Edição Especial: Jornal da Praça

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Jornal da Praça Edição Especial Nave do Conhecimento

Nova Brasília

2014 - 2015

Tecnologia, Arte e Cultura Integração, Lazer e Respeito Comunidade, Favela e Potência Seriedade, Compromisso e Ação


“A memória coletiva popu-

lar tem força para vencer o embate por justiça e, com a

virtude

de exemplos, pode reivindicar

o futuro sonhado e desejado por pessoas ex-

traordinárias do Complexo NAVE DO CONHECIMENTO ENDEREÇO Rua Nova Brasília, s/n Praça do Terço Complexo do Alemão HORÁRIOS DE FUNCIONAMENTO Segunda: 13h30 às 20h30 Terça a sexta: 08h30 às 20h30 Sábado: 08h30 às 17h30 CONTATOS Tels.: 21 98481-8552 21 98481-8553 contato@pracadoconhecimento.com.br www.pracadoconhecimento.com.br

do

Alemão.”

CURSOS GRATUITOS ACESSO LIVRE À INTERNET AÇÕES CULTURAIS


EDITO RIAL

A Nave do Conhecimento é um lugar de arte, educação e comunicação, que recupera memórias e vivências da história de populações anônimas e invisíveis na modernidade em que poucos têm rosto e visibilidade. A Nave de Nova Brasília, no Complexo do Alemão, tem se caracterizado como uma extensão do quintal dos moradores do Complexo do Alemão. Nesse quintal, potencializam-se estruturas que deram base ao coletivo e à resistência de milhares de favelados. Em nossa experiência de quintal coletivo, devolve-se o conteúdo aos

protagonistas de belas e extraordinárias histórias registradas por alunos e frequentadores da Nave com a criatividade e escolhas que exigem dos representantes da ordem econômica e política as garantias dos direitos sociais para todos: educação de qualidade, saúde, moradia e trabalho digno. Nos quintais da vida há estruturas sociais, culturais e econômicas que permitem a sobrevivência em meio a perversidade imposta pela desigualdade social. Nos quintais das favelas, áreas rurais e periferias nascem todos os dias potenciais cientistas, médicos, artistas, professores e pesquisadores. Todos nascem com o potencial para serem o que quiserem ser. Para escolher, é necessário que as oportunidades sejam apresentadas e dadas as condições para que a ação seja realizada. Podemos pensar e crer em outra globalização. Planejar e executar ações permanentes que levem à transformação. Primeiro, é preciso acreditar no mundo melhor. É possível construir o mundo melhor. Segundo, acreditar que o destino (se há algum) aponta para o bem comum e sucesso de todos. Pobreza não é destino: é crueldade. Pobreza é fruto de tirania e acúmulo imoral de posses. Terceiro, acreditar no conhecimento. Conhecer a sua história e abraçar sua cultura é um fortalecimento comunitário, base para o desenvolvimento humano. É possibilidade de transformar, mudar a história, produzir cultura, criar um novo mundo ao invés de “descobrir” um novo mundo. Quarto, acreditar nos brasileiros: somos nós que podemos plantar, cuidar e colher. Já foi o tempo em que “Em se plantando tudo dá”. A vida e o bem brotam onde há cuidado. Precisamos cuidar. Quinto, reconhecer, acreditar e tolerar nossas identidades, nossa maior riqueza. Bem, parece que fugimos um pouco do quintal. Voltemos: nossa intenção é muito simples, vamos nos juntar de novo no quintal. Vamos ajudar a construir um mundo melhor.

Diquinho, Joanes (in memorian), Roldão, Odete Alves e Zé Mineiro 03

Nailton Agostinho Coordenador Nave do Conhecimento


MEMÓ RIAS

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os 50 anos do Golpe Militar, completados em 2014, a equipe da Nave do Conhecimento lembrou a história em seu evento “Memórias”, recuperando os “anos de chumbo” em que o Brasil e boa parte dos brasileiros viveram e ou se adaptaram para sobreviver. Juntamos no “Memórias” histórias de muitos brasileiros e brasileiras que lutaram contra a ditadura.

