Guia de Media Training

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GUIA PARA UM BOM RELACIONAMENTO COM A IMPRENSA Media Training


Mostrando serviço Criar e manter uma imagem positiva para a sociedade é talvez o maior desafio profissional e pessoal de quem busca destaque, através da mídia. O caminho para alcançar esse objetivo é a C O M U N I C A Ç Ã O. O uso correto das palavras, a organização das idéias, a postura e o conteúdo da fala são instrumentos fundamentais para o bom desempenho numa entrevista. Mas se você deseja resultados positivos nesse treinamento precisa também de determinação e treino. Aprender a se relacionar melhor com jornalistas e aproveitar de forma produtiva o espaço que a mídia oferece são algumas das metas de quem deseja ter sucesso na carreira. Faça boa leitura, aproveite as dicas e se transforme num entrevistado de sucesso.


Dicas prรกticas para agir com Jornalistas


Dicas práticas para agir com Jornalistas Sempre saiba o assunto da entrevista que o repórter deseja fazer com você. Ao conceder uma entrevista sem saber o assunto corre-se um grande risco de ser pego de surpresa com perguntas constrangedoras ou até mesmo não saber responder sobre assuntos que você deveria ter domínio. A Assessoria de Imprensa pode lhe ajudar a levantar dados para repassar ao jornalista.

Cinegrafista e fotógrafo são os responsáveis pela sua imagem, portanto, dedique a eles o mesmo tratamento dado ao jornalista. É infeliz o comportamento de cumprimentar só o repórter, se esquecendo dos parceiros de trabalho como cinegrafista, iluminador ou motorista. Nem tente ser antipático com eles ou vão clicar um flagrante pouco atraente, como o dedo no nariz, meia furada e língua de fora. 4

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Não misture anúncio com matéria. O primeiro preenche o espaço publicitário dos jornais, revistas, emissoras de tv e rádio e sites e deve ser comprado. Você paga pelo espaço e divulga o que quiser. A matéria divulga algo de interesse da maioria. O espaço editorial dos veículos sérios não está à venda, portanto não tente comprálos. O teor da matéria será divulgado da maneira como convier ao jornalista e ao jornal, sem a interferência direta de quem a sugeriu.

Tenha o bom senso de não “falar mais do que a boca”. Informações confidenciais não podem ser divulgadas até que haja liberação. Não é porque você é porta-voz que pode sair falando tudo o que sabe. Diga só o que estiver autorizado. Lembre-se: estão em jogo a sua imagem e a da instituição que representa.

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Esqueça os termos técnicos. A linguagem rebuscada, com “palavras de dicionário”, pode transformar você num entrevistado arrogante. Ninguém é obrigado a saber o que você sabe. Não cobre do jornalista que ele saiba com maestria o que você levou anos para aprender. Quanto mais claro você for, a mensagem será entendida mais rapidamente pelo jornalista e pelo público que o veículo dele atende.

Não existe gafe maior de um entrevistado quando ele desconsidera a presença do repórter de televisão e responde a pergunta olhando para a câmera, deixando o jornalista parecer um “segurador de microfone”. É errado achar que, pelo fato da câmera ser o olho de quem o assiste, você olha direto para o telespectador. O que ocorre naquele momento é uma conversa entre entrevistado e entrevistador. O telespectador apenas assiste; ele não faz parte da conversa.

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Não pegue no microfone. Leia de novo: não pegue no microfone. O aparelho é equipamento de trabalho do repórter e serve só para captar a sua voz. Não cometa essa indelicadeza ou vai parecer apresentador de tv com o microfone na mão.

Para o homem o ideal é usar gravata, mas nem sempre é necessário o paletó. Se a situação for mais informal, pode dispensá-lo. Nunca use camisa amassada ou com manchas de suor e tire os óculos escuros, mesmo que esteja debaixo do sol.

Para a mulher a dica é: NUNCA usar decotes chamativos, não queira ser o “bolo da noiva”. Sua marca deve ser a credibilidade, por isso não deve exagerar no visual.

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Na escolha das cores para se vestir para a entrevista, esqueça o branco ou preto. Camisas com listas ou xadrez são completamente inadequadas, porque provocam um efeito desagradável no vídeo chamado ‘batimento’, que causa embaralhamento das estampas, e não permite a definição das listras e cores.

