TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS LIBERTADORES

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

―Uma coisa é pôr idéias arranjadas, outra é lidar com país de pessoas, de carne e sangue, de mil-e-tantas misérias...tanta gente — dá susto se saber — e nenhum se sossega: todos nascendo, crescendo...‖ Grandes Sertões, Veredas; de Guimarães Rosa.

A Psicologia, principalmente a Psicologia Social e do Trabalho, tem muito a contribuir para a compreensão e conseqüente formulação de estratégias de intervenção no combate ao trabalho escravo. Essa forma de exploração do trabalho demanda não apenas ações locais e incisivas de resgate e remuneração imediata dos escravos, mas principalmente a viabilização de modelos alternativos de empregabilidade. O problema da escravidão, culturalmente estruturado na hiper-hierarquizada sociedade brasileira, demanda a utilização e o máximo aproveitamento de tecnologias humanas de mudança psicossocial. Tal realização requer habilidades políticas e técnicas, o que pressupõe uma transformação do próprio psicólogo, que precisa superar o seu viés regionalizado ou paroquialista, isto é, calcado em percepções e construtos restritamente norte-americanos, a fim de transculturalmente ampliar seus horizontes de interpretação e de ação. Esta assertiva se justifica pela escassez de estudos na área de Psicologia que tratem quaisquer dimensões da escravidão contemporânea, contrariamente às extensas pesquisa e reflexão em Ciências Sociais (Figueira, 2004; Le Breton, 2002; Martins, 2002). Entretanto, não basta constatar esse problema, é preciso sugerir soluções exeqüíveis aos profissionais da Psicologia, e especialmente aqueles que constatam o problema têm a responsabilidade de ao menos indicar caminhos. Refletindo-se sobre a atuação social do(a) profissional psicólogo(a), é preciso circunscrevê-la ao seu universo prático: refere-se aqui à Psicologia Social e do Trabalho e ao que ela significa para os seus especialistas — o que ela representa para as teorias científicas 171


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