CULTURA.SUL 24

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Distribuído mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO

Portimão

em tons de azul

5 | AGO | 2010 • Nº 24 • Mensal • Este caderno faz parte integrante da edição nº998 do POSTAL do ALGARVE e não pode ser vendido separadamente

» p. 4 e 5

• O Sorriso Enigmático do Javali » p. 13 • Cultura liga Portimão à comunidade » p. 14 • Músicas do Mundo em documentário » p. 15


• Simplex dictum

• MÚSICA

Tinariwen actuam em Lagoa

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Cultura .Sul

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João Evaristo Editor Cultura.Sul

“Senhor, falta cumprir-se Portugal!”

destaque

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ndamos há 870 anos a construir este país. Quando terminarmos vai ficar uma coisa maravilhosa. Deus quer, o homem sonha a obra nasce. Disse Pessoa O pior é quando o Deus não quer. Aí, o homem tem pesadelos e a obra é embargada. Quem diz o Deus diz os outros deuses e semideuses e alguns endeusados. O importante é querer, diz o povo. E de repente a motivação é tudo. O Afonso tem 16 anos e diz que a acção supera a motivação. A Rita tem 15 e diz que não se deve ficar à espera do momento certo, há que avançar para o momento certo. Não basta querer. É preciso agir. Mas agir incomoda. E se de repente começássemos todos a agir? E se a obra nascesse só pela nossa acção, sem os deuses nem nada, quer eles quisessem ou não? Os deuses sentir-se-iam muito tristes e sobretudo inúteis ou, pelo contrário, aliviados pela nossa iniciativa e independência, envoltos numa sensação de missão cumprida. Estaríamos nós prontos para desafiar as forças do Olimpo? E os nossos semelhantes, reagiriam eles como os caranguejos atirados para o balde? (Conta uma velha história que estando um pescador a apanhar caranguejos para dentro de um balde, alguém passa e pergunta: O amigo não receia que, ao não tapar o balde, os caranguejos saiam? Ao que o pescador responde: Não há problema, quando um está a subir e quase a chegar à saída os outros puxam-no para baixo.) Perante o sucesso de um nosso semelhante é usual ouvir uns outros dizerem: Ah! Foi sorte! Como se fosse tudo uma questão de sorte. Está bem. Talvez. Audaces Fortuna iuvat (verso latino da Eneida de Virgílio): A Sorte Protege os Audazes (lema dos Comandos). Menos sorte teve a nêspera de Mário Henrique Leiria que estava na cama deitada muito calada, a ver o que acontecia. Chegou a Velha e disse: - olha uma nêspera! E «zás!» comeu-a. É o que acontece às nêsperas que ficam deitadas caladas a esperar o que acontece. Foi azar da nêspera! Diriam os mesmos. Azar? Talvez não! Afinal as nêsperas servem para ser comidas. E esta cumpriu o seu destino. Talvez! As nêsperas. Já as pessoas…!? Existem dois tipos neste mundo, as que provocam os acontecimentos e as que vivem as suas consequências. É complicado. Será então melhor permanecermos quedos, acomodados à nossa condição de simples seres humanos, expectantes por uma mão que nos seja estendida e nos eleve à condição de escolhidos? Não me parece! Diz a sabedoria popular que se não te consegues juntar a eles, vence-os! Em tempos ditos de crise ficam/ sobrevivem os que, meritoriamente, sempre cá estiveram. Que, da obra ousada, é minha a parte feita: O por-fazer é só com Deus. (F. Pessoa)

Ficha Técnica Direcção: Gorda Editor: João Evaristo Concepção gráfica: Ricardo Claro

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alardoados com o prémio 2005 “Africa” da BBC R a d i o 3 . Ta g h r e f t Tinariwen é actualmente uma das bandas pioneiras da música contemporânea Touaregue. O estilo

musical “Tishoumaren” tem um papel importante nas reivindicações culturais e de identidade da Juventude Touaregue (da Argélia, Líbia, Nigéria e Burkina Faso). Com os Tinariwen, nasceu um

novo estilo; os instrumentos tradicionais foram trocados pela guitarra eléctrica, pelo baixo eléctrico e pela bateria, assimilando então as melodias tradicionais com influências de Bob Marley, Bob

Dylan e outros músicos do New Wave marroquino. 5 AGO • 22.00

Senhora da Rocha (Lagoa) | €8

• MÚSICA/JAZZ

B Jazz reunem-se em Olhão

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Jazz Reunion actuam no Cantaloupe Café, em Olhão. Os B Jazz Reunion iniciaram os seus estudos com o músico Zé Eduardo e residiram durante anos numa comunidade artística situada em Moncarapacho. Actualmente, prosseguem os seus estudos em Nova Iorque, Colónia e Amesterdão. O grupo é composto por Wenzl McGowen (tenor saxofone) Giotto Roussies (piano) Attila Muehl (guitarra) Eddie Jensen (percussão) Charlie Roussel

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(baixo) O espectáculo insere-se na iniciativa Domingos ao Pôr do Sol, que decorre pelo terceiro ano consecutivo. Na edição deste ano já passaram pelo Cantaloupe nomes como, Tuniko Goulart, Zé Manel Martins, o duo Zé Eduardo e Pedro Gil, Nanook e o “Rock Alentejano”. 1, 8, 15, 29 AGO • 18.00 Cantaloupe Café (Olhão) |Entrada Livre

• CIRCO

Circo da Madrugada em Albufeira

Design e paginação: Mário Coelho Responsáveis pelas secções: »panorâmica.S - Ricardo Claro »cinema.S - Cineclubes de Faro, Olhão e Tavira

PHILIPPE CIBILLE

»biblioteca.S - Paulo Izidoro »livro.S - Adriana Nogueira »palco.S - João Evaristo »política.S - Henrique Dias Freire »estratégia.S - Direcção Regional de

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irco da Madrugada Fallen From the Sky (Caídos do Céu). O Circo da Madrugada foi criado no Brasil, em 1996, por Pierrot Bidon. O espectáculo “Caídos do Céu” baseia-se numa lenda brasileira, segundo a qual, a cada 500 anos, os anjos descem à terra por uma noite para desfrutar dos prazeres terrenos. Numa animada espiral aérea, os anjos rodopiam,

Cultura do Algarve Colaboraram nesta edição: Cristian Valsecchi; Joaquim Parra; Jorge Rocha; José Carlos Vasconcelos e Paulo Moreira

sobem e descem, utilizando v á r io s t ip o s de c ord a s , trapézios, fitas e arame, num espectáculo onde não faltam os malabaristas e comedores de fogo. Cativado por estes sedutores e irrequietos anjos, o público no coração do Angeldôme deixa-se levar por este espectáculo de uma energia estonteante. 9/10 AGO • 22.00

Praia dos Pescadores (Albufeira) | Entrada Livre Revisão de texto: Cristina Mendonça e-mail: geralcultura.sul@gmail.com Tiragem: 12.075


• ORQUESTRA DO ALGARVE

• FADO

Camané ao vivo

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Sons Ardentes

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este regresso a A lbufeira, está prometido um grande espectáculo, onde a música clássica e o fogo-de-artifício vão estar lado a lado. Os

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m dos ma is reconhecidos fadistas portuguesas, Camané, continua, entre outros projectos, a apresentar ao vivo o seu último trabalho

não só em Portugal, mas também no estrangeiro – A rgent ina , Ch i le, Peru, Uruguai, França, Suíça, Bulgária, Polónia e Hungria.

14 AGO • 22.00

Zona Ribeirinha de Vila Real de Santo António | €15

• LIVROS

Feira do Livro de Portimão

sob a direcção do maestro Osvaldo Ferreira. 20 AGO • 22.00

Praia dos Pescadores (Albufeira) | Entrada Livre

• TEATRO DE RUA

La Fura Dels Baus apresenta Gnosis

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FILIPE DA PALMA

músicos da Orquestra do Algarve vão oferecer um espectáculo onde a música clássica, a cenograf ia, o fogo-de-artifício e a iluminação se conjugam,

onsiderada uma das maiores companhias de teatro experimental do mundo, conta já com 31 anos de currículo e reúne um público de cerca de três milhões de espectadores. Conhecida por usar linhas de trabalho variadas e impressivas, apresenta uma performance baseada no papel dos portugueses no período das descobertas, no saber e no conhecimento que estes trouxeram ao mundo e centrada na figura do Infante D. Henrique.

SOFÍA MENÉNDEZ

29 AGO • 22.00

Praça Infante D. Henrique (Lagos) | Entrada Livre

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Feira do Liv ro de Por t imão recebeu em 2 0 09 cerca de 120 mil visitantes, tendo sido vend idos 35 m i l exemplares, números que reforçam a posição deste certame livreiro como o terceiro maior do país,

a seguir a Lisboa e ao Porto. Propostas l iterá rias para todos os gostos a preços tentadores, são os principais atractivos que vão caracterizar mais uma edição da Feira do Livro de Portimão, patente desde

