Revista MIAF Outono 2014

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Editorial

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Curtas

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Trabalho sujo

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Eu sou o inimigo

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Quando a ávore é pequena, você pode fazê-la crescer em linha reta

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Endereço Postal: caixa postal 2061 Cep 86023-970 Londrina - PR

Editor: Paulo Feniman Design: Davi Maia

Revisão: Paulo Feniman

Imagens: On-field Media

Conselho de Envio: Clorivaldo Mariano Denivaldo A. Moraes (presidente) Eduardo L. da Silva Junior Itamar da Silva Jarbas Ferreira da Silva José Olympio E. Monteiro Marcos K. Paraizo Oswaldo Chirov Oswaldo Prado Sirley B. Prado Walmir Kesseli


Editorial

“Que eles sejam

um...” Paulo Feniman Diretor executivo

T

anto Jesus quanto seus discípulos em especial o apóstolo Paulo sempre enfatizaram a importância da obra de Deus ser feita no alicerce da unidade. Paulo deixa claro que a unidade é o que move a ação de pregação e proclamação do Reino de Deus. E neste contexto de unidade, a participação da igreja local no ministério missionário é de suma importância. Não existe missão sem que haja igrejas envolvidas no processo. Por mais dedicado que possa ser o missionário, por mais correta que seja a agência de missões, se a igreja local não participar, não se envolver, não assumir seu chamado missionário, nada do que planejarmos ou fizermos prosperará. Paulo ao escrever aos Romanos no capítulo 10 verso 15 é enfático em sua pergunta: “Como pregarão (os missionários) se não forem enviados (a igreja)? Não existe pregação se não há um desenvolvimento de aliança entre a igreja local e aqueles que decidem sair para pregar. Como igreja, precisamos resgatar nosso chamado de enviadores. Na MIAF, tenho

experimentado a maravilha da unidade. Temos sido abençoado com várias igrejas, que ao longo dos anos tem abraçado o papel de ser enviadores, nos abençoando com homens e mulheres com chamado de anunciar o evangelho na África. São alianças construída debaixo deste alicerce de unidade que foi ensinado por Jesus e seus discípulos. Muitos povos tem tido oportunidade de ouvir o evangelho pela primeira vez porque igrejas, através do envio de missionários, oferta missionária e oração tem se juntado a nós, cumprindo assim, o mandamento de Jesus. Não tenho dúvidas que quanto mais unidos estivermos em torno do serviço missionário, mais veremos a palavra de salvação sendo pregada para aqueles que ainda não o conhecem. Quero agradecer a você que tem entendido esta palavra e participado do ministério destes amados irmãos. Vamos continuar juntos, unidos num só propósito:

Ver uma igreja Cristocêntrica entre todos os povos Africanos.

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a mantendo a cham

acesa

Curtas

“Após regressar de uma viagem missionária à Moçambique em um ministério de curto prazo, percebi que os planos de Deus para mim eram maiores do que eu imaginava. Nos dias que estive servindo na África pude enxergar a grande necessidade que este continente tem de ser alcançado pelo amor de Deus. O trabalho é grande, são muitos os povos ainda não alcançados e tão poucos dispostos ir a lugares difíceis para que as boas novas do evangelho, a salvação chegue a estas pessoas. Isso mexeu comigo, e o Senhor foi trabalhando em meu coração durante cada dia vivido em África que quando cheguei ao Brasil eu me rendi e disse “Eis me aqui, envia-me a mim...”.”

Vinícius A. da

Silva

acao boas novas de salv

s

i

Pela primeira vez missionários chegaram a vila de Jambe. Um lugar tão isolado que nenhum carro havia chego antes. O povo aguardava por mais de 05 anos um missionário que pudesse levar as boas novas de salvação. Com ajuda de Deus, as orações dos irmãos e o apoio de uma equipe brasileira de curto prazo da MIAF o Reino dos Céus chegou até esse povo. Apesar das dificuldades e batalha espiritual a graça de Deus foi maior, muito se renderam e reconheceram a Jesus como Senhor e Salvador.

