De Musa à Medusa

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Inscrito no corpo: Frida Kahlo e Orlan

Definiçãoa Arte Carnal é a arte do auto-retrato no sentido clássico, realizada através das possibilidades da tecnologia Oscila entre a desfiguração e a reconfiguração. Sua inscrição na carne é uma função de nossa era. O corpo tornou-se um produto maleável, não mais representando nem sinalizando, como antes, um ideal da figura humana.

Distinção Distinta da “Arte Corporal” (Body Art), a Arte Carnal não considera a dor como redentora nem purificadora. Também não está interessada nos resultados da cirurgia plástica, mas no processo da operação em si, no espetáculo e no discurso do corpo modificado que se torna o lugar de um debate público.

Ateísmo AArte Carnal não é herdeira da tradição cristã, mas resiste a ela. A Arte Carnal ilumina a recusa do Cristianismo ao prazer corporal, expondo suas fraquezas em face das descobertas científicas. A Arte Carnal repudia a tradição do sofrimento e do martírio, substituindo em vez de remover, acrescentando em vez diminuir. A Arte Carnal não é auto-mutilação. A Arte Carnal transforma o corpo em linguagem, invertendo a ideia bíblica da palavra feita carne; a carne é feita palavra. Só a voz de Orlan permanece inalterada. A Arte Carnal considera a aceitação da dor do parto anacrônica e ridícula. Como Artaud, ela rejeita a piedade divina – que venham as epidurais, as anestesias locais e as múltiplas analgesias! Salve a morfina! Viva a morfina! Que morra a dor!

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