ESPECIAL 28º ANIVERSÁRIO O MIRANTE (Edição 1221 - 19-11-2015)

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S E M A N Á R I O

Este jornal faz parte integrante da edição 1221 (19-11-2015) de O MIRANTE e não pode ser vendido separadamente

Edição comemorativa do 28º aniversário - Caderno 2

R E G I O N A L

Director: Alberto Bastos | 19/11/2015 • ANO XXVIII • N.º 1221 • 0.75 e • R. 31 de Janeiro, 22 , 2005-188 Santarém | 243 30 50 80 | R. Câmara Pestana, 44, 2140-086 Chamusca

história informação

o j e t a rib

liberdade Um jornal de combate Esta edição de O MIRANTE comemorativa do 28

aniversário tem 116 páginas divididas por dois cadernos de 64 e 52 páginas. Nesta edição, para além da publicação habitual das rubricas e das notícias da semana, entrevistamos empresários e várias personalidades da região. Publicamos ainda textos e fotos de 28 temas, em forma de balanço, do que foi notícia e O MIRANTE acompanhou ao longo dos 28 anos de publicação ininterrupta. O MIRANTE é um jornal de combate e de serviço público. A nossa existência como jornal de referência e líder de mercado deve-se aos empresários que apostam em nós mas também à capacidade de trabalho e de liderança dos homens e mulheres que aqui trabalham ou trabalharam nos últimos anos. o


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A região em notícia nos últimos 28 anos - EMPREENDEDORISMO

NERSANT é a maior associação empresarial regional do país

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NERSANT - Associação Empresarial da Região de Santarém tem tido um papel fundamental na afirmação e promoção da região e das suas empresas e empresários, actuando em todas as áreas onde pode actuar com firmeza, ponderação e total empenhamento. Tem crescido de ano para ano, tem inovado e alargado a sua actuação à medida das necessidades dos seus associados e tem sido parceiro privilegiado a vários níveis. Se o seu papel sempre foi preponderante ele atingiu maior relevância desde o início da actual crise. Na Nersant as empresas e empresários encontraram o apoio necessário para se reorganizarem, redefinirem objectivos, adoptarem novas estratégias, nomeadamente ao nível da internacionalização e do aumento das exportações. A associação empresarial tem ajudado a descobrir caminhos, a desbloquear problemas e a abrir portas de acesso a novos mercados. A reorganização das empresas, a formação de quadros, o apoio técnico especializado são algumas das inúmeras frentes em que está permanentemente envolvida. Em

conjunto com O MIRANTE distingue anualmente as melhores empresas e empresários com o “Galardão Empresa do Ano”, promovendo a auto-estima da região e dando visibilidade ao trabalho de excelência. A Nersant foi fundada em Julho de 1988 como delegação da Associação Industrial Portuguesa. Em 1989 adquiriu autonomia jurídica passando a NERSANT – Associação Empresarial da Região de Santarém. Actualmente tem cerca de dois mil associados. Todas as grandes empresas do distrito fazem parte da sua estrutura associativa e estão representadas nos corpos sociais. Em 1990, a NERSANT promoveu a sua primeira Feira. A FERSANT – Feira Empresarial da Região de Santarém. Em 1992, construiu o Pavilhão de Exposições e mudou a sua sede, de Santarém para Torres Novas. Em Setembro de 2001 inaugurou o novo edifício sede, localizado ao lado do pavilhão. Com delegações em Benavente, Abrantes, Santarém, Cartaxo e Ourém é das poucas associações empresariais do país com Certificação de Qualidade ao abrigo da Norma EN ISO 9001:2008.

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A região em notícia nos últimos 28 anos - economia

Um novo conceito para instalação de empresas

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a região nasceu em Outubro de 2011 a primeira área de localização empresarial do país, mais precisamente em Rio Maior. Um conceito moderno e inovador que vai muito para lá das vulgares zonas industriais e que nasceu de uma conjugação de vontades entre diversos parceiros públicos e privados, como municípios, associações empresariais e agentes

económicos. A rede de Parques de Negócios do Vale do Tejo engloba ainda empreendimentos semelhantes em Torres Novas e Cartaxo, que já têm empresas instaladas, e também em Santarém, cujo processo se encontra mais atrasado. Todos os projectos já concretizados lutaram durante anos contra a burocracia da máquina administrativa do Estado.


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A região em notícia nos últimos 28 anos - intermunicipalismo

Comunidades intermunicipais são rosto da descentralização

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s associações de municípios existentes na região têm evoluído nas suas responsabilidades e competências nas últimas décadas e mudaram também de nome, primeiro para comunidades urbanas e depois para comunidades intermunicipais. No caso do distrito de Santarém há duas: a do Médio Tejo, a norte, e a da Lezíria do Tejo, a sul, agregando os 21 concelhos do distrito e ainda municípios dos distritos de Castelo Branco, no caso do Médio Tejo, e de Lisboa, no caso da Lezíria do Tejo. As comunidades intermunicipais são os rostos mais visíveis do

intermunicipalismo na região, que se manifesta também em projectos comuns como o da criação da empresa Águas do Ribatejo ou os da construção e gestão de aterros sanitários. Para os defensores da regionalização estas associações de municípios sabem a pouco no que toca à descentralização de competências por parte da administração central. E também são muitas as vozes que defendem a eleição directa dos presidentes dessas entidades que, actualmente, são escolhidos pelos presidentes dos municípios filiados.

A região em notícia nos últimos 28 anos - Tejo

Tejo com muitas promessas mas pouca acção

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Tejo é um recurso sobre o qual muito se fala e muito se promete mas que pouco tem sido valorizado e melhorado. Alguns concelhos ribeirinhos requalificaram algumas zonas junto ao rio mas o curso de água continua a ser manchado pela poluição e, apesar de alguns projectos turísticos, ainda hoje não é devidamente aproveitado. Veja-se o açude de Abrantes que pouco ou nada acrescentou à usufruição do rio e à sua regulariza-

ção, tendo vindo criar mais problemas que soluções ao dificultar a subida dos peixes, muitos dos quais morrem no açude. O Tejo é certamente o recurso natural que mais promessas políticas tem e teve ao longo dos anos. A boca cheia dos políticos em campanha eleitoral não alimentaram projectos válidos para a regularização do rio e para a sua navegabilidade e no Verão mete dó ver o maior rio do país a atravessar a região em modo de ribeira.

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A região em notícia nos últimos 28 anos - reforma administrativA

Freguesias fizeram as despesas A região em notícia nos últimos 28 anos - defesa da reorganização administrativa A retirada das Forças Armadas

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reforma administrativa imposta pelo memorando da troika levou à extinção dos governos civis e mais de mil freguesias no país, entre elas 52 no distrito de Santarém que passou das 193 para as actuais 141. Ainda na área de abrangência de O MIRANTE, mas já no distrito de Lisboa, o concelho de Vila Franca de Xira perdeu cinco freguesias e Azambuja duas. Os autarcas bem protestaram, mas de nada lhes valeu. Curiosamente, foi no Ribatejo que se veri-

ficou o único caso em que uma freguesia mudou de concelho com essa reorganização territorial levada a cabo em 2013: a freguesia do Pombalinho deixou Santarém e passou a pertencer ao concelho da Golegã. Intocável permaneceu o mapa dos municípios, o que deixou no ar a ideia de que faltou coragem política para se ir mais longe, optando-se por sacrificar apenas o patamar mais baixo do poder local.

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país mudou muito nos últimos 28 anos e nas mais diversas vertentes. A reestruturação das Forças Armadas, que envolveu o fim do Serviço Militar Obrigatório, levou a uma redefinição do mapa de quartéis e outras instalações. E Santarém, que chegou a ter duas unidades militares, viu sair a emblemática Escola Prática de Cavalaria (imortalizada pela revolução de 25 de Abril de 1974) para Abrantes, cessando assim a presença das Forças Armadas na ci-

dade. Vila Franca de Xira sofreu do mesmo êxodo, vendo a Marinha zarpar da cidade, deixando para trás um enorme complexo que continua por aproveitar. Alguns anos antes, mas igualmente consequência dessa política de reestruturação e racionalização de meios, a Força Aérea descolou da base de Tancos e o Hospital Militar de Tomar também não resistiu à cura de emagrecimento e foi dado como morto.


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A região em notícia nos últimos 28 anos - AGRICULTURA

A grande marca da agricultura da região chama-se Agromais

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adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia obrigou a uma reestruturação profunda do sector agrícola. Na região a liderança desse processo foi assumida desde a primeira hora pela Agrotejo - União Agrícola do Norte do Vale do Tejo fundada em 1986 e pela Agromais surgida no ano seguinte. A Agrotejo assegurou os aspectos organizativos e técnicos. A Agromais - Entreposto Agrícola, ocupou-se da parte relacionada com o negócio, tornando-se a maior organização nacional de agricultores no sector da comercialização de cereais e outros produtos agrícolas. Em finais da década de 80 a Agromais era a maior cooperativa de cereais do país. Com

o aumento dos custos de produção e a baixa do preço do milho e do trigo a Agromais voltou a ser fundamental na definição de culturas alternativas como batata (indústria e consumo), brócolo, courgette, tomate, pimento, ervilha, fava, cebola e cevada para a indústria cervejeira e na construção de infraestruturas de conservação e armazenagem. Nos anos 80 a Agrotejo/Agromais liderou o grande projecto de electrificação da zona agrícola da Golegã aproveitando fundos comunitários. Nos últimos anos lançou dois grandes projectos de emparcelamento, um dos quais, nas freguesias de Azinhaga, Golegã e Riachos foi aprovado em Setembro deste ano.

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A região em notícia nos últimos 28 anos - política

Mulheres ao poder Ainda falta uma ponte A região em notícia nos últimos 28 anos - infraestruturas

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poder local democrático em Portugal começou por ser um feudo quase exclusivamente masculino, não diferindo muito nesse aspecto do que se passava no regime anterior. Paulatinamente, as mulheres foram entrando no mundo da política, tal como em várias outras áreas de actividade onde a sua presença não existia ou não era muito comum, como as Forças Armadas. Hoje as mulheres estão em todo o lado e ombreiam com os homens nos lugares de decisão. A nossa região é um bom exemplo dessa paridade, pois o distrito de

Santarém é o que, no país, mais presidentes de câmara tem do sexo feminino, cinco ao todo: Anabela Freitas (Tomar); Fernanda Asseiceira (Alcanena); Isaura Morais (Rio Maior); Júlia Amorim (Constância); Maria do Céu Albuquerque (Abrantes). E em Vila Franca de Xira, até 2013, o município também foi gerido por uma mulher, Maria da Luz Rosinha, hoje deputada. Além disso, a maior associação empresarial da região, a Nersant, é também liderada por uma mulher, Maria Salomé Rafael.

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s construções das pontes Salgueiro Maia, entre Santarém e Almeirim, e da Lezíria em Benavente, trouxeram grandes melhorias nas acessibilidades na área da Lezíria do Tejo. A Salgueiro Maia passou a ser uma alternativa à velhinha ponte D. Luís que registava um tráfego intenso e uma opção a quem ruma ao sul a partir da Auto-Estrada nº 1 (Lisboa – Porto), sem ser necessário passar pelos centros das cidades. A Ponte da Lezíria, classificada na altura da

inauguração em 2007, como a nona ponte mais extensa do mundo é uma ligação rápida ao concelho de Alenquer e a concelhos da área metropolitana de Lisboa. Apesar destas melhorias o norte do distrito de Santarém continua a reclamar uma travessia do Tejo, sobretudo numa altura em que aumentou o trânsito de pesados com o funcionamento dos sistemas de tratamentos de lixos no Eco-Parque do Relvão, na Carregueira, concelho da Chamusca.


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A região em notícia nos últimos 28 anos - ENERGIA

Uma revolução energética com ganhos ambientais graças ao gás natural da Tagusgás

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Tagusgás, com sede no Cartaxo é, desde 2000, a empresa concessionária, em regime de serviço público e em exclusivo por um período de 35 anos, da distribuição de gás natural na região centro de Portugal Continental. A sua área de concessão abrange 39 concelhos, nos distritos de Santarém, Portalegre e Leiria. A sua actividade consiste no desenvolvimento e exploração da rede pública de distribuição regional de gás. A introdução do gás natural na região foi um marco importante para o seu desenvolvimento, diversificando a sua matriz energética e abrindo ao sector produtivo e aos

utilizadores particulares, uma nova e importante alternativa em termos de energia. Em termos ambientais os ganhos também foram importantes mas a situação está longe de ser a ideal. Ao contrário da Central Termoeléctrica do Carregado que funcionava a carvão e foi desactivada, surgindo no mesmo local uma central a gás natural, a Central Termoeléctrica do Pego continua a queimar carvão, prevendo-se que só venha a ser desactivada em 2030. A Tagusgás é certificada no âmbito de Ambiente, Qualidade e Segurança, pela entidade certificadora APCER desde Abril de 2004.

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A região em notícia nos últimos 28 anos - ARTES

Quando os artistas da região chegam ao topo é toda a região que ganha

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s Quinta do Bill, banda de música pop liderada por Carlos Moisés saltou para a ribalta em 1994 com a canção “Filhos da Nação”. O trabalho do grupo de Tomar prolongou-se até aos dias de hoje e não haverá muita gente que não saiba trautear uma das muitas canções compostas pelo líder da banda, Carlos Moisés. O som do grupo é inconfundível e em muitas composições remete para o universo dos Templários que tiveram forte presença na região. No concelho de Almeirim nasceu Custódio Castelo, instrumentista e compositor que abriu novos caminhos à guitarra portuguesa a partir de caminhos feitos por nomes como Artur e Carlos Paredes. Na área do fado, cantoras da região como Ana Moura (Coruche), Joana Amendoeira (Santarém), Teresa

Tapadas (Riachos), atingiram um patamar internacional, a par de Cristina Branco (Almeirim), numa área menos convencional. Em Riachos, embora de vida efémera, os Além-Mar de Nuno Barroso, filho do cantor Pedro Barroso, de Riachos, também com canções em português marcaram uma época. Todos estes artistas e muitos outros a que O MIRANTE tem dado o devido destaque ao longo dos anos revelam uma região com gente criativa, dando continuidade a trabalhos de artistas como a Filarmónica Fraude (Tomar/Entroncamento 1969), José Cid (Chamusca) ou Pedro Barroso, já mencionado. Merece também referência, pela inovação na forma de fazer teatro, a companhia Fatias de Cá, nascida em Tomar pela mão de Carlos Carvalheiro.

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A região em notícia nos últimos 28 anos - SAÚDE

Três novos hospitais públicos no curto espaço de quinze anos

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os últimos 15 anos foram construídos três novos hospitais públicos na região. O Hospital Rainha Santa Isabel em Torres Novas foi inaugurado em 2000. Seguiu-se o Hospital da Senhora da Graça em Tomar, em 2003 e o Hospital de Vila Franca de Xira em 2013. Este último resultou de uma parceria entre o Estado e o Grupo José de Mello Saúde. Alguns anos antes, em 1985, tinham sido inaugurados os hospitais de Santarém e de Abrantes, tendo este último recebido o nome Dr. Manoel Constâncio. Todos os outros hospitais existiam anteriormente. Alguns deles começaram por pertencer às Misericórdias e tinham um historial de séculos. Nos anos noventa, com dinheiro da União Europeia a entrar em grande quantidade e muitas obras públicas em execução, foi decidida a construção de edifícios

de raiz para instalar os hospitais de Tomar e Torres Novas, que funcionavam em antigos conventos. O processo arrastou-se por vários anos e aquelas obras serviram de fundo para grandes discussões políticas. Em 2005 foi formado o Centro Hospitalar do Médio Tejo, integrando os hospitais de Abrantes, Tomar e Torres Novas. Na prática os mesmos continuaram a funcionar com muitos serviços iguais, durante anos, duplicando e triplicando despesas. A crise acabou por impor alguma racionalidade e a complementaridade tem vindo a ser implementada. No norte do distrito de Lisboa, em Vila Franca de Xira, um dos vinte e três concelhos da área de abrangência de O MIRANTE, o Grupo José de Mello Saúde, que começou por gerir o hospital nas antigas instalações, tem vindo a mostrar que as parcerias público/privadas podem ser casos de sucesso.


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A região em notícia nos últimos 28 anos - educação

Mais um politécnico e o “boom” das escolas profissionais

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grande revolução na educação deu-se sobretudo ao nível do ensino profissional, que teve um rápido e grande desenvolvimento na região. A isto soma-se a criação do segundo instituto politécnico, em Tomar, por decreto-lei de 1996, com a Escola Superior de Gestão e com a Escola Superior de Tecnologia. O instituto desenvolveu-se e passou a ter uma oferta diferenciada da do Politécnico de Santarém, apostando, entre outras áreas, nas artes, nas engenharias e na

conservação e restauro, curso que teve uma grande projecção. Foram feitas escolas novas, alargado o ensino secundário que passou a ter cursos profissionais, para além dos que são ministrados nas escolas específicas. O ensino profissional alastrou com escolas dedicadas à agricultura, por exemplo, em Abrantes. Hoje até vilas, como Coruche e Salvaterra de Magos, têm escolas profissionais que são uma alternativa ao ensino regular e com uma componente muito mais prática.

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A região em notícia nos últimos 28 anos - desertificação

Menos serviços igual a menos pessoas U m dos espelhos mais visíveis da desertificação de algumas zonas da região, sobretudo nos meios rurais e mais a norte, é o encerramento de escolas do primeiro ciclo por falta de alunos. Nos últimos anos encerraram vários estabelecimentos de ensino. A isto soma-se o encerramento de serviços públicos, como balcões da Segurança Social, que ainda afastam mais as pessoas dos concelhos mais pequenos. Já pa-

ra não falar em postos de correios. A falta de uma indústria pujante também leva as pessoas a procurar outras paragens com mais oportunidades. Os concelhos mais a norte, como Mação ou Sardoal, há muito que lutam sem sucesso para inverterem a queda da natalidade e da redução da população, que nem uma auto-estrada à porta conseguiu fazer parar a desertificação.

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A região em notícia nos últimos 28 anos - tribunais

A concentração da Justiça

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grande mudança na Justiça na região ocorreu com a implementação do novo mapa judiciário em Setembro de 2014, que implicou o fecho dos tribunais de Mação e Ferreira do Zêzere e a transformação dos de Golegã e Alcanena em secções de proximidade, que mais não são que secretarias. Em Santarém foram concentrados os processos de maior dimensão, constituído um Departamento de Investigação e Acção Penal e uma secção de instrução criminal para todo o distrito. Antes já tinha sido criado em Santarém o Tribunal da Concorrência e Supervisão com abrangência nacional. Mas

a expectativa de que na cidade viesse a ser instalado um Tribunal da Relação nunca chegou a concretizar-se. O distrito de Santarém ganhou em competências especializadas, como as secções de família e menores mas perdeu em proximidade da justiça aos cidadãos. Em Almeirim, aquele que foi considerado um dos piores tribunais do país, estão agora a ser tomadas medidas para o instalar num edifício com melhores condições. Vila Franca de Xira também tem motivos de queixa, com a saída de competências para Loures e a Secção de Comércio à espera de instalações em Vila Franca de Xira.


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A região em notícia nos últimos 28 anos - turismo religioso

Tudo começou com os três

pastorinhos

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átima continua a ser o principal destino turístico da região, muito à conta da devoção a Nossa Senhora. Em Outubro de 2008, por ocasião do 90º aniversário das aparições, foi inaugurada a nova Igreja da Santíssima Trindade, um templo majestoso e arrojado na arquitectura que constitui mais um foco de atracção na capital do turismo religioso. Os números im-

pressionam: a nova igreja terá custado cerca de 70 milhões de euros, o dobro do previsto, e no seu interior cabem nove mil pessoas. Por baixo da igreja existe um autêntico “bunker” compartimentado em múltiplas divisões, desde capelas, instalações sanitárias, à sala de imprensa. Em Fátima movimentam-se anualmente milhões, de pessoas e de euros, contribuindo em muito para a pujança económica e empresarial do concelho de Ourém. E tudo começou com o que terão visto três pastorinhos...

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A região em notícia nos últimos 28 anos - acção social

A revolta dos Foros de Salvaterra contra a CPCJ

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caso da família de Foros de Salvaterra de Magos, a quem foram retirados os três filhos na madrugada de 20 Junho de 2008, por, alegadamente, a casa onde viviam ter falta de condições de higiene e habitabilidade, veio pôr a nu a forma de agir, por vezes despropositada, da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ). A situação foi um exemplo de que as comunidades não compactuam com injustiças. A população da localidade revoltou-se contra a CPCJ e nem sequer teve dúvidas em colocar-se ao

lado da família. A comunidade mobilizou-se para construir uma nova habitação de raiz, para que as crianças pudessem voltar a casa, e até as autarquias locais colaboraram. A CPCJ nunca explicou a sua actuação e ficou evidente que tem o poder de mexer com a vida das pessoas, criando traumas inesquecíveis, em vez de contribuir para melhorar as suas condições em ambiente familiar. As crianças estiveram um ano e oito meses institucionalizadas e actualmente vivem com a mãe em Inglaterra.

Insuficiência cardíaca e arritmias – uma interação perigosa

Vitor Paulo Martins Médico Cardiologista e Arritmologista Diretor Clínico da Clinica do Coração Santarém clinicadocoracao.santarem@facebook. com São duas situações muitas vezes indissociáveis. Uma arritmia persistente pode levar a dilatação e disfunção cardíaca. Um coração doente e insuficiente tem elevada probabilidade de desencadear arritmias malignas. As complicações mais frequentes de insu-

ficiência cardíaca (IC) são a morte súbita e a falência da bomba cardíaca. No entanto, a nossa atitude permite transformar inevitabilidade de morrer de 100% ao fim de 5 anos para menos de 20%. Precisamos de ter um diagnóstico e de ter um tratamento. Este passa por medicamentos adequados mas também por implantação de pacemakers especiais e por implantação de cardioversores desfibrilhadores (CDI) que permitem salvar vidas. Cerca de 80% dos doentes com insuficiência cardíaca têm arritmias ventriculares graves, que podem provocar morte súbita

ou que podem agravar a própria insuficiência cardíaca, ou seja o cansaço e falta de ar diária. A taquicardia ventricular é a arritmia que mais provoca morte súbita na presença de IC. A fibrilhação auricular, sendo a arritmia mais frequente na população geral e existente em 30% dos doentes com IC, duplica a mortalidade desta entidade. O seu tratamento é fundamental numa estratégia de controlo do ritmo ou da frequência diminuindo o risco de mortalidade e da incidência do acidente vascular cerebral. As bradiarritmias (coração lento por frequências cardíacas baixas ou bloqueio aurícula ventricular) poderão ser o evento terminal no doente com insuficiência cardíaca. Efetivamente, a morte arrítmica (por arritmia) é responsável por 50% das mortes de IC. A prevenção da morte súbita na insuficiência cardíaca passa pela terapêutica com fármacos, com inibidores da enzima de conversão da angiotensina, bloqueadores beta e inibidores da aldostenona. No entanto a terapêutica com medicamentos não é suficiente na maioria dos casos. Na presença de insuficiência cardíaca grave, com má função sistólica ou arritmias ventriculares malignas documentadas, o desfibrilhador implantável (CDI) é o único meio de reduzir a morte súbita. Mas temos ainda mais alternativas, para melhorar a qualidade de vida dos doentes em que o cansaço é a sua principal queixa. A terapêutica de ressincronização

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cardíaca, em que através da implantação de um pacemaker diferente, otimizamos a contração cardíaca, melhorando o débito cardíaco, aumentado a perfusão dos músculos, e de todos os órgãos, vamos contribuir para prolongar a sobrevida e a melhorar a qualidade de vida. Deste modo o cardiologista tem um papel fundamental no diagnóstico de insuficiência cardíaca e das arritmias associadas, mas que não pode ser dissociado da implementação da terapêutica, que passa por medicamentos, mas também por dispositivos (pacemakers de ressincronização e Cardioversores desfibrilhadores). Estes dispositivos electrónicos permitem ainda a vigilância clinica á distância dos doentes, pela presença de sensores e pela transmissão de informações, via internet, para o seu médico que assim poderá atuar rapidamente na presença de problemas. Contate um médico cardiologista ou arritmologista se tiver um cansaço exagerado ou uma arritmia persistente. Lembre-se que a prevenção é a melhor arma num combate em que a morte espreita de um modo nem sempre perceptível.

Rua Pedro de Santarém, 48- 1º Dto 2000-223 Santarém

Tel : 243 329 107 / 243 322 563 2ª a 6ª das 9h às 20h | Fax : 243 322 568 mail: ccoracaosantarem@sapo.pt


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“Não tenho muita paciência para as pessoas que gostam de se ouvir”

Vasco Luís Mello administrador do grupo José de Mello Saúde Fale-me da sua vida de empresário e da forma como chegou a este negócio? O envolvimento na gestão hospitalar foi para mim uma surpresa, de certa forma pouco previsível, porque tenho uma formação de base mais técnica, de engenheiro mecânico, e sempre tive algum receio em ir ao médico ou mesmo entrar num hospital. Tento manter sempre a mente bastante aberta a novas ideias e entusiasmo-me com novos desafios. E isso, ao longo da minha vida, acabou por me proporcionar novas oportunidades. A família ajuda e é parte importante da estratégia empresarial? Procuro não envolver a família nos assuntos profissionais e, na medida do possível, não levo para casa os problemas. A minha família mais próxima é crucial para o meu equilíbrio pessoal, ajuda-me a relativizar os temas e a centrar-me no essencial. Como classifica os recursos humanos disponíveis no mercado? Temos em Portugal pessoas muito qualificadas. O desafio passa mais por todos nós sermos capazes de encontrar oportunidades que permitam o nosso desenvolvimento e contribuam para a nossa satisfação. Está preparado para tudo na sua vida de empresário? Acredito que sim, desde que tenha saúde e o apoio dos que me são mais próximos. Comente a situação actual do país onde vive e da sua região em particular. O país atravessa sem dúvida um momento difícil. Temos de nos virar mais para o exterior e ser mais ambiciosos. Também sabemos que a nossa realidade é bastante melhor comparativamente com a que se vive actualmente em muitos outros países do globo. Considero Portugal um bom país para se viver, com características únicas. Qual a tradição que nunca podemos

deixar morrer? A defesa dos princípios, da verdade e dos valores que devem fazer de nós e dos nossos filhos contributos para uma melhor sociedade. O respeitinho é muito bonito? O respeito torna a sociedade mais tolerante em relação aos outros e contribui para a paz em geral. A beleza é fundamental? Todo o tipo de beleza é apreciada pelo ser humano. A interior é certamente aquela que mais nos toca e admiramos. O Facebook e as outras redes sociais melhoraram a sua vida? Apenas na medida em que me permite acompanhar e estar mais facilmente em contacto com os meus filhos. Gosta de uma boa discussão? Sim, sobretudo se forem honestas e construtivas. Não tenho muita paciência para as pessoas que gostam de se ouvir. Já se sente à vontade a escrever com o novo Acordo Ortográfico? Ainda não e tenho alguma dificuldade em perceber os seus benefícios. Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer? Mal não faz e em geral o dia acaba por render mais. Pessoalmente tenho necessidade de dormir bem. O que tem que fazer um homem para ser um verdadeiro homem? Ser verdadeiro. O que seria para si uma tragédia? Sermos envolvidos numa guerra ou vítimas de uma epidemia. Quem lhe contava histórias quando era criança? Contavam-me poucas histórias, mas em geral a minha mãe. Adormeço com muita facilidade. Ler jornais é saber mais? Sem dúvida, sobretudo O MIRANTE. Contudo, não acredito em tudo o que leio. Gosto de ler a opinião dos outros mas após ter formado a minha antes. Quem gostaria de ser se não fosse quem é? Gostava de conhecer melhor o nosso planeta no que respeita à sua natureza e funcionamento mas também gostaria de estudar as civilizações antigas. Já quis ser o Indiana Jones, admiro o Comandante Cousteau e o David Attenborough pela defesa que fizeram do planeta. Fazem falta mais mulheres na política? Faltam sempre mulheres quando há demasiados homens e vice-versa. Foi feito um estudo que tornou evidente que equipas mistas, compostas por mulheres e homens, são mais inteligentes que as equipas de um só género. Eu procuro essa complementaridade quando construo equipas. Sente que seria capaz de ser um bom primeiro-ministro? Não. Mas também não tenho essa aspiração. Quais as qualidades que mais aprecia numa pessoa? Sem qualquer ordem aprecio

a sinceridade, a lealdade, a determinação e honestidade. Aprecio características como o sentido de responsabilidade, o esforço, o rigor na análise e, claro, sentido de humor e optimismo. Gostaria de viver numa cidade sem semáforos nem sinais de trânsito? Sim, claro, desde que houvesse respeito mútuo entre condutores e pelos peões. Qual a promessa que fez a si próprio mais vezes no início de cada ano e que vai continuar a fazer porque ainda não conseguiu cumpri-la? Gerir melhor o meu tempo, por forma a ter uma vida mais equilibrada e poder desenvolver outros interesses. Qual é o seu maior defeito? Tenho vários. O que me parece importante é tentar corrigi-los ao longo da vida, por forma a melhorar o nosso relacionamento com os outros. Como é um dia bem passado? No trabalho, quando consigo atingir um objectivo, ultrapassar uma dificuldade ou obter um bom resultado. Com a família, quando conseguimos estar próximos uns dos outros ou nos juntarmos para fazer algo de concreto. Tenho hoje os meus filhos um pouco dispersos, alguns fora de Portugal, e torna-se difícil conseguir reunir todos. Quais os personagens históricos que mais despreza? Os que na História mataram sem escrúpulos, por discriminação, por sede de poder… Infelizmente a história conta com muitos. O que é bom é para se ver? Sim, sem dúvida. Basta de mostrarmos somente o que é mau ou negativo. Temos de alimentar mais o orgulho no que fazemos. É habitual ouvirmos que nos meios de comunicação “as boas notícias não vendem”. Não acredito.