Cecília Pereira 4

da Silva


liveira

iar

Jairo e Vânia O

servindo para env

de volta ao campo

“Louvamos a Deus pelo privilégio de pisar novamente nesta terra e de viver os propósitos que Ele tem para nossa família e para o “povo do nosso coração”. Tudo o que queremos é ser instrumentos da graça e assim servir a Deus e aos africanos. Fazemos o que gostamos e o que fomos vocacionados para fazer. Somos privilegiados! “

“Ser missionário de base, ou seja, servir junto a outros missionários para mobilizar, treinar e auxiliar no envio de outros para o campo, por vezes não é tarefa fácil. Não temos histórias curiosas sobre a interação com povos morando além mar, com culturas e crenças diversas. Mas ser missionário de base também nos reserva o privilégio de fazer parte de histórias de pessoas chamadas, que fazem parte de um processo nascido no coração de Deus: essas pessoas nos procuram, começam um processo com a nossa agência missionária, fazemos contato com sua igreja local, são treinadas e enviadas ao campo. E quantas histórias e milagres Deus tem realizado por meio dessas vidas e ministérios!”

Jhonatan e Ana Elisa

Nunes

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Crônica missionária

Trabalho

sujo

E

sses dias tivemos que dar uma ‘reformada’ em casa. Por conta dos grandes craquelados que estavam sendo formados nas paredes os bichos estavam se acumulando e nossa casa estava ficando perigosa. Nossa líder contratou uma senhora perita e perfeccionista para arrumar! Chegou em casa cedo trazendo os materiais necessários : terra, água e esterco! Na frente de casa abriu um espaço e foi lentamente misturando um pouco de cada coisa, mas quando era a vez da água me chamava apontava com uma cara brava e lá ia eu colocar até ela gritar: Aru! (Que era pra eu parar!) Aquele bando de moscas em volta do esterco e da gente em meio a um sol de rachar criavam o clima perfeito para o ‘dia da reforma nos Stutz’. A velhinha lentamente começou o trabalho e em cada buraquinho pegava aquela pasta e espalhava delicadamente na parede. Era tão delicado que nem parecia que ela estava mexendo ‘naquilo’ da vaca. Rs Os padrões marrons foram sendo formados na nossa parede branca, criando uma arte geométrica abstrata que me lembrou muito da arte africana que conheço. Fui ficando feliz com o resultado

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‘artistico’ que nossa casa estava adquirindo. Quando ela tinha que trocar de parede, pegar mais água ou precisava que eu arrastasse alguma coisa ela aparecia com aquela cara amarrada me chamando. Apontava pro que queria e pra onde queria que fosse e lá ia eu toda querendo ser prestativa, tentando arrancar um sorriso da velhinha! (Nem todos conheceram minha bisavó, mas posso dizer que ela tinha o mesmo quê dessa velhinha. Acho que tem muita coisa em comum entre os espanhóis e os africanos! ) Horas se passaram nessa rotina e a hora do almoço chegou. Cozinhei pra nós três e coloquei uma cadeira pra ela. Quando a servi - O que era? Arroz e feijão bem brasileiros- ela pegou o prato apontou pro quarto, onde estava trabalhando , e foi comer lá sozinha. Respeitei o espaço dela, mas queria que ela se sentisse mais a vontade com a gente. Enquanto comíamos na cozinha fiquei esperando ela voltar com o prato pra oferecer mais, mas nada aconteceu. Foi quando olhei pra o quarto e vi o prato em baixo da cama vazio. Pensei , ‘Bom, vou lá oferecer, acho que ela ficou com vergonha’. Mas daí quando cheguei lá me dei conta de que não sabia como perguntar se ela queria mais. Fiquei na sua frente segurando o prato e fazendo


gestos pra ver se ela entendia, mas ela com a carinha amarrada mostrou que eu não tinha tido sucesso! Decidi pegar a panela e levar pra la. Com a panela em mãos fiz o movimento de colocar mais e ela disse que sim! Eba, algum avanço! Mas logo mostrou as mãos sujas, de quem já tinha voltado ao trabalho, pra mim indicando que não dava pra ela comer daquele jeito (Aqui

