A Rosa e o Dragão

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A Rosa e o Drag達o



Vanessa Pereira

A Rosa e o Dragão

COLEÇÃO NOVOS TALENTOS DA LITERATURA BRASILEIRA

São Paulo 2013


Copyright © 2013 by Vanessa Neves Pereira Coordenação Editorial Filipe Nassar Larêdo Preparação de Texto Paula Passarelli Diagramação Libro Design e Comunicação Revisão Sérgio Nascimento

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995) Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Pereira, Vanessa Neves A rosa e o dragão / Vanessa Neves Pereira. –– Barueri, SP : Novo Século Editora, 2013. 1. Ficção brasileira  I. Título. 12-13756 CDD-869.93

Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura brasileira  869.93

2013 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À NOVO SÉCULO EDITORA LTDA. CEA — Centro Empresarial Araguaia II Alameda Araguaia, 2190 — 11º Andar Bloco A — Conjunto 1111 CEP 06455-000 — Alphaville — SP Tel. (11) 3699-7107 — Fax (11) 2321-5099 www.novoseculo.com.br atendimento@novoseculo.com.br


Aos sonhos que se realizam...



Àqueles que acreditaram que eu posso fazer dos meus mais absurdos sonhos, realidade. Que estão e estarão comigo sempre que eu precisar. Aos que possibilitaram a realização do sonho. Aos que caminharam comigo. Aos que me incentivaram, provocaram e estimularam de todas as formas possíveis para que eu não desistisse.



Prefácio

Eu estava andando pelo parque da cidade. Já passava da meia-noite. Estava me sentindo tão bem com o brilho da Lua que refletia em mim que nem percebi o passar das horas. Então resolvi sentar perto do lago para admirar a Lua cheia. Foi então que o vi. Andrew estava lindo, deitado olhando para o céu. Eu fiquei hipnotizada com aquela beleza sobrenatural. De repente ele olhou para mim e eu fiquei constrangida.



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ma brisa leve e gelada começou a soprar, e então ele estava ao meu lado. Ele estendeu a mão. Eu mal havia colocado a minha mão totalmente sobre a dele e já estava em pé sem perceber. Então me vi em seus braços como um animalzinho indefeso. Ele me segurava com a maior facilidade do mundo. Percebeu meu constrangimento e se afastou um pouco, ainda segurando minha mão. Foi então que ouvi sua voz, uma voz suave e ao mesmo tempo forte o suficiente para encantar e enlouquecer qualquer mulher. — Olá — disse Andrew. — O-oi. — O que você faz por aqui numa hora dessas? É tarde para uma garota de sua idade estar sozinha em um parque tão deserto. — Ele sorriu. Retribuí o sorriso meio acanhada e então respondi com um pouco de medo. — Eu estava andando e perdi a noção do tempo, mas já estou indo embora. — Soltei minha mão delicadamente, sem conseguir tirar os olhos dele, hipnotizada. Balancei levemente a cabeça após alguns segundos e sorri encabulada. Virei-me e comecei a caminhar. — Ah, me desculpe — disse ele pegando minha mão suavemente e fazendo-me virar de novo para ele. — Mas que falta de classe a minha! Esqueci de me apresentar. Meu nome é Andrew. Mas você também não me disse o seu. — Ele sorriu. — Ah, meu nome é Desirée — disse com um pouco de medo. — Bom, se você me der licença, eu já estava de saída. — Por quê? — disse apertando um pouco mais minha mão. — Você não deve ter nada para fazer a essa hora mesmo, fique um pouco aqui comigo


para podermos conversar. — Gentilmente soltou-me e depois se aproximou. — Fique mais um pouco, juro me comportar — disse olhando em meus olhos. — Por favor? Seus olhos me prenderam. Castanhos meio rubros, tão incisivos... Não aguentei. Pensava em falar que não podia, mas as palavras não saíam de minha boca. Não conseguia resistir aos encantos daquele estranho. — Tudo bem — disse eu em um impulso. — Ótimo! — respondeu ele em um tom animado, porém ainda sombrio e sensual. Andrew indicou o banco para que nos sentássemos. — Desirée, não é? — disse ele me olhando. — Sim. Ficamos em silêncio por um tempo. — Você mora aqui? — perguntei sem pensar. — Na cidade, quero dizer. — Por pouco tempo. Estou de passagem. — Entendi. — Você mora aqui há muito tempo? — Desde que nasci. Ele respirou fundo e tocou meu ombro. Como reação, olhei para ele. Senti um frio na espinha. — Por que não se vira para mim? Não vou lhe fazer nada. Estamos só conversando. Virei o rosto. Não sabia o que responder. Segurou delicadamente meu queixo e me fez olhar para ele. Seu olhar era profundo. Prendia-me. — Desirée... não vou fazer nada que você não queira. — Eu sei. — Eu não conseguia encará-lo. — Por que fala comigo como se estivesse falando com alguém que estivesse te ameaçando? — perguntou parecendo ofendido. Tentei virar a cabeça levemente, e ele então me soltou. Desviei o olhar, mas sempre voltava a encontrar seus olhos. Vi a intensidade em Andrew, via que ele falava a verdade, mas eu sentia um frio na espinha quando olhava em seus olhos ou quando ele me tocava.

