JUP Novembro 2008

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CAVACO SILVA INCENTIVA JOVENS EMPREENDEDORES Cátia Monteiro

Inserido no Roteiro da Juventude, o Chefe de Estado visita o Porto para conhecer projectos sociais organizados pela FAP e pela Câmara Municipal do Porto. O Presidente da República, Cavaco Silva, levou a cabo nos passados dias 3 e 4 de Outubro a primeira jornada do Roteiro da Juventude. Subordinado ao tema “Autonomia dos Jovens e Associativismo”, o Roteiro teve como objectivos dar voz aos projectos dos jovens, estimular a participação na vida cívica e valorizar o associativismo. A ideia de realizar o Roteiro da Juventude surgiu durante uma reunião entre Cavaco Silva e várias organizações de jovens, que se realizou em Maio no Palácio de Belém. O Presidente da República passou pela Lousada e Vila Meã, onde conheceu casos de sucesso de jovens agricultores, o chefe de Estado visitou ainda o Porto para conhecer alguns projectos de carácter social promovidos pela Federação Académica do Porto e pela Câmara Municipal. Cavaco Silva declarou que o Roteiro pretende mostrar os “bons exemplos” de trabalhos feitos por jovens e consequentemente estimular a competitividade do país: “não me peçam para apresentar desgraças, porque não é assim que damos a esperança de que Portugal precisa, porque não é assim que estimulamos a competitividade dos portugueses.”

Na sessão, foram recordados casos de sucesso como o Projecto Aconchego, que promove o alojamento de estudantes do ensino superior em casas de idosos residentes na baixa do Porto, do projecto “Medicina na Periferia”, que consiste na realização de rastreios em aldeias por estudantes do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar e do “Porto de Futuro”, que visa promover o sucesso escolar de crianças em risco de abandonar os estudos. Em destaque estiveram o associativismo e participação cívica, o presidente da República referiu a importância das associações de estudantes e disse que “as associações de estudantes são escolas de cidadania em vários domínios”. O encontro contou também com a presença de Ivo Santos. De acordo com o presidente da Federação Académica do Porto “o Roteiro da Juventude pode traduzir-se numa mensagem de esperança para os estudantes que muitas vezes se sentem um pouco desiludidos e até mesmo com as perspectivas defraudadas relativamente ao seu futuro”. Cátia Monteiro

O QUE FAZER DEPOIS DA LICENCIATURA? Cristiana Afonso

Número de licencidados desempregados tende a aumentar e não há soluções à vista. A pergunta impõe-se a milhares de jovens licenciados, que investiram parte do seu tempo e da sua vida numa formação que acreditaram ser a melhor e a mais capaz de lhes oferecer a possibilidade de um emprego e de realização profissional. Mas a realidade não é essa. E o número de jovens licenciados desempregados ou a trabalhar em áreas que não correspondem à sua área de formação tende a crescer de ano para ano. Só em 2007 eram mais de 59 mil os lecenciados no desemprego, o aumento entre 2005 e 2007 foi de cerca de 30%, refere o INE (Instituto Nacional de Estatística). Já em Fevereiro de 2008, e segundo o IEFP (Instituto do Emprego e Formação Profissional), estavam inscritos nos centros de emprego 9.129 desempregados com habilitação superior, o que corresponde a 23,5% do total de desemprego entre licenciados. Por enquanto, para os jovens, o desemprego parece não ter fim à vista. E muitos, como Renata Silva, consideram que as perspectivas de emprego são más. “A situação tem tendência a piorar e não vejo nada a ser feito para que se evite isso. Se conseguir emprego noutra área (porque até para aí está mau) já me vou dar por contente.” Já para as autoridades políticas a siuação é diferente e muito mais optimista. A 4 de Abril de 2008, ouvimos Mariano Gago dizer que “o número de profissionais que sai dos cursos superiores todos os anos para o mercado de trabalho não chega e são todos absorvidos pelo mercado.” Facto é que os licenciados se vêem a braços com estágios não remunerados sem fim, ou com trabalhos pagos a recibos verdes. Por outro lado, as vagas nas universidades são quase totalmente preenchidas, há casos de abertura de novos cursos, multiplicam-se os caloiros, enquanto ao mesmo tempo o país se recente com a crise mundial, a economia não se desenvolve e as oportunidades de emprego não se criam. Mesmo assim, Érica Vilarinho, aluna do último ano da licenciatura em Ciências da Comunicação na UP, acredita na possibilidade de encontrar emprego. Diz-se “uma