Esqueça a “cola”. Nada de levar texto escrito para a entrevista. Não vai pegar nada bem você abaixar a cabeça para ler o roteiro. As respostas têm que ser espontâneas. Se você domina o conteúdo, relaxe; uma explicação simplificada e objetiva é o que o entrevistador espera de você.

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O tempo médio de uma entrevista editada na televisão é de 20 segundos, o suficiente para dizer cerca de 85 palavras, o que pode variar de acordo com a velocidade da fala. Ou seja, você tem que contar a história no tempo certo. Fale sem rodeios.

Nunca diga à sua assessoria de imprensa que não quer dar entrevista. Por mais incrível que pareça, isso é comum. Cansadas do assédio da imprensa e da visibilidade proporcionada pelas entrevistas, algumas fontes pedem um basta aos assessores. A negativa atrapalha o trabalho da Assessoria de Imprensa e coloca em risco a relação com os jornalistas de redação.

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Depois de adquirir prática de dar entrevista, controle-se para não virar “papagaio de pirata”. O termo, muito popular entre os jornalistas de televisão, é uma forma de ironizar o cidadão que, no desejo de aparecer na telinha de qualquer jeito, permanece atrás do entrevistado para garantir seus quinze segundos de fama.

Seja pró-ativo quando houver situação de crise. Não espere a iniciativa da imprensa, vá atrás dos jornalistas, chame-os para uma entrevista coletiva e esclareça todas as dúvidas sem nunca esperar o dia de amanhã, porque depois que a notícia for divulgada será muito mais complicado remediar. E outra: o leitor presta muito mais atenção na manchete de hoje do que na seção “erramos” de amanhã.

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Se a articulação das palavras atrapalha você na hora de se expressar, procure um fonoaudiólogo. O profissional especializado em voz saberá corrigir as falhas com treinamento. A dicção difícil pode comprometer a sua imagem enquanto profissional e atrapalhar a edição da sua fala. Fale devagar, sem ser monótono, mas firme, sem titubear.

Frases mal construídas e/ou complexas são difíceis de ser entendidas. Esqueça as grandes construções de linguagem. A fala, durante a entrevista, deve ser prática e objetiva, com frases curtas e palavras simples.

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Seja claro ao conversar com o jornalista e nunca duvide da capacidade de entendimento dele. Caso perceba que não está sendo compreendido, se coloque a disposição para esclarecer melhor. Nem todos os jornalistas são humildes o bastante para perguntar novamente o que não entenderam. Então, tome a iniciativa para não arriscar a publicação de algo errado amanhã.

Cuidado com as informações em off. O jargão é usado para definir depoimentos que não podem ser publicados. Há inúmeros casos de fontes que deram entrevistas em off e que se tornaram campeãs de audiência, portanto tome cuidado com o que disser. Ou você fala, porque entende que o jornalista precisa de tal informação para enriquecer a matéria, ou guarda até que possa divulgá-la com mais segurança. 12

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Nunca, nunca, mas nunca mesmo, ou melhor, de jeito nenhum, ofereça propina para a publicação de alguma reportagem, mesmo que não seja dinheiro. A troca não vale a pena. Se amanhã, você ou a empresa em que trabalha estiverem envolvidos em algum caso escuso, esse mesmo jornalista não hesitará em publicar a reportagem.

A divulgação é a alma do negócio, portanto para divulgar o assunto que deseja é melhor contratar um assessor de imprensa. Ele faz o “meio de campo” entre a instituição e a redação na tentativa de conseguir espaço para a notícia. Quando o dono da empresa liga para a redação e pede a publicação de uma notícia, isso cheira a tentativa de vantagem comercial. Você corre o risco de ouvir como resposta: “Quer anúncio? Liga para o departamento comercial”. Media Training - Allisson Bacelar

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Como agir em entrevistas para TV


