Jornal da FACOM - 2012.1 - Março

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UFBA, Salvador, março de 2012

UFBA

RECEPÇÃO CALOUROSA?! DESOCUPA, SALVADOR

Entrevista com Nadja Vladi ESPORTE

Meninas brilham no futebol de salão meninas


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EDITORIAL

UFBA, Salvador, março de 2012

Uma nova edição do Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação, o JF, finalmente chega às mãos dos leitores. Em pleno processo de renovação, nosso jornal quer demonstrar que tamanho não é documento e por isso, está mais enxuto, porém, mais intenso. Produzido pelos alunos do terceiro semestre do curso de Jornalismo da FACOM, o JF deste ano pretende olhar para a nossa Universidade e, para isso, mudamos o foco, sem perder de vista os personagens e acontecimentos da cidade de Salvador. Uma instituição

do porte da UFBA precisa mostrar sem pudores suas conquistas mas também seus problemas. Os alunosrepórteres foram atrás das notícias, das boas e das não tão boas, que falam da vida social, acadêmica, científica e cultural da nossa universidade. Questões como a inclusão dos estudantes indígenas, as mudanças nas formas de recepção dos calouros, as empresas júnior e os problemas e soluções para o transporte dentro dos campi, são alguns dos temas desta edição. Boa leitura e até a próxima edição.

Expediente Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação - Universidade Federal da Bahia Rua Barão de Geremoabo, s/n, Campus Ondina CEP: 40.170-115 - Salvador/Bahia Reitora da UFBA: Prof. Dora Leal Rosa

UFBA Atraso nas obras torna mais difícil a situação do Insituto de Química

Pedido de socorro LUIZ FERNANDO TEIXEIRA JÚLIA BELAS

Fotos: Sara Régis

Diretor da Facom: Prof. Giovandro Ferreira Coordenação Editorial: Profª. Graciela Natansohn (DRT/BA 2702) Chefe de Redação e Revisão: Carlene Fontoura Edição de Fotografia: Labfoto - Prof. Rodrigo Rossoni Projeto Gráfico e Diagramação: Víctor Pinto Repórteres | Turma 2012.1: Adriele de Jesus Souza, Agnes Cajaiba, Alles Alves, Alexandre Wanderley, Carol Prado, Daniel Silveira, Dudu Assunção, Edvan Lessa, Fábio Arcanjo Mendes, Fabrina Macedo, Gislene Ramos, Guilherme Alves, José Calasans de Sousa Jr., Júlia Belas, Lara Bastos, Lara Maiato, Lara Perl, Luana Silva de Amaral, Luiz Fernando Teixeira, Marília de Mattos Cairo, Rafael França, Tais Bichara, Thais Motta, Thamires Tavares, Tiago do Nascimento, Val Benvindo Contato: jornaldafacom2012@gmail.com Tiragem: 1.000 exemplares Distribuição Gratuita Foto da capa: Renato Alban

Materiais estão espalhados pelos corredores

Três anos após o trágico incêndio que destruiu a ala laboratorial do quinto pavimento do prédio do Instituto de Química, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), alunos e professores ainda sofrem as consequências do acidente. Os atrasos nas obras fazem com que o ambiente de trabalho e de estudos continue precário, o que é um empecilho para dar seguimento às pesquisas na área. Nas palavras de Maria de Lourdes Botelho, diretora do Instituto, “uma pesquisa experimental pede exigências significativas na instalação dos laboratórios”. A falha estrutural do prédio, construído em 1971, e sem adaptações para abranger o aumento da quantidade de alunos, pesquisas e equipamentos, agravou o efeito do incêndio. O fogo destruiu todo o Departamento de Físico-Química e prejudicou também todo o quarto pavimento, dedicado à Química Analítica, informação não divulgada na época. Com todos os danos, tanto os professores de Físico-Química quanto os de Química Analítica não puderam continuar com suas pesquisas e aulas de forma adequada. Marcos Malta, professor de Físico-Química, cujo gabinete ficou pronto na semana em que ocorreu o incêndio e foi completamente queimado, diz que, junto com o gabinete, perdeu “a oportunidade de desenvolver o trabalho da maneira que gostaria, orientando alunos e fazendo ciência”. Ele ainda criticou a situação atual.


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“Hoje a gente faz isso de uma maneira artesanal. Eu mesmo não tenho um laboratório de trabalho. Então, faço minhas pesquisas com professores de outros departamentos”. A cooperação entre os demais docentes do Instituto e de outras faculdades, como Física, Farmácia e Biologia, tem sido fundamental para que as pesquisas do curso de Química não sejam interrompidas. O chefe do Departamento de Físico-Química, Jaime Boaventura, destacou a boa vontade dos professores ao ceder o pouco espaço que têm aos colegas prejudicados. “Temos um conjunto de dados acumulados que mesmo com o incêndio puderam ser aproveitados e permitiram o desenvolvimento de teses e dissertações. Inclusive os dois primeiros trabalhos de doutorado em Engenharia Química”. Jaime ainda desabafa: ”Estamos 'nos virando' para conseguir trabalhar, principalmente na forma de parceria”. PREJUÍZOS E PRAZOS O prejuízo calculado foi cerca de R$ 13 milhões em equipamentos e os investimentos relacionados a esse setor seriam feitos pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, no valor de R$ 8 milhões. Três anos depois, ainda não se tem previsão para o repasse da verba. Já a reforma do prédio ficaria a cargo do Ministério da Educação. Em um acordo entre os Institutos de Química e Física, foi decidida a construção do Complexo de Física e Química, que consistirá na reestruturação dos dois prédios já existentes, além da construção de dois anexos. O anexo de Química abrigará os laboratórios de graduação e deverá ficar pronto até o fim do ano, deixando o prédio antigo unicamente para pesquisas científicas e pós-graduação. PALIATIVOS Para que as pesquisas não fossem interrompidas, a Reitoria da UFBA e a direção do Instituto de Química se mobilizaram para conseguir laboratórios provisórios que pudessem abrigar os pesquisadores e seus grupos durante a reforma. O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia cedeu três laboratórios no antigo Colégio Marista de Salvador. Em meados de março, a diretoria do Instituto de Química recebeu a notícia de que um dos três laboratórios estava concluído e outro estava sendo finalizado. As obras no terceiro laboratório começaram em janeiro deste ano. Além disso, três laboratórios de graduação serão implantados no prédio do antigo Serviço Médico Universitário, dividindo o edifício provisoriamente com a Faculdade de Arquitetura.

