XXV Simpósio Nacional de História

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01 seus catecismos e correspondências. Nesses casos, as santidades ocidentais passam a ser denominadas como marangatu, neologismo missional destinado a identificar um conjunto de seres criados naquele contexto para representar e defender a moral pregada pelos índios congregantes e os padres jesuítas. Tal fato aponta à possibilidade de entender essas produções não como potentados da religiosidade experimentada nos povoados, menos ainda como reproduções restritamente vinculadas à hagiografia ocidental, mas, sim, como um conjunto de expressões e representações oriundas de um dos tantos grupos nascidos no interior do complexo central de cada Missão, carregados de uma intenção social. Nome: Josemary Omena Passos Ferrare E-mail: jferrare@uol.com.br Instituição: UFAL Título: A sacralização imagética e espacial definida pela localização do edifício-igreja como recurso persuasivo aplicado na colonização do litoral sul da Capitania de Pernambuco: alguns casos em análise Da estruturação espacial dos Aldeamentos catequéticos marcada pela disposição ímpar do edifício-Igreja, equivalente a um ponto focal absorvente da atenção sensorial dos utilizadores daquele espaço, investiga-se sobre esta intenção, também percebida na configuração dos adros definidos na edificação de “Patrimônios Religiosos” e em padrão de santuários ocorrentes na metrópole lusitana, ancorados em regulamentações régio-litúrgicas que direcionavam a visada e o sentido a ser percorrido para o alcance do ícone que representava a essência da Cristandade. O edifício-igreja resulta analisado nos partidos de espacialização citados como eixo central de orientação geo-espacializada e sócio-ideológica, que sobrepunha como reforço imagético de sua sacralização, a cruz, sempre “plantada” à sua frente. Entendendo-se que o ideário colonizador exaltava sobremaneira a imagética do edifício-igreja, da localização ao uso de adornos para suscitar a emoção através do sentido da visão, considerado “o primeiro dos sentidos, aquele que não [errava]... [e] o ver [era considerado] um prazer.” (GAMBINI, 2000, p. 194), alguns exemplares de igrejas edificadas sob este “primado do visual”, ao longo do litoral da parte sul dos limites da antiga Capitania de Pernambuco, são focos de análises. Nome: Leandro Henrique Magalhães E-mail: leandro.magalhaes@unifil.br Instituição: Centro Universitário Filadélfia - UniFil Título: O Tomismo Tridentino como marca da ação evangelizadora jesuíta na América Portuguesa O não entendimento do outro marcou a ação jesuíta na América Portuguesa. Os inacianos, influenciados pelo ideal de homem referendado pelo Concílio de Trento e marcados pelo tomismo moderno daí decorrente, buscaram, a partir de sua ação evangelizadora, integrar o índio no corpo místico do Império Português, fazendo dele cristão e súdito do rei. Partiu-se da concepção de “Lei Natural da Graça”, princípio contrareformista de base tomista, que favoreceu o entendimento de que, no caso indígena, a graça estaria encoberta pelos maus costumes e pela língua. Seria necessária uma ação que possibilitasse ao índio despertar para a memória do bem, e assim, identificar em sua prática elementos do mal, arrependendo-se. Dentre as estratégias usadas esteve a educação, cujo elemento norteador fora o Ratio Studiorum, e a manipulação da língua que, ao ser sistematizada e transformada a partir da constituição de uma gramática nos moldes europeus, levaria o índio ao entendimento da palavra de Deus e à conversão. Estas estratégias, foco do presente estudo, levaram ao não entendimento do índio brasileiro pelos jesuítas, que denominaram sua prática como “dificultíssima”, alertaram para a “Inconstância da Alma Selvagem” e entenderam os costumes indígenas como demoníacos, ou marcados pela ausência do bem. Nome: Leandro Karnal E-mail: karnal@uol.com.br Instituição: UNICAMP Título: Crônica e memória: etnias e representação do passado na América Colonial As crônicas coloniais da América colonial foram sempre tratadas como uma evidência da divisão em fontes espanholas, criollas, indígenas e mestiças. Cada vez mais este universo de “castas” e seus limites bem definidos tem sido questionado. A análise incide sobre os problemas e limites da invenção do passado na América a partir das divisões étnicoculturais. Afinal, a crônica reforça ou dissolve as barreiras da representação étnica na América?