Alguma vez escreveu um poema? Não tenho jeito para letras. Há alguma coisa pela qual ainda valha a pena lutar até à morte se necessário for? Lutar até à morte é muito forte. Acredito que uma pessoa mantendo-se viva pode contribuir mais do que morta. Tem alguma superstição? Sim, após algumas ocorrências negativas, hoje, evito o número 13. Durante quanto tempo é capaz de guardar um segredo? Para sempre. Alguma vez pediu o livro de reclamações? Claro. Antes de mais, nas funções que exerço faço questão em ler atentamente muitas das reclamações que recebemos. Entendo como alertas e oportunidades de melhoria. Para além de ser um direito do cidadão também vejo como um dever. Encaro as reclamações como um instrumento de melhoria do funcionamento da nossa sociedade. Como tal, também já fiz várias reclamações. A Justiça é igual para todos? Devia ser. Mas a sua lentidão e ineficácia criam desigualdades. Este Mundo está perdido? Não, mas está um pouco acelerado e com falta de respeito pelos recursos naturais que dispõe. De quantas horas de sono precisa para acordar bem disposto? Algumas. Diria que 8 horas por noite é perfeito. O que gostava de fazer e não faz para não cair no ridículo? Não sei, não tenho muito receio de cair no ridículo. Só se for algo de verdadeiramente ridículo por si só. O que sente quando vê pessoas a pagar promessas de joelhos em Fátima? Admiração pela sua humildade, determinação e, claro, fé. Sente-se livre? Sinto-me bem. Gostava de ter mais tempo para fazer outras coisas. Não penso que a liberdade total traga necessariamente a felicidade. Vivemos em sociedade e como tal não podemos actuar de forma isolada.


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Edição comemorativa do 28º aniversário | O MIRANTE

A região em notícia nos últimos 28 anos - Ambiente

Das lixeiras aos aterros e dos aterros à reciclagem

F

oi apenas no final dos anos noventa do século passado que foram inaugurados os aterros sanitários com condições mínimas para depósito de resíduos sólidos urbanos. Antes disso, os camiões de recolha das câmaras municipais despejavam os resíduos em lixeiras a céu aberto, espalhadas um pouco por todo o lado, com todas as nefastas consequências ambientais que se podem imaginar. As águas lixiviantes infiltravam-se e contaminavam solos e lençóis freáticos e o lixo atraía toda a sorte de animais. Nas lixeiras aparecia de tudo, inclusivé resíduos industriais perigosos ou animais vitimados por doenças que apodreciam ao ar livre.

Em 1999 foi inaugurado o aterro sanitário da Carregueira, Chamusca, que actualmente é gerido pela empresa intermunicipal Resitejo e foram abertos mais dois no distrito de Santarém. Um na Concavada, Abrantes, e outro na Raposa, Almeirim. O surgimento dos aterros foi uma imposição da União Europeia que foi cumprida com quase uma década de atraso e após manifestações e protestos por causa das localizações dos mesmos. A triagem de lixos só se iniciou anos depois. A sensibilização das populações para a separação de resíduos ainda continua mas há sistemas, como o da Resitejo, que fazem o aproveitamento para reciclagem de mais de noventa por cento dos nossos lixos.


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2º caderno

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A região em notícia nos últimos 28 anos - TAUROMAQUIA

Festa Brava como Revolução no desporto património da região A região em notícia nos últimos 28 anos - DESPORTO

O

crescimento da rede de equipamentos desportivos na região, verificada nas últimas três décadas, transfigurou a resposta dada a quem quer praticar desporto, seja informal ou de competição, proporcionando aos clubes condições inimagináveis alguns anos antes. Basta ver que raro é o concelho que não tem uma piscina coberta, um pavilhão desportivo e um campo relvado para a prática do fute-

bol, sendo expoente máximo dessa aposta o complexo desportivo de Rio Maior. Com isso cresceu exponencialmente a qualidade da formação e os campeões foram surgindo um pouco por todo o lado e em múltiplas modalidades, com destaque para os vários atletas ribatejanos que têm participado nas últimas edições dos Jogos Olímpicos em modalidades como o atletismo, a ginástica, o BTT ou a natação.

A

contestação às touradas não tem tido grande repercussão na região, onde se mantêm as praças de toiros em funcionamento, umas com mais espectáculos que outras, mas todas com actividade regular todos os anos. A par das instalações também houve uma mudança de paradigma na profissão de toureiro, que era coisa exclusivamente de homens, com o aparecimento de várias mulheres cavaleiras na região, algumas que

hoje são figuras de primeira linha do toureio a cavalo. A tauromaquia é assumida na região como uma identidade cultural e vários municípios fazem parte de uma organização de municípios com actividade taurina. Outros foram mais longe e declararam a tauromaquia como Património Cultural e Imaterial de Interesse Municipal, como foi o caso de Vila Franca de Xira onde também se pretende criar um Museu da Tauromaquia.


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2º caderno

Edição comemorativa do 28º aniversário | O MIRANTE

“A família é o meu projecto de vida”

Maria do Céu Albuquerque Presidente da Câmara Municipal de Abrantes Lembra-se da última vez que usou a bicicleta como meio de transporte? Sim. Foi na Holanda em Junho. Fui participar numa conferência em representação da Associação dos Municípios Portugueses e tinha que fazer 6 km entre o hotel e o Centro de Congressos. Pedi um táxi e disseram-me que podia fazer o trajecto de bicicleta… Emprestavam-me uma. E lá fui. E voltei. Vantagem de ser um país plano! Qual a tradição que nunca podemos deixar morrer? O domingo como dia da família. O almoço de domingo. O respeitinho é muito bonito? Sim. Valor fundamental. O respeito por nós próprios e pelos outros. O respeito pelos mais velhos, valor que parece estar esquecido.

A beleza é fundamental? Sim. Alimenta-nos a alma. Apreciar a beleza nas pequenas coisas, gestos, atitudes, coisas simples. Chega a emocionar-me. Por exemplo, os primeiros acordes de um concerto. O Facebook e as outras redes sociais melhoraram a sua vida? Não. Apenas me ajudam a estar mais próximo das pessoas. Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer? Claro. Caminhar às 7 horas é ganhar energia para o dia. Quem gostaria de ser se não fosse quem é? Gosto de ser quem sou. Mas não fico refém do que sou. Quero ser melhor todos os dias. Fazem falta mais mulheres na política? Na política, nos cargos de decisão na administração pública, nas empresas. A descriminação de género não contribui para o desenvolvimento das sociedades. As sociedades mais desenvolvidas dão as mesmas oportunidades a todos e a todas. Quais as qualidades que mais aprecia numa pessoa? Sinceridade e honestidade. Qual a promessa que fez a si próprio mais vezes no início de cada ano e que vai continuar a fazer porque ainda não conseguiu cumpri-la? Não gosto de promessas, mas sim de propósitos. Tenho o propósito de tentar ser mais feliz e fazer os outros mais felizes. E é uma tarefa inacabada. Qual é o seu maior defeito? Perdoar mas não esquecer. Quais os personagens históricos que mais despreza? Aqueles que marcaram a história da humanidade pelo sofrimento que causaram aos outros. Qual a sua actividade preferida? Co-

zinhar. Alguma vez escreveu um poema? Nunca. Há alguma coisa pela qual ainda valha a pena lutar até à morte se necessário for? Pela vida e felicidade das minhas filhas. Qual foi a sua maior extravagância? Pequenos grandes prazeres. Como um bom copo de vinho tinto, uma caixa de framboesas ou um bom espectáculo. Tem alguma superstição? Não. Mas gosto muito do número 13. Durante quanto tempo é capaz de guardar um segredo? Enquanto for segredo. Alguma vez se sentiu esmagado pela beleza de alguém ou de alguma coisa? Várias vezes. A última foi a Grande Muralha da China. Ir comprar roupa ou calçado dá-lhe prazer? Sim. Alguma vez pediu o livro de reclamações? Não. O mundo vai ter que falar mandarim ou os chineses é que vão passar a falar inglês? Os chineses vão falar inglês. A Justiça é igual para todos? Infelizmente não. Qual o seu prato preferido de bacalhau? Açorda de bacalhau. Sabe algum refrão de uma cantiga do Quim Barreiros? Não. Alguma vez frequentou uma praia de nudismo? Não. Este Mundo está perdido? Não. Tenho muita esperança nos jovens que vejo crescer empenhados na construção de um mundo mais justo e mais solidário.

Tem alguma tatuagem ou já pensou em fazer uma? Não. O que sente quando vê pessoas a pagar promessas de joelhos em Fátima? Penso que passou ou está a passar por momentos de grande aflição. A fé alimenta a esperança. Era capaz de dar trezentos euros por uns sapatos? Se tivesse orçamento para isso... Sente-se livre? Sim. Fale-me da sua vida profissional e da forma como lá chegou. Trabalho, empenho, dedicação... A família ajuda e é parte importante da estratégia profissional? A família é o meu projecto de vida. Está primeiro que tudo o resto. É o alicerce. Como é que classifica os recursos humanos disponíveis no mercado? Temos excelentes recursos humanos que infelizmente não somos capazes de reter no país. Vejam-se os mais de 110 mil portugueses que emigraram em 2014. Está preparada para tudo na sua vida profissional? Esse é o desafio. Sermos capazes de nos adaptarmos, aprendermos e crescermos face às oportunidades que se nos deparam. Comente a situação actual do país onde vive e da sua região em particular. Expectativa. O Ribatejo tem um potencial enorme. Localização, porta norte de Lisboa, acessibilidades, património natural e construído, tradição industrial e agrícola, formação em todos os níveis de ensino. Pessoas. São necessárias políticas públicas que possam alavancar o desenvolvimento económico e social da região. É necessário mais investimento privado gerador de emprego e riqueza. O Portugal 2020 é o instrumento que tem a obrigação de promover o desenvolvimento da região.


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“Faz falta mais política para as mulheres”

Isaura Morais Presidente da Câmara Municipal de Rio Maior Fale-nos da sua vida profissional e da forma como lá chegou. Sou licenciada em Recursos Humanos por vocação e cheguei à vida pública por convicção de que posso contribuir positivamente para desenvolver o meu concelho e o meu país! A família ajuda e é parte importante da estratégia profissional? Sem o apoio da família tudo seria mais difícil! Como é que classifica os recursos humanos disponíveis no mercado? Precisamos de cada vez mais e melhor formação para acompanharmos a evolução tecnológica extremamente rápida dos últimos anos. Está preparada para tudo na sua vida

profissional? Estou preparada para quase tudo, mas há sempre algumas surpresas pelo caminho. Comente a situação actual do país onde vive e da sua região em particular. Vivemos uma situação económica ainda difícil, uma situação política que poderá ter múltiplos desfechos, mas penso que os portugueses saberão encontrar o caminho certo para o nosso país, como já provaram por diversas vezes no passado! Qual a tradição que nunca podemos deixar morrer? Um almoço ou jantar em família! O respeitinho é muito bonito? É. A beleza é fundamental? A beleza física ou a emocional? O Facebook e as outras redes sociais melhoraram a sua vida? Não melhoraram nem pioraram. Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer? Por vezes faz doer! O que tem que fazer um homem para ser um verdadeiro homem? Existem homens falsos? (sorriso) O que seria para si uma tragédia? Já tive a minha conta de tragédias. Fazem falta mais mulheres na política? Faz falta mais política para as mulheres. Quais as qualidades que mais aprecia numa pessoa? Honestidade. Qual a promessa que fez a si própria mais vezes no início de cada ano e que vai continuar a fazer porque ainda não

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conseguiu cumpri-la? Se é promessa é segredo. Qual é o seu maior defeito? Tenho mesmo que revelar? Como é um dia bem passado? É aquele em que quando chega a noite tenho o sentimento de dever cumprido. Qual a sua actividade preferida? Ser mãe! Alguma vez escreveu um poema? Não. Há alguma coisa pela qual ainda valha a pena lutar até à morte se necessário for? Pela vida! Qual foi a sua maior extravagância? Não tenho grandes extravagâncias. Tem alguma superstição? Não. Durante quanto tempo é capaz de guardar um segredo? Até me permitirem revelá-lo. Ir comprar roupa ou calçado dá-lhe prazer? Faz parte de ser mulher. Se vir alguém deitar lixo para o chão diz-lhe alguma coisa? Fazer pedagogia é sempre importante. Alguma vez pediu o livro de reclamações? Não. O mundo vai ter que falar mandarim ou os chineses é que vão passar a falar inglês? Os chineses já falam inglês e português também! A Justiça é igual para todos? Devia ser! Qual o seu prato preferido de bacalhau? Cozido à portuguesa. (risos) Sabe algum refrão de uma cantiga do Quim Barreiros? Sei mas não me peça para cantar! Viu algum filme do cineasta Manoel de Oliveira do princípio ao fim? Vi e sem adormecer a meio! (sorriso) Alguma vez frequentou uma praia de

nudismo? Não. Este Mundo está perdido? O mundo é feito de encontros e desencontros. O que gostava de fazer e não faz para não cair no ridículo? Não gosto de fazer coisas ridículas. Tem alguma tatuagem ou já pensou em fazer uma? Não. O que sente quando vê pessoas a pagar promessas de joelhos em Fátima? Que Deus não havia de querer o sofrimento como forma de adoração ou gratidão. Era capaz de dar trezentos euros por uns sapatos? Não confirmo nem desminto, mas faço isso por menos! Sente-se livre? Serei livre quando abandonar a vida pública. Quantos verdadeiros amigos acha que tem? Felizmente vários!


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Edição comemorativa do 28º aniversário | O MIRANTE É verdade que a promoção dos museus e monumentos da região não tem tido, salvo honrosas excepções, qualquer promoção, nem sequer dentro da própria região. Umas vezes por falta de meios mas na maior parte dos casos por falta de sensibilidade para perceber que é importante fazer mas que mais importante ainda é não pensar que o facto de estar feito é suficiente para atrair visitantes. Gastam-se milhões de euros em obra e equipamentos e nem um cêntimo em publicidade. Todas as cidades da região, com excepção do Entroncamento, têm uma sala de espectáculos moderna e com excelentes condições. Infelizmente os raros promotores de espectáculos de qualidade são as câmaras municipais e com as dificuldades financeiras que as mesmas vivem a programação foi afectada.

A região em notícia nos últimos 28 anos - CULTURA

Museus e bibliotecas construídos de raiz

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m 2007, em Vila Franca de Xira, foi inaugurado o novo edifício do Museu do Neo-Realismo. Na Golegã a Casa-Estúdio Carlos Relvas, construída de raiz como estúdio de fotografia em 1876, foi salva da ruína bem como todo o seu património e é um ponto de visita obrigatório para quem gosta de fotografia, de história e de arquitectura. Em tempos pouco propícios aos investimentos na cultura foram construídas duas magní-

ficas bibliotecas em Torres Novas e em Vila Franca de Xira - Fábrica das Palavras. Foram igualmente feitas obras de recuperação de uma das jóias patrimoniais da região, a Casa Museu dos Patudos em Alpiarça e foi inaugurado, em 2014, o Museu Diocesano de Santarém. Estes são apenas alguns dos muitos exemplos do empenho da comunidade da região na preservação da sua memória e do seu rico património e do seu interesse pela promoção da cultura.


O MIRANTE | Edição comemorativa do 28º aniversário

2º caderno

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“Um homem para ser verdadeiramente homem tem que respeitar o seu semelhante”

Diamantino Duarte Administrador Delegado da Resitejo Tratamento de Lixos do Médio Tejo Fazem falta mais mulheres na política? Fazem falta na política mulheres e homens que queiram servir, porque estas coisas de diferenciar por sexo não me convence. Ou se tem competência ou não se tem e eu sempre conheci mulheres e homens competentes e incompetentes. Lembra-se da última vez que utilizou a bicicleta como meio de transporte? Lembro-me, mas já foi há muitos anos. Qual a tradição que nunca podemos deixar morrer?A celebração da vida, através da celebração do aniversário. O respeitinho é muito bonito? É e que nunca se perca. A beleza é fundamental? Nem sempre e quase sempre depende do tipo de beleza que estamos a falar. Se for da visual é importante às vezes, se for da beleza interior é sempre. O ensino do fandango devia ser obrigatório nas escolas ribatejanas? Não. O Facebook e as outras redes sociais melhoraram a sua vida? Não, embora entenda que tem um papel importante hoje na vida de qualquer sociedade. Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer? Não. Por mim falo, sempre me deitei tarde e não foi por isso que não cresci. O que tem de fazer um homem para ser um verdadeiro homem? Um homem para ser verdadeiramente homem tem que respeitar o seu semelhante. O que seria para si uma tragédia? Para mim uma tragédia é sempre que alguém não pode ter o essencial para ter uma vida digna. Quem lhe contava histórias quando era criança? A minha mãe. Sente que seria capaz de ser um bom primeiro – ministro? Por aquilo que tenho visto, se calhar era capaz de ser melhor que alguns que o país tem tido. Quais as qualidades que mais aprecia

numa pessoa? Lealdade, honestidade e franqueza. Qual a promessa que fez a si próprio mais vezes no início do ano e que vai continuar a fazer porque ainda não conseguiu cumpri-la? Tirar duas semanas de férias seguidas. Qual o seu maior defeito? Acreditar que outros são tão honestos comigo como eu sou para com eles. O que é bom é para se ver? Nem sempre. Há coisas que só certas pessoas podem ver. Há alguma coisa pela qual ainda valha a pena lutar até à morte, se necessário for? Há. Vale sempre a pena lutar pela dignidade do ser humano. Tem alguma superstição? Não. Não acredito em superstições. Durante quanto tempo é capaz guardar um segredo? Se é segredo é para guardar toda a vida. Fecha a água enquanto escova os dentes ou enquanto se ensaboa no banho? Sempre. A água é um bem que tem, cada vez mais, de ser muito bem gerido. O que significa a expressão “gozar a vida”? Tirar o maior proveito dessa mesma vida. Alguma vez deu sangue? Sim. Sabe o que anda a fazer neste mundo? Às vezes tenho dúvidas, mas acho que sim. Ir comprar roupa ou calçado dá-lhe prazer? Não. Isso é tarefa que há muito deixei para as mulheres lá da casa. Se vir alguém deitar lixo para o chão diz-lhe alguma coisa? Claro que digo. E a primeira coisa que me dá vontade é perguntar-lhe se lá em casa também faz o mesmo. Alguma vez pediu o livro de reclamações? Sim. Uma vez nas portagens da BRISA onde senti que me estavam a ir ao bolso e eu a ver. A justiça é igual para todos? Devia ser mas não é. Basta ter presente o preço do acesso à mesma. Sabe algum refrão de uma cantiga do Quim Barreiros? Não. Mas respeito muito quem saiba. Subscrevia uma proposta para termos outro Hino Nacional? Não. Gosto muito do atual. Alguma vez frequentou alguma praia de nudismo? Ainda não, mas pode existir sempre uma primeira vez. Este Mundo está perdido? Não. Há é algumas pessoas que andam perdidas nele. O que gostava de fazer e não faz para não cair no ridículo? Nunca tive esse problema. Se é necessário fazer faz-se e está feito. Em sua casa faz-se a sepa-

ração do lixo? É obrigatório. Sendo o preço médio de mil litros de água da rede um euro e meio, podemos dizer que a água está cara? Se tivermos em linha de conta o nível de rendimento da maioria da população portuguesa podemos considerar que sim. O que sente quando vê pessoas a pagar promessas de joelhos em Fátima? Respeito. Era capaz de dar trezentos euros por um par de sapatos? Sou muito forreta para isso. Nem pensar. Sente-se livre? Depende. Às vezes, nem por isso. Quantos verdadeiros amigos acha que tem? Muito poucos. Se calhar uma mão chega para os contar. Tratamos os resíduos produzidos diariamente por meio milhão de pessoas Fale-me da sua actividade actual e como chegou à mesma: Tenho o privilégio de desde 2002 poder desempenhar o cargo de administrador delegado da Resitejo, o qual me tem possibilitado desenvolver e ajudar a implementar um conjunto de equipamentos imprescindíveis para o tratamento dos resíduos que todos os dias são produzidos por cerca de 500 mil pessoas e através dos mesmos ter sido possível criar mais de duzentos postos de trabalho. Cheguei a esta atividade pelo convite que me foi endereçado pelos senhores presidentes de câmara que constituíam a direção da Resitejo naquela altura. A família ajuda e é parte importante? É um dos factores com a maior importância, pois sem o seu apoio tenho a certeza que nunca me teria sido possível atingir os objetivos que todos os dias me proponho atingir. Com classifica os recursos humanos disponíveis no mercado? Hoje podemos dizer que os recursos humanos disponíveis são, a nível de formação, capazes de responder às mais difíceis questões que se colocam em qualquer actividade. Infelizmente continuamos a ter

um elevado deficit na área da formação em contexto de trabalho. Torna-se cada dia mais necessário a existência de uma maior interatividade entre as entidades formadoras e o mundo empresarial. Está preparado para tudo na sua vida profissional? Acho que nunca ninguém está preparado para tudo. Acho que tenho capacidades para encontrar as soluções necessárias para os problemas que todos os dias vão aparecendo. Comente a situação actual do país e da sua região: O país vive uma situação onde todos os dias é necessário encontrar uma grande força de vontade para ultrapassar as dificuldades que actualmente se nos colocam, o mesmo acontece com a nossa região. Felizmente, quer o país quer a região, tem muitas mulheres e homens que todos os dias lutam para que o futuro seja melhor. No entanto, para que isso seja possível é necessário que aqueles que têm a responsabilidade política de gerir o façam pondo em primeiro lugar as prioridades do país e/ou da região, não deixando que outros interesses se instalem.


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2º caderno

Edição comemorativa do 28º aniversário | O MIRANTE

A região em notícia nos últimos 28 anos - património

Uma pedreira transformada em monumento

N

o Verão de 1994 três jovens descobriram na chamada Pedreira do Galinha, junto à localidade do Bairro, no concelho de Ourém, um dos maiores achados do século passado em Portugal – vários trilhos de dinossáurios, que habitaram a terra há milhões de anos. A conciliação entre a preservação da descoberta, com elevado valor científico, e a extracção de pedra revelou-se impossível e obrigou a uma morosa negociação entre o Governo e o proprietário da pedreira, o empresário

Rui Galinha. O processo fez correr muita tinta e foi uma das “batatas quentes” mediáticas com que o então recém-eleito primeiro-ministro António Guterres teve de se confrontar no início do mandato. Em 1996 chegou-se a acordo: Rui Galinha recebeu 4,5 milhões de euros, com a condição de deixar a pedreira até final desse ano. E, assim, onde se extraía brita para a construção civil está hoje instalado o Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios da Serra D’Aire e Candeeiros.


O MIRANTE | Edição comemorativa do 28º aniversário

2º caderno

19 Novembro 2015 | 28

“Quero acreditar que a justiça é igual para todos embora seja assaltado regularmente pela dúvida”

António Pinto Correia Médico, Presidente da Assembleia Municipal de Santarém Tem alguma tatuagem ou já pensou em fazer uma? Não, não tenho qualquer tatuagem nem sou apologista. Acho que desenhar ou escrever no nosso corpo imagens ou mensagens representam um momento e/ou um estado de espírito que não será seguramente o mesmo ao longo das nossas vidas. Qual a tradição que nunca podemos deixar morrer? O Natal, porque é uma festa da família e um espaço de encontro e partilha entre gerações dentro da família. O respeitinho é muito bonito? No país

dos “inhos”é bonito respeitar para também sermos respeitados. A beleza é fundamental? Não é de modo nenhum fundamental mas é bom gostarmos do que é belo. O ensino do fandango devia ser obrigatório nas escolas ribatejanas? Não gosto da palavra “obrigatório” usada para tudo. O Fandango faz parte das tradições da nossa região e como tal deve ser propiciado o seu ensino às nossas crianças mas com carácter facultativo. Quem gostaria de ser se não fosse quem é? Acho que estou muito bem e gosto muito de ser como sou. Gosta de uma boa discussão? Não sou muito de confrontos e procuro sempre consensos mas se tiver de ser é para ir até ao fim. Qual a promessa que fez a si próprio mais vezes no início de cada ano e que vai continuar a fazer porque ainda não conseguiu cumpri-la? Arrumar “papéis”. Sou muito desorganizado e os meus locais de trabalho parecem caóticos para quem os frequenta. Gosta de ir votar? Votar é exercer um direito que eu faço com gosto. O Facebook e as outras redes sociais melhoraram a sua vida? O Facebook serve-me (e não é pouco) para saber a data de anos dos amigos e pouco mais. Sabe o que anda a fazer neste mundo? Completamente. Quer do ponto de vista pessoal, familiar e profissional.

A Justiça é igual para todos? Quero acreditar que a justiça é igual para todos embora seja assaltado regularmente pela dúvida. Quais as qualidades que mais aprecia numa pessoa? Honestidade, carácter, integridade, sensibilidade social, espírito de partilha. Fecha a água enquanto escova os dentes ou enquanto se ensaboa no banho? Tenho essa sensibilidade no que se refere ao escovar os dentes; quanto ao banho já tentei mas normalmente não consigo. O que seria para si uma tragédia? Ter de deixar de trabalhar. Já se sente à vontade a escrever com o novo Acordo Ortográfico? Continuo a escrever como me ensinaram porque me sinto mais confortável mas não sou fundamentalista. Qual a sua actividade preferida? Para descanso da mente gosto muito de actividades ao ar livre que obriguem a esforço físico. Gosta de grandes reuniões familiares?

