COMUNISMO DA FORMA - SOM, IMAGEM E POLÍTICA DA ARTE (livro/book)

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24.06.07

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ansiedade, pelo desarranjo e pela nostalgia. O que o artista procura é um “desvio”. Um no qual todo o material disposto pela “biblioteca” possa ser alterado e retomado a fim de que novos significados possam nascer, significados que só devem de fato existir a partir da participação do espectador. Isso porque o espectador contém nele o segundo elemento essencial para que essa arte possa acontecer: se o artista toma a “biblioteca”, é no espectador que reside a memória, as referências sentimentais e a subjetividade que encontrará a do artista a fim de “recarregá-la” com uma energia nova, gerada com a aceitação, recusa ou indiferença nascida desse olhar do espectador diante de elementos da “biblioteca” dispostos em nova ordem. Como já ordenava Guy Debord2 em 1956, exigindo o total engajamento do artista diante do cenário que se formava com a industrialização e a sedimentação da sociedade de massa: “No seu conjunto, a herança literária e artística da humanidade deve ser utilizada para fins de propaganda engajada (…) Todos os elementos, apanhados não importa onde, podem ser objetos de novas leituras (…) Tudo pode servir. Cada um pode decidir se uma obra pode não apenas ser corrigida ou composta de diferentes fragmentos de obras obsoletas para se criar uma nova, mas também mudar o sentido desses fragmentos a fim de alterar de todas as maneiras tidas como boas aquilo que os imbecis insistem em chamar de citação”. O videoclipe

Nesse quadro, um dos territórios privilegiados para o uso da “biblioteca” nos últimos 20 anos tem sido o da indústria de vídeos musicais, os videoclipes. Criados como veículo de propaganda para um dos grandes setores da indústria do entretenimento, os clipes passaram rapidamente do estado neutro para o autoral. Como uma mídia “bastarda” da TV e do cinema, os vídeos musicais se tornaram algo mais do que um gênero: como resultado de sua velocidade de produção e exibição – e o fato de ser um produto de consumo gerado e exigido pela indústria –, passaram a ser habitados por artistas capazes de vencer as

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