De Musa à Medusa

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A Dama e o Unicórnio: exercícios de imaginação

A trama cruzou-se com a urdidura: está nascida a tapeçaria. Todos os remates foram concluídos, dados os nós, o tecelão partiu com o seu salário. O órgão, pode, enfim, tocar. Suba o seu primeiro som, levante-se, alargue-se, expanda-se no espaço, preencha ao menos um pouco deste tempo esquivo. E venham mais os outros sons, música das mãos, quatro são, que correm sobre as teclas ou convocam do céu os ventos calmos. Falta apenas que uma destas mulheres cante, para que uma voz humana diga, por palavras nossas de humanos, o que tão grandes coisas significam. E, tendo-o dito, olhe para nós em silêncio.22

Nuno Bragança, no conto dedicado ao painel “O paladar” (Fig. 11), aborda o erotismo tão presente na composição da mulher inominável, protagonista feminina do romance osmaniano, sobretudo no enredo do capítulo “⊙ e Abel: o Paraíso”:

Fig. 11. O paladar (detalhe) 22. SARAMAGO, 1979:26.

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