COMUNISMO DA FORMA - SOM, IMAGEM E POLÍTICA DA ARTE (livro/book)

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24.06.07

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concebo como ‘novos’ trabalhos (aprés, after fulano), bem como não as reinsiro no mercado de arte. Os trabalhos de minha coleção não têm nem aspiram a ter valor de troca, seu valor é puramente de uso”. São evidentes os pontos de contato entre o projeto de Dardot-Pitta e um dos pilares de Comunismo da Forma: a questão do uso por toda uma geração de artistas contemporâneos. Como maneira de estabelecer novas relações com a cultura, de modo geral, e com a obra de arte em particular, o crítico francês Nicolas Bourriaud propõe reprogramar trabalhos existentes (como o fazem Mike Kelley, Paul McCarthy e Pierre Huyghe, entre outros) e habitar os estilos e formas historicizadas (Felix GonzalezTorrez, Liam Gillick e Sarah Morris). “Nesta nova forma de cultura que poderia ser classificada de cultura do uso ou cultura da atividade, a obra de arte funciona como a terminação temporária de uma rede de elementos interconectados, como uma narrativa que prolonga e reinterpreta roteiros precedentes. Cada exposição inclui o roteiro de outra; cada obra pode ser reinserida em diferentes programas e servir como múltiplos cenários. Ela não é mais um local terminal, mas um momento na cadeia infinita de contribuições”, escreve Bourriaud em Postproduction. É interessante observar como a ação Duda Miranda não só reinveste de novos sentidos obras já realizadas (algumas delas em direção acelerada à museificação), como recupera significados originais de algumas propostas, caso de Um Sanduíche Muito Branco, de Cildo Meireles (um pão francês que é recheado de algodão), Mal-entendido, de Rivane (basedo na ação de colocar um ovo boiando em um copo de água), ou a série Mirror Displacement, de Robert Smithson (em que pedaços de espelhos colocados em uma praia fragmentam e dão origem a uma paisagem particular). Mais do que reinserir estas idéias em novos contextos, a intenção é evidenciar possibilidades que já estavam presentes. “Duda não é uma biografia, mas um procedimento”, afirmam eles, que, no limite, estão propondo um modelo de ação para o público, um modo de engajamento, ao fornecer um caminho possível a seguir. Como costumam dizer

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