Sou um feroz defensor da família e é sempre bom quando nos podemos juntar à volta de uma mesa. Viu algum filme do cineasta Manoel de Oliveira do princípio ao fim? Nos seus primórdios, Aniki bóbó; Douro fauna fluvial. Mais tarde, Vale Abraão. À mesa, de que lado do prato é que deve ser colocado o telemóvel ou smartphone? O telemóvel foi, de início, um intruso entre as relações das pessoas mas aos poucos foi-se impondo e hoje só não está presente durante o banho porque ainda não é à prova de água. Quem lhe contava histórias quando era criança? A mãe. Sempre a mãe. Alguma vez assistiu a uma tourada ao vivo? Já, algumas e embora não seja um apreciador, tenho um imenso respeito e admiração por todos os intervenientes, incluindo o touro. Tem médico de família? Ainda não mas vou tratar disso.


29 | 19 Novembro 2015

2º caderno

Edição comemorativa do 28º aniversário | O MIRANTE

A região em notícia nos últimos 28 anos - vias de comunicação

Mais três auto-estradas

J

A região em notícia nos últimos 28 anos - comércio

O fim do monopólio do comércio tradicional

E

m 1987, ano em que nasceu O MIRANTE, ainda o chamado comércio tradicional vivia tempos de pujança e as chamadas grandes superfícies não passavam de nuvens longínquas no horizonte. Entretanto o panorama modificou-se a uma velocidade vertiginosa e os centros comerciais, hipermercados e outras superfícies comerciais, como as chamadas lojas dos 300 e as lojas chinesas, invadiram as

nossas cidades e vilas mexendo com a paisagem urbana e criando novas centralidades. Aliás, a fartura foi tanta que alguns desses novos espaços não resistiram a tanta concorrência, como o Vila Franca Centro, em Vila Franca de Xira, que chegou a ser o maior centro comercial da área de abrangência de O MIRANTE ou o hipermercado Jumbo em Santarém que só durou quatro anos.

á lá vai o tempo em que a Auto-Estrada nº 1 (Lisboa-Porto) era a única que servia a região. Nos últimos anos apareceram mais três. A primeira destas a ficar concluída foi a A23, em 2003, que incluiu os troços anteriormente construídos do itinerário principal IP 6, entre Torres Novas e Abrantes. É uma importante ligação entre as cidades do norte do distrito de Santarém e uma via importante de ligação à Guarda, Castelo Branco e Portalegre, sobretudo no

transporte de mercadorias. Foi a única que resistiu ao pagamento por parte do utilizador, tendo passado a ser taxada com portagens electrónicas a partir de Dezembro de 2011. Surgiram depois, em 2005, a A13 (Almeirim–Marateca), que veio facilitar a ligação ao sul do país, e a A15, de ligação de Santarém ao Oeste, que ainda hoje tem um papel pouco relevante e é evidente o reduzido tráfego que nela circula.


O MIRANTE | Edição comemorativa do 28º aniversário

2º caderno

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“Hoje precisamos sobretudo de pessoas sérias e altamente competentes”

Teresa Ferreira Administradora executiva da Águas de Santarém Fale-nos da sua vida profissional e da forma como lá chegou. Licenciei-me em Economia e fiz o MBA em Gestão de Empresas. Assumi, durante vários anos, funções de responsabilidade numa empresa de consultoria nas áreas económica e financeira; fundos comunitários; implementação de sistemas para certificação e formação. Fui consultora, formadora e auditora. Em finais de 2012 surgiu o convite para integrar o Conselho de Administração da Águas de Santarém e aceitei o desafio. A família ajuda e é parte importante da estratégia profissional? Claro que sim. O apoio familiar é fundamental. Como classifica os recursos humanos disponíveis no mercado? Há recursos humanos muito bem preparados e com excelentes qualificações. Acredito que, em termos gerais, o ensino em Portugal é francamente bom. Está preparada para tudo na sua vida profissional? Alguém está?! Nunca estamos preparados para tudo e a grande questão é estarmos preparados para mudar, para aprender, para crescer e para (re)iniciar tudo se preciso for. A flexibilidade, a aprendizagem permanente a humildade têm que estar presentes no nosso percurso profissional. Qual a tradição que nunca podemos deixar morrer? Comemorar o Natal em família. O respeitinho é muito bonito? Claro! A beleza é fundamental? Não é fundamental. Se existir, melhor… mas é preciso muito para além da beleza. Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer? Absolutamente. Admiro as pessoas

que, deitando-se continuamente tarde, conseguem manter um bom ritmo de trabalho. O que tem que fazer um homem para ser um verdadeiro homem? Tem que ser gentil, honesto e inteligente. Quem lhe contava histórias quando era criança? A minha mãe. Ler jornais é saber mais? É, sem dúvida. Fazem falta mais mulheres na política? Não coloco a questão assim. Aceito e compreendo que em tempos passados tenha existido a necessidade de criar mecanismos legais que favorecessem o envolvimento de mulheres na actividade política. Hoje penso que precisamos sobretudo de pessoas sérias e altamente competentes, com experiência, maturidade e empenhadas em servir a causa pública com espírito de missão. Quais as qualidades que mais aprecia numa pessoa? Honestidade, generosidade e humildade. Qual a promessa que fez a si própria mais vezes no início de cada ano e que vai continuar a fazer porque ainda não conseguiu cumpri-la? Inscrever-me num ginásio e praticar exercício físico com regularidade! Qual é o seu maior defeito? Talvez a impulsividade. Como é um dia bem passado? Com amigos e família. Qual a sua actividade preferida? Ler. Quem me dera ter mais tempo para ler! Há alguma coisa pela qual ainda valha a pena lutar até à morte se necessário for? Pela Democracia. Tem alguma superstição? Não, sinceramente, nunca tive. Durante quanto tempo é capaz de guardar um segredo? Anos. O que significa a expressão “Gozar a vida”? Significa saber reconhecer, aproveitar e valorizar os pequenos, e por vezes inesperados, momentos de felicidade que a vida nos dá. E isso, tanto pode acontecer num qualquer lugar fantástico com a família e um grupo de amigos, como num dia de trabalho que, por algum motivo, nos realizou particularmente. Ir comprar roupa ou calçado dá-lhe prazer? Sim, confesso! Alguma vez pediu o livro de reclamações? Não, nunca. Sou mais do género de não voltar, se realmente fiquei insatisfeita. Mas reconheço que não é a atitude mais correcta. O mundo vai ter que falar mandarim ou os chineses é que vão passar a falar inglês? Por algum motivo há uma oferta cada

vez maior de aulas de mandarim… A Justiça é igual para todos? Receio que não. Ainda não. Sabe algum refrão de uma cantiga do Quim Barreiros? Não. Viu algum filme do cineasta Manoel de Oliveira do princípio ao fim? Não. Subscrevia uma proposta para termos outro hino nacional? Não vejo motivo para isso. Gosta de grandes reuniões familiares? Adoro! Este Mundo está perdido? Não, claro que não. Ainda que por alguns momentos sintamos vacilar algumas das certezas que tínhamos como absolutas (aconteceu comigo muito recentemente e creio que não terá sido só comigo…). O Mundo está sim em constante mutação e exige de todos uma permanente capacidade de adaptação. Alguma vez assistiu a uma tourada ao vivo? Assisti a muitas. É um espectáculo que aprecio muito. Tem médico de família? Não vou há al-

guns anos, não tenho a certeza… mas julgo que não. O que sente quando vê pessoas a pagar promessas de joelhos em Fátima? Uma profunda comoção. Sente-se livre? Sinto. Apesar dos horários, das responsabilidades, das rotinas, quantas vezes barafusto por ser “escrava do relógio”… Mas com as condições e modo de vida que tenho, jamais ousaria dizer que não tenho liberdade. Quantos verdadeiros amigos acha que tem? Nunca pensei nisso e nunca os contei. Sei o que realmente interessa: que tenho bons e verdadeiros amigos e que os que tenho valem por muitos! A instalação de câmaras de vídeo vigilância é uma boa maneira de combater a criminalidade? Sim, tem desde logo um efeito dissuasor.


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Edição comemorativa do 28º aniversário | O MIRANTE

A região em notícia nos últimos 28 anos - requalificação

Zonas urbanas com melhor cara

E

m quase três décadas muitas coisas mudaram na paisagem urbana da região. Apareceram parques de lazer com equipamentos para a fruição da população, foram requalificadas zonas ribeirinhas que estavam ao abandono, criaram-se novos espaços para o exercício físico ao ar livre. Os fundos comunitários deram prioridade à qualidade de vida das populações e as autarquias aproveitaram os apoios para

mudarem a face de muitas zonas da cidade, em que é mais evidente o surgimento do passeio ribeirinho de Vila Franca de Xira, que acabou por criar uma nova centralidade. Mas também se pode falar no parque de Vila Nova da Barquinha, o Aquapolis em Abrantes, ou o parque do Sorraia em Coruche, só para dar alguns exemplos. Para estas grandes mudanças foi fundamental o programa Valtejo, que apostou na criação de um território de referência em termos de património, lazer, recreio, turismo e de equilíbrios ambientais.


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“A liberdade é um bem essencial à vida mas deve ser condicionada pelo respeito aos outros”

Nuno Pinto de Magalhães Director de Comunicação e Relações Institucionais da SCC Quais as tradições que nunca podemos deixar morrer? Aquelas que representam para nós valores em que acreditamos. O respeitinho é muito bonito? O respeito pelos outros é fundamental, sim! A beleza é fundamental? Sim, a beleza para mim é muito importante pois sempre gostei de viver rodeado de coisas belas! Já se sente à vontade a escrever com o novo Acordo Ortográfico? Não, escrevo ainda pelo antigo. Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer? Sim, nunca gostei de noitadas e sou mais produtivo de manhã... O que tem que fazer um homem para ser um verdadeiro homem? Não ter medo de enfrentar os desafios que lhe são colocados a cada momento! O que seria para si uma tragédia? Viver sem esperança. Quem lhe contava histórias quando era criança? O meu pai. Ler jornais é saber mais? Sim, a par de livros e de outras plataformas de informação.

Fazem falta mais mulheres na política? Sim, mas sem quotas! As mulheres, no actual contexto, não precisam disso para chegar lá! Quais as qualidades que mais aprecia numa pessoa? Imparcialidade, generosidade, optimismo, resiliência, humildade e saber ouvir. Qual a promessa que fez a si próprio mais vezes no início de cada ano e que vai continuar a fazer porque ainda não conseguiu cumpri-la? Alimentação mais saudável e mais exercício físico. Qual é o seu maior defeito? Nem sempre aderir a provocação! Quais os personagens históricos que mais despreza? Todos aqueles que impõem o seu interesse pessoal ao bem maior! Alguma vez escreveu um poema? Já tentei... Há alguma coisa pela qual ainda valha a pena lutar até à morte se necessário for? A verdade. Tem alguma superstição? Não. O que significa a expressão “Gozar a vida”? Não gosto da expressão e não a uso porque tem uma conotação muito egoísta! Se for aproveitar a vida ao máximo com tudo o que ela nos proporciona é o que devemos fazer diariamente! Ir comprar roupa ou calçado dá-lhe prazer? Não, prefiro comprar outras coisas... Se vir alguém deitar lixo para o chão diz-lhe alguma coisa? Não costumo dizer mas costumo apanhá-lo em frente do próprio na expectativa que ele entenda a mensagem... Alguma vez pediu o livro de reclamações? Sim, e deveríamos utilizá-lo mais pois é um contributo para a melhoria da qualidade dos serviços! Também deveria haver um livro de felicitações! O mundo vai ter que falar mandarim ou os chineses é que vão passar a falar

inglês? “Both!” (Ambos) A Justiça é igual para todos? Deveria ser! Viu algum filme do cineasta Manoel de Oliveira do princípio ao fim? O Amor de Perdição. Este Mundo está perdido? Claro que não! A Velha Europa é que precisa de reajustar-se aos novos desafios! O que gostava de fazer e não faz para não cair no ridículo? O ridículo não me preocupa... Sendo o preço médio de mil litros de água da rede um euro e meio podemos dizer que a água está cara? Não acho. Tendo em conta que é um recurso escasso! Preocupa-me mais a água que é desperdiçada! O que sente quando vê pessoas a pagar promessas de joelhos em Fátima? Respeito por elas. Sente-se livre? Sim, para mim a liberdade é sempre condicionada pelo respeito aos outros e é um bem essencial à vida

humana! Quantos verdadeiros amigos acha que tem? Não sei, nunca os contei... A instalação de câmaras de vídeo vigilância é uma boa maneira de combater a criminalidade? Desde que seja bem usada, respeitando o direito dos cidadãos à sua privacidade. “Fiz sempre tudo aquilo que gostava porque decidi gostar de tudo o que tinha de fazer” Como tem sido a sua vida profissional? Fiz sempre tudo aquilo que gostava porque decidi gostar de tudo o que tinha de fazer. A família ajuda? A família é a base da minha identidade. Como é que classifica os recursos humanos disponíveis no mercado ? Muito bons e com uma oferta pelo menos ao nível de formação teórica como nunca tivemos! Está preparado para tudo na sua vida profissional? Procuro estar! Comente a situação actual do país onde vive e da sua região em particular. Do país confusa, esperando que o caminho seja para a frente e não de recuo!


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Edição comemorativa do 28º aniversário | O MIRANTE

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O MIRANTE | Edição comemorativa do 28º aniversário

“Gosto muito do meu país e não gosto de o ver maltratado”

Fernanda Asseiceira Presidente da Câmara Municipal de Alcanena Fale-nos da sua vida profissional e da forma como lá chegou. A minha profissão é ser professora do 2º Ciclo do Ensino Básico, leccionando as disciplinas de Ciências da Natureza e Matemática. O facto de, nos últimos anos, exercer funções de natureza política em exclusividade, primeiro na Assembleia da República e agora na Câmara Municipal de Alcanena, não altera as minhas habilitações e competências profissionais. A família ajuda e é parte importante da estratégia profissional? A família é fundamental. Sinto-me sempre muito próxima da família e com grande sentido de responsabilidade no acompanhamento e apoio que

precisa. Também faz parte das minhas preocupações diárias. Como classifica os recursos humanos disponíveis no mercado? Actualmente passámos a ter recursos humanos muito qualificados e com grandes dificuldades de arranjar emprego na respectiva área de formação. Está preparada para tudo na sua vida profissional? Considerando as funções que exerço estou preparada para tudo. Os meus mandatos têm sido difíceis, por isso as expectativas são para que o pior já tenha passado! Assim espero! Comente a situação actual do país onde vive e da sua região em particular. Gosto muito do meu país e não gosto de o ver maltratado! Somos um povo resistente e empreendedor, com muitas provas dadas, que vai conseguir continuar a trabalhar. A nossa região tinha tudo a ganhar com a afirmação da marca Ribatejo. Infelizmente foi dividida ao meio… Médio Tejo e Lezíria. Perdeu identidade! Lembra-se da última vez que usou a bicicleta como meio de transporte? Já não ando de bicicleta há quase dez anos! Quando andei nunca foi como meio de transporte mas como prática de desporto e lazer. Qual a tradição que nunca podemos deixar morrer? Assinalar o Natal! O respeitinho é muito bonito? O respeito pelo outro para além de «ser bonito» é uma questão de boa educação! A beleza é fundamental? Fundamental para quê!? Para se viver e ser feliz!? Claro

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que não. O ensino do fandango devia ser obrigatório nas escolas ribatejanas? Na minha opinião, não! As escolas, os professores e os alunos já estão sujeitos a demasiadas obrigatoriedades! Há muitas actividades informais que podem promover esse ensino em articulação com os ranchos folclóricos de cada concelho, para quem estiver interessado em aprender. Já se sente à vontade a escrever com o novo Acordo Ortográfico? Não gosto de escrever com as regras do novo Acordo Ortográfico. Estou sempre a sofrer uma dupla influência! Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer? É um estilo de vida mais saudável, sem dúvida. O que tem que fazer um homem para ser um verdadeiro homem? Ser Homem… uma pessoa humana, competente e responsável em todas as dimensões da sua vida. As mesmas qualidades que uma mulher deve ter. O que seria para si uma tragédia? Tudo o que origina a morte. Quem lhe contava histórias quando era criança? A minha mãe. Fazem falta mais mulheres na política? A presença das mulheres nos mais variados sectores de actividade, para além de ser uma evolução normal da sociedade, tem vindo a revelar-se como um salto civilizacional qualitativo. Sente que seria capaz de ser um bom primeiro-ministro? Mesmo que pudesse ser, não queria. Quais as qualidades que mais aprecia numa pessoa? A honestidade e a sensibilidade. Qual é o seu maior defeito? Pouca paciência para lidar com incompetências. Qual a sua actividade preferida? Viajar, conhecer outras paisagens e outras culturas! Alguma vez escreveu um poema? Sim,

vários! Há alguma coisa pela qual ainda valha a pena lutar até à morte se necessário for? É sempre importante lutarmos pelo que defendemos, pelo que acreditamos, por quem gostamos. Qual foi a sua maior extravagância? Não sou dada a extravagâncias! Durante quanto tempo é capaz de guardar um segredo? Para toda a vida! O que significa a expressão “gozar a vida”? Fazer no dia-a-dia coisas que tornam a pessoa feliz. Alguma vez deu sangue? Sim. Alguma vez se sentiu esmagado pela beleza de alguém ou de alguma coisa? Não. Ir comprar roupa ou calçado dá-lhe prazer? São bens que compro porque e quando preciso. Não é o que mais aprecio fazer. Alguma vez pediu o livro de reclamações? Sim. Numa estação de serviço. A Justiça é igual para todos? Claro que não! Este Mundo está perdido? Ainda não. Ainda há esperança! Tem médico de família? Sim, tenho. O que gostava de fazer e não faz para não cair no ridículo? Se é para cair no ridículo não sinto vontade de fazer. Tem a profissão que gostaria de ter? Gosto de fazer o que faço. O que sente quando vê pessoas a pagar promessas de joelhos em Fátima? Questiono-me que desgosto terão sofrido ou que problemas terão tido. Fico triste, não gosto de ver. Era capaz de dar 300 euros por uns sapatos? Nunca dei! Sente-se livre? De modo algum! Quantos verdadeiros amigos acha que tem? Poucos.


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Edição comemorativa do 28º aniversário | O MIRANTE

“Não me lembro se alguma vez utilizei a bicicleta como meio de transporte”

Orlando Ferreira Administrador da Rodoviária do Tejo O respeitinho é muito bonito? Se é bonito ou não, não sei. Só me preocupa a falta que faz! O respeito não se impõe, conquista-se! Vem do que a pessoa é e faz. Como dizia um distinto escritor da Chamusca: “Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro.” O Facebook e as outras redes sociais melhoraram a sua vida? Ainda não entendi bem qual a exacta utilidade do Facebook e das outras redes sociais. Será que a informação ali disponível irá alguma vez mudar o meu comportamento futuro ou continuará

apenas a ser ruído? Encontrar novos amigos, ainda não encontrei! Conhecer amigos de amigos comuns, ainda não conheci! Dar a conhecer o que estou a fazer, a querer fazer e a pensar fazer, ainda não o fiz! Cativa-me apenas aquela parte de poder ‘tentar mobilizar a sociedade em volta de interesses comuns’! Que é poucochinho é…mas já nem sei se isso é muito ou é pouco! Qual a tradição que nunca podemos deixar morrer? «O que é nacional é bom!» Uma expressão em cima duma tradição! Esta expressão, usada para promover a venda de bolachas e pacotes de massa serve também para reforçar o orgulho português ou para consumir produtos made in Portugal. Não podemos esquecer que é o nacional que continua a ser bom! Gosta de uma boa discussão? As discussões que visam edificar, divertir e aprimorar o raciocínio (uma espécie de Chautauqua do século XIX) são sempre bons momentos que muito aprecio. Quando as discussões representam apenas cópias baratas de diálogo, trazendo até ‘berraria’, só traduzem momentos de descontrolo e desequilíbio que não me seduzem. O que tem que fazer um homem para ser um verdadeiro homem? O verdadeiro homem deve ser modesto nas suas certezas e na defesa das suas razões. ‘Eu, pessoalmente, pouca importância atribuo às razões de cada um, porque uma razão é uma coisa que todos têm, dizia Rómulo de Carvalho quando nos ensinava que os nossos olhos foram

programados para serem sensíveis apenas a uma muito pequena fracção das radiações dos espectro solar. Se nem sequer sabemos como são as coisas que vemos, se apenas sabemos como as vemos então, o homem (verdadeiro) deve ser modesto nas suas certezas. A beleza é fundamental? Para os gregos, um corpo bonito era uma prova de uma mente brilhante. A beleza era uma dádiva dos deuses e o seu exterior escondia um interior ainda mais perfeito. Se assim fosse a beleza era mesmo fundamental. Mas afinal não é! É apenas um bonito embrulho... Quem lhe contava histórias quando era criança? A minha mãe, obviamente! Mesmo em silêncio, eram sempre ‘lindas’ as histórias que ela me contava! Ler jornais é saber mais? Num tempo em que as pessoas desfrutam das vantagens da informação rápida da era digital e conhecem depressa tudo o que se passa no mundo, a vontade de ter acesso às informações micro do espaço onde vivem continuará a ser uma constante entre as populações de uma região. Ler jornais será sempre saber mais e é a imprensa regional que tem o papel de destaque neste conhecimento. Quem gostaria de ser se não fosse quem é? Não me consigo rever na pele de ninguém. Talvez (não o sei bem) gostasse de voltar a ser quem era há 40 anos atrás! Fazem falta mais mulheres na política? De um modo geral, diz o ditado que ‘Se não fizessem tanta falta, as mulheres não faziam falta nenhuma!’ Em política, julgo tratar-se

literalmente de uma discussão totalmente bizantina e sem qualquer interesse. Quais as qualidades que mais aprecia numa pessoa? O bom senso, o bom gosto e o golpe-de-asa. Qual a promessa que fez a si próprio mais vezes no início de cada ano e que vai continuar a fazer porque ainda não conseguiu cumpri-la? Este ano é que é! Qual é o seu maior defeito? Perdoo sempre mas sou incapaz de esquecer. Quais os personagens históricos que mais despreza? De um modo geral, todos os invertebrados sem honra e todos aqueles que, ao longo da história, se refugiaram no papel de ditadores. De um modo muito particular, face ao quadro de devastação deixado pelas invasões francesas no Ribatejo, indigno-me verdadeiramente (desprezo?) com os saques e pilhagens de populações rurais, com os raptos de mulheres e outros desmandos dos Junots, Massenas e outros desertores portugueses que ‘por ali viveram em perpétuas orgias’. Indigno-me e desprezo também o imediato aproveitamento das novas clientelas escalabitanas surgidas com a distribuição dos ‘subsídios de perda’ atribuídos após a saída definitiva da cavalaria francesa. Mas esses são outros quinhentos… O que é bom é para se ver? Se o fruto proibido (escondido) é sempre o mais apetecido, o que é mesmo bom é dar lugar e dar largas à imaginação! Deixemos pois a exibição de plumas, lantejoulas e outras exiguidades para as cenografias das verdadeiras ‘vedetas’ em outros palcos. Qual a sua actividade preferida? ‘Andar por aí’ fazendo o bem sem olhar a quem. Como eu percebo Mahatma Ghandhi quando dizia que não existe um caminho para a felicidade. “A felicidade é o caminho.’


O MIRANTE | Edição comemorativa do 28º aniversário Há alguma coisa pela qual ainda valha a pena lutar até à morte se necessário for? Pelos entes mais queridos, sem a mínima dúvida. Tem alguma superstição? Em miaor ou menor grau, faz parte da identidade portuguesa ser supersticioso. E as pessoas , mesmo as que se riem das superstições, acreditam e seguem-nas. Que me lembre, bato sempre três vezes na madeira para afastar os maus espíritos e nunca abro um chapéu de chuva em casa - dizem que atrai problemas e os que eu tenho já me chegam! Lembra-se da última vez que usou a bicicleta como meio de transporte? Não me lembro se alguma vez utilizei a bicicleta como meio de transporte! Durante quanto tempo é capaz de guardar um segredo? Um segredo é sempre um segredo! O que significa a expressão “Gozar a vida”? Só conseguiremos “Gozar a vida” e sermos felizes se nos conseguirmos ‘amarrar’ a uma meta e não a coisas. Venho tentando… Alguma vez sentiu orgulho em ser cidadão europeu? A Europa, em termos relativos, vai continuar a viver uma progressiva perda de influência à escala mundial. Pode até continuar a fazê-lo nesta forma desordenada e com um preço elevadíssimo para os europeus. No entanto, continuarei a preferir ser europeu e a viver nesta Europa. Talvez seja orgulho! Sabe o que anda a fazer neste mundo? Muito pouco. Só sei que sou matéria, um todo que funciona como uma máquina com uma fonte de energia que a faz funcionar. Quando essa energia se esgotar e o sistema deixar de funcionar morrerá corpo e alma (quem determina os sentimentos, impõe os comportamentos, as decisões, as opiniões,…) sairá sabe-se lá para onde. Eu que sou ela terei um destino que não sei qual é! O que ando cá a fazer e o que farei depois nada sei! Mistérios. Tudo mistérios. O meu professor Rómulo de Carvalho dizia que as almas tinham que ter um destino. Poderiam até ficar num depósito de reserva para necessidades futuras de distribuição de almas? Alguma vez pediu o livro de reclamações? Sim claro, uma reclamação é sempre uma oportunidade de melhoria em ‘fato de trabalho’. São verdadeiras pepitas de ouro para quem as recebe! O que eu nunca pedi foi o Livro de Elogios. O mundo vai ter que falar mandarim ou os chineses é que vão passar a falar inglês? Se um chinês normal só consegue ler um jornal se conhecer no mínimo 2.500 ideogramas, se um chinês culto só consegue identificar entre 3.500 e 5.000 ideogramas do total de 60.000 existentes então, o inglês, face à sua simplicidade, não dará nunca muitas hipóteses ao mandarim para se afirmar! A Justiça é igual para todos? Continua a existir ainda em Portugal uma preocu-

pante perceção de assimetria da impunidade. Apesar de alguma poeira que circula no ar, há ainda uma forte sensação de iniquidade moral onde a justiça é incapaz julgar os mais fortes. Qual o seu prato preferido de bacalhau? No que se refere a preferências de bacalhau o que eu não gosto mesmo é de “Ficar em águas de bacalhau” , algo iniciado e que ficou por concluir! Sabe algum refrão de uma cantiga do Quim Barreiros? “…Ó malta vamos cantar / Vamos lá cantar com rima / Quem pode, pode / Quem não pode sai de cima” Viu algum filme do cineasta Manoel de Oliveira do princípio ao fim? De certeza, o Aniki Bóbó. A sua primeira longa metragem, um filme do tempo em que os filmes de Manoel de Oliveira ainda eram exibidos no Brasil sem legendas em português para traduzir o português! Este Mundo está perdido? Lembrei-me do filme “Os cavalos também se abatem” passado na década de 30 nos EUA, quando a grande depressão obrigava as pessoas a tomarem medidas desesperadas para sobreviver. Nesse filme, os concursos (maratonas) de dança pareciam uma forma simples de ganhar algum dinheiro mas a realidade era bem diferente – a competição e a violência subjacentes a estes concursos chegavam a extremos inesperados onde, com grande facilidade, pessoas transformavam outras pessoas em não-pessoas. Pensei que aquela barbárie que o filme mostrava, com uma ligação à realidade, era distante de mais para se passar entre nós. Não era! Afinal a barbárie anda por aí num mundo meio perdido! (Vou revisitar o filme) Tem médico de família? Os últimos dados oficiais indicam que são perto de 1,3 milhões os portugueses que estão sem clínico assistente nos centros de saúde. Eu sou um deles! Afinal não estou sozinho. De quantas horas de sono precisa para acordar bem-disposto? Já me bastam quatro horas seguidas. O que gostava de fazer e não faz para não cair no ridículo? Julgo sinceramente que (cair no) ridículo é fazer o que todos fazem, razão porque devemos ser nós mesmos. E é isso o que tento sempre fazer.Tenho uma boa relação com o ridículo. Tem alguma tatuagem ou já pensou em fazer uma? Não tenho, nem nunca pensei fazer qualquer tatuagem. Sei que existem tatuagens temporárias, até em folha de ouro, mas o apelo ainda não chegou! Tem a profissão que gostaria de ter? Gosto do que faço e da profissão que tenho. No entanto, poderia ter repensado a minha ida para Engenharia se tivesse percebido que aquilo que o psiquiatra faz não é apenas ser ‘médico de loucos’! Há até alguma semelhança com o desempenho empresarial - quem sabe se, com um conhecimento aprofundado de ansiedade, fobias, obsessões, depressões e