eles comem com as mãos, mas mesmo com talheres seria preciso uma lavadinha!). Chamei ela pra fora indicando que eu ia jogar água pra ela lavar as mãos e depois de bem lavadinhas ela ‘botou a mão na massa’ literalmente e se acabou na comida. Quando voltei pra buscar o prato ela agradeceu , disse que estava bom e falou bino no no no (que seria muito, muito, muito) mostrando que a barriga dela tinha crescido. Acho que coloquei comida demais pra ela, mas enquanto ela falava isso ela abriu um sorrisão! Conquistei a velhinha pela barriga! Logo depois do almoço ela fez sinal

de que tinha acabado e estava indo embora, mas ainda tinha mais que a metade da casa pra fazer. Acho que quando minha líder conversou com ela não ficou muito claro pra velhinha, tadinha. Antes dela ir a chamei e mostrei mais alguns lugares dizendo ‘motie’ (amanhã). E ela com aquela antiga feição emburrada disse que sim. O dia seguinte foi a mesma coisa, mas antes dela começar mostrei tudo o que queria. Ela assustada com a quantidade mandou chamar minha líder que fala Lopit. Enquanto o Gui desceu pra chamá-la todo mundo que passava pela nossa casa e a via lá dentro entrava sem perguntar e já ia conversando com ela, sem dar a mínima pra mim. Foi chegando mais e mais mulheres e a velhinha falando e falando em Lopit , mas as únicas coisas que conseguia entender eram: “obeng rutam” (não tem língua/ não sabe a língua) “Marina” . E enquanto falava ia apontando pra os lugares que tinha indicado pra ela aquela manhã! Minha líder chegou e descobriu que ela tinha entendido errado mesmo, mas tudo foi resolvido com o acerto do pagamento. Bom, nem tudo, porque a parte de fora que ela deixou pra fazer mais tarde ela não fez! No entanto, a parte interna ficou muito bem feita! Ela foi bem perfeccionista e gastou bastante material em casa. Coisa que somos lembrados a cada segundo com o cheirinho que sobe constante em nossas narinas!

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Matéria

Eu sou

o inimi

sensação de estar atrás das linhas inimigas começou quando saímos do avião. Imediatamente os funcionários da imigração se demonstraram desconfiados a nosso respeito e foi preciso contar com a ajuda da embaixada dos EUA para deixarmos o aeroporto. Meu amigo e eu viemos para este país do norte da África a fim de conhecer algumas pessoas muito interessantes. Eles se chamam “trabalhadores”. Eles têm empregos, empresas e serviços genuínos e rentáveis, mas em suas mentes e corações se dedicam a outro trabalho. Que tipo de pessoa são esses trabalhadores e de onde vem a sua coragem para viver em um lugar como este?

A

A casa dos nossos anfitriões hospedava um estudo bíblico de senhoras. Em algum momento ao longo do processo de crescimento, surgiu a questão se uma igreja secreta deveria ou não cantar em voz alta. Apresentando essa questão diante do trono de Deus, as mulheres decidiram que valeria a pena assumir o risco. Todavia, a decisão de cantar nos encontros domésticos custou caro. Antes da nossa chegada, um vizinho, suspeitando das verdadeiras intenções dos trabalhadores, utilizou o seu telefone celular para gravar alguns dos cânticos. Ao deixarmos a garagem de casa em nosso caminho para visitar um outro trabalhador, recebemos a notícia de que um programa de rádio da cidade, tendo acesso às gravações, havia exposto em sua programação a existência da reunião. A esta altura, várias senhoras que frequentavam o estudo bíblico já haviam sido espancadas e expulsas de suas casas. O filho de uma delas, de apenas cinco anos de idade, estava 8