24 de Julho e até 22 de Agosto na mega-livraria, que funciona numa tenda com cerca de 5000 m2, situada junto à antiga Lota, na Zona Ribeirinha da cidade. Até 22 AGO • 19.00 - 24.00 Zona Ribeirinha de Portimão

destaque

SOFÍA MENÉNDEZ


• ARTE COMUNITÁRIA

Portimão ruma ao azul A

Por Ricardo Claro

realidade supera muitas v e z e s a i m a g i n a ç ã o, consubstancia-a e revelaa e, desta feita, fê-la azul, salpicou-a pela cidade e convida a ser vivida. Portimão ganhou nova cor de mil tons e apresenta-se azul durante o mês de Agosto, revivendo Manuel Teixeira Gomes, no ano em que se cumprem 150 anos do seu nascimento. A cidade natal do ex-Presidente da República e escritor, entre outras tantas coisas que o homem complexo foi, reinventa-se na rua sob a batuta do engenho do grupo de teatro comunitário Pele e ganha nova alma concordante com a partitura das palavras de “Agosto Azul”, uma das obras do filho mais notório da cidade. O desafio foi lançado à Pele em Março de 2009 e, mais de um ano depois, o Agosto Azul está sobre as calçadas, cumpre-se nos relvados, engalana edifícios e brota das fontes, ao mesmo tempo que se mostra nas ruas e praças e se faz ao contrate das cores próprias de Portimão nas vielas e em mais infinitos lugares, infinitos como o próprio azul. São peixes e gaivotas e outros gentios do mar, mantas de retalhos e faróis, latas de conserva e moinhos de vento, barcos e outras muitas formas que ocuparam o espaço público e convidam a serem vistos. Convidam todos num trânsito diambulante, que percebe com o passo a importância da arte de rua, da expressão artística. Uma importância que ganha outro relevo quando se sabe que as obras expostas saíram das mãos de artistas maiores, as gentes de Portimão. Anónimos que, como refere João Correia, da direcção artística e coordenação do projecto da Pele, “têm dentro de si um artista, como todos nós” e que deram azo ao “potencial Instalação numa das fontes da cidade de Portimão transformador que tem cada artista”. pintar Portimão de azul, divide- em que, ao mesmo tempo que a se em duas partes. A primeira Banda Filarmónica, a Fanfarra Os eventos teve lugar no passado domingo, dos Bombeiros e um grupo de O projecto que chamou a dia 1 de Agosto, e que lançou o precursão - criado por populares comunidade a participar num mês azul, concretizou uma parada propositadamente para o evento

FOTOS: FILIPE DA PALMA

e armado de tachos e panelas – convergiam em direcção ao Largo 1º Maio, centenas de pessoas se juntavam ao cortejo criando uma união cénica e um todo artístico

em evolução. Na segunda vertente do projecto, entre os dias 19 e 21 deste mês às 22 horas, o Largo 1º de Maio será palco de uma performance teatral onde os actores - como sempre nos projectos da Pele gente da comunidade, seniores de várias instituições do concelho em contracena com vários grupos da comunidade e jovens de menos de 65 anos, todos sob a direcção dos autores do projecto - cumprem a função perante uma plateia que se espera cheia. A juntar a esta senda em prol do azul, os bailaricos de Agosto de muitas das sociedades, culturais, recreativas e desportivas do concelho propõem noites temáticas sob o mote “Agosto Azul”. O projecto comunitário Para a Pele, como de costume, a arte faz-se com e na comunidade e para a comunidade e ao projecto juntaram-se, de acordo com João Correia, mais de 46 instituições que aceitaram o desafio de criarem formas de pintar a cidade de azul. A organização juntou 1.500 obras feitas pelas mãos de todos, velhos e novos, crianças e jovens, mulheres e homens e desde 1 de Agosto e até ao fim do mês todas estão espalhadas pelo centro de Portimão. “A arte e a intervenção social e comunitária estão intimamente associadas”, refere João Correia, para quem a Pele quer, “uma cultura e proximidade e inclusiva”, que desmistifique a ideia do cultural com destinatário intelectual. A sociedade será assim “mais justa e equilibrada”, destaca o actor, que vê o trabalho da Pele como multidisciplinar, o que faz da companhia, “uma companhia de teat ro mas, não só ”. A performance é a ferramenta, o trabalho no seu desenvolvimento o caminho e o resultado só pode ser mais identidade, confiança e consolidação na comunidade. Portimão espera a visita, as obras os mirones porque até final de Agosto a cidade do Arade é, muito mais azul.

panorâmica

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Das mãos de muitos anónimos saíram as obras expostas em Portimão

Largo 1º de Maio, frente à Câmara da cidade


A cidade e o colectivo

Retrato da “Pele”:

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Vista do Rio Arade, o espelho azul Há azuis assim, inspiradores. Foi o azul de Portimão que apaixonou Manuel Teixeira Gomes e se f i xou para a posteridade em “Agosto Azul”. A cidade do Arade tem a seus pés dois azuis imensos: o do Rio, espelho de águas mansas e o mais revolto Atlântico, altivo e espumoso a quebrar na barra do estuário. Azuis diferentes que se unem e reflectem um outro do firmamento, o do céu, que a eles se une no horizonte longínquo onde se perde o olhar de quem vê o mar a partir da Rocha. As calçadas, também elas, promovem a cor ambiente do ideário do escritor e quem as corre, ignore ou não, está por entre um azul único. A cidade náutica, porta de navegantes destes e doutros

tempos, de paragens próximas ou longínquas, sempre teve no seu código genético estabelecer pontes para outros mundos e essas pontes, materiais ou imateriais, ligam Portimão a todos e a tudo, ligam-na à outra margem, ao resto do Algarve e do país, fixam os tirantes do relacionamento com os turistas, convidam a entrar e a partir. A ponte estabelecida pelo projecto “Agosto Azul” da Pele, é arte burilada nestes pressupostos, juntando passado e futuro, escrita e oralidade, conceito e forma, de maneira rara, propondo ultrapassar barreiras e preconceitos, ganhando novas gentes para a gente colectiva de Portimão. Para além da cidade, para além do projecto está uma forma de estar e de ser que se tem quando se é parte de

Portimão. Uma forma que se partilha porque é intrínseca e que se dá a provar ao outro na certeza expectante de que também nele deixará marca. Unir os portimonenses entre si, todos aos outros e vivenciar o colectivo, mais do que o objectivo de “Agosto Azul” é trazer à luz do dia aquilo que Portimão sempre foi, um palco da vida. E o trabalho da Pele recupera do baú da memória a vontade de estar, partilhar e viver desta forma, neste entender. Junte-se a luz única da cidade pátria de Manuel Teixeira Gomes e percebe-se o porquê da paixão daquele que foi um dos mais altos magistrados da nação. Entende-se pois a sua paixão pelas viagens e a arreigada convicção de que o mundo é a nossa casa.

Manuel Teixeira Gomes, o homem Manuel Teixeira Gomes (1860 -1941) nasceu em Portimão e faleceu em Bougie, Argélia. Estudou no seminário de Coimbra, onde completou o ensino secundário. Frequentou o curso de Medicina na Universidade da mesma cidade. Numa v ida de boémia, deambulou por Lisboa e Porto durante vários anos, convivendo com escritores e artistas como Fialho de Almeida, Sampaio Bruno, João de Barros, João de Deus e Soares dos Reis. Viajou pela Europa como agente de negócios de seu pai, enriquecendo a sua cultura literária, plástica e musical. Em 1911, foi nomeado

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A PELE _ Espaço de Contacto Social e Cultural, é uma Associação sem fins lucrativos, que nasceu no Porto em 2007, cujo objectivo é a promoção do desenvolvimento humano e social através da Arte. Para além da criação artística, a PELE promove formação interna e externa, recorrendo a especialistas nacionais e estrangeiros, no âmbito das áreas em que desenvolve o seu trabalho. Dirigida por João Correia, Hugo Cruz, Maria João Mota, Artur Carvalho e Patrícia Costa, o trabalho desenvolvido assenta na interactividade com as comunidades, no estudo e p erc e p ç ão d a s s u a s características e vivências como meio de alcançar a promoção da cultura junto dos cidadãos e a sua participação activa no c ato c u lt u ra l com o meio de integração e desenvolvimento. Nascida da necessidade sentida pelos seus fundadores de uma relação de grande proximidade entre a arte e a estética e o social e a ética pretende dar cumprimento a ideia de função cultural e pedgógica da cultura.

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• A PORTIMÃO DAS PONTES

Breve Biografia: Setembro 2008 – “Preto às Cores”. Espectáculo para a Infância. Dezembro 2008 – “Nascemos da Água a à Água voltaremos”. Projecto Comunicarte Parceria com a Associação de Surdos do Porto. Ja nei ro/ Ma io 2 0 0 9 – “Texturas – Projecto de Arte Comunitária”. Festival Imaginarius 2009. Setembro 2 0 09/ Ma io 2010 – “Entrado”, projecto em parceria com o Estabelecimento Prisional do Porto para o Festival Imaginarius 2010. Outubro 2009 – Início da parceria PELE/ Projecto Escolhas em Movimento. Outubro / Dezembro 2009 – “Eram umas quantas vezes”. Projecto Comunicarte Parceria com a Associação de Surdos do Porto.

ministro em Londres, tendo sido exonerado dessa função em 1918 por Sidónio Pais. Em 1923 foi eleito presidente da República, renunciando ao cargo em 1925. Com o advento do Estado Novo em 1926, e x i lou-se em

Bougie, na Argélia. Marcado pelo naturalismo e pelo simbolismo, a obra de Manuel Teixeira Gomes ref lecte um epocurismo que leva à transformação das pessoas e das paisagens descritas em obras de arte.