EDIÇÃO ESPECIAL

De 1964 a 2014 Um Golpe Militar que perdura em nossas mentes riamente nas ruas ou conversamos informalmente em filas de mercado: donas de casa ou aposentados que sentiram na pele os açoites distribuídos pela política do controle.

Nos 50 anos do Golpe não havia o que comemorar, mas sim celebrar e relembrar o fato de que essas pessoas são a prova viva de um tempo em que o povo foi o bravo braço da resistência e lutou em busca da liberdade e direitos A Nave do Conhecimento resolveu básicos para uma sociedade mais debater este tema e trouxe a tona alguns fatos históricos a partir de diferentes pontos de vistas, fatos que dão sentido à luta e às conquistas de muitas pessoas que permaneceram anônimas e não tiveram a chance de expor nos espaços possíveis as indignações que viveram naquela época tortuosa que foi a ditadura no Brasil. Uma semana inteira foi reservada para o contato com narrativas reais de pessoas comuns: histórias ricas de fatos verdadeiros e sem interesse em holofotes midiáticos. Gente comum, com quem cruzamos dia-

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igualitária, o que até hoje fazem de alguma maneira. Muitas histórias foram contadas. Fatos que muitos desconheciam, mas que deixaram marcas duras em algumas vidas. Mesmo sem inspiração para comemoração, era necessária uma aventura por esses temas que fosse prioritariamente uma maneira educativa de interagir com os participantes. E quando se mistura arte e tecnologia com respeito, dá nisso: uma manifes-


EDIÇÃO ESPECIAL tação de linguagens que nos levam tão profunda este tema. por caminhos singulares. Uma figura importante para a Tudo era tão variado e variável. preservação desta memória é o Até uma orquestra de cordas foi fotógrafo Evandro Teixeira, que pivô de uma intervenção ao ar livre nos deu a honra de ter suas fotocom notas musicais que marcaram grafias expostas de maneira simaquela época e até hoje são lem- ples e mostrar como foram aqueles dias. bradas como marco de resistência política. Poesias que subvertiam E é assim, entre uma fala e outra, toda a repressão impulsionada, in- entre fotos, charges e filmes, que clusive por outros canais de comunicação. uma memória de resistência e luta popular se mantém viva, carregada MEMÓRIA VIVA de verdades, emoção e conquistas, que contribuem para o Brasil avanLuz, câmera, ação: todos os recur- çar. Ainda há muito o que fazer, sos possíveis foram explorados mas repensar e discutir o país são para criar um ambiente recheado um bom começo. de conteúdos sobre os 21 anos de governo militar. Muitos fizeram seus próprios registros da época, o que nos permitiu visitar de forma

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MEMÓ RIAS

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Nave do Conhecimento de Nova Brasília promoveu mais uma edição do evento Memórias. Uma ação cultural que reuniu muitos parceiros e moradores locais. Foi mais uma oportunidade de os alunos dos cursos da Nave apresentarem suas produções, nas diversas áreas de cultura digital. Além de fomentar e fortalecer o processo de apropriação dos frequentadores desse espaço público. Exposição fotográfica, trabalhos de composição usando vários elementos tecnológicos,

Encerramento dos cursos no segundo semestre de 2014 Reunião de talentos, arte, tecnologia e ação solidária

apresentação de orquestra e exibição de filmes fizeram parte do evento. Durante três dias consecutivos, os espaços da Nave do Conhecimento foram abertos ao público com ações diversas de intervenção por meio de linguagens de comunicação, arte e tecnologia. A partir do conjunto de elementos visuais criado para interagir com o espaço e os visitantes, a exposição ganhou uma dinâmica própria, regada de nuanças e diversidades que provocavam a aproximação dos participantes.