Como agir em entrevistas para TV 1) É fundamental apresentar visual limpo e asseado na hora da entrevista. Roupa amassada ou com manchas de suor devem ser trocadas. Para as mulheres, não à transparência ou decotes sensuais que comprometem a credibilidade e tiram a atenção do telespectador. Os cabelos devem ter bom corte e estar penteados. 2) Escolha a roupa certa. Prefira peças de cores lisas, nos tons azul, vinho, bege ou cinza - uma escolha que deve variar conforme o cenário do estúdio (tente descobrir isso com antecedência). Esqueça as cores berrantes e as meias curtas, que deixam aparecer a perna.Também é bom evitar acessórios brilhantes e barulhentos, que desviam a atenção do telespectador. 3) Saiba antes se é uma entrevista só com você ou um debate, o horário, se é ao vivo e qual o estilo do entrevistador. No dia D, não se atrase: chegue 20 ou 30 minutos antes de começar. Tome um cafezinho, converse, sinta o ambiente. Fazendo assim, os riscos de fazer feio diminuem bastante. 4) Cumprimente o entrevistador com um simples ‘bom dia’, ‘boa tarde’ ou ‘boa noite’. Nada de ‘é um prazer estar no seu programa’, ‘olá, telespectadores’ e coisas do gênero.

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5) Comece a responder à pergunta olhando para o entrevistador, mas depois volte-se para a câmera. De vez em quando, olhe de novo para ele. Se o programa focalizar vocês dois o tempo todo (normalmente o estúdio tem uma TV que mostra o que está indo ao ar), faça exatamente o contrário, olhando mais para o entrevistador. 6) Posicione-se na cadeira sem rigidez, mas com elegância. Coloque os dois pés no chão ou cruze as pernas. Mantenha a cabeça levantada, mas sem exageros, para não projetar uma imagem arrogante. Não faça gestos exagerados nem fique balançando as pernas ou se mexendo de um lado para outro na cadeira giratória. 7) Faça a expressão facial trabalhar a seu favor. Na TV, um semblante fechado serve para afugentar o público. A fisionomia tem de estar relaxada, com um ar natural e descontraído. 8) Fale pausadamente e pronuncie bem as palavras. Evite o ‘aaan... aaan’ de uma frase para outra e, ao final de cada uma, aqueles irritantes ‘né?’,‘tá?’ ou ‘tá entendendo?’ Para não dar branco, pense mais na linha de raciocínio, sem se preocupar demais com a construção das frases.

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9) Não se mostre irritado com perguntas ou ataques. Continue falando de maneira firme, mas sem perder a calma. Se não quiser discorrer sobre algum assunto específico, deixe isso claro antes de aceitar o convite. 10) Prepare-se para encerrar. Quando a entrevista estiver no fim, relacione as informações mais importantes que você quer transmitir e encontre uma maneira de comunicá-las da forma mais objetiva possível. Tenha cuidado para não falar demais e acabar perdendo o foco da resposta.

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Como agir em entrevistas para o Rรกdio


Como agir em entrevistas para o Rádio 1) Tenha os pontos principais de sua mensagem escritos na frente de você durante a entrevista e procure não sair do foco. 2) Não negar ou evitar uma entrevista de rádio só porque ela não tem o prestígio de um grande jornal ou o glamour da televisão. 3) Quando puder escolher entre ser entrevistado por telefone ou no estúdio, tente fazer a entrevista em estúdio. Você vai ter mais tempo no estúdio e é mais difícil para os anfitriões de ser desagradável com você. 4) Pesquisas mostram que o público de uma rádio muda a cada 15 minutos, então você deve repetir constantemente a mensagem que deseja deixar. 5) Não tenha medo dos ouvintes que ligam para o programa e não reaja agressivamente com as observações negativas deles. 6) Quando estiver no estúdio, pergunte ao produtor qual a melhor posição para você em relação ao microfone. Com alguns microfones que você precisa para quase tocá-lo com a boca. Já outros você