Outubro 2009/Agosto 2010 – “Agosto Azul” Projecto de Arte Comunitária. Uma coprodução com o Município de Portimão. Novembro 2009 – “LGT MEXE” Início da intervenção no Bairro do Lagarteiro-Porto / Iniciativa Bairros Críticos.

panorâmica

Momentos do Agosto Azul

Cultura .Sul

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• Cineclube de Faro

• Cineclube de Olhão

• Cineclube de Tavira

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Curtas Portuguesas Recebem os Amigos Americanos

Animar-se em CABO-VERDE

6ª Mostra de Cinema Não Europeu de Tavira

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á décadas (assim mesmo, no plural) que o Cineclube de Faro proporciona cinema ao ar livre nos meses de Verão. Habitualmente nos Claustros do Museu Municipal, embora a expressão “cinema ambulante” tenha ganho um espesso sentido nalguns Verões, nos quais a Câmara impediu as sessões naquele mágico espaço e por aí andámos, contra as muralhas da cidade velha, ou no Largo D. Afonso III, ou tendo por companhia os morcegos num espaço decadente da Fábrica da Cerveja. Foi giro. Contudo, também na Fábrica da Cerveja existe um outro pátio - sem morcegos, hélas! - magnífico, acolhedor, de dimensão adequada, com as infraestruturas básicas, a que mais uma vez voltamos. Estamos contentes com esta solução, ainda mais porque está prometido pela autarquia que, no próximo ano, os Claustros nos irão receber mais uma vez. Tematicamente, já fizemos ciclos de Cinema e Literatura ou de Cinema e Outras Artes, já tivemos convidados (quando havia pilim para tal), já tivemos espectadores pendurados no varandim dos claustros… e, desde há vários anos, estabilizámos numa opção de programação que escolhe o que, para nós, são os melhores e mais interessantes fi lmes norte-americanos de estreia recente. Nalguns destes anos acompanhámo-los de curtas portuguesas, noutros não. Este ano, sim – CURTAS PORTUGUESAS RECEBEM OS AMIGOS AMERICANOS. Belo título, porque todo o cinema é feito de cumplicidade. Como numa imensa família. A única novidade é que, este ano, decidimo-nos por uma mostra condensada: 10 noites consecutivas, 20 filmes. Dá-nos trabalho a montar, dá-vos prazer a ver. Parece-nos um bom negócio. E (ah!) se quiserem podem optar por um passe para os 10 dias por 20€. Porque todo o cinema é feito de generosidade. Pelo menos, aquele que gostamos de vos mostrar. E, podem crer, é mesmo por gosto que aqui andamos. Cineclube de Faro

Agenda do Cineclube de Faro www.cineclubefaro.com

> Curtas Portuguesas Recebem os Amigos Americanos Antiga Fábrica da Cerveja | 22.00 | Sessões ao ar livre Sócios: €1 | Não Sócios: €3,5 ou Passe para os 10 dias por €20

30 JUL | A Felicidade de Jorge Silva Melo (8’) Estado de Guerra de Kathryn Bigelow (131’)(M/16) 31 JUL | Canção de Amor e Saúde de João Nicolau (30’) | Tudo Pode Dar Certo de Woody Allen (92’)(M/12Q )

1 AGO | Corrente de Rodrigo Areias (15’) | Precious de Lee Daniels (110’)(M/16)

2 AGO | Arca d’Água de André Gil Mata (23’) | Um Homem Singular de Tom Ford (99’)(M/16Q )

3 AGO | 3X3 de Nuno Rocha (6’) | Shutter Island de Martin Scorsese (148’)(M/16Q ) 4 AGO | Tony de Bruno Lourenço (25’) | Greenberg de Noah Baumbach (107’)(M/16)

cinema

5 AGO | Antes de Amanhã de Gonçalo Galvão Teles (16’) | Os Limites do Controlo de Jim Jarmush (116’)(M/12)

6 AGO | Alpha de Miguel Fonseca (28’) | Histórias de Cabaret de Abel Ferrara (96’)(M/16) 7 AGO | Paisagem Urbana com Rapariga e Avião de João Figueiras (24’) | O Sítio das Coisas Selvagens de Spike Jonze (101’)(M/12)

8 AGO | Um Dia Frio de Cláudia Varejão (27’) | Um Lugar para Viver de Sam Mendes (98’)(M/16Q ) FEIRA DO LIVRO de obras sobre cinema, no local. Com desconto, claro! Apoios: Câmara Municipal de Faro, Direcção do Algarve do Ministério da Cultura, Instituto do Cinema e Audiovisual (RAEC), Instituto Português da Juventude

A

curta-metragem VIAGEM A CABOVERDE (2010) de José Miguel Ribeiro, ganhou recentemente o Prémio para o melhor filme de Animação na 18ª edição do ‘Curtas’ Vila do Conde – Festival Internacional de Cinema. Assim como também conquistou o Prémio ONDA CURTA, pelo que irá ser exibido futuramente no Canal 2 da RTP. É, ainda, parte de um projecto mais ambicioso que prevê a edição de um livro-diário gráfico a Cabo Verde, com a inclusão de um DVD.

O filme conta a viagem de um homem pelas ilhas do Arquipélago de Cabo-Verde, aproveitando os desenhos que este vai fazendo num caderninho de capas pretas. Mostra o corpo magro e desengonçado do protagonista, curvado sob uma mochila enorme, por entre transportes, pessoas e paisagens ora urbanas ora desertas, marcadas no ecrã em tinta preta e aguarela. O protagonista narra pela voz do próprio José Miguel Ribeiro. A proximidade gráfica e de movimento entre esta personagem e o jovem ‘estudante’ de A SUSPEITA (1999), outro filme do mesmo autor, é flagrante. De facto, ambas as personagens são autobiográficas: o filme de 1999 constrói-se sobre uma viagem de comboio e somos levados a pensar nas viagens entre Lisboa e Porto, que o autor fazia; no mais recente, são animadas imagens da viagem que o autor realizou a Cabo-Verde em Fevereiro e Março de 2004. Diz José Miguel Ribeiro num e-mail que me mandou: “Para desenhar é preciso parar e por aí ficar alguns minutos. Enquanto isso as crianças aproximam-se curiosas e depois os adultos. E os minutos passam a horas que fluem entre conversas e por vezes passam por retratos. Uma boa parte dos desenhos por lá ficaram...” Gostei do filme quando o vi. Gostei, particularmente, das sequências em que uma mancha de tinta preta evolui e se transforma noutra coisa qualquer, assumindo tanto a própria qualidade gráfica como a coisa que evoca na continuidade/ descontinuidade do filme que passa. A animação por metamorfose é uma das qualidades maiores do filme: o calcanhar gretado que se transforma na encosta da montanha onde o seu dono e o autor caminham, por exemplo. E os pequenos detalhes que se animam e ‘dizem’, que murmuram sons e falares sem outra importância que não a de nos ajudarem, espectadores, a participar no mundo das memórias que alguém trouxe do tempo de uma viagem. O filme corre tranquilo, ao ritmo dos passos longos e elásticos do viajante. Não é tanto Cabo-Verde que nele se mostra, mas a intimidade entre as ilhas e o corpo do autor que as percorreu no passo ainda adivinhado das imagens no ecrã. Marina Estela Graça Professora Universitária (UAlg) e vogal do Cineclube de Olhão.

Agenda do cineclube de Olhão www.cineclubeolhao.com

> Sessões Regulares

Ria Shopping – sala 2 | 21.30 |Sócios:€1 | Não Sócios: €3

3 AGO | Tempos de Verão de Olivier Assayas (103’)(M/12)

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epois de algumas edições de “homenagem” ao Cinema através da Mostra de Cinema Europeu, senti uma falta. Achei incompleta a nossa festa de cinema anual. É um facto que em todo o mundo, nos dias que correm, se produz uma quantidade considerável de filmes sensíveis e de grande qualidade estética. Também é um facto que os nossos amigos americanos perceberam que pelo mundo fora existe um vasto público para filmes tematicamente bem diferentes dos Rocky’s, Exterminadores ou Avatars. Por isso, criámos a anual Mostra de Cinema Não Europeu de Tavira, um evento que pretende reunir o melhor cinema produzido fora do nosso velho continente. Claro que aqui, mais uma vez, ficamos dependentes do gosto, ou melhor, do interesse (muitas vezes puramente financeiro) das distribuidoras nacionais, que decidem comprar (ou não) os direitos para lançar estes filmes nos cinemas portugueses. Muitas pequenas jóias cinematográficas nunca chegam a estrear no mercado nacional, algumas apenas são lançadas em DVD. Com a “crise” as coisas complicaram-se ainda mais: por muito bons que possam ser os filmes asiáticos tornaram-se uma raridade nas nossas salas e a estreia de um filme africano é um “dente de galinha”. Este ano temos a sorte de poder apresentar-vos dois belos e sensíveis filmes japoneses: PONYO À BEIRA MAR do mestre Miyazaki e ANDANDO de Koreeda Hirokazu. Graças a uma pequena e nova distribuidora, com uma política jovem e diferente, também conseguímos incluir uma jóia brasileira: ESTÔMAGO. O intuito das mostras de cinema em Tavira não é apenas escolher os filmes que o nosso público quer ver, mas também criar um ambiente próprio, informal e esteticamente adequado para a exibição dos filmes escolhidos. Para o efeito, nada melhor do que os belos Claustros do Convento do Carmo, onde ficaremos à vossa espera! André Viane Presidente do Cineclube de Tavira

Agenda do Cineclube de Tavira www.cineclube-tavira.com

> 6ª Mostra de Cinema Não Europeu de Tavira Claustros do Convento do Carmo |21.30 | Ar Livre

6 AGO | Up in The Air de Jason Reitman (108’)(M/12)

7 AGO | The Hurt Locker de Kathryn Bigelow (131’)(M/16)

8 AGO | Ponyo On The Cliff de Hayao Miyazaki (103’)(M/6)

9 AGO | The Cove de Louie Psihoyos (92’)(M/12) 10 AGO | Estômago de Marcos Jorge (113’)(M/16)

11 AGO | Precious: Based on the novel Push by Sapphire (Precious) de Lee Daniels (106’)(M/16) 12 AGO | Whatever Works de Woody Allen (92’)(M/12)

13 AGO | El Secreto de Sus Ojos de Juan José Campanella (127’)(M/16) 14 AGO | Inglorious Basterds de Quentin Tarantino (153’)(M/16)

15 AGO | Aruitemo Aruitemo – Still Walking de Koreeda Hirokazu(114’)(M/12) 16 AGO | UP de Pete Docter & Bob Peterson (96’)(M/6)

> Sessões Regulares

Cine-Teatro António Pinheiro | 21.30

10 AGO | Bom Dia, Noite de Marco Bellocchio (106’)(M/12)

19 AGO | Les Herbes Folles de Alain Resnais (M/12)

24 AGO | Bonecas Russas de Cédric Klapisch (125’)(M/12)

26 AGO | Dorian Gray de Oliver Parker (M/16)

O Cineclube é apoiado pela CM e JF de Olhão e pelo ICA (REDE 2010)