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MEMÓ RIAS

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CUL SARAUBANDALHA TURA Mistura de arte e manifestação cultural É ocupação com potencial mobilizador de valores

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nde já se viu reunir um monte de expressões artísticas em um só ambiente? A ideia é misturar tudo, música com graffiti, poesia com artes plásticas e, assim, provocar um espetáculo de magia sonora, visual e sensorial com as pessoas. Pensa que é fácil? É prazeroso. Por isso se chama Saraubandalha, um conjunto de elementos da arte que se juntam e causam um estardalhaço cultural. Vozes se entrelaçam com olhares curiosos, sentidos atentos naquilo que os convida a ver, rever e criar conceitos. O espaço é uma oportunidade de estar em contato direto com o planejado e o espontâneo. Chance de se conectar com ideias que interagem naturalmente com o fluxo de valores sociais. INTERVENÇÕES Todas as apresentações surpreenderam o grande público. Da apresentação da Orquestra de Cordas, do projeto Ação Social pela Música do Brasil que, regida pelo maestro Edvan Moraes Jr, tocou um seleto repertório musical, indo do popular ao clássico. Passando por um som mais intimista, como o do cantor Carlos Vaz Coelho, com apenas voz e violão ou até ensaiar alguns passos de forró ao som de Cassiano e o Trio Beija-Flor. Ainda passaram pelo palco talentos promissores como as turmas do “O Som do Barraco” e da “Banca

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EDIÇÃO ESPECIAL CPX”, grupo de rap que fez sua primeira apresentação musical na edição passada e fez questão de retornar onde tudo começou.

A primeira edição foi muito bacana, mas essa que trouxe uma banda, foi sensacional João Paulo Silva Neri

Eu nunca fui tão homenageada, e de maneira tão legítima Mariza Nascimento

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Saraubandalha

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CIRCULANDO, CIRCULANDO Nave do Conhecimento de Nova Brasília, presente no Circulando - Diálogo e Comunicação na Favela

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ela segunda vez consecutiva, a Nave de Nova Brasília participa do evento CIRCULANDO – DIÁLOGO E COMUNICAÇÃO NA FAVELA, promovido pelo Instituto Raízes em Movimento, instituição • Associação de Moradores Nova parceira do Complexo do Alemão, traBrasília zendo para a 10ª edição o argumento • Barraco 55 central “PELA VIDA”. • Casa da Ciência – Centro Cultural de Ciência e Tecnologia da Este ano, a Nave levou uma parte da UFRJ exposição “De olho na Rua – Aprendi• CIA Inútil de Teatro zados de Mídia e Participação”, • Cinecarioca exposição que conta a trajetória do • CISCO Network Academy Centro de Criação de Imagem Popular • Classe D (CECIP), organização que há 30 anos • Comando Selva trabalha com educação e comunicação • Descolando Ideias popular. A Nave também levou para • ENEARTE( Uerj) o evento as oficinas de pintura • Escola Popular de Saúde do e fotografia. • Complexo do Alemão • Escola Municipal Professor A fim de integrar arte e tecnologia, Affonso Varzea pintores brasileiros como Portinari, • Fábrica Verde Romero Britto, Tarsila do Amaral, en• Festival de Cinema Adaptação tre outros artistas tiveram suas obras • Fotoclube Alemão disponibilizadas nos tablets. Ação • Gilmar da Rádio (Nova Brasília) que estimulou o imaginário criativo e • Grafiteiros: Mario Bands, possibilitou que, a partir da atividade, Wallace Bidu, Leandro Segga, as crianças pudessem recriar suas Prema Bhakti, Rine Menezes, próprias pinturas. Já com a oficina de Douglas Ripper, Gleydston Barba fotografia, os pequenos exercitaram a e Tiago Tosh noção de enquadramento, praticando • Grupo Movimento de Reintea regra dos terços. Ao final da ativigração das Pessoas Atingidas pela dade, os participantes escolheram quaHanseníase tro de suas melhores fotos, que foram • Instituto Raízes em Movimento impressas e expostas em um varal fotográfico.

PARCE RIA

Nossos Parceiros

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• IPEA • JMJ – Jornada Mundial da Juventude Católica • José Franklin • Jovens e Empreendedorismo – SASDH • Memórias Reveladas • Maria Penha • NUMBA – Núcleo de Mulheres Brasileiras em Ação • Observatório de Favelas • Educap • Proinape - Programa Interdisciplinar de Apoio as Escolas • Projeto Ação Social Pela Música no Brasil • Projeto Portinari • Projeto Vidançar • Rádio Fala Mulher • SEBRAE • SENAI • Sequoia Foundation • Teatro da Laje • Turismo no Alemão • TV Zona de Paz • Rio+Social • Unidos do Complexo do Alemão • Verdejar – Socioambiental • Voz da Comunidade