optimista, gosto de pensar que vou conseguir o emprego dos meus sonhos após o estágio, mas no fundo sei que para isso é preciso sorte, mais até do que competência. Há que pôr os pés no chão e batalhar; não há remédio.” Uma notícia recentemente publicada no JPN (Jornalismo Porto Net) indica que mais de metade dos licenciados da FLUP, FEP e FPCEUP está em situação precária. O estudo desenvolvido por investigadores do Instituto de Sociologia da FLUP, “Precariedade profissional dos diplomados da Universidade do Porto em Ciências Sociais, Humanidades e Administração e alternativas de inserção futura”, teve como ponto de partida inquéritos na Internet a 7757 licenciados entre 1997 e 2004 nas faculdades referidas. O objectivo era perceber o tempo médio para encontrar o primeiro emprego e em que situação laboral se encontravam no verão de 2006. Os resultados revelaram que 53% dos licenciados estava em situação precária e 18% trabalhava a recibos verdes. A UP continua a ser a mais procurada. É, segundo o reitor, José Marques dos Santos, uma “universidade com valor”, que tem vindo a crescer no número e qualidade da sua produção científica. No entanto, também ela não assegura um futuro com emprego aos milhares de jovens que a escolhem porque a vêem nas melhores posições dos rankings internacionais. O reitor defende que, actualmente, já não faz sentido pensar em cursos com emprego imediato e acrescenta que “a

primeira formação é para ganhar competências de empregabilidade e não de emprego.” Talvez então se justifique que os jovens de hoje prolonguem a vida na casa dos pais e a dependência financeira dos mesmos, não invistam em casas e carros próprios, nem contribuam para o aumento da natalidade. A população envelhece e a idade de reforma aumenta.

uma boa qualificação profissional, porque afinal o mercado de trabalho é, cada vez mais, para os bons”, explica Érica Vilarinho. Outros consideram que o principal problema dos mestrados são os custos. Mais formação implica mais investimento. Por isso, nem sempre a continuidade dos estudos é uma opção viável.

Estudar no estrangeiro

U.Porto

Futuro passa pelos mestrados As soluções passam cada vez mais pelo estrangeiro, pela continuidade dos estudos através do mestrado, mesmo sem antes ter qualquer experiência profissional, ou pela aposta no empreendedorismo e na criação do próprio emprego. Quanto à continuidade dos estudos através de mestrado, e que veio ser incentivada pela divisão do curso em ciclos pelo Processo de Bolonha, é uma forte possibilidade para alguns, que acreditam que mais formação só pode trazer mais benefícios.“Faz toda a diferença, sem dúvida. Apesar de, hoje em dia, ser mestre ou doutor, não nos dar garantias de nada, mas é indispensável

Michel Moutinho, estudante de Farmácia na Universidade de Santiago de Compostela, decidiu optar desde início pela formação fora de Portugal. O número de desempregados condicionou a escolha “principalmente devido à situação em que o país se encontra actualmente, em que a taxa de desemprego é cada vez maior, tanto a nível de licenciados como a nível de não licenciados, e neste caso, o estrangeiro oferece uma melhor qualidade e uma maior escolha a nível de emprego.” Apesar de não descartar a hipótese de regressar a Portugal, acredita que primeiro “será melhor obter uma formação inicial fora do país, visto que a formação em Portugal é muitas vezes precária, e além disso, a nivel económico e monetário, o estrangeiro oferece melhores condições. Portanto, talvez volte a Portugal, mas apenas quando já tiver uma vida estabilizada e garantida.”

Observatório de Emprego Na Universidade do Porto estão quase a sair os primeiros resultados do Observatório de Emprego. O objectivo é acompanhar o percurso dos estudantes após a licenciatura e tentar perceber em que pontos é possível corrigir deficiências. Muitos estudantes acreditam que também passa pela universidade a responsabilidade de orientar os jovens no que toca às questões do emprego. Renata Silva diz que é “necessário promover feiras de emprego e abrir mais e melhores estágios, por exemplo. Afinal de contas, já que pagamos propinas é para nos darem o melhor.”


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