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EMPREENDEDORISMO Estudantes da UFBA se destacam com ações dentro de empresas juniores

Nem tão juniores assim EDVAN LESSA GUILHERME ALVES “Designativo dos que pertencem à turma dos concorrentes mais moços”. Esse é o significado da palavra júnior, de acordo com o dicionário Michaelis. Definição bastante apropriada para qualificar quem faz parte do Movimento Empresa Júnior (MEJ). O MEJ é composto pelas Empresas Juniores (EJs), associações civis sem fins lucrativos

Brasil, onde existem 169 EJs. Elas são voltadas para a prestação de serviços à sociedade, principalmente às micro e pequenas empresas. Dessa forma, os empresários juniores colocam em prática o seu aprendizado, sempre com o respaldo e auxílio dos professores que os orientam ao longo dos projetos. Só na Universidade Federal da Bahia (UFBA) existem 14 empresas pertencentes ao Núcleo de Empresas Juniores (NEJ), instância que representa as empresas frente à Universidade.

doação de alimentos em todo processo seletivo (para novos membros), e também somos organizadores do trote solidário, evento realizado todo semestre em que os alunos desenvolvem atividades em instituições de caridade”. No âmbito cultural os juniores também realizam grandes projetos, como o FacomSom da Produtora Júnior EJ da Faculdade de Comunicação –, evento que valoriza grupos musicais pouco conhecidos no meio baiano. Para o diretor Presidente da EJ, Fábio Arcanjo, “O FacomSom é, sem Agnes Cajaiba dúvidas, um dos grandes momentos do ano. É um de nossos maiores projetos, pois nos capacita para atuar em diferentes áreas e ainda proporciona um ambiente único de interação cultural para os alunos”. DE MÃOS DADAS As EJs buscam autonomia assim como as empresas de mercado. Atualmente muitas empresas estão em processo de emissão do alvará na UFBA, documento que formaliza a existência dessas associações enquanto prestadoras de serviços. Para Murilo Vilpert, presidente da Empresa Júnior ADM UFBA, da Escola de Administração, “a relação entre as duas (faculdade e EJ) deve ser a melhor possível, visto que a empresa júnior permite que os estudantes, ao sair da faculdade, se tornem verdadeiros profissionais”. Pedro Magalhães, diretor presidente da Empresa Júnior de Engenharia Civil – ENGETOP, completa: “Temos um bom relacionamento com a Escola Politécnica da UFBA e costumamos apoiar eventos realizados internamente quanto os projetos da nossa carta de serviços para a Faculdade. Neste ano, colaboramos com os festejos para o aniversário da Poli, em que desenvolvemos um trabalho de revitalização da entrada da faculdade e estamos construindo um projeto para a reforma dos elevadores”.

<< A relação entre as duas (faculdade e EJ) deve ser a melhor possível, visto que a empresa júnior permite que os estudantes, ao sair da faculdade, se tornem verdadeiros profissionais no mercado >> Murilo Vilpert, presidente da Empresa Júnior da Escola de Administração da UFBA

formadas por estudantes de graduação, que têm a chance de desenvolver seu potencial empreendedor, aliando a teoria com a prática de mercado. Com origem na França em 1967, o conceito de empresa júnior se difundiu e hoje é muito presente pela Europa e

Essas associações também firmam parcerias e desenvolvem projetos no âmbito interno e social, tal como afirma Mateus Batista, gerente de Relações Institucionais da ADV Jr, empresa da Faculdade de Direito da UFBA. “Nós fazemos campanha de


3 Agnes Cajaiba

COMPORTAMENTO Proposta articula artes performáticas, discussão científica e manifestações artísticas

Projeto Corpocidade busca estimular a relação do corpo com o ambiente urbano AGNES CAJAIBA TAIS BICHARA Diante de uma rotina cada vez mais acelerada e dispersa, a percepção do ambiente e do que acontece ao redor não tem sido um hábito presente no cotidiano dos cidadãos urbanos. Pensando nisso e nas inúmeras possibilidades de apreensão e compreensão desse espaço, surgiu o projeto Corpocidade, idealizado pelas professoras da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Fabiana Dultra Brito, da Escola de Dança, e Paola Berenstein, da Faculdade de Arquitetura. O projeto teve início em 2008 com a realização do evento Debates em Estética Urbana na cidade de Salvador. “A proposta é discutir o espaço urbano não como um lugar para a arte acontecer, mas como uma condição para isso”, explica Fabiana. A cidade não poderia se resumir a um palco ou um cenário inalterável e despercebido. E, dentro dessa perspectiva, o evento, que chega à sua terceira edição, e todas as atividades que fazem parte do projeto Corpocidade tratam da apreensão e diálogo com o espaço urbano, provocadas pela necessidade de se inserir nesse meio e compreender-se a partir dele. A palavra “provocar” traz uma característica curiosa na metodologia utilizada durante a segunda