EDIÇÃO ESPECIAL

POR A CIDADE É NOSSA AÍ Se o museu não vem a nós, vamos até ele O saber está logo ali, basta uma aproximação

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ara muitos, aquela era a primeira vez em que tinham contato com um Centro Cultural e principalmente com obras de arte produzidas por mãos de conceituados artistas, como Salvador Dalí. Passar uma manhã no CCBB, bem no centro do Rio de Janeiro, foi uma aventura produtiva para aquele grupo de pessoas (moradores, alunos e funcionários da Nave do Conhecimento de Nova Brasília). Normalmente, esse é o sentido de todos os passeios realizados pelo projeto. A proposta é interagir diretamente com a cidade e os pontos memoráveis que ornamentam o saber sociocultural. A cidade e seus adornos históricos e sensoriais provocam a curiosidade natural das pessoas, que, sutilmente, exploram cada particulari-

explorar ainda mais seus ímpetos e tudo ao seu redor, inclusive o que É a partir dessa ótica que uma não conhece. das ações pensadas pela Nave do Conhecimento objetiva estreitar os Navegamos por emoções excaminhos para alcançar esses es- traordinárias sempre que deparapaços e criar recursos para o acesso mos com novos pontos de vista ou popular, que é direito de todos e nos chocamos com formatos inopode surtir efeitos transformadores vadores de entender o mundo. E isso parece ritmar a aproximação em suas perspectivas de vida. do homem em direção ao conheciUma aula prática de fotografia, no mento pleno, estando aparelhado Mirante da Favela Santa Marta, com códigos que excitam o raciocínio. pode gerar valores fundamentais para a formação do aluno que cos- É fácil sentir-se potente quando se é parte de alguma coisa, nesse tuma se fechar dentro da sala caso, a cidade. Só assim se tem de aula. uma sociedade mais pensante, O mundo está à sua frente e seus consciente para dar passos mais cliques são mais estudados. Ele longos. Quando se promove essa sente que faz parte daquilo a ponto circulação em ambientes públicos, de se perceber como cidadão pro- pouco frequentados pelos moraprietário de um bem, capacitado a dores da favela, os horizontes se dade em momentos oportunos.

Saída fotográfica Mirante Dona Marta 12


EDIÇÃO ESPECIAL ampliam provocando fórmulas para o crescimento pessoal, indispensável para a construção de um senso crítico social que afaste dúvidas sobre seu lugar de direito e sua cidadania.

sólidos para a combinação entre criação e produção. Que vá além de um exercício, de um passeio turístico, mas que cada um se identifique verdadeiramente com seus propósitos e parte de uma cidade regada de diversidade. Afinal, a CAMINHOS ABERTOS referência mais indômita é aquela que nos surpreende com sua A finalidade desses passeios para magnitude e inspira criações desexposições, museus ou pontos tu- medidas em intenções. rísticos da cidade se resume exclusivamente em trazer elementos O novo provoca nossa sensibili-

dade e transporta-nos a realidades distintas, proporciona um êxtase intangível, diferentemente do que é comum aos nossos olhares, que, de certa forma, passa despercebido mesmo quando possui potencial. Nada vai substituir o prazer de testemunhar o novo. Nossos comportamentos serão alterados a partir desse contato.

Exposição “De Olho na Rua” - Aprendizado de Mídias e Participação Casa da Ciência

Museu de Arte do Rio MAR

Visita ao CCBB exposição “Salvador Dali” 13


EDIÇÃO ESPECIAL

ENTRE ARTE ADAPTADA VISTA

Superação a partir da arte Uma história capaz de estimular novos conceitos

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m 1993, Márcio Alcântara, morador do Complexo do Alemão, sofreu um acidente de moto que o deixou tetraplégico. Depois de enfrentar e superar todas as barreiras que a vida lhe apresentou: as limitações físicas, a exclusão social e o preconceito. Márcio descobriu as artes plásticas e o esporte. Pintando com a boca ele realizou em setembro de 2014 a sua primeira exposição individual na Nave do Conhecimento de Nova Brasília. Surpreso com a receptividade do público que não poupou elogios aos trabalhos apresentados, Marcio garante que isso é algo que só provoca ainda mais seu ímpeto para pintar. Com esta exposição: “Muitas portas se abriram”, segundo o próprio artista. Com entrevistas agendadas e com grandes chances de ingressar oficialmente na Associação dos Pintores com a Boca e os Pés, ele nos relata: “Já na primeira semana da mostra recebi um telefonema de um representante da Associação”. Ao ingressar neste grupo, Márcio vai poder se dedicar ao máximo a pintura e ao aperfeiçoamento de suas técnicas. O artista ressalta que tudo isso é fruto de sua