Nome: Luis Guilherme Assis Kalil E-mail: lgkalil@yahoo.com.br Instituição: Universidade Estadual de Campinas Título: O julgamento das crônicas: análise das diferentes interpretações sobre a conquista do Novo Mundo a partir dos relatos de Ulrico Schmidl e Hans Staden O presente trabalho visa analisar as diferentes leituras feitas dos primeiros relatos sobre as terras do Novo Mundo. Em especial, buscaremos analisar os “caminhos” percorridos pelas obras de Ulrico Schmidl, na Argentina, e Hans Staden, no Brasil, ao longo dos séculos XIX e início do XX. Período este, marcado por uma historiografia com forte teor positivista, que buscou realizar “julgamentos” das crônicas em busca do que consideravam serem informações confiáveis sobre o início da conquista das terras sul-americanas. Nome: Luisa Tombini Wittmann E-mail: luisaw@matrix.com.br Instituição: Universidade Estadual de Campinas Título: Léry e Nóbrega: experiências e narrativas musicais Esta comunicação discute os papéis da música em projetos missionários e coloniais na América Portuguesa, analisando principalmente as experiências e as narrativas do calvinista Jean de Léry e do jesuíta Manuel da Nóbrega na metade do século XVI. A música, parte importante do universo indígena, se mostrou eficiente na aproximação, comunicação e tradução entre índios e europeus, tendo sido por estes observada, descrita e utilizada na evangelização. Este trabalho pretende inserir a música enquanto parte importante do processo de mediação cultural, revelando que a arte sonora foi acionada de diversas formas – tanto na ação quanto na escrita – pelos sujeitos históricos envolvidos nos empreendimentos da França Antártica e da Companhia de Jesus. Nome: Luiz Fernando Medeiros Rodrigues E-mail: lmrodrigues@unisinos.br Instituição: Unisinos Título: A narrativa apologético-histórica de Lourenço Kaulen, paradigma de resistência jesuítica ao antijesuitismo pombalino O antijesuitismo constitui um fenômeno e um movimento religioso, cultural, sóciopolítico, em nível internacional. Sua origem pode ser encontrada na oposição e nas críticas à nova espiritualidade de Inácio de Loyola e propagada pelos seus companheiros fundadores da Companhia; através de censuras, desconfianças e de requisitórias inquisitoriais que suspeitavam da ortodoxia do modo de vida e da atuação pastoral do grupo fundador. Um dos mais inexoráveis perseguidores da Companhia foi Sebastião José de Carvalho e Melo, que desencadeou uma feroz campanha antijesuítica, com influências internacionais. Após a sua caída, os jesuítas sobreviventes, dispersos pelos vários reinos, ensaiaram um processo de resistência ao antijesuitismo europeu com escritos. O objetivo deste trabalho é examinar um destes escritos, a “Relação...” de Lourenço Kaulen, inserindo-o no processo de resistência ao antijesuitismo (e a sua expressão mais violenta, a jesuitofobia), como tentativa dos ex-jesuítas sobreviventes de contra-atacarem o imaginário mítico do “complot dos jesuítas” e do jesuitismo como sendo prejudicial à sociedade e fonte de toda sorte de malefícios. Kaulen inaugura um novo tipo de escrito, o “apologético-histórico”, modelo e paradigma para outros relatos e apologias filojesuíticas. Nome: Márcia Eliane Alves de Souza Mello E-mail: marciamello64@yahoo.com.br Instituição: Universidade Federal do Amazonas Título: As Visitas pastorais e ação inquisitorial na Amazônia colonial (1727-1760) Durante o processo de colonização da América observou-se a ocorrência de comportamentos que violavam as normas do sistema social, de relações censuráveis e comportamentos desviantes. Dentre as diversas instituições presentes no Novo Mundo, foi inegável a atuação da Igreja na política de ocupação, cuja ação evangelizadora imputou medidas coercitivas para inibir tais atitudes, contribuindo assim para a manutenção da ordem social. Este trabalho tem como objetivo compreender a ação conjunta de dois mecanismos de controle e vigilância social, presentes no Estado do Maranhão e Grão-Pará, na primeira metade do século XVIII: a ação inquisitorial e a visitação diocesana. Também compreendidos como mecanismos de vigilância da fé, pelos quais se deram a persuasão de normas e valores. Importam-nos observar as diversas formas utilizadas para disciplinar uma população de maioria indígena e mestiça. Para tanto, se fez uso do cruzamento de fontes inéditas de natureza eclesiástica, bem como de processos inquisitoriais que possibilitam compreender não somente o