Apoios: ICA, Ministério da Cultura, Câmara Municipal de Tavira

17 AGO | Califórnia Dream’in de Cristian Nemescu (155)(M/12)

22 AGO | Flash Of Genius de Marc Abraham (M/12)

31 AGO | A Religiosa Portuguesa de Eugène Green (127’)(M/12)

29 AGO | Desert Flower de Sherry Horman (M/12)


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AGO.2010

AGENDA CULTURAL publicidade


• RIQUEZA MAIOR

Forte de São Sebastião

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Nome

Forte de São Sebastião

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Cultura .Sul

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Localização

Cerro do Cabeço, freguesia de Castro Marim, concelho de Castro Marim, Distrito de Faro Data de Edificação

Durante as guerras da Restauração (Abril de 1641)

Nótula Histórica

A

razão da construção do forte neste local deve estar relacionada com o facto de Castro Marim, no século XVI, já ter crescido para fora do recinto amuralhado, ocupando as casas a encosta do cerro onde estava edificado o castelo, tornando-se desta forma vulneráveis, bem como as próprias muralhas do mesmo, a um ataque com origem num cerro fronteiro, onde estaria uma ermida. Foi construído ao estilo moderno, de tipo abaluartado, com um único vão de acesso e ponte levadiça (que actualmente já não existe). O perímetro defensivo da vila será

posteriormente complementado com as construções do forte de Santo António (ou bataria do Zambujal), forte do Registo (ou bataria do Registo) e outros pequenos baluartes* que, ligados por cortinas* de muralha, vão tornar este perímetro militar o mais imponente das Praças de Guerra do Algarve.

Outras notas de interesse

O

nome tem, provavelmente, or igem numa er mida que existia no local

consagrada ao referido santo (São Sebastião). A última utilização militar, em situação de guerra, ocorreu durante a chamada “Guerra das Laranjas” (1801). D e 1819 a 18 3 4 e s t e v e a q u a r te l a do ne s te for te o Batalhão de Caçadores 4. A lvo de profundas obras de restauro e consolidação, o forte tem sido utilizado para a realização de alguns eventos, como é o caso dos Dias Medievais (no último fi m-desemana dos mês de Agosto), ou da exposição “Castro Marim, Baluarte Defensivo do

Algarve”, que neste momento está patente ao público integrada na iniciativa “Algarve, do Reino à Região”.

bocas de fogo ou de outros sistemas de armas de artilharia, colocados sob o mesmo comando e ocupando, normalmente, posições de tiro próximas.

* Glossário

Cortina:

Baluarte:

(do provençal baloart, do neerlandês bolwerk) ou bastião (do francês bastion), em arquitectura militar é uma obra defensiva, situada nas esquinas e avançada em relação à estrutura principal de uma fortificação abaluartada. Bataria:

ou bateria é um agrupamento de

Em arquitect ura militar, a cortina é um troço do reparo situado entre dois baluartes nas fortificações abaluartadas, que apareceram no século XVI. Ocasionalmente, também se usa o termo “cortina” como sinónimo de “pano de muralha”. Neste caso, refere-se a um troço de muralha ligando duas torres de um castelo medieval.

• BAÚ

JOAQUIM PARRA

Licença Anual para uso de acendedores e isqueiros

Joaquim Parra Professor de História e Coleccionista

património

E

m Novembro de 1937 entra em vigor o Decreto Lei 28219 que, com o objectivo de proteger a indústria fosforeira nacional, proibia o uso de acendedores, “domésticos ou portáteis” e isqueiros fora de casa.

A licença para a sua utilização obtinha-se na Repartição de Finanças, sendo nominal e válida por um período de um ano. Assim, qualquer incauto cidadão que não fosse portador desta licença arriscava-se a que, aquando do acto de acender o seu cigarrito com um isqueiro na via pública, fosse abordado por um agente da autoridade que passaria uma multa ao “delinquente” e apreenderia o objecto. Mas mesmo com licença era possível ficar sem o isqueiro, bastava emprestá-lo a outra pessoa (que não tivesse a referida licença). Também

neste âmbito não podemos esquecer os denunciantes, que eram recompensados com uma percentagem da coima. Curiosa ainda, a terminologia que dizia que a licença não era necessária “debaixo de telha”, o que terá levado alguns brincalhões a transportarem consigo, não a licença mas um bocado de telha, debaixo do qual acendiam o isqueiro. Funcionava? Duvido. A Ditadura não se caracterizava propriamente pelo bom humor… Esta proibição só viria a ser revogada nos anos 70, durante a “Primavera Marcelista”.

Itinerários: > Feira Medieval de Silves

> VII Feira de Velharias e Antiguidades

> Fotógrafos e fotografia: Retrato de presidentes

> Dias Medievais de Castro Marim

> Exposição dos Usos e Costumes

> Exposição Manuel Teixeira Gomes:

7 - 15 AGO • Centro Histórico de Silves | Entrada Livre 26 - 29 AGO • Castelo de Castro Marim

21 - 29 AGO • Tavira

da Serra de Monchique

Até 30 SET • 10.00 - 19.00 Parque da Mina (Monchique)

Até 12 SET • Paço Episcopal de Faro

Entre Dois Séculos e Dois Regimes

Até 31 OUT • Museu de Portimão


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• Opinião

apontamento

05. 08.10

Cultura .Sul

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Jorge Rocha Artista visual e produtor independente. Sócio da AGECAL – Associação de Gestores Culturais do Algarve

As redes, somos nós!

P

ensar o espaço de trabalho na actualidade, implica conviver com a palavra rede e com a derivação dos seus significados, no entanto, desenvolver actividades em rede, não traz forçosamente uma novidade para o espaço social. A ideia relacional, ajustada ao léxico humano, existe desde que nos adaptámos à vida em comunidade. A massificação do uso de conceito, essa sim, é bastante actual e traz consigo a possibilidade de reajustarmos os sistemas piramidais onde nos inserimos a uma horizontalidade que as redes necessitam. Com as tecnologias da informação e o uso da internet, a facilidade da comunicação entre pares, invoca preocupações de ocupar o espaço em igualdade na partilha do saber. Redes sociais como o Facebook ou twitter vieram aumentar esse índice de partilha, mas existem outros tantos projectos que intensificaram a possibilidade de crescer em rede, criando sistemas autónomos aos quais plataformas como o Ning tentam dar resposta. Tornou-se fácil para qualquer pessoa criar a sua página ou blog de forma gratuita e assim expandir as suas ideias. Tal facto, deve-se em muito à crescente comunidade internacional de utilizadores, que desenvolve softwares e os disponibiliza gratuitamente na rede. Mas o mais interessante é sabermos que a tal acresce um sistema horizontal flexível. Permite-se assim que a criação do Zé seja melhorada e alterada pelo Xico, podendo o produto final

ser utilizado pelo Manel. Estas expansões alteraram substancialmente a forma como os sistemas políticos assumem as questões de direitos de autor, e como se criaram leis que espelham um corte com os intermediários. Tal confirma-se com a criação das Licenças Creative Commons que “permitem expandir a quantidade de obras disponibilizadas livremente e estimular a criação de novas obras com base nas originais, de uma forma eficaz e muito flexível, recorrendo a um conjunto de licenças padrão que garantem a protecção e liberdade - com alguns direitos reservados”. O aumento de cidadãos a perceberem as vantagens dos sistemas partilhados, a que os Algarvios não serão alheios, exige do Estado e das organizações em geral uma mudança de paradigma, que passa pela incorporação dessas ferramentas nos seus sistemas, obrigando a uma adaptação dos quadros de pensamento unitário e a uma posição mais proactiva. O recurso a redes sociais, software livre e a leis claras da partilha de conteúdos, poderá facilitar a comunicação cultural dentro das estruturas das organizações e principalmente ampliar a possibilidade de escolher públicos e desenvolver discursos certeiros. No Algarve e no país, a atitude da sociedade em relação a esta matéria vem-se reflectindo nos vários níveis de utilização das redes, quer pelos utilizadores individuais, quer pela crescente proliferação destas ferramentas nos meios empresariais que twitam os seus conteúdos. Da parte do Estado, usa-se algumas ferramentas, mas ainda não se viu uma clara política pública respeitante a estas matérias. Talvez se pudesse tomar como exemplo o homólogo Brasileiro, que não só usa software livre nos computadores do seu sistema e em sites dos seus Ministérios, como tem políticas de apoio, com um edital específico: “Pontos de Mídia Livre” - porque afinal as redes somos nós!

• Opinião Cristian Valsecchi Economista da cultura e Gestor Factor Desenvolvimento Lda.

Cultura e Turismo. Um diálogo possível

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a última década a cultura tem vindo a ocupar um papel determinante no desenvolvimento dos fluxos turísticos internacionais, captando assim a atenção dos actores políticos e económicos relativamente ao sistema cultural. Este fenómeno esconde insídias que podem prejudicar o potencial da cultura como factor propulsor para o crescimento territorial, e são tanto mais reais em regiões caracterizadas por uma economia dependente do sector turístico, onde os modelos culturais se arriscam a submeterse às lógicas deste último. Para afastar este risco, é imperativo que as políticas culturais e turísticas sejam claramente distintas e reconduzidas aos respectivos papéis. A função primária da cultura passa pela regeneração das cidades favorecendo o aparecimento de um contexto capaz de condicionar o desenvolvimento do capital humano. Para que tal seja possível, urge colocar o cidadão no centro das políticas culturais, que devem ser concebidas com base numa

lógica de intervenção integrada e continuada. De acordo com Amartya Sen, Prémio Nobel da Economia, o contexto ambiental e a participação dos diversos actores sociais nos processos de crescimento são tanto mais incisivos quanto mais tenham condições de oferecer ao indivíduo a possibilidade de manifestar-se como “centro de acção”, consciente de exprimir em larga escala a própria potencialidade e de exercer como tal um papel activo no desenvolvimento da sociedade. Esta visão, ao conceber a cultura como motor social e não como serviço para o turista – mediante paridade de investimentos – permite garantir por um lado a criação de um tecido social propício ao desenvolvimento socioeconómico local, estimulando por outro a def inição de especif icidades e identidades culturais territoriais tais que induzem ao posicionamento da região num mercado turístico nacional e internacional, com consequente s benef íc ios no combate à sazonalidade dos fluxos turísticos. Não cabe ao turismo portanto a produção de pseudo-modelos culturais, devendo sim interpretar e valorizar a imagem que deriva da adopção de uma política cultural autêntica, promovendo-a como “produto” capaz de atrair subsequentes tipologias de turistas. É apenas mediante a apropriação desta visão que o Algarve pode ultrapassar a crise que ameaça gravemente não apenas a estabilidade económica como também social. PUBLICIDADE


D.R.