parceria com outro artista, Jefferson Maia, que o encorajou e o incentivou a pintar. Nave do Conhecimento: Sem nenhuma especialização, conte como foi para você ver sua primeira obra pronta. Marcio: Lembro que comprei o material pela internet e assim que chegou, mesmo sem conhecer os tipos de pincéis, a tinta ideal, comecei a pintar. Para uma primeira experiência até que saiu uma coisa bacana. As pessoas começaram a elogiar e acabei sendo surpreendido com o resultado, pois jamais tinha pensado que poderia pintar. Foi tão grande a felicidade que senti, que no dia seguinte já estava pintando a próxima tela. NC: E por que fazer sua própria representação em uma pintura? Marcio: A princípio não era para ser, a inspiração na verdade veio de um retrato. Como só tinha pintado casa, árvore, e ao olhar para aquele senhor sentado em frente aquela casa acabei me vendo na mesma situação daquele personagem, por conta de passar muito tempo sozinho em casa. Tenho um carinho todo especial por este trabalho, é o meu xodó.

Marcio Alcântara (esq.) e Jaferson Maia

NC: Em sua primeira mostra individual e ainda na localidade onde mora, que resultado isso atribuiu para o seu trabalho? Marcio: O resultado foi melhor que esperava. Achava que umas 20 pessoas iriam vir ver, e pelo que sei mais de 100 pessoas da comunidade já visitaram a exposição. Achei que por ser morador daqui, e se tratar de pintura, 14


EDIÇÃO ESPECIAL muita gente não daria valor e me sur- Marcio: Achei que o espaço entendeu preendi. que por ser tratar de trabalho diferente, seria interessante estender por mais alNC: Como é ver algumas de suas obras guns dias para que outras pessoas que reunidas num mesmo espaço onde es- talvez não tivesse a oportunidade de tuda, e ao mesmo tempo expostas para vir, seja por conta do trabalho ou esapreciação não só do público, mas co- tudo, teriam mais uma chance. legas de turma, professores? NC: E quanto ao contato tanto aguarMarcio: Geralmente em exposições dado por você da ABBP (Associação coletivas das quais já participei, é co- dos Pintores com a Boca e os Pés), já mum você apresentar somente 1 tra- aconteceu? Quais os próximos passos balho, e aqui estou expondo 8 obras, para a concretização da bolsa? é algo muito diferente. Posso dizer que aqui estão quase todas as telas que Marcio: Já na primeira semana da tenho neste período de um ano, desde mostra recebi um telefonema de um quando comecei a pintar. Deixou-me representante da Associação. O prómuito feliz em poder mostrar para os ximo passo será passar por uma avameus amigos do curso um pouco do liação médica por meio de um laudo meu trabalho, e acabou tomando uma que comprove que sou realmente proporção muito maior que além de- tetraplégico. Logo em seguida terei les outras pessoas também vieram que encaminhar toda a documentação conhecer. Uma participação que está exigida e as telas. Ainda terá outra abrindo portas. Recentemente recebi o análise que será feita em minha casa, convite para uma entrevista e já tenho comprovando a técnica utilizada para outra agendada. pintar. Depois de tudo encaminhado e aprovado e só esperar a liberação da NC: A mostra que antes estava pro- bolsa e assim poder me dedicar gramada para ficar somente uma se- ao máximo. mana acabou sendo estendida por mais uma. Explique o porquê desta NC: Em relação aos futuros trabalhos, prorrogação? o público já pode esperar uma nova exposição? Já existem inspirações para suas próximas pinturas? Contenos um pouco....

Estou tão empolgado com tudo que está acontecendo. Confesso que acabei ficando um pouco perdido, sem muita concentração.