edição do evento. Segundo a organizadora Fabiana, não foram inscritos trabalhos, teses ou comunicações, e sim provocações. “A gente quer um evento que seja um lugar de construção de ideias, e não de exposição”, pontua. Dessa forma, as duas etapas do evento – que em 2010 aconteceu nas cidades de Salvador e Rio de Janeiro –, contaram com longos processos de discussões. A P R E E N D E R O E S PA Ç O AT R AV É S D A ERRÂNCIA O simples exercício de se permitir perceber o caminho que está fazendo entre as ruas até chegar ao trabalho é inconsciente ou conscientemente descartado por vários motivos. Os cidadãos urbanos não estão habituados a se apropriar do espaço que ocupam, onde transitam. Segundo Paola, uma das melhores formas de conhecer a cidade em que estamos é justamente desconhecendo aquilo que se está acostumado a fazer, a rua em que está acostumado a andar. Trata-se de uma proposta chamada de “errância urbana”: a possibilidade de tomar caminhos desconhecidos e experimentar a cidade de uma forma nova, diferente da rotina. “São as diferentes ações, apropriações ou improvisações dos espaços que legitimam ou não aquilo que foi projetado. São essas experiências vividas pelos habitantes,

passantes ou errantes, que reinventam os espaços no cotidiano”, completa Paola. Com base no conceito da errância, um destaque do projeto Corpocidade são as oficinas oferecidas durante o evento. Esse ano, dentre as propostas disponíveis fotografia, caminhada, dança -, a pesquisadora Aline Couri Fabião propõe o workshop Os ouvidos das ruas. Através do que chama de “derivas”, a ideia é que os participantes busquem a percepção dos sons no ambiente urbano. “Os sons podem dar pistas sobre quem utiliza certo espaço, quem o constrói, sobre práticas desenvolvidas nele e sobre aqueles que se sentem parte dele. Ou pelo contrário, sentem-se marginalizados por um desenvolvimento padronizado”, justifica Aline.

Como participar? A terceira edição do Corpocidade acontecerá entre os dias 23 e 27 de abril, em Salvador (BA). As inscrições para participar das oficinas e dos debates – eventos gratuitos podem ser feitas até dia 15 de abril pelo site www.corpocidade.dan.ufba.br


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ACESSIBILIDADE As obras do plano inclinado poderão ser iniciadas em 2012

O bondinho da UFBA UBFA ADRIELE SOUSA Quem tem aula em diferentes unidades da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador, sabe o quanto é difícil se deslocar rapidamente entre os campi para não chegar com atraso às aulas. Subir e descer a escadaria da Escola Politécnica, que liga o campus de São Lázaro ao de Ondina/Federação, representa um desafio diário para muitos estudantes e funcionários. Para resolver essa situação, é necessário desenvolver um meio de transporte que integre os campi. E parece que esse sonho antigo não vai demorar para se tornar real. Pessoas com dificuldades de locomoção, como idosos e cadeirantes, não têm condições de transitarem pelos campi da Universidade sem utilizar um meio de transporte urbano. Utilizar as escadas como via de acesso se torna mais crítico em dias chuvosos e perigoso em horários de menor movimento. Para Fernanda Barreto, estudante do 4º semestre de Biologia, “a escada da Poli é uma das coisas que jamais terei saudades quando sair da UFBA”. Na falta de opção, a escadaria representa o caminho mais curto para muitas pessoas que transitam por ali. A fim de tornar possível o tripé integraçãomobilidade-acessibilidade foi criada uma comissão executiva em dezembro do ano passado, por iniciativa da Administração Central da UFBA, para elaborar o projeto do plano inclinado. “O nosso desejo é tornar a universidade mais integrada, interagindo de maneira plena”, declara o vice-reitor da UFBA, Luís Rogério Leal. Coordenada pelo professor de Engenharia Química, Robson Silva Magalhães, a comissão é

Modelo do plano inclinado da UFBA retirado do projeto da obra

composta por 12 pessoas, dentre elas arquitetos, docentes e estudantes da Escola Politécnica. Tem a responsabilidade de desenvolver todo o projeto, desde os estudos técnicos de viabilidade do terreno, do detalhamento topográfico até o desenho das cabines. Após a construção do bondinho, o fluxo de pessoas circulando pelos campi da UFBA deve aumentar, pois não somente a comunidade acadêmica, mas também os moradores do entorno serão beneficiados. O bondinho será gratuito e a cabine projetada com gradil de vidro, para dar segurança visual aos passageiros, suporta até 30 pessoas por viagem com menos de um minuto. O projeto, de acordo com a comissão, tem baixo impacto ambiental e prevê a existência de duas estações de transbordo, uma superior e outra inferior. Nesta última, haverá uma área de convivência com fotocopiadora, lanchonete e anfiteatro para evitar que o local de transbordo se torne uma região isolada. “A proposta arquitetônica é diferente, tem um designer específico”, avalia o professor Robson. Como o projeto ainda está em fase de andamento, o orçamento não foi decidido. Entretanto, segundo o vice-reitor,

<< A escada da Poli é uma das coisas que jamais terei saudades quando sair da UFBA >> Fernanda Barreto, estudante do 4º semestre de Biologia

existe grande possibilidade das obras começarem ainda em 2012. As Fernandas, os Josés e as Marias que sonham em chegar às aulas sem passar tanto sufoco, vão ter que aguardar mais um pouco, pois o projeto será entregue no final do mês de maio à gestão central da UFBA para ser analisado pelo Conselho Universitário e pela Comissão de Patrimônio, Espaço Físico e Meio Ambiente da Universidade.