desaparecido. Chegou ainda a informação de que a polícia estava a caminho e que prenderia as mulheres que A perseguição por participassem do estudo. À não é algo simples luz desta notícia a reunião seguinte foi cancelada. e há um fardo Seguimos o nosso caminho, pesado para os tra sentados na parte de trás de uma caminhonete. Ao e ver homens e mulheres cruzando o nosso caminho ficamos imaginando o que estava por trás dos olhos das mulheres com o rosto coberto e dos homens vestidos de túnica. A perseguição por causa da fé não é algo simples de se lidar e há um fardo muito mais pesado para os trabalhadores estrangeiros. Eles acreditam tanto no Evangelho da Verdade que estão dispostos a arriscar a própria vida em prol dele e a vida das pessoas com quem compartilham a sua fé. Tamanha é a convicção que eles têm da realidade da eternidade com um Deus amoroso. “A guerra pelas almas é muito real aqui”, pensei. Eu a senti tão tangível como o sol escaldante sobre as nossas costas. “O país inteiro é cativo de um dos maiores enganos de Satanás e aqui, eu sou o inimigo.” Então, como que para confirmar o meu pensamento, uma cusparada acertou o rosto do meu amigo como se fosse um tapa na cara. Por um longo tempo meu amigo e eu falaremos sobre essa cena. Conhecendo-o, porém, estou certo de que na guerra pelas almas virão maiores lesões do que meramente uma cusparada.


migo

ão por causa da fé simples de se lidar m fardo muito mais a os trabalhadores estrangeiros.

Mais tarde naquele dia, ao nos sentamos para conversar com outro trabalhador, uma pedra de tamanho considerável veio rolando por cima do muro e caiu a centímetros de seus pés. Ele nem sequer pestanejou, mas sorrindo, olhou em nossa direção dizendo: “nós recebemos esses “presentes” o tempo todo.”

No dia seguinte, aliviados ao saber que o menino de cinco anos, filho da irmã, havia sido encontrado, visitamos uma mulher local que era amiga dos nossos anfitriões. Estudando a cultura, eles descobriram que o sinal de uma pessoa rica e honrada é que ela doa alimentos aos pobres. Então, saímos naquele dia para doar alimentos. Foi uma visita rápida e tínhamos sido convidados para levar as nossas câmeras. Pouco tempo depois que saímos, os vizinhos foram perturbar a mulher. Eles estavam desconfiados de nós e irritados por causa da presença das câmeras. Impiedosamente, despejaram no chão o saco de farinha que era o ganha-pão da mulher. Em uma oportunidade, conversamos com um grupo de homens sobre o Islã e a respeito de seu país. Eles alegaram viver num contexto de liberdade religiosa. No entanto, é muito fácil perceber que essa liberdade só é usufruída pelos estrangeiros. Qualquer pessoa nascida neste país é naturalmente um muçulmano.

Eu perguntei se eles conheciam algum cristão local. A simples resposta foi: “Não”. O que aconteceria se uma pessoa da sua cultura se tornasse um cristão?, perguntei. “Seria muito ruim”. E me disse mais: “Eu tenho certeza que você se sentiria da mesma forma se um cristão se tornasse um muçulmano. Se uma pessoa é muçulmana ela deve permanecer muçulmana”. Fiz outra pergunta, “Mas e uma pessoa de uma outra cultura, vinda de algum outro lugar no qual ela sempre foi cristã? Será que ela seria aceita se quisesse se tornar muçulmana? Uma longa pausa foi a resposta, seguida de uma afirmativa: “Pessoas assim jamais viriam morar aqui.” Então, quem são esses estrangeiros que estão aqui?, pergunto eu. Quem são estes “trabalhadores” que de bom grado deixam a segurança de sua terra natal a fim de se exporem a grandes riscos por causa da sua fé (riscos que missionários enfrentavam regularmente nos primórdios de missões, quando a morte de malária era tão comum)? Quem são estes que têm em seu coração a capacidade de amar as pessoas como Deus ama, que sofrem à luz da imagem de tantas almas perdidas, que valorizam a fidelidade às verdades de Deus mais do que qualquer outra coisa? Eles são surpreendentemente comuns. Eles não têm mais capacidade do que qualquer pessoa. Eles não têm mais coragem do que a medida que Deus dá para um determinado dia. Eles são simplesmente aqueles que têm respondido de coração a instrução de seu Pai para irem. Eles são cristãos. 9