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outros distúrbios, colocando-as no divã, não poderia ajudar a melhorar o desempenho de algumas empresas que conheço bem. O que sente quando vê pessoas a pagar promessas de joelhos em Fátima? Não faço a menor ideia se a fé chega ou não de joelhos! O que é suposto é que no seu percurso para o Santuário de Fátima, os peregrinos tomem consciência das suas fragilidades e culpas, meditem sobre o significado profundo da vida e sobre aquilo que nela é essencial buscando a libertação interior que lhes permitam mudar de vida. Se algumas atitudes e práticas penitenciais que pisam o risco pelo exagero ajudam ou não a fazer este percurso espiritual, sobre isso não me posso pronunciar. Simplesmente, não sei! Um dia, António Pinto Leite escreveu dizendo que ia a Fátima simplesmente porque sentia necessidade de ir e que não queria aprisionar esse sentimento livre em nenhuma infatigável introspeção. Sente-se livre? Claro que não sou livre para fazer o que quero a qualquer hora. Mas é a vida! Foi bom acabar esta viagem (a resposta a este questionário) com uma bela canção ‘do meu tempo’- I’m free dos Rolling Stones. (I’m free to do what I want any old time/So love hold me love me hold me) . “Estou há quinze anos nesta empresa e parece que cheguei ontem” Fale-me da sua vida de empresário e da forma como chegou a este negócio? Depois de uma licenciatura em Engenharia Civil (IST) em Urbanização e Transportes ou apostava no Urbanismo, no âmbito das políticas públicas, ou nos transportes na área empresarial. Ainda antes do ‘25 de Abril’ comecei a trabalhar na ex-Sociedade do Estoril (hoje CP-Linha de Cascais), estive nos Sectores Especiais (nos Transportes Postais dos ex-CTT), estive na CP (ex-Direção de Equipamento) mas do que eu sempre gostei foi do transporte rodoviário. Sendo hoje quadro do Grupo Barraqueiro estou atualmente na Rodoviária do Tejo para onde fui por três anos e já cá estou há 15 anos. Parece que cheguei ontem! Esta empresa e esta região são um constante desafio e encanto. Confúcio dizia: «Encontra um trabalho que te deixe feliz e nunca mais terás de trabalhar.» A família ajuda e é parte importante da estratégia empresarial? No mundo empresarial, a palavra ‘risco’ talvez seja hoje a palavra mais importante mas, muitas vezes, não o queremos assumir com medo de falhar. Não devemos nem podemos ter medo porque é o risco que nos leva à diferença. O risco é tudo... e é muito aí que a família conta! Como é que classifica os recursos humanos disponíveis no mercado? Hoje, encontramos jovens que querem um emprego, que querem trabalhar mas sonham também não ser integrados em molhadas desmobilizadas, desinteressadas, e desresponsabiliza-

das lideradas por chefias asfixiantes, infantilizantes e repressivas. Está preparado para tudo na sua vida de empresário? Profissionalmente, julgo ser suficientemente consistente como o não era Oscar Wilde para quem a consistência era o último refúgio dos que não têm imaginação, mas estou nas empresas como estaria na organização medieval das abadias, preparado para quase tudo, ou seja: “Hoje irmão superior, amanhã frade hortelão”. Comente a situação atual do país onde vive e da sua região em particular Assumo que gostava de viver num país mais qualificado onde as ambições políticas não se resumissem a uma espécie de transumância, que é, como se sabe, o movimento dos rebanhos à procura de bons e melhores pastos. No Ribatejo reconheço uma região com enormes, enormes potencialidades, com gente jovem, interessada e competente que, chegada agora a sua vez, levará certamente esta região a uma nova senda de êxito e sucesso. Eu acredito.


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Edição comemorativa do 28º aniversário | O MIRANTE

A região em notícia nos últimos 28 anos - O MIRANTE

O MIRANTE - Um jornal diferente que ajudou a unir toda a região

O

MIRANTE nasceu como um jornal local, na Chamusca, mas cedo percebeu que não podia ignorar o que se passava nos concelhos limítrofes nem hierarquizar a informação em função do local onde fora criado. O que se passava e ainda passa em termos noticiosos era guiado pela ancestral política paroquial que promovia um bairrismo serôdio e estéril baseado no orgulhosamente sós de cada concelho ou mesmo de cada freguesia ou aldeia. A ideia de região só é cimentada depois do aparecimento de O MIRANTE. Até aí era confrangedor perceber como cada comunidade vivia voltada para o seu umbigo e como políticos e elites locais desconheciam por completo o que se passava em seu redor. O trabalho não foi apenas de O MIRANTE. Organizações como a NERSANT, Associação Empresarial da Região de Santarém, ajudaram a fazer o caminho até aos dias de hoje. Não é por acaso que o jornal e a associação se uniram, por exemplo, para criar O Galardão Empresa do Ano, destinado a premiar as melhores empresas e empresários do Distrito de Santarém, uma iniciativa complementada pelos prémios Personalidade do Ano que O MIRANTE organiza anualmente.

Mas não é fácil fazer mudanças. Ainda hoje a legislação relativa à Comunicação Social não reconhece a existência de órgãos de comunicação social inovadores e abrangentes como O MIRANTE. Ainda hoje os jornais regionais são tratados como jornais locais, e os jornais de Lisboa e Porto, alguns dos quais são verdadeiramente locais são tratados como nacionais, tanto por governantes como por agências de publicidade e organismos do poder central. O provincianismo não está na província mas nas cabeças de muitos decisores. Mesmo na região, que alguns políticos dividiram em Médio Tejo e Lezíria do Tejo com o argumento da captação de fundos comunitários, há políticos de vistas curtas, felizmente em minoria, que querem consolidar esse modelo a todo o custo, apoiando a criação de jornais que querem domesticados e especializados na mera publicação de notas de imprensa. O MIRANTE continua a crescer. O seu trabalho fala por si, tanto em termos de edição em papel como online. Se no primeiro caso O MIRANTE não tem qualquer tipo de concorrência. No online a diferença é ainda mais esmagadora. Uma coisa é certa, só uma região forte pode ter um jornal assim. E O MIRANTE existe e afirma-se por vontade de quem vive e trabalha na região.


O MIRANTE | Edição comemorativa do 28º aniversário

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“Errar é estar mais perto de acertar”

Ricardo Gonçalves Presidente da Câmara Municipal de Santarém Fale-me da sua vida profissional e da forma como lá chegou. Comecei a trabalhar nos últimos anos da faculdade. Após a licenciatura em Economia trabalhei em contabilidade e como consultor e desde então estou como autarca no Município de Santarém. A família ajuda e é parte importante da estratégia profissional? A família é o mais importante de tudo. A família é o alfa e o ómega da minha vida. Como classifica os recursos humanos disponíveis no mercado? São os mais qualificados de sempre, com as menores oportunidades profissionais de sempre. Está preparado para tudo na sua vida profissional? Prefiro dizer que estou

preparado para o futuro. Comente a situação actual do país onde vive e da sua região em particular. Infelizmente Portugal vive numa clara incerteza relativamente ao seu futuro que, por conseguinte, nos afecta a todos. A nossa região, na qual muito acredito, também vive neste momento na expectativa de perceber qual o futuro de Portugal. Qual a tradição que nunca podemos deixar morrer? O Natal. A beleza é fundamental? A beleza não é fundamental. A sabedoria que resulta da humildade humana, essa sim é fundamental. O ensino do fandango devia ser obrigatório nas escolas ribatejanas? Sou de opinião que até ao 2º ciclo devia existir uma disciplina sobre a história e costumes de cada um dos concelhos de Portugal. O Facebook e as outras redes sociais melhoraram a sua vida? As redes sociais e as novas tecnologias vieram permitir-nos estar mais próximos uns dos outros. Hoje o mundo é global, estamos todos na rede e a interagir. Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer? Há que ter bons hábitos, quer de sono, alimentares, etc... O que tem que fazer um homem para ser um verdadeiro homem? Nunca desistir dos seus ideais e conseguir viver em perfeita harmonia e fraternidade com o seu mundo e o seu semelhante. Quem lhe contava histórias quando era criança? A minha querida mãe. Quem gostaria de ser se não fosse

quem é? Vivo bem comigo mesmo. Quais as qualidades que mais aprecia numa pessoa? A humildade, a frontalidade e o sentido de humor. Qual a promessa que fez a si próprio mais vezes no início de cada ano e que vai continuar a fazer porque ainda não conseguiu cumpri-la? Não me irritar quando o Sporting perde. Qual é o seu maior defeito? Ser muito teimoso quando acho que tenho razão. Como é um dia bem passado? Com a família e amigos. Quais os personagens históricos que mais despreza? Os que por interesses pessoais renegaram a sua Pátria. O que é bom é para se ver? Sem dúvida. Qual a sua actividade preferida? Brincar com a minha filha. Alguma vez escreveu um poema? Sim, na adolescência. Há alguma coisa pela qual ainda valha a pena lutar até à morte se necessário for? Por Portugal e pela família. Qual foi a sua maior extravagância? Não tenho por hábito fazer extravagâncias. Tem alguma superstição? Não. Durante quanto tempo é capaz de guardar um segredo? Até que me digam que já não é segredo. Fecha a água enquanto escova os dentes ou enquanto se ensaboa no banho? No Verão sim, no Inverno quase nunca. O que significa a expressão “Gozar a vida”? Aproveitar as coisas boas da vida, que geralmente são as mais simples. Alguma vez se sentiu esmagado pela

beleza de alguém ou de alguma coisa? Sim, no dia em que a minha filha nasceu, mal a vi fiquei apaixonado para sempre. Um sentimento tão forte que não é mensurável. A Justiça é igual para todos? Infelizmente vários episódios recentes no nosso país demonstraram que não. Qual o seu prato preferido de bacalhau? Bacalhau cozido com grão. Alguma vez frequentou uma praia de nudismo? Sim, o Meco. O que gostava de fazer e não faz para não cair no ridículo? Errar é estar mais perto de acertar. Todos cometemos erros, mas se procurarmos e soubermos compreender os erros nunca caímos no ridículo. Tem alguma tatuagem ou já pensou em fazer uma? Não tenho nenhuma tatuagem nem penso fazer. Tem a profissão que gostaria de ter? Actualmente estou como presidente do Município de Santarém, sou economista mas gostaria de ter sido historiador ou advogado. O que sente quando vê pessoas a pagar promessas de joelhos em Fátima? Acredito que no nosso Universo existe um Grande Deus ao qual tudo é possível. Era capaz de dar 300 euros por uns sapatos? Não. Sente-se livre? Livre de pensamento mas preso nos afectos. Quantos verdadeiros amigos acha que tem? Os suficientes para ser feliz. Mas já perdi alguns que nunca pensei perder. A instalação de câmaras de vídeovigilância é uma boa maneira de combater a criminalidade? Sem dúvida, espero que ainda este mandato consigamos instalar algumas no nosso centro histórico.


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Edição comemorativa do 28º aniversário | O MIRANTE

“As mulheres fazem falta em todo o lado”

António Miguel Borges Presidente da Câmara Municipal de Sardoal Fale-nos da sua vida profissional e da forma como lá chegou. Sou professor de Educação Musical do quadro do Agrupamento de Escolas de Sardoal. O meu contacto com a música e a vontade de ser músico começaram muito cedo. As minhas primeiras memórias do Natal estão associadas a umas guitarras de plástico que recebia todos os anos e que mais tarde foram substituídas por um pequeno acordeão de plástico que me recordo de ter custado 550 escudos. Comecei a trabalhar muito cedo, com 15 anos, ao mesmo tempo que estudava. Por isso, foi com alguma dureza que fui atingido os objetivos profissionais. A família ajuda e é parte importante da estratégia profissional? É fundamental. Como é que classifica os recursos humanos disponíveis no mercado? Cada vez mais qualificados, o que me leva a lamentar o desperdício a que este país se dá ao luxo. Está preparado para tudo na sua vida profissional? Tudo é muita coisa!!! Acre-

dito ter suficiente experiência profissional para saber que nunca estamos preparados para tudo. Comente a situação actual do país onde vive e da sua região em particular. A região não ficará imune à actual situação do país. A política é uma actividade de grande nobreza onde as pessoas estão para servir, sem tacticismos, sem calculismos de interesse pessoal que se sobrepõem aos colectivos. É nos momentos de maiores adversidades, de maiores dificuldades, que conseguimos mais facilmente “separar o trigo do joio”. Lembra-se da última vez que usou a bicicleta como meio de transporte? Só na praia há muitos anos porque era plano. Qual a tradição que nunca podemos deixar morrer? Todas as que não colidam com a evolução da espécie humana! O respeitinho é muito bonito? Então não é !? A beleza é fundamental? Interior sim, exterior pode ajudar ou, por vezes, enganar! Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer? Cresci (e muito) deitando-me tarde e levantando-me muito cedo. O que tem que fazer um homem para ser um verdadeiro homem? Tudo fazer para que Homem se escreva com “H” bem grande. O que seria para si uma tragédia? Ui!! Nem quero pensar, porque só o pensamento é trágico. Quem lhe contava histórias quando era criança? O meu avô Borges. Quem gostaria de ser se não fosse quem é? Ainda vou gostando de mim!!! Fazem falta mais mulheres na política? As mulheres fazem falta em todo o lado, não por imposição mas por direito conquistado em igualdade com os homens. Qual a promessa que fez a si pró-

prio mais vezes no início de cada ano e que vai continuar a fazer porque ainda não conseguiu cumpri-la? Este ano é que vai ser… Qual é o seu maior defeito? Daria um suplemento para enumerar todos os defeitos. Sou muito teimoso, o que nem sempre é defeito. Como é um dia bem passado? Com a minha mulher (Ana Borges) e o meu Fantastic Four (Beatriz Borges, Alice Borges, Leonor Borges e Pedro Borges). O que é bom é para se ver? Pode ser para sentir! Qual a sua actividade preferida? Ler e passear. Alguma vez escreveu um poema? Tantos… Há alguma coisa pela qual ainda valha a pena lutar até à morte se necessário for? Pelos meus filhos! Qual foi a sua maior extravagância? É difícil escolher uma… Tem alguma superstição? Não. Durante quanto tempo é capaz de guardar um segredo? Um segredo guarda-se para sempre, senão deixa de ser segredo. O que significa a expressão “Gozar a vida”? Vivê-la como merece ser vivida. Alguma vez pediu o livro de recla-

mações? Sim. O mundo vai ter que falar mandarim ou os chineses é que vão passar a falar inglês? Preferia que os chineses falassem inglês. A Justiça é igual para todos? Não é, infelizmente. É um dos grandes problemas da nossa sociedade. Qual o seu prato preferido de bacalhau? Gosto muito da minha Couvada de Bacalhau que a Ana teima em não querer aprender a fazer. Sabe algum refrão de uma cantiga do Quim Barreiros? Completo julgo que não. Alguma vez frequentou uma praia de nudismo? Não. Este Mundo está perdido? Claro que não. Mas não nos podemos distrair muito. O que gostava de fazer e não faz para não cair no ridículo? Se dissesse caíria no ridículo! O que sente quando vê pessoas a pagar promessas de joelhos em Fátima? Um enorme respeito. Só elas sabem porque o fazem. Sente-se livre? Completamente. Quantos verdadeiros amigos acha que tem? Os Amigos são todos verdadeiros. Não vulgarizo o conceito de Amizade.


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“Nunca estamos preparados para tudo”

Sílvia Sousa Sócia-gerente Casas do Gótico - Century 21, Santarém, Almeirim e Torres Novas Fale-nos da sua vida de empresária e da forma como chegou a este negócio? Estou há 10 anos no ramo imobiliário. Não têm sido anos nada fáceis, mas com muito empenho, dedicação e uma equipa de excelência conseguimos atingir o nosso objectivo em 2015: abrir mais duas lojas em Almeirim e Torres Novas. Conto actualmente com 30 pessoas na minha equipa e até Dezembro de 2016 seremos 100. A família ajuda e é parte importante da estratégia empresarial? A minha família é parte fundamental para o meu sucesso, é o meu porto de abrigo.

Como classifica os recursos humanos disponíveis no mercado? Existe muita mão de obra qualificada e infelizmente muita dela está a sair do nosso país. Está preparada para tudo na sua vida de empresária? Nunca estamos preparados para tudo, muito embora esta crise nos tenha tornado mais profissionais e mais fortes. Comente a situação actual do país onde vive e da sua região em particular. A nossa região necessita urgentemente de novas políticas de atracção, de novos pólos de emprego, industriais, pois estamos tão bem localizados e com excelentes infraestruturas para que pudéssemos ser o maior pólo industrial nacional. A beleza é fundamental? Para mim a beleza física não é fundamental, mas sim a beleza interior. O Facebook e as outras redes sociais melhoraram a sua vida? Lógico. Então no nosso ramo conseguimos chegar a milhares de pessoas através de um simples click. À mesa, de que lado do prato é que deve ser colocado o telemóvel ou smartphone? Não concordo, deve-se respeitar o tempo que estamos à mesa. Deveria ser um momento de partilha. Ler jornais é saber mais? Claro, os jornais mantêm-nos informados e actualizados. Quais as qualidades que mais aprecia numa pessoa? Sinceridade, honestidade, empreendedorismo e atitude. Qual é o seu maior defeito? Sou mui-

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to teimosa e persistente. Durante quanto tempo é capaz de guardar um segredo? Toda a vida. O que significa a expressão “Gozar a vida”? Aproveitar todos os momentos, pois quando olhamos para trás existem momentos que não são recuperáveis. O mundo vai ter que falar mandarim ou os chineses é que vão passar a falar inglês? O mundo irá falar mandarim. Qual o seu prato preferido de bacalhau? Bacalhau assado com migas. Gosta de grandes reuniões familiares? Sim, no Natal, Páscoa e aniversários da minha família, pois revivemos momentos com saudade. Tem médico de família? Sim, sou uma felizarda. Tenho uma excelente médica de família, sempre dedicada, atenta e amiga. De quantas horas de sono precisa para acordar bem disposta? No mínimo de 7 horas. Tem a profissão que gostaria de ter? Nunca diria que a profissão que tenho iria ser a profissão que adoro e que me corre no sangue. Não consigo dissociar-me dela. Faz parte de mim. Sente-se livre? Nunca somos livres, pois a nossa sociedade vive de vários estereótipos, mas dentro da razoabilidade sou livre.


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Edição comemorativa do 28º aniversário | O MIRANTE

A região em notícia nos últimos 28 anos - ÁGUA

Uma nova vida para os nossos rios

A

poluição continua a afectar pontualmente alguns cursos de água da região, como os rios Tejo, Almonda, Alviela ou Maior, mas a situação já foi bem pior. A proliferação das estações de tratamento de águas residuais, conhecidas pela sigla ETAR, com a chegada dos fundos comunitários, ajudou em muito à melhoria do cenário e foi um dos frutos da entrada de Portugal na União Europeia. O projecto para despoluição do Alviela, com vultuosos

investimentos sobretudo no sistema de tratamento de Alcanena, está praticamente concluído e é decisivo para mudar o curso da história nessa zona martirizada pela poluição durante muitos anos. E, nestes últimos 28 anos, a construção de ETAR como as de Almeirim/Alpiarça, de Torres Novas ou de Vila Franca de Xira ajudaram a que os nossos rios se tornassem mais limpos e amigos da vida animal. Mas esse é um daqueles trabalhos que nunca está acabado.


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“Votar é um dever cívico mas os políticos tornam esse dever muito difícil”

Paulo Mourão Gerente do Laboratório de Análises Clínicas Noémia Igreja Viu algum filme do cineasta Manoel de Oliveira do princípio ao fim? Nunca. Vi alguns “trailers” que não me motivaram o suficiente, sem desrespeito pelo consagrado realizador. Quantos verdadeiros amigos acha que tem? Não consigo contabilizar de um modo rigoroso. Serão certamente poucos mas bons. As verdadeiras amizades não se constroem facilmente. Alguma vez se sentiu esmagado pela beleza de alguém ou de alguma coisa? Esmagado será um termo um pouco forte… mas não deixo de apreciar bastante, por exemplo, o pôr do sol sobre o mar numa tarde de Verão, num país como o nosso, que foi brindado com uma beleza natural ímpar. O que seria para si uma tragédia? Muitas situações podem originar tragédia, sobretudo fenómenos naturais que, penso, todos nós tememos. Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer? Os ditados populares costumam ser normalmente incisivos e certeiros, pelo que esse não fugirá à regra. Em sua casa já se faz a separação do lixo? Sinceramente, algumas vezes… mas nem sempre.

Quais os personagens históricos que mais despreza? Assim de repente ocorre-me Adolf Hitler, por razões óbvias. Acho que será mais ou menos consensual dada a perversão do personagem. Gosta de ir votar? Trata-se de um dever cívico acima de tudo, apesar de muitas vezes os nossos representantes políticos nos tornarem a tarefa difícil… Lembra-se da última vez que usou a bicicleta como meio de transporte? Não… ainda usava calções, certamente. Nesse aspecto tenho algum défice ecológico. Ler jornais é saber mais? Certamente. A informação é um dos bens mais importantes nos tempos actuais. De quantas horas de sono precisa para acordar bem disposto? Seis ou sete… por aí. Alguma vez deu sangue? Sim, mas há muito tempo… mais uma falha de cidadania. Tem alguma tatuagem ou já pensou em fazer uma? Não tenho, apesar de gostar de ver algumas tatuagens de bom gosto. Subscrevia uma proposta para termos outro hino nacional? Já mudámos há muito tempo a Bandeira Nacional, que era azul e branca, erradamente na minha opinião, já que era bastante bonita. Não vejo por que mudar agora o Hino Nacional. Tem a profissão que gostaria de ter? Muito pouca gente tem a profissão que desejava, infelizmente. Mas gosto muito do que faço, disso não tenho dúvidas. Sente que seria capaz de ser um bom primeiro-ministro? Não, um primeiro-ministro deve ter qualidades muito acima da média, na medida em que, de certo modo, pode condicionar de modo definitivo a vida das pessoas. Eu não tenho essas qualidades nem correria o risco de desempenhar esse cargo. O que tem que fazer um homem para ser um verdadeiro homem? Plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Qual foi a sua maior extravagância? Tive algumas, mas não as consigo elencar…

O que gostava de fazer e não faz para não cair no ridículo? Acho que nada. Alguma vez escreveu um poema? Sim, por brincadeira… nada que ficasse registado. Modestamente, tenho algum dom natural nessa área. “Há pessoas extremamente qualificadas mas muitas empresas não as podem contratar” Fale-me da sua vida de empresário. Comecei há bastantes anos a trabalhar no Laboratório um pouco na perspectiva de colaborar com a minha mãe no sentido de a ajudar na parte administrativa da organização, já que ela estava absolutamente concentrada na parte técnica. Fui ficando, assumi o cargo de gerência, o laboratório foi de alguma maneira crescendo, e aqui me mantive até hoje, tentando preservar o nome do Laboratório, indo ao encontro do que, penso, a minha mãe desejaria. Neste momento sou o único membro da família comprometido com a gestão do Laboratório. Como é que classifica os recursos humanos disponíveis no mercado ? Os recursos humanos no nosso país, sobretudo ao nível superior, são extremamente qualificados e com uma capacidade de trabalho extraordinária. É pena que a situação económica do país não permita potenciar as suas qualidades, devido à taxa de desemprego elevada e incerteza económica que vivemos, que conduz de alguma forma a uma retracção no investimento das empresas. Está preparado para tudo na sua vida de empresário? Estou preparado sobretudo para tentar superar dificuldades que possam surgir, bem como continuar a fazer o melhor no sentido de perpetuar este Laboratório que há tantos anos contribui, com os seus recursos humanos qualificados e tecnologia avançada, para uma saúde melhor na nossa área de actuação. Comente a situação actual do país onde vive e da sua região em particular. Somos um país em dificuldades económicas graves no momento que atravessamos. A nossa economia é uma das mais endividadas do mundo, os juros consomem uma parte importante da

riqueza produzida, não permitindo libertar recursos tão importantes para um crescimento económico saudável. Além disso, temos um problema crónico e estrutural de falta de crescimento ou crescimento ténue, o que ajuda a condicionar a prosperidade do nosso país. Há que haver muito rigor por parte de quem nos governa, no sentido de, no futuro, todos possamos ter uma vida melhor e, se possível, erradicar o flagelo da pobreza.


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“Nunca prometo quando penso que não vou cumprir”

José Veiga Maltez Médico e presidente da Assembleia Municipal da Golegã Fale-nos da sua vida profissional e da forma como lá chegou. A minha vida profissional poderá resumir-se em duas palavras: “Médico – Autarca”! Ingressando na Faculdade de Medicina de Lisboa, seguindo o exemplo de meu pai, após a licenciatura, em 1981, comecei a minha prática médica, no Hospital de Santa Maria, trabalhando ainda na Clínica de São João de Deus, em Lisboa, tendo optado posteriormente pela carreira de Clínica Geral, por concurso público, ficando médico do Centro de Saúde de Torres Novas (donde saí como Assistente Graduado, com o grau de Consultor em Clínica Geral), concomitantemente com consultório na Golegã. Em 1997, aceitei o convite do Partido Socialista para me candidatar à presidência da Câmara Municipal da Golegã, tendo iniciado o meu ciclo autárquico em Janeiro de 1998. No ano de 2013 terminei, por imposição legal, 16 anos de presidência da câmara municipal, ano em que fui eleito presidente da Assembleia Municipal da Golegã, cargo que mantenho, além de me continuar a dedicar à criação de cavalos, desempenhando também funções de Assistente da cadeira de Geriatria da Faculdade de Medicina da Universidade Clássica de Lisboa. Actualmente presido à direcção da Associação Nacional de Turismo Equestre, à direcção da Associação Portuguesa de Criadores de Raças Selectas e ao Conselho de Administração da Lusitanus – Turismo Equestre S.A. A família ajuda e é parte importante da estratégia profissional? A família é sempre um pilar e um escudo que, muitas vezes, por aquilo que empresto no dia-a-dia ao meu labor profissional, quer por uma questão educacional, quer cultural, é relegada.