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— Podemos ficar aqui a noite toda se quiser. Não precisamos conversar. Gosto de apreciar a Lua. Você gosta da Lua? Fiquei olhando para ele, depois me voltei para o lago. — Desirée? — chamou ele tocando minha mão. — Gosta da Lua? Senti seu toque frio, mas ao mesmo tempo um calor intenso. Relaxei, e, assim que me dei conta dessa sensação, fiquei tensa. O que ele estava fazendo comigo? Eu tirei minha mão da dele. Levantei e me dirigi rapidamente para a saída do parque. Em poucos segundos ele me acompanhava com facilidade. Ignorei o fato de ele ter me alcançado tão rápido, e continuei a andar olhando para o chão, evitando qualquer tipo de contato visual com aquele ser. Em silêncio, ele me acompanhou até a porta do parque. Sua postura impecável, as mãos nos bolsos do jeans. Por um breve momento achei que ele não iria falar nada e simplesmente me deixaria ir. Era o que eu realmente queria? Que ele me deixasse ir sem mais nenhuma palavra? Sim... em parte. Por outro lado eu queria que ele me segurasse, que me tocasse e que dissesse algo mais. Queria ficar ali com ele. Queria? Hesitei por um breve segundo no portão do parque. Cerrei meus punhos. Não sabia o que queria. O que eu devia fazer? Despedir-me? Sair sem dizer nada? Ficar? Respirei fundo e recomecei a caminhar, ainda com as mãos fechadas, as unhas começavam a machucar minhas palmas, mas eu me recusava a relaxar. Algo me impedia. Senti que ele não me acompanhava mais. Quando eu estava a uns dez metros do parque, ouvi-o me chamar. — Desirée? — Ele me olhava do portão do parque. Eu me virei e olhei para ele. Meus pensamentos me diziam: “não olhe... não olhe!”, mas eu não consegui. Eu esperava que ele me chamasse, era o que eu queria, era o que eu não queria querer, era o que eu esperava e não queria esperar. — Você mora longe? — A pergunta dele, como as outras, não fazia muito sentido para mim. Dei de ombros. Não morava realmente longe do parque, eram mais ou menos cinco quarteirões. Capítulo 1    13


— Quer uma carona? — perguntou ele mesmo eu não tendo respondido a sua primeira pergunta. — É um pouco perigoso você andar sozinha na rua a essa hora. Abaixei a cabeça. Por que eu não conseguia responder às suas perguntas? Ele tinha certa razão sobre a segurança, mas eu não conseguia abrir a boca para concordar, discordar ou sequer agradecer sua preocupação. — Desirée? Eu fechei os olhos e respirei profundamente. — Tudo bem... Voltei na direção dele, e nós fomos para o estacionamento do parque. Ele foi para o carro e gentilmente abriu a porta do carona para que eu entrasse em uma linda Ferrari vermelho-sangue. Levou-me para casa, e a viagem foi tranquila. Ele permaneceu calado durante todo o percurso, enquanto eu só falava o necessário, indicando o caminho. Parou suavemente na porta de minha casa. — Obrigada — disse sem olhá-lo e me virei para abrir a porta. Ele pegou minha mão e, quando me voltei, olhou dentro de meus olhos. A calma e o desejo de tê-lo perto de mim que eu experimentara no parque haviam voltado. Ele sustentou meu olhar por alguns segundos e depois falou. — Posso te ver amanhã? Fui pega de surpresa por aquela pergunta. Abri e fechei a boca repetidas vezes, mas não conseguia responder nada. Ele continuava a me encarar, sem deixar que meus olhos se desgrudassem dos seus. Sua mão continuava sobre a minha. Se eu quisesse (mas eu não queria), teria desvencilhado minha mão daquele firme aperto. Seus olhos me pediam uma resposta. Então pressionou levemente minha mão, como se me incentivasse a responder. Assenti. — Te vejo amanhã então — disse ele pressionando mais uma vez minha mão e beijando-a. — Eu passo aqui para te pegar por volta das nove da noite? Assenti novamente. Ele beijou novamente minha mão e então a soltou. Fitou-me por alguns instantes, olhando bem fundo em meus olhos. Desvencilhei-me de seu olhar e abri a porta do carro. 14

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Ao descer, dei a volta pela frente do carro, sentindo que seu olhar me acompanhava. Antes de entrar em casa, olhei para trás. Como se esperasse aquele último olhar como a confirmação de nosso próximo encontro, ele abriu um pequeno sorriso e acelerou para a escuridão. Eu entrei e tranquei a porta. Corri para meu quarto e me joguei na cama. Puxei o telefone do criado-mudo e espiei o relógio: 1h41 da manhã. Mesmo que Mel estivesse dormindo, eu precisava conversar com ela. Disquei o número e o telefone começou a chamar.

Capítulo 1    15


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