Capa

Quando a árvore é pequena, você pode fazê-la crescer em linha reta Por Heidi Thulin

I

mprevisível, reservado, hostil: estas são palavras de uma Ruanda acostumada a descrever o seu povo para mim. Considerando a recente história de Ruanda, essas características, embora indesejáveis, surgem sem nenhuma surpresa. O genocídio do povo tutsi e a consequente guerra em 1994 deixou quase um milhão de pessoas mortas, 100 mil crianças órfãs e inúmeras famílias separadas. Quase vinte anos se passaram, mas o horror e dor ainda são muito vivas nos corações e nas memórias das pessoas. Ruanda, assim como muitos outros países africanos, é considerada “uma nação jovem”, porque muitos de seus cidadãos são crianças. Os pesquisadores descobriram que a maioria das pessoas que experimenta um relacionamento pessoal com Cristo, o faz entre as idades de quatro e quatorze anos, concluindo que esta é a faixa etária mais receptiva ao evangelho. Em Ruanda há seis milhões de pessoas entre as idades de cinco e vinte cinco anos, fazendo desta jovem geração um enorme campo missionário. Foi para este ambiente jovem e difícil que os missionários da MIAF Gilles e Myriam Bonvallat se mudaram há nove anos. Ao se estabeleceram em sua nova casa, eles rapidamente perceberam um desafio. Embora as crianças e jovens ruandesas representassem mais da metade da população do país, havia pouquíssimos ministérios dedicados a elas, nas áreas de ensino e mentoreio. Por alguma razão, as crianças representavam um dos grupos

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mais negligenciados do país. Ao crescerem na Suíça, Gilles e Myriam provaram momentos de fé fundamentais ao participarem dos acampamentos de jovens da igreja. Agora em Ruanda, passaram a considerar se acampamentos como aqueles que conheceram na juventude poderiam ser úteis em seu novo país. Ao orarem e buscarem orientação a esse respeito, Deus confirmou que a fim de alcançarem os jovens de Ruanda eles deveriam desenvolver um ministério de acampamento de jovens, algo até então inédito em Ruanda. O nascimento de um ministério Para muitos africanos, a palavra “acampamento” não suscita empolgação. Os únicos acampamentos que eles conhecem são os do exército ou de refugiados. Portanto, um acampamento para jovens cristãos com um estilo de dormitório, refeições comunais e atividades em grupo é um conceito estranho. Mas, à medida que os ruandeses aprenderam mais sobre eles, tornou-se um ministério que eles abraçaram. “Acampamentos são uma ferramenta”, comenta Myriam. “É uma plataforma que fornece um ambiente para que as pessoas se distanciem dos seus desafios diários e passem um bom tempo diante de Deus e experimentando coisas novas que realmente impactam e influenciem a sua vida para a eternidade.” Rapidamente o Bispo da Diocese Anglicana de Kigali capturou a visão do casal de missionários e viu o potencial desses acampamentos para


influenciar a fé das crianças em suas igrejas. Para ajudar Gilles e Myriam a lançar seus acampamentos 3-D, ele generosamente doou uma antiga escola vocacional no Monte Bihembe, uma hora ao leste de Kigali, a fim de transformá-la em cozinha, sala de jantar, sala de aula e dormitórios do acampamento. Myriam explica que, “3-D significa relacionamento tridimensional. Isto é, relacionamento com Deus, consigo e com os outros. Para ajudar as pessoas a ter bons relacionamentos com os outros, eles precisam inicialmente ter um bom relacionamento com Deus.” A visão deles com respeito aos acampamentos está baseada em Ezequiel 11.19, que diz: “E lhe darei um mesmo coração, e um espírito novo porei dentro deles; e tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes darei um coração de carne”. Por meio dos acampamentos 3-D, Gilles e Myriam tinham a expectativa de que os jovens teriam corações transformados, estabeleceriam relacionamentos pessoais com Jesus e se tornariam modelos para o resto da nação, em termos de vida em unidade com o próximo. O acampamento FORMA Uma vez que os líderes da igreja apoiaram a visão do casal, a tarefa seguinte de Gilles e Myriam era treinar os futuros conselheiros e membros da equipe. A maioria dos ruandeses não tem ideia de como construir um acampamento, quais atividades planejar ou como desenvolver os relacionamentos entre os conselheiros e as crianças, as quais tornam a vida do acampamento tão especial. “Decidimos que a melhor maneira de mostrar o funcionamento de um acampamento era realizando um acampamento com eles, no qual eles iriam acampar”, disse Gilles. Essa foi a inspiração para a criação do acampamento

