Observatório de Matérias Primas, apresentamos uma análise dos preços semanais do milho, cevada, trigo, bagaço de soja e bagaço de colza, entre abril de 2011 e outubro de 2017.

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32 Final de gestação em ovelhas leiteiras 52 Início de lactação: como melhorar a produtividade em vacas leiteiras 60 Sistema alimentar dos Açores

ATUALIDADES 06 Líderes mundiais reúnem-se para discutir o futuro da indústria do leite 36 Alimento do trimestre - carne vermelha

ECONOMIA

CONCURSO NACIONAL DE FORRAGENS Todos os parâmetros de qualidade nutricional da forragem aumentaram nos últimos 3 anos, à exceção do pH e do teor em cinzas. Esta é a principal conclusão relativa à evolução da qualidade das silagens de erva desde que, em 2015, a Revista Ruminantes lançou o Concurso Nacional de Forragens (CNF). Leia as entrevistas aos premiados.

42 Observatório de matérias primas 48 Observatório do leite 50 Índice VL e Índice VL erva

FORRAGENS 18 Aditivos para forragens conservadas 28 Silagens de erva: avaliação da qualidade nutricional 34 Regulamento do Concurso Nacional de Forragens 2018 38 Beterraba forrageira – uma alternativa energética para vacas leiteiras

GENÉTICA 56 Genética na Ilha de São Miguel, um balanço de vinte e sete anos

PRODUÇÃO 14 Exploração Verde Oliveira - com pouco se faz muito 20 Produzir leite a mais de 40ºC 24 Melhoramento da produtividade em rebanhos de ovinos de carne

PRODUTO 74 Investir com responsabilidade Quinta do Ral 78 Novidades de produto 80 Agro-Mancelos - vacas felizes, bem ordenhadas e frescas 82 Gulliver 5014 - um Unifeed que não voa... mas tem asas

SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL 68 Ver, ouvir e caminhar, ou talvez não... 70 Tuberculose Bovina 72 Biossegurança na exploração

BOLETIM DE ASSINATURA 1 ANO, 4 EXEMPLARES

DADOS PESSOAIS

Portugal: 20,00 €

Nome.............................................................................................................................................................................................

Europa: 60,00 €

Morada..........................................................................................................................................................................................

Pagamento • Por transferência bancária IBAN: PT50 0269 0111 00200552399 92 Enviar comprovativo para o email geral@revista-ruminantes.com • Por cheque: À ordem de Aghorizons, Lda.

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ATUALIDADES

Líderes mundiais reúnem-se para discutir o futuro da indústria do leite A International Dairy Federation (IDF) voltou a organizar o World Dairy Summit de 30 de outubro a 3 de novembro, desta feita em Belfast, onde se discutiu, passados 2 anos da Declaração de Roterdão, o rumo que a indústria leiteira deveria tomar, e como fazê-lo. POR INÊS AJUDA

Os tópicos mais discutidos foram as importações e exportações no mercado leiteiro, a sustentabilidade da indústria, e como acompanhar as novas tendências e superar os novos desafios. No primeiro dia a Declaração de Roterdão esteve em destaque. Judith Bryans, presidente da IDF, sublinhou que a nível mundial a comunidade ligada à industria leiteira representa mais de 100 milhões de pessoas, e que os líderes da indústria devem trabalhar em conjunto para protegê-las e mantê-las ligadas ao negócio do leite. Foram também apresentados os 20 países que assinaram a Declaração de Roterdão e discutidos os próximos passos a seguir para implementação dos objetivos a nível nacional. A Declaração de Roterdão identifica como o sector leiteiro deve colaborar e atuar para que possa atingir os dezassete objetivos de sustentabilidade determinados pelas Nações Unidas (figura 1).

FIGURA 1 Objetivos globais de sustentabilidade das Nações Unidas.

Neste âmbito foi criado o Dairy Sustainability Framework (DSF) para providenciar objetivos comuns e alinhar o sector com as ações globais para uma maior sustentabilidade. Este assunto foi bastante debatido ao longo da conferência, nomeadamente no âmbito dos 20 países que assinaram a Declaração de Roterdão: como estes (e outros mais que possivelmente se juntarão a eles) irão implementar estes princípios a nível nacional, e que indicadores deverão utilizar para assegurar que os objetivos estão a ser cumpridos. O DSF apresentou os planos para os diversos indicadores dos objetivos de sustentabilidade (figura 2), revelando que a maioria já se encontram definidos, faltando ainda estabelecer indicadores para quatro dos onze objetivos. Empresas como a Arla, Ahold Delhaize e a Tetrapak falaram sobre as estratégias que utilizam para tornar as suas empresas mais sustentáveis. A Hanne Bang Bligaard, Especialista Sénior em Sustentabilidade da Arla Foods, falou da nova ferramenta desenvolvida pela

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FIGURA 2 Planeamento do desenvolvimento de indicadores para cada um dos objetivos de sustentabilidade do sector leiteiro, determinados pelo DSF. Em 2016 foram publicados os indicadores para a emissão de gases de estufa e para o tratamento dos animais; em 2017 foram publicados os indicadores para os nutrientes no solo, consumo de água, condições no local de trabalho, biodiversidade e qualidade do solo. Finalmente está planeada a publicação para 2018/2019 dos indicadores para segurança e qualidade do produto, economias rurais, desenvolvimento de mercado e resíduos.

equipa da Arla (figura 3), que facilita a recolha de dados ao nível da exploração, ao nível nacional e ao nível da empresa, sendo assim possível identificar objetivos e calcular a progressão dos produtores de leite da empresa. Outro assunto bastante debatido foi a comercialização de leite entre mercados e quem serão os próximos produtores a emergir no top 5. A União Europeia, os Estados Unidos da América, a Nova Zelândia e a Argentina, continuarão a aumentar a sua produção de leite, mas a procura não irá necessariamente aumentar ao mesmo ritmo nestes países. A procura irá crescer mais


ATUALIDADES

FIGURA 3 Nova ferramenta que a Arla desenvolveu: Arlagarden® Plus. Esta ferramenta tem como objetivos recolher dados a nível do produtor, a nível nacional e ao nível da exploração, tornando assim mais fácil à empresa e aos produtores traçar objetivos e monitorizar a sua cadeia de fornecimento. Esta ferramenta também permite identificar o trabalho de cada exploração facilitando a atribuição de preços premium, quando os objetivos são cumpridos.

em países como a China, e outros no continente Asiático. Esta divergência entre os países produtores e os países consumidores aumentará sem dúvida o comércio de leite a nível mundial, que já tem vindo a aumentar nos últimos anos em alguns dos grandes produtores (figura 4). Apesar de se visionar um aumento das exportações/importações, a facilidade das mesmas tende a diminuir, uma vez que os países se estão a tornar cada vez mais protecionistas das suas fronteiras e dos movimentos

FIGURA 4 Véronique Pilet, diretora do departamento de economia na CNIEL, apresentou os dados sobre a comercialização de leite, demonstrando já um aumento das exportações por parte de alguns grandes produtores de leite a nível mundial, tais como os Estados Unidos da América e a Nova Zelândia.

de produtos através delas, bem como do produto interno. O movimento “anti-leite”, o bem-estar animal e a transparência do sector foram também tópicos que estiveram presentes em várias apresentações ao longo da conferência. Reena Mistry da empresa especializada em comunicações e marketing Edelman, aconselhou as empresas a serem ponderadas nas respostas aos ataques por parte de ONGs e para se precaverem, para que a resposta ao consumidor seja o mais rápida possível (caso seja mesmo necessária). Reena também afirmou que caso a empresa não consiga responder rapidamente, será então preferível não o fazer de todo, para que o assunto não seja trazido de novo à ribalta. Reena também aconselhou a que o movimento “anti-leite” fosse contrabalançado com

um movimento “pró-leite”. Este movimento deve ser positivo e emocional, para que o consumidor se sinta conectado com o mesmo. O World Dairy Day foi utilizado como exemplo de sucesso, levando a muito mais reações positivas do que negativas (figura 5). O bem-estar animal foi apontado como um dos desafios importantes a dominar, uma vez que, sem esta vertente do negócio resolvida é impossível que as empresas sejam transparentes quanto ao seu negócio e que abram as portas das suas explorações ao público em geral. Luc Mirabito falou do novo protocolo da OIE de avaliação de bem-estar animal em bovinos de leite e dos desafios que este tem apresentado na primeira fase de utilização. A estandardização, pouco pormenor e baixo nível de aceitação junto das empresas, principalmente em países desenvolvidos, foram alguns

dos desafios apontados e que estão a ser analisados pela OIE. Jennifer Walker, responsável pelo bem-estar animal na Deane Foods, uma das empresas americanas líder no mercado dos produtos lácteos, explicou como a empresa assegura o bem-estar das suas vacas leiteiras, através de auditorias com diversos indicadores e acompanhamento dos produtores na melhoria dos problemas detetados nas suas explorações. A empresa também efetua benchmarking das explorações, para que os produtores possam situar o nível de bem-estar animal da sua exploração em relação aos seus pares. Foi também realizado um workshop de indicadores de bem-estar animal onde foram apresentadas diversas ferramentas de recolha e análise de dados e posterior promoção de uma melhoria do bem-estar animal. Países como a Suécia, Alemanha e o Reino Unido apresentaram as suas ferramentas de avaliação de bem-estar animal, na sua maioria operadas por veterinários e acompanhadas de um serviço continuado de consultoria. Após quatro dias, a conferência terminou com um espírito de esperança num sector leiteiro renovado que está desperto para as novas tendências e novos desafios, e que não tem medo de se atualizar, sempre atento ao bem-estar dos seus animais e aberto a uma maior transparência da fileira produtora, aumentando a proximidade com o consumidor. WORLD DAIRY DAY 2017

FIGURA 5 Percentagem de reações positivas e negativas à iniciativa do World Dairy Day em diversos países, (positivas a verde, negativas a laranja).

Dinamarquês

99%

1%

Chinês

93%

7%

Espanhol

90%

10%

Alemão

87%

13%

Inglês

86%

14%

Francês

71%

23%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

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PRODUTO

Identificação eletrónica em ruminantes

Passado, presente e futuro Entrevista a Paulo Fonseca POR RUMINANTES

reuniões da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) e da FEZ (Federação Europeia de Zootecnia) pude constatar que questões de fiabilidade e longevidade dos meios de identificação comuns, como os brincos, eram transversais a outros países. Assim, em cooperação com outros investigadores internacionais, desenvolvemos uma parceria com a Universidad Autonoma de Barcelona (Espanha) e o Istituto Zooprofilattico Sperimentale della Lombardia e Dell’Emilia Romagna (Itália), que culminou no primeiro projeto europeu sobre IDE (identificação electrónica), o Projeto FEOGA (ficou assim intitulado porque quem o financiou foi o Fundo Europeu de Orientação e Garantia Agrícola – FEOGA), o qual decorreu entre 1992 e 1994.

Paulo Fonseca descreve-se como um “cidadão interessado no mundo rural”. Licenciou-se em Engenharia Zootécnica na Universidade de Évora, ostentando o título de aluno número cinco da instituição. A ligação ao ensino foi sempre muito forte, e preocupa-se em lecionar através do conhecimento proveniente da prática adquirida pelas experiências e investigações realizadas. A via académica trouxe-lhe quinze anos de experiência na Escola Superior Agrária de Santarém, formando Bacharéis em Produção Animal, e mais vinte e dois anos na Universidade de Évora, formando Licenciados e Mestres. Pelo meio ainda fez o seu doutoramento na avaliação da raça Serpentina nos seus sistemas de produção, o culminar de uma avaliação reprodutiva e produtiva, ao longo de vinte e cinco anos. Paulo Fonseca é ainda o “pai” do chamado RFID, acrónimo de Radio Frequency Identification ou Identificação Eletrónica (IDE), em português, na qual começou a trabalhar

no início da década de 90. Este é um tema que o apaixona e do qual fala sem papas na língua, como pudemos constatar quando cedeu uma entrevista à Ruminantes. Desde a génese desta tecnologia, o ponto de situação em Portugal e na Europa e as alterações na legislação que poderemos esperar em 2019. Fale-nos da Identificação Eletrónica (IDE). Há quanto tempo se trabalha neste assunto? Tudo começou em 1991, aquando do acompanhamento de rebanhos comerciais da raça caprina Serpentina, nos quais pretendíamos obter informação sobre parâmetros reprodutivos e produtivos de forma a promover a sua avaliação e melhoramento genético. Cedo percebemos que os animais facilmente perdiam os seus brincos de identificação, o que impossibilitava o bom registo e análise da informação necessária à referida avaliação. Mas este não era um problema só nosso: em

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E quais foram os desenvolvimentos a partir do FEOGA? O FEOGA foi para nós uma grande ferramenta de aprendizagem, pois foi através dele que iniciámos a experimentação em identificação eletrónica em Portugal e na Europa. Na altura usámos identificadores injetáveis, mas acabámos por concluir que esta localização em espécies edíveis não era a ideal, pois apresentava riscos de segurança para o consumidor, porque é praticamente impossível garantir que nenhum identificador (transpondedor injetável) não fique retido na carcaça após o abate e eventualmente na própria desmancha, podendo chegar ao prato do consumidor. Começámos então a pensar noutras formas de identificação e, em 1993, surgiram os primeiros protótipos de bolos reticulares. Os resultados obtidos confirmaram as expetativas tecnológicas da RFID/IDE que existiam no arranque daquele projeto. Do FOEGA emergiu a recomendação de montar um projeto em larga escala, de forma a ser mais abrangente e conclusivo em termos


PRODUTO

AS VANTAGENS SÃO TRANSVERSAIS, INDO DO PRÓPRIO ESTADO AO CONSUMIDOR FINAL. de diversidades de sistemas produtivos e tipologia organizativa dos produtores e diversas autoridades com tutela nesta área da identificação, registo e gestão específica deste tipo de informação. E assim surgiu o Projeto IDEA (1998-2001), no qual estiveram envolvidos milhares de criadores de seis países, com praticamente um milhão de animais em experimentação (ovinos, caprinos, bovinos e bubalinos). Este segundo projeto permitiu reunir os meios necessários para desenvolver equipamentos capazes de tornar a RFID/ IDE útil à gestão de sistemas modernos de produção de ruminantes. Foi um projeto importante em disponibilidade de meios para Portugal, rondando o equivalente a cinco milhões de euros, cofinanciados pela Comissão Europeia e pelo nosso INGA (Instituto Nacional de Intervenção e Garantia Agrícola), hoje IFAP (Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas, IP). Como foi a adesão ao Projeto IDEA? A adesão foi voluntária através da participação de cerca de oitocentos criadores do Alentejo, afetos às associações cooptadas ao projeto – ACOS (Associação de Agricultores do Sul), APCRS (Associação Portuguesa de Caprinicultores da Raça Serpentina), ACBM (Associação de Criadores de Bovinos Mertolengos), ACBRA (Associação de Criadores de Bovinos de Raça Alentejana), com a coordenação técnica e científica da Universidade de Évora. Na altura o INGA produziu um vídeo destinado a incentivar os produtores, que foi divulgado nas grandes feiras agrícolas. Nele se explicava em que consistia o sistema RFID/IDE e as vantagens da utilização deste tipo de tecnologia 1.

Rural é o principal beneficiário através da DGAV – Direção Geral de Alimentação e Veterinária no que respeita aos aspetos referentes a: identificação, registo e circulação de animais; sanidade, saúde e rastreabilidade animal; produção e melhoramento genético animal; segurança alimentar; proteção da saúde pública e da defesa dos direitos dos consumidores. O IFAP tem, através da identificação eletrónica, uma ferramenta de qualidade extraordinária para agilizar os controles físicos dos animais sujeitos a prémios, através da utilização de leitores fixos e leituras dinâmicas dos efetivos controlados, nos casos em que tal metodologia seja apropriada 2. Os criadores, as suas organizações e os matadouros onde abatem os seus animais, são também beneficiários deste sistema fiável de controlo, que impossibilita modificações e duplicações de identificações, que podem ser lidas automaticamente permitindo recolha de dados rápida e sem erros. Finalmente, o consumidor pode ter uma garantia diferenciadora sobre a origem, a rastreabilidade e a qualidade dos produtos que consome. Que percentagem de ruminantes possui IDE atualmente? Creio que essa informação está no “segredo dos deuses”, principalmente dos responsáveis pelo SNIRA – Sistema Nacional de Informação e Registo Animal (MAFDR/DGAV/IFAP) face a certos cuidados de “proteção de dados”, que quase parecem servir para escamotear aquilo que são as obrigações legislativas e os

seus inerentes incumprimentos, por falta de fiscalização pertinente. Desde 2006 - através do Decreto-Lei nº 142 - que as raças puras de bovinos, ovinos e caprinos em Portugal são obrigadas a ter identificação eletrónica com bolo reticular, tendo inclusivamente as suas associações gestoras recebido apoios financeiros específicos através dos programas de melhoramento superiormente aprovados para o efeito. No que respeita aos ovinos e caprinos, face às obrigatoriedades do cumprimento do Regulamento 21/2004 e legislação nacional subsequente, cumulativamente, todo o animal nascido depois de 31 de dezembro de 2009 tem de estar identificado eletronicamente. Mas, como disse, provavelmente ninguém sabe ao certo, nem mesmo os “gestores” do SNIRA, qual a realidade do nível da implementação da identificação eletrónica em Portugal. Ainda assim, penso que é seguro dizer que há um nível preocupante de incumprimento da legislação vigente. A numeração/codificação é universal? Sim, é universal. Há várias organizações internacionais, como por exemplo a ISO (Organização Internacional de Normalização) e o ICAR (Comité Internacional de Registos Animais) que referenciam todos os aspetos tecnológicos e industriais a serem tidos em consideração pela própria legislação de forma a garantir a universalidade do sistema. A tecnologia é toda igual? Não. Importa analisar os critérios mínimos de conformidade e desempenho para

E que vantagens são essas? As vantagens são transversais, indo do próprio estado ao consumidor final. Efetivamente o MAFDR – Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento

IMAGEM 1 Leitura de bolo reticular após aplicação, com leitor simples (tipo bastão) VÍDEOS 1 2

Pode visualizar o vídeo através do link: https://www.youtube.com/watch?v=-MAj2rSEEOs&t=67s Pode visualizar o vídeo de um controlo POC-IDE através do link: https://www.youtube.com/watch?v=eTN3ZCR4RU8&t=65s.

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PRODUTO

IMAGEM 2 Aplicação, através de deglutição involuntária, de um bolo reticular em novilha da raça Mertolenga.

os identificadores eletrónicos, no sentido de garantir que aqueles dispositivos são legíveis em todas as diferentes condições de utilização. A Comissão Europeia, ao estar consciente de que o utilizador final da tecnologia RFID/ IDE não está suficientemente protegido para saber interpretar as “nuances” da tecnologia e do “negócio” (RFID business) para poder adquirir os identificadores e leitores que potencialmente podem vir a ser introduzidos no mercado, publicou a Decisão 968/2006 alterada pela Decisão 280/2010 para, entre outras coisas, orientar e exortar as autoridades competentes (em Portugal é a DGAV) a: a) Aprovar a utilização de identificadores que, pelo menos, tenham sido testados, com resultados favoráveis, em conformidade com os métodos especificados pelo ICAR; b) Impor, se assim o entender, critérios específicos de desempenho aos leitores utilizados numa exploração específica ou num tipo específico de explorações. A norma ISO 11784 especifica a estrutura do código de identificação enquanto a norma ISO 11785 especifica como o identificador (transpondedor, transponder, tag ou microchip) é ativado e como a informação armazenada é transferida para o leitor. Nesta norma, foram aprovados os formatos de comunicação FDX-B (Full Duplex) e HDX (Half Duplex), com frequência de 134,2 KHz. A diferença entre FDX e HDX reside no tipo de comunicação entre o leitor e o identificador. Na tecnologia FDX, a comunicação entre o leitor e o identificador é contínua, ou seja, a resposta do identificador é enviada assim que recebe a onda do leitor e continua a enviar seguidamente a resposta até que o leitor cesse de enviar a onda de rádio frequência. Já na tecnologia HDX, o identificador envia

HOJE FALAMOS DE OVINOS E CAPRINOS, MAS AMANHÃ FALAMOS DE BOVINOS, QUE TERÃO QUE SER LIDOS COM OS EQUIPAMENTOS QUE ESTAMOS AGORA A ADQUIRIR.

a resposta somente após o sinal do leitor se interromper, enviando uma única resposta. FDX e HDX são interoperáveis, mas não são compatíveis. Do ponto de vista de eficácia da identificação por rádio frequência (RFID-IDE) as diferenças que existem entre estas tecnologias prendem-se com o tipo de utilização a que se destinam e ao ambiente de instalação/ funcionamento. Frequentemente são assinaladas as seguintes diferenças: a) Embora FDX tenda para ser mais resistente a “ruídos” ambientais e eventualmente mais robusto em ambientes metálicos, pode ser mais suscetível a certas frequências eletromagnéticas ambientais; b) Aquando da presença de frequências eletromagnéticas ambientais, o HDX pode ter melhor desempenho que FDX; c) Enquanto o FDX exige menos componentes para a fabricação do identificador, o tipo de encapsulamento é a chave para a segurança da confiabilidade do produto, que é mais elevada na HDX.; d) Em aplicações onde são necessárias múltiplos leitores, FDX pode ser menos caro para instalar. Como o sinal de excitação em HDX é feito em apenas metade do tempo, vários leitores exigem sincronização. Basicamente, todos os leitores precisam ter os seus sinais de excitar ligados e desligados ao mesmo tempo, caso contrário, o sinal pode causar interferência, afetando a capacidade do identificador para ser lido. Muitas outras diferenças podem ser referidas, principalmente pelos adeptos

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de uma ou outra tecnologia, ou de um ou outro “fabricante”, mas o que importa é perceber que, apesar de haver diferenças entre os produtos fabricados (Texas; AEG; Sokymat; Phillips; ITR; Motorolla) o utilizador final não tem capacidade de conhecer o que efetivamente está a comprar por detrás do “camuflado” código de fabricante (assemblador) outorgado pelo ICAR. Provavelmente é o tamanho do núcleo de ferrite e o comprimento da espiral de fio de cobre que constituem a antena e a intensidade de ativação do campo magnético do identificador que mais influência a distância de leitura. A orientação do identificador em relação ao leitor também influencia de forma significativa a distância de leitura, bem como nalguns modelos de leitores o nível de carga da bateria. As distâncias de leitura obrigatórias que constam do Regulamento 21/2004 e respetiva emenda de 2008 são: i) um mínimo de 12 cm para marcas auriculares e marcas no travadouro quando lidas com leitor portátil; ii) um mínimo de 20 cm para bolos ruminais e transpondedores injetáveis quando lidos com dispositivo de leitura portátil; iii) um mínimo de 50 cm para todos os tipos de identificadores quando lidos com dispositivo de leitura fixo. Efetivamente, a distância de leitura mínima de 20 cm para um leitor portátil pode representar dificuldades na leitura de um bolo no reticulo-rúmen de uma ovelha/cabra grande e adulta. A falha em identificar um animal, ou verificar se um animal já está identificado, devido à incapacidade do leitor para ativar e ler o bolo, deve ser uma razão válida para perceber que a falha se ficou a dever a uma distância de


PRODUTO

A VANTAGEM DA TECNOLOGIA HDX É A SUA OTIMIZAÇÃO QUE AUMENTA CONSIDERAVELMENTE A DISTÂNCIA DE LEITURA COM LEITORES PORTÁTEIS E A CONFIABILIDADE EM PROCESSOS DINÂMICOS, NOMEADAMENTE AS LEITURAS COM OS ANIMAIS EM MOVIMENTO, EM QUE SE USAM LEITORES FIXOS. leitura inadequada. Hoje falamos de ovinos e caprinos, mas amanhã falamos de bovinos, que terão que ser lidos com os equipamentos que estamos agora a adquirir. Esta situação vai constituir o principal risco de dúvidas se o animal afinal está ou não identificado, e logo a ocorrência de eventuais duplas identificações, que por si só representam o “assassinato” deste tipo de identificação. Mais uma vez para o utilizador final pouco ou nenhum significado tem a conformidade com as normas ISO 11784 e ISO 11785, ou o acordo com os procedimentos de ensaio mencionados nos pontos específicos das normas ISO 24631-1 e 24631-3, pois o que interessa é que a autoridade nacional aprove a utilização dos identificadores com as características e a qualidade garantida para o bom funcionamento do sistema em Portugal.

Mas atenção que não basta aprovar identificadores, pois é preciso fiscalizar de forma continuada aquilo que efetivamente o “mercado” nos vai querer impingir. A vantagem da tecnologia HDX é a sua otimização que aumenta consideravelmente a distância de leitura com leitores portáteis e a confiabilidade em processos dinâmicos, nomeadamente as leituras com os animais em movimento, em que se usam leitores fixos. As fichas técnicas dos próprios leitores, portáteis e fixos, das várias marcas, põem em evidência as diferenças referentes à distância de leitura 3. Portanto, quem tiver que decidir que tipo de bolo comprar, FDX ou HDX, se puder compre HDX ! Qual é o ponto de situação da Europa no que toca aos bovinos? Temos que considerar em primeiro lugar que a legislação europeia tem vindo a precisar ao longo dos últimos vinte anos, desde 1997, das regras sobre identificação, registo e rastreabilidade dos bovinos, bem como das características das bases de dados informatizadas e rotulagem, de forma a assegurarem a proteção dos consumidores e da saúde publica, promovendo a confiança geral sobre os produtos de origem bovina. Passados tantos anos, finalmente a União Europeia reconhece, através do Regulamento (UE) Nº 653/2014, que a RFID/IDE pode contribuir muito positivamente para melhorar o atual sistema de identificação e registo praticado, simplificando as obrigações de informação, possibilitando um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo, ao melhorar o crescimento económico, a coesão e a competitividade. No entanto parece que a União Europeia, nesta matéria vai a reboque dos países mais evoluídos e competitivos, como por exemplo

VÍDEOS 3 Pode visualizar o vídeo através do link: http://www.rfidintegrator.pt/rfidintegrator/Tecnologia/Entradas/2011/3/14_Leitores_portateis_RFIDAnalise_comparativa.html.

a Dinamarca e a França, em que a RFID/IDE é obrigatória e voluntária, respetivamente, desde 2010, e mesmo de outros países terceiros que já estabeleceram regras que permitem a utilização destas tecnologias avançadas e que agora a UE tem que secundar para facilitar trocas comerciais e aumentar a competitividade do sector. Dá pena que em Portugal, tal como frequentemente referem alguns produtores e dirigentes associativos ligados à bovinicultura, conhecidas as vantagens técnicas da utilização da identificação eletrónica, se tenha perdido a oportunidade de implementar o sistema após o Projeto IDEA, tendo que esperar até agora para que a obrigatoriedade ocorra. A 18 de Julho de 2019 serão introduzidas mudanças na UE e, citando-o, “doa a quem doer”. O que vai acontecer? Há algum plano de ação? Tal como referi o Regulamento 653 é de 2014 e, portanto, concede cinco anos aos Estados-Membros para se prepararem atempadamente para o cumprimento daquela legislação que tornará a RFID/IDE de bovinos obrigatória em toda a União. A partir de 18 de julho de 2019, os EstadosMembros asseguram dispor da infraestrutura necessária para garantir a identificação dos animais através de um identificador eletrónico como um meio de identificação oficial nos termos daquele regulamento. Nesta matéria, creio que compete também aos produtores e às suas organizações, organizarem-se e apoiarem atempadamente o estado no cumprimento daquela legislação, apresentando propostas concretas sobre a melhor forma de implementar o sistema, evitando eventuais incumprimentos posteriores e as suas inerentes sanções. A implementação da IDE será feita logo à nascença? O articulado do referido Regulamento refere que os meios de identificação previstos sejam aplicados no animal até ao termo

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RUMINANTES JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 11


PRODUTO

de um prazo máximo a determinar pelo Estado-Membro em que o animal nasceu. O prazo máximo é calculado a partir da data de nascimento do animal e não pode exceder 20 dias. Não obstante o referido anteriormente, por razões atinentes ao desenvolvimento fisiológico dos animais, esse prazo pode, para o segundo meio de identificação (RFID/IDE), ser prorrogado até 60 dias a partir da data de nascimento do animal. Nenhum animal pode abandonar a exploração em que nasceu antes de lhe serem aplicados os dois meios de identificação (marca auricular convencional e RFID/IDE). Qual poderá ser a magnitude económica desta mudança? Obviamente que as introduções das disposições constantes naquele Regulamento implicam investimentos significativos, motivo pelo qual está a ser dado um período transitório de cinco anos para que tudo possa ser atempadamente incrementado em cada Estado-Membro. Quanto podem custar os equipamentos? Os preços dos meios de identificação têm vindo a baixar, estando atualmente um “kit” (que inclui bolo reticular + marca auricular convencional) em 1,25 €, já com IVA. Em 1992 um transpondedor injetável custava o equivalente a 9 €. Quanto aos leitores o preço varia entre 300 e 1500 €, sendo importante que os produtores e os serviços oficiais escolham o tipo de leitor em conformidade com o tipo de utilização que pretendem fazer. Quem tenha duvidas sobre esta matéria pode consultar a informação disponibilizada no meu website – www.rfidintegrator.pt . Que tipos de equipamentos existem? No que respeita a meios de identificação eletrónicos existem os chamados bolos reticulares, as marcas auriculares eletrónicas (brincos) e os transpondedores injectáveis. Para ovinos e caprinos podem ainda ser usadas “marcas nos travadouros”. No que respeita a leitores temos modelos portáteis, que podem ser simples ou inteligentes (em forma de bastão ou de robusta “mini raquete” de computação móvel com um teclado alfanumérico) para leituras individuais dos animais imóveis e leitores fixos adaptáveis a mangas de maneio para leituras dinâmicas dos animais. Sendo a IDE tão vantajosa, porque não há mais produtores a aderir? A RFID/IDE é um sistema avançado de identificação animal que permite a adoção de novas ferramentas de gestão, mais eficientes, mas que requerem a capacidade de investimento, não só na aquisição dos

equipamentos, mas principalmente no tempo necessário à sua utilização. Como exemplo posso referir que poucos são os produtores de ovinos, caprinos e bovinos que, ao terem as suas reprodutoras identificadas eletronicamente, já registam os partos em leitores inteligentes e em aplicações informáticas, de forma automática como seria de esperar pelas disponibilidades tecnológicas existentes. Menos são ainda aqueles que registam o crescimento dos seus produtos ou a produção leiteira das suas fêmeas da mesma forma. O que parece que os produtores ainda não entenderam bem, ou assumiram a sua importância, é a possibilidade de monitorar as suas produções pecuárias, através da identificação animal individual e registo ponderal dos seus níveis produtivos (carne e/ou leite), de forma a praticar o maneio corretivo, atempado, de forma a garantir mais eficiência produtiva e maior rentabilidade das suas explorações. Ainda nos resignamos a chegar ao fim de ciclos produtivos e só aí perceber que a produção não correu como seria de esperar e a atividade acabou por ter prejuízo em vez de ter lucro, que potencialmente seria possível se as insuficiências tivessem sido detetadas e corrigidas atempadamente. Encontra-se aquilo que se procura ao monitorizar as nossas produções, tornase mais fácil e provável encontrar azares, deficiências e erros, que se forem corrigidos atempadamente auxiliam a alavancar a eficiência produtiva. Se fosse ministro, e perante o que aí vem, qual seria a sua proposta? Ainda bem que não sou, porque senão estaria particularmente preocupado com o facto de haver uma proliferação inaceitável de bases de dados (SNIRA, PISA, GENPRO, SIRCA, SIRO/PCEDA, SIPA, Matadouros, etc.), com diminutas ou nulas capacidades de comunicação entre elas, dificultando a vida aos produtores, contribuindo nalguns casos para o seu desalento e desistência da atividade. Creio ser difícil perceber e aceitar que o MAFDR (DGAV – Autoridade Nacional Competente, responsável pela definição da informação necessária ao funcionamento da base de dados e o IFAP – Entidade responsável pelo desenvolvimento e gestão informática da base de dados) não tenha aproveitado a oportunidade de no âmbito da reestruturação e modernização administrativa ter promovido a integração da gestão da informação registada de forma a que não ocorram repetições de obrigatoriedades declaratórias inexplicáveis. Acreditamos que a RFID/IDE é mais do que a utilização de identificadores e leitores eletrónicos, é um SISTEMA DE

12 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES

IDENTIFICAÇÃO, que merece possuir uma BASE DE DADOS adequada à otimização da gestão da informação agregada a cada código de identificação individual animal, seja ela do tipo controlo de efetivos (reprodução e produção), melhoramento genético, sanidade animal, controlo de prémios, controlo de movimentos e abates ou rastreabilidade de produtos. Em Portugal existe um Sistema Nacional de Informação e Registo Animal (SNIRA), desde 2005, pelo que neste sentido é importante proceder às adaptações necessárias para utilizar plenamente esta ferramenta, que pode ajudar os Produtores e o Estado a serem mais eficientes no desempenho das suas competências. Muito está por fazer no sentido de otimizar as potencialidades da RFID/IDE, mas a produção, a indústria e o comércio precisam de indicadores, nomeadamente de ter a certeza que esta tecnologia vai para diante, por forma a se animarem no desenvolvimento de produtos e aplicações que satisfaçam os vários tipos de necessidades das fileiras de produção. Em toda a Europa e noutros continentes, observa-se uma utilização crescente da tecnologia RFID/IDE, não só na majoração das suas vantagens na identificação animal, mas principalmente no desenvolvimento de soluções de automação que garantem um aumento da eficácia produtiva das diferentes espécies animais e competitividade das diferentes fileiras. Em Portugal já existem algumas honrosas soluções com estas características, desenvolvidas por empresas nacionais, mas falta ainda imaginar e concertar interesses e procedimentos conducentes ao desenvolvimento da utilização desta tecnologia. Assim, parece oportuno congregar atitudes e esforços que possibilitem a criação de serviços integrados que facilitem a gestão ativa de efetivos pecuários de forma agressiva e competitiva. Da nossa parte estamos convencidos que a filosofia inerente à criação de um Portal do Animal, com base na informação existente no SNIRA, mas integrando e interagindo em modo webservice com aplicações de gestão reprodutiva, produtiva, sanitária, e não só, seria uma ferramenta em torno da qual se deveriam “serrar fileiras”, de forma a otimizar a nossa capacidade em, através das tecnologias da informação e da RFID/IDE, criar escala e competitividade, indispensáveis ao sector agropecuário.