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SEMANA DO CALOURO UFBA recebe 8000 calouros

Calourosa se consolida como principal recepção dos novos estudantes da Ufba LARA PERL Ser novo é sempre um desafio. Todos já chegaram em algum lugar como marinheiros de primeira viagem, curiosos para conhecer um novo mundo, com infinitas possibilidades de aprendizado e dificuldades a serem enfrentadas. Essa é a sensação de alguns dos 8000 calouros que a Universidade Federal da Bahia (UFBA) recebe em 2012. Aquela velha história de que “na Federal você vai ter que se virar” se apresenta de diferentes maneiras para cada um e as faculdades proporcionam recepções nem sempre tão “calourosas”. Segundo Dulce Aqino, Pró-reitora de Extensão, a importância da recepção é entrar com o pé direito no ano letivo. “É essencial essa sensação de pertencimento e a festa Calourosa é justamente para mostrar ao aluno que a universidade é parte dele e ele é parte da universidade”, destaca. Mas, ela também lembra que as faculdades devem promover a sua Semana do Calouro nos primeiros dias do semestre, geralmente organizada pelos estudantes e Diretórios Acadêmicos (DA's). Pablo Santana, 19, já cursava o terceiro período de

Economia quando decidiu migrar para o curso de Produção Cultural, na Faculdade de Comunicação (Facom). “Vim de uma faculdade que não tem Semana do Calouro. A gente vai conhecendo as coisas aos poucos, mas não foi como na Facom, em que conhecemos tudo nos primeiros dias”, compara. Outro ponto que lhe chamou a atenção foi o contato com os veteranos. “É a integração entre alunos novos e antigos, entre colegas e corpo docente que faz a faculdade. Essa prática deve permanecer”, conclui o estudante. A experiência incentiva os atuais calouros a se tornarem veteranos receptivos, consolidando uma verdadeira tradição em algumas faculdades, como a Escola de Administração. Gabriela Regis, 18, afirma que “a semana do calouro foi muito esclarecedora. Quase todos os dias tiveram palestras e apresentações das instâncias, projetos e diretoria da faculdade”. FALTA INFORMAÇÃO Na famosa cultura do boca-a-boca, em que os alunos antigos passam informações para os mais novos, os cursos mais dispersos muitas vezes deixam lacunas para esses estudantes. “Acho que falta orientar melhor o

calouro porque chegamos aqui totalmente perdidos”, pontua Luisa Novaes, 18, aluna de Engenharia Elétrica. Ela conta que, diferente dos amigos de outros cursos, já teve aula desde o primeiro dia e nem reconhece quem são os veteranos ou funcionários da sua faculdade, sempre recorrendo a qualquer pessoa para pedir informações úteis, como trancamento de matérias, orientações sobre o campus e corpo docente. Para Maria Emilia Melo, 17, caloura de Design, “o primeiro dia foi uma confusão, mas tudo ficou mais claro na semana do calouro, quando houve uma palestra do diretor, em que funcionários e professores se apresentaram”. Nessa mistura de expectativas e frustrações, o desafio de estar em um ambiente não explorado fortalece amizades e relações, mas exige dos estudantes que propunham e exijam da instituição e dos DA's formas legítimas de dar boas vindas aos novos alunos, como palestras introdutórias. Júlia Rocha, caloura de Arquitetura e Urbanismo, tem boas expectativas para os próximos anos. “Eu espero poder conhecer mais todo o sistema porque acho que a faculdade tem muito a oferecer e quero usufruir de tudo”. Renato Alban

Teatro, música e dança no Campus de Ondina


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Renato Alban

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Recebendo a diversidade O evento deste ano contou, pela primeira vez, com apresentações artísticas de grupos da UFBA, tal como a Filarmônica da Escola de Música, grupos de dança e percussão, dentre muitos outros, além da já tradicional Feira do Conhecimento, onde as instâncias e projetos de extensão de todas as faculdades são representados pelos próprios alunos, em stands. Para Viviane Costa, caloura do curso de Arquitetura e Urbanismo “é uma forma de um conhecer um pouco o que o outro faz”. A Pró-Reitora de Extensão, Dulce Aquino, acrescenta ainda que este tipo de evento “é importante para o aluno ter um panorama e entender a diversidade das áreas de conhecimento em uma universidade como a nossa, grande e diversa”. No centro da Praça das Artes, o PET Indígena montou uma Xoça, justamente para demarcar a diversidade da universidade. “É importante abrir esse espaço porque a composição do nosso país deve estar aqui representada também”, afirma Ariádila Santos, estudante de música da UFBA, da etnia Pataxó. “Acho importante estarmos aqui presentes. É um momento propício, pela aproximação das pessoas e porque é uma grande concentração, onde podemos divulgar muito mais o nosso trabalho”, acrescenta.

+fotos

Grupo Odundê (Escola de Dança da UFBA) Renato Alban

Renato Alban

Reitora Dora Leal e Pró-Reitora de Extensão, Dulce Aquino Amana Dultra

Professor da Escola de Belas Artes vira escultura viva e atrai calouros

Taquary, estudante indígena, monta xoça na Calourosa


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Novidades cinematográficas

LARA MAIATO A segunda edição do Festival de Cinema Universitário da Bahia, que aconteceu entre os dias 15 e 18 de março, reuniu novos realizadores e cinéfilos de todo o Brasil e importantes nomes do cinema brasileiro. Além das mostras de curtas universitários do país, que aconteceram simultaneamente na Sala de Arte do Museu e no Cine Cena Unijorge, o evento também contou com oficinas e debates sobre cinema, que se revezaram entre a Universidade Jorge Amado e a Aliança Francesa. A abertura do evento, na noite do dia 15, iniciou-se com a exibição de dois curtas-metragens do cineasta baiano Sérgio Machado, o homenageado do festival deste ano. O primeiro curta apresentado foi “Troca de Cabeças” (2003), primeiro trabalho do diretor, realizado quando ainda cursava Jornalismo na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Foi exibido também “Príncipe Encantado”, de 2009. Para fechar a noite, Machado, que dirigiu Quincas Berro D`água (2010) e está dirigindo Heliopólis, participou de um debate com o crítico de cinema João Carlos Sampaio. O realizador aproveitou a ocasião para ressaltar a importância de festivais como esse, que não existiam durante sua adolescência, o que contribuiu para que sua formação como cineasta se desse, segundo ele, “de maneira solitária, lendo e assistindo a filmes sozinho”. O festival não parou ao longo dos outros dias. Na sexta, 16, foram ministradas oficinas com José Augusto de Blasiis, que trabalhou em grandes longas-metragens, como Cidade de Deus (2002), Carandiru (2003) e Última Parada – 174 (2008), Francis Vogner, crítico e roteirista, e

