COMUNICANDO A PALAVRA DE DEUS

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Ivo Xavier de Oliveira

Comunicando a Palavra de Deus: Homilia

Editora A Partilha


“Pois a fé vem da pregação e a pregação é pela palavra de Cristo” Romanos 10,17


ORAÇÃO ANTES DA PREGAÇÃO Deus, meu mestre, desejo pregar hoje, mas sou fraco e incapaz dessa tarefa; no entanto, desejo que as pessoas possam ser edificadas com a verdade divina, que um testemunho honesto possa ser produzido para Ti. Ajude-me na pregação e na oração, com um coração elevado pela graça e unção. Apresente diante de mim o que seja pertinente ao meu tema, com propriedade e clareza de pensamento, expressões apropriadas, fluência, fervor, sensibilidade para o tema da pregação e graça para aplicá-lo à consciência dos homens. Mantenha-me consciente o tempo todo de meus defeitos e não permita que eu me regozije com orgulho de minha atuação. Ajude-me a oferecer um testemunho de Ti e a desculpar os pecadores que negligenciam tua misericórdia. Dê-me liberdade para abrir as feridas de teu povo e apresentar-lhe conforto. Confere poder à verdade pregada e desperta a atenção de minha audiência indolente. Que teu povo seja renovado, quebrantado, convencido e confortado e ajuda-me a usar os mais fortes argumentos encontrados na encarnação e nos sofrimentos de Cristo, para que os homens sejam santificados... Amém.1

Arthur BENNETT. Valley of vision. Carlisle, Pa.: Banner of Truth, 1975, apud Ed ROWELL. Apaixonado pela pregação. Trad. Marcello Tolentino. São Paulo: Vida, 2003, pp 87-88.

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Agradecimentos A gratidão é uma forma de expressarmos o nosso respeito e reconhecimento àqueles que de alguma forma contribuíram com o nosso crescimento. É por isso que nominalmente agradeço: À Profa. Marly Rosinha, Profa. Marina Alvarenga, Profa. Elisabete Jacques Urizzi Garcia, Profa Sonia Aparecida Andrade Alves, Prof. Marco Aurélio Pinheiro Maida, Teólogo Hernani de Freitas Prado Pereira Garcia e Dr. Celeste Gabriel Pereira Jeremias, pela leitura inicial deste trabalho. Ao Prof. Wilson Magossi, amigo sincero e cientista crítico, pelas contribuições entre as várias leituras e sugestões, o meu mais profundo respeito pela seriedade com que me ouve e orienta. Ao Pe. Gabriel Gonzaga Bina, pelo apoio e sugestões na concretização deste trabalho. À Profa Dra. Eliana Vianna Brito, que mais uma vez, mui gentilmente, mesmo sem tempo suficiente, fez a revisão deste trabalho. À minha família pela ajuda velada, mas imprescindível na concretização deste trabalho. Enfim, a todos que, direta ou indiretamente, colaboraram para o enriquecimento deste trabalho, o meu mais profundo obrigado.


Dedicatória À minha esposa Sandra, à minha filha Natália e ao meu filho Nícolas.


SUMÁRIO PREFÁCIO

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INTRODUÇÃO

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I A ARTE RETÓRICA 13 1.1 Breve história ........................................................ 13 II HOMILÉTICA 17 2.1 Importância e Natureza ......................................... 17 2.2 Homilia, pregação ou sermão? .............................. 18 2.3 A pregação ............................................................. 21 III A HOMILIA

3.1 Preparação da Homilia......................................... 23 3.1.1 O Texto................................................................ 25 3.1.2 O Título .............................................................. 27 3.1.3 Introdução .......................................................... 27 3.1.4 Desenvolvimento ou Corpo da Homilia............. 28 3.1.5 Conclusão............................................................ 28 3.1.6 Apelo................................................................... 29