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precisa manter uma distância média de 6 polegadas ou mais para obter ótimos resultados. 7) Manter um copo ou garrafa de água perto de você durante toda a entrevista ajuda a refrescar as cordas vocais e manter o timbre da voz. 8) Não fale muito rápido, assim fica mais difícil para os ouvintes entenderem já que eles não podem observar os seus gestos. Ao dar um endereço de site ou telefone, fazê-lo duas vezes lentamente. 9) Sarcasmo não funciona muito bem no rádio. O público precisa ouvir um sorriso na sua voz. Sorria quando você estiver no rádio - que vai animar a sua voz. 10) Se um ouvinte começa a criticar você repetidamente e o apresentador não intervém, apenas a comece a falar em uma voz calma. Você vai abafar a mensagem negativa do interlocutor e ainda parecer ser calmo. 11) Alguns apresentadores de programas políticos podem ser educados e cordiais com você antes do show e durante os intervalos, mas rasgar você como se fosse um monstro durante o programa. Não tenha medo de rir deles ou fazer uma brincadeira para desarmá-los. Nunca deixe um apresentador vê-lo tremer.

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Como agir em entrevistas para Jornal


Como agir em entrevistas para Jornal 1) O jornal impresso é feito com base nas citações dos entrevistados. Aproveite isso para usar frases de efeito. Analogias, emoções, oposições, exemplos pessoais e frases com humor geram boas citações e frases de efeito.

2) Os repórteres não podem escrever clichês, mas gostam de citar outras pessoas que usam clichês.

3) Sempre conceda uma entrevista com uma perspectiva positiva. A maioria dos repórteres não está tentando mostrar que você é mal - eles só querem uma interessante história para seus leitores. Se você agir com culpa em torno da mídia, você será culpado.

4) Se você fez algo errado, admita imediatamente. Se o assunto é algo que prefira não falar, você ainda precisa explicar. Caso contrário, pode ser feita uma matéria negativa sem citar a sua versão na história.

5) Não minta para a mídia. Como seus amigos, familiares e colegas de trabalho, eles não gostam de ser enganados e a repercussão disso pode ser catastrófica.

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6) Não pergunte quais perguntas vão ser feitas. Isso tira a liberdade do repórter. Em vez disso, pergunte que áreas vão ser abordadas. Não esqueça também de nunca pedir para ver a matéria antes que ela tenha sido publicada.

7) Você deve ser útil e interessante e citável. O repórter lhe entrevista para que você seja “referência” no assunto abordado. Os repórteres precisam de você para dizer coisas que eles não podem.

8) Se um repórter ligar para você, não comece a falar de improviso naquele momento. Pergunte ao repórter qual é o prazo. Depois disso, junte informações e prepare sua mensagem. Em seguida, peça para sua assessoria de imprensa chama o repórter antes que o prazo termine.

9) Não se queixe de ser “citado fora de contexto.” Cada citação é tirada do contexto de toda a entrevista e conversa feita previamente. Da mesma forma, nunca rejeite perguntas. Sempre faça uma ponte ligando-as rapidamente à sua mensagem chave. Cuidado com a isca do repórter.

10) A mensagem tem que ser importante não só para você, mas importante para o seu público também. Pense sempre nisso.

11) Você tem 0% de controle sobre as questões que são colocadas. Porém, você tem 100% de controle sobre as respostas dadas durante a entrevista.

12) Saiba exatamente quais assuntos irá tratar com os repórteres antes de dizer qualquer coisa que você não iria querer ler na primeira página.

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13) Quanto mais você sair em entrevistas nos jornais, mais a televisão e o rádio vão querer entrevistar você.

14) Jornalistas não têm grandes egos - têm enorme ego - não esquecer. Por isso, nunca diga a um repórter que ele é tendencioso contra você, assim como, nunca deve assumir que um repórter é tendencioso em favor de você.

15) Um repórter pode usar um palavrão durante uma entrevista, mas você não. Um repórter pode usar um estereótipo de uma brincadeira durante uma entrevista, mas você não.

16) Se você prometer uma reportagem exclusiva a um meio de comunicação, certifique-se que permanece exclusiva.

17) Nunca subestime o potencial que uma entrevista tem de prejudicar ou ajudar sua carreira. 18) Ocasionalmente, você pensa em ter uma conversa informal com um repórter. Você não vai ouvir nenhuma digitação ou vê-lo tomando nota, mesmo assim seus comentários ainda poderão acabar em uma matéria no dia seguinte.