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PRODUÇÃO

Dados gerais da exploração

Exploração Verde Oliveira

Com pouco se faz muito

A evolução tecnológica na produção pecuária é algo que pauta o sector hoje em dia. Desde modernos sistemas de gestão a imponentes e complexas salas de ordenha, o céu parece ser o limite quando se almeja maximizar a produção e rentabilizar o negócio. Mas engane-se quem julgue que apenas com grandes investimentos se consegue ser bem-sucedido. POR RUMINANTES

António Oliveira, produtor de leite com raça Holstein e detentor da Sociedade Verde Oliveira em Bagunte, Vila do Conde, é prova disso. Começou a lidar com a área desde muito jovem, e o gosto que adquiriu levou-o a dedicar-se à produção leiteira a tempo inteiro. É pela ordenha, confessa, que tem um gostinho especial já que, como diz, é a partir dela que se consegue orientar uma

exploração pelo bom caminho. Atualmente faz três ordenhas diárias, sendo o leite produzido vendido ao Grupo Bel. A produzir por conta própria há duas décadas, António conta com o apoio constante da SVA (Serviços Veterinários Associados), cuja contratação se inclui na sua lista de melhores decisões de gestão. É com satisfação genuína que elogia o

Área da exploração: 29 hectares, com 8 próprios e 21 alugados Nº de empregados: 3 Efetivo: 120 animais, com 64 vacas em lactação e 5 vacas secas Produção leiteira total: 880.000 litros (final de 2017) PB (%): 3,21 GB (%): 3,33 CCS: 126 000 cél/mL

Dr. Fernando Vaz e o Dr. Luís Figueiredo, com quem trabalha regularmente nas áreas de gestão e qualidade do leite. Os investimentos tecnológicos nunca foram uma das grandes prioridades da sociedade, a qual gere com o elementar em termos de cálculos e gestão de dados. O último investimento avultado foi em 2011, com a introdução de um novo equipamento de ordenha e a ampliação da vacaria, para acompanhar a evolução natural da exploração. Foi por terras nortenhas que falou disto, e muito mais, à Ruminantes. Como é feita a gestão da vacaria? Tem fornecedores de serviços que o apoiam? Eu sou o responsável pela gestão, e conto com a ajuda técnica do Dr. Luís Figueiredo, que nos visita a cada quatro semanas para debatermos os pontos-chave a melhorar. Que dados recolhe, e como os obtém? Diariamente recolhemos dados sobre inseminações, partos, cios e existência de patologia. A produção de leite é medida no programa da ordenha e fazemos também a introdução dos dados no sistema aquando da recolha. Os valores de gordura e proteína são-nos enviados posteriormente. Analisamos também os custos de produção, todos os inputs são medidos. Considero que não preciso de grandes investimentos tecnológicos para recolher e gerir dados, fazemos as coisas essencialmente à mão. Que indicadores utiliza para gerir a vacaria? Diariamente são feitos registos do número de animais em ordenha e totais, produção por vaca lactante, leite do tanque vendido, consumo de Unifeed, índice de conversão e sobras, os quais são recolhidos à mão e introduzidos no programa de gestão. Analisamos os dados em conjunto, e vemos se as coisas estão a evoluir positivamente. Se a ingestão ou a conversão baixam, sabemos que estamos perante um problema, os dados alimentares são muito úteis nesse tipo de diagnóstico, bem como os produtivos. Agarramos todas as

14 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES


oportunidades de melhoria, e tiramos o maior partido da visão de produção internacional que o Dr. Luís tem. Com que frequência analisa esses indicadores? Presto atenção ao carregamento do leite dia sim, dia não, aquando da recolha e, mensalmente, reúno-me com o Dr. Luís. Queremos sempre aumentar o número de litros de leite de forma lucrativa e sustentável, contando com cerca de 4700 litros vendidos a cada dois dias. Um dos nossos indicadores chave é o leite vendido por vaca presente/ano, e andamos na

casa dos 13 000 litros. Que balanço faz de ter optado por um sistema de gestão? A análise dos números traz vantagens? Sim, os números permitem uma melhor gestão, o que se traduz em maiores lucros ao fim do mês. Estou mais seguro, tenho dados mais concretos e, portanto, maior tranquilidade (quadro 1). Posso dizer que, em 2009, vendíamos cerca de 9100 litros e que, em 2015, chegámos aos 13 021. Nessa altura as principais lacunas eram a fase de transição, qualidade do leite e o próprio espaço físico. Não senti grandes

dificuldades em adotar este novo sistema, sabíamos que teríamos de nos adaptar aos tempos modernos. Tudo se faz, com força de vontade. Porque decidiu passar para três ordenhas diárias? Permitiu-nos minimizar as perdas de leite e reduzir a incidência de problemas como mamites, tendo havido uma redução da contagem de células somáticas. Relativamente à alimentação, esta representa uma grande parte dos custos de produção de leite. Como os controla?

QUADRO 1 Dados da exploração de 2009 a 2017. SVA

2017

2016

2015

2014

Vacas Totais (nº)

66

Vacas em Produção (Nº)

62

Vacas em Produção (%)

93%

2013

2012

64

71

57

64

89%

90%

2011

2010

2009

66

61

59

55

59

56

50

49

53

50

44

89%

43

90%

89%

90%

88,7%

87,0% 29%

EFETIVO

1as lactações (%)

35%

34%

33%

39%

34%

40%

40%

38%

Media de lactações (Nº)

2,23

2,28

2,38

2,34

2,28

2,24

2,20

2,27

2,39

857 424

814 551

925 978

832 303

709 735

628 166

581 630

480 114

448 252

PRODUÇÃO Produção diária (lts)

2 354

2 226

2 537

2 280

1 944

1 716

1 592

1 316

1 229

Teor Butiroso (%)

3,33

3,33

3,26

3,22

3,32

3,51

3,38

3,49

3,61

Matéria Proteica (%)

3,21

3,03

3,02

3,08

3,16

3,20

3,18

3,25

3,21

CCS no Tanque (x 1000)

126

224

137

221

123

133

192

196

201

Ureia (mg/L)

301

298

273

292

318

284

216

210

215

Produção vaca lactante (lts/dia)

38,21

38,89

39,49

38,79

35,38

32,47

31,77

29,64

28,70

Produção vaca presente (lts/dia)

35,47

34,73

35,67

34,38

31,74

29,01

28,59

26,38

24,96

PRODUTIVIDADE

12 948

12 677

13 021

12 550

11 584

10 589

10 435

9 627

9 110

Picos Vacas (45-100 DEL)

51,2

48,1

50,8

48,6

44,4

41,2

42,2

40,5

40,4

D.E.L. pico Vacas (dias)

56,2

52,8

53,7

55,3

58,6

59,1

59,5

58,9

54,9

Intervalo Parto - 1ª IA (dias)

68,1

71,5

72,4

68,2

69,4

74,6

74,0

78,7

88,8

Dias à conceção (dias)

132

128

114

117

119

126

127

130

150

Média de Dias em Leite (DEL) - dias

192

183

175

171

174

179

172

180

175

48,4%

49,7%

50,3%

57,1%

51,9%

54,5%

51,9%

51,5%

47%

REPRODUTIVO

Vacas Gestantes (%) Serviços por concepção Fertilidade à 1ª IA

3,61

3,43

3,15

3,16

3,29

2,90

3,30

3,16

2,90

26,9%

30,2%

32,7%

27,4%

24,3%

30,4%

30,6%

21,6%

21,9%

PARTOS

77%

95%

104%

109%

104%

105%

108%

98%

95%

Duração Período Seco (días)

59,4

55,6

53,5

56,3

50,6

50,0

59,7

54,2

71,1

PATOLOGIAS Hipocalcemia

6,7%

4,9%

Deslocamentos de Abomaso (Nº)

0,1

0,1

0,5

0,5

0,6

0,2

0,3

0,25

0,3

Deslocamentos de Abomaso (%)

2,0%

1,6%

8,1%

8,3%

10,9%

3,2%

6,7%

6,1%

6,4%

23,9%

27%

Metrites Mamites (Nº)

7,2%

Retenção de placenta (Nº) Retenção de placenta (%)

6,3%

5,7%

2,7%

1,7%

1,8%

1,7%

7,0%

9,0%

9,8%

9,5%

28,0%

0,3

0,2

0,2

0,1

0,3

63%

0,2

3,0%

3,8%

2,4%

1,0%

4,7%

VACAS SECAS

103%

104%

97%

99%

103%

102%

100%

100%

5,8%

Produção à secagem

32,3

37,3

31,0

31,5

26,1

24,8

27,0

22,1

24,1

DEL à secagem (dias)

356

348

354

338

354

365

351

339

374

98%

Último CCS (x 1000)

264

217

91

109

152

114

126

328

223

REFUGO

98%

96%

98%

94%

95%

101%

93%

94%

91%

1,8

2,7

1,8

1,5

1,5

1,5

1,7

1,7

1,5

44%

9%

29%

22%

44%

39%

30%

25%

28%

Vacas Eliminadas (Nº) Eliminações < 100 DEL (Nº) Média de lactações (Nº)

3,1

2,7

3,5

3,1

3,1

3,7

2,8

2,8

2,9

Média de produção (lts/dia)

34,8

36,2

38,8

32,8

32,6

30,1

32,9

26

25,7

Vacas Eliminadas (%)

33%

50%

30%

27%

29%

30%

36%

40%

37%

24,1

24,0

24,0

24,2

24,5

24,4

24,3

24,7

25,6

REPRODUTIVO REPOSIÇÃO Idade ao 1o Parto (meses)

RUMINANTES JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 15


PRODUÇÃO nível alimentar. O que espera de um nutricionista? Essencialmente que sejam atingidos os objetivos que ele propôs e para os quais trabalhámos. Neste campo, o Dr. Luís superou as minhas expectativas, ajudando-me a reduzir os custos de produção de acordo com o nosso objetivo. A formulação alimentar foi desenhada por ele especificamente tendo em conta as características dos meus animais e da exploração, algo que também me satisfaz.

IMAGEM 2 Da esquerda para a direita: Luís Figueiredo, António Oliveira, Dulcelina Balazeiro e Pedro Silva.

vaca/dia, influenciado pela quantidade de MS ingerida e pelo preço das matérias primas (principalmente a quantidade).

Sim, os custos de alimentação são realmente uma grande fatia dos custos totais, para os quais contribuem na ordem dos 60% (quadro 2). Também aqui conto com o apoio do Dr. Luís. Sempre que há uma alteração do preço das matérias-primas, por exemplo, ele procura flexibilizar e modificar o arraçoamento de modo a tirar partido das matérias-primas mais acessíveis. Em 2017 o custo alimentar variou entre os 4,80 e 5,40€

E no que toca a forragens? Em certos períodos compro luzerna seca ao sol. Nos últimos anos, vendo mais do que compro, devido ao facto de ter uma grande área para produzir. Analiso as forragens sempre que mudo de silo, por exemplo, e pelo menos uma vez por mês. Se houver uma resposta aquém por parte dos animais, vamos à procura de perdas de qualidade a

1% 1%

3%

2%

6%

Preço leite: 0,307€ Diferencial leite: Total - 22 298€ €/tn - 31,02€ Rentabilidade operacional: 16,65% Rentabilizar estrutura: 862 350 litros

8%

15%

QUADRO 2 Resumo dos custos de produção de 2017. CUSTOS

0%

Alimentação Compra vacas Pessoal Sanidade e genética Reparações Cama Energia Gastos gerais Financeiros Amortizações

62%

A alimentação desenhada pelo nutricionista e a ingerida pela vaca dificilmente serão as mesmas, faz algum controlo sobre isto? As vacas comem mais do que o recomendado na formulação, e vejo isso pelas sobras, aumentando o arraçoamento sempre que estas sejam escassas. No Unifeed estão programadas 68 vacas, mas apenas 64 estão a comer, ou seja, comem cerca de 5% a mais do que o indicado na fórmula. Faz benchmarking com outras explorações? Normalmente não, a grande maioria das explorações vizinhas não tem muitos dados de gestão.

RESUMO DOS CUSTOS 2%

Como otimiza a alimentação? Utiliza lotes de produção? Temos um lote único de produção, e não damos ração na ordenha. Apesar do mesmo arraçoamento, existem diferenças de volume de produção, as quais se devem principalmente à existência de patologias concomitantes, como problemas locomotores.

Alimentação Compra vacas Pessoal

CUSTO/L

% CUSTO

INT. TEÓRICOS

0,173

62,5%

0,19-0,21

-

-

-

0,042

15,0%

0,025-0,035

Sanidade e genética

0,021

7,6%

0,018-0,025

Reparações

0,002

0,8%

-

Cama

0,002

0,9%

-

Energia

0,008

3,0%

0,01-0,015

Gastos gerais

0,005

1,8%

-

Financeiros

0,006

2,2%

0,005-0,01

Amortizações

0,017

6,1%

0,015-0,025

TOTAL

0,276

16 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES

O que mais o preocupa atualmente na exploração? Iniciar o ano que se aproxima e depararme com uma quebra no preço do leite. Também me preocupo com os níveis de fertilidade, os quais podiam estar melhores, e com o bem-estar a nível das camas, o qual pretendo melhorar a curto prazo. Define objetivos anuais? Quais são? Definimos objetivos anuais, sim. Para 2018 queremos apostar nos 950 000 litros de leite vendido. Também pretendo construir uma nova vacaria, com maior conforto para os animais. Qual é a coisa de que mais se orgulha no que diz respeito à exploração? Essencialmente no facto de poder falar à vontade acerca da minha exploração, trabalho de forma séria e regrada e não incomodo nem exploro ninguém. É algo de que me orgulho especialmente.


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FORRAGENS

Aditivos para forragens conservadas Que critérios ter em conta aquando da escolha do aditivo mais indicado para as condições particulares da sua forragem? O mercado global de aditivos para forragens conservadas tem vindo gradualmente a aumentar, estimando-se valer mais de 200 milhões de euros anuais, prevendo-se no entanto que atinja rapidamente valores próximos do bilião de euros nos próximos anos. Este aumento deve-se não apenas à maior percepção por parte do produtor dos benefícios associados à sua utilização, mas também à crescente necessidade de melhorar as forragens conservadas, numa tentativa de otimização e diminuição dos custos de produção de leite e carne.

A evolução no tratamento de silagens até chegarmos aos produtos biológicos altamente tecnológicos foi de certo modo lenta. Desde a normal utilização de sal, principalmente na

camada superior do silo, numa tentativa de preservar por contacto apenas a área mais exposta ao oxigénio, adjacente ao plástico, passando pela utilização de produtos químicos, como os ácidos orgânicos, até aos microbiológicos, vulgo inoculantes, passaram mais de 20 anos. Neste artigo iremos focar-nos nestas duas últimas soluções, ácidos e Inoculantes. A sua utilização e diferenciação continuam sendo por vezes mal percebidas, e convém claramente identificar em que situações a escolha de um ou outro pode trazer mais vantagens – mais à frente abordaremos a evolução em termos de qualidade dos inoculantes em si.

LUÍS QUEIRÓS

A utilização de ácidos orgânicos, na sua maior parte das vezes fórmico e propiónico, tem como principais objetivos: • Diminuição da ação das protéases (enzimas da planta), que deveria levar a uma maior preservação da qualidade da proteína • Baixar rapidamente o pH, inibindo desta forma a proliferação de microrganismos indesejáveis.

TRATAMENTO DE SILAGENS

GLOBAL CATEGORY MANAGER FORAGE ADDITIVES NA LALLEMAND ANIMAL NUTRITION

A progressiva substituição, no mercado atual, da utilização destes ácidos por soluções

18 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES

seca superior a 55%, onde a osmotolerância das bactérias presentes nos inoculantes pode ser colocada em causa.

microbiológicas prende-se com o facto de que, na maior parte das situações e em condições normais, estas últimas apresentam uma série de características que beneficiam a qualidade das silagens e em última instância a produtividade da exploração, quando comparadas com ácidos orgânicos. A utilização, hoje em dia, de ácidos orgânicos pode fazer sentido em situações extremas, em forragens com muito baixo teor de matéria seca (< 16%), onde o ácido fórmico poderá controlar mais eficientemente a degradação de proteína levada a cabo pelas Clostridia, ou em forragens com matéria

A evolução da qualidade dos inoculantes no mercado foi intensa ao longo dos últimos anos. Algumas características são claramente importantes na sua maior ou menor qualidade: • Especificidade para o tipo de forragens e suas características físico químicas;

COMPARAÇÃO DE ÁCIDOS ORGÂNICOS VS INOCULANTES ÁCIDOS

INOCULANTES

Eficiência na fermentação

Não

Incrementada

Recuperação MS

Não

Incrementada

Incrementada

Incrementada

Não

Incrementada

Estabilidade aeróbica

Incrementada

Incrementada

Performance animal

Não

Incrementada

Corrosivo

Seguro

Elevado

Acessível

Qualidade da Proteína Aumento Digestibilidade

Segurança Custo


• Tipo e qualidade de bactérias; • Sinergia entre diferentes estirpes e espécies; • Concentração de bactérias/g de forragem tratada; • Qualidade de produção do inoculante - viabilidade das bactérias ao longo do tempo, solubilidade, possíveis problemas de sedimentação em meio aquoso; • Apresentação do produto prazo de validade, qualidade do empacotamento, preservação pré-utilização. A especificidade do inoculante para cada tipo de forragem está intimamente associada às características adjacentes – tipo e qualidade de bactérias, sinergia entre as mesmas e concentração. Nem sempre o inoculante mais caro é o mais indicado. Senão vejamos:

De uma forma geral, podemos utilizar três tecnologias diferentes na elaboração de um inoculante: • Bactérias lácticas homofermentativas, apenas produtoras de ácido láctico; • Bactérias lácticas heterofermentativas, não apenas produtoras de ácido láctico, mas também ácido acético, propiónico, e em alguns casos monopropilenoglicol. • Enzimas, de forma geral xilanases e beta glucanases, que degradam fibra, hidratos de carbono estruturais mais complexos. A utilização de bactérias homofermentativas tem como objetivo produzir ácido láctico em grandes quantidades, logo no início da fermentação, com a clara missão de controlar a mesma e diminuir rapidamente o pH, inibindo qualquer microrganismo indesejável. Se queremos preservar a qualidade da proteína, que é afetada principalmente no

início da fermentação, num processo de proteólise, que degrada proteína verdadeira em azoto amoniacal e aminas biogénicas, então estas bactérias são a opção certa – é o caso de algumas estirpes de Lactobacillus Plantarum, Pediococcus Acidilactici, Pediococcus Pentosaceus, por exemplo. Em forragens com matéria seca baixa (<28-30%) e quantidade de açúcares solúveis suficientes para promover uma correta fermentação, a utilização de inoculantes apenas com estas bactérias pode ser suficiente – geralmente são os Inoculantes mais acessíveis! Com a maior dificuldade de preservação, teremos obviamente que partir para diferentes soluções – em situações onde a concentração de açúcares solúveis (hidratos de carbono não estruturais) é claramente insuficiente no caso das leguminosas, algumas gramíneas ou consociações, a utilização de enzimas pode ser vantajoso, porque incrementa a percentagem de açúcares solúveis. Atenção, a utilização de enzimas é altamente específica, estas têm que estar em percentagens elevadas e bastante adaptadas ao pH em causa, e atuarão num período restrito e curto do início da fermentação. No caso da silagem de luzerna, mesmo com mais de 30% de matéria seca, a percentagem de açúcares solúveis pode não atingir nem de perto o mínimo necessário, cerca de 140-170

g/Kg MS – a utilização de enzimas pode ser realmente estratégica e fundamental. Por fim, em situações de matérias seca elevada (> 28-30%), conjugadas ou não com algumas características físicas da forragem que podem limitar a compactação e posterior densidade da silagem, (por exemplo, um corte longo da partícula, aumentando a possibilidade de problemas de aquecimento da silagem, com baixa estabilidade aeróbia, consequentemente levando a perdas elevadas de matéria seca e qualidade nutritiva), a utilização de bactérias heterofermentativas pode fazer todo o sentido. Estas bactérias, como o Lactobacillus buchneri, têm como principal função produzir não apenas ácido láctico, mas também ácido acético e propiónico. Estes dois últimos são compostos anti-fúngicos, e podem fazer toda a diferença na qualidade final de silagens com matéria seca elevada, impedindo a proliferação de fungos e leveduras. Isto leva a uma maior estabilidade aeróbia, preservando, após a abertura do silo, a maior parte dos nutrientes e matéria seca. Não nos podemos esquecer da concentração utilizada de cada uma das bactérias – o processo de fermentação é também um fenómeno de competição, onde os mais adaptados vencem, mas também aqueles que existem em maior quantidade, daí a importância que a elevada concentração de

algumas bactérias tem! O produto final pode ser mais dispendioso, mas o retorno do investimento é também significativamente maior! Por fim, muito importante também é a qualidade de produção dos diversos inoculantes existentes no mercado. Este fator é deveras importante, porque é essencial garantirmos que não apenas mantemos a concentração das bactérias antes de abrir a embalagem original, como, após abertura e diluição, essa concentração se mantém estável ao longo do tempo de utilização. Além disso, a qualidade de produção pode também interferir na maior ou menor capacidade de sedimentação das bactérias – para uma maior homogeneidade de aplicação, devemos ter sempre em atenção a menor sedimentação possível no depósito de aplicação.

CONCLUSÃO As características dos diversos aditivos apresentados acima podem auxiliar na escolha da melhor solução, que pode variar imenso consoante as condições e qualidade da forragem a preservar. Devemos tentar selecionar aqueles que nos dão maior garantia de qualidade e especificidade para o objetivo em questão.

RUMINANTES JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 19


PRODUÇÃO

Produzir leite a mais de 40ºC Entrevista ao Dr. Arturo Gomez, Phd. POR RUMINANTES

Como se produz hoje o leite no Médio Oriente? Numa região onde as temperaturas ultrapassam os 40º durante a maior parte do ano e onde a água é um recurso escasso. Falámos com um médico veterinário, especialista em maneio e gestão global de explorações de grandes dimensões, que presta apoio técnico naquele país. Arturo Gomez, assessor da Zinpro, contou à Ruminantes como funcionam as mega-explorações emergentes no médio oriente.

“Na Arábia Saudita não existem explorações com menos de 1000 vacas”, começa por dizer Arturo Gomez, contando que já visitou explorações com cerca de 35 mil vacas em exploração. “É outra realidade”, explica, começando pelo preço da terra que é diferente do da Europa, lá as superfícies das explorações medem-se em centenas de hectares”. Por outro lado, como refere, “os sistemas são integrados, ou seja, muitas vezes as explorações vendem a sua própria marca de leite e derivados; têm a rede de produção, fabrico, desenvolvimento, embalagem e venda. Muitas destas empresas detêm negócios de produção, que podem ser de sumos de fruta ou de produção de frutos secos. Este é um modelo comum no Médio Oriente, com uma gestão muito profissional e exigente.” Como são as explorações que visita, para além de serem grandes? O espaço e o conforto das vacas é muito importante. Possuem salas de ordenha, em geral paralelas de 55x2 unidades ou giratórias com 80 pontos. Na sua maioria, a estabulação é livre com áreas de descanso de areia e estrume seco. Poucas têm cubículos convencionais. Quanto às produções propriamente ditas, situam-se entre 35 e 42 litros/vaca/dia distribuídas em 3 e muitas vezes 4 ordenhas, com um teor butiroso entre 3,2 e 3,7 e um teor proteico entre 2,9 e 3,4.

Arturo Gomez MÉDICO VETERINÁRIO, INICIOU A SUA CARREIRA COMO ASSESSOR INDEPENDENTE DE EXPLORAÇÕES LEITEIRAS EM ESPANHA E PORTUGAL. FOI POSTERIORMENTE CONVIDADO PARA UM PROJETO DE EXTENSÃO AGRÁRIA NOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA ONDE COMPLETOU A SUA TESE DE MESTRADO EM ALIMENTAÇÃO E INVESTIGAÇÃO CLÍNICA NA UNIVERSIDADE DE WISCONSIN-MADISON. POSTERIORMENTE, TERMINOU A SUA TESE DE DOUTORAMENTO EM SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA NA UNIVERSIDADE DE WISCONSIN-SCHOOL OF VETERINARY MEDICINE. É ESPECIALISTA EM MANEIO E GESTÃO GLOBAL DE EXPLORAÇÕES DE GRANDES DIMENSÕES, RELACIONANDO PATOLOGIAS PODAIS, NUTRIÇÃO, QUALIDADE DO LEITE E LONGEVIDADE DAS VACAS. É AUTOR DE MAIS DE UMA DEZENA DE ARTIGOS CIENTÍFICOS EM REVISTAS DE RENOME MUNDIAL COMO O JOURNAL OF DAIRY SCIENCE ENTRE OUTRAS. ATUALMENTE, É ASSESSOR DA ZINPRO, ONDE GERE PROJETOS DE INVESTIGAÇÃO E PRESTA APOIO TÉCNICO NA EUROPA, NORTE DE ÁFRICA E MÉDIO ORIENTE.

20 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES


PRODUÇÃO

Na Arábia Saudita não existem explorações com menos de 1000 vacas. É outra realidade. IMAGEM 2 Vista de uma exploração.

Na Arábia Saudita, é frequente as forragens serem produzidas pelas próprias explorações, recorrendo a avançadas técnicas de irrigação e filtragem de águas. “Em certas zonas converteram solos desérticos em zonas de produção forrageira”, refere Gomez. Outras vezes, as forragens são produzidas noutros países em que os proprietários possuem explorações e onde as condições são mais favoráveis, como o Sudão,

o que obriga ao transporte por barco das forragens já desidratadas. Como é um arraçoamento tipo, difere muito do que vemos na Europa? As dietas têm uma grande base de feno de luzerna, essa é uma nota dominante na zona. O objetivo é sempre maximizar o potencial genético dos animais e minimizar os problemas metabólicos associados à alimentação (Tabela 1).

Quais são as principais limitações relacionadas com a zona geográfica? O primeiro fator está relacionado com a mão de obra. Muitos trabalhadores vêm de outros países, como o Nepal, o Bangladesh, o Sudão ou as Filipinas. Gerir pessoas é sempre o mais complicado, quando temos de gerir e alterar rotinas de pessoas com vários idiomas e culturas. Mais de 1000 empregados é um número frequente em muitas explorações. Outro fator

limitante é o stress térmico. O calor é um fator determinante e, dependendo das zonas, as temperaturas médias durante muitos meses do ano são mais altas do que no sul da Europa durante o Verão. Daí que uma parte fundamental do nosso trabalho seja dedicado à verificação da gestão térmica da exploração.

IMAGEM 3 Zona espera ordenha.

TABELA 1

Arraçoamento tipo Ingrediente

Kg vaca/ dia MB

Nutrientes

Feno de Luzerna

7.0

NDF

30

Fenosilagem de gramíneas 2.0

fNDF (% NDF)

56

Silagem de Milho

5.0

Amido

26

Milho em flocos

8.0

Açúcares

5.7

Trigo grão

3.0

Gordura Bruta

6

Bagaço de Soja 47

0.5

Proteína Bruta

16.5

Bagaço de Colza

1.4

Semente de Algodão

1.5

Bicarbonato

0.3

Gordura Hidrogenadas

0.4

Carbonato de cálcio

0.3

Óxido Magnesio

0.05

Prémix / Aminoácidos

0.325

Zinpro Availa 4

0.015

Suppl. Aminoacidos

0.3

RUMINANTES JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 21


ALIMENTAÇÃO

IMAGEM 4 Sistemas de refrigeração na Arábia Saudita (exploração com 35000 vacas em ordenha.

