REPRESENTAÇÕES VISUAIS DOS KAAPOR NAS EXPEDIÇÕES DE DARCY RIBEIRO ENTRE 1949/1951

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capa dura, o que foi descartado por seu alto custo, 7) As fotos foram recebidas impressas (ampliações fotográficas) e digitalizadas na editora, pois o processo de impressão já era informatizado. Mesmo assim, foi feito através de fotolito. Tendo essas informações a respeito do processo editorial, podemos afirmar a participação ativa de Darcy Ribeiro na seleção, encadeamento e posicionamento das imagens apresentadas no livro: retratos, usos do corpo, adornos, cultura material, praticas rituais, como se vera adiante. É explícita e intencional a relação que existe entre texto imagem legenda. Esses três elementos se relacionam de forma singular nas publicações antropológicas, mas neste livro, com tiragem para “não antropólogos”, a imagem ganha relevo como álbum de viagem e de consagração do próprio antropólogo, celebrando-o junto aos grandes marcos visuais da disciplina: as “sociedades primitivas”, o trabalho de campo, a observação participante e interpretação autorizada pelos laços de cordialidade explicitados nas imagens.

A imagem está associada a legendas, como forma de guiar a relevância do que aparece registrado no papel. Quando Darcy Ribeiro anexa a legenda “Matã, filha de Iawaruhú. Observem o cuidado do repuxado da tanga” (1996, 393) à foto que retrata uma índia Kaapor, busca individualizar a retratada, rompendo com categorias classificatórias genéricas (com seu nome e parentesco) e, além, apresentar detalhes descritivos considerados importantes42 pelo autor (no caso, o repuxado da tanga), mas que poderiam passar despercebidos pelos receptores da imagem.

Outra utilização recorrente das legendas no livro é a valorização afetiva dos retratados. São textos valorativos, que sublinham uma intimidade com o Outro, que identificam, individualizam e distinguem os nativos figurados. São exemplos as legendas “Xenxin, a beleza maior do povo Kaapor” (1996, p. 177), “Cezário, meu velho cozinheiro preto” (128) e “Itsin, a guria mais trabalhadora da aldeia, logo

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A importância dos detalhes, ressaltados na legenda, estão em concordância com o texto que se desenrola na mesma página. Darcy escreve, no dia 02/09/1951, sobre a existência de pudor entre as índias, representada pela forma como utilizam as tangas. “Não usam a tanga simplesmente jogada sobre as pernas; só as velhas, já esquecida das vaidades são assim descuidadas. As moças que se prezam, depois de vestir-se, puxam um pouco o pano que lhes cai na frente e o prendem sob o cordel que sustém a tanga, bem debaixo do umbigo” (1996, p. 393). Daí a importância em ilustrar o texto com uma foto que apresente essa característica do vestuário das índias e que transparece a questão da pudicícia que Darcy busca explicar.


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