Região de Leiria, 4 de Dezembro de 2009

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Região de Leiria 4 | Dezembro | 2009

praçapública Telegrama

Crónicas do Oeste

Cortar a direito

A crise política do país Portugal vive uma das maiores crises políticas dos últimos anos. Num momento em que as dificuldades financeiras deveriam ajudar a criar um clima de estabilidade, unindo os principais partidos em torno de objectivos comuns de interesse nacional, o que vemos é um primeiro-ministro cada vez mais fragilizado com as polémicas que não têm fim e um Presidente da República pouco apreciado pela maioria dos portugueses. Este mau esta r, que transmite angústia à população, reflecte-se também na dinâmica empresarial, que sente desconfiança no momento de investir. A retoma só é possível com um melhor ambiente político e estabilidade governativa. É nestes momentos que a oposição é ainda mais importante, demonstrando

responsabilidade e sentido de Estado. Portugal não precisa de mais eleições em 2010. O PSD, se quer ganhar as próximas eleições, tem ainda que trabalhar muito, organizar-se, escolher um líder credível e congregador dos portugueses. Só assim se ganham eleições. Onde estão os jovens do distrito? No meio de tudo isto, há ainda boas notícias, como a escolha da caldense Zita Gomes para a assessoria de imprensa do Presidente da República. É a prova de que esta região tem gente muito capa z , nem sempre devidamente aproveitada pelos seus pares locais.

José Parreira

assessor autárquico jparreira@oestedigital.pt

Novos PDMs em passo de caracol José Manuel Silva www.campolavrado.blogspot.com

Um feriado sem significado

Escrevo no dia 1º de Dezembro e apercebo-me de que o seu significado é largamente desconhecido pelos mais jovens. Para além da ignorância que fica patente, é inevitável considerar que, parar um país quando muitos dos seus habitantes desconhecem a razão, dá que pensar. É claro que a restauração da independência pode aparecer hoje como um facto anacrónico a muitos que se habituaram a um relacionamento próximo com Espanha, a uma integração crescente das duas economias e a um sentido de pertença à Ibéria, impensável em tempos anteriores. Mas os feriados não podem ser simples dias de descanso, devem ser momentos de reflexão sobre acontecimentos transcendentes que contribuem para a coesão dos povos.

gasto enorme de recursos financeiros para as autarquias. Consolidada que está a organização territorial com a Comunidade Intermunicipal do Oeste, queimavam-se muitas etapas se fosse esta estrutura a promover directamente os procedimentos para as revisões dos PDMs dos seus concelhos. Era muito mais vantajoso do ponto de vista negocial: não só baixavam-se os preços dos serviços prestados pelas equipas de consultores, como haveria também um único interlocutor com a Comissão de Coordenação da Região de Lisboa e Vale do Tejo, de quem de pende a aprovação final dos documentos. Paulo Ribeiro jornalista paulo.ribeiro@alvorada.pt

Eu penso que...

Eu penso que...

Curiosidades

Básicos Sou consumidora de informação em geral. Na internet, na televisão, na imprensa escrita. Tenho acompanhado com pesar a catadupa de Irene Cordeiro notícias da morte de mulheres às professora mãos de pessoas com quem manirenecordeiropereira@hotmail.com tiveram ou mantêm ligações afectivas. Já aqui escrevi uma vez sobre isto, mas volto ao assunto com um excerto dum livro que me é particularmente querido: “Porque os corações humanos também têm as suas Sei que noites, cheios de emoções tão seltodos vagens, como os impulsos da caça temos o que assaltam o coração do veado ou nosso lado do lobo. O Sonho, o desejo, a vaidade, o menos egoísmo, a ira lasciva do macho, a racional, inveja, a vingança, essas paixões mas todo o ocultam-se de tal modo na noite da amor que alma humana, como o puma, o abué de posse, tre e o chacal no deserto da noite do que encara Oriente. Existem momentos em que já não é noite e ainda não é dia no o outro coração humano, quando as feras como um saem dos esconderijos sombrios da objecto alma, quando estremece no nosso do qual se coração e se transforma em movimento na nossa mão uma paixão é dono, é que formamos e domesticámos em doentio. vão durante anos, às vezes, durante muito tempo...” em “As velas ardem