É difícil encontrar explorações com um tempo superior a 45 minutos entre a saída do parque de alimentação, a ordenha e regresso ao parque. As zonas de espera e descanso, os momentos de alimentação exigem grande rigor. Somos soldados do combate ao stress térmico! Os países do Golfo e Egito exigem refrigeração 24/24 horas. O foco principal é a zona de espera antes da ordenha. Aí podemos perder milhares de litros de produção (Imagem 3). Para o arrefecimento, combinam sistemas de ar a alta velocidade e pulverização de água em microgota. Uma das vantagens reside no facto de o ar ter 25% de humidade, pois os sistemas funcionam tanto melhor quanto mais seco

for o ar. Nas áreas em que a humidade é alta, o sistema tem de ser capaz de realmente molhar a pele dos animais para que a evaporação aumente a dissipação do calor. Certas explorações controlam o ambiente na recria e zona de vacas secas. Em muitos meses do ano, 40 graus é uma temperatura normal, se existirem falhas os animais podem morrer em poucas horas por choque térmico. A água para beber também é geralmente refrigerada (Imagem 4). Que aspetos do maneio destacaria e crê que possam ser usados na Europa? Um aspeto que me agrada muito nesta zona, é o rigor no maneio alimentar. Muitas vezes fazem 3 distribuições diárias e, de um dia para outro o momento da distribuição não tem mais de 10 minutos de diferença. Aqui, na Europa, vemos sobretudo em explorações médias de estrutura familiar grandes variações entre dois dias no momento da distribuição, o que é um aspeto negativo. A consistência na gestão da distribuição é tão importante como a composição química e física do arraçoamento. Outro aspeto é a gestão do tempo de ordenha. É difícil ver uma exploração com um tempo superior a 45 minutos entre a saída do

22 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES

parque de alimentação, sala de espera, ordenha e regresso ao parque de alimentação. Aqui, na Europa o raro é ver explorações com tão pouco tempo no trânsito, espera e ordenha. Não podemos comparar a facilidade de ter espaço, pois na Europa o valor por hectare é muito superior. Ainda assim, é frequente ver limpar as zonas de descanso 2 e 3 vezes ao dia em explorações com 30m2 por vaca. Existe uma grande preocupação com o conforto das vacas em todos os sectores da exploração. Apesar de, na Europa, as temperaturas serem mais baixas de forma

É frequente existirem reuniões entre vários consultores para decidir que aditivo utilizar e sempre com base na investigação científica.

geral, posso garantir que durante muitas fases do ano a gestão do ambiente na sala de espera falha rotundamente, mesmo em zonas do norte. Importa ainda sublinhar que as explorações não hesitam na hora de aportar os melhores ingredientes e aditivos às dietas. É frequente existirem reuniões entre vários consultores para decidir que aditivo utilizar e sempre com base na investigação científica. Na Europa existem ainda vínculos menos profissionais, mais baseados em relações de confiança pessoal. Do ponto de vista clínico quais são as principais preocupações? Aparte o stress por calor e a alimentação, as preocupações são fundamentalmente os problemas locomotores relacionados com a podologia. A gestão do período de transição (pré-pós parto) é chave tanto na produção como na longevidade das vacas. São explorações onde é frequente as vacas andarem mais de 3 km ao dia só em deslocação até à ordenha. A saúde das patas é ainda assim melhor do que a que temos na Europa. Existem equipas de podólogos em cada exploração, muito do nosso trabalho é na formação continua destas equipas. Em maio conto estar nos Açores para assessorar algumas explorações e avaliar a gestão tendo em conta o tipo de produção que ali fazem, vai ser muito interessante. Ao nível da fertilidade, devido às altas temperaturas de verão, existe uma estacionalidade que exige concentrar partos na primavera. É importante ter uma certa flexibilidade na densidade animal por parque e evitar mudanças nos parques. Mas, ainda assim, os valores não diferem das melhores explorações na Europa.


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PRODUÇÃO

Melhoramento da produtividade em rebanhos de ovinos de carne A produtividade de um rebanho é normalmente expressa pelo número de crias desmamadas dividido pelo número de ovelhas presentes na exploração no período de um ano. Tradicionalmente o borrego é negociado à unidade, podendo o seu valor sofrer alterações em função do peso médio do lote, idade, raça e época de venda. Na atual conjuntura são vários os fatores externos e internos que condicionam a forma de trabalhar e os resultados económicos das explorações de ovinos de carne: • Crescimento exponencial da exportação direta para mercados não tradicionais (ex: Israel). O aumento da procura de borregos para

SÉRGIO HENRIQUES ASSISTENTE TÉCNICO, DE HEUS NUTRIÇÃO ANIMAL, S.A. shenriques@deheus.com

estes mercados resultou num aumento do preço ao produtor e promoveu uma procura mais constante ao longo do ano, ao invés das duas épocas tradicionais de maior procura interna (Natal e Páscoa). • Alterações climáticas frequentes têm originado longos períodos de escassez de pastagem. Não obstante, muitas vezes, ainda que a disponibilidade de pastagem seja uma realidade, a mesma não é adequada a suprir as necessidades da fase produtiva do rebanho. Ambas as situações tornam necessária a suplementação alimentar dos rebanhos com alimentos concentrados e/ou forragens a fim de suprir as suas necessidades nutricionais. • “Extinção” do Pastor Tradicional - os tradicionais pastores, que guardavam, conduziam, afilhavam, cuidavam de certas patologias e em algumas realidades eram praticamente o único custo do rebanho estão a desaparecer. No seu lugar surge uma produção que se pode designar de “Ovelhas sem Pastor” e que se caracteriza por elevados investimentos em vedações, sementeiras, alimentos suplementares e recurso a mão-de-obra especializada como técnicos de produção

24 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES

animal e serviços veterinários. • Rebanhos não controlados reprodutivamente originam que ovelhas improdutivas permaneçam no rebanho “ocupando o lugar das produtivas”, não contribuindo para a rentabilidade das explorações. No atual quadro comunitário, com a diminuição de importância relativa do subsídio à ovelha, este não suporta os custos totais anuais da ovelha. A fim de aumentar a eficiência produtiva é muito importante

identificar e refugar as ovelhas improdutivas. Havendo procura de borregos, como se verifica atualmente, se os custos produtivos sobem por alguma(s) das razões mencionadas, é importante aumentar a produtividade do rebanho a fim de garantir a sustentabilidade do negócio. Além do maneio diariamente praticado (se este for mau tudo falha), os fatores que mais influenciam a produtividade dos rebanhos são a prolificidade, a fertilidade e a mortalidade.


PRODUÇÃO

PROLIFICIDADE Taxa de prolificidade = Nº de borregos nascidos / Nº ovelhas paridas

Pode ser expressa de duas formas: fração decimal (ex.: 1,4) ou percentagem (ex.: 140%) A prolificidade está diretamente correlacionada com a taxa de ovulação e é subsequentemente influenciada pelo sucesso fisiológico da fertilização e implantação dos óvulos, gestação e parto. Por sua vez os fatores que mais a influenciam são: • Genética das ovelhas - a raça é o fator natural que mais influencia o número de óvulos libertados por cio, assumindo como boas as práticas de maneio, nutrição, sanidade e higiene. O n.º de óvulos libertados pode variar de 1 a 4, ou ainda mais em casos extraordinários, consoante a raça maternal. Nos casos em que os rebanhos apresentam baixa prolificidade (110 a 130%), a alteração genética dos rebanhos, através da introdução de carneiros com elevada prolificidade, com o propósito de se

efetuar a reposição com a sua descendência, é uma opção técnicoeconómica bastante viável. Desta forma as borregas, filhas destes carneiros, estão geneticamente predispostas a uma maior taxa de ovulação que as suas mães. Existem já diversos produtores em Portugal que investiram em carneiros com genética de elevada prolificidade, para cruzar com as suas próprias ovelhas, das mais variadas raças e na maioria dos casos já cruzadas, conseguindo atingir taxas de prolificidade entre 140 e 160% com filhas desses carneiros. • Nutrição - o nível de suprimento das exigências nutricionais em energia, proteína, fibra, vitaminas e minerais, durante cada uma das fases de produção (gestação, lactação e manutenção) condiciona sobremaneira os resultados. Recomendase efetuar um Flushing suplementação nutricional por um curto período de tempo, principalmente de Energia, Vit. E e Selénio - no período de cobrição (fase produtiva com exigências nutricionais específicas). O Flushing durante a lactação ou em manutenção, o que influencia a taxa de ovulação, a fertilização, a implantação, a gestação e o parto. Ovelhas nutridas de acordo com a fase produtiva e suplementadas no período pré-cobrição e durante a cobrição têm uma taxa de prolificidade superior. • Intervalo de tempo entre a parição e a cobrição num sistema de maneio reprodutivo mais intensivo a prolificidade é mais baixa. A título de exemplo, em França, criadores de

uma raça de elevada prolificidade, explorada em linha pura, num sistema de 3 partos em 2 anos, obtêm uma prolificidade de 200%. Em contrastes, outros criadores da mesma raça, mas num sistema de 1 parto por ano conseguem atingir 240%.

• Estação do ano - a época em que ocorre a cobrição é outro dos fatores que afetam a prolificidade. Os meses de setembro, outubro e novembro são os que mais a beneficiam. • Idade da ovelha - obtêmse os melhores resultados entre os 2 e 5 anos de vida.

FERTILIDADE Taxa de fertilidade = (Nº ovelhas gestantes / Nº ovelhas à cobrição) x 100

Expressa normalmente em percentagem (ex.: 88%) Os fatores que mais a influenciam são: • Sazonalidade - a época do ano em que ocorre o período de cobrição tem uma grande influência na taxa de fertilidade da maior parte das raças, sendo mais elevada quando o período de cobrições ocorre entre setembro e novembro. Para quem tenha definido no seu maneio épocas de cobrição que ocorram entre fevereiro e junho, a utilização de técnicas auxiliares reprodutivas pode ser uma boa alternativa, sendo possível atingir resultados superiores à época de final de verão / outono. • Técnicas auxiliares reprodutivas - a utilização de implantes de melatonina ou a introdução de esponjas hormonais, quando cumprindo os respetivos protocolos, podem ser práticas muito úteis na melhoria dos resultados reprodutivos, tal como a taxa de fertilidade e prolificidade. • Condição corporal aquando da cobrição - embora este fator condicione a prolificidade, tem uma maior influência sobre a fertilidade. É condição essencial para conseguir uma boa taxa de fertilidade que o rebanho (ovelhas e carneiros) esteja a ganhar peso no período pré-cobrição e durante a

cobrição. Nos casos em que os rebanhos estejam numa condição corporal fraca, efetuar um Flushing é uma excelente opção para melhorar a taxa de fertilidade. Este poderá ser realizado permitindo o acesso dos animais a uma boa pastagem e fornecendo baldes vitamínicos ricos em Vit. E + Selénio, ou através da administração de alimentos concentrados (tacos/ pellets) formulados para o efeito. Para que o Flushing surta efeito é importante que o rebanho se encontre sanitariamente em boas condições. • Carneiros - por vezes esquecidos, têm um papel fundamental. Se não estiverem funcionais, os resultados podem ser desastrosos. O maneio praticado com os carneiros, intitulado de Efeito Macho (permanência longe das fêmeas nos períodos que não são de cobrição), quando conseguido, e juntamente com uma boa relação carneiro por ovelhas, tem um efeito muito positivo na taxa de fertilidade, uma vez que estes induzem o cio quando reintroduzidos no rebanho. Efetuar exames andrológicos aos carneiros, previamente ao período de cobrição, é uma prática muito importante, pois por vezes alguns dos carneiros estão estéreis ou subférteis, falseando o n.º de carneiros aptos.

RUMINANTES JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 25


PRODUÇÃO

MORTALIDADE DOS BORREGOS Taxa de Mortalidade dos Borregos = Nº borregos mortos até ao desmame / Nº borregos nascidos

com que os borregos nascem, influenciada principalmente pela genética e pelo parto em si, tem grande influência no tempo que demora a ocorrer a 1ª mamada. Importa também que as mães estejam vacinadas, de forma a conseguirmos que os borregos ganhem imunidade para as principais patologias que os podem vir a afetar.

Os fatores de maior influência são: • Peso ao nascimento altamente condicionado por fatores genéticos e por fatores nutricionais, sendo importante garantir a correta e equilibrada alimentação das mães durante o período de gestação. A viabilidade dos borregos é reduzida quando nascem muito pequenos. Já quando nascem demasiado grandes podem dar problemas de parto, colocando em risco a sua vida assim como a da sua mãe, se não forem assistidos a tempo.

• Afilhamento - são vários influência na taxa de os fatores que afetam a mortalidade uma vez que aceitação dos filhos por afeta o parto, o peso dos parte da ovelha, sendo os borregos ao nascimento principais a prolificidade, e a produção de leite. as capacidades maternais, Quando a produção de a vitalidade do borrego leite não é suficiente para e condições em que satisfazer as necessidades ocorre o parto. Nos do borrego para um partos simples, tendo o normal desenvolvimento, borrego boa vitalidade, a suplementação dos a taxa de sucesso do borregos com rações afilhamento é muito alta. adequadas em comedouros Quando ocorrem partos seletivos é uma boa duplos ou triplos é muito opção. Nos casos de não importante que estejamos afilhamento ou pouco perante uma genética com leite materno uma solução capacidades maternais bem poderá ser o aleitamento desenvolvidas e borregos artificial. com vitalidade, bem como garantir as condições do • Patologias entéricas e espaço em que ocorre o respiratórias - certamente parto e a vigilância rotineira uma das maiores causas ao rebanho. de mortalidade. Todos os fatores acima descritos, • Nutrição - tem grande

• Toma do colostro - uma vez que os borregos nascem desprovidos de imunidade é da máxima importância que a recebam de forma passiva através da ingestão do colostro, com elevadas concentrações de imunoglobulinas. Tanto a permeabilidade das paredes intestinais do borrego como a concentração de imunoglobulinas no leite, diminuem muito rapidamente nas primeiras horas após o parto. É crucial a ingestão do colostro, e em quantidades significativas, nas primeiras horas de vida. A vitalidade

PRODUTIVIDADE NUMÉRICA DE TRÊS POSSÍVEIS REALIDADES

assim como as condições higio-sanitárias, vacinações e desparasitações, têm grande influência no aparecimento ou não de doenças e na taxa de sucesso da sua cura.

CONCLUSÃO A raça, em associação com um bom maneio nutricional, reprodutivo e higio-sanitário são os fatores que mais influenciam a produtividade. Como demonstra o quadro 1, a produtividade de um rebanho poderá variar entre 0,81 e 2,43 por ovelha, o que significa que, para produções tipificadas pelo primeiro exemplo do quadro, é ainda possível triplicar a produtividade. Não sendo a produtividade diretamente proporcional à eficiência produtiva, tipos de produção com maior produtividade tendem a uma melhor eficiência produtiva e com isso melhor margem de lucro.

QUADRO 1 TIPO DE PRODUÇÃO (Exemplo para 100 ovelhas)

N.º partos / ano

EXTENSIVO com pouco investimento

EXTENSIVO com algum investimento genético, alimentar, instalações e mãode-obra

SEMI-INTENSIVO com muito investimento genético, alimentar, instalações e mão-de-obra

1

1,5

1,5

Tx Fertilidade

80

85

90

Tx Prolificidade

110

150

200

Tx Mortalidade

7,5

8

10

N.º borregos desmamados

81

176

243

26 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES

Os dados permitem-nos “sonhar” com melhores resultados económicos uma vez que, no geral, em Portugal, ainda estamos longe de atingir os melhores resultados zootécnicos comprovadamente possíveis, e será obrigatoriamente esse o caminho da nossa produção sustentável.


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Você quer avançar. A De Heus está aqui para o ajudar a concretizar essa ambição. Fornecemos soluções nutricionais adaptadas à fase produtiva e ao sistema alimentar dos seus ovinos. Apresentação em granulados e tacos, de elevado valor nutricional, assegurando os melhores resultados. É assim que o ajudamos a progredir. DE HEUS. AO SERVIÇO DA NUTRIÇÃO ANIMAL.

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FORRAGENS

ANA LAGE CHEFE DE SERVIÇO - ANÁLISE DE ALIMENTOS PARA ANIMAIS ALIP – ASSOCIAÇÃO INTERPROFISSIONAL DO LEITE E LACTICÍNIOS ana.lage@alip.pt

Silagens de erva: avaliação da qualidade nutricional

A silagem de erva representa, para muitas explorações leiteiras, um importante recurso alimentar assumindo particular relevância no período de primavera-verão. silagem de erva analisadas no laboratório da Associação Interprofissional do Leite e Lacticínios (ALIP) nos últimos quatro anos. Observando os valores apresentados, podemos concluir que a composição química das silagens de erva evidencia uma grande variação entre amostras.

Este tipo de alimento pode não só contribuir com fibra bastante digestível para a dieta das vacas leiteiras, como representar uma excelente fonte de proteína de elevado valor alimentar. No entanto, vários fatores condicionam o seu valor nutritivo, originando uma enorme variação da qualidade desta forragem. Esta variação pode ser de tal forma elevada, que pode impedir a utilização da silagem na dieta das vacas de alta produção presentes nas explorações leiteiras atuais. Na tabela 1 são apresentados os valores da composição química, e a respetiva variação, de 3167 amostras de

Relativamente à matéria seca (MS) verifica-se que, apesar das médias anuais se situarem entre os 34,5% e os 38,1%, existe uma ampla variação entre o teor mínimo e o teor máximo. Tomando como exemplo o ano de 2017, verifica-se que o valor

médio da MS é de 36,9%, com um máximo de 88,5% e um mínimo de 12,4%. Esta grande variação está relacionada com a variabilidade do grau de maturidade da forragem no momento do corte e com a variabilidade na existência e duração da pré-fenação. Segundo Kung (2010) o teor ideal em MS de uma silagem de erva deve estar entre 3035%. Quando o teor em MS da forragem é muito baixo (< 25%), normalmente devido a um corte precoce da forragem, as perdas por efluentes podem ser elevadas. Por outro lado, quando o teor em MS é elevado, a compactação no silo, e consequente expulsão

do oxigénio presente entre a forragem, é dificultada, podendo levar à proliferação de fungos e leveduras responsáveis pela perda da estabilidade aeróbica após a desensilagem. Além disso, os agricultores têm vindo a optar pela quantidade de forragem num corte único em vez de procurar uma forragem com melhor qualidade, mesmo tendo de fazer vários cortes. Ao permitir que as plantas avancem no estádio vegetativo, a degradação da qualidade da forragem acontece rapidamente. Isso é óbvio quando analisamos os resultados da proteína

TABELA 1 Composição química média das silagens de erva analisadas nos anos de 2014 a 2017. PB

MATÉRIA SECA (%)

NDF

DMO

ANO

2014

2015

2016

2017

ADF

CINZAS

pH

(% na MS)

MÍN

MÉDIA CV(%)

MÁX

MÍN

MÉDIA CV(%)

MÁX

MÍN

MÉDIA CV(%)

MÁX

MÍN

MÉDIA CV(%)

MÁX

MÍN

MÉDIA CV(%)

MÁX

MÍN

MÉDIA CV(%)

MÁX

MÍN

MÉDIA CV(%)

MÁX

12,7

36,9a

87,9

5,33

10,70a

23,76

43,3

60,0a

75,1

42,2

60,4a

82,0

28,3

41,0a

51,8

4,3

9,6a

27,6

3,05

3,96a

5,36

12,8

34,5b

88,3

5,32

11,72b

24,04

36,9

56,7b

77,5

42,3

61,9bc

84,2

23,7

37,6b

51,6

3,8

9,9ac

24,3

3,15

4,06b

8,3

38,1a

93,2

3,32

11,57b

27,83

24,7

56,3b

83,8

38,4

61,2ac

85,0

19,8

36,1c

52,2

2,9

10,3bc

44,8

3,13

4,18c

12,4

36,9a

88,5

3,45

12,67c

27,75

28,0

51,7c

74,7

36,1

64,9d

87,7

18,5

34,9d

47,6

3,2

10,5b

39,7

2,90

4,19c

38,0

25,1

35,0

29,0

34,8

31,3

7,2

10,6

11,5

35,5

12,5

14,5

32,8

13,7

9,8

11,8

14,0

12,7

28,9

26,8

11,7

12,4

30,3

5,78

11,4

40,3

a,b,c,d Valores na mesma coluna com notações diferentes diferem significativamente (P<0.05). MS – Matéria Seca; PB – Proteína Bruta; DMO – Digestibilidade da Matéria Orgânica; NDF – Fibra de detergente neutro; ADF – Fibra de detergente ácido; CV – Coeficiente de Variação.

28 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES

10,9

5,93

11,5

11,5

6,82


FORRAGENS

GRÁFICO 1 Distribuição das amostras por classes de teor em PB por ano.

60

% de Amostras

50 40

Aumente até aos 6% de açúcares na matéria seca da dieta e aumente a produção das suas vacas!

30 20 10

0

<=8

]8-12]

]12-16]

>16

PB (% na MS) 2015

2014

2016

2017

No gráfico 1 está representada a distribuição do teor em PB por classes, ao longo dos anos. Podemos constatar que mais de 50% das amostras, para todos os anos, apresentaram um teor em PB inferior a 12% na MS. Este valor muito baixo, evidencia a má qualidade na generalidade das silagens de erva. No entanto, podemos observar que a percentagem de amostras com PB superior a 12% está a aumentar em detrimento da diminuição da percentagem de amostras com PB inferiores a 12%, o

Relativamente ao teor em NDF verificámos que desde 2014 tem havido uma diminuição significativa (p<0,05) dos valores médios, variando entre 60,0% e 51,7% na MS. Pelo contrário, e como esperado, a DMO tem aumentado significativamente (p<0,05) ao longo destes quatro anos, variando entre 60,4% e 64,9% na MS (Gráfico 2). De acordo com McDonald et al. (2010) esta correlação é

GRÁFICO 2 Evolução do teor em NDF e da DMO das silagens de erva analisadas nos anos de 2014 a 2017. 70

65 60 60

Redução do pó e da escolha dos animais nos comedouros

Diminuição do risco de acidose ruminal

56

Aumento da ingestão de matéria seca

52 50 40

% na MS

Fonte de energia imediata

61

62 57

Aumenta a produção Melhora a qualidade do leite

que consideramos um bom indicador. Esta tendência de melhoria também pode ser observada na tabela 1 pelo aumento significativo (p<0,05) do teor médio em PB desde 2014 a 2017, passando de 10,70% para 12,67% na MS.

bruta (PB), da fibra de detergente neutro (NDF) e da digestibilidade da matéria orgânica (DMO).

60

Melhora o rendimento

Melhora a digestibilidade da fibra

30 20 10

0

2014

NDF

2015

2016

2017

www.edfman.com

Av Antonio Serpa, 23-7º 1050-026 Lisboa Telef: +351 21 7801488 Fax: +351 21 7965230 Email: lisbon@edfman.com

DMO

RUMINANTES JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 29


FORRAGENS

GRÁFICO 3 Distribuição da totalidade das amostras por classes do teor em cinzas.

GRÁFICO 4 Distribuição da totalidade das amostras por classes do teor em PS (%N). 40

60

GRÁFICO 5 Distribuição da totalidade das amostras por classes do teor em N-NH3 (%N). 50

38%

35 48%

50

40

30 24% 19%

20

25%

25

0

5%

4% <5

[5-8[

[8-11[

[11-15[

>=15

30

20 15 10

10

35

21%

5 0

7%

6%

2%

% de Amostras

% de Amostras

% de Amostras

30 40

47%

45

25 20

21%

21%

15 10%

10 <30

[30-40[

[40-50[

Cinzas (% na MS)

[50-60[

[60-70[

>=70

PS (% N)

5 0

<5

[5-10[

[10-15[

>=15

N-NH3(% N)

de esperar, porque é a fração da fibra que tem a maior influência na digestibilidade do alimento. Apesar de bons indicadores, ainda verificamos que 62% do total das silagens apresenta um teor em NDF superior a 55% na MS e 87% delas uma DMO inferior a 70% na MS. O teor elevado em NDF e o teor em PB e a DMO baixos, sugerem que, na generalidade dos casos, foi praticado um corte tardio da forragem, permitindo um estádio vegetativo demasiado avançado. Quanto ao teor médio em fibra de detergente ácido (ADF), tal como acontece com o NDF, verifica-se uma diminuição significativa (p<0,05) entre 2014 e 2017, variando entre 41,0% e 34,9% na MS. No que respeita ao teor em cinzas, verifica-se que o teor médio situa-se entre os 9,6% na MS em 2014 e os 10,5% na MS em 2017. Neste parâmetro, a variação observada dentro de cada ano também foi muito elevada, Tendo em conta o ano de 2017, este apresenta um teor mínimo em cinzas de 3,2% e um teor máximo de 39,7% na MS. No gráfico 3 está representada a distribuição do teor em

cinzas, por classes, de todas as silagens analisadas. Podemos observar que, apesar da classe mais representativa ser a de [8-11[, cerca de 29% das amostras apresenta um teor em cinzas superior a 11% na MS. Isto indica a presença de terra na silagem e daí a importância do processo mecânico da produção de silagem de erva, respeitar a altura de corte adequada e a distância de trabalho ao solo durante a pré-fenação e do recorte para colocação no silo. A contaminação da silagem com terra pode trazer consequências nefastas para a sua conservação e para a degradação da proteína (proteólise). Ou seja, a terra ao ser arrastada para o silo transporta consigo esporos butíricos e clostrídios. Estas bactérias do género Clostridium desenvolvemse no silo, na ausência de oxigénio, e em condições de muita humidade, provocando a degradação da proteína da silagem em proteína solúvel (aminas, amidas e outros compostos azotados de baixo peso molecular) e em azoto amoniacal (N-NH3). Desta forma, a proteína solúvel (PS) e o azoto amoniacal são bons indicadores da extensão da degradação da proteína e da ocorrência de fermentações

30 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES

secundárias. Segundo Chamberlain e Wilkinson (1996), a fração da proteína bruta total presente como proteína solúvel numa silagem de erva devia variar entre 30 e 50%. Observando o gráfico 4, onde está representada a distribuição das amostras analisadas por classes do teor em PS, verificamos que só 28% das silagens estão dentro deste intervalo. Além disso, 69% das amostras apresentam um valor de PS superior a 50% do N (azoto total). Assim, podemos admitir que grande parte das silagens de erva sofreram uma degradação considerável da sua proteína. Quanto ao teor em N-NH3, verificamos que 68% das amostras tem uma fração do N-NH3 inferior a 10% do N (Gráfico 5), indicando assim que, no geral, o processo de conservação foi bem conseguido, não ocorrendo fermentações secundárias. Os valores médios do pH das amostras de silagem de erva (Tabela 1) também comprovam a boa conservação, variando entre 3,96 e 4,19, Estes valores situam-se dentro dos valores de pH referidos por Chamberlain e Wilkinson (1996) para uma silagem de erva ideal.

CONCLUSÃO Podemos então concluir que a forte variação observada entre amostras para os diversos parâmetros analisados, sugere a enorme variabilidade existente nas práticas de ensilagem adotadas pelos agricultores. Para além disso, os resultados médios obtidos evidenciam que, de uma maneira geral, a qualidade das silagens de erva ainda é fraca. No entanto, parece existir uma tendência de melhoria da sua qualidade, considerando o aumento verificado no teor em PB e na DMO e a diminuição dos teores em NDF e em ADF ao longo destes quatro anos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Chamberlain, A. T. e Wilkinson J. M., 1996. Feeding the Dairy Cow. Chalcombe Publication, 241 pp. Kung Jr., L., 2010. Understanding the biology of silage preservation to maximize quality and protect the environment. California Alfalfa & Forage Symposium and Corn/Cereal Silage Conference, Visalia, CA. McDonald, P., Edwards, R. A., Greenhalgh, J. F. D., Morgan, C. A., Sinclair, L. A. e Wilkinson, R. G., 2010. Animal Nutrition. 7th edition. Pearson, 692 pp.



ALIMENTAÇÃO

Final de gestação em ovelhas leiteiras Em ovinos de leite, a generalização das condições produtivas é complexa, dado o grande número de raças e de sistemas produção existentes. Ao contrário do que acontece nos bovinos de leite, em que a raça Holstein Friesian tem o domínio da produção mundial, nos ovinos a grande variedade de raças produtivas, muitas autóctones, leva a que não seja possível fazer uma estandardização dos parâmetros produtivos.

A nutrição é uma das principais condicionantes da produção animal e os seus efeitos podem ser vistos, globalmente, em termos de quantidade e qualidade dos produtos animais produzidos, para além do impacto económico que acarreta. Muitas vezes, a alimentação do rebanho reprodutor é caracterizada pela alternância de períodos de excedentes e períodos de subnutrição. Este facto pode ser corrigido pela gestão adequada das reservas corporais, no caso de energia e minerais. Por outro lado, as ovelhas possuem poucas reservas de proteínas mobilizáveis e é essencial atender, sempre, às necessidades proteicas. A existência de animais em distintas fases produtivas, com necessidades nutritivas e estados fisiológicos muito diferenciados, fazem com que seja aconselhável a organização dos rebanhos por lotes. O número de lotes numa exploração dependerá do tamanho do efetivo, da fase produtiva dos animais e da racionalidade no

maneio. Assim sendo, a criação dos lotes deverá atender a dois aspetos fundamentais: fase produtiva e consequente nível de produção, assim como a condição corporal das ovelhas em cada fase produtiva.

FASES PRODUTIVAS Cada período é associado a um estado fisiológico bem definido e caracterizado por necessidades alimentares específicas, influenciadas pela evolução da capacidade de ingestão das ovelhas ao longo do ciclo de produção (gráfico1): 1. Fim de gestação (60 dias): da secagem até ao parto 2. Inicio da lactação (45 dias): do parto até ao pico da lactação 3. Plena lactação (160 dias): do pico da lactação até à cobrição 4. Final da lactação (100 dias): da cobrição até à secagem

FINAL DE GESTAÇÃO PRÉ-PARTO

SECAGEM GRÁFICO 1 Ciclo anual de produção de ovelhas leite.

RUI ALVES ENG. ZOOTÉCNICO, DIRETOR ADJUNTO DEPARTAMENTO DE ALIMENTOS COMPOSTOS SORGAL

PARTO

1 Fim Gestação (60 dias)

4

Final Lactação (100 dias)

2

Início Lactação (45 dias)

COBRIÇÃO

3

Plena Lactação (160 dias)

32 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES

PICO LACTAÇÃO

O ciclo produtivo anual da ovelha principia, aquando da secagem, no período Final de Gestação, momento que irá influenciar, grandemente, a lactação seguinte. Esta fase é um dos períodos mais críticos do ciclo produtivo (principalmente nos últimos 45 dias), caraterizando-se por uma rápida elevação das necessidades nutricionais da ovelha, devido ao grande crescimento do feto, que pode quadruplicar ou quintuplicar o seu peso. Ao mesmo tempo, a sua capacidade de ingestão, também, diminui, tanto mais quanto maior o peso da ninhada e maior o número de fetos. Neste seguimento, o plano alimentar deve orientar-se para dietas de elevada concentração nutricional no final da


gestação, através de concentrados e forragens de excelente qualidade, pois um deficit neste período terá, sempre, efeitos negativos sobre os cordeiros (leves e débeis aquando do parto) e na ovelha (toxemia da gestação, diminuição da produção de colostro, etc.). A condição corporal (CC) deverá permitir fazer face ao aumento das necessidades em fim de gestação e de início de lactação, atendendo, sempre, à diminuição da capacidade de ingestão (gráfico 2). Para evitar a ocorrência de toxemia de gestação, é necessário estabelecer uma dieta racional durante o último terço da gestação, controlando, adequadamente, a CC da ovelha nesta fase (3,5 a 4), usando forragens de excelente qualidade e concentrados ricos em amido, que proporcionem ao animal energia e glicose suficientes para cobrir as suas necessidades. As ovelhas mal alimentadas, nesta fase, demorarão mais a reiniciar os seus ciclos produtivos e serão suscetíveis do ponto de vista sanitário.

As necessidades dos principais nutrientes, de energia e de proteína, nesta fase, dependem de vários fatores, tais como: • Idade das ovelhas: as necessidades de energia e proteína são mais altas em ovelhas primíparas do que em multíparas, devido a associarem as necessidades de gestação e de crescimento do próprio animal; • Prolificidade: ao aumentar a prolificidade aumentam as necessidades de energia e de

GRÁFICO 2 Necessidades vs Capacidade de ingestão.