Ensaio da peça A Mensagem de Fernando Pessoa de Rui Cabrita, que também assume a responsabilidade técnica (Som e Luz). O elenco é composto

por Célia Ginó, Danila Ginó, Lisete Martins, Marta Vargas e Tibério.

Nós formamos actores Por João Evaristo

O

p e r a nt e u m j ú r i , q u e t i v e oportunidade de integrar enquanto editor do Cultura.Sul. A qualidade dos trabalhos apresentados pelos alunos esteve entre o muito bom e o excelente, ao nível daquilo que já tiveram oportunidade de mostrar, em situação de estágio, nos trabalhos em que integraram as várias

companhias do Algarve (ACTA, AL-MaSRAH, Música XXI, TeAtrito). Estes novos actores estão prontos para desenvolver projectos, subir aos palcos da região e para a representar em todo o país e fora dele. Basta que se saiba aproveitar o que por cá temos. E acreditem, não lhes estaríamos a fazer favor nenhum.

D.R.

Algarve tem neste momento à sua disposição 14 novos actores recém formados na região. Saberemos aproveitar este potencial humano, resultado dum investimento financeiro, humano, de tempo, de formação, para o qual directa ou indirectamente todos contribuímos? Falo dos alunos do curso de interpretação da Escola Secundária Pinheiro e Rosa, em Faro, que receberam em Julho o certificado de habilitação profissional de actor. Depois de três anos de estudos em disciplinas de formação geral e específica, como voz, movimento e interpretação, estes jovens desenvolveram e apresentaram publicamente projectos de âmbito cultural de grande interesse para a região e provas de interpretação,

Três estagiários em interpretação integraram o elenco de Maria Adelaide, A Cova dos Ladrões, da ACTA, integrou da Música XXI. seis estagiários do curso de interpretação

D.R.

Antes da viagem aos Açores, o grupo realiza duas actuações em casa: 14 /15 AGO | 21.30 |

Sociedade Recreativa de S. Ba r tolomeu de Messines | Entrada Livre.

Al-Masrah estreia Minim.Mal Show Por Paulo Moreira

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o passado 4 de Julho, estreou em Tavira o espectáculo MINIM.MAL SHOW da companhia de teatro AlMasrah. Trata-se de um excelente trabalho com o habitual nãoconvencionalismo a que este grupo já nos habituou. A partir de “textos” de Sergi Bebel e Miguel Górriz, o encenador Bruno Martins construiu um espectáculo que poderia ser apresentado a qualquer público de qualquer língua, pois que as falas são praticamente inexistentes ou, pelo menos, não importantes para a apreensão do que se quer mostrar. Com um elenco de cinco actores de alto rigor no seu desempenho e uma cenografia eficaz na sua quase inexistência decorre este espectáculo que nos faz sorrir (se não mesmo rir) dada a inteligência do humor utilizado, que vai desde a simples e aparente “macacada” até ao mais sarcástico, mas fino, humor

(estou-me a lembrar, por exemplo, da versão apresentada da famosa música “Lili Marlene”). Realce para os momentos cantados que mais contribuem para o interesse deste “Show” de qualidade a que importa assistir neste Verão. A finalizar gostaria ainda de salientar o excelente desempenho das duas actrizes Clara Dias e Sónia Correia que integram o espectáculo como actrizes-estagiárias finalistas do Curso Prof issional de Artes do Espectáculo (variante de Interpretação) da Escola Secundária Pinheiro e Rosa e, pela positiva, em nada destoam dos seus colegas profissionais no que diz respeito ao rigor e empenho com que dão vida aos personagens e se entrosam na representação de grupo. 19,20,21 e 22 Agosto | 22h | Convento do Carmo (Tavira) 2,3,4 e 5 Setembro |22h | Convento do Carmo (Tavira)

Minim.Mal Show estreia no Convento do Carmo

D.R.

palco

urante a segunda quinzena de Agosto, o Penedo Grande - Associação Cultural para a Educação no Algarve, sediada em São Bartolomeu de Messines, apresenta o seu mais recente trabalho - a peça de teatro O Marinheiro - nos Açores, mais precisamente nas ilhas Terceira, Graciosa e Flores. Trata-se de um intercâmbio estabelecido com o Grupo de Teatro da Graciosa e promovido e apoiado pelo Dr. Carlos Vargas (actual presidente do Conselho de Administração da Caixa de Credito Agrícola e Mutuo de S.B. Messines e S. Marcos da Serra) que lançou o desafio ao grupo de encenar a peça de Fernando Pessoa. Segundo Marta Vargas, esta tem sido uma experiência muito enriquecedora, dado o desafio que é interpretar Pessoa e a especificidade desta peça. “Retrata a vivência de três mulheres ( que não sabem se são reais ou sonho, ou o sonho de um marinheiro). Fala da vida, da morte, vagueia entre a ilusão e a realidade e espreita nas entrelinhas aquilo que somos ou não.” O Marinheiro, tem encenação

Cultura .Sul

Por João Evaristo

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Messines leva teatro aos Açores D

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• Biblioteca.S

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Cultura .Sul

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À Roda da Poesia, em Olhão D.R.

Paulo J. Izidoro Coordenador Interconcelhio da Rede de Bibliotecas Escolares pauloizidoro@gmail.com

O livro digital A marca visível de uma revolução cultural

O

livro digital surge como a forma económica de proporcionar acesso a uma cultura, especialmente à forma literária dessa mesma cultura. Numa visão de futuro podemos mesmo dizer que será de maior facilidade de acesso do que a forma em papel. Tal não é já verdade por ainda existirem diferenças de formatos e de equipamentos necessários à leitura, bem como hábitos de utilização já enraizados. Podemos no entanto apontar três factores que serão determinantes na alteração de práticas: os nativos digitais, os equipamentos de leitura e consciência ecológica.

A

Biblioteca Municipal de Olhão lança o convite para a partilha de Leitura e conversas em torno da poesia, poetas e outras coisas concretas. “Pôr a poesia a falar”

(defend ia-o Eugénio de Andrade) é o mote para esta iniciativa cujo objectivo é “ler poesia em voz alta pondo o ênfase na matéria sonora para sentir verdadeiramente o prazer

que a poesia transmite”, conv idando todos os participantes a celebrar o que considerem ser grandes poemas, “com ou sem rima, mais curtos ou mais longos, mais cómicos, satíricos

ou líricos”, numa “festa literária que é sempre uma festa para todas as idades. 12»26 AGO • 18.00 Biblioteca Municipal de Olhão

Biblioteca de Praia de Albufeira

A D.R.

Os nativos digitais Os nativos digitais são uma geração de leitores que nasceram já com computadores em suas casas e na sua escola: são ainda mais novos do que a geração do telemóvel. Para eles os computadores fazem parte do dia-a-dia e acham natural a interacção entre equipamentos. Não são apenas utilizadores, estão imersos na tecnologia. Para eles ler no computador ou num aparelho digital de leitura será algo natural: vão querer usar, copiar e colar excertos, partilhar com os amigos aquilo que estão a ler tal como quando estão a ver um vídeo. E aqui recordo que leitura não é apenas ler romance e poesia, é também ler novelas gráficas, livros interactivos ou multimédia. Os nativos digitais estão agora a dar os primeiros passos culturais e é para eles que se tem de trabalhar, até em termos comerciais.

Biblioteca de Praia da Biblioteca Municipal Lídia Jorge volta à Praia do Inatel, em Albufeira, nos meses de Julho e Agosto, mas, desta vez, ficará instalada no Bar Atlântico do antigo edifício do INATEL, junto à praia. À semelhança das edições anteriores, serão disponibilizados livros para o público infantil, juvenil e adulto, apresentando-se ainda

Até 31 AGO | 9.30/14.00 (Sáb)»18.30 | Bar Atlântico Praia do Inatel (Albufeira)

Biblioteca de Praia de Quarteira D.R.

Os novos equipamentos de leitura

biblioteca

Os leitores de livros digitais estão, tecnologicamente, tão afastados do computador como o telemóvel do telefone fixo: a única coisa que têm em comum é permitirem ler ficheiros digitais (texto, som, imagem e vídeo) pois são leves, não fazem ruído, são portáteis, podem ser lidos à luz do sol e têm bateria para muitos dias ou milhares de páginas. É preciso ver para acreditar!

A consciência ecológica Marca da civilização europeia moderna, o papel não foi o primeiro suporte para os livros. Aliás, só surgiu pela escassez de matéria-prima para produzir os anteriores livros: o papiro (planta Cyperus papyrus) ou o pergaminho (pele de ovinos e caprinos). No século XXI as questões ecológicas, a desflorestação e a crescente procura por papel devido ao aumento da escolarização no mundo, tornará o papel uma matéria-prima escassa, cara e a necessitar de uma alternativa. O livro digital surge assim como um suporte alternativo mas também como um meio para fazer florescer uma nova geração de leitores e de utilizadores do conhecimento.

