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Catherine Fisher

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S達o Paulo 2012

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Sapphique Text copyright © 2008 by Catherine Fisher Cover art © 2010 by SY Design Copyright © 2012 by Novo Século Editora Ltda. All rights reserved. Coordenação Editorial Mateus Duque Erthal Tradução Paula Rotta montagem de capa Carlos Eduardo Gomes Diagramação Francisco Martins/Project Nine Preparação Equipe Novo Século Revisão Laura Moreira Equipe Novo Século Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995) Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Fisher, Catherine Sapphique / Catherine Fisher ; [tradução Paula Rotta]. -- Barueri, SP : Novo Século Editora, 2012. Título original: Sapphique 1. Ficção inglesa I. Título. 12-11768 CDD-823 Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura inglesa 823

2012 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À NOVO SÉCULO EDITORA LTDA. CEA – Centro Empresarial Araguaia II Alameda Araguaia 2190 – 11º Andar Bloco A – Conjunto 1111 CEP 06455-000 – Alphaville Industrial, Barueri – SP Tel. (11) 2321-5080 – Fax (11) 2321-5099 www.novoseculo.com.br atendimento@novoseculo.com.br

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L’amor che muove il sole e l’altre stelle. Dante

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´ A ARTE MAGICA

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1 Dizem que Sapphique não foi o mesmo após a Queda. Sua mente se contundiu. Ele imergiu no desespero, nas profundezas da Prisão. Rastejou nos Túneis da Loucura. Procurou lugares escuros e homens perigosos. Lendas de Sapphique

A passagem era tão estreita que Attia conseguia apoiar-se em uma das paredes e chutar a outra. Ela esperou na escuridão, escutando, com a respiração condensando-se nos tijolos reluzentes. Um lampejo de chamas após a esquina refletiu-se nas paredes. Os gritos haviam aumentado, tornando-se o inconfundível bramido de uma multidão excitada. Ela escutou urros de deleite, gargalhadas súbitas. Assobios e pés batendo no solo. Aplausos. Ela lambeu uma gota salgada de condensação de seus lábios, sabendo que tinha que encará-los. Chegara longe demais, buscara por tempo demais para recuar. Era inútil sentir-se pequena e assustada, se quisesse Fugir algum dia. Endireitou o corpo, aproximou-se do fim do beco e espiou. Centenas de pessoas amontoavam-se na pequena praça iluminada por archotes. Estavam espremidas, com as costas viradas para ela, e havia um forte mau cheiro de corpos suados. Atrás da turba, algumas mulheres idosas estendiam os pescoços para ver. Meios-homens agachavam-se nas sombras. Garotos punham-se uns sobre os ombros dos outros, subindo nos telhados das casas miseráveis. Barracas vistosas vendiam comida quente, e a pungência de cebolas na gordura a fez salivar de fome.

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A Prisão também estava interessada. Acima dela, sob o beiral de palha imunda, um dos minúsculos Olhos espiava a cena curiosamente. Escutando o grito de prazer da multidão, Attia aprumou os ombros e saiu de onde estava. Cães lutavam por restos. Circundando-os, ela passou por uma porta escura. Alguém se moveu em silêncio atrás dela. Attia virou-se com a faca na mão. – Nem tente. O batedor de carteiras recuou, abrindo a mão e sorrindo. Ele era magro, sujo e tinha poucos dentes. – Sem problemas, querida. Erro meu. Ela o observou sumir em meio ao povo. – Teria sido mesmo – murmurou. Embainhando a faca, ela começou a atravessar a multidão. Abrir caminho não foi fácil. As pessoas estavam firmemente aglomeradas, ansiosas para ver o que quer que estivesse acontecendo adiante. Elas gemiam, riam e ofegavam em uníssono. Crianças esfarrapadas arrastavam-se sob os pés da multidão, sendo chutadas e pisadas. Attia empurrou e praguejou, esgueirou-se por brechas, passou sob cotovelos. Ser pequena tinha suas vantagens. E ela precisava chegar à frente. Precisava vê-lo. Sem fôlego e dolorida, ela se contorceu entre dois homens enormes e conseguiu respirar. O ar estava acre com a fumaça. Tições crepitavam por todo lado. Diante dela, uma área enlameada fora cercada. Curvado ali, sozinho, estava um urso. Attia observou-o. A pele negra do animal estava coberta de crostas; os olhos eram pequenos e selvagens. Uma corrente retinia ao redor de seu pescoço. Bem atrás, nas sombras, o treinador segurava a extremidade do grilhão. Ele era um homem calvo com bigode longo, cuja pele reluzia de suor. Ao lado dele, havia um tambor. Batendo ritmadamente no instrumento, ele deu um puxão na corrente. Lentamente, o urso ergueu-se nas patas traseiras e dançou.

