Tese de Mestrado

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88 Antes de analisar o mandamento transmitido pelo Evangelho, devemos ver o que significava o conceito de perfeição para os judeus, que foram os primeiros ouvintes das palavras de Jesus127: "Pois fui eu o Senhor que vos fiz subir da terra do Egito, a fim de que, para vós, eu seja Deus; deveis, portanto, ser santos, pois eu sou santo." (Lv. 11, 45) "Fala a toda comunidade dos filhos de Israel; tu lhes dirás: Sede santos, pois eu sou santo, eu, o Senhor, vosso Deus." (Lv. 19, 2) "Serás perfeito na adesão ao Senhor, teu Deus." (Deut. 18, 13) O modelo de perfeição a ser imitado é o próprio Deus128. No Antigo Testamento, em vez de dizer que Deus é perfeito, afirma-se que Ele é Santo, o que significa dizer que é de uma natureza totalmente diferente em relação aos outros seres deste mundo: Ele é grande, poderoso, terrível e, ao mesmo tempo, permite a aproximação do homem porque é bom e fiel, intervindo com justiça na história dos homens, o que é sugerido pela palavra hebraica qâdash expressando a noção de santidade no sentido de consagração-purificação muito mais do que no sentido de separação. Nesse caso, a dupla sagrado-profano corresponde à dupla purezaimpureza. Quando Deus escolhe um povo, esse povo também torna-se santo, o que quer dizer separado do profano e consagrado, o que implica que seja íntegro e sem defeito, tanto fisicamente como moralmente. Essa integridade moral significava servir a Deus com total sinceridade e fidelidade do coração. Os judeus piedosos buscavam a perfeição na observação da lei e nem sempre eram felizes, o que permite entender o problema levantado pelo livro de Jó: por que o Justo não é poupado da infelicidade? Segundo André-Alphonse Viard129, o Novo Testamento valoriza esta perfeição voltada para uma espera. Todavia, se esta prática da lei pretende sobre a perfeição cristã deve muito às discussões que tive em várias oportunidades com os professores Marcio Fabri dos Anjos e Jung Mo Sung. 127 As citações bíblicas são tiradas da Bíblia Tradução Ecumênica TEB, São Paulo, Edições Loyola, 1994. 128 Esta reflexão está embasada em VIARD, André-Alphonse, verbete perfection em LÉONDUFOUR, Xavier (org), Vocabulaire de Théologie Biblique, Paris, Les Éditions du Cerf, 1971 p.971-974. 129 VIARD, op. cit. p. 973.


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