Marcio: Quem sabe no início do ano. Como ainda não tenho outras telas já prontas, preciso de pelo menos uns seis meses para apresentar novos trabalhos. Estou tão mpolgado com tudo que está acontecendo. Confesso que acabei ficando um pouco perdido, sem muita concentração. Ainda estou na fase de escolher quais serão os próximos temas. Sem contar que quase todas as telas já estão vendidas, mas antes tenho que apresentar naAssociação. NC: Você já falou da sua participação em uma mostra ao lado do Jefferson Maia no Riocentro e agora esta parceria se repete. 15

Marcio: Não posso esquecer as pessoas que me abriram portas. Ele foi o cara que me colocou neste meio, que deu aquele empurrãozinho para a vida. Toda oportunidade que surgir pode ter certeza que ele vai estar comigo.


EDIÇÃO ESPECIAL

OFICI NAS

Oficina Flores Artesanais

VAMOS FAZER JUNTOS Crianças aprendem brincando Protagonismo juvenil ativo

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tendendo à grande demanda do público por outras atividades, além dos cursos já ministrados, as oficinas vêm fortalecer a concepção da Nave como um espaço de troca de conhecimento. Integrando práticas como o videomapping (comunicação e tecnologia) e outras práticas criativas, como a de estêncil (artes visuais) ou a de confecção de flores artesanais, as atividades culturais incentivam a multiplicação do saber coletivo por meio de ações conjuntas com atores locais, educadores e facilitadores, possibilitando o compartilhamento de novos aprendizados. Uma rede de ensinamentos que amplia e fortalece o processo de formação. O monitor Gabriel Loiola, exemplo dessa multiplicação de saberes, hoje, repassa nas oficinas parte dos ensinamentos adquiridos durante o curso de fotografia. Estimulando o potencial criativo natural da infância, técnicas como enquadramento, profundidade de campo e ajuste de foco vão sendo trabalhadas e, aos poucos, incorporadas de maneira lúdica a partir das brincadeiras. O resultado é surpreendente: belos registros fotográficos ao redor da

Oficina Stencil Praça do Terço; saltos, piruetas e cambalhotas valorizam o tempo de ser criança, ilustrado pelas percepções d o e s p a ç o o n d e v i v e m e brincam diariamente.

mais digno. Compartilhar saberes é o caminho mais propício para isso.

Se temos a capacidade de mudar é nisso que vamos depositar confiança até avançar gradativamente O FUTURO SE CONSTRÓI AGORA na formação dessas pessoas que vão transformar suas realidades Em resumo, há um total empenho com seus pensamentos e as própripara que essas crianças ou todos as mãos, sem criar dependências aqueles que passam pelas oficinas externas. Já existe potência, basta realizadas na Nave do Conheci- lapidar com desejo que brilhe e mento possam construir sua sen- ofusque o medo. sibilidade crítica para um futuro 16


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Prática Oficina de Stencil

Oficina Percussão 17

Oficina Fotografia


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EXTRA MUROS TV DE QUINTAL “Lugar de Comunicação que pode recuperar memórias”

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lucidar histórias que podem ser contadas por meio da memória local é o princípio para a criação da “TV de Quintal”. É uma iniciativa que promove a comunicação participativa apropriando-se da linguagem audiovisual e fomenta encontros para a troca de saberes, além de valorizar e reconhecer a importância de pessoas extraordinárias para a história.

O quintal pode ser um espaço de terreiro, a laje ou a própria varanda, onde tivermos o espaço e o convite estaremos lá.

O importante é manter esse contato com as pessoas da comunidade, sendo que o quintal tem uma representatividade relevante na vida daqueles que moram em favelas: é onde brincam as crianças ou onde se cuida de uma árvore que já é considerada parte da família.

É uma motivação maior poder salientar os valores por trás de um ato tão corriqueiro nos espaços populares. Há anos, os vizinhos se reuniam para assistir TV, agora, eles serão os protagonistas das programações exibidas.