Ingestão (kg) AUMENTO DAS NECESSIDADES DOS FETOS

CAP. ING. Meses de gestação

proteína. As primíparas têm índices de prolificidade menores do que as multíparas e pode haver diferenças dentro de cada grupo, devido à raça e ao maneio; • Condições ambientais. Para a formulação destas dietas de alta densidade energética, é aconselhável aumentar o aporte de concentrados ricos em amido, uma vez que a adição de gordura para este efeito agrava os problemas metabólicos (toxemia), que possam surgir nesta fase. A contribuição dos cereais aumenta a quantidade de ácido propiónico produzida no rúmen e, portanto, a síntese de glicose, do qual é seu principal precursor metabólico. Desta forma, a dieta é equilibrada para satisfazer as crescentes necessidades de glicose ligadas ao crescimento fetal. No que respeita à proteína na dieta, além de uma alta densidade de proteína, a sua qualidade deve ser considerada, dada a sua importante influência no crescimento dos fetos,

no desenvolvimento dos tecidos lactogénicos do úbere e na produção de colostro. No caso das cordeiras, no último terço da gestação, deve ter-se também em consideração as mesmas premissas que nas ovelhas adultas, ponderadas pelas necessidades de crescimento do próprio animal e a menor capacidade de ingestão (10-15% menos). Neste seguimento, pode concluir-se que, dada a grande importância desta fase em todo o ciclo produtivo, a mesma deverá ser bem enquadrada e articulada com todas as restantes fases, reforçando os cuidados quer em termos de nutrição (qualidade e quantidade dos alimentos), quer em termos de maneio. A Sorgal, através das marcas Sojagado e Pronutri, disponibiliza soluções de enquadramento técnico de produtos que podem ser personalizadas a cada caso, potenciando os seus resultados.

RUMINANTES JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 33


FORRAGENS

Concurso Nacional Forragens - 2018 REGULAMENTO DO CONCURSO NACIONAL DE FORRAGENS DA REVISTA RUMINANTES – 2018 – SILAGEM DE ERVA E SILAGEM DE LUZERNA Este concurso idealizado e promovido pela Revista Ruminantes tem como objetivo encorajar os agricultores nacionais a melhorar a qualidade das forragens produzidas, procurando desta forma contribuir para o reforço da sustentabilidade ambiental e económica da produção pecuária em Portugal.

1 Concorrem automaticamente 6 A amostra deverá conter ao Concurso Nacional de Forragens 2018 (doravante “Concurso”) todos os agricultores nacionais, do Continente e Ilhas que enviem amostras de forragens para analisar pelo ALIP.

mais de 0,5 kg de forragem, em saco de plástico limpo, transparente e selado sem ar. As amostras devem ser enviadas para: ALIP -Associação Interprofissional do Leite e Lacticínios, Rua do Agreu Nº302, Ordem 4620São elegíveis para participar 471 Lousada. O remetente no concurso em 2018 todas deve indicar claramente a sua as amostras de silagem de proveniência. erva e de silagem de luzerna As amostras devem ser que tenham dado entrada no enviadas ou entregues entre: ALIP no período estabelecido • Silagem de erva – de 1 no ponto 6, cujos agricultores janeiro a 30 junho 2018 remetentes de amostras não se • Silagem de luzerna – de 1 tenham oposto à participação abril a 31 julho 2018 no mesmo. As análises a realizar sobre O custo das análises é a amostra visam avaliar a apenas o que decorre do envio qualidade de conservação e o normal das amostras pelos valor nutritivo da silagem. seus remetentes para o ALIP, não existindo qualquer custo A classificação final é adicional. obtida através de uma análise sensorial e de uma O Júri do Concurso reserva- análise bromatológica, com se o direito incontestável de um peso, respetivamente, de excluir durante o processo do 30 e 70%. A análise sensorial concurso qualquer amostra será efetuada aquando da que lhe suscite dúvidas quanto chegada da amostra ao ALIP e à desvirtuação do espírito do consistirá na avaliação da cor, concurso. cheiro, tamanho de partícula e presença de bolores ou É permitido o uso de outros materiais estranhos ou conservantes no processo de contaminantes. As amostras ensilagem. As amostras de serão secas em estufa silagem de erva e de silagem para determinação da MS. de luzerna devem ter um teor Posteriormente, são efetuadas de matéria seca (MS) entre as seguintes determinações: 25 e 50%. As silagens devem 8.1 - na silagem de erva, por mostrar sinais de normal NIR, o pH e os teores em fermentação. As amostras com Cinzas Totais (CT), Proteína teores de matéria seca fora dos limites estabelecidos, ou com Bruta (PB), Proteína Solúvel sinais de adulteração, serão (PS), Azoto Amoniacal (AA), automaticamente excluídas do Fibra Detergente Neutro concurso. (NDF), Fibra Detergente Ácido

2

3

7

8

4

5

34 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES

(ADF) e a digestibilidade da matéria orgânica (DMO). 8.2 - na silagem de luzerna, pelo método de referência, os teores em Cinzas Totais (CT), Proteína Bruta e Fibra Detergente Neutro.

9

Haverá atribuição de prémios monetários aos primeiro, segundo e terceiro classificados em cada categoria a concurso em 2018, no montante de 750€, 500€ e 350€, respetivamente.

10

Os prémios serão entregues em cerimónia a realizar durante um EVENTO e em DATA a definir, comunicado através da Revista Ruminantes. Para receber o prémio, os vencedores do Concurso terão que estar presentes ou informar previamente a Revista Ruminantes da nomeação de um seu representante para esse efeito.

11

O júri referente ao CNF 2018 será constituído por: José Caiado – Revista Ruminantes Ana Lage – ALIP Rita Cabrita – Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, Universidade do Porto António Moitinho Rodrigues – Escola Superior Agrária – Instituto Politécnico de Castelo Branco

12

As decisões tomadas pelo Júri do Concurso são definitivas e em nenhum caso serão passíveis de recurso.



ALIMENTO DO TRIMESTRE

Carne vermelha O papel da carne na dieta humana remonta aos primórdios da civilização. De facto, tem vindo a ser sugerido que a evolução dos nossos (mui) desenvolvidos cérebros só foi possível devido à inclusão da carne na dieta dos nossos antepassados, há cerca de 2,6 milhões de anos. POR JOANA SILVA

Esta carne, originalmente proveniente de animais mortos por outros predadores, começou a vir de outras origens à medida que o Homem primitivo desenvolvia técnicas de caça e domesticação. Esta última levou a um afunilamento do número de espécies animais utilizadas para produção de carne, as quais incluem hoje em dia mamíferos, aves e outras espécies exóticas, como crocodilos. A carne vermelha, em particular, é comumente definida como a carne proveniente de bovinos, ovinos, caprinos e suínos. Existe atualmente uma diferença marcada entre a forma como países desenvolvidos e países em desenvolvimento encaram a carne enquanto constituinte da dieta. Nestes últimos, nos quais esta ainda é um bem relativamente escasso, a carne é encarada como um gold standard da qualidade nutricional. Já nos países desenvolvidos, onde existe maior oferta alimentar, o foco vira-se agora para as quantidades ingeridas, composição nutricional, maneio e abate dos animais.

A carne vermelha apresenta inúmeros benefícios para a saúde humana, em termos de macro e micronutrientes. Vamos lá ver quais são. »PROTEÍNA

É uma fonte de proteína de alto valor biológico, com cerca de 20-29 gramas (tabela 1) por 100 gramas de carne, a qual pode ser especialmente benéfica para indivíduos em regeneração muscular, como atletas no pós-cirúrgico. É também rica em taurina, um

aminoácido essencial ao ser humano desde o nascimento. Foi também demonstrado que a inclusão da carne vermelha na dieta de indivíduos de maior idade pode diminuir doenças musculares degenerativas de forma mais eficaz do que proteína proveniente de outras fontes, como a soja. A proteína é importante para uma dieta equilibrada, proporcionando uma elevada sensação de saciedade quando em comparação com outros nutrientes, existindo uma sólida indicação científica que, a longo prazo, dietas ricas em proteína permitem um maior controlo do peso em comparação com dietas ricas

Dieta dos nossos antepassados... HÁ CERCA DE 2,6 MILHÕES DE ANOS O Homem primitivo desenvolveu técnicas de caça e domesticação que eram a fonte do seu alimento.

36 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES

em hidratos de carbono.

»ÁCIDOS GORDOS

Apesar do foco constante na existência da pouco saudável gordura saturada na carne, aproximadamente 50% da gordura intramuscular da carne de bovino e borrego - a qual é de extrema importância para a sua palatabilidade e suculência - é composta por ácidos gordos mono e polinsaturados, os quais se sabem ter benefícios para a saúde, como o ácido oleico. A carne de ruminantes é ainda uma fonte do conhecido CLA (Ácido Linoleico Conjugado), ao qual


ALIMENTO DO TRIMESTRE

são atribuídas propriedades anti-carcinogénicas, anti-lipogénicas e imunomoduladoras.

»VITAMINAS

A carne vermelha é uma fonte importante de inúmeras vitaminas do complexo B, sendo mesmo a principal fonte de vitamina B12 da dieta, assegurando mais de dois terços da dose diária recomendada numa porção de 100 gramas. Esta vitamina é essencial para a produção de glóbulos vermelhos e para a manutenção de um sistema nervoso saudável.

»MINERAIS

A anemia por deficiência em ferro é um problema nutricional de nível global, afetando indivíduos de diferentes estratos socioeconómicos e sendo especialmente prevalente em crianças e mulheres jovens. O ferro é um mineral essencial para funções vitais no organismo, entre as quais se encontra o transporte de oxigénio nos glóbulos vermelhos. A carne vermelha é muito rica em ferro, sendo que este se encontra principalmente na

forma heme, a forma de maior biodisponibilidade deste mineral. De facto, a absorção de ferro proveniente de carne vermelha pelo nosso organismo é na ordem dos 1525%, por oposição a teores de absorção de 1 a 7% a partir de alimentos de origem vegetal. A carne vermelha tem ainda a vantagem de proporcionar um aumento da absorção de ferro de outras fontes alimentares, fornecendo também outros minerais importantes como o zinco, selénio, magnésio, fósforo, crómio, cobalto e níquel. O selénio, por exemplo, é um dos principais antioxidantes considerados como fator de proteção contra doenças coronárias e cancros, e cerca de 25% da sua dose diária recomendada podem ser obtidos através da ingestão de carne. Apesar da sua riqueza nutricional, a carne vermelha tem sido alvo de grande debate no que toca aos seus impactos negativos sobre a saúde humana. De facto, a associação do seu consumo a doenças cardiovasculares e ao temido cancro do cólon em vários estudos – duas das mais prevalentes doenças crónicas do mundo ocidental – têm vindo a influenciar negativamente a perceção dos consumidores no que toca a este alimento. No entanto, parecem existir limitações e inconsistências em vários destes estudos, o que tem vindo a adiar a classificação definitiva da carne vermelha enquanto alimento “proibido”. Interessantemente, após

estabelecimento de um paralelismo entre o consumo de carne vermelha e a incidência de cancro do cólon num estudo do Reino Unido apurou-se que, apesar da diminuição do consumo de carne vermelha, a incidência de cancro tem vindo a aumentar, o que vem chocar com vários estudos que apontam o consumo desta carne como um dos grandes culpados do desenvolvimento da doença. O cancro do cólon tem uma origem multifatorial, resultando da interação de vários fatores dietéticos e de estilo de vida, como o tabagismo e o nível de atividade física. Portanto, é altamente improvável que a carne vermelha seja um fator independente de génese de doença e que a sua eliminação da dieta como única medida preventiva seja eficaz. É ainda de salientar que a carne vermelha produzida hoje em dia possui um teor de gordura bem mais reduzido quando em comparação com há dez anos atrás, fruto de profundas alterações na produção, na genética e na alimentação animal. Quando removido o excesso de gordura, muitos dos cortes de carne de bovino e borrego comumente consumidos apresentam teores totais de gordura inferiores a 5%, com certas peças de carne de bovino igualando o teor de gorduras saturadas de algumas carnes brancas. Para além da redução da gordura total da carne, a

Tabela 1 - Comparação nutricional entre as carnes vermelha e branca Composição Nutricional (por 100 gramas de carne)

Carne Vermelha (bovino)

Carne Branca (frango, sem pele)

Calorias (kcal)

201

190

Gordura total (g)

8,09

2,00

Colesterol (mg)

86

89

Proteína (g)

29,89

28,93

Ferro (mg)

2,99

1,21

Vitamina B12 (μg)

2,64

0,33

Fontes: USDA, Canadian Nutrient File

modificação do perfil de ácidos gordos é também já uma realidade. O consumo moderado de cortes magros de carne vermelha mostrou, num outro estudo, estar associado a uma redução do colesterol total e do LDL (o “mau colesterol”), bem como dos níveis de triglicéridos. A mensagem final vem, mais uma vez, apelar ao bom senso e à moderação. A dieta humana é complexa e diversificada, estando intimamente relacionada com o estilo de vida de cada indivíduo. Será talvez demasiado ambicioso pensar que existem alimentos completamente inócuos para a nossa saúde, e a carne vermelha não é exceção. Já a sua riqueza nutricional não pode ser negligenciada e, como vimos, muitos são os benefícios associados a este constituinte milenar da nossa alimentação.

A carne vermelha é fonte de proteína de alto valor biológico com cerca de 20-29 gramas por 100 gramas de carne especialmente benéfica para indivíduos em regeneração muscular, como atletas no pós-cirúrgico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Não foram incluídas por uma questão de espaço editorial, mas a autora disponibiliza bastando enviar um email para geral@revistaruminantes.com.

RUMINANTES JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 37


PUBLIREPORTAGEM

Beterraba forrageira Uma alternativa energética para vacas leiteiras “Depois de testar um alimento destes, édifícil voltar atrás” A beterraba forrageira, conhecida lá fora por feedbeet ou fodderbeet, tem vindo a ser cada vez mais utilizada em dietas de bovinos, na Europa e no resto do mundo. Não os subprodutos da extração do açúcar, como até aqui era usual, mas a planta inteira. Emanuel Garcia, produtor de leite na ilha açoriana de S. Miguel, decidiu realizar um ensaio de campo na sua exploração com uma nova variedade híbrida. Em entrevista à revista Ruminantes, falou-nos sobre os resultados agronómicos e zootécnicos até agora obtidos.

Emanuel Garcia, 31 anos, Eng. Agropecuário, é um produtor açoriano de leite. A sua exploração leiteira, situada na freguesia de Relva na ilha de S. Miguel, é composta por 65 vacas em ordenha, num total de 135 cabeças de gado. A exploração produz um conjunto alargado de diferentes forragens. Para além das basilares silagem de milho e de azevém, Emanuel Garcia produz ainda luzerna, trigo, sorgo e outras consociações diversas. O seu espírito de iniciativa e de inovação levaram-no a experimentar outras culturas emergentes, com o propósito permanente de conseguir baixar os custos de produção e assegurar no longo prazo a rentabilidade económica da sua exploração leiteira. O que o levou a ensaiar a feedbeet? Pretendia arranjar uma nova fonte de energia para a dieta de bovinos. Algo que fosse mais além da silagem de milho (a única fonte de energia produzida na maioria das explorações pecuárias em Portugal). Algo que me substituísse mais ração e que reduzisse os custos de alimentação.

Como chegou à feedbeet? A feedbeet, ou beterraba forrageira, estava debaixo de olho já há uns anos para cá, mas era sempre difícil arranjar boa semente e certificada. Apesar de ser uma cultura há mais de um século cultivada aqui em S. Miguel, o seu uso era industrial, para o fabrico do açúcar. Os subprodutos da extração do açúcar é que eram utilizados em alimentação animal, nomeadamente a polpa de beterraba e o melaço. O consumo da planta inteira era pouco comum nas explorações pecuárias leiteiras. É importante frisar que, sendo a beterraba uma planta com alto teor de açúcar, o seu uso terá de ser calculado. Coisa que antigamente, ou melhor, sem conhecimento técnico, ou sem ferramentas como o unifeed, podia levar a distúrbios metabólicos graves. O seu uso na alimentação animal esteve sempre envolto em algum desconhecimento e isto levou a que as pessoas não se arriscassem muito no seu cultivo para alimentar bovinos. Entretanto soube, através da revista Ruminantes, que o Dr. José Caiado e a KWS estavam empenhados em divulgar e expandir esta cultura cá em Portugal, usando para isso sementes das novas variedades forrageiras (feedbeet), como

Energia de baixo custo para vacas leiteiras Produção local, sustentável e saudável

38 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES


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IMAGEM 1 Campo de beterraba com 88 dias.

parte de um regime alimentar alternativo e económico. Foi a partir daí que acedi à semente. Levei a cabo um ensaio, cujo objetivo era, em linhas gerais, testar o seu desempenho agronómico e o seu valor zootécnico. Em que consistiram os ensaios? Que variedades utilizou? O ensaio consistiu em cultivar cerca de 0,5 hectares de beterraba forrageira da variedade “Geronimo”. É uma variedade de teor de matéria seca médio (12%-16% Matéria Seca - MS). Esta variedade possui casca alaranjada, polpa branca e folhas largas e arredondadas. A raiz cresce em média mais de 50% acima do nível do solo, o que torna a colheita muito fácil, seja em consumo direto em pastoreio pelos bovinos, seja arrancada à mão ou com o balde do carregador frontal do trator. Foi importante conhecer o seu desempenho agronómico, nomeadamente o ataque de pragas, doenças e controlo de infestantes, como também o maneio do seu consumo.

Quais foram os resultados? Os resultados foram extremamente positivos. A produção total teórica que estimei quando comecei a colher foi de 120 toneladas (t)/hectare (ha) (raízes + copas), mas agora que estou a acabar de colher, anda perto das 135 t/ha. São produções realmente altas. A matéria seca foi de 12%, nos primeiros arranques, com 55% açúcar na MS. A nível agronómico, teve um comportamento excecional. A cultura teve uma progressão bastante positiva, com uma instalação e domínio do terreno muito rápido. A nível de doenças foliares, foi só detetada a presença de cercosporiose nos finais de agosto, mas num ponto em que não comprometeu a produtividade. A palatabilidade da beterraba pelo gado foi muito positiva, como seria de esperar. Como está a aplicar a feedbeet na alimentação da suas vacas? A beterraba está a ser aplicada no unifeed dado às vacas leiteiras. São cerca de 10-12 kg/vaca dia, ou seja cerca 650 kg/dia. Tenho um unifeed de sem-fins horizontais. Este tritura a beterraba até um nível bastante reduzido, de forma a que o animal não selecione a beterraba na manjedoura, juntamente com outros

ingredientes da dieta. A vaca procura sempre comer primeiro a beterraba. Um lote de novilhas estabuladas também come beterraba diretamente na manjedoura (cerca de 5 kg/cabeça/dia). Fora isso, as vacas secas também comem um pouco (5 kg/cabeça/dia). Também experimentei a fazer o pastoreio direto, com vacas de alta produção, mas isso foi negativo. Neste caso, como em qualquer pastagem, existem animais que vão comer demais e outros que vão comer de menos. Isto compromete o equilíbrio da dieta, como é óbvio, e, refletiu-se na produção de leite. Apesar de não ter ocorrido nenhuma acidose, rapidamente concluí que se quiser pastorear esta variedade de beterraba posso muito bem fazê-lo com qualquer classe de gado à exceção de vacas leiteiras de alta produção. Quais os resultados sobre a produção e a qualidade do leite? A produção manteve-se estável. Aquando da introdução da beterraba no unifeed, fiz alguns ajustes à dieta, mais propriamente, reduzi a quantidade de silagem de milho, de gordura by-pass, de melaço e de concentrado (-1 kg/vaca/dia), ou seja, poupei naquilo que compro fora, mas mantive a produção em litros. Quanto aos sólidos do leite, notei um aumento de uma décima percentual do teor butiroso e outra décima no teor proteico. A capacidade de ingestão diária de uma forma empírica também aumentou, uma vez que a beterraba sendo altamente palatável faz com que todo o bolo alimentar seja mais apetecível pelo gado. Isto faz um balanço positivo nos custos alimentares. Como se comportam as vacas perante a beterraba? As vacas têm uma enorme apetência por beterraba. Seja inteira ou moída no unifeed, ou apenas as folhas (copas), elas limpam tudo. Ao ser assim, nota-se um aumento dos níveis de ingestão e

Energia de baixo custo para vacas leiteiras Produção local, sustentável e saudável

RUMINANTES JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 39


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IMAGEM 2 Emanuel Garcia, produtor de leite na ilha açoriana de S. Miguel.

consequente aumento da produção. No campo, em pastoreio direto, também têm a mesma apetência, mas aí há sempre aquela que come mais, outra que come menos, bem como raízes que ficam conspurcadas com fezes e/ou lama. Isto causa irregularidade, é mais imprevisível controlar a ingestão e respetiva produção. Mas se estivermos a falar de novilhas/ novilhos ou vacas secas este problema já não é tão grave, logicamente. Se as vacas tivessem dinheiro seu, compravam beterraba para comer!

caso, a atenção terá que ser maior. E o desperdício também vai ser maior. - Carregar à mão: é o caso em que o produtor arranca a beterraba facilmente à mão, para dentro de um reboque e depois distribui mais tarde conforme as quantidades que deseje. - Carregar com o balde do carregador frontal do trator: é muito prático. Neste caso usa-se um balde ripado. Estes baldes são em tudo semelhantes aos convencionais, com a diferença do fundo ser em ripas metálicas. Isto permite deslizar com o balde pelo campo dentro e depois sacudi-lo de forma a que a terra e as pedras pequenas caiam pelos ripados. Em muitos locais este balde é conhecido por balde de pedra, já que é usado para retirar grandes pedras dos campos lavrados de forma a deixar atrás a terra. - Colhedora de beterraba sacarina automotora ou rebocável: este é um caso muito prático, mas que poderá ser mais dispendioso e está sujeito à existência deste equipamento. Nesta situação a máquina arranca, corta a copa, apalpa as pedras e raízes podres, limpa, carrega para um depósito e descarrega para um reboque. Há que ter em atenção que neste caso o produtor perde as copas, pois estas são destruídas. - Colhedora de cenouras ou nabos: é em tudo semelhante à colhedora de beterraba, mas com a diferença de neste caso poderem aproveitar-se as copas, uma vez que não são destruídas. Tem projetos futuros para continuar a usar beterraba? Sim. Depois de testar um alimento destes, é difícil voltar atrás. Tinha em mente duplicar a área da variedade “Geronimo” para destiná-la a ser consumida diretamente no campo por gado alfeiro e testar noutra parcela a variedade “Gerty”

Como tem feito para colher a beterraba? A beterraba pode ser colhida de várias formas: - A mais simples e barata, é pôr o gado a pastorear diretamente. Neste caso, como em todos os outros, os animais deverão fazer um período de transição, de pelo menos 15 dias, para a flora ruminal se habituar a um novo alimento. Mas, neste

IMAGEM 3 Beterraba Geronimo destinada à pastagem.

40 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES

para as vacas leiteiras. A Gerty é uma variedade forrageira com um alto teor de matéria seca (23-24%) e um nível de açúcar na MS de cerca de 61% . Que outras considerações finais gostaria de fazer? A beterraba forrageira, conhecida no estrangeiro por feedbeet ou fodderbeet, está a ter uma grande relevância, no seu consumo para dietas de bovinos, nos últimos anos. A feedbeet é largamente utilizada na Nova Zelândia como principal fonte energética do regime alimentar, em complemento à pastagem. Em 2007, a superfície de beterraba cultivada neste país era cerca de 1000 hectares, quase toda ela destinada à industria do açúcar. Em 2017, a superfície total soma cerca de 75000 hectares, quase todos destinados a alimentar ruminantes. São números bastantes expressivos da importância que se está a dar a esta planta. Cá na Europa, a França, tradicional país “beterrabeiro”, lidera as superfícies de cultivo. Enquanto a Irlanda, país do leite de pastagem, tem uma forte aposta no cultivo da beterraba como forma de atingir os seus objetivos de liderança de produção de leite até 2020. É muito significativo o facto de a Irlanda produzir hoje muitíssimo mais beterraba forrageira destinada à produção leiteira, do que antigamente para a produção de açúcar. A feedbeet é mais um passo no longo caminho da redução de custos e na forma de fazer um leite mais barato, com mais sólidos no leite e usando menos concentrados.

MAIS INFORMAÇÕES www.kws.pt



ECONOMIA

Observatório das matérias primas POR MARGARIDA CARVALHO E RUMINANTES

Evolução dos preços das matérias primas entre 2011 e 2017 Ao fim de 7 anos de recolha sistemática dos preços semanais do milho, cevada, trigo, bagaço de soja e bagaço de colza, apresentamos uma análise da sua evolução nesse período. O mercado das matérias primas é influenciado por diversos fatores como a oferta e procura, o volume dos stocks, novos hábitos alimentares, condições climatéricas, alterações no preço do petróleo, da energia de produção agrícola e dos transportes, especulação financeira e variações na cotação das moedas e acordos e restrições comerciais entre países.

Os resultados apresentados ao longo deste artigo foram calculados a preços correntes.

1

Como consequência, alterações nos preços das matérias primas têm um impacto económico significativo na produção animal. Analisámos os dados relativos aos preços semanais das matérias primas (milho, cevada, trigo, bagaço de soja e bagaço de colza), no porto de Lisboa, entre abril de 2011 e outubro de 2017 (figura 1). Posteriormente realizámos uma análise descritiva das variações de preços ao longo do período em estudo, numa tentativa de compreender melhor este mercado. Não se pretende, no entanto, que este artigo seja um “guia” de compras. O preço mínimo do milho durante o período em estudo foi 157€/ton registado na semana de 15 de setembro de 2015. Já o valor máximo para o mesmo cereal foi de 285€/ton registado na semana de 6 de agosto de 2012. Os preços mínimos da cevada e do trigo foram respetivamente 155€/ton a 11 de julho de 2016 e 161€/ton a 26 de setembro de 2016. Estes cereais registaram o mesmo valor máximo de 300€/ton nas semanas de

42 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES

€/ton na semana de 28 de agosto de 2017 e o máximo de 400 €/ton na semana de 16 de julho de 2017. Estes valores bem como o preço médio de cada matéria prima durante o período em estudo estão sumarizados na tabela 1 e na figura 2.

9 e 16 de julho de 2012 para a cevada e 16 de julho de 2012 para o trigo. O bagaço de soja registou um mínimo de 225€/ton na semana de 19 de outubro de 2015 e um máximo de 570 €/ton na semana de 6 de agosto de 2012. O bagaço de colza registou o seu mínimo 160

TABELA 1 Sumário dos valores para cada matéria prima. MILHO

CEVADA

TRIGO

B.SOJA

B.COLZA

MIN

157

155

161

225

160

1º QU

174

170

180

310

220

180,5

190

198

370

250

230

218

225

420

290

MEDIANA 3º QU MAX MÉDIA

285

300

300

570

400

199,2

198,5

206,2

370,2

256,3


ECONOMIA

PREÇOS DAS MATÉRIAS PRIMAS

BOXPLOT REPRESENTATIVO

ENTRE MARÇO DE 2011 E OUTUBRO DE 2017

DOS VALORES PARA CADA MATÉRIA PRIMA FIGURA 2

FIGURA 1 €/ton

€/ton

600.00

600.00

500.00 500.00

400.00 300.00

400.00

200.00 100.00

300.00 28/09/2017

28/03/2017

28/09/2016

28/03/2016

28/09/2015

128/03/2015

28/09/2014

28/03/2014

28/09/2013l

28/03/2013

28/09/2012

28/03/2012

28/09/2011

28/03/2011

0.00 200.00

100.00

Milho

Cevada

Trigo

Bag. Soja 44

Bag. Colza 0.00

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Reis, Elizabeth, Estatística Descritiva (2003, 5ª edição), Ed. Sílabo Coghlan, Avril. A Little book of R for Time Series.2017. Acedido em Dezembro, 1, 2017 disponível em: https://media.readthedocs.org/pdf/a-little-book-of-rfor-time-series/latest/a-little-book-of-r-for-time-series.pdf

Milho

Cevada

Trigo

B. Soja

B. Colza

As linhas verticais dizem respeito ao intervalo de valores entre o valor mínimo e o valor máximo, o intervalo a cor-de-laranja representa o intervalo de valores entre o primeiro quartil e a mediana, e o intervalo a cinzento representa o intervalo de valores entre a mediana e o terceiro quartil.

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RUMINANTES JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 43


ECONOMIA

PREÇOS DOS CEREAIS

PREÇOS DA PROTEÍNA

ENTRE MARÇO DE 2011 E OUTUBRO DE 2017

ENTRE MARÇO DE 2011 E OUTUBRO DE 2017

Verificou-se um decréscimo do preço dos cereais em 2013. Este valor reflete provavelmente uma reposição de stocks depois de anos de seca e más colheitas.

Relativamente às matérias primas proteicas soja e colza verifica-se, após um aumento dos preços no ano de 2012 para ambas as matérias primas, uma tendência decrescente do preço da soja nos anos 2014/2015 possivelmente relacionado com um forte de aumento da produção nos EUA.

FIGURA 3

FIGURA 4

€/ton

€/ton

350.00

600.00

00.00

500.00

250.00

400.00

200.00

300.00

150.00

Cevada

Trigo

Bag. Soja 44

28/09/2017

28/03/2017

28/09/2016

28/03/2016

28/09/2015

128/03/2015

28/09/2014

28/03/2014

28/09/2013l

28/03/2013

28/03/2012

28/03/2011

28/09/2017

28/03/2017

28/09/2016

28/03/2016

28/09/2015

128/03/2015

28/09/2014

28/03/2014

28/09/2013l

28/03/2013

28/09/2011

Milho

28/09/2012

0.00 28/03/2012

100.00

0.00 28/03/2011

50.00

28/09/2011

100.00

28/09/2012

200.00

Bag. Colza

TENDÊNCIA E SAZONALIDADE Após agregação dos valores semanais em valores mensais médios procedeu-se ao estudo da tendência e sazonalidade2 (tabela 2 e figura 5) para cada uma das matérias primas cujos resultados descrevemos mais à frente neste artigo, com exceção do bagaço de colza devido à ausência de dados em semanas em que não esteve disponível no mercado português. 2

Tendência obtida pelo método das médias móveis.

INDÍCE DE SAZONALIDADE FIGURA 5

jan

-4,23

7,53

4,94

-22,95

fev

-4,07

0,44

0,35

-15,56

mar

1,82

0,46

0,25

-6,90

abr

4,18

2,63

5,15

0,07

30.00

mai

5,48

2,61

3,82

15,27

20.00

jun

8,77

1,43

6,89

15,05

10.00

jul

10,45

0,99

-3,96

23,57

ago

2,94

-11,96

-16,82

33,01

€/ton 40.00

-20.00

nov

-4,39

1,41

5,60

-12,02

-30.00

dez

-3,40

9,84

9,60

-20,98

Milho

44 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES

Cevada

Trigo

Soja

dezembro

-12,57

novemnro

4,02

-1,36

outubro

-14,46

-4,91

setembro

-10,46

-8,31

agosto

-9,24

out

julho

set

junho

0.00 -10.00

maio

SOJA

abril

TRIGO

março

CEVADA

fevereiro

MILHO

ENTRE MARÇO DE 2011 E OUTUBRO DE 2017

janeiro

TABELA 2 Indíces de sazonalidade, em €/ton, relativamente à tendência.


ECONOMIA FIGURA 7 Preço do milho por ano.

MILHO

€/ton

FIGURA 6 Preço do milho e curva de tendência.

300.00

€/ton

250.00

300.00 200.00

250.00 200.00

150.00

150.00 100.00

100.00

50.00

Preço

Tendência

2013

2014

2015

dezembro

novembro

outubro

setembro

agosto

Julho

maio

abril

março

2012

junho

0 fevereiro

julho

setembro

novembro

maio

março

janeiro

novembro

julho

setembro

maio

março

janeiro

julho

novembro

maio

setembro

março

janeiro

novembro

julho

setembro

maio

março

janeiro

julho

novembro

maio

setembro

2017

2016

CEVADA

Milho Como anteriormente descrito verificou-se uma queda de preço durante o ano de 2013. No geral durante o período em análise os preços do milho revelaram uma tendência decrescente. Os preços do milho parecem atingir os valores mais altos nos meses de junho e julho e os valores mais baixos nos meses de setembro e outubro. Estas flutuações poderão estar relacionadas com o ciclo de produção. Em setembro começa a colheita no hemisfério Norte, além disso depois da aprovação pela União Europeia em 2012 do mir162, variedade geneticamente modificada, produzida no Brasil, este país começa também a exportar para a Europa a “Safrinha”, fruto da colheita de julho.

