05/03/2011 - JORNAL SEMANÁRIO

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Sábado, 5 de março de 2011

Acervo

Memória que resgata a força Museu localizado no Vale dos Vinhedos reúne peças históricas dentro de casa com mais de 80 anos FOTOS RAQUEL FRONZA

Raquel Fronza

A

imigração italiana contada através de objetos inseridos em uma residência com mais de 80 anos. Assim podemos definir o Museu Familiar Tasca, localizado no Vale dos Vinhedos, em Monte Belo do Sul, onde centenas de peças são resgatadas e mantidas para visitação e acervo particular, impressionando os turistas que passam por lá, e deixam suas impressões. Os Tasca chegaram ao Brasil em 1929 e, a casa em que o museu está localizado, é a terceira tentativa de moradia que a família fez, construída pelo bisavô de Décio, que sabe narrar cada lembrança presente. Ao lado da residência, cerca de três hectares de uva compõem o cenário tipicamente italiano, onde a família utiliza os vinhedos para a produção de suco e geleias, herança que os bisavós deixaram para a geração, iniciando pelo vinho, e optando pela bebida sem álcool. “Pela produção de uva orgânica e pela qualidade do suco”, justifica Décio. Originários de Vicenza, a trajetória da família se confunde a da imigração italiana, chegando ao Brasil em busca da terra prometida. “Naquela época, eram tempos de extrema miséria para o trabalhador italiano. Vieram à América procurando fartura, e fizeram daqui sua casa”. Mais de cem pessoas viveram no prédio onde funciona o museu. Diva Tasca, da quarta geração da família e já falecida, foi quem orga-

Décio Tasca mostra o baú que transportou a bagagem da Itália ao Brasil no ano de 1929

nizou e idealizou o acervo. “A forma com que a casa foi projetada também foi extremamente pensada, através do conhecimento milenar que o imigrante possuía. Os quartos nos andares superiores, com maior circulação de ar e facilitando o clima para temperaturas mais suaves, são uma demonstração disso”. Conforme Décio, a residência foi construída com materiais que puderam ser encontrados na época em abundância, como madeira e pedras, estas que, aliás, comportam a cantina familiar. Um baú carregou tudo o que a família poderia transportar ao Brasil. Originário de muito an-

Cerca de 100 pessoas já residiram na antiga casa

tes de 1929, a peça rara está em exposição no museu, junto a outras valiosas heranças deixadas pela tradição. Máquinas antigas como aparelhos de plantar milho, matar formigas, panelas de ferro e barro, fogão à lenha e outros utensílios fizeram parte da história do imigrante, que Décio ressalta a matéria-prima para o sustento desta trajetória. “A polenta. Foi o que manteve o imigrante em pé, já que era encontrado milho por todo local”, relembrou. Entretanto, na cozinha, o único auxílio que o homem poderia fornecer à esposa eram atividades que exigiam força, como por exemplo, a confecção do espaguete, feito em casa, com um aparelho específico construído pelos maridos. A maturidade é a característica mais visível dos turistas que chegam ao museu, afirma Décio. Ele conta que estar em meio a tanta história o faz entender que não “caiu de paraquedas no mundo”, e que somente valorizou esta herança após os 30 anos, quando amadureceu. Sem foco comercial, o local está em visitação diariamente, de segunda a sexta-feira, das 12h às 18h. Sábados e feriados, das 10h às 18h, e aos domingos das 10h às 17h.

Pai Nosso A religião sempre esteve presente na rotina do italiano, e está representada com um presépio à moda antiga: ao invés de arranjos natalinos, santinhas e lembranças de religiosos estavam penduradas na árvore, com um prato de farinha de polenta ao lado. O motivo do alimento estar próximo ao presépio, Décio explica: “É para o burrinho que acompanhava Jesus parar e comer”. O presente que Tasca recebeu de Natal, em 1952, também se mantém intacto: uma bicicleta, que mede, aproximadamente, 50cm. Futebol em 1958 A Copa do Mundo de 1958 ainda emociona Décio. Ele conta que, através de um rádio, trazido de segunda mão e movido à energia elétrica – já presente na linha Santo Isidoro, de Monte Belo – o pai acompanhou a final da competição. Quando o Brasil ganhou, a forma com que a família transmitiu o resultado faz com que Décio mareje os olhos: “Meu pai atirou com uma espingarda diversas vezes. Os vizinhos responderam com mais tiros, e comemoram juntos”. regional@jornalsemanario.com.br


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