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Ele era mais alto que um homem e movia-se de forma desajeitada. De seu focinho amordaçado pingava saliva, e as correntes deixavam traços de sangue em sua pele. Attia franziu o cenho. Ela conhecia a sensação. Levou a mão ao próprio pescoço, no qual os vergões e ferimentos provocados pela corrente que ela usara estavam esmaecidos, tendo se transformado em leves marcas. Como aquele urso, ela fora uma coisa algemada. Se não fosse por Finn, ainda seria. Ou, mais provavelmente, estaria morta. Finn. O nome dele, em si mesmo, provocava dor. Magoava-a pensar na traição. O som do tambor intensificou-se. O urso saltou, e seu modo desajeitado de arrastar a corrente levou a multidão a urrar. Attia observou a cena com o rosto severo. Nesse instante, atrás do animal, ela viu o cartaz colado na parede úmida. Era o mesmo que estivera espalhado pela aldeia, em todos os lugares para os quais ela olhara. Rasgado e molhado, descolando nos cantos, convidava: Venham todas vocês, boas pessoas, Ver maravilhas! Ver os perdidos serem encontrados!! Ver os mortos viverem!!! Hoje à noite Vejam o maior mágico de Incarceron. usando a Luva de dragão de Sapphique! o encantador misterioso

Attia meneou a cabeça, desalentada. Após buscar durante dois meses, em corredores e alas vazias, aldeias e cidades, planícies pantanosas e celas brancas, por um Sapiente, por um nascido na cela, por qualquer um que soubesse algo a respeito de Sapphique, tudo o que ela encontrara fora um espetáculo cafona em um beco obscuro.

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A multidão aplaudia e batia os pés. Ela foi empurrada para o lado. Quando conseguiu retomar seu lugar, viu que o urso virara-se para encarar o treinador; ele puxava a corrente para baixo, alarmado, enquanto empurrava o animal para a escuridão com uma longa vara. Os homens ao redor bramiam com escárnio. – Tente dançar com ele da próxima vez – um deles gritou. Uma mulher riu. Vozes vindas de trás irromperam, pedindo mais, algo novo, algo diferente, soando impacientes e mordazes. Palmas esparsas começaram e, então, pararam, deixando tudo em silêncio. No espaço vazio entre as tochas, uma figura estava em pé. Ele surgiu do nada, materializando-se das sombras e da luz da chama. Era alto e usava um casaco negro que brilhava estranhamente com centenas de minúsculas faíscas. Quando ele ergueu os braços, as mangas se abriram. A gola do casaco era alta ao redor do pescoço. Na escuridão, ele parecia jovem; tinha um longo cabelo escuro. Ninguém falou. Attia sentiu a multidão chocada imobilizar-se. Ele era a imagem de Sapphique. Todos conheciam a aparência de Sapphique. Havia milhares de pinturas, esculturas e descrições suas. Ele era o Alado, Aquele Que Tem Nove Dedos, Aquele Que Fugiu da Prisão. Como Finn, ele prometera retornar. Attia engoliu em seco, nervosa. Suas mãos tremiam, e ela as apertou com força. – Amigos... – a voz do mágico era baixa; as pessoas se esticavam para escutá-lo. – Bem-vindos à minha arena de maravilhas. Vocês acham que verão ilusões. Acham que vou enganá-los com espelhos e falsas cartas com dispositivos ocultos. Mas eu não sou como outros mágicos. Sou o Encantador Misterioso, e vou mostrar-lhes a mágica verdadeira. A mágica das estrelas. Em uníssono, a multidão ofegou, pois ele ergueu a mão direita, na qual usava uma luva de tecido escuro, que emitia lampejos de luz branca. As tochas nas paredes ao redor tremularam, e sua intensidade se reduziu. Uma mulher atrás de Attia gemeu de terror.

