Amazônia Maranhense

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Cenário geral Entre os anos de 1984 e 2000 a área total desmatada de floresta ombrófila amazônica no Maranhão foi de 795.909,64 ha, ou seja, houve uma redução de 25,9%, com média anual de 1,62%. Dados relacionados à dinâmica de perda de habitat são apresentados por Araújo et al. (2011). Observou-se um aumento da fragmentação, pois os intervalos de classe de 100-1.000 ha e 1.000-50.000 ha, os quais representavam 11,51% em 1984, passaram a 16,23% da área total remanescente em 2000. Como consequência, houve uma diminuição da representatividade do intervalo de classe subsequente, e bem mais representativo em termos de tamanho de área. Ficou nítido que a única área de tamanho considerável desde 1984 seria aquela da Unidade Biológica do Gurupi (Rebio e áreas indígenas). Ainda na comparação entre as áreas remanescentes de 1984 e 2000, percebe-se que o maior efeito da fragmentação ocorreu nas áreas fora das reservas, notadamente ao norte da Reserva Indígena do Alto Turiaçu e região do Bico do Papagaio. Pode-se observar também o efeito da perda da cobertura vegetal dentro das áreas legalmente protegidas, especialmente da Rebio do Gurupi. Os dois componentes da fragmentação do habitat, a perda e a insularização, contribuem para a perda da diversidade biológica. Este “colapso” da biota teria também um componente temporal que poderia ter atuação imediata ou em 10.000 anos, dependendo do tamanho do fragmento e do táxon. Segundo Wilcox e Murphy (1985), os efeitos da subdivisão da população decorrente da fragmentação estão diretamente associados à probabilidade de extinção, sendo que a extinção de uma espéciechave poderia levar a um efeito cascata de extinções secundárias de outras espécies associadas a elas. Lindenmayer et al. (2000) observaram uma significativa correlação positiva entre o efeito do tamanho dos fragmentos e a riqueza da comunidade de mamíferos na Austrália. A Tabela 1 apresenta o quadro geral e o nível de ameaça dos principais fatores impactantes na região da Rebio Gurupi. Quando comparada com as Reservas Indígenas adjacentes, torna-se mais alarmante o grau de degradação desta UC. Isto, por sua vez, decorreu da ausência de ações ao longo dos anos por parte dos seus representantes legais, em última instância, o Governo Federal. É de conhecimento em nível federal do estado depauperado desta Unidade de Conservação, tida pelo próprio Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), em Brasília, como “a de pior estado de conservação do Brasil.” O estado de degradação chegou a tal ponto que ninguém em sã consciência concebe tal área com pastos, capoeiras em estágios iniciais de sucessão, plantações de arroz, milho, além da mata completamente degradada fazerem parte de uma Reserva Biológica. Desde a realização do “Workshop 90 – Áreas Prioritárias para Conservação da Amazônia Brasileira,” a Rebio Gurupi já era listada juntamente com os Parques Nacionais do Pico da Neblina, Serra do Divisor, Amazônia, Pacaás Novos e Araguaia, além da Rebio Trombetas, como as mais ameaçadas da Amazônia brasileira. Atualmente a Rebio do Gurupi foi indubitavelmente considerada a mais ameaçada de todas (RYLANDS; PINTO, 1998). Esta situação permaneceu até o presente ano, quando finalmente ações de comando e controle e estratégias de pesquisa e educação foram implantadas na área (ver o primeiro capítulo deste volume). Apesar do precário estado, as características mais relevantes da Rebio mantêm-na ainda como uma importante área para conservação (Tabela 2). Percebe-se, que a despeito do seu depauperado grau de conservação, esta reserva apresenta importância muito alta no contexto geral da conservação no


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