Olho de peixe

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Rian Fontenelle*

A imagem como reconstrução do instante-tempo -mudo aprisionado. A presunçosa sentença da fotografia como celebração do repouso. Compreenderás que um bailarino pouco poderá falar do Repouso. Esta narrativa, do registro do baile delirante em seu pressuposto movimento veloz, condensado no instante-intervalo é de domínio do fotógrafo atento, de quem faz da imobilidade apreendida de um salto, seu ofício, sua percepção laboral da coreografia improvisada que o cerca e emociona. Da paixão e medo que inquietamente espelhamos os nossos guardados e convida-nos ao sorriso ofegante, perante a vontade implacável da arte em dialogar. Toda a Imagem, toda a Dança, toda a Palavra nos é Ponte. Travessia em nós. Gesto-convite para a prosa que transpassa incisivo e difuso os nossos sentidos. Há de se ler que os ensaios apresentados traçam passos que revelam, pelo emaranhado de vigor e tensão de braços, pernas e torsos onde dançam estórias de amor e morte. Contam trajetórias de equilíbrio, de técnica e esforço irradiando em transe nervoso – em rotações vertiginosas – onde o olho percorre o prazer da dança. Perceberás, agora, a provocação quase paradoxal de trazer ao baile a Pausa. Construindo um novo universo

imobilizado de gestos e cenários congelados como subversão ao que se faz raro ao espetáculo. A quietude tensa e inércia muda no bailarino. Não há conflito no aparente embate de som e movimento versus silêncio e repouso. Há reflexão! Testemunho. Convite franco para o argumento dançado expresso,

pequena nota sobre o gesto resistente

Aqui, poéticas do não esquecimento

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