Como classifica os recursos humanos disponíveis no mercado? Se, de uma forma geral, existe uma melhor preparação teórica nas novas gerações, na prática, muitas vezes, revelam-se aquém das expectativas que imaginaram e criaram quando entram no mercado de trabalho. Hoje com um mercado cada vez mais exigente, geralmente só quem tem qualidade é que nele terá maiores possibilidades de se afirmar. Está preparado para tudo na sua vida profissional? A vida é uma aprendizagem contínua. Penso que estou preparado para as vicissitudes e obstáculos que se me podem deparar, estando certo que poderão surgir situações que requeiram uma abordagem diferente da normal, estando sempre aberto, por isso, à reflexão e conselhos sobre a solução a tomar. Comente a situação actual do país onde vive e da sua região em particular. A situação do país é também consequência da situação europeia e mundial. É um país cujo estado de espírito, nos últimos anos, alterna entre a angústia e a instabilidade. Falta liderança, falta confiança, falta “elite” e “referências”!! Sobretudo a falta de credibilidade nos políticos de um país, cujos governos se apresentam por alternância e não como alternativa. Essencialmente há ausência de estadistas e presença “forçada” de políticos de pouco nível e credibilidade. Qual a tradição que nunca podemos deixar morrer? Não devemos deixar morrer um conjunto de comportamentos, costumes e memórias que determinam a cultura da comunidade onde nos inserimos. O respeitinho é muito bonito? É um dos valores mais importantes da interacção social. A beleza é fundamental? Essencial, aliás sou um esteta por excelência!! O ensino do fandango devia ser obrigatório nas escolas ribatejanas? Como sabe, enquanto presidente de câmara e responsável pelo pelouro da Educação, instituí, em 1998, a Equitação, como Actividade de Enriquecimento Curricular (AEC) nas escolas básicas do concelho, ou não estivéssemos nós na Capital do Cavalo. Poderia ser pertinente o ensino do fandango, como opção na AEC de Música, por exemplo. O Facebook e as outras redes sociais melhoraram a sua vida? Não melhoram a minha vida, ter-lhe-ão dado mais qualidade por algo que gosto, ou seja, socialização, interacção e aproximação. Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer? Como me deito tarde, já que gosto de pensar, reflectir, “estudar” e escre-

ver, quando os “outros” estão a dormir, e não muito cedo me ergo, terá sido por isso que não passei de 1,69 m. O que tem que fazer um homem para ser um verdadeiro homem? Sobretudo ter carácter, pois um Homem sem carácter não é um Homem, é uma coisa. O que seria para si uma tragédia? Algo contra natura, tal como um filho “ir à frente” do pai. Quem lhe contava histórias quando era criança? O meu padrinho de baptizado, na maioria das vezes. Fazem falta mais mulheres na política? O que faz falta é a correcção e a honestidade, a clareza e a transparência, o profissionalismo e as qualidades humanistas, seja mulher ou homem. Sente que seria capaz de ser um bom primeiro-ministro? Nunca poria essa hipótese! Quais as qualidades que mais aprecia numa pessoa? Personalidade e honestidade intelectual. Qual a promessa que fez a si próprio mais vezes no início de cada ano e que vai continuar a fazer porque ainda não conseguiu cumpri-la? Nunca prometo, quando penso que não vou cumprir… Nem a mim próprio!! Como é um dia bem passado? Quando atinjo as metas a que me propus, fazendo disso um momento feliz. Quais os personagens históricos que mais despreza? Hitler e os seus “algozes”, entre os primeiros que mais desprezo, antes de Estaline, vindo depois todos aqueles que violaram os direitos humanos, massacraram e executaram. O que é bom é para se ver? É, mas o fruto “escondido” [proibido] é o mais apetecido. Qual a sua actividade preferida? Não tenho nenhuma preferida, pratico várias actividades de que gosto, nomeadamente montar a cavalo, andar de moto e conduzir os meus clássicos, entre outras, como escrever ou desenhar. Alguma vez escreveu um poema? Já, mas dei-me melhor com a prosa. Há alguma coisa pela qual ainda valha a pena lutar até à morte se necessário for? Pelos meus filhos… Tem alguma superstição? Uma que herdei de meu pai… não pôr um chapéu em cima da cama! Durante quanto tempo é capaz de guardar um segredo? Depende do segredo, apesar de que se tratando de um segredo, é para se guardar. Ir comprar roupa ou calçado dá-lhe prazer? Muito relativo e prefiro comprar tudo de uma vez, do que ir às lojas muitas vezes. Alguma vez pediu o livro de reclamações? Nunca. Prefiro, olhos nos olhos, reclamar. O mundo vai ter que falar mandarim

ou os chineses é que vão passar a falar inglês? Com a perda da soberania histórica europeia já nada me admira. A Justiça é igual para todos? Não. Qual o seu prato preferido de bacalhau? Bacalhau Dourado. Sabe algum refrão de uma cantiga do Quim Barreiros? “O pau caiu na panela … está junto do coentro” Alguma vez frequentou uma praia de nudismo? Não. Este Mundo está perdido? O Mundo não, as pessoas é que por vezes se “perdem”. O que gostava de fazer e não faz para não cair no ridículo? Tirar o capachinho a alguém que cai no ridículo ao usá-lo. O que sente quando vê pessoas a pagar promessas de joelhos em Fátima? Algo de cristianismo histórico primitivo … “pagão”! Sente-se livre? Não me sinto, nem conheço ninguém. Quantos verdadeiros amigos acha que tem? Quatro ou cinco?


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“A videovigilância não previne o crime porque isso só se consegue com a transmissão de valores”

Rui Rosa Administrador do Centro Comercial W Shopping em Santarém Sente que seria capaz de ser um bom primeiro-ministro? No abstracto acredito que sim, na realidade não é uma função que está num patamar de responsabilidade e de conhecimento tal que me colocaria sérias dificuldades e alguma incapacidade para o desempenho que o país exige. É importante termos noção das nossas capacidades e aceitar com humildade as nossas limitações e, muito honestamente, gostava de ver replicada esta linha de pensamento, até mesmo no parlamento. Quais as qualidades que mais aprecia numa pessoa? Bom senso, verticalidade de carácter, simpatia e cordialidade. Qual a promessa que fez a si próprio mais vezes no início de cada ano e que vai continuar a fazer porque ainda não conseguiu cumpri-la? Tudo o que prometo a mim próprio é integralmente cumprido, respeito pelo próximo e ter um desempenho profissional rigoroso, dedicado, crescendo sem esmagar o outro. Qual é o seu maior defeito? Ser perfeccionista comigo próprio e, em alguns momen-

tos, dar demais de mim. Quais os personagens históricos que mais despreza? Todos aqueles que de um modo ou outro atentaram contra a vida humana e seus valores. O que significa a expressão “Gozar a vida”? Desfrutar da família, dos amigos, de uma cumplicidade social saudável. Sabe o que anda a fazer neste mundo? Em nenhum momento da minha vida tive dúvidas: no plano pessoal, a consolidar um projecto família no seu sentido mais abrangente, garantindo o conforto, a transmissão de valores aos meus filhos, o crescimento intelectual, isto é, crescer em idade mas também em maturidade. Profissionalmente, com o melhor desempenho que consiga, a aportar valor aos projectos que dirijo, executando com brio as responsabilidades que me são cometidas. O mundo vai ter que falar mandarim ou os chineses é que vão passar a falar inglês? Os chineses vão ter necessariamente que passar a falar inglês. A Justiça é igual para todos? Em alguns momentos tive dificuldade em pensar que sim, hoje acredito que o sistema judicial é independente e funciona bem. Os recentes casos que envolvem políticos e figuras públicas são a clarividência da mudança. Qual o seu prato preferido de bacalhau? Bacalhau assado com batata a murro e torricado. Subscrevia uma proposta para termos outro hino nacional? Não, de todo. Este Mundo está perdido? Perdido não, mas carente de valores, de respeito, de civismo, de cidadania. Alguma vez assistiu a uma tourada ao vivo? Assisto anualmente a algumas touradas em Portugal, aprecio toda a envolvente de uma Corrida à Portuguesa, desde os cavaleiros aos bandarilheiros, dos forcados aos campinos. O que gostava de fazer e não faz para não cair no ridículo? Nada do que eu gostas-

se de fazer e não faço é passível de ser considerado ridículo, logo não o faço por motivos de outra ordem. Sendo o preço médio de mil litros de água da rede um euro e meio podemos dizer que a água está cara? Julgo que sim, todavia nem o seu preço tem condicionado um comportamento de uso mais eficiente, naquilo que é uma preocupação premente da humanidade, a escassez de água. O que sente quando vê pessoas a pagar promessas de joelhos em Fátima? Respeito. Respeito pela religião, pela sua fé, pelo desespero que muitas vezes as leva a fazê-lo. Sente-se livre? Perfeitamente. A instalação de câmaras de vídeo vigilância é uma boa maneira de combater a criminalidade? É lógico que não. É residual o seu valor em termos de prevenção, muito menos em termos de combate. O problema da criminalidade é bem mais profundo. A sociedade, as escolas, os lares e os valores que cada um deles respectivamente transmite são a melhor resposta para o combate à criminalidade. O Facebook e as outras redes sociais melhoraram a sua vida? Essencialmente pelo facto de me terem possibilitado encontrar alguns velhos amigos, pela partilha e pela actualidade. Gosta de uma boa discussão? Aprecio uma boa discussão, como assistente e também como participante. Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e

faz crescer? Inequivocamente e faço-o sempre que posso… O que tem que fazer um homem para ser um verdadeiro homem? Plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho… quando escrever o meu livro, acrescentarei: emprestar algum tempo à causa pública, ao associativismo, a causas solidárias. Lembra-se da última vez que usou a bicicleta como meio de transporte? Todas as semanas passeio de bicicleta com o meu filho mais novo. Quais as tradições que nunca podemos deixar morrer? Desde o Fado à Tauromaquia, passando pelo Folclore, do vinho tinto ao azeite, da filigrana à cerâmica e das festas às romarias, Portugal tem um legado enorme de tradições a manter. O respeitinho é muito bonito? Não dito dessa forma, mas o respeito é muito bonito, o respeito pelo outro, o respeito pela nossa cultura, pelas nossas tradições. A beleza é fundamental? A beleza é importante mas não fundamental. Fundamental são os valores que aportamos, a índole, o carácter. O que seria para si uma tragédia? Ficar precocemente impossibilitado de desenvolver a minha actividade profissional ou incapacidade para um quotidiano normal. Quem lhe contava histórias quando era criança? A minha Mãe. Quem gostaria de ser se não fosse quem é? Talvez... o Rui Rosa. Fazem falta mais mulheres na política? Não deveria haver Lei da Paridade para definir o número de mulheres na política. Os talentos, independentemente das quotas ou do género, deveriam ser aproveitados. O que é bom é para se ver? Sem dúvi-


45 | 19 Novembro 2015 da… quando conseguimos. Gosta de ir votar? Naturalmente que sim, faço-o escrupulosamente desde que tal me foi possível. É um dever cívico, um acto de cidadania que me deixa conforto. O voto é a essência da democracia. Alguma vez escreveu um poema? Muitas vezes escrevi um poema. Há alguma coisa pela qual ainda valha a pena lutar até à morte se necessário for? Vale a pena, parafraseando Baden Powell, fundador do Escutismo, lutar por “deixar o mundo um pouco melhor do que o encontrei”… e tenho esta máxima sempre presente. Tem alguma superstição? Absolutamente nenhuma. Durante quanto tempo é capaz de guardar um segredo? Para a vida. “Só com o inestimável apoio e compreensão da família se conseguem alcançar objectivos profissionais” Como tem sido o seu percurso profissional? Iniciei a minha carreira profissional nos serviços administrativos de uma indústria metalomecânica de referência a nível nacional e também internacional onde me destaquei na área de contabilidade, mais tarde como Chefe de Serviços e na Direcção Administrativa e Financeira onde, após cerca de 20 anos se fechou o ciclo da Indústria para ingressar na área da gestão de Centros Comerciais, inicialmente num Outlet, também ele de referência a nível nacional, tendo há cerca de 5 anos sido convidado pela JLL ( Jones Lang LaSalle) para a gestão do W Shopping em Santarém. Estudo, dedicação, empenho, resiliência e disponibilidade são alguns dos factores que contribuíram para, paulatinamente, me ir realizando profissionalmente,

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numa verdadeira entrega aos projectos, vivendo-os, sentindo-os! A família ajuda e é parte importante da estratégia profissional? A família é parte integrante de um projecto de vida, logo está também associada directamente ao projecto profissional; são duas coisas indissociáveis, o bem-estar de uma condiciona a outra e vice-versa, pelo que a melhor estratégia é o equilíbrio harmonioso da vida profissional e pessoal. A dinâmica profissional de hoje exige muito de todos nós, pelo que só com o inestimável apoio e compreensão da família se conseguem alcançar os objectivos. Como é que classifica os recursos humanos disponíveis no mercado ? Classifico-os de bem preparados, capazes de enfrentar desafios, mas com falta de oportunidade para poderem mostrar as suas capacidades. Está preparado para tudo na sua vida profissional? Ao longo da minha vida tenho provado que sim, superando dificuldades, vencendo obstáculos. Comente a situação actual do país onde vive e da sua região em particular. No plano nacional vivemos neste momento a angústia da incerteza do que pode resultar do quadro político actual, e que venha a ditar inflexão no sentido de retoma que a economia denota. No plano regional com grandes desafios pela frente que passam pela atracção de indústria, pela dinamização do comércio, por uma aposta forte no Turismo. Santarém tem um potencial enorme, o seu património, a sua oferta gastronómica, o Tejo, a Lezíria, os vinhos, a oferta cultural e religiosas, são argumentos que devem ser articulados potenciando o desenvolvimento turístico, através de um rigoroso processo de planeamento do mesmo.


O MIRANTE | Edição comemorativa do 28º aniversário

“A liberdade está dentro de nós”

Fernando Fernandes Sócio-gerente da SLI - Escola Internacional de Línguas, Santarém Fale-nos da sua vida de empresário e da forma como chegou a este negócio? No início do ano de 2012 decidi abrir uma escola de línguas. Inicialmente pensei fazê-lo em Lisboa, porque julgava que o mercado na cidade de Santarém estaria saturado. Durante a fase de busca de informação e de instalações soube que haveria uma oportunidade para entrar no mercado em Santarém. De imediato mudei o plano de negócio e implementei-o aqui na cidade onde resido há 25 anos. A minha experiência como empresário é ainda pequena, mas gostaria de destacar a credibilidade, o rigor e a liderança que me advém dos quase 30 anos como oficial do Exército e dos 10 anos como professor de ensino superior. A SLI tem usado a marca “Escola Internacional de Línguas” possuidora de elevada credibilidade que ultrapassa os limites regionais. Por isso obviamente seguiremos a filosofia que a marca encerra. Ao fim três anos de vida com resultados positivos de parece-me que deveremos continuar e aprofundar a estratégia que definimos em 2012 para a nossa Escola. A família ajuda e é parte importante

da estratégia empresarial? No nosso caso a família é essencial em três aspectos. Em primeiro lugar é o que nos faz mover para traçar objectivos ambiciosos e atingi-los, em segundo lugar é o elemento fundamental de estabilidade que permite a concentração nos assuntos empresariais e, finalmente, a família está presente na estrutura societária e na direcção dos assuntos empresariais. Como classifica os recursos humanos disponíveis no mercado? Concordo com a afirmação da maioria das pessoas de que vivemos num tempo em que os recursos humanos disponíveis têm cada vez mais acesso a informação e têm cada vez mais formação profissional. Mas, infelizmente, o terem crescido com algum proteccionismo das famílias e do Estado leva a que sinta falta de resiliência e adaptabilidade para lidar com situações novas. Por outro lado, esta facilidade de acesso a grandes volumes de informação com enorme rapidez, e sozinhos (com o seu telemóvel, computador ou smartphone), veio reduzir a criatividade e a capacidade para trabalhar em grupo. Curiosamente, o mercado, percebendo isso, lançou as drop box, as clouds e afins… que mais não são do que formas de colmatar esta brecha e simular que se trabalha em grupo. Está preparado para tudo na sua vida de empresário? Com certeza! Sou um sobrevivente e uso o meu treino e a minha experiência militares para enfrentar situações adversas e dificuldades. O futuro está em frente e é lá que eu quero ser feliz. Comente a situação actual do país onde vive e da sua região em particular. O país vive uma situação de saída muito difícil. Por um lado temos um sistema político completamente desadequado da realidade actual que necessitaria de ser mudado. Sempre nos queixámos dos 48 anos de fascismo, mas vivemos agora há 41 anos num sistema, copiado da 4ª república francesa, desenhado para a revolução de 25 de Abril de 1974. No entanto, esse sistema já tinha sido considerado inadequado e substituído pela 5ª república francesa há mais de uma década, em 1958.

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Por isso considero que seria hora de mudar para um sistema em que o Presidente fosse executivo, à semelhança do que se passa na França, na Alemanha e nos Estados Unidos da América. A quantidade de ex-ministros e ex-presidentes da República que são pagos pelo Estado seriam mais que suficientes e adequados para constituírem uma câmara alta de senadores que ficasse titular dos poderes de arbitragem e supervisão do actual Presidente da República. Por outro lado, haveria que reduzir drasticamente a quantidade de deputados e de titulares de cargos públicos, bem como o número de membros dos seus gabinetes e demais mordomias. O financiamento das eleições deveria apenas ser possível no seu ciclo normal e dever-se-ia acabar com o financiamento público permanente dos partidos. Aos titulares de cargos públicos deveria estar vedado o acesso a cargos de direcção e assessoria em empresas públicas e privadas durante um período adequado (5 anos?), após o termo do seu cargo em funções públicas, para evitar o favorecimento e o uso de posição/informação privilegiada. Haveria que devolver as competências aos ministérios, que mantêm todos os seus quadros, muitos deles bastante competentes e acabar com os estudos e assessorias externas que quase duplicam os gastos públicos. Torna-se ainda necessário e urgente definir padrões mínimos de experiência técnica para os titulares de cargos públicos. O nível político tem que ser claramente definido, evitando a promiscuidade que muitas vezes se verifica, com nomeação de políticos para cargos técnicos para os quais não têm nem experiência nem formação adequadas. A região do Ribatejo beneficia da proximidade da capital e de todas as maiores infraestruturas de apoio e de acessibilidades de enorme qualidade e disponibilidade. Em conjunção com essas vantagens apresenta excelentes condições para a fixação de famílias jovens e muito elevada disponibilidade de mão-de-obra com excelente qualificação. A pertença à NUT II-Alentejo deveria permitir melhor acesso a fundos comunitários e uma actividade empreendedora muito mais activa. Apesar disso, a vitalidade da região deveria ser muito mais visível e mais significativa no

quadro nacional, para obter alguma vantagem relativamente a regiões vizinhas. Viu algum filme do cineasta Manoel de Oliveira do princípio ao fim? Infelizmente não. Não sou cinéfilo. Lembro-me, no entanto, de alguns que vi quase completos. O que seria para si uma tragédia? Já provei o sabor amargo de importantes perdas prematuras. Mas, para mim, uma enorme tragédia seria perder uma filha. O que é bom é para se ver? Claro que sim. O que é bom e o que é bonito. Mas com regras. Acredito no princípio de que não devemos ferir a susceptibilidade dos outros em espaço público. Em espaço próprio devidamente referenciado, com certeza que o que é bom e bonito é para se ver! Fecha a água enquanto escova os dentes ou enquanto se ensaboa no banho? A preocupação ambiental está sempre presente na minha família. Por isso as torneiras de fecho rápido fazem parte do equipamento quer na escola quer na residência e uso-as para fechar enquanto escovo os dentes, me ensaboo ou me barbeio. Alguma vez assistiu a uma tourada ao vivo? Sim. Embora não seja aficionado, considero que a tourada é parte integrante da cultura da região onde nasci, cresci e vivo e acho que dificilmente se manteria a criação dos touros de lide se não fosse a tourada. Quem lhe contava histórias quando era criança? As histórias de criança, na aldeia, à volta da lareira eram contadas pela minha mãe. O meu avô também era um excelente contador de histórias. Nas safras agrícolas havia sempre algumas vizinhas que também contavam algumas boas histórias. O que gostava de fazer e não faz para não cair no ridículo? Gostaria de voltar a ser criança, com enorme simplicidade, a brincar muito e sem grandes preocupações. De quantas horas de sono precisa para acordar bem-disposto? Durante a minha vida sempre me habituei a dormir muito pouco e, muitas vezes, de forma repartida. Dormir pouco e quando possível. Por isso acordo sempre bem-disposto, mesmo se dormir pouco. Gosto, no entanto, de dormir sete ou oito horas. Alguma vez sentiu orgulho em ser cidadão europeu? Na verdade, neste aspecto,


47 | 19 Novembro 2015 continuo a ter aquele sentimento de apego a Portugal. Acredito na Europa das Nações. Considero que esse possível orgulho de ser cidadão europeu serve mais a burocracia e os burocratas instalados confortavelmente em Bruxelas do que o cidadão comum. A Justiça é igual para todos? Claro que não! Veja-se os casos mais recentes. Alguns têm de passar o seu tempo na prisão, mesmo por crimes menores. Outros podem pagar cauções, optar por prisão domiciliária ou por outras medidas de coacção. Além disso uns podem pagar os melhores defensores. Outros nem a defensor oficioso têm, por vezes, acesso. Quando era criança sonhei com isso de justiça igual para todos. Mas depois cresci e caí no Mundo real… À mesa, de que lado do prato é que deve ser colocado o telemóvel ou smartphone? Pode ser colocado em qualquer lado, desde que esteja desligado, ou, no mínimo, em silêncio. É muito raro tomar uma refeição sozinho e incomoda-me as pessoas que passam o tempo na mesa mas sempre a usar os aparelhos eletrónicos de comunicação. Sabe algum refrão de uma cantiga do Quim Barreiros? Quim Barreiros e muitos outros cantores do género fazem parte da nossa cultura e independentemente de sermos ou não seus fãs somos bombardeados com essas músicas diariamente. Naturalmente que alguma coisa há-de ficar… Acabam por ser recordados alguns refrões um pouco maliciosos que ele usa nas suas canções e as músicas que nos fazem mexer. Ler jornais é saber mais? Com certeza! Mas não é apenas ler jornais. É ler jornais, ler revistas e ler livros que nos faz saber mais. Encontrar o mix perfeito é o segredo do sucesso na aprendizagem e no conhecimento. Sente-se livre? A liberdade está dentro de nós. Por isso sinto-me livre, com aquela liberdade que me vem do íntimo. Embora deva confessar que é uma liberdade condicionada pelas minhas escolhas pessoais. Alguma vez escreveu um poema? Escrever poemas, especialmente sonetos, faz parte dos meus hábitos em alturas de alegria ou de tristeza extremas. O que tem que fazer um homem para ser um verdadeiro homem? Não existe forma perfeita de definir um verdadeiro homem. Ao longo da minha vida conheci verdadeiros homens, alguns na simplicidade da vida da aldeia, outros na complexidade dos corredores do poder ou das lides universitárias. Para ser considerado um verdadeiro homem, ele deve ter marcado positivamente um grande número de pessoas que o rodeiam, através dos afectos, dos valores transmitidos, do conhecimento ou da obra efectuada.

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“Um homem para ser um verdadeiro homem deve fazer a sua vida sem prejudicar os outros”

Carlos Baptista Presidente do Conselho de Administração da Técnourem Fale-me da sua vida de empresário e da forma como chegou a este negócio? A minha entrada neste negócio foi resultado de uma progressão natural do curso de Engenharia Civil e por influência familiar através do meu pai. A ajuda da família no percurso profissional foi e é fundamental. Como é que classifica os recursos humanos disponíveis no mercado? Existem recursos humanos com habilitações académicas, de grande qualidade, fundamentalmente os jovens mas os profissionais das diversas especialidades cada vez estão menos disponíveis no mercado em virtude de

se ausentarem para a Europa. Consequência disso, é que os profissionais de menor qualidade ficam por cá. Somos um país maravilhoso, plantado à beira mar… no entanto, necessitamos de mais competência naqueles que orientam os destinos tanto do país como da região onde vivo. Está preparado para tudo na sua vida de empresário? Completamente. Viu algum filme do cineasta Manoel de Oliveira do princípio ao fim? Não, mas por nenhum motivo em particular. Quantos verdadeiros amigos acha que tem? Não consigo quantificar… no entanto, são bastantes. Alguma vez pediu o livro de reclamações? Não. Sente-se livre? Não. Quantas vezes muda de canal por noite quando está a ver televisão? Muito poucas. Se vir alguém deitar lixo para o chão diz-lhe alguma coisa? Sim, chamo a atenção. Qual o seu prato preferido de bacalhau? Bacalhau cozido com batatas e ovo, acompanhado com salada de alface. Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer? De modo algum. O mundo vai ter que falar mandarim ou os chineses é que vão passar a falar inglês? A força do inglês vai manter-se por muitos anos. Não podemos esquecer que o português é a terceira língua mais falada em todo o mundo!

• Clínica Geral - Drª Francelina Peixoto / Dr. João Chantre Lima • Cardiologia - Dr. David Durão • Cirurgia Vascular - Dr. Augusto Ministro • Consulta da Dor - Drª Elsa Verdasca • Dermatologia - Drª Joana Parente • Fisiatria - Drª Fernanda Gabriel • Gastroenterologia - Dr. Rui Mesquita

O que seria para si uma tragédia? Acabar o mundo, tudo o restante é ultrapassável. Em sua casa já se faz a separação do lixo? Sim, por grupos. Qual a tradição que nunca podemos deixar morrer? A noite de Natal e o Domingo de Páscoa. Adoro grandes reuniões familiares. A instalação de câmaras de vídeo vigilância é uma boa maneira de combater a criminalidade? Não. Apenas pode facilitar a posterior investigação Sendo o preço médio de mil litros de água da rede um euro e meio podemos dizer que a água está cara? A água não está cara. As taxas indexadas à água é que estão caras, nomeadamente lixo, saneamento, etc. Fecha a água enquanto escova os dentes ou enquanto se ensaboa no banho? Sim. Tem alguma tatuagem ou já pensou em fazer uma? Não tenho nenhuma tatuagem nem nunca ponderei fazer alguma. O que gostava de fazer e não faz para não cair no ridículo? Considero que faço tudo o que gosto. Subscrevia uma proposta para termos outro hino nacional? Porque não? O que tem que fazer um homem para ser um verdadeiro homem? Um homem para ser um verdadeiro homem deve fazer a sua vida sem prejudicar os outros.

• Neurocirurgia - Dr. Luis Távora • Oftalmologia - Dr. Joaquim Nunes • Psicologia Clínica - Drª Carla Ferreira / Dr.ª Susana Carvalho • Ortopedia - Dr. Rui Faustino • Pediatria - Drª Dina Eiras • Urologia - Dr. Martim Justo • Acupunctura - Dr. Rui Crisóstomo

• Fisioterapia - Ft. Gonçalo Batista • Terapia da Fala - Drª Maria João Pedro • Endocrinologia - Dr.ª Sílvia Saraiva • Homeopatia - Dr.ª Cristina Pombo • Pneumologia - Dr. João Roque • Consulta úlcera de perna e do pé Enfª Virgínia Linhares • Serviços de Enfermagem


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“Sou incapaz de passar um dia sem saber o que se passa em Portugal e no resto do Mundo”

André Tavares Director Adjunto do Centro Comercial W Shopping em Santarém

Q

ual a tradição que nunca podemos deixar morrer? A nível pessoal não posso deixar de assinalar a entrada de touros em Quinta-Feira Feira de Ascensão na minha Chamusca. Para além de ser um dia festivo, integrado nas tradicionais festa da Semana da Ascensão, é um ponto de encontro com amigos que muitas vezes só nessa data se reúnem. O trazer o campo, no seu estado mais selvagem, à vila da Chamusca é a simbiose perfeita e o reflexo da alma dessas gentes, as minhas gentes. O espírito de amizade, e adrenalina, presentes nesse momento são um recarregar de baterias apenas equivalente a umas boas férias.