FIGURA 8 Preço da cevada e curva de tendência. €/ton 300.00 250.00 200.00 150.00 100.00 50.00 novembro

julho

setembro

maio

março

janeiro

novembro

julho

setembro

maio

março

janeiro

novembro

julho

setembro

maio

março

janeiro

novembro

julho

setembro

maio

março

janeiro

setembro

Preço

novembro

julho

maio

janeiro

0 março

março

janeiro

0

janeiro

50.00

Tendência

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RUMINANTES JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 45


ECONOMIA

FIGURA 9 Preço da cevada por ano.

Cevada

€/ton 300.00 250.00 200.00 150.00 100.00 50.00

2012

2013

2014

2015

2016

dezembro

novembro

outubro

setembro

agosto

Julho

junho

maio

abril

março

fevereiro

janeiro

0

2017

Também a cevada registou uma diminuição acentuada de preço durante o ano de 2013. Apresentou também uma tendência decrescente ao longo da série. Relativamente à sazonalidade verificase um aumento de preço nos meses de dezembro e janeiro e uma diminuição nos meses de agosto e setembro. Agosto/setembro é o período de maior disponibilidade e exportação de cevada. O excesso de produção que não cabe nos silos é vendido. Após este período começa a haver retenção no agricultor, diminuição da oferta particularmente em dezembro/ janeiro.

Soja

TRIGO

O bagaço de soja 44 embora também revele uma tendência decrescente ao longo da série teve um decréscimo mais acentuado nos preços a partir de 2014/2015 após um franco aumento no ano de 2012. Relativamente à sazonalidade os preços do bagaço de soja 44 tendem a ser mais elevados em julho e agosto e mais baixos nos meses de dezembro e janeiro, provavelmente devido à sobreposição de colheitas dos EUA (setembro a novembro) e hemisfério Sul (janeiro a maio).

FIGURA 10 Preço do trigo e curva de tendência. €/ton 300.00 250.00 200.00 150.00 100.00 50.00

Preço

novembro

julho

setembro

maio

março

janeiro

julho

setembro

novembro

maio

março

janeiro

setembro

novembro

julho

maio

março

janeiro

novembro

julho

maio

setembro

março

janeiro

novembro

julho

setembro

maio

março

janeiro

0

SOJA FIGURA 12 Preço da soja e curva de tendência.

Tendência

€/ton

FIGURA 11 Preço do trigo por ano.

600.00 500.00

€/ton

400.00

300.00

300.00 250.00

2012

2013

2014

2015

2016

dezembro

novembro

outubro

setembro

agosto

Julho

junho

maio

abril

março

fevereiro

Preço janeiro

0

2017

julho

novembro

maio

setembro

março

janeiro

novembro

julho

setembro

maio

março

janeiro

julho

novembro

maio

setembro

março

janeiro

novembro

julho

setembro

maio

março

janeiro

julho

50.00

novembro

maio

0

100.00

setembro

100.00

150.00

janeiro

200.00

março

200.00

Tendência

FIGURA 13 Preço da soja por ano. €/ton 600.00 500.00 400.00

46 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES

300.00 200.00

2012

2013

2014

2015

2016

dezembro

novembro

outubro

setembro

agosto

Julho

junho

maio

abril

0

março

100.00

fevereiro

O trigo comportou-se de forma semelhante à cevada registando uma diminuição acentuada de preço durante o ano de 2013 apresentando uma tendência decrescente ao longo da série. Relativamente à sazonalidade verifica-se um aumento de preço nos meses de novembro e dezembro e uma diminuição nos meses de agosto e setembro pelos motivos anteriormente descritos para a cevada.

janeiro

Trigo

2017



ECONOMIA

Observatório do Leite POR JOANA SILVA Fontes: AGRILAND, AGRIMONEY, AHDB, COMISSÃO EUROPEIA, FONTERRA, USDA

O novo ano está a começar, e é tempo de ver o que 2018 nos reserva no panorama leiteiro. O aumento do volume de produção a nível mundial, e consequente competição pela detenção de exportações, apontam para um início pautado pela instabilidade e com um ciclo de preços de tendência decrescente. Na Europa, espera-se que a produção dos EU28 aumente na ordem dos 1,4% em 2018. Depois de um ano sem precedentes no que toca ao fosso de preços entre a manteiga e o leite em pó desnatado, tudo aponta para que a produção de manteiga tenha uma margem de aumento de 3%, fruto dos maiores volumes de produção e de um maior teor de gordura do leite. Os stocks de leite em pó continuarão a ser um assunto delicado, mas as previsões indicam a possibilidade de colocação no mercado de cerca de 150 000 toneladas durante este ano. Enquanto assistimos à recuperação de nomes de peso como a França e a Alemanha, será também interessante ver como reage o mercado irlandês, cujos produtores sofreram na pele com os preços bastante inferiores que lhes foram pagos em 2017.

Nos Estados Unidos, a USDA prevê um aumento da produção interna na ordem dos 1,8% - ainda assim inferior às últimas previsões de 2017 acompanhado por reduções do preço do leite e derivados. A relação com o México, como se sabe, já viu melhores dias. Se, num passado recente, 90% das suas importações de leite em pó provinham dos Estados Unidos, o México encontrou na Europa e Canadá novos fornecedores, com as importações aos EUA caindo para valores abaixo dos 70%. Depois de um verão bastante chuvoso, e antecipando fortes volumes de exportação europeus, a Fonterra diminuiu o valor das previsões para 2018, as quais assentam agora nos 1540 milhões de sólidos de leite para a temporada que acaba a 31 de Maio. A previsão de crescimento é de 0,5%, acompanhada de um aumento do efetivo na ordem das 25 000 cabeças. Entre as prioridades de 2018 inclui-se o fortalecimento da relação comercial com a empresa alimentar chinesa Beingmate, da qual a cooperativa Neozelandesa possui aproximadamente 20% de quota. O preço previsto por quilo de sólidos de

48 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES

leite variará entre os 7,20 e 7,30 dólares na temporada 2017/2018, contrastando com o valor de 6,52 dólares da temporada anterior. Já na Austrália - e depois de dois anos difíceis - as boas condições climatéricas, juntamente com a melhoria dos preços do leite e a renovação do efetivo nacional, apontam para um crescimento de 2,2% da produção interna. Na China, prevê-se uma contração das importações de leite, em paralelo com um aumento da produção interna, fruto da modernização do setor em termos de genética e equipamentos. O aumento poderá chegar aos 2,8% - ultrapassando previsões anteriores - com consequentes valores de importação de leite em natureza na ordem das 520 000 toneladas, os mais baixos em três anos. No entanto, as importações de leite em pó terão margem de progresso, já que existe uma desconfiança geral dos consumidores devido a problemas prévios de segurança sanitária com produtos nacionais. A relação procura/ oferta deste gigante é vista como um dos fatores chave para o equilíbrio dos preços mundiais, e muitos serão decerto os olhos que seguirão o desenrolar destes acontecimentos.


ECONOMIA

PREÇO DO LEITE STANDARDIZADO (1) PAÍSES

LEITE À PRODUÇÃO PREÇOS MÉDIOS MENSAIS EM 2016/2017 MESES

COMPANHIA

PREÇO DO LEITE (€/100 KG) OUTUBRO 2017

MÉDIA DOS ULTIMOS 12 MESES (5)

ALEMANHA

Alois Müller

38,75

34,24

DINAMARCA

Arla Foods

37,17

33,96

Danone

35,64

33,93

Lactalis (Pays de la Loire)

34,22

32,93

Sodiaal

36,08

33,40

JANEIRO

Dairy Crest (Davidstow)

35,43

31,29

FEVEREIRO

Glanbia

34,84

33,29

MARÇO

Kerry

35,86

33,06

ABRIL

Granarolo (North)

40,71

39,01

?

?

40,61

35,89

Fonterra (3)

33,00

33,08

EUA

35,90

37,11

FRANÇA INGLATERRA IRLANDA ITÁLIA HOLANDA

DOC Cheese Friesland Campina

PREÇO MÉDIO LEITE N. ZELÂNDIA EUA (4)

(2)

Fonte: LTO (1) Preços sem IVA pagos ao produtor; Preço do leite de diferentes empresas leiteiras para 4,2% de MG, 3,4% de teor proteico e CCS de 249,999/ml . (2) Média aritmética . (3) Baseado na previsão mais recente . (4) Reportado pela USDA . (5) Inclui o pagamento suplementar mais recente

2016

2017

EUR/KG

TEOR PROTEICO (%)

Contin.

Açores

Contin.

Açores

Contin.

OUTUBRO

0,276

0,269

3,78

3,88

3,25

3,27

NOVEMBRO

0,284

0,274

3,86

3,90

3,26

3,29

DEZEMBRO

0,298

0,282

3,81

3,85

3,26

3,27

0,288

0,272

3,90

3,78

3,26

3,23

0,288

0,272

3,85

3,71

3,23

3,23

0,293

0,275

3,76

3,67

3,21

3,25

0,292

0,273

3,60

3,69

3,23

3,22

Açores

3,18

MAIO

0,292

0,276

3,63

3,66

3,18

JUNHO

0,289

0,274

3,65

3,65

3,19

3,13

JULHO

0,309

0,275

3,69

3,68

3,23

3,12

AGOSTO

0,316

0,289

3,77

3,71

3,28

3,15

SETEMBRO

0,323

0,294

3,87

3,78

3,33

3,21

OUTUBRO

0,289

0,274

3,65

3,65

3,19

3,13

Fonte: SIMA Gabinete de Planeamento e Políticas

UM LEITE SELVAGEM Nos últimos tempos, muitos são os “leites” que têm inundado os mercados, procurando satisfazer a procura constante dos consumidores por um estilo de vida saudável. E, sabendo-se quão dinâmico é o sector, aponta-se agora para uma nova opção: leite de girafa. Sim, leu bem. E não é que já se

TEOR MÉDIO DE MATÉRIA GORDA (%)

pensa nisso desde os anos sessenta? Verdade. Estudos levados a cabo nessa década mostraram que o leite destes gigantes da savana possui propriedades nutricionais bastante interessantes, entre as quais se contam altos níveis de vitaminas A, B3 e B12, bem como um teor de gordura que atinge os 12,5%.

Este elevado teor de gordura – quem sabe economicamente interessante à luz da conjuntura atual – poderá também ser benéfico para a saúde dos consumidores. Recentemente, estudos realizados com leite de camela (de teor butiroso semelhante ao da girafa) concluíram que esta gordura pode contribuir para uma diminuição do risco de desenvolvimento de diabetes. Mas se os benefícios são tão abundantes, porque é que ainda não se ordenham girafas? O problema mais óbvio é o seu enorme tamanho, o que dificulta não só o acesso aos tetos mas também implica um grande esforço físico por parte do ordenhador. Além disso, as girafas foram recentemente adicionadas à lista de espécies em perigo de extinção, com uma diminuição da sua população na ordem dos 38% nos últimos 31 anos. Outra questão que se levanta é a do sabor, apesar de existirem poucos relatos acerca desse assunto. Bem, quem sabe se não é um gosto adquirido e no futuro deixaremos de lado as vacas em detrimento do lado mais selvagem da produção leiteira.

RUMINANTES JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 49


ECONOMIA

Índice VL e Índice VL-ERVA “LIGEIRA MELHORIA PARA OS PRODUTORES DE LEITE EM PORTUGAL” POR ANTÓNIO MOITINHO RODRIGUES, DOCENTE/INVESTIGADOR, ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA DO INSTITUTO POLITÉCNICO DE CASTELO BRANCO CARLOS VOUZELA, DOCENTE/INVESTIGADOR, DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DA UNIVERSIDADE DOS AÇORES/IITAA NUNO MARQUES, REVISTA RUMINANTES

Analisamos neste número da Ruminantes os Índices VL e VL - ERVA para o período de agosto a outubro de 2017. De acordo com os dados do SIMA-GPP (2017), durante o trimestre em análise, o preço médio do leite pago aos produtores individuais do continente variou entre 0,309 €/kg em agosto e 0,323 €/kg em outubro enquanto que na Região Autónoma dos Açores o preço médio do leite pago aos produtores individuais variou entre 0,275 €/kg em agosto e 0,294 €/kg em outubro. De acordo com dados do MMO (2017), o preço médio do leite pago ao produtor no período de agosto a outubro de 2017 foi mais uma vez muito inferior em Portugal (0,305 €/kg) quando comparado com a média da UE28 (0,366 €/kg). Com exceção do bagaço de

girassol, relativamente ao trimestre anterior, os preços médios das matérias-primas que entraram na formulação dos alimentos compostos, utilizados neste trabalho, sofreram uma redução. Destacam-se o bagaço de colza (-5,9%) e o milho grão (-3,7%). Esta evolução provocou uma redução no preço da alimentação da vaca leiteira tipo que diminuiu 1,1%, embora o preço da palha de cevada tenha aumentado. Na Região Autónoma dos Açores o preço do alimento composto diminuiu (-1,9%). No entanto, como o regime alimentar da vaca tipo inclui menor consumo de pastagem a partir de setembro e maior consumo de alimento composto e de alimentos conservados, verificou-se o aumento de 5,7% no custo total do regime alimentar, por comparação com o trimestre anterior.

EVOLUÇÃO DO ÍNDICE VL e ÍNDICE VL-ERVA DE OUTUBRO DE 2016 A OUTUBRO DE 2017 Os valores são influenciados pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor individual do continente (Índice VL) e da Região Autónoma dos Açores (Índice VL - ERVA) e pelas variações mensais dos preços de 5 matérias-primas utilizadas na formulação do concentrado e pelo preço dos outros alimentos que integram o regime alimentar da vaca leiteira tipo.

Últimos 13 Meses 2016

2017

Índice VL

Índice VL ERVA

OUTUBRO

1,542

1,693

NOVEMBRO

1,564

1,707

DEZEMBRO

1,621

1,740

JANEIRO

1,546

1,663

FEVEREIRO

1,542

1,658

MARÇO

1,606

1,706

ABRIL

1,643

2,003

MAIO

1,660

2,024

JUNHO

1,664

2,053

JULHO

1,635

2,034

AGOSTO

1,791

2,073

SETEMBRO

1,836

2,185

OUTUBRO

1,817

1,814

EVOLUÇÃO DO ÍNDICE VL

O Índice VL é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor no continente e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que constituem o regime alimentar da vaca leiteira tipo (concentrado 9,5 kg/ dia; silagem de milho 33 kg/dia; palha de cevada 2 kg/dia).

2,0

Valores do Índice VL

DE JULHO DE 2012 A OUTUBRO DE 2017

1,5

1,0 julho 2012

Valor do Índice VL Negócio saudável

50 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES

outubro 2017

Limiar de rentabilidade Forte ameaça para a rentabilidade da exploração


ECONOMIA

EVOLUÇÃO DO ÍNDICE VL-ERVA

O Índice VL – ERVA é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor na Região Autónoma dos Açores e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que constituem o regime alimentar da vaca leiteira tipo (primavera/verão 60 kg/dia de pastagem verde, 10 kg/dia de silagem de erva e de milho, 5,6 kg/dia de concentrado; outono/inverno 47 kg/dia de pastagem verde, 13,3 kg/dia de silagem de erva e de milho, 6,7 kg/dia de concentrado).

3,0

Valores do Índice VL Erva

DE JULHO DE 2013 A OUTUBRO DE 2017

2,0

A evolução do preço do leite e dos custos da alimentação refletiu-se no Índice VL e no Índice VL - ERVA que em outubro de 2017 foi, respetivamente, de 1,817 e de 1,814. De referir que em outubro de 2016 o Índice VL havia sido de 1,542 e o Índice VL - ERVA de 1,693. Um índice inferior a 1,5 (valor muito baixo) indica forte ameaça para a rentabilidade da exploração leiteira; um índice entre 1,5 e 2,0 (valor moderado) indica que a produção de leite é um negócio economicamente viável; um índice maior do que 2,0 (valor elevado) indica que estamos perante uma situação muito favorável para o sucesso económico da exploração (Schröer-Merker et al., 2012). Durante o trimestre em análise, o Índice VL atingiu o valor mínimo de 1,791 e o Índice VL-Erva o valor mínimo 1,814 pelo que se pode concluir que os produtores de leite do continente e dos Açores se encontram agora num momento mais favorável do que há um ano atrás. É importante referir que o Índice VL-ERVA reflete a realidade da produção de leite mais favorável da ilha de S. Miguel que produz cerca de 60% do total de leite dos Açores.

1,5

1,0 julho 2013

outubro 2017

Valor do Índice VL - erva Negócio saudável

Limiar de rentabilidade

Forte ameaça para a rentabilidade da exploração

NOTAS: Comparando com o mês de outubro de 2016, o preço do leite pago aos produtores do continente em outubro de 2017 foi superior em 5 cêntimos/kg e o valor pago aos produtores dos Açores foi superior em 3 cêntimos/kg; Durante o trimestre houve uma redução do preço das principais matérias-primas que entram na formulação dos alimentos compostos. Esta evolução contribuiu para reduzir os preços não só do alimento composto como também do regime alimentar formulado para o cálculo do Índice VL; Embora o preço do alimento composto formulado também tenha baixado nos Açores, o preço da alimentação para calcular o Índice VL – ERVA aumentou entre agosto e outubro. Esta situação deve-se ao aumento do consumo de alimentos forrageiros conservados em consequência do menor consumo de pastagem fresca que ocorre a partir de setembro; No trimestre em análise os preços dos alimentos forrageiros utilizados na formulação do regime alimentar não apresentaram diferenças representativas relativamente ao trimestre anterior com exceção da palha de cevada cujo preço aumentou relativamente ao ano anterior; As três considerações anteriores refletem-se no Índice VL e no Índice VL - ERVA que em outubro de 2017 foram, respetivamente, de 1,817 e 1,814. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: MMO (2017). European milk market observatory – EU historical prices. http://ec.europa.eu/agriculture/ milk-market-observatory/index_en.htm acesso em 27-12-2017. Schröer-Merker, E; Wesseling, K; Nasrollahzadeh, M (2012). Monitoring milk:feed price ratio 1996-2011. In: Chapter 2 – Global monitoring dairy economic indicators 1996-2011, IFCN Dairy Report 2012, Torsten Hemme editor, p 52-53. Published by IFCN Dairy Research Center, Schauenburgerstrate, Germany. SIMA-GPP (2017). Leite à produção - Preços Médios Mensais. Sistema de Informação de Mercados Agrícolas, Gabinete de Planeamento e Políticas. http://www.gpp.pt/index.php/sima/precos-deprodutos-agricolas acesso em 27-12-2017.

RUMINANTES JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 51


ALIMENTAÇÃO

LUÍS RAPOSO ENGENHEIRO ZOOTÉCNICO, DEPARTAMENTO RUMINANTES NA REAGRO l.raposo@reagro.pt

Início de lactação:

como melhorar a produtividade em vacas leiteiras? A melhoria da produtividade é naturalmente um objetivo comum à grande maioria dos produtores de leite. Por esse motivo, a alimentação de vacas leiteiras no início da lactação tem sido uma das áreas prioritárias de pesquisas.

FISIOLOGIA DAS VACAS LEITEIRAS EM TORNO DO PARTO Antes do parto, é importante e aconselhável gerir um período de preparação da vaca para habituação da sua flora ruminal. O objetivo é proporcionar um período de três semanas (mínimo) para transição de uma flora celulolítica (típica de uma dieta à base de altos níveis de fibra) para uma flora amilolítica (típica de uma dieta rica em energia e níveis mais altos de amido). Se a transição for muito abrupta podem ocorrer doenças metabólicas como acidose ou cetose. O stress fisiológico a que estes animais são sujeitos no final da gestação é enorme e são muitas as mudanças

hormonais que ocorrem na vaca com vista à preparação do parto. Sendo este um período stressante para a vaca, verificam-se enormes variações da sua imunidade, que é intensamente afetada/ mobilizada. Analisando a figura 1, que é demonstrativa

A atenção dada à condição corporal das vacas gestantes permitirá que estas cheguem ao parto numa condição corporal mais adequada, uma vez que vacas parindo muito magras ou muito gordas têm muito maior probabilidade de ter problemas no parto e no início da lactação (figura 2). Se não existir um maneio adequado os prejuízos serão significativos, não só pelos graves problemas que poderão comprometer a saúde das vacas, como pela quebra na produção de leite. Na fase em torno do parto, a capacidade de ingestão de matéria seca por parte da vaca ainda gestante vai

FIGURA 1 Variação dos níveis de Vitamina E (α-tocoferol) no sangue nos dias anteriores e posteriores ao parto (Weiss et al, 1990). 3.5

3.0

Parto

disto mesmo, verificamos uma redução substancial dos níveis de vitamina E na fase em torno do parto. Esta variação ocorre como resposta ao stress oxidativo. Esta variação é ainda afetada em função da condição corporal da vaca, sendo que a perda de condição poderá levar a um esgotamento da imunidade global.

α - tocoferol μg/ml

alguns dos diferentes elementos que contribuem para alcançar uma maior produtividade. 1- A produtividade não está ligada ao tamanho do rebanho 2- Explorações com maior produtividade têm menos primíparas 3- Explorações com maior produtividade têm geralmente um menor número de dias em leite (DIM) 4- Rebanhos mais produtivos têm a produção mais alta durante o início da lactação (0 a 100 dias no leite)

2.5

2.0 1.5 1.0 -60 -50 -40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70

Dias em relação ao parto

FIGURA 2 Impacto da condição corporal na resposta ao stress oxidativo. Metabolitos reativos ao oxigénio plasmático em torno do parto. Metabolitos reativos ao oxigénio plasmático

Esta fase é caracterizada por grandes mudanças nas necessidades nutricionais da vaca, sendo necessário conhecer as alterações no metabolismo do animal para garantir uma resposta adequada às suas exigências nutricionais. Além da importância económica, a alimentação de vacas leiteiras no início da lactação é de grande importância por influenciar diretamente o desempenho produtivo dos animais. Analisando os dados da tabela 1 podemos entender

160 150 140 130 120 110 100

CC<2.5

2.6<CC<3

3<CC

Antes Parto Depois Parto Fonte: Bernabucci, 2005

TABELA 1 Dados sobre diferentes níveis de produtividade. PL (kg/VL/j)

Nº DE EXPLORAÇÕES

PL (kg/VL/j)

Nº VL (Nº DE VACAS LEITEIRAS)

% primipares

DIAS DE LEITE (DIM)

PL primi <100J

PL multi <100J

15 à 19

22

17,6

49,6

32

154

18,7

22,5

20 à 24

107

22,6

61,3

34

179

22,5

29,3

25 à 29

287

27,1

71,4

36

184

26,5

35,1

30 à 34

151

31,1

81,6

38

176

29,6

39,9

>=35

11

37,2

72,9

30

161

36,0

44,2 Fonte: Techna

52 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES


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um parceiro


ALIMENTAÇÃO

Ingestão MS, kg/d

20 6 2 8 Novilhas

4 0 -24

VL -18

-12

-6

0

6

12

18

24

Semanas em torno do parto Fonte: Invargtsen, 2000

sendo cada vez mais reduzida, provocando naturalmente redução no consumo de alimento. A capacidade de ingestão volta a aumentar após o parto, sendo esse aumento mais ou menos contínuo até ao 3º mês de lactação. A figura 3 ilustra essa evolução ao longo dos meses finais de gestação e início de lactação. É notório que no caso das novilhas o comportamento da curva é semelhante, sendo naturalmente a capacidade de ingestão mais reduzida. É importante lembrar que as necessidades das vacas agora lactantes vão aumentando mais rapidamente do que a capacidade de ingestão de matéria seca. Isso impõe grandes dificuldades na medida em que as vacas não conseguem consumir o que necessitam para fazer face às suas necessidades. Em função desta assincronia, entre a necessidade e a disponibilidade de nutrientes, as vacas são submetidas a períodos de balanço negativo, principalmente em energia, proteína e minerais. Como resposta a esse estado, principalmente o balanço energético negativo (BEN), ocorrem no organismo

NUTRIÇÃO Sendo o objetivo do produtor maximizar a produção de leite, a otimização da dieta e a utilização de novas tecnologias levarão a vaca a expressar o máximo do seu potencial genético. De forma a otimizar o desempenho das vacas e contrariando os efeitos nefastos do balanço negativo referido anteriormente e típico desta fase crítica e exigente, o recurso a alimentos concentrados é uma boa forma de melhorar em simultâneo o aporte quantitativo e qualitativo de nutrientes na dieta. Especialmente no início da lactação, onde é importante desenhar uma dieta específica com alto nível de energia e de proteína,

TABELA 3 Efeito do nível energético na performance e no metabolismo energético em início da lactação. BAIXA ENERGIA

ALTA ENERGIA

PL (kg)

36,9

38,5

TB (g/kg)

35,8

35,9

TP (g/kg)

31,5

30,7

Glucose plasma (mg/dl)

45,9

49,2

BHB plasma (mg/dl)

6,3

4,1 Fonte: Robelo et al, 2003, 2005

pode-se incluir também a utilização de diversos aditivos complementares. O desafio é conseguir fornecer energia e proteína suficientes para promover a produção de leite quando a capacidade de ingestão é limitada. A tabela 3 mostra uma maior produtividade (PL kg) quando os níveis de energia fornecidos na dieta são mais elevados. Por outro lado, os valores mais elevados de BHB (beta-hydroxy butirato), presentes no plasma do grupo de animais com mais baixa produtividade (baixa energia), indica que a dieta é insuficiente em energia. Na figura 4, verifica-se o efeito positivo do nível energético da dieta na ingestão das vacas em início de lactação. Mais energia traduz-se em maior ingestão. O objetivo de fornecer energia é melhorar a capacidade de ingestão, promover fermentações, limitar a perda de peso e manter a condição corporal em valores ideais.

Da mesma forma, elevados níveis de ingestão refletem-se em melhores produtividades (figura 5). Sobre o amido, é importante ter presente que é uma fonte de energia utilizável para aumentar a produtividade e estimular a ingestão de matéria seca. À semelhança do que se verificou na tabela 3, a figura 6 mostra-nos que, mais uma vez, a dieta

FIGURA 4 Efeito do nível energético na ingestão no início de lactação. 22

Ingestão (kg MS)

FIGURA 3 Variação da capacidade de ingestão em torno do parto - Novilhas e vacas com mais de um parto (VL).

da vaca uma série de adaptações fisiológicas que consistem num ajuste do uso e conservação das reservas corporais. O balanço energético precisará de tempo para ser positivo (tabela 2). O objetivo é que esse período seja o mais curto possível. De forma a gerar energia as vacas mobilizam as suas reservas adiposas e a gordura armazenada passa a ser utilizada como fonte de energia. Quanto mais intenso for o défice energético maior a necessidade de mobilizar reservas. Dependendo da magnitude dessa mobilização, a vaca pode ter dificuldades para metabolizar a gordura e podem ocorrer alguns distúrbios metabólicos importantes. No entanto, o correto balanceamento da dieta pode ser a solução.

20,8 20,3

20 18 16,5 16

15,4

14 12 10

d 1-20

d 1-70

Dias de lactação Baixa energia Alta energia Fonte: Robelo et al, 2003, 2005

FIGURA 5 Evolução da ingestão nos primeiros dias de lactação, considerando diferentes níveis de produção (multípara com 700kg).

30

PERÍODO COM MÁXIMAS NECESSÍDADES DE ENERGIA

PERÍODO DE BEN MÁXIMO

PERÍODO ATÉ O BALANÇO ENERGÉTICO FICAR POSITIVO

Primíparas

7ª semana

4,8 dias

56,2 dias

2ª Lactação

5ª semana

5,4 dias

85,3 dias

Multíparas

6ª semana

2,5 dias

85,4 dias

MS (kg)

25

TABELA 2 Variação do balanço energético entre primíparas e multíparas

20 158 Pico 35 kg

10

Pico 45 kg

5 0

Pico 55 kg 1

15

29

43

57

71

85

Dias de lactação Fonte: D’après NRC, 2001

54 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES


ALIMENTAÇÃO

FIGURA 6 Efeito do nível de amido da ração no BHB.

BHB (mg/dl)

15 14

Alto amido

13

Baixo amido

12 11 10 9 8 7 6

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Semanas de lactação Fonte: McCarthy et al, 2015

TABELA 4 Recomendações para o aporte em energia e proteína. UFL

PB (%)

0,95

1,00

1,05

NÍVEL PB BAIXO

NÍVEL PB ALTO

NÍVEL PB BAIXO

NÍVEL PB ALTO

NÍVEL PB BAIXO

NÍVEL PB ALTO

15,5

17

16,5

18

17,5

18,5

com baixo nível de amido é aquela onde se verifica um pico nos níveis de BHB (betahydroxy butirato). Este pico coincide com as três primeiras semanas de lactação e indica que a dieta é insuficiente em energia nesta fase tão exigente. No que toca ao aporte proteico da dieta, é importante equilibrar a ingestão de proteína (PB) com o nível de energia (UFL). O aumento da proteína deve estar diretamente relacionado com o aumento da energia (tabela 4). É importante controlar o risco de acidose utilizando fontes de celulose digestíveis, por exemplo a casca de soja ou polpa de beterraba sacarina. Sendo a fibra uma importante fonte de energia para ruminantes, é recomendável em vacas em início de lactação manter níveis ideais, com elevada digestibilidade e bons níveis de energia. Como recomendação, níveis de celulose bruta acima dos 16,5% por kg de matéria seca. Depois disso, é possível ainda melhorar o nível de energia (UFL/Kg MS) através da gordura bruta. Controlando a

capacidade de ingestão de ácidos gordos insaturados, são preferíveis as gorduras saturadas ou hidrogenadas. Como recomendação, um máximo de 5% de gordura por kg de matéria seca.

CONCLUSÃO Pelo exposto até agora, fica evidente a importância do impacto de todos estes elementos na saúde das vacas e no seu desempenho no início da lactação. A origem de muitos problemas prende-se com a queda no consumo de alimentos, que ocorre logo antes do parto, e na necessidade de mobilizar reservas corporais. Logicamente, estas situações serão tão mais importantes quanto mais produtiva for a vaca. No entanto, independentemente do nível produtivo da vaca, é fundamental estar atento e minimizar problemas através da prevenção, isto é, adquirir práticas que estimulem o consumo de alimento e aumentem o aporte nutritivo.

RUMINANTES JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 55


Genética na Ilha de São Miguel

Um balanço de vinte e sete anos

Entrevista a João Vidal, Médico Veterinário, membro da Cooperativa União Agrícola de S. Miguel. POR RUMINANTES

Os açorianos sempre tiveram uma ligação muito forte com a produção bovina, sendo as vacas parte integrante da paisagem das belas ilhas. Hoje em dia uma referência na Europa e no mundo no que toca à produção de produtos diferenciados, também nos Açores a produção leiteira evoluiu, não só em termos de infraestruturas, volumes de produção e qualidade do leite, mas também no ramo da genética. João Vidal, Médico Veterinário, é membro da Cooperativa União Agrícola de S. Miguel há já vinte e sete anos e, entre outras coisas,

é responsável pela área da clínica, a qual conta com uma equipa de dezoito veterinários – doze clínicos, dois dedicados à reprodução e quatro à sanidade animal. É ainda responsável pela gestão da farmácia e aconselhamento dos produtores nesta área, bem como pelo centro de transferência de embriões e inseminação artificial (IA), do qual fazem parte nove técnicos. Nesta entrevista, João Vidal faz-nos um balanço da evolução do sector leiteiro nas últimas décadas, bem como dos desafios futuros com que os Açores se depararão no que toca ao melhoramento genético.

