Relatório Executivo - Hartmann Mapol - Junho de 2002

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Em primeiro lugar, parte dos que sentem dor e, portanto, contraíram ou estão contraindo a doença, sentem-se ameaçados se reclamarem à empresa para fazer os exames. Eles sabem que podem perder o emprego se a empresa descobrir que eles se encontram lesionados. Essa é uma prática comum entre as empresas do setor industrial em geral. Elas sabem que determinadas atividades produzem a doença. Ao menor sinal de lesão permanente entre os empregados, tratam de demiti-los para se livrarem do problema. Na Mapol, não parece ser diferente. Aqueles que não suportam a dor são obrigados a procurar o médico da empresa para os exames. A realização do exame, apesar do médico fazer a orientação nesse sentido, passa pelo filtro da área de recursos humanos. Só depois de autorizado pela área de recursos humanos o trabalhador pode procurar o instituto de diagnóstico de Sorocaba para a realização dos exames. Feitos os exames, é a empresa (a área de RH) que comunica o resultado para o trabalhador. Os trabalhadores não têm acesso aos exames. Esse ponto é importante. Todos os dirigentes e trabalhadores da Mapol (afastados ou demitidos) que se submeteram a exames jamais os tiveram em mãos para comprovar a existência da doença. Os trabalhadores não podem pegar os exames no instituto de diagnósticos, é a própria empresa que se encarrega de pegá-los e divulgá-los, no local de trabalho, para os trabalhadores. Em conclusão, é absolutamente arbitrária a forma como a doença é diagnosticada, conduzida e encaminhada pela direção da empresa Mapol. A área de recursos humanos tem o poder de dizer ao trabalhador se ele está ou não doente, sem o trabalhador ter certeza acerca do diagnóstico correto da doença. Com esse procedimento, a Mapol praticamente define o número de doentes de LER existentes. Os depoimentos colhidos nos questionários indicam que a Mapol faz uso discriminatório sobre os resultados dos exames. Quando interessa, indica ao trabalhador que ele não tem nada, apesar de continuar sentindo dor. Ao mesmo tempo, a empresa pode usar o exame para afastá-lo, mesmo que ele ainda consiga trabalhar e realizar o tratamento indicado. Outra forma de fazer os exames, de forma mais independente, é através do convênio médico Sepaco, mantido pelas empresas papeleiras. O problema com esse exame é que ele não cobre acidentes. Além disso, o exame do Sepaco, para doentes de LER, era incompleto, não fazia (como hoje já faz) a ultra-sonografia nos ombros, cotovelos e punhos. Há um Centro de Referência, mantido pela prefeitura de Sorocaba, onde são encaminhados os trabalhadores que contraíram LER. O Centro tem gestão tripartite e atua de forma independente, segundo relatos dos dirigentes sindicais da Mapol. No entanto, eles afirmam que o Centro de Referência não consegue reabilitar os trabalhadores lesionados por diferentes razões (falta de recursos, infra-estrutura falha, falta de médicos habilitados, etc.). Além disso, segundo os sindicalistas, a Mapol não costuma readimitir os trabalhadores lesionados, mesmo depois de passarem pelo Centro de Referência. Em outras palavras, os trabalhadores lesionados, passando ou não passando pelo Centro de Referência, estão entregues a própria sorte, impossibilitados de arrumar novo emprego (todas as empresas sabem que o trabalhador que passou pela Mapol tem muitas chances de ter a doença). A maior parte deles ficam afastados anos, aguardando o laudo do INSS para o pedido de aposentadoria por invelidez. Os relatos indicam também a existência de um grupo da própria Mapol, constituído pela direção da empresa, incumbido de discutir a LER e encaminhar mudanças mas os dirigentes, cipeiros e trabalhadores demitidos dizem desconhecer as atividades desse grupo.

4.3. MEIO AMBIENTE EXTERNO Um aspecto importante do processo produtivo na Mapol que pode ter contribuído para o aumento dos casos de LER/DORT no segundo semestre de 2001 diz respeito, aparentemente, à uma melhoria nas caldeiras/estufas. Anteriormente, a estufa que secava as caixinhas era movida a óleo. Em Observatório Social – Relatório Executivo de Observação

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