FORMA, um treinamento (ou formação) de conselheiros para acampamento. O principal objetivo do acampamento é que cada participante se transforme em líderes e conselheiros de acampamentos futuros. “Queremos ouvir seus testemunhos e aprender

sobre suas experiências no ministério infantil”, explicou Jessica, membro da equipe que trabalha no acampamento e colega de missão. “Nós queremos que eles sejam apaixonados pelo ensino de crianças e apaixonados pelo reino de Deus. Queremos que eles se comprometam a usarem o que aprenderem aqui. Deixamos claro que tal conhecimento é para ser compartilhado.” Os participantes selecionados são convidados a pagar uma pequena taxa para ajudar em algumas das despesas do acampamento. “Eles não pagam muito”, comentou Myriam, “mas queremos ter a certeza de que eles levam o acampamento a sério”. Mesmo que o custo do acampamento seja muito mais alto do que aquilo que eles pagam, partilhar as despesas ajuda todos eles a participarem do que está acontecendo. E esta é uma das formas iniciais que o casal de missionários ensina a estes

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jovens sobre a vida em comunidade bem-sucedida. Dividir a despesa do acampamento não é o único componente compartilhado. “Os acampamentos representam um tempo muito participativo para todos”, disse Gilles “e todo mundo faz de tudo um pouco. Nós não apenas jogamos ou ensinamos. Participamos de todas as atividades do acampamento, inclusive lavando os pratos, limpando os banheiros, limpando o próprio quarto, ajudando uns aos outros no serviço. Tudo isso faz parte da vida no acampamento. “Essas lições sobre a liderança em serviço ensinam os participantes a trabalhar juntos em suas equipes formadas por pequenos grupos. Eles encorajam os jovens a se comunicarem de forma eficaz e a praticarem a confiança mútua. A jovem Claire aprendeu uma valiosa lição sobre confiança durante o acampamento de julho e me disse: “É importante aprender a confiar, porque vivemos em um mundo onde não estamos sozinhos. Há pessoas ao nosso redor. Se você deseja viver em paz com eles, tem que aprender a confiar neles.” Sua nova amiga, Carolina, acrescentou, “Aprender a confiar é muito importante, porque quando vivemos em sociedade, precisamos uns dos outros. Precisamos nos completar. Eu faço algumas coisas e você faz outras. Eu preciso do que você é capaz de fazer e você precisa do que eu sou capaz de fazer.” Não é de surpreender que confiar em uma outra pessoa é uma das coisas mais difíceis para um ruandês, especialmente se a pessoa é de uma tribo diferente. Manassés, um jovem que participou do acampamento como acampante, como conselheiro e como diretor do acampamento – descreveu a sua experiência assim: “Estamos lidando com um país onde muitas pessoas foram feridas e as feridas foram causadas por aqueles que elas pensavam que podiam confiar.