IV ORIENTAÇÕES PASTORAIS

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4.1 4.2 4.3

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Preparação técnica............................................... 31 Recursos tecnológicos ......................................... 32 O espaço sagrado e as celebrações ......................... 34


4.3.1 Celebrações em ambiente aberto......................... 35 4.3.2 Celebrações em ambiente fechado...................... 35 4.3.3 Acomodação dos fiéis......................................... 36 4.4 Iluminação do espaço sagrado............................. 36 4.5 Assembléia participativa...................................... 38 4.5.1 Missa com público infantil................................. 39 4.5.2 Missa com público jovem.................................. 40 4.5.3 Missa com público adulto.................................. 41

V RECURSOS ESTÉTICOS

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5.1 Gestos e Posições do corpo na liturgia cristã....... 43 5.1.1 Permanecer em pé............................................... 45 5.1.2 Sentados.............................................................. 45 5.1.3 Ajoelhar-se.......................................................... 46 5.1.4 Genuflexão.......................................................... 46 5.1.5 Inclinação ou Reverência..................................... 46 5.1.6 Beijo ou ósculo.................................................... 47 5.1.7 Mãos.................................................................... 47 5.1.8 Prostração............................................................ 48 5.1.9 Silêncio................................................................ 48 5.1.10 O sinal da cruz.................................................... 48 5.2 O processo da comunicação: voz e linguagem ........... 49 5.3 Respiração e voz...................................................... 51 5.4 Postura.................................................................... 53 5.5 O semblante e o olhar................................................. 55 5.6 Vestes sagradas e cores litúrgicas................................ 57 5.6.1 Vestes sacras usadas na liturgia............................ 59 5.6.2 Cores litúrgicas.................................................... 60 CONSIDERAÇÕES FINAIS 63 BIBLIOGRAFIA

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ANEXOS

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Comunicando a Palavra de Deus: Homilia

PREFÁCIO O livro “Comunicando a Palavra de Deus: Homilia”, do Prof. Ivo Xavier é uma referência importante para nós que lidamos com liturgia e comunicação. Com palavras simples e orientações práticas, o Prof. Ivo Xavier nos fornece sugestões que poderão ajudar na comunicação da Palavra de Deus, utilizando as técnicas e os recursos da oratória sacra em nossas homilias e nos comentários complementares. Nossas missas e celebrações dominicais normalmente pecam por excesso, por carência de conteúdo ou mesmo de estrutura lógica de pensamento. Desse modo, caímos facilmente num discurso que não chega ao seu objetivo. Tal fato pode ser facilmente observado quando fazemos a experiência de perguntarmos para as pessoas, ao final das Celebrações, o que ficou de tudo o que dissemos. Às vezes, nem mesmo quem presidiu a celebração se lembra do que disse na homilia. Essa é uma falha grave! O livro do Prof. Ivo Xavier nos mostra que o comunicador precisa não só saber com antecedência o que vai dizer à assembléia, como também dominar as mínimas técnicas de comunicação. O Espírito Santo age, mas Deus nos deu inteligência, sabedoria e recursos para serem utilizados. Na comunicação litúrgica e, especialmente, nas homilias, não pode haver improviso. Não basta “fazer por fazer”, para a validade do ato; o “como fazer” é fundamental para a eficácia dos sacramentos na vida e para que as pessoas apreciem, retenham e anunciem o que aprenderam, e isso o Prof. Ivo Xavier expressa neste livro com segurança e competência. Pe. Gabriel Gonzaga Bina Professor de Liturgia da Faculdade de Filosofia e Teologia Paulo VI - Diocese de Mogi das Cruzes