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funcionamento das instituições eclesiásticas na Amazônia portuguesa, mas também registrar os modos de vida existentes na colônia através dos relatos das visitas pastorais. Nome: Márcia Sueli Amantino E-mail: marciaamantino@terra.com.br Instituição: Universidade Salgado de Oliveira Título: A Expulsão dos jesuítas da Capitania do Rio de Janeiro: aspectos econômicos A partir da década de 1730 percebe-se que cada vez mais aumentavam os questionamentos sobre o papel desempenhado pelos Jesuítas em todo o reino português. Se antes eram vistos como aliados dos interesses reais, passaram gradativamente a ser identificados como perigosos inimigos. O ponto crucial deste embate foi a ordem de expulsão deles de todo o Reino e áreas coloniais, efetivada por Pombal em 1759. Este momento é bastante complexo e envolve uma série de fatores, mas esta comunicação pretende analisar apenas seus aspectos econômicos. O objetivo é demonstrar como estava alicerçada a base material dos inacianos na Capitania do Rio de Janeiro através de sua movimentação financeira. Para tanto, serão utilizados diferentes documentos produzidos pelas autoridades coloniais no momento em que precisavam tomar posse dos bens, das fazendas, dos engenhos, do dinheiro e dos escravos que pertenciam aos inacianos. Nome: Maria Conceição da Glória Santos E-mail: mcgsgloria@gmail.com Instituição: Universidade Estadual de Maringá/UEM Título: As Relações entre a Igreja e o poder monárquico português: os sermões de Antonio Vieira como base ideológica para a manutenção da Restauração Em Portugal, no século XVII, é possível verificar ainda a permanência de uma estrutura ideológica baseada nos moldes do Antigo Regime, onde as relações entre a Igreja e o poder monárquico eram entrelaçadas, mesmo já tendo ocorrido as transformações sociais, políticas e econômicas do Renascimento. É nos momentos de instabilidade política que essas relações se evidenciam, como em 1640, quando Portugal se livra do domínio espanhol, dando início ao período da Restauração. O presente trabalho se propõe a compreender como se constituíam essas relações, tendo como objeto de estudo os sermões do Pe. Jesuita Antonio Vieira, proferidos no período, entendendo seu discurso e ação como instrumento através do qual as bases ideológicas foram postas para a manutenção da Restauração recém conquistada. Nome: Maria Cristina Bohn Martins E-mail: mcris@unisinos.br Instituição: UNISINOS Título: Uma viagem pelos “confins do mundo”. José Cardiel e a missão ao Rio Sauce (1748) Foi apenas nos inícios do século XVIII que os territórios ao sul de Buenos Aires passaram a despertar a efetiva atenção das autoridades espanholas, de acordo com a política de expansão das fronteiras desenvolvida pela monarquia bourbônica. Sabe-se que a partir de 1740 um número significativo de viagens percorreu o território da “pampa buenairense” (Barcelos, 2006; Aymara, 2008). Os missionários da Companhia de Jesus estiveram envolvidos em muitas destas empresas, numa ação que é, simultaneamente, missionária e de exploração “científica” dos territórios percorridos. O trabalho aqui proposto pretende analisar a intersecção destes interesses na missão que empreendeu, em 1748, Jose Cardiel S.J. “hacia la desembocadura del Rio de los Sauces al Mar”. Nome: Maria Emília Monteiro Porto E-mail: mariaporto2@yahoo.com.br Instituição: UFRN Título: Jesuítas e clérigos na Capitania do Rio Grande: proximidades e conflitos Tomamos nesse trabalho as missões jesuíticas organizadas na Capitania do Rio Grande entre 1597 e 1759 como parte de um processo amplo da Idade Moderna processado entre Europa e América. As habilidades manejadas pelos missionários os faziam cada vez mais autorizados por conta da eficiência e conveniência de sua atuação em importantes momentos da história da conquista e organização territorial. No entanto, uma série de conflitos com indivíduos e instituições integrados no processo de colonização, assim como o apoio tantas vezes irregular das forças monárquicas indicam o frágil equilíbrio em que se mantinha o problema da autoridade missionária. Apresentamos aqui alguns matizes das relações entre jesuítas