56 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES

Há vinte e sete anos, quando começou, como era o panorama nos Açores? Diria que estávamos no “oito” e hoje estamos quase no “oitenta”. As condições eram rudimentares, embora fossemos já uma região identificada como sendo produtora de leite de boa qualidade, mesmo a nível europeu. Claro que na altura as condições estavam longe do ideal, as explorações não tinham água ou luz e o leite era transportado a cavalo, por exemplo. A grande parte das explorações ordenhava as vacas manualmente, o leite era de menor qualidade, não se mediam parâmetros como a contagem de


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Para mais informações contacte-nos:

+351 917 534 617

Foto: Christine Massfeller

carlosserra@unigenes.com


GENÉTICA células somáticas e não havia muitos veterinários a campo. Tem dados acerca dos volumes de produção da altura? Na altura a produção média rondava os 4000 litros, neste momento está acima dos 8000, perto dos 9000, com explorações com mais de 12 000 litros de leite por vaca e lactação. Que opções foram tomadas na área da genética e melhoramento animal? Na altura já se fazia muita coisa - os Açores foram a porta de entrada dos ABS na Europa - e já se apostava na IA. A holsteinização era uma realidade e, como pretendíamos mecanizar a ordenha, a nossa primeira preocupação foi melhorar e uniformizar a conformação dos úberes, bem como aumentar os volumes de produção, parâmetros nos quais obtivemos resultados extraordinários. Passados cinco anos tentámos identificar outras áreas de melhoria, como os aprumos e problemas podais, e também no que toca a indicadores de qualidade de leite como a gordura e a proteína. A nossa aposta tem-se focado sempre na diversificação em termos genéticos, S. Miguel é uma das zonas do país que mais se dedica a essa área, e trabalhamos com as melhores empresas internacionais para irmos ao encontro das exigências da indústria. Quais são, para si, os indicadores económicos que devem ser analisados regularmente pelos produtores? Independentemente do apreço pelas vacas, nos Açores também se tem em conta a parte económica, e aquilo que se pretende é obter uma vaca que seja o mais rentável possível, ou seja, que produza bons volumes de leite de boa qualidade. Mas, acima de tudo, tem de ser uma vaca com boa saúde, premissa que tem estado subjacente às decisões que tomo em termos de melhoramento genético. Os caracteres de saúde são hoje uma prioridade do sector, e não é por acaso que são mais valorizados do que os associados à produção. Independentemente das raças utilizadas, temos de nos preocupar com a saúde e bem-estar dos animais. Não nos

OS CARACTERES DE SAÚDE SÃO HOJE UMA PRIORIDADE DO SECTOR

interessa ter vacas com produções diárias de setenta litros de leite cuja qualidade seja inferior. Isto é já uma preocupação de muitos produtores, alguns dos quais já quantificam outros parâmetros como a Kappa e beta caseína, importantes para o rendimento queijeiro. Como é que um produtor pode avaliar se os seus custos com a saúde animal são aceitáveis? Desde logo com o dinheiro que consegue poupar no final do ano, associado aos registos de todas as vezes que consulta o veterinário ou vem à farmácia comprar medicação. Infelizmente, há muitos produtores que não fazem contas nesta área. Há dois tipos de produtores, o verdadeiro empresário e aquele que não faz contas e apenas se deixa levar. Claro que fazendo contas identificamos muito mais precocemente as vacas não rentáveis, por exemplo as que têm mamites recorrentes ou baixas taxas de fertilidade. A cooperativa tem técnicos que ajudam os produtores nesta área? A nossa equipa de veterinários está sempre pronta a ajudar os produtores a melhorar as suas práticas de saúde e profilaxia, bem como no que toca à seleção genética. Alguns dos nossos técnicos fazem emparelhamento genético, mas infelizmente estes programas não se focam propriamente na parte de saúde animal, mas sim na consanguinidade e morfologia. Vê a consanguinidade na raça Holstein como um problema? E que opções existem para o contornar? Quando se introduziram raças exóticas nos Açores fomos alvo de críticas, apesar de estarmos apenas a criar alternativas para os produtores. Sou um apaixonado pela raça Holstein, mas reconheço que em certas explorações existem outras raças e cruzamentos que serão mais rentáveis. Como técnicos, devemos fornecer informação que auxilie as pessoas no processo de tomada de decisão. Sim, há problemas de consanguinidade na raça, mas hoje conseguimos ter bons reprodutores minimizando a consanguinidade, apesar de existir quem, por questões de diversas naturezas, apregoe estes problemas como algo inultrapassável. Os produtores de crossbreeding são muito consistentes a exaltar as vantagens do sistema. Isto faz-se nos Açores? Faz-se sim, e efetivamente as vacas são mais saudáveis, resistentes a nível

58 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES

SOU UM APAIXONADO PELA RAÇA HOLSTEIN, MAS RECONHEÇO QUE EM CERTAS EXPLORAÇÕES EXISTEM OUTRAS RAÇAS E CRUZAMENTOS QUE SERÃO MAIS RENTÁVEIS. podal e com resultados fantásticos a nível reprodutivo, com menos gastos a nível de fármacos. São animais que, apesar dos menores volumes de produção, têm uma maior vida útil. No entanto, tem existido um esforço paralelo por parte das empresas de sémen de raça pura Holstein em selecionar reprodutores com base em certas características, até porque existem produtores completamente fieis à raça, que recusam qualquer tipo de cruzamento. Há quem defenda que nos Açores a raça mais adequada seria a Jersey, dado o seu potencial para fabrico de queijo. Qual a sua opinião? A raça Jersey é interessante no que toca a certas características, são animais “leves” a nível de pastagem, preservando-a mais, e têm unhas resistentes. No entanto, são vacas com muitos problemas metabólicos, mais do que as Holstein, e possuem também maiores teores de células somáticas. Costumo dizer que há lugar para todos, sendo o mais importante a difusão e contextualização da informação. Muitos defensores dessa teoria são académicos que não trabalham no campo e não lidam com toda a complexidade da produção e performance dos animais no ambiente em que se encontram. Já temos explorações com vacas Jersey, das quais também gosto, mas não se pode apontar esta ou outra raça como “a melhor”, depende do que se pretende. E com a raça Montbeliarde, tem experiência? Sim, temos experiência mas apenas em cruzamentos com a raça Holstein. Mais uma vez, para os apaixonados pelas Holstein o cruzamento nem se coloca, mas alguns produtores mais empresariais reconhecem a sua rentabilidade, com melhores caracteres de saúde e baixa incidência de doenças metabólicas, o que se traduz numa curva de lactação mais estável. Os animais cruzados produzem vitelos de boa qualidade e quantidade da carne, muito semelhantes a raças de aptidão cárnica de referência.


GENÉTICA

IMAGEM 2 João Vidal, Médico Veterinário.

Até aqui, a IA tem sido o meio usado para melhoramento. Qual será o papel da transferência de embriões no futuro? Fazemos transferência de embriões há duas décadas, e já chegámos a constituir 80% do total de embriões produzidos a nível nacional. Não sei se no futuro a utilização desta técnica aumentará muito, isso estará dependente não só da especialização técnica mas também das características cíclicas do mercado: quando este é favorável esta técnica tende a ressurgir, reduzindo-se significativamente quando a economia piora. Os embriões utilizados são produzidos por nós, o que também permite reduzir os custos associados. Quanto à fertilização in vitro, esta também poderá vingar, teremos sempre de ter em conta a conjuntura do sector. E daqui a uma década, como vê a produção leiteira dos Açores? As mudanças de ano para ano são impressionantes: uma vaca que produz hoje cinquenta litros por dia poderá estar a produzir quase o dobro. As melhorias conferidas pela entrada da genómica e rapidez de seleção permitem esta evolução

à velocidade da luz e por isso, daqui a dez anos, acredito que as produções de hoje serão quase irrisórias. Claro que isto exigirá um esforço concomitante em termos de sanidade, nutrição e maneio. Será essa realidade compatível com o sistema de pastoreio açoriano? Pessoalmente, nunca fui a favor da estabulação permanente nos Açores, o nosso caminho é a diferenciação pela qualidade do ambiente e pastagem, não a

massificação. Se enveredarmos por esse caminho, o nosso leite passará a ser igual aos outros e perderemos a nossa identidade ligada à natureza. Claro que, quando se está num programa de melhoramento, este é para todos, estabulados ou em pastoreio, mas o resultado final dificilmente será o mesmo. Não creio que, no futuro, consigamos atingir valores de produção de explorações 100% intensivas, mas tenho a certeza que teremos suplantado os nossos valores atuais.

RUMINANTES JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 59


ALIMENTAÇÃO

Sistema alimentar dos Açores PROTEOMAX 100 Produto desenhado para melhorar a eficiência alimentar

Neste artigo iremos descrever as características dos programas alimentares mais comum nos Açores e as vantagens da utilização de um produto específico (Proteomax 100, granulado comercializado através da Cooperativa União Agrícola) e desenhado para complementar o programa alimentar, de forma a melhorar as performances produtivas e reprodutivas.

PEDRO CASTELO DIRETOR TÉCNICO ZOOPAN pedro.castelo@zoopan.com

ALEXANDRE REGO ENGº ZOOTÉCNICO NA ZOOPAN

GRÁFICO 1 Efetivo leiteiro (número de animais) nos últimos 15 anos (INE).

400000

Nº de Animais

350000 300000 250000 200000 150000 100000 50000 0

Portugal 1999 2009 2013

355731 278416 264795

Continente

Açores

256136 185645 175451

98668 92381 88955

Madeira 907 390 389

60 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES

Os Açores representam cerca de 30% do efetivo leiteiro de Portugal.

Existem cerca de 250 milhões de vacas leiteiras no planeta, das quais 24 milhões estão na União Europeia, cerca de 265 000 em Portugal e 89 000 nos Açores (INE). Através da observação do gráfico 1 e da afirmação feita anteriormente, podemos concluir que os Açores representam cerca de 30% do efetivo leiteiro de Portugal.

introdução de pastagem no arraçoamento dos animais em produção, poderão ocorrer distúrbios digestivos com repercussões negativas do ponto de vista zootécnico (reprodução, produção e qualidade do leite) e do ponto de vista sanitário (tetania da pastagem, infertilidade devido a doenças infeciosas, claudicação).

Devido às condições edafoclimáticas dos Açores, o sistema alimentar das vacas de leite em produção contém, frequentemente, pastagem. Aquando da utilização de pastagem, a alimentação das vacas de leite pode ser complementada com silagem de milho, fenosilagem ou silagem de erva, palha e alimento concentrado, sendo este último fornecido na sala de ordenha, juntamente com a forragem ou ambos. No momento de

Uma das características da erva jovem é o seu elevado teor em proteína (azoto solúvel) que é transformada no rúmen em amoníaco (NH3), tal como podemos observar na figura 1. A transformação do excesso de amoníaco em ureia (típica em vacas com acesso a erva jovem) é feita no fígado. Esta é posteriormente eliminada pela urina e leite. Um elevado teor de ureia no leite e, portanto no sangue, tem como consequência diminuir


E LL

•RÉP

•REP

ENT

Repellent

ULSIF

ANIMAIS SAUDAVEIS SEM AMONIACO SEM INSECTOS

Ruminantes Cama quente: 1 kg/vaca/semana Cubiculos: 100 a 150 g/vaca/dia Vitelos: 50 a 200g/vitelo/2 vezes por semana Novilhos: 200 a 300 g/m²/semana Ovelhas e cabras: 300g/cabeça/semana Salas de parto (ovelhas e vacas): 200 a 300 g/m² Cavalos: 100 a 150g/cavalo/dia ou 1 Kg/cavalo/semana


ALIMENTAÇÃO

FIGURA 1 Sistema da Proteína Digestível no Intestino Proteina Total

Proteina Microbiana = PDIM

Proteina By-pass = PDIA

Proteína Digestível NH3

Amino ácidos - Leite - TP

Energia

o pH do meio uterino, reduzindo a fertilidade (risco de mortalidade embrionária e retornos tardios ao cio, por exemplo). Além disso, o excesso de proteínas degradáveis no rúmen aumenta as necessidades em energia para transformar o amoníaco em ureia ao nível do fígado (são necessários 7,3 Kcal para converter 1g de NH3 via fígado, situação particularmente prejudicial em caso de balanço energético negativo), dando origem a problemas hepáticos e desperdício de azoto e energia. A outra característica da erva jovem é o seu perfil de minerais e oligoelementos que dá origem a desequilíbrios da relação em Na/K (sódio e potássio), défice de magnésio, défice de oligoelementos (zinco e cobre, notavelmente), carência em cálcio, claudicação, redução de apetite, entre outros. Deste modo, quando os animais são introduzidos na pastagem ou têm como base na sua alimentação erva verde, é imprescindível adaptar a alimentação dos animais à pastagem. As preocupações e expetativas a ter em consideração são (figura 2): 1) Valorização ótima da pastagem;

2) Prevenção de riscos patológicos (diarreias, tetania da pastagem…); 3) Boa fecundidade; 4) Manter ou melhorar a produção de leite e os teores butiroso e proteico. Assim, desenhámos um produto adaptado e já testado num sistema como é o caso dos Açores – PROTEOMAX 100 (granulado) com uma incorporação diária de 100 g/vaca/dia. Este produto é composto por magnésio, sal, oligoelementos (quelatos), óleos essenciais para reduzir a proteína degradável no rúmen para valores ideais, captores de amoníaco (yucca, entre outros), enxofre e cobalto.

O aporte complementar de magnésio e sal tem como objetivo equilibrar a relação Na/K e prevenir tetanias da pastagem. Uma vez que, vacas que têm como base alimentar a pastagem normalmente, apresentam carências de alguns oligoelementos (nomeadamente Zn e Cu), adicionámos minerais quelatados devido à sua maior biodisponibilidade (gráfico 2).

GRÁFICO 2 Biodisponibilidade de zinco em diferentes formas. Oxido de Zn Sulfatode Zn

Tetanias

Infertilidade

Claudicação

62 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES

PERFORMANCES ZOOTÉCNICAS

Teores (TB eTP)

227

Proteinate de Zn

A Yucca Schidigera é um produto 100% natural com uma ação antibacteriana seletiva que reduz as perturbações ruminais e o excesso de amoníaco ruminal. Este estrato vegetal é de grande interesse como aditivo na alimentação de bovinos, uma vez que inibe os protozoários do rúmen (Wallace et al.,1994; Cheeke, 2000; Teferedegne, 2000; Benchaar et al., 2007). Esta inibição leva a que as bactérias metanogénicas do rúmen diminuam (Hess et al., 2003a, 2004; Santoso et al., 2004), uma vez que cerca

Produção leiteira

206

Zn Quelate

Os óleos essenciais selecionados têm como objetivo reduzir a atividade proteolítica no rúmen, resultando numa redução significativa da produção de amoníaco (NH3) no rúmen e consequentemente mais proteína no intestino (proteína by-pass).

Reprodução

100

Metionate de Zn

FIGURA 2 Objetivos do Proteomax 100.

PREVENÇÃO SANITÁRIA

61

159 0

50

100

150

200

250

PROTEOMAX 100

Do ponto de vista ambiental, o metano éum gás com efeito de estufa. (INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE, 2007).

de 25% destas vivem em associação com protozoários (Newbold et al., 1997). Esta redução da metanogénese é benéfica porque dá origem a um aumento da eficiência energética da vaca (Johnson and Johnson,1995) reduzindo a produção de metano. Do ponto de vista ambiental, também é vantajoso visto que o metano é um gás com efeito de estufa (Intergovernmental Panel on Climate Change, 2007). Segundo Cottle et al. (2011), nos sistemas de produção de vacas leiteiras em pastagens, o nível de consumo, qualidade da forragem disponível e a digestibilidade da massa ingerida, são fatores determinantes para a produção de metano entérico pelos animais e variam conforme a espécie forrageira, o sistema de maneio adotado e a estação do ano. Técnicas nutricionais como o uso de ionóforos, glicerol, tanino, saponinas, óleos, gorduras, vacinas, anticorpos policlonais,


ALIMENTAÇÃO

GRÁFICO 3 Percentagem de azoto não amoniacal no rúmen.

45

35

% Azoto soluvel não amoniacal no rúmen (=by-pass) (pH=7)

x2

25%

15% Testemunha

Yucca

Quillaya

técnicas de maneio de pastagens, melhoramento genético e sistemas eficientes de produção,

têm sido utilizados para manipular o rúmen e reduzir a emissão do gás (MOHAMMED et al., 2004). Além da fonte de saponina obtida através da Yucca Schidigera, o Proteomax 100 é composto por mais 4 saponinas suplementares de forma a: aumentar a eficiência da captação de amoníaco ruminal excedentário; reduzir o teor de ureia no sangue e no leite; melhorar a taxa de sucesso da primeira inseminação e reduzir o número de abortos (gráfico 3). O enxofre tem como papel favorecer a proteosíntese microbiana (gráfico 4). O cobalto como fator de

GRÁFICO 4 Efeitos do aporte de enxofre sobre a atividade do rúmen. 45 100

100

Estes minerais ajudam a otimizar o funcionamento do rúmen na presença de excesso de proteína solúvel. como é o caso de sistemas alimentares compostos por erva jovem.

35

CONCLUSÕES

80 25%

72

15%

Proteosíntese Microbiana Teste

Digestibilidade Fibra

Carência em enxofre

crescimento e de equilíbrio dos microrganismos do rúmen, além de ser um percursor da vitamina B12.

Apresentamos um produto que tornará um programa alimentar mais eficiente aquando da utilização da pastagem, aliviando a atividade hepática, contribuindo para um bom equilíbrio ruminal e para a otimização das performances zootécnicas (reprodução, produção leiteira e qualidade do leite).

MENOS RESÍDUOS E UMA FONTE EXTRA DE PROTEÍNA Um grupo de investigadores irlandeses está a desenvolver um projeto que visa produzir lentilhade-água, para ser utilizada na alimentação de vacas leiteiras, a partir do reaproveitamento de nutrientes existentes nas águas residuais provenientes das explorações. Um dos principais objetivos, caso sejam bemsucedidos, será a diminuição das importações de soja como constituinte proteico do arraçoamento. O projeto, o qual é financiado pela Agência Irlandesa de Proteção do Ambiente (EPA), deverá estender-se pelos próximos quatro anos, e arrancou devido à cessação do regime de quotas e ao grande aumento da produção leiteira nacional desde 2015. Os maiores volumes de produção sob processamento, em paralelo com as exigências por parte da indústria no que toca a emissões poluentes e maior eficiência, têm levado ao desenvolvimento de várias linhas de investigação no sector leiteiro. De facto, ao olharmos para o processamento do leite, cada litro produzido equivale a dois ou três litros de águas residuais, cujo

tratamento se traduz em pesados custos. Com isto em mente, foi então reunida uma equipa de peritos que inclui engenheiros, microbiologistas e botânicos. A primeira fase do processo de reaproveitamento será o tratamento das águas residuais através de uma fermentação acética para produzir bioplásticos, removendo-se assim os ácidos gordos e deixando a mistura com a composição nutricional ideal para o crescimento da lentilha-de-água, a qual possui um perfil de aminoácidos bastante semelhante ao da soja. Além disso, é uma planta facilmente adaptável a diferentes ambientes e de crescimento fácil. De acordo com o Professor Marcel Jansen, líder do projeto, e apesar das melhorias que parecem estar a fazer-se sentir na produção nacional, um dos fatores chave para o equilíbrio da balança lucro/perda de muitos produtores prende-se com a quantidade de soja que estes terão de comprar a cada inverno. Por isso, ao oferecerlhes uma alternativa nacional de proteína, poder-se-á estar a aumentar a rentabilidade dos seus negócios.

#CLUBHECTARE O sentimento de isolamento e de perda do sentido de comunidade é transversal a muitas zonas rurais, onde o número de pessoas a trabalhar no campo vem diminuindo a cada ano que passa. Partilhando desse sentimento, Chris Hewis, um agricultor britânico do condado de Lincolnshire, teve um dia a ideia de utilizar as redes sociais para conseguir a companhia de outros agricultores que se quisessem juntar para partilhar uma refeição. Dessa iniciativa, que resultou num almoço onde se juntaram 13 pessoas, e que se foi repetindo nasceu uns anos mais tarde, em 2013, o #clubhectare, um clube que agrega várias pessoas ligadas ao mundo rural do Reino Unido, de diversas áreas da agricultura e produção animal mas também à investigação, à indústria e ao sector do investimento. Atualmente, este clube mantém uma forte atividade online, onde se discutem todos os assuntos relacionados com a agricultura, mas também offline promovendo regularmente encontros sociais. O #clubhectare foi recentemente relançado como um clube que prima por ser “exclusivo mas também inclusivo”, com um comité que garante uma experiência de qualidade para todos os seus membros. O seu objetivo principal é promover a agricultura no Reino Unido, dando uma voz à indústria de alimentos e agrícola, bem como as ligações entre os membros e a comunidade em geral. PARA MAIS INFORMAÇÕES www.clubhectare.com

RUMINANTES JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 63


FORRAGENS

Entrega de prémios Concurso Nacional de Forragens CNF CNF2017 2017 POR RUMINANTES

Todos os parâmetros de qualidade nutricional da forragem aumentaram nos últimos 3 anos, à exceção do pH e do teor em cinzas. Esta é a principal conclusão relativa à evolução da qualidade das silagens de erva desde que, em 2015, a Revista Ruminantes lançou o Concurso Nacional de Forragens (CNF).

O balanço da evolução da qualidade das silagens de erva que foram a concurso nas três edições anuais do CNF, foi apresentado na edição anterior da Ruminantes (Evolução do valor nutritivo das forragens apresentadas a concurso). Entre as diversas considerações acerca desta nossa iniciativa, que pretendemos continuar a desenvolver, destacou-se uma conclusão bastante positiva: excluindo o pH e o teor em cinzas, que aumentaram entre 2015 e 2017, todos os outros parâmetros têm tido uma evolução favorável, de ano para ano, no sentido do aumento da qualidade nutricional da forragem. Mas há ainda muito por fazer. Os vários intervenientes no CNF concordam que há que continuar a trabalhar na melhoria da qualidade das silagens de erva, tendo em vista a sustentabilidade ambiental e económica das explorações pecuárias nacionais. Na última edição do concurso, a entrega dos prémios aos vencedores do CNF 2017 foi efetuada em moldes diferentes

dos anos anteriores. A Revista Ruminantes e os patrocinadores do concurso visitaram as explorações dos premiados onde decorreu a entrega dos prémios. Na ocasião, registámos o testemunho de cada vencedor acerca do processo de produção da silagem, as dificuldades encontradas e as oportunidades para a melhoria futura da qualidade da silagem produzida. Tendo por objetivo continuar a desenvolver o Concurso Nacional de Forragens, e continuando com o mesmo propósito inicial de “encorajar os agricultores nacionais a

produzir melhores forragens e contribuir, desta forma, para que a sustentabilidade ambiental e económica das explorações pecuárias em Portugal possa aumentar”, este ano introduziremos no CNF uma nova categoria de forragem — a silagem de luzerna —, e um novo regulamento. Nos próximos números da Ruminantes voltaremos a este tema. A Revista Ruminantes agradece a todos os participantes e aos parceiros do CNF 2017 – as empresas KUHN; LALLEMAND e LUSOSEM.

TESTEMUNHOS DOS PREMIADOS 1º Classificado LÁZARO CORDEIRO Participante pela primeira vez no concurso. Área da exploração: 20 hectares, toda para silagem de milho e erva em rolos. Localização: Arrifes, S. Miguel Efetivo: 55 animais dos quais 35 são vacas em produção e 10 são novilhas, permanentemente a campo. Produção média: 31 litros leite por vaca e dia (8600 litros em 305 dias).

CLASSIFICAÇÃO DO CONCURSO NACIONAL DE FORRAGEM 2017 CATEGORIA - SILAGEM DE ERVA Prémio

Matéria Seca

pH (25ºC)

Cinzas Proteína Bruta

1

33,8

4,56

2

43,1

4,68

13,3

23,41

60,1

3

39,7

4,47

12,4

21,00

63,7

12,4

24,67

Proteína Azoto Fibra NeutroSolúvel Amoniacal Detergente (NDF) 56,5

Fibra ÁcidoDetergente (ADF)

Digestibilidade Matéria Orgânica

ENL

Unidades Forrageiras Leite (UFL)

Unidades Forrageiras Carne (UFC)

PDIE

PDIN

39,1

24,8

81,1

1,66

0,97

0,92

9,50

15,19

9,6

41,2

26,9

79,6

1,60

0,94

0,88

9,23

14,02

10,4

40,3

25,9

79,8

1,62

0,95

0,90

8,71

12,22

8,6

64 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES


FORRAGENS

“Oportunidades? Sem dúvida os inoculantes, pelos testemunhos que já ouvi dão uma grande segurança na conservação da silagem.

1

LÁZARO CORDEIRO

Como fez esta silagem? A erva é semeada nos terrenos que foram de milho, que foi cortado nos fins de outubro. O primeiro passo é espalhar o estrume, e de seguida passar com a grade ou a rotorterra. Depois faz-se a sementeira e tapa-se com a rotorterra, seguindo-se a passagem de um cilindro para deixar o terreno bem direito e facilitar o corte da erva sem terra. A adubação é feita em função do resultado das análises, usualmente com adubos com menos azoto para obter uma silagem de melhor qualidade. Em fevereiro (corte de inverno) fiz o primeiro corte e os primeiros rolos, por norma as vacas não vão aos terrenos onde faço as bolas (com duas camadas, 22 voltas de plástico e rede). A melhor erva está nos terrenos mais baixos. Por norma, faço 3 cortes antes de semear o milho, e o melhor deles é o que apanha melhor tempo, podemos ter uma boa erva mas se o tempo não ajudar no momento do corte, fica estragada. A seguir a cada corte, volto a estrumar e a adubar os terrenos. Os trabalhos de campo são todos feitos por mim. O corte da erva é feito com uma ceifeira simples de 6 discos. No primeiro corte, se tinha feito milho nesta parcela, tenho a preocupação de não fazer o corte muito rente ao chão, para não apanhar restos de milho.

O corte é sempre feito pelo meio-dia e assim fica até ao dia seguinte para secar de forma mais uniforme, no dia seguinte passo com o girassol, quando é o primeiro corte não junto muito, para não virem restos do milho e terra. Onde está a maior dificuldade para obter uma boa silagem? O tempo, oiço e sigo muita informação sobre o tempo mas nem sempre os meteorologistas acertam. Onde estão as oportunidades para melhorar a qualidade das silagens? Sem dúvida nos inoculantes, pelos testemunhos que já ouvi dão uma grande segurança na conservação da silagem.

2º Classificado SILVESTRE REBELO DA SILVA Participante desde a primeira edição Área da exploração: 20 hectares com milho, azevém e triticale para silagem Localização: Labruge, Vila do Conde Efetivo: 160 animais (vacas adultas e recria), 70 vacas em produção Produção média: 34,60 litros; Produção aos 305 dias: 12030 litros; TB 2,83; TP 3,10 2 ordenhas/dia

Como fez esta silagem? A preparação do terreno para a sementeira foi feita com o espalhamento de chorume e uma passagem com o escarificador para “abrir” a terra. A sementeira foi feita na segunda quinzena de outubro (2016) com uma rotorfresa e um semeador de linhas. Quanto à adubação, é feita em função da análise de solo que fazemos de 2 em 2 anos, pomos sempre chorume e mais tarde, “na erva”, adubamos com cerca de 200 kg/ha de Nitromagnésio 27. A semente utilizada foi um azevém tetraploide-Magnum. O primeiro corte foi feito no início de fevereiro de 2017. O corte, por norma, é feito ao inicio da tarde para aumentar a concentração de hidratos de

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FORRAGENS

“O ano de 2017 foi, para mim, um ano bom de forragens, em quantidade e qualidade, e foi também o ano em que, sem dúvida, fiz melhor silagem de erva”. SILVESTRE REBELO DA SILVA

carbono na silagem. Como em fevereiro as horas de luz não são muitas, fizemos dois dias de pré-fenagem, cortámos, passado 24 horas “espalhámos” e no segundo dia após o corte enrolámos em bolas de plástico. Em cortes únicos e mais tardios apenas deixamos 1 dia em préfenagem. Por norma, utilizamos inoculante nas silagens de erva, embora nestas bolas não tenhamos utilizado. Onde está a maior dificuldade para obter uma boa silagem? Para nós está em conhecer e escolher o momento ideal do corte em função da meteorologia. Por vezes, põe-se muito vento e a altura certa de corte passa rapidamente. Outra dificuldade que se põe, mas tem solução, é o teor de cinzas na silagem, normalmente no primeiro corte do ano temos tendência para aproveitar ao máximo a erva e “rapamos” a erva em vez de cortar pelos 10 cm altura, que entendemos será o ideal.

relação ao ano anterior, porque antes tínhamos menos área semeada e por isso tentávamos ter mais quantidade de forragem, deixando muitas vezes passar o período ideal de corte em termos de qualidade nutricional. Ficávamos com silagens com elevado teor de fibra e baixo em proteína. Passámos também a utilizar variedades mais tardias porque nos dão maior flexibilidade na decisão do momento do corte. Esta melhoria na qualidade das silagens também está muito relacionada com o apoio técnico que a Cooperativa de Vila do Conde nos tem dado. Em função dos nossos objetivos e dos solos, aconselham-nos no “maneio de campo”, tipo de consociações, adubação, altura de corte, período pré-fenagem em função do meteorologia, utilização de inoculantes... Por fim, penso que um dos segredos está em seguir e cumprir as recomendações dos técnicos.

3º Classificado JOÃO SILVESTRE Participante pela segunda vez no concurso Área da exploração: 58 hectares, exploração mista (leite e carne), produz silagem de erva e de milho Localização: Fajã de Cima, S. Miguel Efetivo: 270 animais,125 vacas (100-110 em produção) Produção média: 31 litros de leite por vaca e dia (8600 litros em 305 dias). Como fez esta silagem? Quase todos estes terrenos tiveram milho até outubro. Os animais pastam até fevereiro, aí começamos a fazer cortes, normalmente três. Cortamos sempre da parte da manhã, até ao meio-dia, no máximo até à uma da tarde, para apanhar a maior parte dos açúcares. Normalmente lavramos, mas este ano fizemos com uma rotorterra, espalhámos o estrume e depois passámos com esta alfaia. Nos terrenos que não foram semeados com a rotorterra, passámos com um rolo depois de sementeira, porque esta rotorterra já tem o rolo. As adubações são à

“Este ano fizemos as bolas com uma máquina nova, que picou corretamente a erva, e utilizámos película em vez da rede. Penso que isto nos deu uma grande vantagem na conservação.” JOÃO SILVESTRE

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Onde estão as oportunidades para melhorar a qualidade das silagens? Diminuir o teor de cinzas, apostar na escolha das variedades de sementes mais adequadas aos terrenos que se tem, utilizar consociações de sementes e otimizar as densidades de sementeira. Este ano, melhorámos em

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base de estrume e adubos específicos, baseados numa análise de solo prévia, feita anualmente. O corte é feito com uma gadanheira simples, a uma altura de 5 cm. Se o tempo estiver bom, nessa mesma tarde é mexido com um girassol, caso contrário mexemos passado 24 horas, encordoamos e fazemos os rolos. Se o tempo estiver bom fazemos em 24 horas, caso contrário em 48 horas temos os rolos prontos. Onde está a maior dificuldade para obter uma boa silagem? O tempo, nunca sabemos como vai estar. Onde estão as oportunidades para melhorar a qualidade das silagens? Talvez na utilização de inoculantes, nem sempre estamos a utilizar. Este ano fizemos as bolas com uma máquina nova, que picou corretamente a erva, e utilizámos película em vez da rede. Penso que isto nos deu uma grande vantagem na conservação.


