IGUAL #08- Agosto 2010

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Os antropólogos e os atistas devem andar sempre lado a lado, para que uns estudem e os outros criem a partir dessas riquezas. Na memória colectiva portuguesa está tudo por fazer e contra o tempo.

Sendo a tradição e o folclore elementos tão eminentemente musicais, quais são as bandas ou músicos que mais aprecias neste género “raízes” (chamemos-lhe assim)? Não gosto desse género por ai além, gosto de projectos que tem uma identidade própria muito forte, como por exemplo Dazkarieh ou Diabo na Cruz, Banda do Casaco que se descolam do tradicional para serem outra coisa. Para gostar dessa música gosto da fonte: Adélia Garcia, Clementina Rosa Afonso, etc. Costuma-se dizer que Portugal é um país sem memória colectiva. Concordas? O património imaterial é, de facto, escasso e as políticas para que não se esgote são poucas ou inexistentes. Não se pode olhar para essas manifestações de uma maneira unicamente cientifica. Os antropólogos e os atistas devem andar sempre lado a lado, para que uns estudem e os outros criem a partir dessas riquezas. Na memória colectiva portuguesa está tudo por fazer e contra o tempo.

Estás a trabalhar ou a pensar já em novos filmes? Pretendes continuar a fazer documentário ou gostavas de experimentar outros géneros? Ainda pretendes insistir na temática da tradição? O meu trabalho insiste na remistura e na ideia de memória. De uma tradição oral que tem uma riqueza sonora e visual rica o suficiente para ser infinitamente remisturada sem se esgotar! Está prevista a edição comercial em DVD do “TOC” e do “Significado”? O “Significado” sai em Setembro, em conjunto com o livro “Contexto”, de António Pires.

Não sei se concordas, mas diria que os teus filmes têm uma certa sofreguidão. São algo esquizofrénicos, as cenas e planos entram por dentro uns dos outros, há uma contaminação saudável, um desdobrar de ideias e pessoas. Diria que traduzem bem a tua maneira de te expressares que é muito viva e entusiasmada. Sou assim, gosto de trabalhar camadas de informação e de sensorialidade, dar a ideia de que os meus trabalhos têm de ser vistos muitas vezes, trabalhar como um compositor de sensações, dar alegria, raiva, tristeza, indignação e trabalhar o ritmo a dinâmica do todo.


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