19) Quando a mídia comete um erro sobre você, não pense que eles fizeram isso de propósito porque eles têm uma vingança contra você. Quando necessário, educadamente e de forma sucinta, (50 palavras ou menos) escreva uma correção e envie para o repórter ou editor em questão.

20) Para os meios de comunicação ajudá-lo, você precisa se comunicar 26

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regularmente com eles.

21) A estratégia de mídia de sucesso não é sobre a obtenção de uma boa entrevista, é sobre construir relacionamentos de longo prazo com a mídia para que vejam você regularmente.

22) Nunca se deixe intimidar pelos repórteres e nem deixe que os repórteres o ameacem. Rapidamente e educadamente corrija um repórter se você acha que ele está errado sobre alguma coisa.

23) Tente desenvolver uma estratégia de longo prazo para lidar com a mídia. A mídia é sobre o que está acontecendo agora. Você tem que estar disponível agora.

24) Repasse dicas interessantes aos jornalistas, mesmo quando a história nada tem a ver com você e você não tem nada a ganhar com a história. Faça os repórteres sentirem que você está em sua equipe e ajude-os a criar grandes histórias.

25) Cada contato de mídia é uma oportunidade. 26) Não exija ser chamado de “Doutor”. As pessoas vão pensar que você é orgulhoso e quer ser melhor que os outros.

27) Nunca se esqueça que você sabe muito mais sobre seu negócio do que qualquer repórter. Media Training - Allisson Bacelar

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O mídia training, hora da política “De todas as coisas existentes, algumas estão sob o nosso poder, outras não. Debaixo do nosso poder estão o pensamento, o impulso, a vontade de adquirir e a vontade de evitar, enfim, tudo o que resulta das nossas ações. As coisas sob nosso poder são, por natureza, livres e não são nada limitadas. As coisas que não estão sob nosso poder são fracas, servis, sujeitas a limitações, dependentes de outros fatores”. Epiteto¹ Sim, o mídia training não é mais o mesmo. Há uns 10 ou cinco anos, a questão básica era como dar uma boa entrevista. E dar uma boa não era difícil. Bastava ter os dados objetivos, dar informações novas, evitar contradições. Enfim, ter foco e ser preciso. Hoje, a questão política entrou em cena. A pergunta que mais ouço, partindo de pessoas de todas as correntes ideológica, é: como lidar com a manipulação da mídia? A temática é nova, novíssima. Isto implica numa mudança radical do roteiro de treinamento, a começar pelos exercícios. Primeiro, é imprescindível resgatar aquilo que chamo os elementos objetivos da comunicação: o quê, quem, como, quando, onde, por quê, em que contexto. Em síntese, recuperar a face factual da entrevista. Tudo deve nascer dos fatos: opinião, análise, 28

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informação.

Devemos seguir o caminho apontado por Epiteto:

controlar os fatores da comunicação que estão no nosso alcance. Fatos são eloquentes, falam por si. Sobretudo, quando estão inseridos em um contexto amplo. Segundo, o porta-voz precisa ter mais do que credibilidade e capacidade de falar bem. Precisa ter visão política. Não basta coletar materiais e decidir. É imperativo ter discernimento para decidir. Usar a observação para ver, avaliar, prever. Em resumo, ser racional - no sentido de que é preciso argumentar com coerência - e compreender as correlações de força em jogo. Terceiro, o porta-voz (a empresa, a organização pública) não pode esquecer de que o cidadão não se ilude facilmente, nem se deixa manipular. Daí, a necessidade de se guiar pelos fatos, nunca brigar com os fatos. Mas nunca esquecer a questão essencial: quais os interesses em jogo? Por que tudo isso está acontecendo? Por que os fatos passaram a merecer múltiplas interpretações. E no centro das interpretações está a questão candente dos interesses. Mas a ideia seminal é: se quem dá entrevista fala de fatos e seus contextos, certamente tomará a iniciativa, estará no comando das informações. Se a mídia distorcer os fatos, é outra questão. Se questiona os interesses em cena, também. O importante é saber defendê-los. O mídia training, portanto, precisa focar os fatos, focar os fatores da comunicação que estão sob controle de quem dá a entrevista, de quem é a fonte da notícia. Torna-se imperativo treinar, mas treinar com visão política. Isto muda tudo. Ser fonte deixou de ser um ato apenas técnico, passou a ser sobretudo uma