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Attia cruzou os braços e observou, determinada a não se intimidar. Como ele fizera aquilo? Podia aquela ser realmente a Luva de Sapphique? Poderia mesmo ter remanescido? Algum estranho poder permanecia ali? Porém, enquanto assistia, começou a deixar suas dúvidas de lado. O espetáculo era extraordinário. O Encantador conseguira paralisar a multidão. Ele pegou objetos, fez com que desaparecessem, trouxe-os de volta, colheu pombos e Besouros do ar, conjurou uma mulher a dormir e a fez erguer-se lentamente, sem auxílio, na enfumaçada e pungente escuridão. Ele tirou borboletas da boca de uma criança apavorada, fez surgir moedas de ouro, que lançou para serem agarradas por dedos desesperados, abriu uma porta no ar, pela qual passou, fazendo a multidão bramir para que ele retornasse. Quando voltou, surgiu de trás das pessoas, andando com calma em meio ao frenesi, de forma que todos lhe abriram caminho, admirados, como se temessem tocá-lo. Conforme ele passava, Attia sentiu o casaco roçar seu braço. Sua pele arrepiou-se; todos os pelos eriçaram-se. Ele lançou um olhar para o lado, fitando-a com os olhos brilhantes. De algum lugar, uma mulher gritou: – Cure meu filho, Sábio! Cure-o. Um bebê foi erguido e começou a ser passado para a frente, por sobre a cabeça das pessoas. O Encantador virou-se e ergueu a mão. – Isso será feito mais tarde. Não agora. – Sua voz era autoritária. – Agora estou me preparando para reunir todos os meus poderes. Para a leitura de mentes. Para a entrada na morte e a volta à vida. Ele fechou os olhos. As tochas bruxulearam. Em pé, sozinho no escuro, o Encantador sussurrou: – Há muito pesar aqui. Muito medo. – Quando ele os fitou de novo, pareceu oprimido pela quantidade de pessoas, quase temeroso de sua tarefa. Em voz baixa, prosseguiu: – Quero que três pessoas se apresentem. Mas devem ser somente aquelas que desejem ter seus medos mais profundos revelados. Somente aquelas dispostas a desnudar suas almas para o meu olhar.

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Algumas mãos se ergueram. Mulheres gritaram. Após um instante de hesitação, Attia também levantou a mão. O Encantador caminhou rumo à multidão. – Aquela mulher – ele chamou, e uma delas foi empurrada para a frente. – Ele. – Um homem alto, que nem mesmo se voluntariara, foi arrastado pelos que estavam ao redor. Praguejando, ele permaneceu no lugar, desajeitado, como se estivesse paralisado pelo terror. O Encantador virou-se. Seu olhar moveu-se inexoravelmente pelos rostos da multidão. Attia prendeu o fôlego ao sentir os olhos dele passarem por sua face, provocando-lhe uma onda de calor. Então ele se deteve e voltou-se. Por um sombrio segundo, seus olhares se encontraram. Lentamente, ele apontou um longo dedo em sua direção. Nesse instante, a multidão gritou, pois percebeu que, como Sapphique, ele não tinha o dedo indicador direito. – Você – o Encantador sussurrou. Attia inspirou fundo para se acalmar. Seu coração martelava de terror. Ela se obrigou a adiantar-se no espaço escuro e enfumaçado, lembrando que era importante permanecer tranquila, sem revelar medo. Sem demonstrar que era diferente de todos ali. Os três se alinharam, e Attia sentiu que a mulher próxima a ela tremia de emoção. O Encantador passou por eles, examinando atentamente seus rostos. Attia encarou-o de forma desafiante. Tinha certeza de que ele nunca leria sua mente. Ela vira e escutara coisas que ele nunca poderia imaginar. Ela vira o Exterior. Ele pegou a mão da mulher. Após um instante, com gentileza, disse: – Você sente falta dele. A mulher encarou-o, assombrada. Um fio de cabelo grudou-se na testa vincada. – Oh, eu sinto, sim, Mestre! O Encantador sorriu. – Não tema. Ele está seguro na paz de Incarceron. A Prisão o mantém na memória. Seu corpo está inteiro nas celas brancas. Chacoalhando com soluços de alegria, ela beijou suas mãos. – Obrigada, Mestre. Obrigada por me dizer.

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A multidão bramiu sua aprovação. Attia deu um sorriso sardônico. Eles eram tão estúpidos! Não tinham percebido que aquele pretenso mágico não dissera nada para a mulher? Uma suposição acertada e algumas palavras vazias, e eles acreditavam sem desconfiança. Ele escolhera as vítimas com cuidado. O homem alto estava tão aterrorizado que teria dito qualquer coisa. Quando o Encantador perguntou-lhe como estava sua mãe doente, ele balbuciou que ela estava melhorando. A multidão aplaudiu. – De fato, ela está. – O Encantador gesticulou com a mão mutilada, pedindo silêncio. – E eu profetizo isso. No Acender das Luzes, a febre dela terá diminuído. Ela se sentará e chamará você, meu amigo. Ela viverá mais dez anos.Vejo-a segurando os netos. O homem não conseguia falar. Attia sentiu-se desgostosa ao ver lágrimas nos olhos dele. A multidão murmurou. Talvez estivessem menos convencidos, porque quando o Encantador foi até Attia, decidiu virar-se de repente para encará-los. – É fácil, alguns de vocês estão pensando, falar do futuro. – Ele ergueu a face jovem, lançando-lhes um olhar penetrante. – Vocês se perguntam: Como saberemos se ele está certo ou errado? E têm razão em duvidar. Mas o passado, meus amigos, o passado é algo diferente. Vou contar-lhes agora a respeito do passado desta garota. Attia ficou tensa. Talvez ele tivesse sentido seu medo, pois um leve sorriso curvou-lhe os lábios. Ele a encarou, e os olhos dele se vitrificaram lentamente, tornando-se distantes, escuros como a noite. Em seguida, ele ergueu a mão enluvada e tocou a testa de Attia. – Eu vejo – ele sussurrou – uma longa jornada. Muitos quilômetros, muitos dias cansativos de caminhada. Vejo-a agachada como um animal. Vejo uma corrente ao redor do seu pescoço. Attia engoliu em seco, querendo afastar-se. Porém, ela assentiu, e a multidão ficou em silêncio. Pegando-lhe a mão, o Encantador apertou-a com dedos enluvados, longos e ossudos. Sua voz era confusa.