FORRAGENS

A OPINIÃO DA LUSOSEM Para Manuel Laureano, Diretor Comercial da Lusosem, a produção de silagem de erva de qualidade é “um campo critico para a competitividade das explorações agrícolas, tendo, no entanto, de ser encarada como uma cultura que precisa de investimento e um correto maneio por parte do agricultor. Sem esta abordagem os resultados podem ser manifestamente inferiores ao seu potencial e demasiado variáveis de ano para ano ou de parcela para parcela.” Na sua opinião, um dos fatores mais críticos de sucesso na produção de silagem de erva é a escolha da variedade certa. “De facto, parâmetros como a duração do ciclo vegetativo, a floração precoce ou tardia, a tolerância a doenças, entre outros, são elementos fortemente dependentes de cada variedade e determinantes para a quantidade e qualidade nutricional. Dentro deste âmbito, o produtor tem de ter clara de início a sua estratégia para a produção de silagem de erva, nomeadamente qual o período de tempo que tem, ou quer ter, disponível para a cultura e consequentemente quantos cortes irá potencialmente realizar, para além da decisão ou possibilidade entre cultura de sequeiro ou regadio.” Se a escolha da variedade é um fator critico, algumas das operações e opções culturais são, de acordo com Manuel Laureano, tão ou mais relevantes para a quantidade e qualidade nutricional da silagem de erva: - A correta adubação: de extrema relevância na produção de silagem de erva, particularmente à base de azevém. Esta cultura é exigente em termos de adubação e fertilidade de solo, existindo mesmo uma relação quase direta e linear, entre a disponibilidade de azoto,

a quantidade produzida e o nível proteico. - A data de sementeira: os meses ideais são meados de setembro e outubro. De facto, a partir da entrada em Novembro, não sendo impeditivo é, na maior parte dos casos, fortemente condicionador do potencial produtivo e da capacidade de implantação das culturas. - A profundidade de sementeira: valores superiores a 1 cm são potencialmente condicionantes; no caso de existirem trevos esse valor até não deve ultrapassar os 0,5cm. - A correta época de corte: Em termos gerais, a partir do momento em que ocorre o espigamento a perda de qualidade é muito significativa. De forma simplista, o corte deverá sempre ocorrer antes do espigamento, tendo em vista um compromisso óptimo entre produção de massa verde, digestibilidade e teor de proteína. Importa ainda referir que cortes precoces conduzem, por princípio, a aumentos muito significativos da qualidade (particularmente em proteína) penalizando no entanto a quantidade por valores de matéria seca normalmente mais baixos. - A altura de corte: Parecendo um pormenor de importância menor, é um fator muito importante em termos de qualidade e produção global da parcela, particularmente num modelo de mais de um corte. A altura mínima de corte deve ser maior ou igual a 7 cm. De fato, em termos de qualidade, cortes mais baixos produzem na maior parte das vezes silagens com valores de cinzas demasiado elevados e muitas vezes “contaminados por terra”. De igual modo, cortes demasiado baixos reduzem de forma muito significativa a capacidade das plantas de retoma e de produção de matéria verde após corte.”

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SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL

Ver, ouvir e caminhar, ou talvez não … “Animals make us Human.”

visão binocular

TEMPLE GRANDIN

Nos bovinos, à semelhança do que acontece com outras espécies, o bem-estar e o comportamento são condicionados pela qualidade da interação com as pessoas que se movimentam na exploração e que diariamente executam as ações de maneio.

visão monocular

TERESA MOREIRA, MÉDICA VETERINÁRIA – mtereza.mor@gmail.com

De uma forma empírica, é possível comprovar que em explorações nas quais se fala muito alto, berra, que utilizam frequentemente paus ou choques, os animais mostram-se mais nervosos e inquietos, reagindo negativamente à presença das pessoas. Da mesma forma, o comportamento dos animais condiciona a qualidade de vida dessas mesmas pessoas. Os principais sentidos que as vacas utilizam para interagir são a visão e audição. Uma vez que os bovinos são espécie presa, utilizam estes sentidos para se assegurarem que o meio envolvente é seguro. O tato, o olfato e o gosto são igualmente importantes para a interação com os humanos, mas são de mensuração muito mais complicada e ultrapassam o objectivo destas dicas, com as quais pretendemos apenas alertar para algumas particularidades.

01 VISÃO O conhecimento das caracteristicas do campo de visão dos bovinos é importante para a execução de algumas tarefas, relacionadas sobretudo com a movimentação dos animais, como encaminhar para a ordenha ou para uma manga de contenção, a titulo de exemplo. O maior e mais conhecido mito sobre a visão dos bovinos é relativo ao vermelho, não é totalmente falso nem 100% verdadeiro. A visão dos ruminantes é dicromática, o que significa que podem diferenciar entre vermelho e verde, mas não necessariamente entre verde e azul (em termos futebolísticos seria uma escolha muito injusta). É igualmente por este motivo que as instalações de maneio devem ser pintadas com uma única cor, de forma uniforme. Os bovinos possuem ainda elementos oculares que lhes permitem ver em condições de pouca luz. Uma curiosidade, preferem utilizar o olho

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IMAGEM 1 Campo de visão (adaptado de Stafford, 2005)

esquerdo para para ver objetos desconhecidos e o olho direito para objetos conhecidos. A imagem 1 ilustra o campo de visão dos bovinos. O campo de visão é extremamente amplo (entre 300°a 330°) devido à posição dos olhos, mas este posicionamento faz com que apenas consigam avaliar a profundidade quando conseguem ver com os dois olhos e que exista um ponto cego na sua retaguarda, maior ou menor dependendo da posição levantada ou baixa da cabeça. A visão binocular é tridimensional, no entanto é bastante diminuta, constituindo um ângulo horizontal de apenas 25°. A visão lateral é monocular, facto que lhes permite apenas ver movimento. A débil musculatura ocular não permite uma focagem muito efetiva e o formato oval das pupilas limita verticalmente a visão horizontal. Em resumo, os ruminantes apenas conseguem avaliar a profundidade de um objeto quando conseguem ver com

visão nula

os dois olhos, a maiores distâncias vêm apenas com um olho e esta avaliação torna-se mais dificil.

02 AUDIÇÃO As vacas são capazes de escutar tanto sons de baixa como de alta frequência, não audíveis pelo ouvido humano. No entanto, e ao contrário do que acontece com as pessoas, os bovinos não conseguem localizar os sons de forma bem definida, daí moverem a cabeça numa tentativa de situarem o ruído. Vários autores demonstraram que os bovinos não gostam, e reagem negativamente a sons metálicos, agudos, assobios ou sons produzidos por portas e portões a bater. Preferencialmente deveriam ser utilizados batentes de borracha, nos portões, para amortizar o ruído e não assustar os animais.


SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL

03 O QUE FAZER PARA CONSEGUIR QUE AS VACAS SE MOVIMENTEM? O conhecimento da visão e audição dos bovinos é importante para entender a reação destes animais à presença das pessoas. Estas reações são influenciadas pela posição dos operadores relativamente às vacas. Com base neste conhecimento, descrevem-se 3 zonas: Zona de Fugida, Zona de Pressão e Zona Critica. Não são estáticas, com o passar do tempo e sobretudo com fatores relacionados com o maneio, podem variar na forma e no tamanho. Zona de fuga: Corresponde ao espaço pessoal do animal. A sua área está relacionada com o grau de domesticação do animal. Bovinos completamente domesticados podem ser tocados com grande facilidade, porque quase não possuem zona de fuga. Zona de pressão: Área externa à zona de fuga, na qual o

operador se pode situar sem provocar uma reação de fuga. O conhecimento desta zona permite-nos movimentar ou agrupar os animais de forma tranquila. O ponto cego é uma zona sempre a evitar porque não permite atingir objetivos, o animal não vê e consequentemente não reage. Zona crítica: Espaço no qual o animal defende o seu território e ataca em vez de fugir, na tentativa de aumentar a distância do operador.

Técnicas

Existem diferentes técnicas para movimentar animais. A técnica de “ pressionar e soltar” (o operador entra e toca na zona de pressão do animal, o animal afasta-se, o operador retira a pressão)

resulta habitualmente em movimentos lentos e controlados. O êxito desta técnica está condicionado pela capacidade do operador determinar qual a quantidade adequada de pressão a aplicar e quando parar de aplicar. Em todos casos, devemos sempre considerar a aproximação PAPV: Ser paciente: importante para dar tempo á vaca para avaliar se o meio envolvente é ou não seguro; Considerar o ângulo de aproximação: pode ser utilizado para influenciar as vacas a moverem-se na direção que pretendemos: se o operador se move paralelamente e na mesma direção da vaca, a velocidade é menor, pelo contrário, se nos deslocarmos em direção opostas, a velocidade dos animais será maior. Ter em conta a posição relativamente à vaca: é necessária uma posição mais próxima ao animal para iniciar o movimento do que aquela que se requer para o continuar.

Reduzir a velocidade de movimentos: os humanos e os bovinos movem-se a velocidades diferentes. Se não atendermos a este aspeto, podemos invadir a zona de fuga da vaca e provocar movimentos não controlados. Apesar de todas as técnicas e truques existentes, frequentemente as vacas não cooperam. Nestas situações, o operador pode considerar a utilização de outros recursos, desde que aja em conformidade com o disposto no Regulamento (CE) Nº 1/2005, do Conselho de 22 de Dezembro de 2004. A mensagem mais importante é que os bovinos conseguem distinguir entre maneio agressivo ou mais amigável. Cada vez que interagimos com estes (ou outros) animais, temos a possibilidade de criar experiências positivas, que melhorem o ambiente de trabalho e a qualidade do produto final. Para os mais curiosos, aconselhamos a pesquisa dos artigos da extraordinária Temple Grandin (incluídos nas referências bibliográficas).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS www.grandin.com/behaviour/ principles/flight.zone.html www.grandin.com/behaviour/ principles/leader.html http://grandin.com/B.Williams. html www.grandin.com/design/ blueprint/blueprint.html Cramer, Gerard – Pratical Cattle handling strategies for dairy farms – XXII Congresso Internacional de Medicina Bovina, 2017 Lima, Susana Margarida Machado dos Santos Lima- Sistemas de contenção associados ao maneio e instalações em bovinos de carne no concelho de Vila Pouca de Aguiar – Dissertação de Mestrado, UTAD, 2015. Bernardino, Marisa- Conforto e bem-estar animal – Departamento técnico da Zoetis

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SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL

Tuberculose Bovina POR MARGARIDA CARVALHO

A tuberculose bovina é uma doença crónica causada pela bactéria Mycobacterium bovis. É uma zoonose, ou seja, uma doença dos animais que pode também infetar seres humanos. No entanto, a maioria dos casos de tuberculose em humanos é causada por outro agente, o Mycobacterium tuberculosis, que tal como o Mycobacterium bovis, pertence ao grupo das micobactérias das quais faz também parte o agente responsável pela tuberculose em aves, o Mycobacterium avium. O nome tuberculose advém da aparência nodular, em forma de “tubérculos”, das lesões causadas pelo agente nos linfonodos (gânglios linfáticos) dos animais doentes. O agente responsável pela tuberculose bovina tem a capacidade de sobreviver durante vários meses no meio ambiente. Contudo, a principal via de transmissão da doença é através do ar, através dos aerossóis provenientes de animais doentes quando tossem, por exemplo.

Para além dos aerossóis também a saliva, as fezes, o leite, a urina, as descargas vaginais e uterinas e o conteúdo das lesões dos linfonodos podem ser a fonte de infeção. A ingestão de leite cru pode assim constituir uma via de transmissão da doença ao homem, motivo pelo qual se recomenda o consumo de leite devidamente pasteurizado. A pasteurização garante que o Mycobacterium bovis seja destruído quando submetido a altas temperaturas e por tempo determinado. Entre explorações a doença propaga-se principalmente pela introdução de animais infetados em explorações livres de doença, pelo que importa ter em prática medidas de biossegurança na exploração. Também a fauna silvestre dificulta a erradicação da doença uma vez que, algumas espécies atuam como reservatório da doença.

Principais vias de transmissão da doença Os aerossóis, a saliva, as fezes, o leite, a urina, as descargas vaginais e uterinas e o conteúdo das lesões dos linfonodos podem ser a fonte de infeção.

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No Reino Unido, o texugo (Meles meles) tem dificultado a erradicação da doença levando a decisões polémicas de controlo de populações de texugos. Em Portugal a presença do agente em populações de caça maior tem também dificultado o controlo da doença em algumas zonas do país. O veado (Cervus elaphus) e o javali (Sus scrofa) parecem ser as populações de caça maior com mais importância na dinâmica da doença nestas zonas. A partilha de ecossistemas entre estes animais e os bovinos pode levar à transmissão da doença entre as diferentes espécies. A maioria das vezes a doença tem uma evolução arrastada e os sinais clínicos nem sempre estão presentes. Quando presentes são frequentemente pouco específicos, pelo que se torna difícil identificar animais doentes e consequentemente prevenir o contágio. Estes sinais podem incluir perda de apetite, fraqueza, diarreia, dificuldade em respirar e tosse seca intermitente em fases mais avançadas. Frequentemente a doença é detetada somente através do teste de rastreio. Este, consiste na injeção intradérmica de tuberculina e

posterior avaliação da reação de acordo com a legislação europeia e recomendações da OIE (Organização Mundial de Saúde Animal). A tuberculose bovina tem ainda consequências económicas importantes, levando à diminuição de produtividade, rejeições em matadouro, abate coercivo dos animais e consequente perda genética, restrições aos movimentos dos animais e à comercialização do leite para consumo humano. Não sendo exclusivamente um problema de saúde animal, mas também uma preocupação para a saúde pública, a tuberculose bovina faz parte das doenças de declaração obrigatória quer a nível nacional quer internacional. Existe, em Portugal, um plano de erradicação da doença cofinanciado pela União Europeia que se traduz num conjunto de medidas que consistem na deteção e eliminação precoce de animais infetados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Não foram incluídas por uma questão de espaço editorial, mas a autora disponibiliza bastando enviar um email para geral@revista-ruminantes. com.


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Biossegurança na exploração A introdução de animais na exploração como fator de risco POR MARGARIDA CARVALHO

O QUE É A BIOSSEGURANÇA? A biossegurança é a primeira linha de defesa de uma exploração. Podemos dizer que o termo biossegurança diz respeito a um conjunto de medidas que visa reduzir o risco da introdução de novas doenças numa exploração, protegendo não só os animais da exploração, mas também as pessoas que nela trabalham.

Vantagens adicionais da prevenção da introdução de doenças na exploração Investir na biossegurança é apostar na prevenção, reduzindo assim a probabilidade de ter doenças na exploração e reduzindo consequentemente o custo associado à presença de doença. É sabido que a maioria das doenças têm um impacto no bem-estar dos animais, na sua produtividade e consequentemente um impacto económico na exploração. Além disso, a presença de determinadas doenças numa exploração pode levar a restrições de movimentos dos animais dentro e fora do país. Numa época em que se fala cada vez mais da resistência a antibióticos, é de salientar que a biossegurança é a chave na redução da utilização de antibióticos, e por isso uma medida de extrema importância para a saúde global.

Fatores de risco de introdução de doença numa exploração As doenças infeciosas podem ser introduzidas numa exploração por

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diversas vias, sendo algumas das mais importantes: 1. Introdução de animais doentes ou em fase de incubação da doença 2. Introdução de animais aparentemente saudáveis que recuperaram da doença, mas que se tornaram portadores. 3. Equipamento, vestuário, calçado e viaturas de pessoas que se movimentam entre explorações (veterinários, produtores, comerciais e outros empregados). 4. Alimento contaminado 5. Água contaminada 6. Outras espécies como cães, gatos, roedores, aves, insetos e fauna selvagem.

Aquisição de animais Este artigo tem como foco os pontos 1 e 2 que dizem respeito à introdução de animais doentes ou portadores de doença na exploração.

Palavras chave: Seleção e Isolamento As duas medidas preventivas base no que diz respeito a introdução de animais doentes em exploração são maioritariamente medidas de seleção e


SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL isolamento. Em primeiro lugar importa reduzir o número de animais a comprar e o número de explorações de proveniência destes mesmos animais. Adicionalmente é também importante selecionar os novos animais de explorações livres de doença, selecionar animais que não tenham ainda sido cruzados, conhecer o histórico de doença dos animais e da exploração, conhecer o protocolo vacinal praticado na exploração e o médico veterinário responsável pela exploração de destino deve proceder sempre ao exame clinico dos animais. É importante basear o ato de compra em documentos comprovativos, contacto com o médico veterinário responsável pela exploração de proveniência dos animais, e não exclusivamente na palavra de quem vende. Mesmo cumprido os requisitos

citados anteriormente todos os animais adquiridos devem ser colocados em isolamento/ quarentena, pelo menos 4 semanas. Este período pretende cobrir o período de maior risco de transmissão da maioria das doenças. Durante este período os animais estão confinados numa área que impeça o contacto direto ou indireto com os animais da exploração. Para evitar este contacto o vestuário e equipamento usado pelos trabalhadores no isolamento deverá ser exclusivo e/ou desinfetado, antes do contacto com os restantes animais da exploração. Sempre que possível as pessoas que contactam com os animais em isolamento não deverão contactar com os restantes animais. Os animais em quarentena não devem partilhar pastagens com os restantes animais. Durante

UM NOVO ALIADO DA SAÚDE GASTROINTESTINAL DOS VITELOS As diarreias em vitelos são uma das patologias mais prevalentes e economicamente significativas da produção leiteira. Recentemente, um grupo de investigadores americanos estudou o efeito da utilização de um adoçante sintético – o Sucram – na dieta de vitelos e suas consequências a nível gastrointestinal na presença de diarreia. Esta foi causada por Cryptosporidium parvum, um dos principais agentes de diarreias neonatais. O ensaio era constituído por vinte e quatro animais, os quais foram divididos em grupos e abatidos ao fim de dezoito dias, após os quais os investigadores concluíram que a administração do adoçante no leite dos vitelos conferiu alguma proteção contra a manifestação de doença quando em comparação com vitelos aos quais este não foi administrado. Os vitelos tratados tiveram menos diarreias, menor inflamação (medida através de indicadores no plasma), melhoria da morfologia intestinal e menores valores de expressão genética associados a remodelação e reparação celular. Os benefícios da substância utilizada no ensaio clínico parecem residir na sua interação com recetores celulares a nível do trato gastrointestinal, e também com a estimulação da produção de uma substância chamada “péptido semelhante ao glucagon 2” a qual, noutros ensaios, pareceu conferir algum grau de proteção contra coccidioses. A vantagem da utilização do Sucram em detrimento do péptido prende-se com o facto de poder ser administrado diretamente no leite, enquanto este último tem de ser injetado. A equipa de investigadores pretende continuar a estudar os benefícios da utilização destas moléculas a longo prazo na prevenção de doenças diarreicas e consequente aumento do bem-estar e eficiência produtiva dos animais de explorações leiteiras.

o período de quarentena podem surgir os primeiros sinais clínicos de doença. A quarentena permite também um resultado mais fidedigno dos testes de diagnóstico uma vez que animais recentemente infetados terão tempo de produzir anticorpos que serão frequentemente detetados pelo teste. Assim, os testes devem ser feitos após a quarentena e só depois do seu resultado os animais poderão ser postos em contacto com os outros animais da exploração. Estas medidas de isolamento aplicam-se não só a novos animais a introduzir na exploração, como animais que tenham estado fora da exploração temporariamente. A utilização de animais de outras explorações para cobrição natural aumenta também o risco de introdução de doença pelo que deverá optar-se pela inseminação artificial.

CONCLUSÃO Estas medidas de biossegurança deverão fazer parte da gestão diária de uma exploração e ser aplicadas de uma forma consistente. Para implementar um plano de biossegurança na exploração deverá ser procurado o apoio e esclarecimento do médico veterinário. Quando implementadas corretamente, estas medidas evitam a introdução de doenças na exploração e contribuem de forma positiva para o bem-estar dos animais e produtividade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Não foram incluídas por uma questão de espaço editorial, mas a autora disponibiliza bastando enviar um email para geral@revista-ruminantes. com.

PELO USO REGRADO DOS ANTIBIÓTICOS Quatro organizações juntaram-se para criar uma aliança destinada a travar o uso de antibióticos na produção animal. “The Alliance to Save Our Antibiotics” foi o nome dado à organização que apela ao uso mais regrado destas substâncias, exigindo nomeadamente o fim dos tratamentos de rotina que utilizam antibióticos de forma preventiva, e pressionando as empresas de distribuição para que tenham uma atitude firme com os seus fornecedores. The Alliance to Save Our Antibiotics afirma que a resistência aos antibióticos continua a aumentar, e pede que sejam tomadas medidas para combater este problema por forma a que sua a utilização nas explorações da UE possa ser reduzida para 50% em 2020, e para 80% em 2050.

Nomeadamente, a criação de legislação que proíba a utilização de antibióticos em animais livres de doença (utilização preventiva) e restrições na utilização de uso “crítico” dos mesmos. Sugere também que o regime de produção extensivo e um menor encabeçamento podem reduzir a propagação das doenças e a utilização de antibióticos, e apela à criação de legislação que apoie este tipo de regime de produção. Esta organização pretende ainda monitorizar anualmente as politicas assumidas pelos supermercados relativamente à utilização de antibióticos pelos fornecedores. Fazem parte da “The Alliance to Save Our Antibiotics” cerca de 500 entidades dos sectores da saúde, agricultura, bem-estar animal e ambiente, de toda a União Europeia.

PARA MAIS INFORMAÇÕES www.saveourantibiotics.org

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PUBLIREPORTAGEM

Investir com responsabilidade EXPLORAÇÃO DE ANTÓNIO RODRIGUES BALAZEIRO – QUINTA DO RAL JUNQUEIRA – VILA DO CONDE A Exploração pecuária de António Rodrigues Balazeiro tem atualmente duas aptidões principais: produção de leite e de carne. A exploração leiteira está localizada na Quinta do Ral na freguesia da Junqueira (Vila do Conde) e a de carne localizada em Lavra (Matosinhos). Os recursos e área fundiária estão também distribuídos por estas duas explorações, estando maioritariamente dedicados à exploração de leite.

74 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES

A História da Exploração A compra da Quinta do Ral aconteceu nos finais de 1976 pelo meu pai, Manuel Balazeiro Amorim. Em 1993 e dando continuidade ao projeto de produção de leite, segui com a exploração, tínhamos mais ou menos 65 animais em produção nessa altura. Ao longo dos anos fui aumentando o número de animais em produção, bem como as suas valências, fiz diversas formações complementares na área, das quais destaco o curso de Empresário Agrícola entre 1987-89. Hoje a exploração leiteira tem entre 150 – 170 animais em produção e a exploração de carne cerca de 100 animais em engorda. Para além

da produção de leite e da engorda, fazemos também a venda de genética de leite com a venda de novilhas e animais em produção para outras explorações. Esta terceira parte do negócio acontece, pois a recria das fêmeas permite renovar o efetivo e a aposta em sémen de qualidade permite melhorar a genética do efetivo e a venda de animais para outras explorações. Há 2 anos iniciámos a renovação da vacaria de leite com a automatização da exploração, adquirimos 3 robots de ordenha ASTRONAUT A4 da marca LELY. Os robots, para além da ordenha, fazem a distribuição de concentrado


A inovação ao Seu serviço

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PUBLIREPORTAGEM conforme a produção, bem como outras tarefas fundamentais na recolha de dados das vacas e apoio na gestão da vacaria. Este investimento no valor de 580.000 € foi feito com recurso a uma linha de crédito bancário, porque apesar da aprovação de um projeto de investimento (2020) este aguarda execução por falta de verba. Assim, aos 53 anos, decidi renovar e modernizar a vacaria para enfrentar, com a família, os desafios do futuro. Esta é constituída pela minha esposa e dois filhos (imagem2), sendo um pilar fundamental para a definição dos objetivos futuros da empresa.

Estrutura fundiária e maquinaria

A exploração tem ao dispor uma área de cerca de 55 hectares, para produção de silagem de milho e erva em rotação ao longo do ano. O parque de máquinas é composto por 4 tratores (um na engorda e três na vacaria), 1 unifeed automotriz na exploração de leite, 1 unifeed rebocável na exploração de carne, 2 cisternas (10.000 litros e 26.000 litros), 1 automotriz para ensilar e diversas alfaias para preparação de solo e forragens.

Investimento

No viteleiro temos 50 unidades individuais e celas para mais 30 animais, a vacaria dispõem de 130 cubículos (caixa com serrim) para os animais em produção, mais uma zona para as vacas secas e recria. Temos 3 silos trincheira para forragens, 5 silos para alimentos concentrados e capacidade de fossas para 4.000 m3.

Os objetivos do investimento efetuado foram o maior aproveitamento do potencial genético e produtivo dos animais com a 3ª e 4ª ordenha diária e a redução de mão de obra sem aumento das construções, e área coberta da exploração. Para isso muito contribuem os equipamentos e o tráfego livre dos animais, o acesso livre durante todo o dia às áreas de descanso e alimentação, pois só assim conseguimos altas produções ao longo do tempo. Os objetivos foram largamente atingidos, tendo-se verificado um aumento médio de 2 para as 3,3 ordenhas diárias e mais 5 litros diários na média de produção. Investimento responsável é aquele que permite a amortização num período razoável e que apresenta melhorias do ponto de vista financeiro, de conforto animal e de recursos humanos para o futuro da exploração. Por isso é preciso cautela nos investimentos, estes devem ser produtivos para se rentabilizarem com alguma margem de segurança em períodos difíceis, nem que para tal se recorra a prestação externa de serviços, que diminui encargos fixos.

Efetivo leiteiro – dados

Porquê esta marca

Mão-de-obra e estrutura de recursos humanos A mão de obra disponível na exploração é composta por mim e outro assalariado a tempo inteiro, mais 2 pessoas a tempo parcial.

Instalações

O número total ronda os 500 animais, sendo que as vacas em produção andam normalmente nas 160 com produções hoje entre os 36-42 litros. O contrato atual de recolha de leite não chega aos dois milhões. A produção a 305 dias no contraste ronda os 11.400 litros.

Alimentação

A alimentação do lote de produção é composta pelo unifeed (33 kg silagem milho, 2 kg de silagem erva, 0,6 kg palha, 6,5 kg mistura de matérias primas) mais a suplementação feita consoante a produção nos robots. A suplementação nos robots ronda em média as 118,1 gr/litro de leite.

A opção pelos equipamentos foi um caminho percorrido ao longo do tempo, pois para além de ter outros colegas com os mesmos equipamentos, fiz algumas visitas a outras explorações e fui ganhando confiança no equipamento e na empresa que vende e presta assistência aos mesmos. Neste negócio, o bom investimento traz sempre retorno, maior ou menor, mas nenhum traz mais rentabilidade que o investimento nas vacas e para as vacas. Um aspeto único deste equipamento é o animal estar livre dentro da box, sem ser apertado pelo comedouro ou barra de contenção e extração de dejetos, o que

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IMAGEM 2 António Balazeiro e a sua mulher Isabel Balazeiro e os filhos Márcia e António Balazeiro.

associado ao tráfego livre permite um número de ordenhas mais alto e eficiente, uma produção com picos de lactação altos e persistentes e um incomparável conforto dos animais. Todos os indicadores e ferramentas desta máquina permitem um melhor acompanhamento da saúde dos animais. Para além disso, os dados recolhidos pela máquina LELY permitem uma gestão de exceção, que permite identificar os animais que saem da norma e apresentam alguma alteração ao padrão ou normalidade.

Principais dificuldades do sector

Atualmente vivemos uma conjuntura de alguma estabilidade, no entanto o preço do leite pago ao produtor deveria subir. Para além disso a limitação da quantidade produzida retira-nos competitividade perante outros colegas que não têm limitações à produção. A produção é vendida à AGROS através da Cooperativa Agrícola de Vila do Conde.

Mensagem aos colegas

A mensagem para os colegas produtores de leite é a mesma que tento seguir no dia a dia da minha exploração, cautela com investimentos não estratégicos para a atividade, racionalização de custos e uma gestão profissional na maximização dos recursos disponíveis. O investimento nas vacas é sempre recompensado, pois são elas o centro da nossa atividade económica.



NOVIDADES DE PRODUTO

PARA O DESENVOLVIMENTO MÁXIMO DAS VITELAS NOS PRIMEIROS MESES DE VIDA NOVALAC PRIMA

IMAGEM 1 A equipa técnica da Nanta e produtores de vacas de leite partilharam resultados e experiências do programa Prima.

A Nanta lançou no mercado a Novalac Prima, uma ração de arranque complementar concebida para obter o desenvolvimento máximo das vitelas a partir do terceiro dia de vida e até aos três meses. Com uma apresentação em multipartículas, a Novalac Prima fornece uma elevada densidade nutritiva (energia e proteína), para além de hidratos de carbono funcionais biodisponíveis e as vitaminas e minerais necessários para o desenvolvimento correto da novilha. Como explicou Manuel Rondón, chefe de produto de Ruminantes na Nanta, “Ao tratar-se de uma ração texturada e melaçada, o consumo aumenta comparativamente com outras apresentações, granulados ou farinhas, e portanto o ganho médio diário de peso da vitela é maior. Para além disso, as rações texturada estimulam as papilas ruminais, contribuindo para a antecipação da ruminação nestes animais.”

Programa Prima da Nanta Coincidindo com este lançamento, a Nanta apresentou também o seu novo Programa de Recria de Novilhas, Prima, fruto da experiência prática em 25 explorações comerciais de vacas de leite de toda Espanha, que tem também por objetivo o máximo desenvolvimento das vitelas durante os seus dois primeiros meses de vida. O programa Prima está cimentado em quatro conceitos chave para o bem estar e o futuro das vitelas: o colostro (que vai condicionar as suas defesas nas primeiras semanas de vida); o aleitamento (etapa em que o leite de substituição fornece à vitela todos os nutrientes que esta necessita em qualidade e quantidade); o desmame (etapa crítica na qual há que evitar o stress para que não hajam quebras na velocidade de crescimento); e os cuidados (ambiente, sanidade, maneio, higiene, que no caso de não estarem controlados têm repercussões no bem estar da vitela. “Trata-se de um programa desenhado para ajudar os produtores a fazer as coisas bem feitas para obterem os melhores resultados, sempre tendo como referência o bem estar das vitelas e sem esquecer – sublinhou Manuel Rondón - que até 22 por cento da produção de leite na primeira lactação depende da velocidade de crescimento nos dois primeiros meses de vida destes animais”. A Nanta realizou uma jornada no dia 16 de novembro em León, Espanha, para a qual convidou os ‘pioneiros’ que colaboraram com a empresa na adaptação deste método de recria às condições das explorações. Durante a mesma, estes produtores de vacas de leite e a equipa técnica de Ruminantes da Nanta partilharam resultados e experiências no desenvolvimento comum do Programa Prima, contando também com a intervenção de especialistas de prestígio reconhecido na recria de vitelas.

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NOVAS TABELAS DE COMPOSIÇÃO DE ALIMENTOS PARA ANIMAIS No decurso de uma parceria entre as instituições francesas INRA (Institut National de la Recherche Agronomique), CIRAD (Centre de Coopération Internationale et Recherche Agronomique pour le Développement) e AFZ (Association Française de Zootechnie), foram recentemente publicadas novas tabelas de composição de alimentos para animais as quais, acompanhando os tempos que correm, têm em conta os novos sistemas de alimentação de ruminantes do INRA, impactos ambientais e novas fontes alimentares, como os insetos. O Systali, o novo sistema de alimentação, permite recolher dados acerca das respostas digestiva, metabólica e produtiva dos ruminantes à sua dieta, baseando-se no fluxo de nutrientes. No que toca ao impacto ambiental – algo pioneiro neste tipo de tabelas – estudos realizados em França permitiram calcular a pegada ambiental dos constituintes da dieta animal e sua contribuição para as alterações climáticas, fenómenos de acidificação e eutrofização, requerimentos energéticos e de fósforo e área ocupada. Esta renovação adveio da enorme quantidade de informação constante nas bases de dados nacionais, bem como da procura mundial de dados alimentares por parte de países em vias de desenvolvimento. Apesar de as tabelas terem sido desenvolvidas no espaço europeu, os investigadores responsáveis indicam que será apropriado utilizálas noutras realidades, como era já feito com as tabelas anteriores, e por isso serão disponibilizadas online de forma gratuita. Este tipo de divulgação visa otimizar a disseminação da informação, e permitirá chegar a um público mais alargado. O objetivo deste tipo de tabelas é fornecer dados precisos acerca da informação nutricional das matérias-primas que podem ser utilizadas na alimentação animal, bem como de algumas que possam ser intersubstituíveis.