Igor Souto, que ministrou oficina de montagem. Cecília Homem de Mello, atriz e diretora de elenco da O2 Filmes, ministrou oficina de produção de elenco, e Cecília Amado, diretora de Capitães de Areia (2011) organizou a oficina de assistência de direção. O festival proporcionou dois importantes debates: Crowdfunding, que contou Daniele Rodrigues

Francis Vogner (acima) e Cecília Homem de Melo (abaixo) nas oficinas

Renato Alban

Daniele Rodrigues

CULTURA Festival de cinema universitário reúnes novos cineastas, cinéfilos e grandes nomes do cinema brasileiro

com a presença de Luís Otávio Ribeiro, um dos idealizadores do Catarse.me; Daniel Lisboa, um dos fundadores da Cavalo do Cão Filmes e André D`Elia, diretor do documentário “Belo Monte – O Anúncio de uma Guerra”. Outra oficina foi a de Produção Audiovisual para Internet, que teve a participação do coletivo Mê de Música. Paralelo às oficinas e debates, 50 curtas-metragens universitários foram exibidos. Dentre os curtas selecionados, dois representaram a Bahia: “Fake-me”, de Marcus Curvelo, do Bacharelado Interdisciplinar (BI) em Artes com ênfase em Cinema e Audiovisual, e “Filme de Personagem”, de Álvaro Andrade, formado em Jornalismo, ambos pela UFBA. O encerramento do evento, dia 18 de março, foi marcado pela premiação dos curtas. O primeiro prêmio, de melhor curta baiano, foi para “Fake-me”. O terceiro e o segundo lugares do júri técnico foram, respectivamente, para os curtas “Dar Luz”, de Leandro Goddinho, e “Pétala”, de Vitor Dourado, ambos da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo. Já os prêmios de melhor curta pelo júri popular e pelo júri técnico foram dados a “Irene”, dirigido por Patrícia Galucci e Victor Nascimento da Academia Internacional de Cinema (AIC). Além de debates e oficinas interessantíssimos para quem gosta de cinema, o festival também proporcionou reflexões e discussões de grande importância para a construção de um novo olhar sobre o tema, possibilitando, principalmente, a troca de experiências entre os novos realizadores, e a divulgação dos seus trabalhos, e reconhecidos profissionais do cinema brasileiro.


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ESPORTE As jogadoras que fazem bonito e representam a UFBA nos campeonatos universitários de futsal

MUNDO Estudantes reclamam da falta de apoio e desorganização da Universidade para realizar a atividade

Salão? De preferência, Intercâmbio pela que seja com a bola no pé UFBA é cercado por dificuldades FÁBIO ARCANJO FABRINA MACEDO

Elas nos aquecimento

CAROL PRADO Todo mundo sabe que, há algum tempo, o futebol não é mais um esporte restrito ao universo masculino. Não só Marta, a famosa “Pelé de saia”, como muitas outras atletas que hoje brilham pelo Brasil em campeonatos no mundo inteiro, estão aí para provar isso. O que muita gente não sabe é que a Universidade Federal da Bahia (UFBA) também tem suas representantes quando o assunto é bola no pé. As meninas do 1000 Grau F.C. compõem o time oficial de futsal da UFBA que, no ano passado, conquistou o 2° lugar nos Jogos Universitários da Bahia, campeonato que reúne, anualmente, equipes de todo o Estado. O time surgiu em 2008 pela iniciativa de três estudantes apaixonadas pelo esporte. Decidiram, então, em uma comunidade na rede social Orkut, convocar outras meninas que se interessavam em formar uma equipe de futsal na universidade. No mesmo ano, participaram do 1° Campeonato de Futsal da UFBA, realizado pela Comissão de Esportes Universitários, que contou com a presença de outros oito pequenos times de futsal de diversos cursos. A partir daí, formou-se a seleção com garotas de diferentes equipes, que hoje disputam os campeonatos universitários, além de outros, como a Taça Salvador de Futsal Feminino. Segundo Manú Gomes, estudante da Faculdade de Educação, o 1000 Grau F.C. é composto por meninas dos mais variados cursos

da universidade. “Difícil é encontrar duas meninas do mesmo curso. E isso é maravilhoso porque gera uma integração bacana entre pessoas diferentes, mas que são unidas pelo esporte”. Ela também explica que não há um número fixo de atletas no time. “Depende muito do campeonato. Há torneios, por exemplo, que exigem 15 meninas por equipe. Então, nos treinos, fazemos a seleção de quem irá participar”. Sobre os treinos, infelizmente não há lugar fixo para realizá-los. “Treinamos no Centro de Educação Física e Esportes da UFBA , mas, na maioria das vezes, temos que nos virar utilizando as quadras dos prédios de algumas colegas”, diz Manu. A atleta ainda reforça a importância do apoio da universidade a práticas esportivas. “Hoje, temos o apoio da Pró-reitora de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil. Essa foi uma conquista difícil, pois lutamos por isso desde 2008. No primeiro campeonato que participamos, foi necessário realizar uma rifa para pagar a inscrição”. E para as meninas que se interessaram uma boa notícia: qualquer garota é bem vinda no time, desde que mostre compromisso com a prática esportiva e com o grupo. Carol Almeida, estudante de Administração e uma das fundadoras do 1000 Grau F.C., recomenda: “Além de todos os incontáveis benefícios físicos e mentais, a prática esportiva é uma das melhores formas de integração. As universidades que possuem campi separados não permitem que os cursos dialoguem entre si. O esporte, então, proporciona aos estudantes maior aproximação”.