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à segunda-feira de manhã (entre as 10 e 10.30 horas) uma sessão da Hora do Conto para os mais pequenos. A Biblioteca Municipal Lídia Jorge volta a proporcionar momentos mais lúdicos aos miúdos, convidando ainda os graúdos a participar nestas pequenas actividades.

O

projec to Bibl iotec a de Praia decorre pelo sétimo ano consecutivo em Quarteira, que terá à disposição dos leitores cerca de 1.400 livros com especial incidência na literatura, para além de contar com outras temáticas. Disponibiliza ainda o acesso a jornais locais, regionais, nacionais e revistas que podem ser consultados numa esplanada

com vista privilegiada para o mar. Para além da consulta local, os livros estarão disponíveis para empréstimo, dois de cada vez, por um período de cinco dias, mas com hipótese de renovação. Até 31 AGO • 10.45 - 17.45 Avenida Infante Sagres (Praça do Mar) (Quarteira)

Biblioteca Municipal de Castro Marim reutiliza manuais escolares D.R.

C

onsciente da importância em democratizar cada vez mais o acesso ao conhecimento e à cultura a todos os cidadãos, mas também a necessidade de reduzir custos e optimizar os rendimentos das famílias com a educação dos filhos, a Biblioteca Municipal de Castro Marim tem em curso uma campanha de reutilização de manuais escolares. A iniciativa, que decorre

nos meses de Julho, Agosto e Setembro, visa facilitar o acesso aos manuais escolares que já não são necessários e que podem ser reaproveitados e reutilizados, apoiando a comunidade e rendibilizando não só as economias familiares, mas também a protecção do meio ambiente, evitando o abate de milhares de árvores que são necessárias à preservação da floresta.


Adriana Nogueira Professora Universitária de Estudos Clássicos

O

último livro de António Manuel Venda (Monchique, 1968), O Sorriso Enigmático do Javali (Quetzal, 2010), tem como subtítulo «Primeiras aventuras do pequeno Tukie» e conta as histórias deste menino, uma criança espontânea, curiosa e feliz. Tukie é o único ser humano que tem, efectivamente, um nome, nos 12 contos por que é constituído o livro (que não ultrapassa as 100 páginas). E esta opção faz sentido, pois as personagens principais são os animais: a gata Malhas, o gato Palonsiño ou a gineta Gina. As histórias são variadas, com humor, tendo como fio condutor aquela família, composta pelo menino, pelo «pai do pequeno Tukie», pela «mãe» e por «a bebé». A diversidade também se faz sentir através da alternância do ponto de vista do narrador: numa história vemos o mundo pelo olhar da criança (sabemos o que sabe, ignoramos o que ignora e aprendemos ao mesmo tempo que ele); noutra, vemos o mundo

pela objectiva de uma máquina fotográfica que nos reflecte um real alternativo; noutra ainda, é o pai do pequeno Tukie que nos recebe nas memórias da sua infância. Múltiplos olhares que nos envolvem e nos tornam participantes das narrativas. António Manuel Venda começa muitas vezes estes seus contos com frases sem os verbos expressos, numa escrita sincopada, de subentendidos e de cumplicidades, que nos cria expectativas e suspense, obrigando-nos a saborear a leitura, embalados pelo seu ritmo: «As limpezas. Mas não as limpezas, por exemplo, da casa» (p.45); «Viagens à noite. O pai do pequeno Tukie fazia muitas assim» (p. 53); «Uma correria. O dia todo numa correria. Foi o que o pai do pequeno Tukie contou quando estavam a caminho da praia» (p.63). Também usa com frequência a digressão, levando-nos para outras gentes, outros bichos, outras histórias, sem, contudo, nos fazer perder o fio à meada. E assim somos enriquecidos pelas vizinhas Pata Larga e Perdizita (pp.11-12), sensibilizamo-nos com um dogue argentino entubado num veterinário (p.20) ou deixamo-nos fascinar pelas divagações sobre uma velha oliveira (p.46). Este liv ro fala de liv ros, numa clara vontade de realçar a importância que estes têm para melhor compreendermos o mundo: «voltou com um livro sobre animais da região. […] Folheou o livro e,

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quando estava já nas páginas onde apareciam alguns gatos-bravos, ouviu o pai dizer-lhe que era uma gineta. O pequeno Tukie procurou a página correspondente às ginetas e quando a encontrou percebeu como eram quase iguais, a da imagem do livro e a que estava escondida no alpendre» (p.28). E se uns livros nos são úteis para adquirir conhecimento prático, outros estimulam-nos a imaginação: «O pequeno Tukie lembrou-se de ver nos livros os

canhões dos barcos dos piratas com umas bolas pretas ao lado. As balas dos canhões. E se os pássaros bombardeassem o monte com balas de canhão como as que usavam os piratas dos livros?» (p.41). Porém, as referências não são sempre genéricas, pois há autores nomeados, quer porque servem a criação do imaginário («a menos que fosse, por exemplo, um gigante como os anões dos livros de uma escritora espanhola chamada Rosa Montero, anões como os desses

• DA MINHA BIBLIOTECA

História do Rei Transparente «Sou mulher e escrevo. Sou plebeia e sei ler. Nasci serva e sou livre. Vi na minha vida coisas maravilhosas. Durante algum tempo, o mundo foi um milagre. Depois a escuridão voltou». Estas são as palavras com que Rosa Montero começa o seu romance, que não gostaria de rotular de histórico, até porque não há uma preocupação com um enquadramento histórico rigoroso nem com tornar a realidade de uma época mais compreensível. Como a autora reconhece nas páginas 347-450, no capítulo «Algumas considerações finais», os acontecimentos que realmente se deram entre os séculos XI e

XIII são aqui encaixados num período de 25 anos, dando origem a um romance sem um tempo definido numa realidade (uma ucronia), muitas vezes apresentada como alternativa e fantástica, consoante as crenças de cada um: «o mau-olhado não existe… desde que não se acredite nele» (p.323). Uma rapariga que veste uma armadura de cavaleiro para sobreviver num mundo de homens; uma mulher que se diz bruxa (mas bruxa do conhecimento), discípula do mago Merlin, mas que uma vizinha diz ser apenas uma velha doida; uma rapariga que julga

matar com o olhar e é curada por um homem que acredita ser um amuleto vivo contra o mau-olhado… e toda uma panóplia de personagens que nos trazem sexualidades indefinidas, questões de natureza social, bem como os problemas existentes entre a pureza que os cátaros ambicionavam, aproximandoos de um cristianismo original, e a apertada estrutura feudal de uma sociedade e de uma Igreja que com ela pactua. Este livro transporta-nos nas suas metáforas e, enquanto o lemos, entramos num mundo maravilhoso e cruel, lindo e aterrorizador, mágico e real.

D.R.

MONTERO, Rosa, História do Rei Transparente, Edições Asa, Lisboa, 2006

livros só que ao contrário. Anões enormes, de tamanho gigante» - p.46), quer porque o mote é o mesmo, como o poema do brasileiro Manoel de Barros (pp.101-102), quer porque se encaixam nas recordações das personagens (como as memórias de juventude do pai do pequeno Tukie): «Lembrou-se de muitos anos antes, de ver nos livros de cowboys do Tex Willer os chapéus inutilizados… Muitas vezes acontecia, uma bala furava o chapéu, num tiroteio, a um dos companheiros do Tex Willer, que tinha o famoso nome de Kit Carson» (p.82). Para os que gostam de saber o grau de matéria autobiográfica que se encontra nos liv ros, António Manuel Venda satisfaz a curiosidade nas apresentações que tem feito da obra, como aconteceu em Monchique, no passado mês de Junho, explicando que, mais do que na experiência que tem com o seu f ilho, o pequeno Tukie baseou-se na sua própria experiência de infância. Nós acreditamos, mas o autor não consegue deixar de ser também o pai do rapazinho, como se dois universos paralelos (na linha ficcional que tanto agrada a Tukie e ao pai – cf. «8. A borboleta do imperador Ming»), um do passado e outro do presente, se tivessem entrecruzado. Será que aqui não se (com)fundem o autor com a personagem? Esta, um escritor, pensa, a propósito do calor que se fazia sentir: «O mesmo, ou quase o mesmo, lembrava-se, do calor da noite de fogo que tinha vivido uns anos antes, o incêndio na serra da sua infância, que tinha metido num pequeno romance.» (p. 85). Quem tem acompanhado a já extensa obra de António Manuel Venda (que se iniciou, em 1996, com o fantástico Quando o Presidente da República Visitou Monchique por Mera Curiosidade) reconhecerá a referência ao livro anterior, de 2009, Uma noite com o fogo (também editado pela Quetzal), que relata a devastação que a serra de Monchique sofreu com os fogos que a assolaram em 2003 e 2004. É «O Sorriso Enigmático do Javali», então, um livro para crianças? Tal como a mesma natureza é percebida por pai e filho de forma diferente, eu diria que é um livro para adultos que as crianças podem ler.

Cultura .Sul 05. 08.10

No tempo em que os animais quase falavam

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Itinerários: Até 15 AGO | 20.00 - 00.00/01.00 (sex/sáb)

Jardim Manuel Bivar (Faro)

Até 22 AGO | 19.00 - 24.00 Zona Ribeirinha Portimão

> Feira do Livro e Artesanato de Quarteira 13/22 AGO | Calçadão de Quarteira

Expositores em representação das mais importantes editoras e livreiros. Sessões de autógrafos e encontros com escritores promovidos pela Biblioteca Municipal Sophia de Mello Breyner Andresen.