Segundo o coordenador da Nave do Conhecimento de Nova Brasília, Nailton Agostinho, esse foi o ponto de partida do projeto que pretende percorrer diferentes pontos da cidade:

O primeiro quintal foi o da dona Efigênia, moradora do local conhecido como “Céu Azul”, no Complexo do Alemão. Convidados pela própria, familiares e amigos reuniram-se em um belo fim de tarde para assistirem juntos ao documentário sobre a história dessa senhora, reconhecida, por muitos, como uma mulher de fibra e bondade.

“O quintal pode ser um espaço de terreiro, a laje ou a própria varanda, onde tivermos um espaço, estaremos lá”. 18


EDIÇÃO ESPECIAL Este é um espaço reservado para o leitor, aluno, ex-aluno, funcionários e frequentadores da Nave do Conhecimento de Nova Brasília. Envie sua contribuição. Participe!

FALA VOCÊ

PRÍNCIPE MARGINAL* “Eu estou muito feliz por estar fazendo parte da Nave do Conhecimento e para o próximo ano eu pretendo continuar aprendendo com a equipe, alunos e alunas. O que é muito legal que interagimos com pessoas de 3 a 100 anos de idade. Desejo a todos um feliz Natal”.

José Antonio Gonçalves

“Há muito tempo eu queria aprender a informática e encontrei neste projeto a oportunidade de aprender, está sendo muito bom. Os professores são formidáveis. A principio eu pensei que seria mais difícil, mas com o tempo fui descobrindo que nem é tão difícil assim e aos meus professores quero que saibam que sentirei saudades e espero que eu seja sorteada para a próxima etapa.”

Cirlene Andrade

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eu nome é Vilma Ribeiro, sou aluna do curso de Fotografia na Nave do Conhecimento.

Antes de conhecer a Nave, eu achava que era um espaço limitado somente para as pessoas usarem a internet, mas um dia levei meus filhos para conhecer o local e descobri que era um espaço de tecnologia e cultura, que além do acesso à internet também tinham tablets, x-box e os cursos. Foi aí que minha filha, Stella, me disse que as inscrições para os cursos estavam abertas e me incentivou a me inscrever, e sem muita expectativa me inscrevi e para a minha surpresa fui sorteada. Minha vida se resumia em levar as crianças para a escola e cuidar da casa, quando fui sorteada para o curso de fotografia, não imaginava que minha vida mudaria tanto, em todos os aspectos. Descobri que sou apaixonada por fotografia e através do curso conheci pessoas incríveis e tive oportunidades únicas que jamais pensei que teria e agora as ideias não param. A vida ficou mais colorida, e eu farei o possível para estar sempre em todos os eventos da Nave. 19

Do afinco em seu peito, finco Tendo alvura da alma, marca E a solidez do sentimento, parca Entre nobres e mendicantes, brinco A repetição dos papeis, chata Dentro do amago e instinto Ao meu gosto alheio, sinto A vida sendo ao final ingrata Pois do sangue nas veias que corre Vindo de um rei ou de um aforre Que paradoxalmente se combina Seria essa a beleza extraordinária Ou a dor sem fim hereditária Que será para sempre minha sina Felipe Mello *entre as 10 poesias selecionadas no Concurso Nacional NOVOS POETAS 2014.


EXPE DIENTE Este informativo é resultado de parte dos trabalhos realizados durante o ano de 2014 pela Nave do Conhecimento de Nova Brasília em parceria com a comunidade, atores sociais, alunos, ex alunos e toda equipe empenhada em resultados qualitativos para o local. Todo conteúdo foi construído coletivamente, desde o projeto gráfico produzido pela equipe de comunicação da Nave do Conhecimento, às fotografias feitas e cedidas por alunos que participaram das atividades apresentadas nesta edição. Secretaria Especial de Ciência e Tecnologia - SECT Secretário: Franklin Dias Coelho Assessora Especial: Maria Helena Cautiero CECIP – Centro de Criação de Imagem Popular Direção Executiva: Claudius Ceccon Direção Administrativa: Dinah Frotté Coordenação de Projetos: Cláudia Protásio Nave do Conhecimento Nova Brasília Coordenação Geral: Nailton de Agostinho Maia Supervisão: Beatriz Araújo e Luiz Carlos Lima Coordenação Editorial: David Amen Produção: Alex Borges, Arlene Martins e Arthur dos Reis


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