Fazer intercâmbio é o sonho de muitos estudantes de graduação, mas acaba se tornando um pesadelo quando as universidades, que deveriam intermediar e facilitar o processo, passam a ser mais um obstáculo nesse caminho. É o caso vivido por muitos estudantes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que encontram dificuldades antes, durante e após o intercâmbio. Essa é também a situação dos estudantes vindos de outros países, que se deparam com a falta de informação e de organização da Universidade, que não apresenta os suportes necessários para recebê-los. Adriana Mattos, aluna do 7° semestre de Direito, que acaba de retornar ao país depois de seis meses em Roma, afirma que o apoio da UFBA ainda não é suficiente. “Algumas informações são desencontradas. Não há nenhuma explicação sobre a universidade escolhida e a Assessoria de Assuntos Internacionais da UFBA (AAI) não dá quase nenhum auxílio no processo de elaboração e tradução de documentos”. Outra estudante que acabou de retornar do intercâmbio, Mayara Oliveira, do 6° semestre de Jornalismo, também não tem muito a elogiar. “Eu pretendia passar um ano na Espanha e descobri lá que para isso precisaria pagar uma taxa de, aproximadamente, R$ 900”. A estudante conta ainda que o apoio oferecido pelas universidades estrangeiras é incomparável. “Você vai como visitante, mas

recebe muito apoio e é bem acolhido na universidade do exterior”, completa Mayara. Em muitos momentos, até mesmo as próprias faculdades da UFBA se tornam obstáculos. Camila Gonçalves, estudante do 6° semestre de Direito, que passou seis meses na Universidade de Coimbra, em Portugal, conta que não foi orientada quanto ao aproveitamento dos créditos obtidos durante o intercâmbio. Já Kristian Cabezas, da Dinamarca e que cursa Estudos Brasileiros na Aarhus University, conta que veio para o Brasil para entender a cultura e a política brasileiras, visto que o País tem tido destaque no cenário mundial. Christian teve problemas quanto à falta de informações da Universidade. “Quando cheguei, precisava de um lugar pra morar e ainda não sabia quando começariam as aulas”, reforça. A equipe de reportagem foi até a AAI, onde conversou com Jefferson Assis, técnico de intercâmbio. Ele comentou sobre os destinos mais procurados - Espanha, Portugal, Alemanha e França – e sobre a média de estudantes que fazem intercâmbio por ano, cerca de 350. Quando questionado sobre a falta de apoio e dificuldades, preferiu não se manifestar sobre o assunto, alegando que o papel da Assessoria é realizar somente a organização dos documentos. Apesar de todos os problemas, ainda assim os estudantes recomendam a experiência de intercâmbio. Eles comentam que é uma oportunidade única para se desenvolver, tendo que morar sozinho, e para aprender um novo idioma e vivenciar culturas diferentes.


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Léo Pastor

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DESOCUPA, SALVADOR

Nadja Vladi abre o jogo sobre o movimento e comenta sobre os rumos de Salvador ALEXANDRE WANDERLEY RAFAEL FRANÇA Baiana de Caetité, Nadja Vladi vive em Salvador desde seus 15 anos. Ao longo desse tempo, formou-se na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde fez mestrado e doutorado. Trabalhou no Jornal da Bahia e capitaneou a edição estadual da Revista VEJA. Passou também pela redação do jornal Bahia Hoje e foi uma das responsáveis pelo projeto jornalístico do portal IG na Bahia. Atualmente, responde pela edição da revista Muito, produto veiculado junto com as edições dominicais do jornal A Tarde. Foi para falar sobre a cidade de Salvador e alguns dos seus problemas que, entre uma edição e outra, no meio do expediente agitado, Nadja nos recebeu. Durante o bate-papo, a jornalista por excelência e cidadã por convicção esclareceu sua participação no Desocupa, movimento popular que contestou a construção de um camarote em praça pública no bairro de Ondina. Falou do processo judicial que vem respondendo, da importância das redes sociais nos protestos populares e de outros pontos que nos levam a pensar de forma crítica sobre a atual situação da capital baiana. Salvador vive um significativo momento de descrença em relação à atual situação da cidade. É possível atestar estes sintomas de inquietação em forma de protesto? Há um cansaço por parte dos moradores sobre como a cidade está sendo tratada. As pessoas se sentem numa cidade interessante, mas que, ao mesmo tempo, não parece ser tratada de forma interessante. Com isso, elas começam a se movimentar. As redes sociais, de certa forma, impulsionam o exercício da cidadania, a participação coletiva, algo que estava meio perdido. Desde que o PT assumiu a Presidência da República, os movimentos sociais ficaram meio assentados, ficaram muito concordatos com tudo. Eu percebo que há uma insatisfação muito grande com várias coisas da nossa cidade. Com o metrô, com a privatização do espaço público, com a forma como as decisões são tomadas pelos vereadores e pela prefeitura. Então, existe uma necessidade das pessoas participarem mais das gerências sobre a cidade, que é delas. Elas têm o direito de falar e de conversar sobre a cidade.