> Concurso Literário

Júlio Dantas e o seu Contraponto Até 31 AGO | Biblioteca Municipal de Lagos

Com o objectivo de incentivar a curiosidade e o interesse sobre a época em que Júlio Dantas viveu, bem como o seu contraponto Almada Negreiros, quer em termos sociais, quer em termos culturais e artísticos, no âmbito das Comemorações do Centenário da República.

livro

> Feiras do Livro:


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Cultura .Sul

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Cultura liga a comunidade a Portimão Por Henrique Dias Freire

Isabel Guerreiro, vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Portimão: “estamos a colher os frutos de 20 anos de investimento na cultura”

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ortimão tem sabido afirmarse pela ligação à comunidade at r avé s d a c u lt u r a . O município colhe agora os frutos de um investimento de duas décadas que hoje já é referência além-fronteiras. Sobre o futuro, Isabel Guerreiro é confiante: «há uma nova geração de artistas concelhios que podem constituir, em tempo de vacas magras, uma importante maisvalia que garanta produções que dêem vida aos novos equipamentos cu lt urais e asseg urem a continuação duma oferta cultural de qualidade». CULTURA.SUL – Qual é a linha orientadora da Câmara de Portimão para a área cultural? Isabel Guerreiro - Apostar sempre na cultura como um factor de competitividade do município, da própria cidade, da afirmação do município e, de alguma forma, de melhoria da qualidade de vida das pessoas. Quanto mais esclarecida, aberta e cosmopolita for a população maior é a abertura à diferença e à inovação. Onde é isso mais notório? Na definição da programação dos nossos espaços, quer do Teatro Municipal de Portimão, quer do Museu, quer da Casa Manuel Teixeira Gomes e na relação que temos com o associativismo.

politíca

Como por exemplo? Cada um dos projectos municipais inclui of icinas educativas. A existência destes serviços educativos foi preponderante para a recente atribuição do Prémio do Conselho da Europa ao nosso Museu. Eles ficaram muito bem impressionados. Temos uma relação muito forte com as escolas do município e o terceiro ciclo. Apostamos na definição da programação dos espaços municipais e também na descentralização. Quais são os grandes vectores dessa descentralização? Temos, por exemplo, música clássica em todas as freguesias. Hoje percebe-se que o público que vai ao teatro ou ao auditório municipal tem uma postura que não tinha há uns anos atrás. É uma postura de quem já tem uma educação cultural mais profunda. Quanto à vossa política de acesso? Quer os jovens, quer as pessoas com alguma def iciência têm descontos e um acesso facilitado à cultura. Temos também um Passaporte Sénior, para dar

D.R.

descontos a pessoas acima dos 60 anos.

Formação cultural para jovens Quais são os principais exemplos dessa afirmação? A Casa Manuel Tei xeira Gomes tem uns workshops com crianças que lhes dá uma relação com a música e a dança. Também há actividades no Teatro Municipal. Só o Museu tem 12 actividades para crianças. O que significa que a mesma turma de uma dada escola pode escolher 12 actividades diferentes ao longo do ano. Neste momento, está a ser montado um filme animado em que foram as crianças que desenharam as pessoas. Estiveram envolvidas 150 crianças. Cada grupo de 15 faz uma parte da história. O filme vai ser apresentado no próximo dia 7. A aposta nos mais jovens é um trabalho continuado? Começou há cerca de 20 anos, sem haver os devidos equipamentos municipais. As actividades decorriam em tendas e em outros locais. Mas quando os equipamentos surgiram já os públicos existiam. Qual é a “contabilidade” do investimento feito nos edifícios culturais? O Teatro Municipal está avaliado em 12 milhões de euros. O Museu Municipal em nove milhões de euros. A Casa Manuel Teixeira Gomes foi requalificada e o valor é de cerca de 500 mil euros. É um investimento

Tiveram a sua aprendizagem e neste momento estão disponíveis ou para leccionar ou para criar espectáculos. Podemos, com alguma contenção orçamental, continuar a ter espectáculos de qualidade. Está prevista a criação de novos equipamentos culturais? Não. Neste momento estamos bem servidos. Pensa que as autarquias deviam apostar no intercâmbio de actuações de grupos dos diferentes concelhos? Estamos na fase de amadurecer esse tipo de relação, uma situação que não seria possível há dois anos, porque nem sequer tínhamos instalações para isso.

A veradora está “confiante” na nova geração de artistas avultado que ainda apanhou o primeiro Quadro Comunitário de Apoio que garantiu um financiamento de 50% ao Teatro Municipal e ao Museu, algo impossível no actual Quadro Comunitário. Foi um grande investimento na reabilitação urbana.

Manutenção é desafio em tempo de recessão A manutenção também é cara. É óbvio, o grande desafio.

Num quadro de recessão económica e f inanceira, é a manutenção destes equipamentos. Neste ano já reduzimos bastante o orçamento, porque a agenda social é prioritária. Vamos reduzir ainda mais para 2011, mas apostando cada vez mais nos valores da nossa cidade. Na Escola Básica 2, 3 que vai entrar em funcionamento em Setembro, vamos apostar no ensino artístico integrado. É levar para a escola pública algo que já sentíamos que fazia falta ter na cidade. Te m o s n o p r ó p r i o Conservatório de Música jovens licenciados que podem dar o seu contributo.

A Gaveta é um grupo de teatro semi-profissional de alguma projecção. Porque é que ainda não se apresentou em palcos como o Teatro Municipal de Faro? Temos tentado dar apoio a esse grupo para que deixe de ser um grupo de nível local. O grupo já esteve no teatro da Trindade, em Lisboa, e temos apostado nesse apoio à conquista de novos palcos. A nossa vontade é no sentido de arranjar parcerias para que se possam dar respostas com qualidade sem ir procurar fora grupos capazes de assegurar eventos culturais. Todos os municípios estão muito “frescos” em termos da existência de equipamentos culturais e só agora se podem avançar com produções. Mas o caminho é esse.

Algum património deveria ser descentralizado para as autarquias CULTURA.SUL – Que avaliação faz do papel do Ministério da Cultura? Isabel Gerreiro - No Algarve houve algum financiamento em termos dos equipamentos. A nível de eventos em Portimão, quando fizemos as Comemorações do 150º aniversário de Manuel Teixeira Gomes, a ministra da Cultura achou a programação muito interessante. Disse que gostaria de apoiar mas não tinha verbas. É uma crítica? É uma questão de realismo e de pragmatismo. Não há para nós como não há para outros. Não somos mais ou menos bem

tratados do que os outros. A s c o m em o r a ç õ e s t êm dimensão nacional? Nós entendemos dar-lhe um cunho nacional e elas têm essa qualidade. Fizemos colóquios e estamos a reeditar as obras completas de Manuel Teixeira Gomes, em colaboração com a Casa da Moeda. Fizemos ainda o lançamento de algumas obras que têm a ver com o estudo e a vida de Teixeira Gomes, como por exemplo as cartas de João de Barros a Manuel Teixeira Gomes. E como avalia a Direcção Regional da Cultura? A Direcção Regional tem

muito poucas verbas, quase insignif icantes. Na relação concreta com o município de Portimão esta Direcção pode ter a importância de saber quais são as nossas dificuldades e transmiti-las. Mas não trabalhamos no sentido prático e não é por aí que a nossa afirmação cultural se faz. Temos alguma relação do ponto de vista arqueológico, porque têm pareceres vinculativos na recuperação do nosso património. Como é o caso da Igreja de Portimão? Nós avançamos com a recuperação do telhado e da cobertura, que são 125 mil euros, e a Direcção Regional da Cultura

ainda não financiou e não sabe se tem verbas para financiar. Esta Direcção tem no Algarve aquilo que o Ministério da Cultura tem a nível nacional: uma limitação de recursos. Mas não ponho em causa a boa vontade… …E como colmatar a falta de recursos? Deveria haver alguma descentralização do património para as autarquias. Por exemplo, o Núcleo Arqueológico de Alcalar seria muito mais fácil de gerir se fosse gerido por nós e com os funcionários do município. O anterior director regional já o reconhecia e a actual directora reconhece o mesmo.


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• DOCUMENTÁRIO

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Cultura .Sul

O universo das músicas de tradição

Por João Evaristo D.R.

Entrevista com o pintor Gilberto Madalena

O

fotógrafo algarvio Jorge Jubilot juntou-se a um grupo de amigos naturais do Pinhal Novo, ligados desde há muito tempo a diferentes vertentes multimédia, com o objectivo comum de documentar da forma o mais autêntica possível as raízes musicais de diferentes culturas.

A ideia do projecto partiu de Paulo Nobre, que assumiu as funções de realizador, entrevistador e de captação e edição de imagem e que, apesar de não ser Algarvio, tem parte das suas raízes a sul e o fascínio pela Ilha da Armona, onde passa grande parte dos seus tempos de lazer e onde fez amizade com Jorge Jubilot, natural de Olhão, que

mais tarde viria a convidar para participar nesta aventura. Integram também o projecto João Fontes (Câmara) e Álvaro Presumido (Editor áudio). Segundo afirmam, pretendem "ir às fontes que fazem jorrar a verdadeira cultura, tentando ilustrar esses momentos de uma forma autêntica, genuína, feita sem PUBLICIDADE

rede, apenas por intuição, e por querer registar a verdadeira alma dos povo". Para esta equipa, "perceber as gentes, cuja entrega aos valores que lhes são atribuídos naturalmente, de geração em geração, é tentar compreender o nosso papel enquanto habitantes deste mundo tão diversificado. No fundo, e ligando o termo a uma música interpretada por Amália, estamos no encalço duma forma

Quanto ao processo de criação, a equipa assume que a realização deste projecto começou em sentido contrário ao que seriam as intenções iniciais. Este primeiro f ilme acabou por registar "o lado evoluído e massificado das tradições culturais, neste caso, feito em Portugal". Fica agora por dar o próximo passo de forma a "rumar à fonte, ao genuíno, ao vizinho, à família, à aldeia e a todos aqueles que fazem e partilham a cultura de tradição musical das mais diversas formas". O documentário rodado durante a edição de 2007 foi apresentado no festival deste ano, no dia 24 de Julho, pelas 21.30. Para quem não teve oportunidade de assistir à estreia poderá ir até ao sítio http:// docmusicasdomundoemsines. blogspot.com/ onde está disponível o trailler e onde poderá encomendar o DVD (€4,99), através do e-mail associado ao blogue. “Contamos contigo nesta viagem rumo a porto incerto, quanto mais não seja pela experiência, mas por agora... fiquem por Sines e sintam esta forma de estar, através da lente que apenas observa, apenas regista sem interferir, sentindo e vivendo a sensação do momento. Com o D.R.

