Revista do IHGM, n. 42, setembro de 2012

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A ELABORAÇÃO DO DISCURSO DO MITO DA ATENAS BRASILEIRA PELO GRUPO MARANHENSE E A FORMAÇÃO DOS NOVOS ATENIENSES MARIA APARECIDA C. M. SANTOS HORÁCIO DE FIGUEIREDO LIMA NETO No final do século XIX, dois discursos tiveram uma marca significativa na constituição da memória da cidade de São Luís e deram expressividade à cultura dos maranhenses. O primeiro deles seria o da Atenas Brasileira, fruto da atuação de jovens intelectuais em práticas que reforçavam a ideia de que a fase de opulência cultural do Maranhão deveria ser perpetuada e resguardada a todas as gerações. O segundo, diz respeito à fundação de São Luís pelos franceses, originando o discurso de uma identidade moldada aos costumes da Europa. Este último discurso ainda contribuiu para que o posterior progresso intelectual dos ludovicenses fosse associado e fundamentado à ancestralidade ilustre dos franceses gentis e fidalgos que deram origem a capital do Maranhão. O mito da Atenas Brasileira esteve vinculado à fase de esplendor que os maranhenses obtiveram na economia, quando o Maranhão foi incorporado ao sistema mercantilista por meio da atuação da Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, fundada pelo marquês de Pombal na segunda metade do século XVIII. O objetivo da Companhia era dar reforço às atividades agroexportadoras do Norte e Nordeste, e diante deste auxílio, a Província experimentou um grande avanço econômico que a possibilitou viver um período áureo na produção de algodão e posteriormente de arroz. Estes dois produtos promoveram o Maranhão a um estado de riqueza e ao papel de grande exportadora da Colônia. Assim, com a atuação da Companhia de Comércio, o Maranhão começava a ganhar espaço na economia colonial e destaque nacional. A Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão se tornou, então, responsável por proporcionar condições favoráveis ao progresso da economia maranhense, ao financiamento da compra de mão-de-obra escrava e de ferramentas agrícolas. Proporcionou o enriquecimento significativo da Província e esta expansão econômica supostamente promoveria uma grande ascensão cultural no Maranhão. Isto é, o avanço econômico ocasionado pela Companhia de Comércio refletiu fortemente na cultura da região maranhense, uma vez que nessa época foram construídos em São Luís casarões que hoje caracterizam o Centro Histórico da cidade. Os sobrados que compõem o Centro Histórico, foram erguidos pelos agroexportadores locais daquela época que recebiam influências europeias em diversos aspectos cultuarias: vestimentas, mobílias, educação, artigos de uso pessoal e móveis. A este respeito, Jean-Yves Mérian coloca que alta burguesia era “notável por sua elegância e suas maneiras e por sua fineza. Na classe alta do país, o desejo de imitar os costumes europeus foi marcado por uma infinidade de casas construídas em estilo francês e inglês [...]”. (1998, p. 13). O desenvolvimento econômico maranhense contribuiu para a fomentação da cultura do Estado e a partir dos lucros da produção algodoeira, foi possível proporcionar


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