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atitude política. A política, em definitivo, entrou no cotidiano brasileiro. Quem governa o Estado, quem comanda as empresas, quais as reações da sociedade, quais os interesses em questão? Eis algumas incógnitas a espera de respostas, mas que passam a fazer parte do relacionamento com a mídia. O tempo do mídia training apenas técnico passou. Soou a hora da mudança. ¹ Epiteto foi um estóico. O estoicismo foi uma das três principais correntes da filosofia helenística, fundada por Zenão de Eléia (334-262 a.C), que deu base ao cristianismo nos tempos primeiros da nossa era. As outras duas correntes foram o epicurismo e o ceticismo. O mundo estóico está impregnado do culto à razão e do desprendimento. Sua ética está fundada na virtude das boas ações. O caminho do estóico é a justiça, o fazer o bem, a sabedoria da reta razão, livre de paixões. Epiteto viveu na época do chamado estoicismo romano (55-135 d.C). À época os estóicos destacavam-se como professores, ensinando, em particular, os filhos das famílias ricas e preeminentes em termos políticos. Epiteto enfatizou, sobretudo a ética prática e pessoal, além da necessidade do conhecimento da dialética. Pregou uma doutrina de liberdade que parecia imitar a serenidade de Cristo. Considerava o mal uma ilusão, um erro. Ensina: “Quem deseja ser um Deus não pretende não morrer, mas morrer como um Deus e mesmo doente será um Deus. E esse Deus certamente fará bom uso da sua doença”. Escravo a maior parte da sua vida, tornou-se um dos grandes filósofos do império romano. Fez carreira como soldado sob as ordens de Adriano e Marco Aurélio, também filósofo, Autor de uma monumental história de Roma (que viria a inspirar os famosos Discursos de Maquiavel no Renascimento). Os ensinamentos de Epiteto influenciaram a Idade Média e, também, a Idade Moderna. O estoicismo foi influente até meados do século XIX.

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O jornalista deseja apenas fazer bem o seu trabalho Salvando as exceções, como é preciso fazer em todas as atividades, ao entrevistar, o jornalista não tem intenção de prejudicar ou de favorecer o entrevistado. Se ele o procurou é porque imagina que você tenha alguma informação relevante. Talvez você seja o foco do tema e a entrevista se circunscreva praticamente à conversa que tiverem. Pode ocorrer também que você seja um especialista em determinado assunto e ele deseje colher subsídios para completar as informações que possui; ou obter aval de sua autoridade para dar mais credibilidade à matéria que já está pronta; ou para contrapor uma opinião de um outro especialista e evitar que apenas um ponto de vista seja considerado. Portanto, a não ser que o assunto seja muito grave e você se encontre no olho do furacão, uma entrevista não deve ser motivo de preocupação, ao contrário, precisa ser vista como uma ótima oportunidade para valorizar e projetar sua imagem ou da instituição que esteja representando. Não caia na armadilha de pensar que ao se fazer de difícil irá impressionar bem o jornalista. Algumas pessoas, para se mostrarem ocupadas e importantes, dizem que estão muito atarefadas, com a agenda lotada e não atendem prontamente o jornalista. Essa atitude não passa de uma demonstração de Media Training - Allisson Bacelar

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ingenuidade. Quanto mais rapidamente você puder atender o jornalista, melhor. Independentemente de ser um profissional da imprensa escrita ou falada, provavelmente, ele estará correndo para completar a matéria e, se você o receber logo, ampliará suas chances de ser incluído na reportagem. Não significa que sendo pronto e ficando logo à disposição do jornalista as informações sejam necessariamente favoráveis a você, mas que será mais simpático será. Portanto, de maneira geral, as entrevistas se desenvolvem de forma natural e num clima de bastante tranqüilidade. Você falando sobre o que conhece e tendo a chance de projetar bem sua imagem, e o jornalista colhendo as informações que precisa para se desincumbir de suas tarefas.