D.R.

CÂMARA MUNICIPAL DE TAVIRA EDITAL Nº 67/2010 TORNA PÚBLICO, que em reunião de Câmara Municipal, realizada no dia 04 de Agosto de 2010, foram tomadas as seguintes deliberações: 1 - Aprovada por maioria a proposta número 114/2010/CM, referente à 11ª. Alteração às Grandes Opções do Plano e 15ª Alteração ao Orçamento; 2 - Aprovada por unanimidade a proposta número 115/2010/CM, referente à renovação do contrato – programa de gestão de espaços verdes e respectiva repartição de encargos; 3 - Aprovada por maioria a proposta número 116/2010/CM, referente à obtenção de parecer favorável do Órgão Executivo para celebração de contratos de prestação de serviços por Ajuste Directo Simplificado à Empresa Rainha do Êxito; 4 - Aprovada por unanimidade a proposta número 117/2010/CM, referente à E27/00/CP - Empreitada de “Arranjos Exteriores do Largo de Santana” - recepção definitiva;

Para constar e produzir efeitos legais se publica o presente Edital e outros de igual teor que vão ser afixados nos lugares de costume.

Paços do Concelho, 04 de Agosto do ano 2010

O PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL, Jorge Manuel Nascimento Botelho (POSTAL do ALGARVE, nº 998, de 5 de Agosto de 2010)

estranha de vida, como assunto, como cultura, essencialmente como um registo do que ainda perdura, através dos valores que se emanam e não se podem nem devem perder-se". O primeiro trabalho, documentado agora em DVD, estabelece uma ligação com o universo das músicas de tradição. Desta vez, Sines foi a fonte, mais precisamente o Festival Músicas do Mundo de Sines (FMM), ficando a vontade de novas experiências.

aroma da utopia, do incerto. Com o sabor da vontade, da partilha. Viajemos, então, sem tempo...". É desta forma simples e genuína que o convite é lançado a todos aqueles que partilham este sentimento e obviamente àqueles que fazem do FMM uma realidade palpável e única pela forma como vivem as tradições daquelas gentes que sobem ao palco para mostrar e fazer sentir valores, prazeres.

arte

DVD documenta Festival Músicas do Mundo de Sines


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Cultura .Sul

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• DIRECÇÃO REGIONAL DE CULTURA DO ALGARVE

A autenticidade na imagem dos centros históricos Rui Parreira Arqueólogo. Direcção Regional de Cultura do Algarve rparreira@cultalg.pt

A

estratégia

• Convidado.S

s comunidades tratam de forma diferenciada os bens materiais que herdam das gerações anteriores. O modo como aceitam (ou, pelo contrário, repudiam e esquecem) e s s a he r a nç a r e l a c ion a- s e directamente com as atitudes dos diferentes grupos sociais que as constituem. Prevalecem nelas as preferências dos grupos política e socialmente dominantes. Ou seja, quanto às questões da conservação e transmissão dos bens materiais que constituem o património das comunidades, situamonos num âmbito socialmente conflituoso. Foi sobretudo a partir de finais do século XVIII que as sociedades europeias começaram a valorizar a carga histórica dos bens imóveis herdados das gerações precedentes. O quadro político saído da Revolução Francesa ambicionou colocar essa herança à disposição de todos os cidadãos. O Estado tratou então de aquilatar uma metodologia para inventariar os bens históricos, definindo regras para os administrar, procurando ir mais além do seu simples valor económico. Desde essa altura, as questões da conser vação, restauro e transmissão do legado histórico converteram-se em assunto de política do Estado. E passaram a constituir mais um meio, entre outros, de controlo e de reprodução da sociedade, na medida em que os dispositivos institucionais criados para a preservação da memória histórica produzem uma memória autorizada pelo grupo social dominante. C ont udo, o pat r i món io histórico das cidades continuaria a ser entendido apenas como o conjunto dos seus edifícios históricos notáveis, enaltecidos pela qualidade artística que neles se reconhecia. A noção de património urbano histórico, celebrado na sua espessura diacrónica, com os inerentes prog ra mas de conservação, foi uma consequência da industrialização, uma reacção à transformação abrupta do espaço urbano. Por contraste, a cidade antiga tornou-se então objecto de culto, passando a desempenhar, no seu conjunto, um papel de monumento histórico. Só mais tardiamente, a partir

da década de 1960, viria a colocarse a questão da autenticidade. Assente na ética do restauro, no respeito pelos materiais tradicionais e na fiabilidade das fontes de informação documental, de diversa natureza (material, escrita, oral, f igurativa…), a percepção da autenticidade passou, mais recentemente, a ter também em conta a diversidade cultural, por contraste com a (falsa) universalidade do sistema de pensamento ocidental, e acolhe uma multiplicidade de apreciações críticas dos documentos materiais

José Carlos Vasconcelos Director do Jornal JL, Jornal de Letras, Artes e Ideias, coordenador editorial da revista VISÃO

Os suplementos culturais

e in for mat ivos da hera nça histórica. Questão não despicienda, sobretudo quando nas cidades e vilas do Algarve se constata uma (reprovável) prática de renovação das áreas urbanas antigas mascarada de regeneração urbana, que usa modelos travestidos de construção tradicional. Um algarvian style, uniformizado, frequentemente imposto, que trava as marcas da trajectória temporal dos lugares privando-os de historicidade e reduz os criadores ao, cómodo e fácil, pastiche. D.R.

D.R.

V

alerá a pena fazer suplementos literários, artísticos, culturais, na imprensa em geral e na imprensa regional ou local em particular? Cá por mim, que nesses domínios, da imprensa e desses suplementos, tenho, feliz e infelizmente..., uma muito longa experiência (dirigi dois desses suplementos pela primeira vez, muito novo, há 51 anos!) acho que sim, sem margem para qualquer dúvida. Pelo menos desde que tenham alguma qualidade. E quase sou tentado a dizer - mesmo que a não tenham. Ma s então como?, perguntarão, e bem, os leitores. Explico-me. Mesmo que a não tenham, numa perspetiva literária ou jornalística, mas sirvam para dar notícias desse ‘setor’, em especial da sua área de implantação, isto é: aquela onde têm leitores; e/ou sirvam para chamar a atenção para a importância, pelo menos a existência, desse mundo em que alguns nunca chegam a entrar, não sabendo o que perdem; e/ou sirvam, enfim, para a iniciação dos mais novos, de quem começa, sobretudo na escrita. Pode-se defender que o melhor é a cultura vir integrada no conjunto do jornal e não ficar à margem, no que poderia constituir uma espécie de gueto dourado, afastando à partida quem não é dado a interessarse por essas matérias. Mas essa é uma forma errada de ver a questão. O que se impõe

é que e x ist i rem espaços próprios, como os suplementos, dedicados em exclusivo à cu lt ura, não devem nem podem impedir os media de a tratarem nos espaços noticiosos gerais, de par com os demais acontecimentos e temas. O erro, grosseiro, mesmo i n a d m i s sív e l q u a ndo s e trata do «serviço público» de rádio e televisão, é não tratar noticiosamente os factos culturais como todos os outros, maxime os desportivos. Mas isto levar-me-ia longe, a dar exemplos ‘arrepiantes’, que só denotam, além do mais, falta de visão, preparação, responsabilidade, quando não enorme ignorância ou mesmo ana l fabetismo, inc lusive jornalístico... Voltando especificamente aos suplementos culturais, em particular aos regionais e/ou locais, insisto que valem a pena. Mais, têm um papel de relevo, sobretudo se forem bem feitos, bem escritos e bem desenhados; porventura, ou melhor: desejavelmente, dando um maior enfoque aos eventos, às iniciativas, às figuras da região ou da terra, embora não excluindo o que o não seja, ou os que o não forem, abertos a outros horizontes. Do que, com toda a franqueza, sem ponta de lisonja, a que não sou dado, este Cultura Sul é um excelente exemplo - não me lembro, nem sei mesmo se haverá, agora, outro melhor em todo o país.

António Laginha

A adopção do algarvian style (Vila-Adentro de Lagos)

www.antoniolaginha.com D.R.

O

Dramatismo e perversidade, dois aspectos da chamada renovação urbana de áreas históricas nas cidades algarvias: o apagamento das memórias (frente ribeirinha de Olhão)

próximo convidado desta coluna é António Laginha, professor, ensaísta, coreógrafo, produtor e programador na área da dança. Licenciado em Arquitectura pela ESBAL e formado em Dança pelo Conservatório Nacional, pela Juilliard School (Nova Iorque) e pela Universidade de Nova Iorque, onde recebeu um mestrado em 1979, é , actualmente, doutorando na Faculdade de Motricidade Humana. Foi bailarino profissional no Ballet Gulbenkian e na Companhia Nacional de Bailado e fundador da Companhia de Dança de Lisboa. É presidente da associação Cais de Culturas e vicepresidente da Associação Cultural e Juvenil Batoto Yetu-Portugal. Fundou e dirige a única revista de dança portuguesa, a Revista da Dança, para além do Centro de Dança de Oeiras. Foi Prémio Revelação do Ministério da Cultura/Associação Portuguesa de Escritores, em 1998, com o livro infanto-juvenil “O Segredo de Natália” e tem vasta obra publicada em Portugal e no estrangeiro.


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