TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS LIBERTADORES

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Os libertadores não são uma ―classe‖ pois, apesar de manterem uma relação de trabalho e ação com os libertos, os libertadores não dependem economicamente dessas pessoas libertas ou dos escravocratas. Eles não mantêm relação econômica entre si, diferentemente da relação entre as pessoas escravizadas e os seus algozes, relação essa de exploração que teoricamente pode enquadrar as pessoas exploradas e os seus escravocratas como pertencentes a diferentes classes. Os libertadores, então, compõem uma categoria social que intermedeia essa luta de classes. Sendo assim, esses trabalhadores, enquanto libertadores, por mais distintos que entre si sejam seus rendimentos ou atribuições, poderiam compor uma mesma ―classe com baixa classidade‖ (Hobsbawn, 2000) se mantivessem relações econômicas efetivas com os libertos ou mesmo os escravocratas. Eles são diferentes, por exemplo, de metalúrgicos, classe com classidade extremamente alta, tal como demonstra a história recente do Brasil, que de um processo de fortalecimento nas greves dessa classe durante a época da ditadura militar foi capaz de chegar ao Século XXI com a eleição de um de seus integrantes, o torneiro mecânico Luís Inácio Lula da Silva, como presidente da república. Esse processo, vale a pena esclarecer de antemão, não comprova per se que a classe dos metalúrgicos seja mais consciente do que outras acerca da estrutura e do futuro da sociedade em que se insere; pode-se deduzir, tãosomente, que tal classe é altamente consciente de sua capacidade de atuar na evolução dessa estrutura, mesmo que não tenha a capacidade de prever com exatidão, isto é, sem mitificação, as conseqüências de seus poderosos atos. Faz-se mister retomar a consideração de Martins (2002), de acordo com a qual deve-se separar as classes dos meros rótulos: operários formam uma classe porque são ―sujeitos de destino‖, personificam possibilidades históricas objetivas; excluídos, muito ao contrário, são apenas projeções daqueles que estão integrados à sociedade mas julgam que os diferentes não estão tendo acesso aos benefícios dos quais eles gozam. Dentro dessa lógica, o escravo não pode formar uma classe, pois não é um agente privilegiado da História: enquanto escravizado, 17

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