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INTRODUÇÃO A presente reflexão é fruto de observações de algumas homilias proferidas nas liturgias2 dominicais católicas. De um lado, esta arte não tem sido suficientemente explorada pelos ministros ordenados, como também tem sido pouco compreendida na sua mensagem por fiéis que se vêem desmotivados em função de certos deslizes que podem ser facilmente corrigidos. Por outro lado, alguns ministros ordenados têm apresentado dificuldades na apresentação da mensagem evangélica, gerando o descompromisso do fiel ouvinte, pela inadequação na utilização de técnicas de comunicação e no manuseio dos recursos de multimídia disponíveis atualmente. Parece-nos que essas dificuldades são causadas pela pressa do mundo moderno que aflige tanto os pregadores, impossibilitados de um tempo maior para a preparação do material e para a utilização de equipamentos, muitas vezes desconhecidos, que certamente ajudariam a captar melhor a atenção dos fiéis. Na verdade, pode-se dizer que não existem fórmulas mágicas para se atualizar como pregador atraente, mas existem recursos que, quando ensinados e aproveitados devidamente, ajudarão àqueles que sentem alguma dificuldade a se conectarem melhor com as pessoas. Em nossas comunidades, os fiéis participantes das celebrações têm mudado constantemente, seja com relação a interesses, necessidades, desejos, aspirações ou a valores. Desse modo, a mensagem religiosa já não pode ser comunicada como há alguns anos atrás, pois as transformações dos grandes centros urbanos juntamente com o bombardeamento dos recursos visuais A liturgia é compreendida como a ação da igreja manifestada no conjunto de ritos prescritos para a celebração dos cultos com o objetivo de glorificar a Deus e santificar os seres humanos.

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Comunicando a Palavra de Deus: Homilia têm provocado modificações na forma de viver e compreender a experiência religiosa, exigindo uma nova ótica e uma nova postura na divulgação da vivência do sagrado. Em função disso, alguns ministros ordenados têm feito pouca reflexão com relação à transmissão da mensagem religiosa, e dado ainda menos valor a determinados símbolos que marcaram a cultura religiosa de outras épocas, mas que hoje têm alto significado e representatividade, pois continuam vivos na memória popular. Saber recuperar e trabalhar com esses símbolos, constitui um grande desafio aos novos comunicadores da mensagem divina, principalmente no desenvolvimento de novas linguagens, mais adequadas e apropriadas a este novo fiel ouvinte. É com este intuito que nos propomos a oferecer alguns subsídios e tentativas de solução para amenizar o distanciamento do discurso com os participantes das celebrações litúrgicas, pois só será possível conquistar a atenção dessas novas assembléias se os formatos de apresentação estiverem dentro de um quadro que possa vir ao encontro dos interesses e desejos desses novos freqüentadores.


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I A ARTE RETÓRICA Todo o brilho, toda a beleza, toda a expressão da verdadeira eloqüência resiste ao tempo, imortaliza-se na lembrança, permanece viva e indelével na emocionada memória dos que participaram daquele mágico instante de criação, em que um homem, pela simples força de sua palavra, foi capaz de render a seus pés a multidão maravilhada.3

1.1 Breve história O segredo do sucesso profissional divulgado por alguns canais de TV e por livros parece suscitar em muitas pessoas o desejo de conhecer a arte de falar, uma arte a que há muito tempo atribuíam tanta importância, principalmente num mundo onde a comunicação é feita por meio de outras formas de linguagem, nas quais o aspecto estético e técnico é mais apreciado e valorizado. Mas, para surpresa de muitos, os livros mais vendidos são justamente aqueles que procuram dar “dicas” de como se dar bem nos negócios, como falar bem, como ser criativo, como adquirir boa memória, como prosperar, como ter sucesso e como vencer na vida. Assim, indiretamente, a velha retórica é ressuscitada em muitos desses livros como um instrumento facilitador na arte comunicativa. A retórica é compreendida como a arte de convencer as pessoas pelo uso de instrumentos lingüísticos. Ao longo da história, falar corretamente e sem medo de se expor em público exigiu o conhecimento de certas técnicas que facilitassem o discurso. Então desenvolveu-se a retórica4. 3 4

Blota Junior. Prefácio. In Como falar corretamente e sem inibições. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 1986, p. 15. Este termo de origem grega deriva da palavra rêtor, significando o orador de uma assembléia.


