Pós em Revista N.8

Page 95

As alterações presentes em pacientes com Síndrome de

Estudando-se as características salivares de pacientes com

Down que aumentam as chances de desenvolvimento da doença

SD com relação ao fluxo e pH, Ensslin et al. (2009) não encon-

periodontal são: pouca higiene bucal, que determina a gravidade

traram qualquer variação da normalidade, contudo a capacidade

da lesão, gengiva com pobre potencial de cicatrização, fatores die-

tampão da saliva foi comprometida. Os autores realizaram estudo

téticos, anomalias bucofaciais, interferência na erupção dentária,

transversal comparativo com uma amostra de 15 indivíduos de

morfologia dentária alterada e má-oclusão. Existem ainda alguns

ambos os gêneros e idades variadas (entre 18 e 41 anos). Sete

autores que concluíram que o aumento da susceptibilidade à do-

eram pacientes institucionalizados na Associação de Pais e Ami-

ença periodontal nestes pacientes está associada à diminuição da

gos Excepcionais (APAE) e Associação de Familiares Amigos do

resistência a infecções bacterianas e maior incidência de infecção

Down (AFAD), portadores de Síndrome de Down. Oito eram pa-

nos tecidos periodontais (BERTHOLD et al., 2004).

cientes não portadores de SD, escolhidos aleatoriamente.

Sabe-se que os indivíduos com Síndrome de Down apre-

Os autores coletaram amostras de saliva não estimuladas,

sentam alterações no sistema imune, gerando diminuição da

pelo método de drenagem. Concluíram que os parâmetros sali-

quimiotaxia e fagocitose realizada pelos neutrófilos e monóci-

vares, fluxo e pH dos portadores de SD não apresentaram alte-

tos. Essa quimiotaxia deficiente dos neutrófilos foi correlaciona-

rações dos seus valores quando comparados ao grupo contro-

da à maior perda de osso alveolar, juntamente com o número

le. Porém, a capacidade tampão da saliva desses indivíduos foi

reduzido de linfócitos T maduros que esses indivíduos apresen-

menos eficiente quando comparada à saliva dos indivíduos não

tam. Tais características podem contribuir para a progressão

portadores da Síndrome.

da doença periodontal nos portadores de Síndrome de Down

Areias et al. (2011) estudou o efeito da composição da saliva

quando comparados com indivíduos normais (OLIVEIRA, 2007).

na prevalência da cárie dentária em crianças com Síndrome de

Quanto à susceptibilidade e prevalência da doença cárie, al-

Down. Considerou como população alvo um grupo de crianças

guns estudos relatam indicadores de cárie semelhantes ou menores

com Síndrome de Down com idade entre seis e dezoito anos e

nesse grupo de indivíduos em comparação com grupos não aco-

seus irmãos. A amostra foi feita com 45 crianças com trissomia

metidos pela SD e grupos com outras deficiências. Esse fato acon-

do 21 e 45 irmãos não portadores da trissomia do 21. Encontrou

tece provavelmente pelo aumento da capacidade tampão da saliva

32 % de prevalência total da cárie. As crianças com a trissomia do

e também pela tendência desses indivíduos apresentarem o hábito

21 tiveram menor prevalência de carie (22%) do que seus irmãos

de bruxismo. Nesse caso as superfícies oclusas suscetíveis à cárie

(42%). Não houve diferença significativa no que dizia respeito à

são frequentemente lisas e desgastadas pelo ranger dos dentes.

concentração iônica da saliva dos dois grupos.

Alguns autores relatam ainda que a baixa prevalência de

A candidíase bucal é uma infecção fúngica que afeta os hu-

cárie nesses indivíduos pode estar relacionada com o atraso

manos durante toda a sua vida (RIBEIRO et al. 2011). O funcio-

na erupção dos dentes e ao alto número de diastemas exis-

namento adequado do sistema imunológico humano propicia

tentes, o que reduziria de modo considerável a prevalência

comumente uma relação de equilíbrio entre microbiota autócne

de lesões de cáries proximais (OLIVEIRA, 2007).

e hospedeiro, porém alterações físicas, químicas, iatrogênicas

Carvalho et al. (2010), discutiram que apesar de algumas

e mecânicas, que se processam na cavidade bucal, podem fa-

características químicas e estruturais favorecerem a incidên-

vorecer a ruptura do equilíbrio estabelecido entre o fungo e o

cia de cárie em pacientes com síndrome de Down, a doença

hospedeiro, fazendo com que as infecções por cândida sejam

não ocorre, uma vez que o fluxo salivar e a macroglossia fa-

de origem geralmente endógena (VIEIRA et al., 2005).

voreceriam a autolimpeza bucal.

Alterações físico-químicas da saliva, variação de pH e da

Em contrapartida, observa-se estudos que discorrem a

concentração de sódio, cálcio e íons de bicarbonato, entre outras

respeito da associação da doença cárie e Síndrome de Down.

substâncias, parecem afetar a sobrevivência da cândida na cavi-

Alguns fatores locais determinantes da doença cárie, como hi-

dade bucal, favorecendo a alta concentração de cândida na boca

giene bucal precária e dieta cariogênica, muitas vezes se sobre-

das crianças com síndrome de Down (RIBEIRO et al. 2011).

põem aos “fatores de proteção”; o que levaria a maior prevalência de cárie em indivíduos portadores de Síndrome de Down.

Além disso, crianças com Síndrome de Down apresentam comprometimento da resposta imunológica inata e adquirida além das

Esses fatores podem se somar à alta frequência com que

alterações anátomo-fisiológicas bucais, macroglossia, estagnação

estes pacientes fazem uso de medicamentos adoçados indica-

salivar decorrente de incompetência muscular da boca, dificulda-

dos para sinusites, otites, amigdalites e outras infecções respi-

de motora fazendo com que estes fatores adicionais, as tornem

ratórias comuns a essa população (CARVALHO et al., 2010).

mais susceptíveis a processos infecciosos (VIEIRA et al., 2005).

92 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.