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Hoje, você vê muitos problemas na comunidade como resultado disso.” “Para os jovens, é muito importante aprenderem a confiar uns nos outros. Como viver em comunidade com alguém de uma origem diferente, enxergar que são iguais e que são feitos semelhantemente à imagem de Deus. Sem confiança, tudo irá desmoronar. Não haverá unidade em nosso país ou em nossa igreja.” Para os adultos de Ruanda, que eram crianças pequenas quando viram seu país ser devastado pela guerra e pelo genocídio, aprender sobre confiança é extremamente importante. É o primeiro passo no processo para uma reconciliação nacional e cultural. A confiança na queda Aqueles que lutam para confiar em seus próprios familiares, seres humanos que eles podem ver, é muito difícil darem passos em direção a confiança em Deus, a quem não podem ver. Para lidar com esta questão, Gilles, Myriam e toda a equipe de servos do acampamento tentaram algo radical: ensino experiencial. A ideia era dar a esses ruandeses a oportunidade de confiar nas pessoas em situações pequenas na esperança de que se abrissem para confiar em situações maiores. Mas, o mais importante era que o casal esperava que os jovens vissem a necessidade de colocar confiança total em Deus. Ao longo dos dez dias do acampamento FORMA, os conselheiros em treinamento são impelidos a situações desafiadoras que incentivam o trabalho em equipe e a comunicação. Victor, o diretor ruandês do acampamento, usa jogos e desenvolve atividades com cordas inéditas para que todos os participantes se encontrem na mesma condição. Todos precisam ajudar uns aos outros a fim de haver entendimento e sucesso. Todos os jogos e atividades, às vezes tolas, convergem a um clímax da experiência dos participantes: A confiança na queda. Durante vários dias, os jovens se preparam para o momento crucial. Eles aprendem como identificar uns aos outros, praticam a liberação do controle de seus corpos


e, lentamente, adquirem confiança em seus companheiros de equipe. “Esta é a prova final do ‘eu confio em você’”, explicou Myriam. “Eu tenho experimentado unidade suficiente neste grupo que posso me lançar em seus braços, sabendo que o outro não vai me deixar cair no chão.” Chegar a este ponto não é tarefa simples. Victor e seu assistente empilham duas mesas e após mais uma conversa motivacional com cada membro do grupo, que inclui as palavras de Hebreus 11.1: “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem”, Victor ajuda cada pessoa a chegar até o topo das mesas. De lá, há cerca de um metro e meio do chão, o jovem respira fundo e cruza os braços em frente do peito, esperando o sinal de seus amigos abaixo, o que indica que estão prontos para pegá-lo. Após um momento de silêncio ele se lança para trás, diretamente nos braços dos amigos à espera dele. Assisto essa cena uma vez após a outra. Um participante após o outro. E cada vez, as gargalhadas e a alegria aumentam. É impossível não ser contagiado por tamanha alegria. Claire, pouco depois de cair nos braços de seus novos amigos, disse: “Antes de eu vir para cá, eu não seria capaz de confiar em qualquer pessoa que cruzasse o meu caminho. Aqui no acampamento nos aproximamos um do outro e construímos esses tipos de relacionamentos que são mútuos. Você se vê como irmão e irmã de todo mundo. Eu amo as pessoas que estão aqui, mais até do que algumas da minha própria família.” Por essas razões, ela estava disposta a deixar-se cair nos braços de seus amigos e proclamar unidade com eles. O caminho para uma nova geração Muitos dos participantes do acampamento, depois de uma exibição tão dramática de confiança genuína, ganham um vigor renovado em sua paixão por ensinar as crianças. Eles perceberam que o caminho para a reconciliação nacional começa com eles e que são os responsáveis por passar esse conhecimento para a mais nova geração. Frank, que se prepara para ser conselheiro, disse: “Os jovens [como eu] são uma força emotiva; eles podem mudar as coisas e fazer as coisas acontecerem. Se somos bem orientados como jovens, podemos alcançar coisas incríveis em nossas vidas. Eu quero ser a própria mudança que almejo ver.” Nenhum ruandês deseja reviver os horrores de