Datam da década de 90 do século passado os primeiros planos directores municipais. Na nossa região tardam em surgir as novas versões, devidamente actualizadas, que se enquadrem nas exigências e necessidades dos novos tempos. Um PDM é uma peça importantíssima para o desenvolvimento harmonioso de um concelho, que se deve conjugar com as orientações superiores que são dadas, neste caso, pelo recém aprovado Plano de Ordenamento Regional do Território do Oeste e Vale do Tejo. Volvidas duas décadas, o sentimento que persiste é que as entidades oficiais não aprenderam com os erros. A burocracia continua a emperrar o sistema e os municípios, obrigados a socorrerem-se de gabinetes da especialidade, assistem ao arrastamento dos processos. Somase a este lamentável cenário um

até ao fim” de Sandor Marai. Sei que todos temos o nosso lado menos racional, mas todo o amor que é de posse, que encara o outro como um objecto do qual se é dono, é doentio. As pessoas que amamos não são propriedade nossa, os nossos amores, os nossos filhos, os nossos pais, os nossos amigos. Estas mortes atravessam gerações e classes sociais e parecem ser cada vez mais frequentes. No entanto, são sobretudo notícias que envolvem homens que matam mulheres, sendo o oposto mais raro. No fundo evoluímos pouco, o homem continua a ser de amores territoriais e as mulheres dos tempos modernos, por muito que queiram fugir a esta sina, queixando-se às autoridades policiais e outras, os machos perseguem-nas até cumprirem o seu destino. Milhares de anos de filosofias, de teorias, de psicanálise para isto, para sermos tão básicos. A cada notícia destas me indigno, me irrito, porque me parecem ser estes problemas da idade do mundo, mas insolúveis. Privilegiemos nos corações humanos os dias soalheiros, aprisionando as feras da noite no seu esconderijo.

No dia em que se noticiou que a taxa de desemprego ultrapassou em Outubro a barreira dos dois dígitos, situanSusana Carvalho do-a nos 10,2%, coisa nunca professora vista, pelo menos desde 1983, scsusanacarvalho@gmail.com altura em que o INE começou a recolher esses dados, Portugal esteve em festa. Dois acontecimentos rechearam os últimos dias: A Falou-se de cimeira Ibero-Americana e a entrada em vigor do Trataum novo do de Lisboa. A Cimeira, descomeço na ta vez sem episódios mais Integração caricatos como aquele em que o Rei de Espanha, em SantiaEuropeia, go do Chile em 2007, pronunvalores ciou a célebre frase “Porque Europeus, no te callas?”, foi dominada símbolo de pela situação nas Honduras e uma Euro- a consequente busca dos equipa reunifi- líbrios possíveis. cada, enfim O segundo mereceu uma primorosa e alargada organinada da zação, quer no que toca a evensoberania tos quer, com certeza, no que nacional toca a gastos. No dia 30, uma que se fes- grande festa no Parque das Nateja nesta ções organizada pela Câmara Municipal de Lisboa, afinal só data. para 200 pessoas (os lisboetas

não aderiram. Foi do frio e da chuva…). No dia em que Portugal celebra o 1º de Dezembro, a Restauração da Independência, não deixam de ser curiosas as intervenções dos mais altos representantes da Nação Portuguesa. Falou-se de um novo começo na Integração Europeia, valores Europeus, símbolo de uma Europa reunificada, enfim nada da soberania nacional que se festeja nesta data. Não deixa de ser curioso que Portugal, em 5 de Outubro, não celebra o Tratado de Zamora que foi o resultado da conferência de paz entre Afonso Henriques e o rei Afonso VII de Leão e Castela, a 5 de Outubro de 1143, data da independência de Portugal. Celebra a Implantação da República... Há 369 anos Portugal voltou a ser independente, depondo a Dinastia Filipina da casa de Habsburgo. Será que no futuro com esta “integração” seremos governados por um novo Filipe (o futuro Rei de Espanha D. Filipe de Bourbon e Grécia)?


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