Brincando e aprendendo

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Sustentabilidade

Brincando e aprendendo Para abordar a temática água em sala de aula, é preciso que os professores tenham muita criatividade e imaginação Por Paula Craveiro

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os últimos anos, temas relacionados ao meio ambiente têm conquistado merecido espaço em sala de aula. Professores e instituições de ensino despertaram para a importância de discutir com os alunos assuntos como poluição, reciclagem e preservação ambiental, de modo a criar jovens cidadãos engajados e conscientes de suas obrigações em relação ao mundo em que vivem. No entanto, a questão da água ainda é bastante mal trabalhada no ambiente escolar. “É comum ouvirmos o que se deve ou não fazer em relação à água. Na teoria, essas explicações e orientações são realmente muito boas, mas, dependendo do público ao qual nos dirigimos, estas podem ser totalmente ineficientes”, pontua a professora Mariana Cação Cardoso. Para ela, “é essencial que se una teoria e prática para que crianças e adolescentes compreendam a relevância do assunto e apliquem as soluções e alternativas apresentadas em sala de aula em seu dia a dia, seja na escola ou em suas próprias casas”. Muito papo... Na maioria das escolas brasileiras, sejam elas integrantes da rede pública ou da rede particular de ensino, há tempos o tema água vem sendo trabalhado em sala de aula, geralmente como parte da grade curricular de Ciências, mas, não 28 Revista da ANEC :: Informativa Educacional 2010

raramente, ele é abordado de maneira superficial e sem que haja contato direto com o objeto de estudo. “Na minha escola, a professora sempre fala sobre cuidarmos da água do planeta; não jogarmos lixo nas ruas, porque, em dias de chuva, ele vai para os rios; não deixarmos a torneira aberta enquanto escovamos os dentes, essas coisas”, conta Thaís Nakamura, de 11 anos, aluna do 4º ano do Ensino Fundamental. “Muita coisa dá para aprender, mas seria bem mais legal se a gente pudesse mexer na água. Acho que todo mundo da classe prestaria mais atenção na aula e levaria o assunto mais a sério”, sugere a estudante. Fugindo do lugar-comum Um dos fatores que limita a abordagem da água diz respeito à sua restrição às aulas de Ciências. “Quem disse que a água não pode ser trabalhada em outras disciplinas?”, questiona a professora e pedagoga Lígia Martins. Segundo o Manual do Multiplicador, elaborado pela Sabesp e distribuído em diversas escolas do Estado de São Paulo, a “interdisciplinaridade questiona a segmentação entre os diferentes campos de conhecimento produzidos por uma abordagem que não leva em conta a inter-relação e a influência entre eles. Refere-se, portanto, a uma relação entre disciplinas”.

Em outras palavras, conforme explica a pedagoga, é possível sim trabalhar a água em matérias como Matemática, Língua Portuguesa, Educação Física, Artes e, evidentemente, Ciências. “Para isso, é preciso que o educador tenha criatividade e também se coloque no lugar dos alunos, analisando se essa ou aquela atividade realmente o interessaria se ele fosse um estudante”, afirma. Como exemplos de atividades, Lígia sugere: “Em Matemática, podemos utilizar copos de água na realização de contas. Tenho 20 copos de água, cedo 11 para Maria e fico com quantos? Já em Língua Portuguesa, o professor pode propor aos alunos a redação de um poema ou uma história que fale sobre água. Em Geografia, é possível abordar desde as formações geológicas até


"É essencial que se una teoria e prática para que crianças e adolescentes compreendam a relevância do assunto e apliquem as soluções e alternativas apresentadas em sala de aula em seu dia a dia, seja na escola ou em suas próprias casas." Mariana Cação Cardoso

questões regionais que envolvem a falta de abastecimento de água para consumo. Em Artes, os alunos podem realizar uma série de desenhos envolvendo situações que necessitem de água, como tomar banho, preparar um alimento, regar uma planta”. A professora e pedagoga destaca que, em Ciências, é possível trabalhar questões como noções de higiene e saúde. “Também há a possibilidade se elaborar projetos como coleta de água de chuva para posterior reuso ou a medição da água da escola durante um determinado período, permitindo que os alunos compreendam o método científico aplicado em um estudo das águas (ciclo da água)”. Outra maneira interessante de abordar o tema que exige a participação ativa dos estudantes é gerar debates, tendo por base matérias publicadas em jornais, revistas e na internet. “A partir desse material, os alunos serão induzidos a pensar nas causas de situações como falta de água potável e enchentes, algo comum aqui no Brasil, e passarão a buscar, com o apoio dos professores, soluções para esses problemas, como a reutilização da água da chuva e da água utilizada na lavagem de roupa”, complementa Mariana Cação. Trabalhando com água Embora todas as sugestões apresentadas sejam bastante interessantes e facilmente aplicáveis em qualquer instituição de ensino, ainda há um “porém”: em quase sua totalidade, as atividades envolvem apenas o conceito água, não o objeto de estudo propriamente dito. “Em minhas aulas, costumo incentivar os alunos a experimentarem determinadas situações. A meu ver, essa é a melhor maneira de fazê-los compreender o assunto que estamos estudando”, comenta Ana Claudia Marques, professora de Ciências.

Entre as atividades propostas por Ana, ela sugere que, ao chegar em casa, o aluno coloque um balde vazio sob uma torneira, deixando-a pingar lentamente durante um determinado número de horas, ou até que o balde fique cheio. “A partir daí, cada um traz as suas observações, incluindo o volume total do balde, e, juntos, passamos a calcular o desperdício que ocorre com uma goteira durante um dia ou um mês. Essa prática faz com que os alunos atentem para situações corriqueiras e que, até então, passavam despercebidas”, explica. Outro exercício sugerido pela professora utiliza-se de gelo. “Com apenas duas pedras de gelo é possível fazer essa experiência. Basta o aluno colocar uma delas em um recipiente em temperatura ambiente e outra em um recipiente com temperatura variando de morna a quente, tomando cuidado para não se queimar ou, então, pedindo o auxílio a um adulto. A partir daí, o aluno deve analisar o que ocorre com ambas, o tempo que elas levam até derreterem completamente. Também munidos de observações, em sala de aula discutimos conceitos relacionados à questão do aquecimento global”, ressalta. “Compreendendo, na prática, a importância da adoção de medidas simples como fechar a torneira durante a escovação dos dentes, reduzir o tempo de banho e reaproveitar a água utilizada na lavagem de roupas, essas crianças e adolescentes passam a adquirir uma consciência mais ampla sobre a água, passando a respeitá-la como um bem valioso que a natureza nos oferece e, também, servindo como agente na disseminação do conteúdo assimilado, orientando e cobrando uma postura consciente e correta de seus pais, amigos e familiares”, conclui. Informativa Educacional 2010 :: Revista da ANEC 29


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