ADP FERTILIZANTES LANÇA FERTILIZANTE BIOLÓGICO A ADP Fertilizantes lançou no mercado um fertilizante biológico de nome Amicote, constituído por fosfato natural macio e produzido com a Tecnologia C-Vida. Este adubo é enriquecido com bactérias solubilizadoras de fósforo que aumentam a disponibilidade do nutriente e permitem um maior aproveitamento pela planta. O aumento da fertilidade biológica e química do solo, a par de ganhos na produção, são algumas das vantagens garantidas pela marca, a par com a capacidade de neutralização de acidez do solo, uma vez que, apresenta 36% de cálcio e 26% de valor neutralizante. Está indicado para adubação de forragens, pastagens e de plantações florestais.


ATUALIDADESFG

CEMA LANÇA DESAFIO À UE O sector agrícola europeu encontra-se perante grandes desafios, existindo necessidade de se aumentarem a sua sustentabilidade e produtividade ao mesmo tempo que se assegura o lucro dos produtores. As tecnologias de produção atuais podem ser poderosas ferramentas de auxílio, e têm vindo a provar o seu valor nos últimos anos em termos de produtividade e competitividade, bemestar animal e preservação do ambiente. Mas, segundo a CEMA, uma organização constituída por 4500 fabricantes de equipamento agrícola – cujos membros vão de pequenas empresas a grandes multinacionais – muito mais pode ser feito. E por isso lança um desafio à UE: é necessário criar condições que permitam tirar o máximo partido das tecnologias à disposição. No seu Plano de Ação de 3 Pontos, a CEMA explica como alcançar esse objetivo. Em primeiro lugar, a legislação europeia não deve

dificultar o desenvolvimento de tecnologias inovadoras através da implantação de legislação demasiado restrita, especialmente à luz das circunstâncias particulares em que são usadas no sector. Além disso, a UE deve promover a investigação em métodos de agricultura de precisão e facilitar o acesso a dados da produção através da inclusão destes objetivos em programas financiados como o programa Horizonte 2020. Por último, e à semelhança do que já acontece com os pagamentos diretos aos produtores que utilizam práticas amigas do ambiente, a CEMA propõe que sejam criados incentivos semelhantes para produtores que utilizem tecnologias inovadoras que se prove que tenham um impacto positivo no planeta. Estas medidas contribuirão também para a satisfação de outras premissas da PAC, como o aumento de competitividade e criação de melhores condições para os produtores.

FICÇÃO CIENTÍFICA OU FUTURO NUM COMPRIMIDO? Em novembro do ano passado, a americana FDA (Food and Drug Administration) aprovou o primeiro comprimido digital de recolha de informação destinado a ser ingerido por humanos, e acompanhado de um sensor de leitura. Este sensor – aproximadamente do tamanho de um grão de areia – é ativado pelo uso de energia por parte do ácido gástrico, e envia a informação recolhida para um detetor implantado na caixa torácica do paciente, o qual a faz chegar a um smartphone. Até agora, a informação produzida limita-se a indicar se o comprimido chegou ou não ao seu destino, mas a porta encontra-se aberta para desenvolvimentos futuros. Apesar de ser um marco na medicina humana, este tipo de tecnologia não é completamente estranho à produção pecuária. De facto, existem já dispositivos sem fios desenvolvidos por empresas que transmitem informação acerca de dados fisiológicos dos bovinos a partir dos seus compartimentos gástricos. Isto poderá permitir, num futuro próximo, fazer um maneio rigoroso das prescrições de antimicrobianos e suas corretas dosagens, por exemplo, além de permitir aos produtores conseguir monitorizar de forma mais fácil e completa o estado de saúde dos seus animais. Por enquanto ainda se estão a dar os primeiros passos em medicina humana, mas nada impede que se transponha a barreira para outras espécies. Afinal, o futuro está aí à porta.

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Agro-Mancelos

Vacas felizes, bem ordenhadas e frescas A Agro-Mancelos é uma exploração leiteira familiar situada no concelho de Amarante. É gerida por Maria Manuela Pereira Marinha e pelo seu marido, José António Teixeira. POR RUMINANTES

IMAGEM 1 Jose António, Maria Manuela e Pedro (filho).

Utilizam o sistema de robots da DeLaval. Porquê? Essencialmente devido à confiança que sempre tivemos na marca e fruto da análise do que existia no mercado na altura. Porque optaram por robots de ordenha? Para sermos autossuficientes em termos de mão-de-obra e para aumentar a produção leiteira. De facto, tivemos um aumento de 150 litros por vaca/ ano. Os robots também têm contribuído para uma melhor saúde do úbere das vacas.

Quando o negócio arrancou, em 1995, tinham um efetivo de 32 animais e 19 vacas em produção, com duas unidades de ordenha e um tanque de leite de 600 litros. Hoje o cenário é bem diferente, com um efetivo de 340 cabeças e 121 vacas em produção, cujo leite se destina à Agros. Esta é uma exploração pioneira, que se distingue pela aposta na inovação e melhoria contínua: recorrem a robots de ordenha há doze anos, tendo também investido em genética, técnicas de sementeira direta e rega gota a gota nas culturas de milho. Esta aposta tem-lhes trazido o merecido reconhecimento, e é com satisfação que recordam

a visita do então Presidente da República Aníbal Cavaco Silva, bem como o Prémio Agricultura 2013. O maneio dos animais e a gestão da qualidade do leite são as atividades prediletas destes produtores, que começam o dia pela avaliação dos registos no computador e pelo planeamento das tarefas diárias na exploração. Se as suas vacas falassem, creem que enalteceriam o seu bemestar, numa ordenha tranquila e sem grandes períodos de espera, e em parques onde estão frescas mesmo no pico do Verão. Foi em Amarante que Maria Manuela e José António receberam a Ruminantes

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e nos fizeram o balanço da utilização de robots de ordenha, e também do seu novo sistema de arrefecimento dos animais. Que tecnologia têm atualmente na vacaria? Temos os robots de ordenha e um sistema de arrefecimento dos animais chamado cooling (imagem 3). É um sistema ativo para refrigerar as vacas, o qual permite molhar e ventilar os animais consoante os valores de temperatura. Quando começaram a investir em tecnologia? Apostámos na sementeira direta há muitos anos, e nos robots há doze anos.

Nestes 12 anos, fizeram melhorias no robot? Sim, algumas atualizações no software, quer no funcionamento do VMS (Voluntary Milking System) quer no sistema de gestão do efetivo. Estas permitiram-nos melhorar a eficiência na recolha e acessibilidade dos dados, uma vez que podemos aceder-lhes via remota, por exemplo através do telemóvel. A estrutura do VMS manteve-se, apenas houve substituições pontuais de peças (imagem 2). Qual o preço de uma atualização? Cerca de 6% do preço de um robot novo, foram substituídas as placas da versão com 12 anos, sendo que estes ficam


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IMAGEM 2 Novo ecrã tátil VMS.

de facto a operar como um equipamento novo. Existem melhorias em termos de informação? Sim, a apresentação dos dados é simples e de apreciação e utilização intuitiva. A informação de base necessária para a gestão eficiente da exploração surge no ecrã principal do software Delpro num painel de monitorização melhorado que destaca e facilita a análise do histórico de dados. Como avalia o desempenho do robot? Primeiro vemos se temos vacas em atraso ou algo a correr menos bem com o sistema, sendo o sinal de alarme a presença de mais de seis vacas em atraso. Vemos também o tempo

de ordenha (o médio são 7,50 minutos por ordenha) e o fluxo (está em 1,68). Usamos também o MDI (Índice de Deteção de Mastites) como indicador, o qual conjuga três aspetos: a condutividade, o sangue e a produção esperada. Acima de 1,4 a probabilidade de a vaca estar com mastite é elevada. Quais são os grandes desafios para 2018? Estamos preocupados com o que o ano nos trará no que toca ao preço do leite e restrições de produção. Ainda assim, temos alguns investimentos previstos, como um unifeed automotriz que poderá trazer uma redução significativa em termos de horas de trabalho.

Dados gerais da exploração Área da exploração: 24 hectares de milho e 60 hectares de erva Arraçoamento: Silagem de milho, silagem de erva, massa de cerveja, palha e concentrados, constante ao longo do ano. Nº empregados: 4, com 1 a tempo parcial Efetivo: 340 animais Nº vacas em produção: 121 Nº vacas secas: 16 GB (%): 3,7 PB (%): 3,33 CCS: 200 000 cél/mL

IMAGEM 3 Caixa de Controlo do sistema Cooling.

TESTEMUNHO DE PEDRO MEIRELES, MÉDICO VETERINÁRIO ASSISTENTE Fale-nos do cooling. Em que consiste? As vacas da raça Holstein Frísia têm uma temperatura de conforto que ronda os 12-19ºC, acima da qual gastam mais energia para a manutenção da temperatura corporal e consequentemente diminuem a sua produtividade. Isto reflete-se em menores picos de produção e pior performance reprodutiva. O Cooling é um sistema auto-regulado que se inicia sempre que a temperatura ambiente ultrapassa os 21ºC. A esta temperatura o sistema de gotejamento de água é acionado, com intervalos de nove minutos e dura nove segundos, após os quais as vacas são alvo de uma ventilação direcionada. A frequência de funcionamento do sistema de gotejamento e o tempo de aspersão aumentarão com o aumento da temperatura. A ventilação é alternada com o sistema de aspersão, as gotas de água são pesadas, o que permite efetivamente molhar o dorso da vaca não existindo, portanto, nebulização. A ventilação provoca a evaporação destas gotas, o que baixa a temperatura corporal da vaca. Onde é feita a refrigeração (Cooling)? Idealmente o Cooling seria feito no parque de espera da ordenha. No nosso caso, com os VMS, optámos por colocar a refrigeração na linha de alimentação, as vacas são molhadas enquanto estão na manjedoura. O sensor está no meio dos pavilhões, sobre as camas, e dispara sempre que se atinge a temperatura limite. Quanto foi o investimento? A ventilação já existia. Investimos na rede de água, nos sensores e no sistema de controle electrónico. Rondou os 3000€. Trouxe melhorias à exploração? Sim, trouxe. A ingestão de alimento no período crítico do verão não sofreu quebras, e conseguimos manter os picos de produção ao nível do inverno. Também temos tido boa fertilidade, temos vacas gestantes onde antes não tínhamos. Se pensarmos que o sistema funciona seis meses por ano, e que temos cerca de 2000 euros extra de vendas de leite por mês, amortiza-se rapidamente. Quanto à fertilidade, conseguimos ter taxas de gestação no verão ao nível de inverno.

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Gulliver 5014

IMAGEM 1 Filipe Soares, Albino Gil Gomes e Eduardo Soares.

Um Unifeed que não voa… mas tem asas A Sgariboldi é uma produtora italiana de equipamentos agrícolas criada em 1959. Primando pela aposta na inovação, possui diversas linhas de Unifeed, sendo a Gulliver uma delas. Esta gama tem algumas características interessantes em termos de mistura e processamento dos ingredientes, e fomos saber no que é que isso se traduz no trabalho de campo. Para isso, falámos com Albino Gil Gomes, representante da marca italiana para o norte de Portugal, Eduardo Soares, proprietário da exploração Vale Leandro e detentor de um Unifeed Gulliver 5014 e João Marques, técnico da Nanta e nutricionista na exploração.

Albino Gil Gomes é um dos sócios da Torre Marco - uma empresa concessionária de equipamentos agrícolas - assumindo funções de diretor financeiro e gestor comercial. A empresa, com sede em Vila do Conde, foca-se no cliente profissional, o que se reflete no serviço de venda, pós-venda e formação dos seus sessenta trabalhadores. Representam, no sector leiteiro, marcas como a Sgariboldi, John Deere e Amazon. Como nos explica, o Gulliver é mais do que um simples Unifeed. Este misturador tem a capacidade de fazer misturas rápidas, homogéneas e bastante soltas, sendo um equipamento do tipo automotriz. Não possui fresa traseira, apenas uma fresa frontal (imagem 2, 3 e 4) à qual se junta um moinho picador (imagem 5). A mistura, “tipo betoneira”, é feita por pás/asas (imagem 6), não facas, e permite associar o melhor de dois mundos: obter misturas soltas como a dos Unifeed verticais e homogéneas como as que se obtêm com os Unifeed do tipo horizontal (imagem 7 e 8). O moinho picador do Gulliver pode

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PUBLIREPORTAGEM ser ligado ou desligado consoante a opção do operador. O sistema de corte é adaptável às características das matérias-primas utilizadas, existindo seis tipos específicos de facas e dois tipos de movimentos de corte, mais ou menos agressivo. Este moinho assume especial relevância quando se incorpora palha na mistura. O picador, ao executar o corte, fá-lo de forma a manter a integridade da fibra, ao contrário de outros sistemas que fazem o corte na traseira por mecanismos de pressão, quebrando a fibra. A incorporação eficaz de grandes quantidades de palha torna esta ferramenta muito vantajosa no arraçoamento de vacas secas, por exemplo. E as vantagens não se ficam por aqui. O Gulliver possui ainda um sistema de mistura patenteado: em conjunto com a balança, o tapete de carga distribui equitativamente o conteúdo da câmara pela parte anterior e posterior da mesma, o que acarreta uma significativa melhoria da velocidade da mistura. Por cima do tapete de descarga está ainda colocado um íman rotativo que atua como um detetor de metais (imagem 9) aquando da descarga. A silagem é sacudida antes de ser depositada na manjedoura, e as eventuais partículas de metal presentes ficam retidas no íman. Após a distribuição de alimento, a câmara fica completamente limpa permitindo, por exemplo, fazer uma mistura para vitelos imediatamente após a mistura das vacas.

GULLIVER 5014 VISTO AO PORMENOR FACAS DA FRESA: direitas, não curvas, escolhidas de acordo com as características da exploração. Protegem a frente de silo e preservam a sua compactação, sem entradas de ar. Raio de viragem: Tração à frente, com um bom raio de viragem. De eixos bem alinhados, é fácil de manobrar. Tonelagem: 14 m3, com um limite de peso de 4 toneladas. TEMPO DE MISTURA: Dependente da exploração e matérias-primas. Para o efetivo da exploração Vale Leandro (152 vacas), , são necessários 14 minutos para carregar os ingredientes, misturar e descarregar o alimento nas manjedouras. CONSUMOS: Baixos. Gasta cerca de 10 litros de gasóleo por hora, permitindo uma poupança não só de combustível mas de tempo, devido às suas características de automotriz. MANUTENÇÃO: Acompanhamento permanente da marca e revisões detalhadas que podem chegar às 2000 horas.

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A EXPERIÊNCIA DE EDUARDO SOARES COM O GULLIVER 5014 NÃO PODERIA SER MELHOR. Atualmente, com 152 vacas em produção, pretende tirar o maior partido do seu efetivo e, para isso, conta com um Unifeed que assegura ser rápido, preciso e económico. A sua mistura atual é constituída por palha (75 kg), ração comercial (450 kg) e silagem de milho (2700 kg). Primeiro é inserida a ração, seguida da palha graúda – a qual é picada – e da silagem de milho. Descreve-se como um apaixonado pela Sgariboldi, uma marca à qual associa credibilidade e confiança. A escolha deste Unifeed em particular fez-se depois de uma visita a Itália. Procurava um equipamento que fosse rápido e perfecionista no tipo de mistura, económico a nível de consumos, com pouco desgaste e que fizesse uma mistura homogénea desde o início ao fim da descarga. As suas exigências, garante, IMAGEM 2 e 3 – Fresa e facas do unifeed; IMAGEM 4 – Corte no silo de milho; IMAGEM 5 – Moinho picador; IMAGEM 6 – Interior da cuba com as asas misturadoras; IMAGEM 7 e 8 – Misturas das vacas em produção e secas.

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IMAGEM 9 Íman rotativo no tapete de descarga.

foram completamente satisfeitas. Destaca ainda a rapidez do processo: uma mistura de três toneladas e meia é feita em catorze minutos e gasta três litros de combustível. O balanço não poderia ser mais positivo para este produtor: além de ter um arraçoamento homogéneo e “solto”, no qual as vacas não fazem seleção, acresce ainda um aumento de consumo de matéria seca de 1 kg por vaca. As melhorias são particularmente visíveis no grupo das vacas secas, nas quais relata ter muito menos problemas de parto e um bom arranque de produção.

PONTOS FORTES DO EQUIPAMENTO

João Marques, nutricionista na Nanta, também destaca os pontos fortes do equipamento nas suas diversas vertentes. O primeiro prende-se com a grande versatilidade no maneio alimentar da exploração permitindo produzir, por exemplo, misturas com elevada percentagem de palha/forragem seca

(para vacas secas) ou misturas de pequeno volume em relação à capacidade total do Unifeed (para a recria), sempre sem prejudicar quer o tamanho de partícula quer a homogeneidade da mistura final. O segundo ponto forte prende-se no facto de como o processo de “desensilagem”/ condução da forragem até ao Unifeed é independente do processo de trituração ou mistura dos ingredientes, mantendo íntegra a estrutura física da fibra das forragens dominantes (sobretudo da silagem de milho). Desta forma, o esforço

do equipamento durante a mistura é claramente inferior ao de modelos convencionais que efetuam a mistura e o corte da forragem em simultâneo, o que se reflete na poupança de combustível. A mistura final é assim estruturalmente menos compacta e mais solta, o que a torna mais apetente para as vacas. Isto será vantajoso sobretudo quando a percentagem de matéria seca da mistura total for inferior a 45%, devido à incorporação de componentes húmidos na dieta.

PRODUÇÃO DE CARNE: NOVAS LEIS, MAIS INOVAÇÃO Entrou em vigor na UE no passado dia 1 de janeiro a nova versão do Regulamento nº 2015/2283 relativo a novos alimentos a qual, de acordo com a opinião de especialistas, poderá abrir caminho para um aumento da inovação na produção de carne. Os novos alimentos são usados como óleos de processamento de carnes (obtidos, por exemplo, a partir de canola geneticamente modificada) e também como ingredientes e aditivos, pelo que a nova versão do regulamento pode vir a dar origem a uma maior variedade de produtos cárneos processados. Entre as novidades está a centralização dos processos de tomada de decisão, com consequente agilização e simplificação dos pedidos de autorização, bem como a inclusão de uma definição legal de nanomateriais, os quais são materiais desenhados à escala molecular (em termos comparativos, 100 nanómetros = 0.000000001 metros!). Apesar do pequeno tamanho

destas moléculas, a sua utilização na indústria poderá ter uma importância de magnitude gigante, permitindo dar-se os primeiros passos para o desenvolvimento de carne clonada. Este novo regulamento, no qual foram revistas leis com cerca de duas décadas, foi bem recebido pelo comissário europeu responsável pela área da Saúde e Segurança Alimentar, Vytenis Andriukaitis, que o descreveu como “um acordo de inovação e novas tecnologias” que permitirá a empresas do sector alimentar comercializar os seus produtos por cinco anos caso estas criem inovação de forma cientificamente comprovada. Em novembro de 2015 existiam já cerca de noventa novos alimentos comercializados no espaço europeu. Número que - fruto do conhecimento atual e necessidades alimentares cada vez maiores devido ao crescimento populacional - irá certamente aumentar à luz deste tipo de legislação.

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A LEITE DO CAMPO ACABA DE LANÇAR UM NOVO PRODUTO! Um queijo de mesa amanteigado e de qualidade superior produzido com muito amor, tempo e arte, recorrendo ao melhor leite de vaca dos campos férteis de Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Famalicão e Barcelos. Já pode adquiri-lo na Leicar, Rua Fonte da Cabra, 1140 4570-430 Rates - Póvoa de Varzim.


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FORMAÇÃO II JORNADAS ADS ESTREMOZ 2 E 3 DE FEVEREIRO DE 2018 O Agrupamento de Defesa Sanitária de Estremoz (ADS Estremoz) convocou a 2ª edição das suas jornadas para os próximos dias 2 e 3 de fevereiro. Esta iniciativa, que terá lugar nas instalações do Parque de Feiras e Exposições de Estremoz, tem por objetivo melhorar a produtividade e competitividade dos associados e conta com a participação de especialistas de entidades e empresas que falarão sobre temas relacionados com a produção, reprodução, maneio e comercialização de ruminantes.

PARQUE DE FEIRAS E EXPOSIÇÕES

Inscrições: A entrada é livre, mas pressupõe uma inscrição que deverá ser efetuada nas instalações da Associação (Zona Industrial, Lote 86). Mais informações: www.adsestremoz.pt PROGRAMA 2 de fevereiro | Produtores - Auditório 9h30 Sessão de Abertura 10h15 Como controlar o parasitismo de forma mais sustentável (Dr. Miguel Matos – ZOETIS) 11h00 Pausa para café 11h15 Tempo de proteger (Dr. André Preto – MSD) 11h45 BVD e IBR: norma e vantagens de controlo (Dr. Ricardo Bexiga) 12h30 Pausa para almoço 14.00 Como reconhecer os sinais de parto e atuar parta evitar perda de vitelos (Dr. João Cannas da Silva) 14h45 Importância do diagnóstico de gestação em ruminantes (Dr. António Cortes) 15h30 Produção de bovinos em extensivo. Projeto Jovem Agricultor (Henrique Macau Pereira) 16h00 Pausa para Café 16h15 Criando oportunidades na produção sustentável de bovinos de carne (Eng.º Nuno Belo Marques) 17h00 Parasitismo e produtividade em bovinos (Dr. Miguel Lopes Jorge - Boehringer) 18h00 Fecho das jornadas

3 de fevereiro | Produtores - Auditório 9h30 10h15 11h00 11h15 11h45 12h30 14h00 14h30 15h15 16h00 16h15 16h45 17h15 18h00

As Vacinas de Rebanho e o futuro da produção nacional (Dr.José Oliveira – Laboratório Sorológico) . Integração entre o sequeiro e o regadio numa estratégia de sustentação da produção animal (Prof. Doutor Mário de Carvalho) Pausa para café Alimentação de ruminantes em extensivo (Prof. Doutor Cancela de Abreu) Breve abordagem sobre as ajudas anuais, no âmbito do pedido único (Eng.º Gonçalo Fonseca) Pausa para almoço Rotas de exportação internacionais de ovinos (Sr. Augusto Serralheiro) Aspetos práticos da gestão de uma exploração de ovinos (Dr. Miguel Madeira e Eng João Madeira) Peeira (Dr. Miguel Jorge Lopes- Boehringer) Pausa para Café Controlo de ectoparasitas em pequenos ruminantes (Drº Ricardo Romão – Ecuphar) Lã – Tosquia, concentração e comércio (Eng. Tiago Perloiro) RUMIGEST – Programa de gestão de efetivos pecuários do ADS de Estremoz (Enf.ª Ana Caeiro - ADS de Estremoz) Fecho das jornadas

adsestremoz.jornadas@gmail.com | www.adsestremoz.pt

II ENCONTRO TÉCNICO-CIENTÍFICO DE NUTRIÇÃO DE BOVINOS 16 E 17 DE FEVEREIRO O II Encontro Técnico-Científico de Nutrição de Bovinos, a decorrer nos dias 16 e 17 de fevereiro, organizado por alunos da Universidade de Trásos-Montes e Alto Douto (UTAD), tem por objetivo apresentar as novas informações na área. Este evento destina-se essencialmente a produtores, profissionais e estudantes das áreas MédicoVeterinária, Agronómica e Zootécnica. Inscrições: As inscrições podem ser feitas no site https://aemvutad.wixsite.com/iinutricaobovinos. Se for profissional, pode inscrever-se com o código promocional “ENR2” e terá um desconto de 10 euros. Mais informações: https://www.facebook.com/aemv.utad http://aemvutad.wixsite.com/aemvutad

3 de fevereiro | Veterinários - Sala de Reuniões 9h30 10h00 10h30 11h00 11h15 11h45 12h30

Tempo de proteger (Dr. André Preto – MSD) Fertilidade de vacas de carne (IBR e BVD) (Dra Deolinda Silva – HIPRA) Controlo de Oestrus (Dr Helder Quintas) Pausa para café Campilobacteriose em Ruminantes (Prof Luis Costa) Vacinas de Rebanho: o seu parceiro no campo (Dr. Vasco Martins- Laboratório Sorológico) Almoço

RUMINANTES JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 85


NÃO DEIXE DE...

X JORNADAS HVME 2 E 3 DE MARÇO DE 2018 As Jornadas do Hospital Veterinário Muralha de Évora vão realizar a 10ª edição. O evento, que terá lugar em Évora nos dias 2 e 3 de março, é já considerado um dos mais representativos a nível Ibérico na área da produção pecuária e equinos, sendo também o maior encontro técnico sobre bovinos de carne em Portugal. A última edição reuniu mais de 600 participantes. Este certame destina-se a produtores pecuários, criadores e proprietários de cavalos, médicos veterinários, enfermeiros veterinários, auxiliares veterinários, estudantes bem como a outros profissionais do sector agropecuário. Este ano, as Jornadas contam, também, com oradores nacionais e internacionais, nomeadamente com o brasileiro Osler Desouzart, consultor do World Agricultural Forum, e com Jorge Pinto Ferreira, membro da “Safe Food Solution” que tem desenvolvido vários estudos sobre o impacto das resistências a antimicrobianos em animais e humanos. Haverá ainda uma Programa mesa redonda onde será debatido o impacto das alterações climáticas na produção agropecuária no Alentejo, perspetivas futuras e estratégias de adaptação. Irão decorrer igualmente as 4as Jornadas de Enfermagem Veterinária em Hora Tema Animais Exóticos, que serão realizadas em parceria com o Monte Selvagem Reserva Natural. Como novidades, este ano, teremos o concurso de Posters Científicos umsecretariado 8:30 Aberturae do ciclo de palestras destinadas à Raça Brava.

SERBUVET ORGANIZA 4º ENCONTRO TÉCNICO DE PRODUÇÃO DE LEITE 9 DE MARÇO DE 2018 Realizar-se-á no próximo dia 9 de março, o 4º Encontro Técnico de Produção de Leite, organizado pela Serbuvet. Este ano, este encontro terá lugar na Estação Zootécnica Nacional, em Vale de Santarém. Como vem já sendo hábito, serão discutidos temas relevantes para o sector leiteiro, incluindo palestras sobre reprodução, ventilação de viteleiros ou gestão de recursos humanos. ParaOrador além das palestras, Duração espera-se que a presença de todos contribua para a partilha de conhecimentos e evolução do sector.

Inscrições: 9:10 – 9:15 Sessão de abertura Lima Podem ser feitas atravésPedro do e-mail Mais informações: visite o site www.hvetmuralha.pt ou contacte através do geral@serbuvet.com email jornadas.hvme@gmail.com ou –do9:45 telefone 266 771 758 de vitelos até ao desmame 9:15 Alimentação Miguel Rodrigues, Ruminex

9.45 – 10.15 10:15 – 10:45 10:45 – 11:15 11:15 – 11:45 11:45 – 12:15 12:15 – 13.00 13.00 – 14.30 14:30 – 15:15 15:15 – 16:00 16:00 – 16:10 16:10 – 16:20

PROGRAMA

Vale a pena pasteurizar colostro? Botero, Dairy Tech 8h30 Abertura do Jorge secretariado

9h10 Sessão de abertura (Pedro Lima) 9h15 Alimentação de vitelos até ao desmame A definir Palestra Patrocinador Platina (Miguel Rodrigues, Ruminex) 9h45 Vale a pena pasteurizar colostro? Pausa para café (Jorge Botero, Dairy Tech) 10h15 A definir (Palestra Patrocinador Platina) 10h45 Pausa para café Incentivar recursos humanos para melhorar Gonçalo Lucena, Almarai 11h15 Incentivar recursos humanos para melhorar performance em explorações leiteiras performance em explorações leiteiras (Gonçalo Lucena, Almarai) Joan Pineda Bosch, Reconhecer sinais de doença em vitelos 11h45 Reconhecer sinais de doença em vitelos veterinário liberal (Joan Pineda Bosch, veterinário liberal) 12h15 Como reverter o declínio da fertilidade? Luis Costa (Luis Costa, Fac. Med. Veterinária, ULisboa) Como reverter o declínio da fertilidade? 13h00 Almoço Fac. Med. Veterinária, ULisboa 14h30 Ventilação de viteleiros: abrir ou fechar? Almoço (Joan Pineda Bosch, veterinário liberal) 15h15 Resolução de conflitos (Generosa do Nascimento, ISCTE)Bosch, Joan Pineda Ventilação de viteleiros: abrir ou fechar? 16h00 A definir (Palestraveterinário patrocinador ouro) liberal 16h10 A definir (Palestra patrocinador ouro) 16h20 A definir (Palestra patrocinador ouro) Generosa do Nascimento, Resolução de conflitos 16h30 Pausa para café ISCTE 17h00 Avaliação do cross-breeding em 8 explorações (Inês Prata) Palestra patrocinador ouro A definir 17h15 Alimentação de vitelos e ocorrência de lesões no rúmen (João Vieira, Ovibov) Palestra patrocinador ouro 17h30 Encerramento dos trabalhos A definir

16:20 – 16:30

A definir

XX ZOOTEC

16:30 – 17:00

Pausa para café

5 E 7 DEABRIL DE 2018

17:00 – 17:15

Avaliação do cross-breeding em 8 explorações

Palestra patrocinador ouro

Organização - SERBUVET 86 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2018 RUMINANTES

30’ 30’ 30’ 30’ 30’ 30’ 45’ 90' 45' 45' 10' 10’ 10’ 30'

Inês Prata

A Associação Portuguesa de Engenharia Zootécnica (APEZ) realiza, 5 a 7 de a 20ª Edição do Congresso de Zootecnia - Zootec, Alimentação dedevitelos e abril, ocorrência de lesões 17:15 – serão 17:30comemorados os 40 anos de Ensino da Zootecnia em Portugal e osJoão Vieira, Ovibov na UTAD em Vila Real. Simultaneamente 30 anos da APEZ. no rúmen Os trabalhos têm enfoque no Bem-Estar Animal; Economia e Gestão; Instalações e Equipamentos Zootécnicos; Melhoramento Animal; Nanozootecnia; Nutrição e Alimentação Produção e os Serviços Eco-Sistémicos; Produções: Abelhas, Encerramento dosAnimal trabalhos 17:30 –Animal; 17:35 Políticas e Legislação; Aves, Bovinos de Carne, Coelhos, Equinos, Espécies Cinegéticas, Insectos, Peixes, Suínos, Vacas Leiteiras; Reprodução Animal; Tecnologia e Segurança Alimentar; Zootecnia de Precisão; Zootecnia e o Ambiente; Zootecnia e Produção de Alimentos; Zootécnicos na Diáspora. Mais informações: www.zootec.apez.pt

5'

15’ 15' 5'



O seu bem estar, a sua rentabilidade O Programa de recria Prima da Nanta melhora a rentabilidade das explorações através do bem estar das vitelas. O Prima trabalha em quatro conceitos essenciais para o bem-estar dos animais: o colostro, a lactação, o desmame e os cuidados a ter nas diferentes variáveis como o meio ambiente, a saúde e ambiente social. O nosso programa oferece benefícios comprovados para o agricultor: maior desenvolvimento das vitelas, melhoria do seu sistema imunitário, redução do stress no desmame, antecipação da primeira inseminação e da idade do primeiro parto, mais produção de leite e maior vida produtiva da vaca. Com o Prima as vitelas são mais felizes e o agricultor também.

nanta@nutreco.com


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