A beleza é fundamental? O conceito de beleza é sempre relativo porque nos podemos remeter apenas para a beleza física ou de espírito/caracter. Sei que nesses dois campos existirão sempre opiniões diferentes e divergentes o que confesso ser óptimo dando sinal de que somos diferentes e com gostos diferentes. O ensino do fandango devia ser obrigatório nas escolas ribatejanas? Mais do que o fandango acho que devia ser obrigatório aulas de cidadania e os princípios básicos do socorrismo. O fandango faz parte de uma etnografia própria da nossa região e que felizmente continua a ter quem perpetue essa arte no tempo. O Facebook e as outras redes sociais melhoraram a sua vida? O facebook e outras redes sociais têm um papel importante na minha vida, confesso. Bem usadas são uma ferramenta importante no aproximar de amizades que por circunstâncias da vida se separaram fisicamente, sendo sempre a oportunidade de reencontrar velhos amigos que entretanto se afastaram. A criação de algumas páginas, com uma temática específica, também são importantes no conhecer de algumas pessoas com gostos, e ideais, parecidos. O bom uso é uma questão de bom senso de cada um. Já se sente à vontade a escrever com o novo Acordo Ortográfico? Não e nunca vou estar. Apenas o utilizo numa base profissional. A nível pessoal recuso-me. Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e

faz crescer? A sabedoria popular assim o diz e acredito que assim seja, como sempre tive problemas de sono não o posso comprovar. Posso me deitar cedo mas demoro sempre muito a adormecer, e acordo sempre algumas vezes durante a noite. O que tem que fazer um homem para ser um verdadeiro homem? Respeitar as diferenças dos outros e sobretudo tentar ser humilde no trato com todos, aprendendo sempre com o que os outros lhe possam transmitir. Ler jornais é saber mais? Sim, disso não tenho dúvidas. Sou incapaz de passar um dia sem saber o que se passa em Portugal e no resto do Mundo. Muitas vezes a dificuldade reside em como conseguimos interpretar essa informação visto que é muito fácil fazer juízos de valor baseados nalguma informação que nem sempre sabemos se está correcta. Fazem falta mais mulheres na política? Claro que sim, é importante começarem a surgir cada vez mais como temos visto ultimamente nalguns partidos, e com cargos máximos, nomeadamente no Bloco de Esquerda onde temos actualmente como figuras de proa algumas mulheres. Seria importante em todo o espectro político nacional essa afirmação que deveria ter uma base igualitária entre géneros. Quais as qualidades que mais aprecia numa pessoa? Humildade, sinceridade, inteligência e sentido de humor. Qual a promessa que fez a si próprio

mais vezes no início de cada ano e que vai continuar a fazer porque ainda não conseguiu cumpri-la? Chegar ao peso ideal. Qual é o seu maior defeito? Sou distraído. Como é um dia bem passado? Levantar cedo, ir comprar produtos frescos para o almoço, fazer o almoço para a família ou amigos, partilhar histórias e aventuras culminando com um belo passeio, caso o tempo permita. Em dias de mau tempo, manta e sofá a ver filmes. Mas estando acompanhado de quem gostamos é muito difícil não ter um dia bem passado. Gosta de ir votar? Gosto e faço por ir sempre, não me vejo a não votar. Respeito quem não o faz mas esse crescente número é apenas o reflexo do cada vez maior distanciamento entre o povo e a política. Qual a sua actividade preferida? Dormir, porque como é pouco quando o faço sabe-me bem. Alguma vez escreveu um poema? Devo ter escrito alguns na época de escola. Mais tarde escrevi alguns textos e alguns ensaios de teatro, de cariz mais humorístico mas que acabei por perder. Há alguma coisa pela qual ainda valha a pena lutar até à morte se necessário for? Por aqueles de quem gostamos acho que vale a pena lutar, sempre. Qual foi a sua maior extravagância? Comprar um carro em segunda mão. Tem alguma superstição? Não sou crente mas quando começam os jogos do Benfica benzo-me sempre. Durante quanto tempo é capaz de guardar um segredo? Uma vida inteira. Não consigo defraudar amizades quando me pedem para guardar segredos. O que significa a expressão “Gozar a


49 | 19 Novembro 2015 vida”? Viver a vida ao lado de quem gostamos e que tem objectivos comuns. Sabe o que anda a fazer neste mundo? Ando a traçar o meu caminho, baseado apenas em mim e não em entidades superiores que eventualmente me possam guiar através de manuais religiosos. Se vir alguém deitar lixo para o chão diz-lhe alguma coisa? Se for alguém que conheça digo na hora. Se for um desconhecido, e dependendo do tipo de lixo, faço por apanhar. Alguma vez pediu o livro de reclamações? Não. Normalmente faço por chegar algum eventual desagrado pessoalmente, mas sempre com educação. Ou então opto pura e simplesmente por não voltar ao local. O mundo vai ter que falar mandarim ou os chineses é que vão passar a falar inglês? Penso que a tendência será para o mundo falar mandarim. O ideal será estarmos preparados para falar inglês e mandarim. Neste mundo cada vez mais global, será por aí que alguém poderá marcar a diferença no mercado de trabalho. A Justiça é igual para todos? São por demais os exemplos em como a justiça, além de ser lenta, não é para para todos. Sabe algum refrão de uma cantiga do Quim Barreiros? Sei, de várias. Tem médico de família? Sim, na Chamusca. O que gostava de fazer e não faz para não cair no ridículo? Dançar e cantar. Tem alguma tatuagem ou já pensou em fazer uma? Não tenho mas já pensei fazer uma várias vezes. Tem a profissão que gostaria de ter? Quando era novo sonhava em ser forcado ou jogador de futebol. Com o passar dos anos sabia que a minha profissão teria que estar relacionada com pessoas por isso hoje sinto-me realizado profissionalmente. O que sente quando vê pessoas a pagar promessas de joelhos em Fátima? Não faço juízos de valor, respeito a sua fé tal como peço que respeitem a minha falta de fé. Sente-se livre? Sim, nunca me senti constrangido em dizer o que penso. Quantos verdadeiros amigos acha que tem? Posso dizer com o maior orgulho que são muitos. “Temos que ter uma grande capacidade de ajustamento a todos os desafios que nos possam surgir” Como foi o seu percurso profissional? Enquanto estudante, nas férias escolares de Verão, trabalhei nas piscinas municipais da Chamusca e na fábrica de transformação de tomate existente naquela vila, chamada Spalil. Mais tarde, enquanto tirava o meu curso de Marketing, Publicidade e Relações Públicas, trabalhei, em regime de part-time, como auditor de lojas do Centro Comercial Colombo. Após terminar o curso fui convidado por aquele centro comercial a integrar a sua equipa de Marketing. Posteriormente passei a integrar os quadros da SonaeSierra, tendo passado pelo Centro Comercial Vasco da Gama em Lisboa e pelo MadeiraShopping, no Funchal. Desde Fevereiro de 2013 que integro a JLL, responsável pela gestão do W Shopping, em Santarém. A família ajuda-o? A família é a base do bom desempenho profissional, bem como de tudo o resto na vida. Passa tudo pela estrutura familiar desde muito cedo com o passar de valores como a humildade, o trabalho e o respeito para com os outros. É indissociável a família do lado profissional, muitas vezes equilibram-se muito quando do lado profissional conseguimos trabalhar

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num verdadeiro ambiente familiar. Nestes 12 anos de vida profissional tive sempre a sorte, e também faço por isso, de encontrar uma verdadeira família no local de trabalho. Não tenho dúvidas de que o actual sucesso do W Shopping passa por esse espírito de partilha e amizade entre os elementos responsáveis pela gestão do projecto. Está preparado para tudo na sua vida profissional ? Nunca podemos dizer que estamos preparados para tudo. Temos que ter é uma grande capacidade de ajustamento a todos os desafios que nos possam surgir, mostrando sempre a capacidade de aprender e querer ir mais além de modo a acrescentar valor ao que fazemos. Comente a situação actual do país onde vive e da sua região em particular. Comentar a situação actual do país não é fácil. O que resultou destas últimas eleições deixou o povo ainda mais de costas voltadas para a classe política que nos governa. Neste momento o país encontra-se numa situação de banho-maria com um Governo que não oferece condições de estabilidade e isso repercute-se através de um clima de incerteza

e dúvida no futuro. Custa muito olhar para trás e ver que das pessoas que acabaram o curso comigo, em 2007, o número de quem conseguiu trabalhar na área é reduzido. É doloroso ver jovens e pais a despedirem-se num aeroporto quando buscam um futuro melhor fora de Portugal. Temos que inverter essa ideia de que os jovens para singrarem neste Portugal têm, desde muito cedo, que pertencer a uma qualquer Juventude Partidária. Existem alguns sinais de retoma na nossa economia nos últimos meses mas acho que com esta incerteza política iremos regredir, outra vez. Este país, e a maioria dos portugueses, merecia muito mais pela capacidade que tem demonstrado nestes últimos anos. Temos tido a capacidade de nos adaptar a cada crise que passa por nós. A região do Ribatejo é espelho de um país em crise mas que tem demonstrado uma capacidade de adaptação

muito interessante. Muitos filhos da Região têm regressado e tem sido possível ver um regresso à agricultura e ao trabalho no campo mas penso que o caminho a percorrer é muito grande. se tal como em Portugal se nota cada vez mais as assimetrias entre litoral e interior penso que na nossa região o mesmo se passa entre cidades e vilas/aldeias.


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“Ainda quero sentir orgulho em ser cidadão europeu”

António Godinho Director Geral da Carpintaria Mário – Vale de Cavalos (Chamusca) Fale-me da sua vida de empresário e da forma como chegou a este negócio? Este negócio foi herdado após o falecimento do meu pai, há cerca de três anos e meio. Como todas as empresas familiares a sua gestão e estratégia assenta muito na pessoa que a lidera. Quando esta pessoa desaparece fica-se numa posição muito vulnerável e quase à deriva. São momentos difíceis em que parece que tudo vai desabar. Só temos dois caminhos: ou deixamos desabar com fortes probabilidade de ficarmos soterrados ou arregaçamos as mangas e tentamos evitar o desabamento. Seguimos o segundo caminho e até agora penso que foi a decisão correcta, mas obriga a muitos sacrifícios e a falta de confiança que se vive de uma forma generalizada não nos permite sermos optimistas tanto quanto gostaríamos. A família ajuda e é parte importante da estratégia empresarial? A família é fundamental em tudo na minha vida. A estabilidade familiar e o apoio de quem nos é próximo é essencial ao equilíbrio. Só desta forma conseguimos ter a clareza necessária na tomada de decisões. Claro que nem todas são correctas mas no momento que as tomamos a nossa convicção é de que são. Como classifica os recursos humanos disponíveis no mercado? Nesta área em concreto existe escassez. Com a crise, muitos profissionais emigraram e outros abandonaram a profissão. Ser carpinteiro não é uma profissão fácil, exige esforço, dedicação e muito empenho. Hoje em dia as pessoas querem algo mais imediato, algo que se aprenda em pouco tempo.

Está preparado para tudo na sua vida de empresário? Depois de algumas provações que passamos na vida, acho que acabamos por ficar preparados, não direi para tudo mas para quase tudo. Comente a situação actual do país onde vive e da sua região em particular. A situação do país infelizmente é aquela que todos conhecemos e que todos directamente sofremos na pele. Sacrifícios e mais sacrifícios sem perspectivas de melhorias a curto prazo. Uma falta de confiança que não nos permite correr riscos. Concretamente, na minha região, a crise actual só não se fez sentir de forma mais acentuada porque, e esta é uma opinião muito particular, a nossa agricultura atravessa um momento, não direi bom mas, não tão mau quanto as outras áreas económicas. Durante quanto tempo é capaz de guardar um segredo? Não sou bom a guardar segredos. Normalmente falo sempre com alguém em quem confio. Qual o seu prato preferido de bacalhau? Bacalhau à lagareiro. Sente que seria capaz de ser um bom primeiro-ministro? Não sei se seria um bom primeiro-ministro mas com certeza seria um primeiro-ministro diferente dos que temos visto actualmente. Sou mais pelo consenso, pela união, pela estabilidade. E o que vemos na política actual tem muito pouco de bom senso. Vale tudo pelo poder. As boas ideias de hoje são más amanhã e vice-versa, não existe um caminho não existe estratégia. Quais as qualidades que mais aprecia numa pessoa? Honestidade, sinceridade, altruísmo e capacidade de trabalho. Gostaria de viver numa cidade sem semáforos nem sinais de trânsito? Estive muito recentemente numa grande cidade onde existem semáforos e sinais de trânsito, mas onde ninguém os respeita. Uma cidade com 7,5 milhões de habitantes onde o trânsito é constante seja de dia seja de noite. A conclusão que tirei é a de que o caos funciona. Claro que tudo isto é muito cultural e por cá seria impensável, pois somos muito pouco tolerantes uns com os outros. Mas respondendo à sua pergunta, e olhando um bocadinho a esta realidade que vivi recentemente e à nossa realidade, acho que prefiro uma cidade com semáforos e sinais de trânsito. Tem médico de família? Não. Quem lhe contava histórias quando era criança? A minha avó materna. Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer? É um ditado que ouvia muitas vezes

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da minha avó e dos meus pais e com o passar dos anos aprendi a dar-lhes razão. Qual a tradição que nunca podemos deixar morrer? A tradição familiar. Cada vez tornamo-nos mais egoístas e descuramos as relações familiares. O ensino do fandango devia ser obrigatório nas escolas ribatejanas? É importante mantermos as tradições mas penso que a escola deve ter outro papel. Este tipo de tradições deverá ser assegurado por outro tipo de instituições, nomeadamente associações recreativas e culturais. Quem gostaria de ser se não fosse quem é? Gostaria de ser alguém que não existe e que infelizmente nunca vai existir. Alguém que pudesse mudar o mundo e que fosse capaz de acabar com as guerras e que conseguisse unir as pessoas. Em pleno século XXI, e depois de tantas conquistas, continuamos a assistir a verdadeiras barbáries que nos deviam envergonhar a todos. A instalação de câmaras de vídeo vigilância é uma boa maneira de combater a criminalidade? Infelizmente tenho de concordar que sim. Por vezes as medidas drásticas são necessárias para fazer face ao crime. E para mim essa é uma medida drástica na medida em que nos retira alguma privacidade, mas acho que é um mal necessário. Alguma vez pediu o livro de reclamações? Sim já, uma ou duas vezes. Uma delas num casino algarvio em que nitidamente existia fraude no talão de conta emitido. O valor total não correspondia à soma das parcelas, quando alertei para a situação foi-me dado novo talão com a soma correcta mas o nome da empresa já era diferente do nome que emitiu o primeiro talão. Ler jornais é saber mais? Sem dúvida, claro que uns são mais informativos que outros. Sendo o preço médio de mil litros de água da rede um euro e meio podemos dizer que a água está cara? Acho que mais do que cara houve foi na realidade uma mudança de paradigma em relação ao fornecimento deste tipo de bem. Estávamos habituados a não pagar ou a pagar muito pouco por este tipo de bem. Com a passagem da exploração para empresas municipais o aumento foi elevado e daí a sensação que passou a ser um bem caro. Acho que os aumentos deveriam ter sido efectuados de forma mais progressiva. Alguma vez sentiu orgulho em ser cidadão europeu? Ainda quero sentir orgulho em ser cidadão europeu, mas muitas vezes interrogo-me se estamos todos de boa fé neste caminho que é a Europa unificada. E as dúvidas cada vez são mais. Qual é o seu maior defeito? Deixar muita coisa para a última hora. Mas estou a tentar melhorar. Qual a promessa que fez a si próprio

mais vezes no início de cada ano e que vai continuar a fazer porque ainda não conseguiu cumpri-la? Trabalhar menos e dedicar mais tempo a mim próprio e à minha família. Alguma vez deu sangue? Sim, sou dador de sangue embora não o faça com a regularidade desejada.


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“Acredito nas virtudes da política”

José Lopes Engenheiro civil e secretário da mesa administrativa da Misericórdia da Golegã Fale-nos da sua vida profissional e da forma como lá chegou. Assim que terminei os estudos em Engenharia Civil, iniciei funções numa empresa de construção civil e obras públicas, em direcção e gestão de obras. Do trabalho de apoio inicial à direcção de obra, comecei pouco depois a assumir na íntegra trabalhos que me foram sendo determinados. A dado momento, colaborei também numa vertente mais comercial, de relação directa não apenas com os representantes dos donos de obra, mas com os próprios, o que me conferiu naturalmente uma experiência importante. Passados 4 ou 5 anos nessa actividade, decidi dedicar-me em exclusivo a uma empresa familiar, de que já era sócio e que era então gerida pelo meu pai. Com a minha entrada passei gradualmente a assumir a sua gestão integral e, ao mesmo tempo, as funções que já antes desempenhara, apesar de a uma escala maior. Hoje, volvidos 15 anos, continua a ser a minha principal actividade, agora num contexto bem mais difícil, apesar dos notórios sinais de recuperação que, também neste sector, se vão fazendo sentir. A família ajuda e é parte importante da estratégia profissional? A minha empresa é familiar. A família teve por isso uma influência relevante em todo este processo. Hoje, passados estes anos, tem menos influência nas decisões e na estratégia a seguir. Mas ainda assim faço questão de tomar algumas decisões mais importantes em conjunto. Continua contudo a ser importante para mim sentir o seu apoio e sua confiança. A família é o meu porto de abrigo e por isso é importante em tudo o que faço. Como classifica os recursos humanos disponíveis no mercado? Depende. No sector da

construção civil, em que trabalho, nota-se uma crescente falta de qualidade nos operários. Encontro nos mais antigos, fruto de uma aprendizagem diferente, num contexto de rigor mais exigente e mais profissional, genericamente mais qualidade. O que não significa que não apareçam outros, mais jovens, devidamente preparados, mas em menor quantidade. Em funções mais técnicas, julgo que temos hoje recursos muitíssimo bons, com boa formação e muito evoluídos sob esse ponto de vista. Pena que o mercado não tenha neste momento as dinâmicas suficientes para absorver todos. Em algumas actividades específicas, directamente relacionadas com a construção civil e mais dependentes da evolução tecnológica, noto uma nítida melhoria dos recursos humanos. Está preparado para tudo na sua vida profissional ? Para quase tudo. Já passei, fundamentalmente por razões de contexto, por situações muito diferenciadas, algumas até bem difíceis. Uma empresa como a nossa, que optou por não ultrapassar uma determinada escala naquilo que é a sua dimensão, viu-se de repente, como tantas e tantas outras, perante um cenário bastante difícil com uma quebra abrupta da procura. Acresce a isso que, num sector onde a diversificação da actividade ou uma especialização particular caem num círculo mais fechado, quando comparado com outros sectores de actividade, a margem para a criatividade é nitidamente menor, além de ser um sector entregue a si próprio, ao contrário de outros. Depois de tudo isto estou preparado para quase tudo. E digo quase porque coloco, ainda, algumas reticências, por exemplo, em procurar desafios longe daqui. Razões familiares inibem-me de equacionar, para já, essa opção. Comente a situação actual do país onde vive e da sua região em particular É um país numa situação difícil e débil, que ainda recentemente passou por um longo período de assistência financeira, depois de uma situação de pré bancarrota, com todas as consequências que conhecemos e daí decorreram. Mas os portugueses têm vindo a contribuir decisivamente para a nossa recuperação, com enormes sacrifícios, e estamos hoje numa situação nitidamente melhor, a diversos níveis, face ao que estávamos há uns anos atrás. Somos um país que precisa de dar passos relevantes ao nível da competitividade e do crescimento económico e ainda, ao mesmo tempo, que tem que procurar soluções que garantam a estabilidade social e o apoio solidário aos mais desprotegidos. Julgo que consolidar tudo isso levará ainda algum tempo, já que também defendo que tal deve ser feito num enquadra-

mento de rigor das contas públicas. O pior que podia acontecer-nos a todos seria retroceder e termos que passar por tudo novamente. A nossa região, a Lezíria do Tejo, apresenta alguns índices de crescimento e de emprego acima dos registos nacionais, o que indicia que é uma região com potencial de estabilização e crescimento. O respeitinho é muito bonito? Mais do que muito bonito, é essencial. A beleza é fundamental? Para quem vive dela, será com certeza. Para outros, acredito que seja importante para a auto-estima. Para mim, não é fundamental. Mas ajuda! O Facebook e as outras redes sociais melhoraram a sua vida? Sim, sem dúvida. São excelentes meios de comunicação, até em contexto profissional. Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer? Acho que sim. Até porque, respondendo com outro adágio popular, “quem muito dorme pouco aprende”. O que tem que fazer um homem para ser um verdadeiro homem? Tem que ser íntegro, digno, sério, solidário e empenhado. Entre muitas outras características, julgo que estas farão um verdadeiro homem. O que seria para si uma tragédia? Perder alguém da minha família. O meu único medo na vida. Quantas vezes muda de canal por noite quando está a ver televisão? A minha mulher já tentou quantificar. Mas diz-me que é impossível. Quais as qualidades que mais aprecia numa pessoa? Entre as mais óbvias, que se prendem com valores, aprecio muito um sentido de humor inteligente. Qual a promessa que fez a si próprio mais vezes no início de cada ano e que vai continuar a fazer porque ainda não conseguiu cumpri-la? Ai, tantas! Fazer actividade física e uma alimentação cuidada devem estar à cabeça das promessas permanentemente adiadas. Qual é o seu maior defeito? Escolher só um é difícil! A teimosia, a rivalizar com a impaciência. Como é um dia bem passado? Desde que esteja rodeado de bons amigos e/ou da família, qualquer dia é um dia bem passado. O que é bom é para se ver? O ditado diz que sim. E eu concordo. Qual a sua actividade preferida? Gosto de política. Dedico-lhe tempo e empenho. Acredito nas virtudes da política. Alguma vez escreveu um poema? Não. Até porque a vocação não deixaria adivinhar um bom resultado. Há alguma coisa pela qual ainda valha

a pena lutar até à morte se necessário for? Claro que sim. Lutar por valores e convicções é coisa intemporal. Com o valor da liberdade à cabeça. Qual foi a sua maior extravagância? Sinceramente não me recordo. Acho que nunca fiz nada verdadeiramente extravagante. Não casa comigo. Tem alguma superstição? Não. Nunca tive. Durante quanto tempo é capaz de guardar um segredo? Eternamente, se me for pedido. O que significa a expressão “Gozar a vida”? Até aos 20 ou depois dos 40? É que o conceito vai mudando. Viajar, conhecer e experienciar, encaixam hoje nessa expressão. Alguma vez deu sangue? Dei uma vez, apenas. Tenho que responder mais aos apelos de O Mirante. Ir comprar roupa ou calçado dá-lhe prazer? Só compro quando preciso. E quando preciso dá-me prazer. Se vir alguém deitar lixo para o chão diz-lhe alguma coisa? Tenho sempre vontade de dizer. Digo só às vezes. Alguma vez pediu o livro de reclamações? Não, porque nunca senti essa necessidade. A Justiça é igual para todos? Sinto que não apesar de achar que temos evoluído nesse sentido. Qual o seu prato preferido de bacalhau? Na brasa, com batatas a murro. Adoro. Sabe algum refrão de uma cantiga do Quim Barreiros? Sei pois. Vários. Há alguém neste país que não saiba? Alguma vez frequentou uma praia de nudismo? Não. Essa não é a minha praia. O que gostava de fazer e não faz para não cair no ridículo? Dizer algumas coisas, a algumas pessoas que merecem ouvi-las. O ridículo da coisa é que isso seria uma total perda de tempo. Tem alguma tatuagem ou já pensou em fazer uma? Tenho uma, feita há muitos anos. Não quero mais. Tem a profissão que gostaria de ter? Gosto muito do que faço. Contudo, não nego que gostaria de fazer outras coisas no futuro. O que sente quando vê pessoas a pagar promessas de joelhos em Fátima? Lamento não ter uma fé assim. E um respeito profundo por essa fé. Era capaz de dar trezentos euros por uns sapatos? Não. Encontro muitas e boas soluções por bem menos. Sente-se livre? Absolutamente livre. E faço questão de jamais abdicar dessa condição. Quantos verdadeiros amigos acha que tem? Não terei muitos desses. Mas são os melhores do mundo.


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“Aderi à nova forma de consumir televisão que consiste em ver o que gosto quando me apetece”

Diva Cobra Administradora da Desmor em Rio Maior O Facebook e as outras redes sociais melhoraram a sua vida? Não tenho facebook mas uso as redes sociais institucionalmente e reconheço que são hoje essenciais e uma forte ferramenta de marketing, divulgação e comunicação. Quais as qualidades que mais aprecia numa pessoa? Honestidade, inteligência e sentido de humor… Quantas vezes muda de canal por noite quando está a ver televisão? Cada vez vejo menos televisão. Aderi completamente à nova forma de televisão que permite ver, quando quero, as séries e os programas de que mais gosto. Quem lhe contava histórias quando era criança? Deviam ser os meus pais sem dúvida. Ler jornais é saber mais? Ler é sempre saber mais. Fazem falta mais mulheres na política? Penso que, felizmente, as mulheres já têm o seu lugar na sociedade e inclusive na política. É um processo evolutivo, normal. Qual a promessa que fez a si própria mais vezes no início de cada ano e que vai continuar a fazer porque ainda não conseguiu cumpri-la? Não fazer promessas que não con-

sigo cumprir! O que tem que fazer um homem para ser um verdadeiro homem? Homem com H maiúsculo é aquele capaz de fazer algo em prol dos outros e da sua comunidade. Qual é o seu maior defeito? Devo ter vários…mas não consigo evidenciar assim... um maior defeito. Como é um dia bem passado? Entre amigos e família, sem dúvida. Qual a sua actividade preferida? Correr. Adoro correr. Há alguma coisa pela qual ainda valha a pena lutar até à morte se necessário for? Pela liberdade, mas se olharmos para as situações no mundo e para a situação particular do activista angolano em greve de fome…o até à morte torna-se bastante assustador. Qual foi a sua maior extravagância? Faço pequenas extravagâncias mas não me lembro de uma grande extravagância. Lembra-se da última vez que usou a bicicleta como meio de transporte? Nunca usei. Não sendo isso uma desculpa, creio que grande parte das nossas cidades não estão preparadas para o uso da bicicleta. Mas acho estamos a fazer esse caminho. O respeitinho é muito bonito? Essencial. A beleza é fundamental? É a beleza que nos inspira. O que significa a expressão “Gozar a vida”? É aprender com o meu gato; boa comida, lugares soalheiros e ser feliz! Alguma vez deu sangue? Não, nunca. Alguma vez pediu o livro de reclamações? Nunca pedi. Sou mais do tipo de cliente que quando não está satisfeito não reclama mas também não volta, o que é errado. Reclamar normalmente é dar uma segunda oportunidade. O mundo vai ter que falar mandarim ou os chineses é que vão passar a falar inglês? Espero que Inglês. A Justiça é igual para todos? Acredito que sim, o acesso a ela é que nem sempre é igual. Qual o seu prato preferido de bacalhau?

De forma geral gosto de todos os pratos de bacalhau. Alguma vez frequentou uma praia de nudismo? Não Tem médico de família? Sim. Tem alguma tatuagem ou já pensou em fazer uma? Não, acho que não saberia o que escolher para algo tão definitivo. O que sente quando vê pessoas a pagar promessas de joelhos em Fátima? Impressiona-me todo o tipo de fé que envolva sacrifício. Sente-se livre? Sim. Tenho a sorte de ter nascido e vivido do lado certo do mundo. Quantos verdadeiros amigos acha que tem? Muitos e bons! “Os bons recursos humanos de nada valem sem bons líderes” Como foi a sua evolução profissional? Iniciei a minha vida profissional como professora dos ensinos básico e secundário, leccionei durante 4 anos. De seguida desempenhei funções como técnica superior na Câmara Municipal de Tomar, numa primeira fase em regime de requisição. Fui durante 12 anos Chefe da Divisão de Desporto e Juventude da Câmara Municipal de Tomar e ao longo dos anos especializei-me na área da gestão da qualidade ao nível das instalações e serviços de desporto. Desde o início de 2015 abraço este novo desafio como administradora da Desmor. A minha família sempre me deu força e me apoiou. Como é que classifica os recursos humanos disponíveis no mercado? Temos claramente recursos humanos mais qualificados do

que tínhamos no passado, mas por vezes um recurso não vale por si só, temos de ter bons líderes e bons actos de gestão. Está preparada para tudo na sua vida profissional? Estamos sempre preparados para mais do que pensamos…..mas devemos ter sempre bem presentes as nossas capacidades e competências. Comente a situação actual do país onde vive e da sua região em particular. Apesar de todos os altos e baixos, das grandes dificuldades que ultrapassámos e continuamos a ultrapassar sou optimista e vejo a situação do país com esperança. Cada região tem as suas especificidades e mais-valias, temos de ter visão estratégica e actuar no sentido de as optimizar fazendo delas um factor de crescimento. Temos excelentes exemplos de áreas emergentes no nosso país, o surf, o sector vinícola, a gastronomia, temos um clima magnífico, o mar, somos um país seguro e cheio de património.


