As alterações presentes em pacientes com Síndrome de
Estudando-se as características salivares de pacientes com
Down que aumentam as chances de desenvolvimento da doença
SD com relação ao fluxo e pH, Ensslin et al. (2009) não encon-
periodontal são: pouca higiene bucal, que determina a gravidade
traram qualquer variação da normalidade, contudo a capacidade
da lesão, gengiva com pobre potencial de cicatrização, fatores die-
tampão da saliva foi comprometida. Os autores realizaram estudo
téticos, anomalias bucofaciais, interferência na erupção dentária,
transversal comparativo com uma amostra de 15 indivíduos de
morfologia dentária alterada e má-oclusão. Existem ainda alguns
ambos os gêneros e idades variadas (entre 18 e 41 anos). Sete
autores que concluíram que o aumento da susceptibilidade à do-
eram pacientes institucionalizados na Associação de Pais e Ami-
ença periodontal nestes pacientes está associada à diminuição da
gos Excepcionais (APAE) e Associação de Familiares Amigos do
resistência a infecções bacterianas e maior incidência de infecção
Down (AFAD), portadores de Síndrome de Down. Oito eram pa-
nos tecidos periodontais (BERTHOLD et al., 2004).
cientes não portadores de SD, escolhidos aleatoriamente.
Sabe-se que os indivíduos com Síndrome de Down apre-
Os autores coletaram amostras de saliva não estimuladas,
sentam alterações no sistema imune, gerando diminuição da
pelo método de drenagem. Concluíram que os parâmetros sali-
quimiotaxia e fagocitose realizada pelos neutrófilos e monóci-
vares, fluxo e pH dos portadores de SD não apresentaram alte-
tos. Essa quimiotaxia deficiente dos neutrófilos foi correlaciona-
rações dos seus valores quando comparados ao grupo contro-
da à maior perda de osso alveolar, juntamente com o número
le. Porém, a capacidade tampão da saliva desses indivíduos foi
reduzido de linfócitos T maduros que esses indivíduos apresen-
menos eficiente quando comparada à saliva dos indivíduos não
tam. Tais características podem contribuir para a progressão
portadores da Síndrome.
da doença periodontal nos portadores de Síndrome de Down
Areias et al. (2011) estudou o efeito da composição da saliva
quando comparados com indivíduos normais (OLIVEIRA, 2007).
na prevalência da cárie dentária em crianças com Síndrome de
Quanto à susceptibilidade e prevalência da doença cárie, al-
Down. Considerou como população alvo um grupo de crianças
guns estudos relatam indicadores de cárie semelhantes ou menores
com Síndrome de Down com idade entre seis e dezoito anos e
nesse grupo de indivíduos em comparação com grupos não aco-
seus irmãos. A amostra foi feita com 45 crianças com trissomia
metidos pela SD e grupos com outras deficiências. Esse fato acon-
do 21 e 45 irmãos não portadores da trissomia do 21. Encontrou
tece provavelmente pelo aumento da capacidade tampão da saliva
32 % de prevalência total da cárie. As crianças com a trissomia do
e também pela tendência desses indivíduos apresentarem o hábito
21 tiveram menor prevalência de carie (22%) do que seus irmãos
de bruxismo. Nesse caso as superfícies oclusas suscetíveis à cárie
(42%). Não houve diferença significativa no que dizia respeito à
são frequentemente lisas e desgastadas pelo ranger dos dentes.
concentração iônica da saliva dos dois grupos.
Alguns autores relatam ainda que a baixa prevalência de
A candidíase bucal é uma infecção fúngica que afeta os hu-
cárie nesses indivíduos pode estar relacionada com o atraso
manos durante toda a sua vida (RIBEIRO et al. 2011). O funcio-
na erupção dos dentes e ao alto número de diastemas exis-
namento adequado do sistema imunológico humano propicia
tentes, o que reduziria de modo considerável a prevalência
comumente uma relação de equilíbrio entre microbiota autócne
de lesões de cáries proximais (OLIVEIRA, 2007).
e hospedeiro, porém alterações físicas, químicas, iatrogênicas
Carvalho et al. (2010), discutiram que apesar de algumas
e mecânicas, que se processam na cavidade bucal, podem fa-
características químicas e estruturais favorecerem a incidên-
vorecer a ruptura do equilíbrio estabelecido entre o fungo e o
cia de cárie em pacientes com síndrome de Down, a doença
hospedeiro, fazendo com que as infecções por cândida sejam
não ocorre, uma vez que o fluxo salivar e a macroglossia fa-
de origem geralmente endógena (VIEIRA et al., 2005).
voreceriam a autolimpeza bucal.
Alterações físico-químicas da saliva, variação de pH e da
Em contrapartida, observa-se estudos que discorrem a
concentração de sódio, cálcio e íons de bicarbonato, entre outras
respeito da associação da doença cárie e Síndrome de Down.
substâncias, parecem afetar a sobrevivência da cândida na cavi-
Alguns fatores locais determinantes da doença cárie, como hi-
dade bucal, favorecendo a alta concentração de cândida na boca
giene bucal precária e dieta cariogênica, muitas vezes se sobre-
das crianças com síndrome de Down (RIBEIRO et al. 2011).
põem aos “fatores de proteção”; o que levaria a maior prevalência de cárie em indivíduos portadores de Síndrome de Down.
Além disso, crianças com Síndrome de Down apresentam comprometimento da resposta imunológica inata e adquirida além das
Esses fatores podem se somar à alta frequência com que
alterações anátomo-fisiológicas bucais, macroglossia, estagnação
estes pacientes fazem uso de medicamentos adoçados indica-
salivar decorrente de incompetência muscular da boca, dificulda-
dos para sinusites, otites, amigdalites e outras infecções respi-
de motora fazendo com que estes fatores adicionais, as tornem
ratórias comuns a essa população (CARVALHO et al., 2010).
mais susceptíveis a processos infecciosos (VIEIRA et al., 2005).
92 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785