E qual seria, então, o papel das redes sociais nesta 'conversa sobre a cidade'? As redes sociais ajudam a mobilização. Você puxa um assunto, outras pessoas vêm e discutem. Com isso, se articula uma rede que envolve diversas questões sobre a cidade. Existem alguns movimentos na Europa que ilustram bem isso, como “Reclame às ruas” (na Espanha). Existe também um movimento crescente sobre a recuperação da cidadania, que sugere que você reclame a cidade para você. Uma cidade como Salvador tem muito a evoluir. E precisamos evoluir nas redes também. Você vê movimentações no Facebook, com quase 3 mil pessoas, mas na prática, você conta 500, 600 pessoas, no máximo. Então, você acha que as redes sociais, embora potencializem as manifestações, dão uma impressão enganosa sobre a dimensão dos protestos? Não é um engano propriamente dito porque


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acho muito válida a discussão naquele espaço. Mas isso não significa que, quantitativamente, as mesmas pessoas que discutem no meio virtual irão realizar mudanças na vida prática. O debate virtual é muito mais simples e reúne maior número de pessoas com mais facilidade. De qualquer jeito, é um bom espaço para o debate político, independente disso parar nas ruas. Mas, talvez isso mude! Em ano de eleições municipais, estes recentes movimentos populares poderão influenciar na escolha dos candidatos? Sem dúvidas. Percebe-se que os políticos estão mais preocupados com estes movimentos. Se estas discussões e debates fossem acontecer apenas no ano que vem, talvez não tivessem tanta importância. A eleição vai definir quem será o próximo prefeito e quem serão os novos vereadores. Todo mundo sabe, hoje em dia, a capacidade que as redes sociais têm para difundir ideias, chegando mesmo a pautar os meios de comunicação tradicionais. E s t e s m o v i m e n t o s p o p u l a re s p o d e m influenciar algumas pessoas a se envolverem com partidos políticos. Isso compromete a natureza dos protestos? Às vezes, as pessoas vêem a questão partidária com um olhar muito maléfico. Mas, nossa democracia é assim. Temos vereadores, prefeitos, um sistema político organizado e partidário. Existem partidos para eleger essas pessoas. Particularmente, não faço parte de nenhum partido político. Mas, nada impede que pessoas ligadas a partidos políticos participem dos movimentos sociais. Isso não deve ser visto como algo ruim. Quanto mais pessoas preocupadas com a cidade estiverem atuando, direta ou indiretamente, na câmara dos

vereadores, na prefeitura, na assembleia legislativa, melhor. São estes cidadãos que discutem as leis da cidade, decidem se vamos ter metrô, por onde ele vai passar, se vai aprovar ou não a lei de ordenamento do solo urbano, etc. E quem decide os rumos de um movimento popular? Existe, de fato, uma liderança constituída? Não, e isso é muito interessante! Basta tomarmos o Desocupa como exemplo para entendermos que essa noção de liderança está atrelada à concepção mais antiga de movimento social. A internet mudou tudo. Saímos da perspectiva do “um para todos” e abraçamos a concepção do “todos para todos”. A capacidade de movimentação se dá de outra forma. Todo mundo produz, todo mundo recebe, todo mundo se movimenta. Isso parece contraditório no caso do movimento Desocupa Salvador... Veja bem: há uma praça ali na região de Ondina, que é o bairro onde eu moro. Eu frequento a praça, assim como todos os moradores das redondezas. Leciono em uma faculdade próxima, compro na banca de revistas da praça e tomo água de coco por ali também. Um dia, de repente, a praça apareceu fechada. Chateada, fiz uma postagem no Facebook e a coisa repercutiu espontaneamente. A própria ideia da manifestação não foi minha. As pessoas estavam tão cansadas de tudo o que estava e está, ainda, acontecendo na cidade que o meu post foi um estopim, uma catarse. Mas, o movimento não se torna meu por isso, nem posso ser apontada como líder de um movimento que não tem chefia. A cidade é nossa e pronto. A gente está preocupada com Salvador e com o que acontece por aqui. Se ocuparem uma praça pública, claro que vamos discutir sobre como isso deve ser feito, por quais razões, etc. Mas as decisões são do coletivo, nunca minhas

somente. Mas, na prática, a bomba acabou estourando na sua mão? Ah, sim. A empresa responsável pelo camarote moveu um processo judicial. Nele, apareço como representante do movimento, uma espécie de ente promovedor das ações do Desocupa. É um equívoco completo e absurdo, que está trazendo consequências judiciais exclusivas, já que eu sou a única processada. Como eles colocaram como se apenas eu tivesse causado tudo isso, tenho de responder a acusação. E qual é a acusação, afinal? Sinceramente, não consigo compreender. A acusação geral é, simplesmente, de ser a representante do movimento Desocupa. Juridicamente, eu não sei especificar a acusação. Sei que houve decisão liminar restringindo a manifestação, mas como não participei de nenhuma ação presencial, não dá pra entender. O que eu sei é que toda a movimentação foi absolutamente pacífica. Para mim, foi um equívoco. E agora, como ficam as coisas para você, para o movimento e para a cidade? Eu estou tranquila. Não posso ser colocada em um lugar que não é meu. Existem centenas de pessoas que foram mais ativas nesse movimento do que eu. O ideal seria que as pessoas continuassem mobilizadas em prol da cidade que querem, agindo de forma democrática e pacífica. Acho que as pessoas têm que se posicionar sempre. Estive no Rio de Janeiro e notei que a cidade tem mudado muito por conta da mobilização das pessoas. Com muita discussão e participação, talvez as coisas possam mudar por aqui também.

<< Há um cansaço por parte dos moradores sobre como a cidade está sendo tratada. As pessoas se sentem numa cidade interessante, mas que, ao mesmo tempo, não parece ser tratada de forma interessante >>


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Você sabe que tem índios e índias Pataxó, Pankararu e xucuru-kariri na UFBA? Fotos: Labfoto e Agência Brasil

INCLUSÃO Nas faculdades, não há discussões nem são realizadas atividades ligadas às questões indígenas

Estudantes indígenas em busca de mais assistência PAULO EDUARDO GISLENE RAMOS VAL BENVINDO

Mas, segundo a estudante de enfermagem Sirlene Lopes, que ingressou pelo sistema de cotas, atualmente não existe nenhuma forma de interação entre a academia e a comunidade, além de não serem fomentadas discussões sobre as questões indígenas. “Alguns grupos tentam manter suas origens culturais através de atividades festivas e mobilização política”. Como é o exemplo da Xoça - moradia temporária que simboliza a demarcação e a ocupação de um território - realizada todo ano pelos estudantes que compõem o PET Comunidades Indígenas.