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“Ler é a forma mais eficaz de se aprofundar o conhecimento do mundo em que vivemos”

Mário Pereira Presidente da Câmara Municipal de Alpiarça Qual a tradição que nunca podemos deixar morrer? Não podemos nunca deixar morrer a saudável tradição firmada nestes

41 anos que se seguiram ao 25 de Abril: a de decidirmos democraticamente, em liberdade e através do voto, o rumo do nosso país e das nossas localidades. Gosta de uma boa discussão? Gosto. Seja no âmbito da intervenção política, seja em vários outros assuntos e interesses, como o desporto, a música, a literatura, o cinema, entre outros. Ler jornais é saber mais? Sem dúvida alguma. Ler jornais, ler livros, ler seja o que for. É a forma mais eficaz de se chegar e aprofundar o conhecimento do mundo em que vivemos. Qual a promessa que fez a si próprio mais vezes no início de cada ano e que vai continuar a fazer porque ainda não conseguiu cumpri-la? Bem, lá vai mais um “lugar comum”: a promessa de fazer mais desporto e diminuir os quilitos a mais, e que dificilmente conseguirei cumprir. Qual é o seu maior defeito? Tenho vários defeitos que não vou aqui confidenciar para não dar trunfos aos meus adversários

políticos. E se calhar ainda tenho outros que nem reconheço. Quais os personagens históricos que mais despreza? Não me parece que possa desprezar algum personagem histórico. Mas, pelo que representaram de negativo na história contemporânea, na Europa e em Portugal, de entre uma galeria quase interminável, nomeio dois: Hitler e Salazar. Durante quanto tempo é capaz de guardar um segredo? Se for a minha obrigação de lealdade guardá-lo, então será para sempre. Qual o seu prato preferido de bacalhau? Gosto de um vasto conjunto de pratos de bacalhau, que felizmente a gastronomia portuguesa nos proporciona em abundância. Assim, e por ordem de preferência: o simples “bacalhau com todos”; o “bacalhau à Braz”; o “bacalhau assado com miga fervida”; … Subscrevia uma proposta para termos outro hino nacional? Não, de forma alguma. O nosso hino, “A Portuguesa”, é muito bonito e sugestivo. Não posso imaginar um outro qualquer.


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“Esta é uma região com enormes potencialidades em diversas áreas”

Duarte Bernardo Presidente da Direcção da Escola Profissional de Salvaterra de Magos Fale-nos da sua vida profissional e da forma como lá chegou. Muito resumidamente, a minha vida profissional actual está intrinsecamente interligada com as estruturas empresariais que os meus pais, conjuntamente com outros parceiros, criaram. Para chegar onde cheguei realizei um “estágio” de 11 anos, no qual tive a oportunidade de trabalhar nos mais variados departamentos, desde a manutenção, passando pela vertente pedagógica, em diferentes entidades. Essas experiências foram, para mim, vitais. Não só no que respeita ao know-how adquirido, mas também para melhor compreender e pensar a estrutura onde me insiro. Durante este percurso tive um hiato de 2 anos e meio durante os quais trabalhei, e muito aprendi, numa empresa ligada ao sector agrícola. Um convite e a ligação afectiva aos projectos fizeram-me, posteriormente, regressar. A família ajuda e é parte importante da estratégia profissional? Sim, ajuda e é importante no pensamento da estratégia profissional. No meu caso não existe forma de dissociar. Como é que classifica os recursos humanos disponíveis no mercado? Infelizmente não os temos aproveitado convenientemente… Muitas empresas têm vindo a encerrar portas. Os países de acolhimento agradecem-nos profundamente! Recrutam mão-de-obra qualificada, preparada, competente, sem gastar, directamente, um tostão na sua formação, o que, certamente, será uma enorme mais-valia para as suas economias. Portugal não só fica com a perda do capital

investido na educação destes cidadãos, como também desperdiça, a fundo perdido, as competências técnicas que deveriam estar à disposição do desenvolvimento do país. Está preparado para tudo na sua vida profissional? Estou antecipadamente ciente dos mais variados cenários o que me permite uma melhor preparação para eventuais adversidades. Comente a situação actual do país onde vive e da sua região em particular. Embora procure ser optimista, não posso deixar de estar expectante e, simultaneamente, apreensivo. A situação actual do país depende, infelizmente, de diversas variáveis. Externas e internas. A nossa suposta soberania depende muito (para o bem e para o mal) dos compromissos que um futuro governo possa vir a estabelecer. Precisamos de um bom governo. Temos os holofotes centrados em nós e também, por diferentes razões, nos ingleses. Este timing faz-me pensar que se conseguirmos passar inputs positivos aos mercados financeiros, credores e parceiros europeus, poderemos, com astúcia e resiliência, acautelar, junto da UE condições que melhor sirvam os interesses económico-sociais de Portugal. Relativamente à área geográfica onde resido, considero-a um espaço de oportunidades, não só pelos recursos endógenos existentes, mas também pelas suas especificidades culturais, pela forte dinâmica empresarial. Considero que esta é uma região com enormes potencialidades em diversas áreas. Lembra-se da última vez que usou a bicicleta como meio de transporte? Sim, o Verão passado. Desloquei-me, em determinadas ocasiões, para o local de trabalho de bicicleta. Qual a tradição que nunca podemos deixar morrer? Reunir a família em volta de uma mesa, conviver, partilhar… A beleza é fundamental? Depende do que se entenda por beleza. É um factor bastante subjetivo. O Facebook e as outras redes sociais melhoraram a sua vida? Na minha perspectiva o Facebook é um espaço interessante como ferramenta de marketing profissional. Nesse aspecto considero ser uma mais-valia. À mesa, de que lado do prato é que deve ser colocado o telemóvel ou smartphone? Não tenho o hábito de colocar o telemóvel em cima da mesa. O que tem que fazer um homem para ser um verdadeiro homem? Ser muitíssi-

mo ambicioso. Ambicioso na procura de se tornar um homem melhor. Quantas vezes muda de canal por noite quando está a ver televisão? As vezes que forem necessárias. Até me sentir sintonizado. Quem lhe contava histórias quando era criança? A minha mãe. Quais as qualidades que mais aprecia numa pessoa? Integridade. Resiliência. Sensatez. Gostaria de viver numa cidade sem semáforos nem sinais de trânsito? Sim, porque além de outros factores, nomeadamente o desenvolvimento tecnológico que poderia estar inerente a esse pressuposto, isso significaria que viveríamos numa sociedade onde o civismo imperaria. Qual a promessa que fez a si próprio mais vezes no início de cada ano e que vai continuar a fazer porque ainda não conseguiu cumpri-la? Não faço promessas, estabeleço antes compromissos. Como é um dia bem passado? Um dia com sol acompanhado com o sorriso dos nossos entes queridos mais próximos. Gosta de ir votar? Sim. Qual a sua actividade preferida? Tocar guitarra ou bateria e escrever canções. Há alguma coisa pela qual ainda valha a pena lutar até à morte se necessário for? Sim, os filhos. Qual foi a sua maior extravagância? Na minha já tardia puberdade tive a ousadia de comprar um “posto de gasolina ambulante”! Tem alguma superstição? Não. Durante quanto tempo é capaz de guardar um segredo? O tempo que for preciso. Fecha a água enquanto escova os dentes ou enquanto se ensaboa no banho? Sim. O que significa a expressão “Gozar a vida”? Viver intensamente da melhor forma possível. Alguma vez pediu o livro de reclamações? Sim. O mundo vai ter que falar mandarim

ou os chineses é que vão passar a falar inglês? Acredito que todos irão falar Português. Ouvi dizer que se prevê, a curto prazo, uma extensão do nosso acordo ortográfico e não só! Somos um povo expansionista. Está na génese. A Justiça é igual para todos? Se não é, deveria ser. Qual o seu prato preferido de bacalhau? Bacalhau à Falcoeiro da EPSM - chefe Noélia Costa. Sabe algum refrão de uma cantiga do Quim Barreiros? Sim. Alguma vez frequentou uma praia de nudismo? Sim. Gosta de grandes reuniões familiares? Não sei, a minha família não é numerosa. Este Mundo está perdido? Não. O mundo, desde sempre, esteve assimetricamente perdido. Passamos, uma vez mais, por um período económico-social bastante conturbado. As razões são diversas mas estou convicto de que o Mundo ainda estará mais desajustado caso o cidadão comum se alheie do seu micro-cenário e não intervenha. Em sua casa já se faz a separação do lixo? Sim. Tem alguma tatuagem ou já pensou em fazer uma? Tenho imensas tatuagens que não se vislumbram à primeira vista. A vida tem-me tatuado o percurso. Tem a profissão que gostaria de ter? Gosto muito da área onde intercedo. Sendo o preço médio de mil litros de água da rede um euro e meio podemos dizer que a água está cara? Respondo com uma expressão do nosso ex-primeiro-ministro António Guterres: “façam vocês as contas”. O que sente quando vê pessoas a pagar promessas de joelhos em Fátima? Respeito, embora acredite que existam outras formas de comprometimento e auto-ajuda mais profícuas. Voluntariado, solidariedade, por exemplo. Era capaz de dar trezentos euros por uns sapatos? Não sou extravagante e a minha mulher não é exigente, mas gosta de sapatos! Quantos verdadeiros amigos acha que tem? Os suficientes, embora esteja sempre disponível para receber mais, mas apenas dessa estirpe.


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“Os recursos humanos são precários na região”

Manuel Francisco Gerente da Empresa Francicampo, Marecos - Salvaterra de Magos Fale-me da sua vida de empresário e da forma como chegou a este negócio? Fui comerciante colectado entre 1978 e 2006 em nome individual no ramo dos electrodomésticos. Em 1994 vendi um equipamento de TV via satélite a um senhor francês, representante de uma empresa que tinha como objectivo a venda de cenouras a Portugal. Conversa puxa conversa e falamos da minha exploração agrícola. Aí o senhor propôs-me fazer o cultivo de alguns hectares de batata primor em regime de experiência com vista à exportação. Os resultados foram tão bons que daí em diante não paramos de crescer, contratamos outros produtores em contratos de parceria onde fornecemos a batata de semente, prestamos assistência técnica à produção durante todo o ciclo vegetativo, para obtenção de um produto final nas melhores condições e de boa qualidade, onde asseguramos o escoamento de toda a produção da área contratada derivada. A partir de 2002 deixámos a exclusividade de exportação e começámos a explorar o mercado nacional. Presentemente cerca de 20% da produção obtida destina-se a diversos clientes do país, sendo que cerca de 80% de toda a nossa produção tem como destino as “Oliveirinhas”, uma parceria de longa data. Assim nasceu e cresceu a Francicampo Lda., activa até aos nossos dias. Com pouco mais de uma dúzia de produtores, mais de uma centena de hectares de batata primor em produção, comercializamos 240.000 kg de batata de semente, comercializamos mais de 3.600.000 de kg de batata primor com facturação superior a 900.000 euros. A família ajuda e é parte importante da estratégia empresarial? A família é preponderante e indispensável, quer na exploração agrícola, quer na Francicampo. Ambas as atividades envolvem a gestão familiar, cada elemento tem defendido a sua tarefa e responsabilidade. Como classifica os recursos humanos disponíveis no mercado? Os recursos humanos são precários na região. Cada vez é mais difícil arranjar alguém para trabalhar no campo.

Esta situação obriga ao aceleramento da mecanização agrícola. Está preparado para tudo na sua vida de empresário? A preparação para a vida de empresário é sempre relativa, tendo em conta as adversidades climatéricas e dos mercados agrícolas a ainda a própria conjuntura mundial. Comente a situação actual do país onde vive e da sua região em particular. A situação actual do país e da região é sem dúvida muito má, veja-se a saúde, a segurança social, o emprego etc... Qual a tradição que nunca podemos deixar morrer? A tradição que não podemos deixar morrer é a que herdamos dos nossos antepassados, que é respeitar e fazer respeitar. O respeitinho é muito bonito? O respeitinho é muito bonito, sim senhor. Gosta de uma boa discussão? Não gosto de uma boa ou má discussão. Evito sempre que posso. Já se sente à vontade a escrever com o novo Acordo Ortográfico? Não. Sendo uma pessoa já de idade tenho dificuldade na adaptação ao novo acordo ortográfico e também não percebo a sua utilidade. Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer? Deitar cedo e cedo erguer... esta é boa! Era a recomendação que mais se ouvia aos meus avós nas noites frias de Inverno. Menos lenha se queimava nos serões, tendo em conta que em meados do século passado não havia televisão, passatempos ou distrações. O que tem que fazer um homem para ser um verdadeiro homem? O Homem para ser verdadeiro, tem que ser honesto e igual a si próprio. Ler jornais é saber mais? Ler jornais não é passatempo, é inteirar-se do que se passa à sua volta das coisas boas e más que nos rodeiam. É uma forma de nos instruirmos é valorizarmos. Quais as qualidades que mais aprecia numa pessoa? A melhor qualidade? Respeitadora, franca, honesta. Qual é o seu maior defeito? O meu maior defeito é ter sido fumador. Gosta de ir votar? Não gosto de ir votar, sei que o meu voto não vale mais por isso. Alguma vez escreveu um poema? Sim, gosto de escrever poesia. Ao longo da minha vida escrevi muitos poemas, os quais não valorizava por não achar interesse. Também a minha vida profissional activa não me deixou tempo para escrever o que gosto. Agora na decadência da vida tenho valorizado mais

esse gosto. Há alguns anos escrevi as “Gerações Vivas” em poesia. Ultimamente escrevi “ A razão de um ser” editado em Janeiro de 2014. Em 13 de Janeiro de 2015 foi lançado o livro “Tempo de outros Tempos” e lá para o final do ano será editado “Terra de Sonhos”. Durante quanto tempo é capaz de guardar um segredo? Um segredo é para guardar toda a vida, senão não faz sentido. Fecha a água enquanto escova os dentes ou enquanto se ensaboa no banho? Tendo em conta que a água é a vida cabe-nos saber geri-la. Alguma vez deu sangue? Estamos a falar do líquido mais precioso. O sangue dá vida às nossas vidas e mantém vivo todo o ser do universo. Sou dador de sangue medalhado. A Justiça é igual para todos? Não quero contradizer ninguém mas a justiça actual é injustiça. Gosta de grandes reuniões familiares? Família sim, gosto de estar em família. Cada vez é mais raro ter oportunidade de conviver em família, de conversar enquanto os pequenos brincam, conviver com os nossos que estão mais distantes, acompanhar o crescimento dos miúdos. Alguma vez assistiu a uma tourada ao

vivo? Sim, gosto de uma boa tourada ao vivo ou não fosse ribatejano. O que sente quando vê pessoas a pagar promessas de joelhos em Fátima? Sendo crente por afinidade confesso que me causa algum desconforto por ver e sentir o sofrimento das pessoas.


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“O respeitinho é muito bonito mas a subserviência é muito negativa”

Carlos Coutinho Presidente da Câmara Municipal de Benavente Fale-me da sua vida profissional e da forma como lá chegou? A minha profissão é empregado bancário e ingressei nos quadros de Caixa de Crédito Agrícola, de Samora Correia, onde fiz o meu percurso profissional. Em 1998 fui convidado pelo então presidente da câmara para integrar o projecto autárquico da CDU e concorrer às eleições autárquicas que se realizaram em 1997. Fui eleito, integrei o executivo da Câmara Municipal de Benavente, fazendo depois parte de sucessivas listas, e fui sendo eleito como vereador até 2013, ano em que encabecei a lista da CDU que veio a merecer a confiança por parte da população de Benavente. Fui eleito presidente da câmara, lugar que desempenho agora com muito agrado e com muita dedicação, fazendo o melhor que é possível em prol do desenvolvimento do nosso município e do bem-estar da nossa gente. A família ajuda e é parte importante da estratégia profissional? A minha família é importantíssima neste percurso, nomeadamente agora enquanto presidente de câmara. Mas mesmo como vereador já era assim, os eleitos não têm uma vida com um horário definido e há dedicação praticamente exclusiva e obviamente que a família muitas vezes fica para um segundo plano. Só com grande compreensão e grande capacidade de ajuda é possível manter a harmonia familiar e ao mesmo tempo desempenhar funções que são tão exigentes. Como classifica os recursos humanos disponíveis no mercado? Bom, eu creio que é sabido que temos 40 anos de democracia, mas são 40 anos após um período obscuro da nossa vida política e social, em que muitos não tinham acesso a formação superior e ainda hoje vivemos essas dificuldades. Creio que hoje o país estará melhor preparado, mas que ainda há um caminho importante a prosseguir nomeadamente no que diz respeito a algumas profissões onde se nota a ausência de bons profissionais. Nos últimos anos terão sido descuradas profis-

sões que são importantes. Precisamos, por exemplo, de bons serralheiros, de bons soldadores, de bons pedreiros, entre outros. Está preparado para tudo na sua vida profissional? Preparado para tudo não. Hoje a vida profissional é feita na base de necessidades e é cada vez mais competitiva, onde os direitos dos trabalhadores são postos em causa e onde muitas vezes se exige muito e se dá pouco. Necessariamente, tanto eu como qualquer outra pessoa que tenha brio profissional gostará de desempenhar bem as suas funções. A dignidade no trabalho deve ser algo que não devemos perder de vista na organização da nossa sociedade que, infelizmente, tem caminhado no sentido de desvalorizar essa dignidade. Portanto não podemos dizer que estamos preparados para tudo na vida profissional. O mundo é cada vez mais competitivo, mas não pode valer tudo. Comente a situação actual do país onde vive e da sua região em particular. O país vive ainda uma situação muito difícil e as políticas de austeridade prosseguidas tiveram um efeito social terrível também em consequência do agravamento do desemprego. O desemprego que é necessário perceber e caracterizar convenientemente, é de longa duração e eu direi que isso leva à exclusão social de uma fatia considerável da nossa população. Essa é uma dificuldade muito grande que estamos a viver e com sérios reflexos sociais. A nossa região e o nosso município sentiram esses problemas num momento importante da nossa vida política, e espero que possamos inverter este rumo. Penso que devemos encarar este próximo futuro com confiança, mesmo sabendo que nos esperam ainda muitas dificuldades, que a situação económica, financeira e social do país é muito grave mas eu creio que a esperança se constrói com a disponibilidade de todos e é algo que não podemos perder de vista. Encaro o futuro com optimismo e esperança, a esperança que podemos ter dos empresários, das Mulheres e dos Homens do nosso país. O respeitinho é muito bonito? O respeitinho é muito bonito mas a subserviência é muito negativa. Creio que devemos respeitar todos, mas sem deixar de afirmar a nossa personalidade. A beleza é fundamental? A beleza é fundamental e obviamente que o ser humano valoriza a beleza, enquanto factor estético. Mas acho que também devemos valorizar a beleza interior de cada um de nós, porque é em função de valores que podemos e devemos construir um mundo melhor para todos. O ensino do fandango devia ser obrigatório nas escolas ribatejanas? É importante que as nossas tradições se possam preservar no tempo e o fandango é claramente uma dança, uma expressão cultural que nos caracteriza. Creio que todos devemos

fazer um esforço para que efectivamente o fandango possa persistir. Contamos para isso com as nossas associações e os grupos folclóricos muito têm feito para preservar algo que está identificado como nosso e que nos caracteriza muito bem pela força que transmite. Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer? Creio que é uma regra que devemos respeitar. Eu próprio se não cumprir o descanso que é necessário, tenho muita dificuldade em poder desenvolver a actividade no dia-a-dia e creio que é uma regra correcta: deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer e dá também boa disposição. O que tem de fazer um homem para ser um verdadeiro homem? Ter humildade, ser digno de confiança, numa palavra: ter carácter. Quantas vezes muda de canal por noite quando está a ver televisão? Por norma fidelizo-me a um programa quando tenho oportunidade de ver televisão, naturalmente vejo as notícias do país e alguns debates, sejam eles políticos ou sobre qualquer situação social. Obviamente também sou muito dado às questões do desporto, nomeadamente do futebol e do meu Benfica. Quem lhe contava histórias quando era criança? Quem me contava as histórias quando era criança, sempre que possível, era a minha mãe. Fazem falta mais mulheres na política? Creio que os últimos anos foram importantes na actividade que a mulher desenvolve na nossa sociedade e, como em tudo o resto, também na política as mulheres devem ter uma presença forte e activa. Creio que ainda existe um défice e não é com as quotas que o resolvemos. Acho que devemos todos assumir naturalmente que as mulheres têm um papel importante na nossa sociedade ao mesmo nível que os homens. Quais as qualidades que mais aprecia numa pessoa? As qualidades que mais aprecio numa pessoa são aquelas nas quais me revejo, ou seja, a sinceridade e acima de tudo a humildade. A humildade é uma das características que mais valorizo e que procuro também na minha personalidade ter bem presente. Gostaria de viver numa cidade sem semáforos nem sinais de trânsito? Julgo que não. Para viver-

mos em boa harmonia é necessário estabelecer regras. Qual a promessa que fez a si próprio mais vezes no início de cada ano e que vai continuar a fazer, porque ainda não conseguiu cumpri-la? Às vezes é difícil conseguir concretizar algo que pensamos em Janeiro e achamos que podemos concretizar, mas as regras mudam a meio e já não conseguimos. Existe depois a esperança de poder concretizar no ano seguinte se a vida e o país ficarem mais de feição. Qual o seu maior defeito? O meu maior defeito, que também pode ser considerado uma virtude, é a teimosia aliada a alguma persistência. Como é um dia bem passado? Um dia bem passado é com a minha família em perfeita harmonia, o que muitas vezes não acontece, portanto esse é para mim um dia bem passado. Alguma vez escreveu um poema? Não, nunca escrevi um poema. Há alguma coisa pela qual ainda valha a pena lutar até à morte se necessário for? Creio que sim, que ainda vale a pena lutar por muitas causas, vale a pena lutar por uma sociedade mais justa, sem que isto se possa constituir um “lugar-comum”. Penso que viemos a este mundo exactamente para nos relacionarmos uns com os outros e por vezes não é fácil, dada a personalidade de cada um. Mas creio que vale a pena lutar até onde for necessário para podermos construir uma sociedade onde todos possamos estar melhor e vivermos com harmonia e acima de tudo onde nos possamos entender uns aos outros. Tem alguma superstição? Não tenho nenhuma superstição.


57 | 19 Novembro 2015 O que significa a expressão “gozar a vida”? Gozar a vida poderá muito bem ser estarmos com quem gostamos e estarmos felizes, aproveitando os momentos em harmonia. Realizar muitos dos nossos sonhos será também uma boa forma de gozarmos a vida em pleno. Alguma vez deu sangue? Sim, já dei. Ultimamente não tenho dado mas já dei e normalmente fi-lo nas iniciativas para o efeito promovidas pela Escola Duarte Lopes, em Benavente. Alguma vez pediu o livro de reclamações? Nunca pedi o livro de reclamações. Não que algumas vezes não me tenha sentido insatisfeito com esta ou aquela situação, mas normalmente procuro esclarecer e tratar com as pessoas ou entidades o

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que acho que está mal ou não esteve correcto ou justo. A justiça é igual para todos? Infelizmente creio que, apesar de termos um bom sistema judicial em Portugal, existem também algumas debilidades que são sentidas e bem sabemos que a nossa justiça não é igual para todos. Porque quem tem mais poder económico tem mais possibilidades de se defender, já para não mencionar que, algumas vezes, a justiça é utilizada de uma forma que não é correcta. Ainda assim, revejo-me no nosso sistema judicial. Qual o seu prato preferido de bacalhau? Gosto particularmente de bacalhau à lagareiro. Subscrevia uma proposta para termos outro hino nacional? Acho que não

é propriamente aquilo que deve constituir a nossa preocupação. O nosso hino é algo com que nos identificamos naturalmente, mas não creio que seja matéria relevante. Este mundo está perdido? Não creio que esteja perdido, embora possamos dizer que é um mundo cada vez mais desigual. É um mundo onde persistem valores que não são, seguramente, aqueles que a esmagadora maioria das pessoas defende, onde muitas vezes a ganância e o poder económico se sobrepõem àquilo que deveria ser o interesse da humanidade, para que beneficiem meia dúzia de indivíduos. Tem médico de família? Tenho médico de família que visito poucas vezes, mas que deveria visitar mais. O que gostava de fazer e não faz para

não cair no ridículo? Por vezes, em momentos de maior pressão, apetecia-me expandir, mas é necessário manter a postura. O que sente quando vê pessoas a pagar promessas de joelhos em Fátima? Respeito. Sente-se livre? Sim, sinto-me livre, digo o que penso, valorizo as opiniões de outros mas espero igualmente que respeitem as minhas. Sei sempre que a minha liberdade acaba quando começa a liberdade do outro. E é isso que muitos têm que aprender. Quantos verdadeiros amigos acha que tem? Tenho alguns bons amigos verdadeiros, estou certo disso. É verdade que tenho muitos conhecidos, com quem simpatizo, mas amigos verdadeiros é outra coisa. Mas sim, tenho alguns.


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“Há muito a fazer para ajustar as ofertas formativas às saídas profissionais”

Júlia Amorim Presidente da Câmara Municipal de Constância Fale-nos da sua vida profissional e da forma como lá chegou. Apesar de estar a desempenhar funções autárquicas a tempo inteiro desde Novembro de 1995, sou professora, profissão que exerci entre 1985 e 1995. Lembro que quando era jovem e chegou a altura de escolher uma profissão decidi ser professora e de ciências pois era uma matéria de que gostava. Não hesitei e assim foi. Licenciei-me em Ensino de Biologia e Geologia na Universidade de Aveiro. De todo o modo registo que durante o ensino secundário apenas tinha um objectivo: estudar para ter uma profissão em que me sentisse realizada e principalmente para ter a minha independência económica sem a qual não se é completamente livre. A família ajuda e é parte importante da estratégia profissional? Neste percurso a família foi muito importante, como o é até hoje. Contudo, a idade não perdoa e hoje também eu sou o seu suporte. Naturalmente que conto com a família no meu quotidiano mas não se envolvem na estratégia profissional, pelo contrário, o trabalho fica à porta da casa… Está preparada para tudo na sua vida profissional? Creio que sim. Para as coisas

boas não tenho dúvidas. Para as menos boas, ou mesmo más, a experiência de vida pessoal e profissional diz-me que sim. Quem me conhece sabe do que falo: já ultrapassei muitos obstáculos. Felizmente sou resiliente. Como classifica os recursos humanos disponíveis no mercado? Nem sempre ajustados ao mercado de trabalho, sendo que neste aspecto muito há a fazer para ajustar as ofertas formativas às saídas profissionais. Apesar de existir uma faixa da população com baixa escolarização e sem qualificação profissional, o que mais facilmente os empurra para o desemprego, verifica-se felizmente que muitos para além de certificação profissional possuem competências pessoais e sociais que os habilitam para o mercado de trabalho. Contudo, na actual conjuntura há necessidade de mais jovens empreendedores. Comente a situação actual do país onde vive e da sua região em particular. A nossa região não é diferente do contexto sócio económico do país com todas as repercussões que daí advêm. No entanto, a sua riqueza natural e patrimonial é riquíssima, repleta de potencialidades. Eu diria mesmo que é bom viver na nossa região. Lembra-se da última vez que usou a bicicleta como meio de transporte? Não e em Constância não é fácil. Qual a tradição que nunca podemos deixar morrer? A celebração do Natal. O respeitinho é muito bonito? Claro! A beleza é fundamental? Ajuda! O ensino do fandango devia ser obrigatório nas escolas ribatejanas? Obrigatório não digo mas deveria ser ensinado. Duvido é que todos aprendessem! O Facebook e as outras redes sociais melhoraram a sua vida? Sim! Encontrei colegas que não “via” há anos. Gosta de uma boa discussão? Adoro! Já se sente à vontade a escrever com o novo Acordo Ortográfico? Não faço por isso. Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer? Depende da idade.