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– Vejo coisas estranhas em sua mente, garota.Vejo-a subindo uma alta escada de mão, fugindo de uma grande Besta, voando em um navio prateado sobre cidades e torres. Vejo um garoto. Seu nome é Finn. Ele traiu você. Ele a deixou para trás e, embora tenha prometido voltar, você teme que ele nunca faça isso.Você o ama e o odeia. Não é verdade? O rosto de Attia ardia. Sua mão tremia. – Sim – ela sussurrou. A multidão estava paralisada. O Encantador encarou-a como se a sua alma fosse transparente, e ela descobriu que não conseguia desviar o olhar. Algo estava acontecendo com ele: uma estranheza tomara conta de seu rosto. Pequenos raios de luz brilhavam em seu casaco. A luva parecia gelo ao redor dos dedos de Attia. – Estrelas – ele sussurrou, ofegante. – Vejo as estrelas. Sob elas, um palácio dourado, com as janelas resplandecentes por causa das velas.Vejo-o através do buraco da fechadura de uma porta escura. É muito, muito longe. No Exterior. Assombrada, Attia encarou-o. O aperto em sua mão a machucava, mas ela não conseguia se mexer. A voz dele era um sussurro. – Há uma Saída. Sapphique encontrou-a. O buraco da fechadura é minúsculo, menor que um átomo. E a águia e o cisne estendem as asas para guardá-la. Ela precisava mover-se, romper aquele feitiço. Olhou para o lado. As pessoas aglomeravam-se nos cantos da arena. O adestrador dos ursos, os sete malabaristas, os dançarinos da companhia teatral estavam tão imóveis quanto a multidão. – Mestre – ela sussurrou. Os olhos dele tremeram. – Vocês procuram um Sapiente que lhes mostre a Saída. Sou esse homem. – Sua voz fortaleceu-se, e ele se virou para a multidão. – O caminho que Sapphique tomou passa pela Porta da Morte. Vou levar esta garota até lá, e a trarei de volta! A audiência urrou. Ele conduziu Attia pela mão até o centro do espaço enfumaçado. Apenas uma tocha estava acesa. Havia um sofá. Ele gesticulou para que ela se deitasse ali.

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Amedrontada, ela obedeceu. Uma pessoa gritou na multidão, e foi imediatamente silenciada. Corpos se esticavam para a frente, em meio ao calor e ao mau cheiro de suor. O Encantador ergueu a mão coberta pela luva negra. – Morte – ele falou. – Nós a tememos. Faríamos qualquer coisa para evitá-la. E, ainda assim, a Morte é uma porta que se abre para os dois lados. Agora vocês verão os mortos viverem. O sofá era duro. Ela agarrou as laterais. Foi para isso que viera. – Vejam! – ele disse. O Encantador virou-se, e a multidão gemeu, porque havia uma espada em sua mão. Ele a estava retirando do ar; lentamente, a arma foi desembainhada da escuridão, e a lâmina reluziu com um frio brilho azul. Ele a ergueu e, inacreditavelmente, quilômetros acima deles, no teto remoto da Prisão, relampejou. O Encantador olhou para cima; Attia piscou. O trovão estrondeou como um riso. Por um instante, todos o escutaram, tensos, aguardando a Prisão agir, as ruas ruírem, o céu deslizar, o gás e as luzes sufocá-los. Mas Incarceron não interferiu. – Meu pai, a Prisão – o Encantador falou rapidamente –, observa e aprova. Ele se virou. Argolas de metal pendiam do sofá; ele as prendeu ao redor dos pulsos de Attia. Em seguida, uma correia foi passada por seu pescoço e sua cintura. – Fique bem quieta – ele falou, e seus olhos brilhantes exploraram-lhe o rosto. – Ou o perigo será extremo. Ele se voltou para a multidão. – Vejam! – ele gritou. – Eu vou libertá-la. E vou trazê-la de volta! Ele ergueu a espada com ambas as mãos, e a ponta pairou sobre o peito de Attia. Ela queria gritar, ofegar, dizer “não”, mas seu corpo estava frio e entorpecido, e toda a sua atenção focava-se na lâmina afiada e resplandecente. Antes que ela pudesse respirar, ele a fincou em seu coração.

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