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/ Cérebro Eletrônico

O presente é o passado do futuro Empreendedores sempre existiram. Mas nunca antes na história eles tiveram um mercado global ao alcance dos dedos

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u não me lembro de nada do que aconteceu depois que — supostamente — conversei com aquele golfinho em 2032. Talvez o encontro comigo mesmo tenha sido o gatilho da minha volta. De repente “acordei em 2012”. Tinha voltado ao “presente”. Mas por que o presente sempre me lembra o passado? Ainda outro dia li um texto na revista The Economist anunciando tempos muito difíceis para o comércio tradicional na Europa. O artigo dizia que as empresas que não estivessem mergulhadas no comércio eletrônico podiam se preparar para o pior — inclusive falência. Meu primeiro pensamento foi: a lg uém a i nda está ig nora ndo o e-commerce? A resposta é sim. Tem empresário que ignora a internet. Ele espera que a gente pegue o carro, enfrente o horror do trânsito, circule meia hora arriscando a vida na disputa por uma vaga no estacionamento, ache a loja dele e espere para ser atendido. Shoppings vão continuar existindo como centros de lazer e alimentação. Neles haverão lojas convencionais, onde os clientes poderão tocar nas roupas que compram ou provar o vinho antes de levar. Mas essa forma de co-

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mércio tende a virar minoria. E rapidamente. Apostar todas as fichas no caminho contrário é um convite ao suicídio. Com essas mudanças muita gente vai perder emprego. E continuar desempregada. Carteira assinada? 13º? Férias remuneradas? Esses privilégios pertencem ao passado, a não ser que você trabalhe no aparelho estatal. Para o resto de nós, isso acabou. Especialmente porque nossas leis trabalhistas são da década de 1930. E isso não vai mudar.

LeIs uLtrapassadas Grandes empresas tendem a desmontar suas megaestruturas. Elas vão ter de apelar cada vez mais para a pulverizada realidade dos autônomos, dos fornecedores de serviço e da terceirização. Na minha carreira vi gigantes desabarem por falta de capacidade de adaptação. E aí temos o desemprego. Que nesse mundo antigo é encarado como um ato de maldade do empregador. Para quem está empregado, o “mundo lá fora” é apavorante. Para quem não está empregado, é o real. Um mundo sem garantias, onde as leis são muito frágeis, as condições mais difíceis, os contratos mais fluidos. Um mundo onde anos sem férias é uma possibilidade real, onde as leis trabalhistas não valem.

Dagomir marquezi

Mas não se esqueça que o Mark Zuckerberg não seria hoje um bilionário se trabalhasse no almoxarifado de um banco. A necessidade é a mãe da invenção. No mundo “lá fora” é que estão as grandes oportunidades, os nichos a serem conquistados, as descobertas, as grandes sacadas (e é no mundo lá fora que você pode transformar sua terça-feira num domingo exclusivo). Empreendedores sempre existiram. Mas nunca tiveram um mercado global ao alcance dos dedos. Nem comunicações planetárias gratuitas, redes de pessoas se juntando publicamente aos milhares em grupos de interesses comuns. A maior parte dos documentos e mesmo das mercadorias se transforma em bits e bytes e chega ao destino no segundo seguinte. Temos uma emissora de TV em cada casa, computadores nos bolsos, economias cada vez mais integradas. Cada novidade na internet, cada aplicativo no celular, cada tablet mais barato multiplica a possibilidade de negócios e trabalho. Esse presente/futuro é um grande momento para uma aventura. Mesmo porque teremos cada vez menos opções. ↙

Dagomir Marquezi, 58 anos, dividiu sua vida entre o jornalismo e a ficção. Escreveu novelas, musicais e roteiros de cinema. Há 15 anos acompanha a tecnologia em sua coluna na INFO.

foto alExandrE battibugli

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