O que tem que fazer um homem para ser um verdadeiro homem? Ser um homem! Quantas vezes muda de canal por noite quando está a ver televisão? Poucas… adormeço facilmente. Quem lhe contava histórias quando era criança? A minha mãe. Fazem falta mais mulheres na política? Sem dúvida. Quais as qualidades que mais aprecia numa pessoa? Gratidão. Qual a promessa que fez a si próprio mais vezes no início de cada ano e que vai continuar a fazer porque ainda não conseguiu cumpri-la? Ter mais tempo para mim. Qual é o seu maior defeito? Resposta difícil por serem muitos… Alguma vez escreveu um poema? Só na escola… Há alguma coisa pela qual ainda valha a pena lutar até à morte se necessário for? A liberdade. Qual foi a sua maior extravagância? Não sei. Durante quanto tempo é capaz de guardar um segredo? Toda a vida. Fecha a água enquanto escova os dentes ou enquanto se ensaboa no banho? Ui! Nem sempre… A Justiça é igual para todos? A Justiça creio que sim, mas o acesso à justiça infelizmente não é igual para todos. Qual o seu prato preferido de bacalhau? Bacalhau no forno com grelos e batatas assadas. Sabe algum refrão de uma cantiga do Quim Barreiros? Claro! Viu algum filme do cineasta Manoel de Oliveira do princípio ao fim? Com mais ou menos interesse mas sim. Aliás penso que todos viram Aniki Bóbó até ao fim…. Subscrevia uma proposta para termos outro hino nacional? Não. Alguma vez frequentou uma praia de nudismo? Não. Este Mundo está perdido? Não. Em sua casa já se faz a separação do li-

xo? Sim, há muitos anos. Sendo o preço médio de mil litros de água da rede um euro e meio podemos dizer que a água está cara? Se pensarmos que compramos 1 litro de água engarrafada por 1 euro então 1000 litros de água da rede por 1,5 euros é quase de borla…. O que sente quando vê pessoas a pagar promessas de joelhos em Fátima? Respeito. Quantos verdadeiros amigos acha que tem? Depende do conceito mas diria que vários.


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“A Escola devia estar mais próxima das empresas”

Alberto Mesquita Presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira Fale-nos da sua vida profissional e da forma como lá chegou.A minha vida profissional começou cedo, aos 16 anos, porque queria ter alguma independência financeira e poder contribuir para as despesas da casa. Foi um percurso muito enriquecedor e diversificado, desde aprendiz de mecânico, passando por funções administrativas num escritório de advogados, até à especialização como Desenhador Projectista, na antiga e saudosa “Mague”. Entretanto a vontade de contribuir civicamente para a melhoria das condições de vida do país e do concelho levou-me à política. Fui eleito vereador da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira em 1993, onde me tenho mantido como autarca. A família ajuda e é parte importante da estratégia profissional? A minha família, e em particular a minha mulher e os meus filhos, tem sido o sustentáculo de toda a minha vida profissional e autárquica. Sem a sua compreensão e apoio não teria sido possível entregar-me da forma como tenho feito profissionalmente. Como classifica os recursos humanos disponíveis no mercado? Considero que a Escola devia estar mais próxima das empresas, em virtude de não existirem no mercado recursos humanos suficientes em áreas profissionais necessárias à actividade económica do país. Está preparado para tudo na sua vida profissional? Estou preparado para exercer, com espírito de missão, as minhas fun-

ções e disponível para, a cada dia, aprender sempre mais. Comente a situação actual do país onde vive e da sua região em particular. O país vive politicamente um momento histórico no seu trajecto democrático. Creio que estão a ser criadas as condições para a mudança de opção de governabilidade que tem vigorado nos últimos 40 anos, a que se convencionou chamar de “Arco do Governo”, cujos resultados não têm sido satisfatórios em termos sociais. No Município de Vila Franca de Xira, apesar do desemprego não ter uma expressão tão elevada como noutras regiões do país, também se verificam reflexos negativos das opções políticas seguidas pelo Governo. No entanto, a política social do município em parceria com a Rede Social do concelho, tem conseguido minimizar as dificuldades com que muitas famílias se têm deparado. A criação de postos de trabalho é absolutamente decisiva para a reanimação da nossa economia. A Câmara Municipal tem trabalhado no sentido de, por um lado, atrair cada vez mais empresas para o concelho; por outro, incentivar a criação de postos de trabalho, através, por exemplo, da implementação de incentivos fiscais para empresas. Apesar das dificuldades, estou optimista. Lembra-se da última vez que usou a bicicleta como meio de transporte? Sim. Às vezes, nas férias. Qual a tradição que nunca podemos deixar morrer? As tradições são a marca da nossa região, nomeadamente as ligadas à tauromaquia. O respeitinho é muito bonito? O que é bonito é sabermos estar em cada momento da nossa vida. A beleza é fundamental? Depende do que estamos a falar. O ensino do fandango devia ser obrigatório nas escolas ribatejanas? Preservar as nossas tradições é muito importante. Existem escolas do nosso município que têm preocupação com a recolha etnográfica. Já se sente à vontade a escrever com o novo Acordo Ortográfico? Não. Continuo a escrever sem o novo Acordo Ortográfico. Considero ter sido um erro grave, tanto mais que, maioritariamente, os países da CPLP ainda não o implementaram. No entanto, como a administração pública tem de aplicar o acordo, há sempre alguém que altera

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os meus textos na minha vida profissional. Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer? Não sei. No meu caso, deito-me tarde e levanto-me cedo. O que tem que fazer um homem para ser um verdadeiro homem? Ter carácter. O que seria para si uma tragédia? Em termos pessoais, seria alguém da minha família mais próxima vir a ter uma doença grave. Quem lhe contava histórias quando era criança? A minha mãe. Ler jornais é saber mais? Todos os jornais, apesar de tudo, têm artigos interessantes que acrescentam saber, pelo que vale a pena lê-los. Fazem falta mais mulheres na política? Obviamente que sim. Quais as qualidades que mais aprecia numa pessoa? Lealdade, generosidade e respeito pelos outros. Qual a promessa que fez a si próprio mais vezes no início de cada ano e que vai continuar a fazer porque ainda não conseguiu cumpri-la? Atempadamente planear as minhas férias e fazer as compras de Natal. Qual é o seu maior defeito? Por vezes, não ter paciência para conversas com pouca substância, vulgo “conversas da treta” – com excepção para as do saudoso António Feio com o José Pedro Gomes. Quais os personagens históricos que mais despreza? Os ditadores. O que é bom é para se ver? Com certeza. Alguma vez escreveu um poema? Fiz algumas tentativas. Há alguma coisa pela qual ainda valha a pena lutar até à morte se necessário for? Pelos valores e princípios que nos devem orientar na nossa vida. A Liberdade e a Democracia são causas pelas quais vale a pena lutar para as manter e desenvolver. Tem alguma superstição? Não passar por debaixo de escadas. Durante quanto tempo é capaz de guardar um segredo? Até me dispensarem de o guardar. Alguma vez deu sangue? Fui dador de sangue durante muitos anos. Se vir alguém deitar lixo para o chão diz-lhe alguma coisa? Pedagogicamente chamo à atenção. Alguma vez pediu o livro de reclamações? Que me lembre, não. Tenho conseguido resolver os problemas que vão surgindo. O mundo vai ter que falar mandarim ou os chineses é que vão passar a falar inglês? O mandarim vai ter

cada vez mais importância no mundo. No nosso país, inclusivamente em Vila Franca de Xira, existe pelo menos uma escola que ensina mandarim. Os sectores mais importantes da economia do país estão a ser vendidos aos chineses, pelo que é imprescindível, no futuro, compreendê-los bem. A Justiça é igual para todos? A Justiça devia, de facto, ser igual para todos, no entanto, verifica-se, demasiadas vezes, que quem tem poder económico tem mais capacidade de resolver os seus problemas com a Justiça. Qual o seu prato preferido de bacalhau? Bacalhau assado. Sabe algum refrão de uma cantiga do Quim Barreiros? Sei e está relacionado com a pergunta anterior. Subscrevia uma proposta para termos outro hino nacional? Não. Alguma vez frequentou uma praia de nudismo? Não, mas em África, em praias desertas, fiz nudismo. Este Mundo está perdido? Não, apesar de atravessarmos momentos muito conturbados, vamos todos ultrapassá-los, tal como já fizemos em momentos muito mais difíceis ao longo da História. O que gostava de fazer e não faz para não cair no ridículo? Às vezes, gostava de não ter de cumprir certas regras de etiqueta e protocolo. O que sente quando vê pessoas a pagar promessas de joelhos em Fátima? É difícil de avaliar, uma vez que tem a ver com a espiritualidade de cada um. No entanto, a própria Igreja já se manifestou pouco confortável com estas manifestações de fé. Sente-se livre? A liberdade absoluta não creio que exista; há sempre algo que nos condiciona. Mas sinto-me bem com a minha forma de viver. Quantos verdadeiros amigos acha que tem? Poucos, mas bons. Aqueles que fariam por mim o que eu faria por eles, sempre que necessário.


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“Se queremos estar na vanguarda temos que estar bem informados”

Luciano Vitorino Director Pedagógico da EPRM – Escola Profissional de Rio Maior, Rio Maior Fale-nos da sua vida profissional. A EPRM – Escola Profissional de Rio Maior tem centrado o essencial da sua ação na formação de quadros técnicos intermédios (nível IV). Graças a uma estratégia que assenta na oferta, aos jovens, de formação de qualidade, a Escola viu a sua população estudantil de 190 alunos em 2010, para mais de 300 em 2015, o que corresponde a um aumento superior a 63%. Estes resultados são tanto mais notáveis, quando se alcançam num tempo em que o nosso país está perante um conhecido desafio demográfico: a população juvenil é cada vez mais escassa, sendo esta, por isso, alvo de uma disputa cada vez mais feroz por parte dos operadores de ensino. A política delineada pela Direcção e Conselho de Gerência da Escola tem passado pelo esforço incessante de credibilização do Ensino Profissional. A primeira razão para o sucesso alcançado, provavelmente a mais importante, reside no facto de a oferta formativa da EPRM partir de um efetivo levantamento de necessidades junto do mercado de trabalho. Assim, a Oferta Formativa para determinado ano lectivo começa a ser estruturada com quase um ano de antecedência, sendo ouvidos os diversos stakeholders, desde empresas, alunos do 9º ano de escolaridade e respectivas famílias. Este processo culmina com a constituição de um Conselho Consultivo, órgão onde têm assento as forças vivas da região, assim como um leque alargado de empresas representativas do tecido empresarial da região em que Rio Maior se insere.

Outro dos pilares do desenvolvimento do Projeto Educativo da EPRM tem passado pelo estabelecimento de pontes com empresas/ entidades de dimensão regional, nacional e até internacional, sempre com o intuito de aumentar a qualidade da formação ministrada na Escola. Estas parcerias são um garante da qualidade da formação e qualificação ministrada pela EPRM. Diria mesmo: o know-how que adquirimos com estas inúmeras parcerias torna mais sólidas as competências que aqui ministramos, logo mais competitivos os diplomas dos nossos alunos. Recentemente era notícia um estudo apresentado durante a conferência “O trabalho e o emprego em Portugal”, organizada pela Associação Cristã de Empresários e Gestores, que concluiu que “Três em cada 10 empresas não encontram quem precisam para as vagas que têm”, o que significa que a oferta das escolas está muitas vezes desajustada das necessidades que o mercado de trabalho procura. Em contraciclo com esta realidade, na EPRM, a empregabilidade referente ao último ciclo de formação situa-se acima dos 90%. Estes números são tanto mais surpreendentes, quando vivemos num momento em que cerca de 35% dos jovens portugueses não têm emprego. No entanto, procuramos não nos focar apenas na formação profissional. Ao invés, a ação da EPRM centra-se na formação integral do indivíduo, educando para que os jovens que nos procuram sejam capazes de vir a exercer uma cidadania adulta e responsável, isto é, procuramos fomentar uma educação inclusiva e potenciadora da tolerância e do pensamento crítico. Procuramos fazê-lo promovendo as chamadas soft skills e iniciativas open mind, certos de que as empresas cada vez mais procuram colaboradores cujo currículo não se cinja meramente à vertente académica. Certos de que as empresas, hoje, valorizam muito o trabalho em equipa, a capacidade de resolver problemas do quotidiano, a maturidade, a responsabilidade, a capacidade de se expor em público, entre outros, promovemos diversas atividades que, esperamos, desenvolvam este tipo de características. Portanto, procuramos também cultivar o “Saber Estar” e o “Saber Ser”. Não poderia deixar de dizer que a EPRM não está apenas focada na qualificação orientada para o mercado de trabalho, tendo também a preocupação de não fechar a porta àqueles que optam por seguir para o

Ensino Superior. Estamos até convictos de que o “Saber Fazer”, tão característico do Ensino Profissional será uma boa base para quem pretenda prosseguir estudos. Liderar este projeto é, para mim, um privilégio e uma honra. Considero ser uma missão, esta que me permite estar ao abrigo dos jovens, alargando-lhes horizontes e colocando a seus pés o caminho do futuro, um futuro que se quer que seja de sucesso. Assessorado pelos meus colaboradores, trabalhamos arduamente para mudar mentalidades, na esperança de contribuirmos para a concepção de cidadãos mais evoluídos, capazes de exercerem uma cidadania adulta e responsável cooperando, em última instância, para um Portugal melhor. Sou, portanto, feliz com aquilo que faço! Sinto-me realizado! Comente a situação actual do país onde vive e da sua região em particular. O nosso país vive, atualmente, um cenário inimaginável, até há bem pouco tempo, para a maioria dos portugueses. Inevitavelmente, esse cenário terá consequências para todos nós, que serão ainda imprevisíveis. O meu desejo, muito sincero, é que o futuro seja bem mais risonho para a generalidade dos portugueses, que bem o merecem, depois das provações porque têm passado nos últimos anos. Quem gostaria de ser se não fosse quem é? Se não fosse quem sou, gostaria de ser alguém da envergadura de Nelson Mandela, que considero ter sido o último grande líder que o mundo viu. Foi um homem notável! Após 27 anos preso foi libertado e impediu os seus de lincharem a casta que o tinha mantido no cárcere. Soube perdoar e liderar um país. Provavelmente, graças à sua liderança e à propensão para cultivar a paz, a concórdia entre os povos, a sua África do Sul natal é hoje a maior potência africana. Faltam, hoje, no mundo, líderes como Nelson Mandela! Se assim não fosse, estou certo que teríamos hoje um mundo

muito mais justo, solidário e seguro, valores que muito preservo. Ler jornais é saber mais? é fundamental para nos mantermos actualizados. Se queremos estar na vanguarda, temos que estar bem informados. O Facebook e as outras redes sociais melhoraram a sua vida? Tenho conseguido sobreviver sem Facebook. Prezo muito a minha privacidade! E a da minha família. Ainda sou daqueles que privilegia a amizade física, em detrimento da virtual. Não sinto falta! Sou um amante de uma boa conversa entre amigos, de preferência à volta da mesa, à boa maneira portuguesa. Claro que, numa época em que a comunicação é determinante para o sucesso das organizações, a organização que lidero, faz uma forte aposta na comunicação, não descurando, obviamente, o Facebook. Não basta fazer bem ou ter o melhor produto do mundo, é preciso promovê-lo, dá-lo a conhecer aos potenciais clientes. Como é um dia bem passado? é um dia passado na companhia da família e dos amigos, o que mais prezo. A amizade não é uma palavra vã! Por isso, cultivo-a sempre que posso. Também prezo muito a minha mãe, a minha esposa e as minhas três lindas filhas.


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“Sinto arrepios quando vejo pessoas a pagar promessas de joelhos em Fátima”

Martinho dos Santos Pedro Gerente da Martinho Auto – Oficina multimarcas em Santarém Gostaria de viver numa cidade sem semáforos nem sinais de trânsito? Não, já vivi e não gostei. Gosta de uma boa discussão? Sim, uma boa discussão enriquece-nos sempre mais. Ler jornais é saber mais? Sim, claro. É uma forma de estarmos mais informados. Quais as qualidades que mais aprecia numa pessoa? Honestidade e simpatia. De quantas horas de sono precisa para acordar bem disposto? De pelo menos 7 ou 8 horas. Em sua casa já se faz a separação do lixo? Sim.

Tem a profissão que gostaria de ter? Sim tenho. O que sente quando vê pessoas a pagar promessas de joelhos em Fátima? Sinto arrepios quando vejo pessoas a pagar promessas de joelhos em Fátima. Sente-se livre? Sinto. Quantos verdadeiros amigos acha que tem? Tenho alguns. A instalação de câmaras de vídeo vigilância é uma boa maneira de combater a criminalidade? É uma das formas, mas com certeza haverá mais. Lembra-se da última vez que usou a bicicleta como meio de transporte? Não, mas já foi há mais de 40 anos. Quais as tradições que nunca podemos deixar morrer? O fado e o fandango. O respeitinho é muito bonito? Sim, conseguimos ter logo uma ideia da pessoa. A beleza é fundamental? A beleza é importante. O Facebook e as outras redes sociais melhoraram a sua vida? Sim, passei a ter mais informação e mais facilidade em passar informação sobre mim. Gosta de ir votar? Sim, é um dever enquanto cidadão. Há alguma coisa pela qual ainda valha a pena lutar até à morte se necessário for? Sim, lutar pela saúde. Durante quanto tempo é capaz de guardar um segredo? Durante toda a vida. Alguma vez deu sangue? Sim, muitas vezes.

Ir comprar roupa ou calçado dá-lhe prazer? Sim, quando acompanhado pela família. Se vir alguém deitar lixo para o chão diz-lhe alguma coisa? Sim, não tolero tal coisa. Qual o seu prato preferido de bacalhau? Bacalhau assado na brasa. Sabe algum refrão de uma cantiga do Quim Barreiros? O bacalhau quer alho. Gosta de grandes reuniões familiares? Sim, bastante. É uma forma de não perdermos o contacto e de convivermos. Alguma vez assistiu a uma tourada ao vivo? Sim, várias vezes. Tem médico de família? Não. “A situação actual não é boa e a burocracia só atrapalha a resolução de certas situações” Como começou a sua vida de empresário? Após o 25 de Abril de 74 fiquei desempregado e uma vez que faltava pouco tempo para ingressar na vida militar fui trabalhando em diversas empresas ligadas ao ramo automóvel em regime de part-time e depois fui cumprir o serviço militar. Quando terminei o serviço militar decidi abrir o meu próprio negócio. Comecei com uma oficina pequena de pintura de automóveis que foi evoluindo até hoje. A família ajuda? Sim, a família é o elemento mais importante para mim e neste caso uma grande força e ajuda no negócio. Como é que classifica os recursos humanos disponíveis no mercado? Os recursos humanos disponíveis no mercado hoje em dia

estão no bom caminho. Estamos perante uma geração mais desenvolvida, com um nível de formação académica maior e com uma maior capacidade de ultrapassar desafios. Está preparado para tudo na sua vida de empresário? Sim, estou. Todos os dias sou surpreendido com novos desafios. Comente a situação actual do país onde vive e da sua região em particular. Neste momento a situação política não é a melhor mas temos que a enfrentar conforme ela é. Só assim poderemos vencer. No que diz respeito à cidade de Santarém constato que a mesma parou. Temos o centro histórico completamente “morto”. São ruas cheias de lojas vazias. Outro exemplo concreto é a nossa zona industrial; basta verificar o número de empresas fechadas. E para complicar esta situação temos a burocracia a atrapalhar a rápida resolução de certas situações.


O MIRANTE | Edição comemorativa do 28º aniversário

“Para um país funcionar a justiça tem de funcionar”

Emídio Almeida gerente da Tutivete, Santarém Fale-me da sua vida de empresário e da forma como chegou a este negócio? Licenciei-me em 1985 e comecei a minha vida profissional como médico veterinário ao serviço da extinta “Ribacal – Cooperativa dos Produtores de Leite do Ribatejo”. Quando a cooperativa se extinguiu passei a exercer a mesma actividade de Clínica, Reprodução e Cirurgia dos Bovinos de Leite e Carne na mesma área social da cooperativa. Um dia percebi que podia ajudar muito os produtores de leite e então especializei-me na técnica de Transferência de Embriões. Entretanto adquiri um grupo de animais da raça Blanc-Bleu-Belge, que trouxe para Portugal, e comecei a produzir e exportar embriões para vários países, tendo (por exemplo) ido várias vezes ao Brasil fazer os implantes dos embriões produzidos na minha exploração agrícola aqui em Santarém. Depois criei e assumi a direcção de um ADS (Agrupamento de Defesa Sanitária), assegurando a sanidade (recolhas de sangue, campanhas de vacinação, desparasitação, etc...), de uma grande zona do distrito de Santarém. Simultaneamente inaugurei a minha primeira Clínica Veterinária, a “Clínica Veterinária de S. Domingos”, a que se seguiram outras. Em 2012 decidi centralizar toda a minha actividade num único local com uma qualidade de serviço, horário de funcionamento, recursos humanos e equipamento, totalmente diferentes, tendo então inaugurado o Hospital Veterinário Tutivete – Centro Cirúrgico de Santarém. A família ajuda e é parte importante da estratégia empresarial? A família é muito mais do que uma “parte da estratégia” e ultrapassa os laços de sangue. Família são aquelas pessoas que partilham o nosso destino, o nosso dia-a-dia. São aquelas pessoas que choram e riem connosco, que partilham as dificuldades e os êxitos e passam connosco a maior parte da sua vida. Como é que classifica os recursos humanos disponíveis no mercado? Muito bons. Os portugueses são um povo especial. Só que não há muita preparação, nem formação na área

da comunicação, da inteligência emocional, dos relacionamentos. E isso dificulta muito a criação e solidez nas equipas de trabalho dentro de qualquer empresa. Está preparado para tudo na sua vida de empresário? Acho que seria muito arrogante alguém dizer que está preparado para tudo, mas sinto que a nossa equipa está bastante bem preparada, sim. Comente a situação actual do país onde vive e da sua região em particular. Portugal é um grande país, reconhecido no mundo inteiro. Já fomos enormes… e só o poderemos voltar a ser quando as pessoas que estão à frente, e que de uma forma ou de outra têm poder num determinado período da sua vida, desempenharem o seu papel com um sentido de Estado e não de oportunismo. Hoje vivemos algumas situações que nos desacreditam perante o mundo inteiro. E alguns meios de comunicação social também têm muita responsabilidade nisso. Felizmente há outros que fazem a diferença. Há uma grande diferença entre um preso político e um político preso. Entre oportunidade e oportunismo. A justiça não pode ser de funil. E a culpa não pode morrer solteira. Uma sociedade, um povo, precisa de saber que há uma visão, um projecto (objectivo), um plano (caminho), senão é como um rebanho sem pastor. Atingir um objectivo que não temos, é como voltar de um sítio onde nunca fomos. Para um país funcionar a justiça tem de funcionar… porque não há nada tão contagioso como o exemplo. O respeitinho é muito bonito? Mais do que bonito o respeito é um direito dos outros e um dever nosso. Facilita as relações e é um pilar na comunicação. A beleza é fundamental? A beleza exterior é agradável, a interior é fundamental. Já se sente à vontade a escrever com o novo Acordo Ortográfico? De “fato” a nossa língua, é também a nossa Nação, faz parte da nossa identidade e isso não se pode mudar. Não sou saudosista, mas sou português. Não estou de acordo com este “Acordo” (?). O que tem que fazer um homem para ser um verdadeiro homem? Tem de ser um homem verdadeiro. A honestidade é uma característica muito “cara”. Tem de cuidar de si próprio, da sua família, e da sociedade em que vive. Todos temos uma função na nossa vida, na família e na sociedade. E a obrigação de cada um é desempenhar essa função o melhor que for capaz tentando superar-se todos os dias. Há

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dois tipos de pessoas: o homem comum, para quem tudo o que lhe acontece é uma bênção ou uma maldição, e o guerreiro para quem cada dia é um desafio e uma oportunidade de fazer melhor e de se superar a si mesmo. Quem não luta pelo que quer aceita o que a sorte lhe trouxer... Uns aceitam a sorte, outros não… preparam-lhe o caminho para ela nos bater à porta. Um verdadeiro homem exige tudo de si, um medíocre espera tudo dos outros. O que seria para si uma tragédia? Termos “políticos presos” ou corruptos a continuar a hipotecar as próximas gerações. Quem gostaria de ser se não fosse quem é? Professor Universitário. Coach. Sente que seria capaz de ser um bom primeiro-ministro? Tenho a certeza que seria um homem que faria tudo pelo meu país, sem oportunismos. Quais as qualidades que mais aprecia numa pessoa? Honestidade. Integridade. Coragem. Lealdade. Abnegação. Compromisso. Respeito. Atitude. Humanidade. Quais os personagens históricos que mais despreza? José Sócrates. Alguma vez escreveu um poema? Vários. Há alguma coisa pela qual ainda valha a pena lutar até à morte se necessário for? Pela minha família, pelo meu país, por qualquer criança. O que significa a expressão “Gozar a vida”? Aproveitar cada minuto fazendo algo que faça a diferença, deixando melhor aquilo que eu encontrei, sentindo-me realizado. Alguma vez deu sangue? Sim. Sabe o que anda a fazer neste mundo? Sei exactamente, sim. Como disse anteriormente “Atingir um objectivo que não temos é como voltar de um sítio onde nunca fomos”. Eu tenho a minha própria visão, missão, valores pelos quais me regulo, muito bem definidos, e

luto com todas as minhas forças, todos os dias, para os manter bem presentes, bem focado… Alguma vez se sentiu esmagado pela beleza de alguém ou de alguma coisa? Sim, várias vezes. A Natureza esmaga qualquer um. Um sorriso de uma criança, as quedas de água do Iguaçu, ou a visão de uma galáxia, reduzem-nos à nossa real dimensão. Se vir alguém deitar lixo para o chão diz-lhe alguma coisa? Há muito pouco tempo estava parado nos semáforos e o condutor à minha frente abriu o vidro e deitou uma embalagem vazia para o chão. Saí do carro e delicadamente apanhei a embalagem e entreguei-a ao senhor dizendo que lhe deveria ter caído inadvertidamente. Ele agradeceu… Alguma vez pediu o livro de reclamações? Sim. Não gosto de o fazer, mas naquele caso estava em causa a saúde pública e o assunto foi resolvido pela ASAE. O mundo vai ter que falar mandarim ou os chineses é que vão passar a falar inglês? Acho que todos vamos ter de aprender a língua do respeito pela vida… A Justiça é igual para todos? Teoricamente é. Agora vamos ver se os “desvios” astronómicos dos dinheiros do Estado são menos importantes que um atraso no IRS ou IRC de qualquer comum cidadão. Gosta de grandes reuniões familiares? Uma reunião familiar é sempre um momento único. Com muitos é uma festa. Com alguns, é uma oportunidade de desfrutar de momentos e partilhas mais íntimas. De quantas horas de sono precisa para acordar bem disposto? Seis horas. Em sua casa já se faz a separação do lixo? Sempre e desde há muitos anos. Tem a profissão que gostaria de ter? Nunca tive a mínima dúvida disso.


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