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Dissimulação, pressão, ingenuidade e vaidade O jornalista experiente sabe como ninguém usar de forma nem sempre explícita ou de pressão para se aproveitar da ingenuidade ou da vaidade do entrevistado. A revista Isto É resolveu entrevistar os alunos da nossa escola para verificar quem teria interesse em se candidatar a algum cargo político depois de concluído o curso. O jornalista fez as entrevistas todas que desejava e durante o cafezinho, quando todos imaginavam que seu trabalho estava terminado, como quem não quisesse nada, foi conversando sobre amenidades com os alunos, e um deles, ingenuamente, revelou que na cidade do interior de Goiás em que ele estava se candidatando ao cargo de prefeito, era preciso tomar muito cuidado, pois lá até crianças e defuntos votavam. Não deu outra - a chamada para aquela entrevista trazia a foto do aluno com o seguinte comentário: Para fulano de Tal, na cidade em que é candidato até crianças e defuntos votam. Ele tentou reclamar, mas acabou reconhecendo que havia mesmo passado aquela informação e que foi muito ingênuo por não ter percebido que estava diante de um jornalista em busca de notícias.

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Não se sinta boicotado Não é porque você falou duas horas e só levaram ao ar alguns segundos da sua entrevista, ou depois de um dia inteiro conversando com o jornalista só foi publicada uma linha a seu respeito que você deverá se sentir boicotado e comece a recusar entrevistas. Essas situações podem ocorrer com todas as pessoas, até com personalidades renomadas. Sei que passar por circunstâncias semelhantes não é muito agradável, mas é preferível você sair em uma linha do jornal ou da revista e apenas alguns segundos na emissora de televisão ou de rádio, do que seu concorrente. Lembre-se ainda de que você dando entrevista terá chance de mostrar seu ponto de vista e apresentar seus argumentos para fortalecer sua posição. Se recusar, poderá ficar sujeito apenas às informações de terceiros a seu respeito ou da interpretação do jornalista.

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Agora é com você... Não existem fórmulas prontas, nem receita fechada que ensine como evitar problemas com a imprensa. Certamente há aqueles que compreendem a importância da mídia para realização de seus negócios, para cumprimento de metas. Estes serão surpreendidos, vez ou outra, mas estarão na maior parte do tempo preparados para administrar o dia-a-dia e conviver com a realidade. Os que preferem ignorar a imprensa ou minimizar seu papel podem até sobreviver algum tempo sem que grandes problemas ou crises afetem seu negócio. Mas pela presença permanente da mídia na vida das pessoas, e pela crescente participação da sociedade na vida nacional, abrindo mais espaços para o cidadão conquistar seus direitos, é quase certo que sua posição é extremamente vulnerável. O melhor é estar preparado. E no ambiente político, no mundo dos negócios, quem não quer conquistar e cultivar uma boa imagem? O espaço na imprensa, pela credibilidade que passa ao público leitor, é o palco ideal para consolidação dessa imagem.

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Fontes de pesquisa: - BARBEIRO, Heródoto. Mídia Training: como usar a imprensa a seu favor. São Paulo. Saraiva, 2008. - SEABRA, Roberto; SOUSA, Vivaldo. Jornalismo Político: teoria, história e técnica. São Paulo. Record, 2006. - Manual de imprensa: guia para entender e aperfeiçoar o relacionamento com a imprensa. Brasília. Banco do Brasil, 2000. - Guia de relacionamento com a imprensa. Treinamento de Mídia. Acessado em www.treinamentodemidia.com.br. - Media Training Manual. The Ruckus Society. Acessado em www.ruckus.org. - Media Training Guide. Owens Community College. Acessado em www.owens.edu. - Media Training Worldwide. TJ Walker. Acessado em www. mediatrainingworldwide.com.

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Produção

e

edição:

Allisson Bacelar - Formado em

Comunicação Social, Jornalismo – Universidade Federal do Piauí; Pós-Graduação em Gestão da Comunicação Corporativa. Contato: (86) 8884-7271 - allissonbacelar@gmail.com Diagramação:

Kerignaldo

Júnior

-

Graduando

em

Comunicação Social, Publicidade e Propaganda – Centro de Ensino Unificado de Teresina - CEUT. Contato: (86) 8883-6937 - kerignaldojunior@gmail.com

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