e setores clericais, procurando compreender na delicada trama em que se sustentava a autoridade missionária os processos recíprocos de afastamentos e proximidades que apontam para a dimensão política e cultural dessa relação. Nos aproximamos da compreensão desse processo através do exame da correspondência da Ordem e da correspondência do Conselho Ultramarino que nos remetem às formas como foram processados interna e externamente esses conflitos e ao potencial efeito de representação que comportam. Nome: Marília de Azambuja Ribeiro E-mail: ribeiromarilia@hotmail.com Instituição: Universidade Federal de Pernambuco Título: O Ensino de gramática e humanidades nas escolas jesuíticas luso-brasileiras Como atesta a famosa inscrição sobre as portas de entrada da primeira sede do Colégio Romano, “Schola di Grammatica, d´Humanità e Dottrina Christiana, gratis”, os jesuítas foram herdeiros diretos das reformulações propostas pelo humanismo renascentista para a organização das disciplinas que compunham os medievais trivium e quadrivium. No âmbito de uma pesquisa que se ocupa, mais amplamente, do estudo das humanidades no contexto da educação jesuítica íbero-americana, aqui propomos tratar das transformações que o ensino da gramática e das humanidades sofreu entre os séculos XVI e XVIII nas escolas jesuíticas do universo luso-brasileiro. Nome: Meynardo Rocha de Carvalho E-mail: meynardo@gmail.com Instituição: Fundação Educacional de Macaé Título: Jesuítas colonizadores: redes, terras e conflitos nos Campos dos Goytacazes – séculos XVII e XVIII Este trabalho objetiva discutir algumas possibilidades de resgate da história do Norte Fluminense a partir da ação colonizadora dos padres da Companhia de Jesus. A concessão de uma sesmaria a esses religiosos pelo ano de 1630 foi o marco regional de um processo de “desbravamento” que, ao derrubar fronteiras ao tempo que “costurava” a unidade, colocou-os como fundamentais numa primeira fase de extensão do Império Português a essa região da colônia. As ações para implantação e manutenção das propriedades fizeram com que os padres agissem com amplitude bem maior do que simplesmente fincar alicerces da Igreja e evangelizar os indígenas. Mas proporcionou também a atuação a partir do poder temporal, o que fomentou intrigas políticas e disputas de terras tanto com reinóis como com os beneditinos que também lá se instalaram. Jesuítas colonizadores é uma pesquisa ainda em fase inicial que, considerando a escassez de documentação direta sobre o assunto, busca se construir através dos “nós e fios” das redes históricas tecidas por aqueles atores sociais. E considera a sua expulsão em 1759, sobretudo, pelo estágio de autonomia adquirido por esse Império. Nome: Paulo Rogério Melo de Oliveira E-mail: paulo_rmo@hotmail.com Instituição: UNIVALI Título: A rebelião de Ñezú contra os missionários jesuítas no Ijuí: em defesa de su antiguo modo de vida (1628) Em 15 de novembro de 1628 o cacique e pajé Ñezú liderou uma rebelião contra as reduções jesuíticas estabelecidas na região conhecida na época como Uruguai (que hoje corresponde à região das Missões no Rio Grande do Sul), que resultou na morte dramática de três missionários da Companhia de Jesus e deflagrou uma guerra que envolveu índios cristãos, índios infiéis e espanhóis. A guerra durou quase dois meses, envolveu quase duas mil pessoas e terminou com o enforcamento de vários líderes indígenas envolvidos na conspiração. Na rebelião de Ñezú não existem apelos à terra sem mal nem promessas de salvação. Foi um movimento contra a influência crescente dos missionários nas suas terras e a ameaça de destruição do antigo modo de vida Guarani, advogado pelo cacique/pajé. Nome: Raul Goiana Novaes Menezes E-mail: raulgsp@hotmail.com Instituição: UFPE Título: Blasfêmia e sacrilégio na legislação civil e eclesiástica em Portugal do século XVI O avanço de movimentos e idéias contrárias aos dogmas durante a Idade Média obrigou a Igreja a pensar maneiras de vigiar a conduta de seus fiéis. O 3º Concílio de Latrão, no século XII, tratou da figura do herege, definindo-o. Também nesse século, a constituição promulgada pelo papa Lúcio III atribui aos bispos o papel da vigilância. A este cenário somam-se os poderes delegados pelo papa Honório III, no século XIII, a recém criada

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