Relatório Azul 2012

Page 36

PARTE I - A UNIVERSALIDADE DOS DIREITOS HUMANOS 34

nal. No mercado, quem tem mais poder aquisitivo goza mais vantagens. Quase 3 dos 6,8 bilhões de seres humanos, então quase a metade, vivem com menos de dois dólares por dia. Quem não tem poder aquisitivo, não tem acesso ao mercado. Por outro lado, quanto maior o poder aquisitivo, tanto maiores as opções daquele ator para realizar negócios lucrativos. Assim, depende em grande medida do poder aquisitivo, que oportunidades e chances alguém tem no mercado... Não é, portanto, a mesma coisa, um negócio entre iguais e um negócio entre desiguais. Quem dispõe de mais capital, pode tirar mais vantagem do que quem dispõe de menos capital. O pobre não tem condições de investir, o rico sim. No mercado internacional as possibilidades de investimento multiplicam-se. O detentor de muito capital pode investir nos mais diversos países. Odebrecht, uma empresa brasileira especializada em construções, estabeleceu-se também em Angola, onde emprega milhares de operários em minas de diamante. Países poderosos, como a China ou a Coreia do Sul, compram terrenos na África para ampliar a sua área agrícola, assegurando assim a sua futura produção alimentícia. Empresas multinacionais poderosas, como a Nestlé (Suíça) ou a Suez (França), compram, em países africanos e latinoamericanos, fontes de água doce para engarrafar a água e comercializá-la por um preço (na média) 100 vezes maior que aquele da água não engarrafada. Tudo isso é possível apenas devido à assimetria entre sociedades bem posicionadas no mercado mundial e outras nele mal posicionadas. A atual ordem internacional não apenas traz consigo sérios riscos – riscos, sim, para todos, como mostram os exemplos das crises financeiras internacionais. Além disso, trazendo riscos mais sérios para as sociedades mais pobres, ela não é justa (Kesselring 2007, cap. 8 e 9). 5.3 Os poderosos também podem tropeçar

No entanto, vale a pena acrescentar que os privilegiados também podem perder e os aqueles que estão em desvantagem também podem ganhar. Como assim? Lembremos brevemente a história do império romano: Depois de ter colonizado boa parte dos povos ao redor do Mediterrâneo (que, entre outras obrigações, tinham que abastecer com trigo a capital, Roma), o império romano entrou em declínio: Se o gozo de situações vantajosas se torna hábito, ele pode, a longo prazo, tornar-se um risco: Quem desaprende a lutar pode, mais cedo ou mais tarde, sucumbir àqueles que não abandonaram a luta pela sobrevivência. Hoje, ninguém garante que os EUA e a Europa poderão se salvar desse destino. Há décadas os norteamericanos se especializaram em consumir mais que produzir e a importar mais que a exportar, deixando outros países pagar pelo seu consumo excessivo.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.