Implantado a partir do processo seletivo de 2005, o sistema de cotas que reserva 2% d as vagas para índioPois fique sabendo que sim!! E todos prepará-la. Não queremos ser apenas “objeto de descendentes na Universidade estão espalhados por diversas áreas do pesquisa” de uma ciência que nos exclui enquanto Federal da Bahia (UFBA), vem conhecimento: artes, saúde, ciências sujeitos históricos e produtores de conhecimento”. ajudando a democratizar o acesso humanas e educação, mesmo depois de mais desse grupo minoritário ao de cinco séculos de exploração, assassinatos e O PET INDÍGENA tentativas de extinção. É o que afirma o grupo O grupo Pet- Indígena,, tutoriado pela ensino superior. No entanto, as indígena do Programa de Educação Tutorial professora Suzana de Lima Costa, é enfático ao condições de permanência do (PET-Comunidades Indígenas) que, junto ao afirmar que “não queremos ser considerados apenas estudante indígena no ambiente grupo PET Comunicação, levantou uma xoça pelo que fomos, por nossas perdas. Nós queremos acadêmico são alvos de crítica na área central do campus de Ondina, durante ser entendidos e respeitados como parte de um por parte dos beneficiados. A RESULTADOS a Calourosa 2012 da Universidade Federal da processo mais amplo de reelaboração sócio-cultural Observa-se que o sistema de falta de assistência estudantil e a Bahia. que nos faz ser o que somos hoje: povos que se cotas raciais tem colaborado para o ausência de atividades diferenciam em vários aspectos, mas que se unem relacionadas à temática indígena processo de inclusão de grupos XOÇA MANIFESTO na luta pela manutenção de nossas identidades são apontadas como os principais minoritários na universidade. De O objetivo da construção é acolher indígenas, pelo respeito à diversidade étnica, e acordo com o Serviço de Seleção, problemas. conversas, compartilhar experiências e dar mesmo pelo direito a existir”. P a r a J ú n i o r P a t a x ó , Orientação e Avaliação (SSOA), entre visibilidade aos grupos de educação tutorial e, “Queremos mostrar quem somos e o que graduado em Educação Física 2004 e 2005, houve aumento de 100% claro, provocar discussões sobre as questões queremos dentro desta universidade – destaca o pela UFBA, a universidade na participação de alunos indígenas no indígenas no espaço da universidade. Na manifesto. “Queremos fazer história, engenharia, deveria fazer parte do grupo que curso de Medicina. Já no curso de oportunidade, foi distribuído o “xoça química, psicologia, economia..., queremos uma atende à lei 11.645/08, que obriga Direito, a situação foi ainda mais manifesto” onde os índios afirmam que “não ciência que não nos oprima, mas que nos respeite e as escolas de ensino médio e satisfatória, ocorrendo um aumento de estamos fadados a desaparecer” se não que valorize; queremos manter um dialogo horizontal fundamental a trabalharem em 700% para o mesmo período. Porém, “estamos dispostos a lutar pela nossa com a universidade. Queremos abrir a universidade sala de aula a história e cultura se fazem necessárias outras políticas sobrevivência física e cultural. Por isso, para as comunidades indígenas. Queremos dos povos indígenas. “Apenas afirmativas para a permanência desses acreditamos que o protagonismo indígena assistência estudantil que garanta a permanência u m a p e q u e n a p a r t e d o s alunos. De acordo com a Constituição deve ser adotado enquanto ideologia e prática dos estudantes que vêem das aldeias, assegurando professores dão importância à Brasileira de 1988, a respeito da na tomada de decisões que nos afetam, direta moradia, transporte, alimentação, material didático. c a u s a . N a F a c u l d a d e d e regulamentação das relações do ou indiretamente. Desse modo, a participação Queremos pesquisa e extensão diferenciada e Educação existe apenas uma Estado com as sociedades indígenas, ampliada dos índios nas esferas de exercício voltada para as nossas comunidades, pois não disciplina que trata desta contém um capítulo denominado “Dos do poder é fundamental”. queremos perder o vínculo com nossos povos, nem temática, mas só é obrigatória Índios”, no qual se diz que “são O grupo destaca a importância de com a luta geral do movimento indígena. Queremos para os alunos de pedagogia”, reconhecidos aos índios a sua inserir o debate político sobre as questões a reversão da língua limitada dos que falam do afirma Pataxó. Dentre as organização social, costumes, línguas, indígenas dentro dos espaços da indígena como bicho, animal sem alma, coisa propostas exigidas para atender crenças e tradições, e os direitos Universidade por que “a comunidade medíocre, preguiçoso, sem entender que o índio tem a o s e s t u d a n t e s í n d i o - originários sobre as terras que universitária ignora a realidade e luta dos muito a dizer e a ensinar. Ser índio é ser guerreiro, descendentes, a implantação de t r a d i c i o n a l m e n t e o c u p a m , povos indígenas”. “Não saímos das nossas persistente e nunca desistir, é lutar sempre, e a cada d i s c i p l i n a s e p r á t i c a s competindo à União demarcá-las, aldeias para enfrentar esse mundo acadêmico dia descobrir uma nova estratégia de pedagógicas que valorizem a proteger e fazer respeitar todos os seus em vão!!! Se a universidade não está sobrevivência”. Wekanã! Estudantes Indígenas PATAXÓ, PANKARARU E XUCURU-KARIRI. PET-COMUNIDADES INDÍGENAS. isso se torne realidade. diversidade cultural é uma delas. bens”. E que preparada para nos receber, nós vamos


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