dezenove anos atrás e a melhor maneira de começar a jornada em direção a uma nação unida é plantar as sementes da confiança na nova geração. “[As crianças] não experimentaram tanta dor quanto os pais”, disse Manassés, “por isso é mais fácil fazê-las aprender essa confiança em uma idade precoce.” As crianças de Ruanda serão os líderes de amanhã e são os únicos que realmente podem mudar o país. O futuro promissor dos acampamentos Quando Gilles e Myriam foram pela primeira vez para a África, as palavras de Paulo em 2Timóteo 2.2 lhes serviram de inspiração: “E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros”. O ambiente do acampamento FORMA se encaixa perfeitamente nesse modelo. Ele ensina novos conselheiros como ser modelos de Cristo para a geração mais jovem. O acampamento de julho foi o último acampamento do casal de missionários como residentes em Ruanda. Eles estavam esgotados e um pouco tristes ao se despedir dos jovens, eles expressaram gratidão a Deus por ter permitido eles começarem este ministério, o qual inspirou jovens ruandeses a se envolverem. “É o processo de passar o bastão”, disse-me Gilles, “e de ter a certeza de que você vai ter pessoas apoiando você a fim de continuar o que começou”. Há um provérbio em Kinyarwanda, a língua materna dos ruandeses, que diz: “Quando a árvore é pequena, você pode fazê-la crescer em linha reta”. Muitas crianças em Ruanda estão desejosas de aprender e estão em grande necessidade de ensino bíblico adequado; eles simplesmente precisam de orientação. Os acampamentos 3-D são apenas o começo do movimento em prol das crianças em Ruanda. À medida que mais jovens descobrem vislumbres de unidade e colocam a sua confiança em Jesus, eles se transformarão em uma forte geração, florescendo com esperança e com o potencial de se tornar uma força poderosa para o evangelho.

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Acesse www.orepelaafrica.com.br e saiba quais os povos africanos ainda não alcançados e quais os motivos de oração Intercessão pelos Furs • Ore por maior abertura e desejo pela Verdade. • Ore pelos cristãos Gabbra. • Ore pelo estabelecimento de igrejas. • Ore pelos cristãos que estão alcançando os Furs.

POVO FUR Localização e Contexto O povo Fur vive entre o Sudão e o Chade, predominantemente numa região chamada Darfur no oeste do Sudão. Convivem com uma realidade desafiadora que é a mortalidade infantil. No Sudão, a taxa de mortalidade infantil é de 64.6 por 1.000. A expectativa de vida para os homens é de 56 anos e para as mulheres 58 anos. A economia da tribo está baseada na agricultura e artesanato. Dependendo do tamanho da aldeia, seus moradores têm que viajar por muitas horas para comprar seus alimentos. No entanto, as aldeias compostas por cerca de 60 casas ou mais, normalmente têm o seu próprio mercado.

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A língua falada entre o povo é o Árabe e o Fur. Nas poucas escolas (todas corânicas) que existem, as crianças aprendem o alcorão em Árabe. Contudo, não se tem notícia de outro tipo de educação formal.

História Darfur, o nome da área onde vivem hoje, significa a Pátria Fur. Esta área era conhecida no século 16 como Núbia do Sul. Eles são parentes do povo Kanuri da Nigéria, com quem mantiveram contato ao longo dos séculos. Desde 2003 o povo está envolvido em conflitos civis que têm atraído a atenção e a preocupação internacional. O genocídio na região de Darfur, liderado pelo governo de Cartum, já dizimou milhares de pessoas e continua fazendo vítimas. Por causa dos crimes contra a humanidade

cometidos em Darfur o presidente sudanês, Omar al Bashir, foi condenado duas vezes pelo Tribunal Penal Internacional.

Cultura As histórias representam um aspecto importante na cultura do povo. Muitas delas são transmitidas aos filhos a fim de mantê-los próximos de suas casas. A música Fur também é muito popular na cultura. O principal instrumento utilizado é o tambor. A música é tocada com uma batida pesada e sempre acompanha as celebrações do povo. As roupas usadas pelas mulheres são normalmente bem coloridas, cobrindo todo o corpo como é comum nas culturas muçulmanas. Já os homens preferem vestimenta banca e a túnica é a mais usada, normalmente acompanhada de um turbante.

Religião O povo é praticamente 100% muçulmano sunita e animista, o que o caracteriza como povo não alcançado pelo evangelho. Há poucos relatos de missionários servindo entre o povo Fur. Sabe-se de alguns missionários trabalhando em países vizinhos com o povo (normalmente na condição de refugiado), mas não há relatos de comunidades cristãs entre eles. Eles têm se demonstrado abertos para ouvir o evangelho, mas o governo sudanês tem feito o possível para impedi-los, inclusive expulsando missionários do seu território.


e.


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