Peixes de Águas Interiores

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b) Impactos das oscilações do nível de água da represa: Grandes flutuações do nível de água de represas podem eliminar ou reduzir populações das espécies que desovam somente nas margens, pois as oscilações expõem ovos, larvas e alevinos ao dessecamento. Se as espécies desovarem apenas no período das chuvas, este impacto é atenuado, pois nesta época as variações de nível tendem a ser menores. Além disso, podem ocorrer mortandades sazonais de peixes adultos que ficam aprisionados em depressões rasas quando a água recua, em decorrência da queda do teor de oxigênio, do aumento da temperatura ou mesmo do secamento da poça. c) Impactos das mudanças físico-químicas e biológicas da água: A transformação de um trecho do rio em represa desencadeia processos biogeoquímicos que promovem alterações nas características físico-químicas e biológicas das águas no tempo e no espaço. Entre os fatores interagentes nesse processo, destacam-se: características morfométricas do reservatório (comprimento, largura, profundidade, área da superfície líquida, volume, área de drenagem, comprimento das margens), velocidade de enchimento, tempo de residência e oscilações de nível da água, tipo de vegetação inundada e atividades humanas na bacia de contribuição, entre outros. As principais alterações que podem ocorrer são a estratificação e a eutrofização. A estratificação, segundo NOGUEIRA (1991), é um fenômeno praticamente inexistente em rios, notadamente em rios com as características observadas nas águas interiores do Estado do Rio de Janeiro. Constitui-se, em linhas gerais, em um acomodamento vertical das camadas do fluido, em decorrência de gradientes de densidade, que são provocados por gradientes de temperatura e de concentração de sólidos dissolvidos e em suspensão, com a predominância dos efeitos da temperatura. A ocorrência da estratificação permite a identificação distinta de três zonas verticais: o epilímnio, que representa a camada superior, onde a temperatura é geralmente constante e a densidade menor, o metalímnio, logo abaixo, onde o gradiente de temperatura é máximo e, a seguir, o hipolímnio, que se estende até o fundo da represa e apresenta menor temperatura e maior densidade. Em geral, admite-se a existência de duas grandes camadas, o epilímnio e o hipolímnio, sendo o plano horizontal que as separa denominado termoclina. Já a estratificação térmica nos reservatórios é o resultado do balanço de calor entre a água armazenada e as contribuições externas, que incluem radiação solar, troca condutiva de calor entre a atmosfera e a água e o calor dos tributários. A represa pode emitir calor de volta para a atmosfera por radiação de superfície e pode também perdê-lo por evaporação, por condução e pelas vazões defluentes. Como os processos de aquecimento e resfriamento ocorrem em uma superfície relativamente fina, se não houver mistura vertical para destruir o gradiente de calor logo à superfície, ocorrerá estratificação térmica. Outras funções de força que influem diretamente na natureza da estratificação térmica e da densidade são o vento e a precipitação. A literatura demonstra que nas regiões tropicais esses dois fatores são os reguladores efetivos do fenômeno da estratificação (NOGUEIRA, 1991). Nos reservatórios rasos de clima tropical, há geralmente um ciclo diário de variação. Durante o dia, ocorre a estratificação pelo aquecimento da camada superficial e, à noite, tem-se a desestratificação pela ação combinada dos ventos e do resfriamento da camada superior, provocando a mistura total a cada 24 horas. Já os reservatórios profundos de clima tropical permanecem praticamente todo o ano estratificados, podendo ocorrer desestratificação apenas no inverno. As diferenças térmicas mais acentuadas entre as

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