Revista Linhas 16

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Alexandre Kumagai

Alexandre Kumagai nasceu em 1981 no seio de uma família de origem japonesa em São Paulo, no Brasil, e por lá viveu os seus primeiros nove anos de vida, radicando-se depois em Portugal. Com um percurso de vida marcado pela fusão de culturas e influências, de que tanto se orgulha, fala da sua infância relembrando grandes momentos de alegria e da liberdade que o guiou e se revelou fundamental para a sua formação como designer. “Quando era criança sonhava ser piloto de carros. Nas minhas brincadeiras virava a casa da minha avó ao contrário. Juntava as almofadas do sofá para fazer o ‘cockpit’, uma lata de biscoitos era o volante, sapatos eram os pedais e a minha avó e os meus tios alinhavam, divertíamo-nos imenso e tinha total liberdade.” Olhando para esta fase com alguma distância, salienta que o que realmente gostava era “do processo de imaginar e de criar, mais do que pilotar o ‘carro’, este processo é algo que nunca me foi reprimido, pelo contrário, sempre me foi incentivado.” Pela Universidade de Aveiro (UA), nutre um sentimento forte. Foram quatro anos marcados pelas amizades para toda a vida, pelo crescimento pessoal e pelo contacto desenvolvido com os professores. O fato de passar a viver numa cidade desconhecida e a quilómetros de casa ajudou a criar laços muito fortes.”Nesta época, não éramos só amigos, assumíamos o papel de pais e irmãos uns dos outros. Nós cuidávamos uns dos outros de forma incondicional.” Do curso em Design, faz alusão aos bons docentes com quem teve a oportunidade de aprender e apreender bastante, recordando alguns nomes com quem ainda se identifica, pela visão clara e pragmática que tinham perante os projetos. Evidencia ainda “as aulas que tive no Departamento de Engenharia Cerâmica e do Vidro, por nos confrontarem perante problemas concretos, questões técnicas e até cálculos.” Já com alguma experiência na bagagem, faz uma avaliação da sua formação com um olhar mais crítico realçando a importância da manutenção

do carácter industrial que o curso de design já assumiu e a sua relevância tendo em conta o tecido empresarial que envolve a UA e a região.

a capacidade de se surpreender e a disposição para apreender são vetores fundamentais que nunca quer perder.

Mesmo antes de concluir a licenciatura, reuniu uma série de trabalhos académicos seus e bateu à porta do ateliê do Arquiteto Nuno Lacerda. Uma conversa informal bastou para impressionar o arquiteto. Passado pouco tempo, já tinha nas mãos um contrato de trabalho e adivinhava-se um período criativo e frenético. Aqui desenvolveu variadíssimos trabalhos de espaços, sobretudo comerciais, como as Lojas Vivo (operadora de telemóveis brasileira), um mega projeto de customização de todas as lojas da marca que ainda hoje é aplicado. Exigente nas suas escolhas, Alexandre Kumagai mudou entretanto o rumo do seu percurso profissional. “Em 2006, conheci uma pequena carpintaria e decidi que queria aprender a trabalhar com madeiras. Por isso, despedi-me e voluntariei-me para trabalhar de graça como aprendiz de carpinteiro. Foi uma decisão que pode parecer estranha, mas passados três meses fui aceite para trabalhar na empresa De La Espada, como designer industrial.”

Através dos olhos do talentoso designer, esta é uma profissão em constante mudança. Por este facto, aconselha os recém-licenciados na área a não se limitarem a acompanhar a mudança mas, sim, assumirem-se como agentes ativos. Passa também a mensagem que, quando se sai da universidade, o importante é adquirir essencialmente ritmo, conhecimento técnico e”killer instinct” para ser um profissional de excelência.

Nesta empresa, fundada há 18 anos e referência no panorama do design a uma escala mundial, o antigo aluno da UA acumula a função da gestão de desenvolvimento de produto. Com apenas 30 anos, Alexandre Kumagai não conhece o termo rotina pois todos os projetos são distintos, constituindo um desafio a cada dia. Participa em imensas reuniões ou sessões de prototipagem em diversos pontos do país. É parte integrante de todas as etapas do processo, pois nenhum detalhe pode escapar-lhe. E dedica dois meses do ano a viajar pelas feiras de mobiliário que acontecem nos quatro cantos do mundo.”É uma vida aparentemente desregrada, não tenho horários e organizo-me conforme as circunstâncias. Creio que ser designer é mesmo assim, não é só um trabalho, é um estilo de vida, algo entranhado.” Para além da paixão e do prazer que o motiva diariamente, a curiosidade,

Finaliza dizendo “a sensação que eu tenho quando estou a projetar é muito semelhante à das minhas brincadeiras de criança. No fundo, o que eu quero dizer, é que é esta pureza que faz algumas das competências essenciais de um designer.”

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