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Comunicando a Palavra de Deus: Homilia A retórica recebeu um grande impulso com os sofistas5, sendo estes os primeiros a dominar a “arte de convencer as pessoas” com facilidade, por meio de um discurso aparentemente baseado em verdades. As técnicas de discurso deveriam provar um determinado ponto de vista e não procurar a verdade. Estes pensadores não ganharam a simpatia de outros filósofos, como Sócrates, Platão e Aristóteles, pois o seu intento não estava em procurar o conhecimento profundo das coisas, mas sim em ensinar aos seus alunos a arte da eloqüência e da habilidade na utilização da palavra mental, considerada menor para Platão. Aristóteles, um dos mais importantes filósofos gregos da antigüidade clássica, em contraposição aos sofistas, desempenhou extraordinária tarefa na organização do saber grego. Seu tratado sobre a Lógica foi de fundamental importância para o desenvolvimento da arte retórica, sedimentada no conhecimento verdadeiro e alicerçada numa argumentação irrefutável. Os romanos tiveram em Marco Túlio Cícero seu maior conhecedor nesta arte, aperfeiçoada então na forma de oratória. Cícero, como ficou mais conhecido, homem político e jurista famoso pela oratória brilhante, destaca-se por ser uma pessoa de amplo conhecimento entre os grandes pensadores romanos. O seu método envolvia, além da formação integral do orador, aspectos teatrais que o exercício da persuasão requeria. Por ser um homem de cultura universal numa sociedade que se primava pela índole prática, suas idéias acabaram influenciando a cultura da época e refletindo num tipo de educação de caráter moral. Assim, para os romanos, um homem culto e educado é um homem que sabe tornar úteis seus conhecimentos para a sociedade6.

Etimologicamente, o termo sofista quer dizer sábio ou educador. Os sofistas apareceram na Grécia por volta do século V a.C. Tornaram-se mestres de eloquência e de retórica. 6 Outro pensador de destaque nesta arte é Quintiliano, cujo mérito foi o de reunir em sua obra Instituições Oratórias, os trabalhos desenvolvidos pelos autores que viveram até sua época. Esta obra, composta de doze livros, enumera as várias etapas da formação do homem. 5


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Atualmente, diante de tantos recursos técnicos disponíveis que permitem a correção das distorções da fala, da imperfeição da postura e da gesticulação, a arte retórica ainda tem um grande valor, pois nem sempre se pode contar com os recursos técnicos a toda hora e, além do mais, estes podem falhar. Todos aqueles que se dispõem a falar em público, principalmente os ministros ordenados (sacerdotes e diáconos), precisam estar preparados para as mais diferentes situações, pois algumas vezes a improvisação será necessária. Todos precisam falar bem para enfrentar as mais diferentes situações: comandar subordinados, dirigir ou participar de reuniões, apresentar relatórios, presidir solenidades, vender ou apresentar produtos e serviços, negociar com grevistas e líderes sindicais, dar entrevistas para emissoras de rádio e televisão, fazer palestras, ministrar cursos, fazer e agradecer homenagens, desenvolver contatos sociais, representar a empresa, o clube ou entidade a que pertence, nos mais diversos acontecimentos.7

Para superar as dificuldades e dominar o medo de falar em público, o futuro pregador ou homiliasta tem que primeiramente ser convicto do que vai falar, dominar o assunto e acreditar que é capaz de transmitir a mensagem. Porém, expressar pela palavra os conhecimentos, de maneira correta e segura, exige mais do que o o domínio da arte retórica, mas humildade e perseverança, pois não existe uma receita mágica capaz de transformar alguém em bom comunicador da noite para o dia.

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Reinaldo POLITO. Como falar corretamente e sem inibições. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 1986, p. 26.


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