Jornal Gazeta do Sul

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SÁBADO E DOMINGO 3 e 4 de novembro de 2012

OPINIÃO

Gazeta do Sul

A democracia e a dívida social

Água para saciar a fome

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uem viveu os movimentos pela redemocratização pós 64 presenciou FHC, Lula, Brizola, Tancredo, Ulysses Guimarães, Luiz Carlos Prestes e muitas figuras classificadas – algumas mais, outras menos – como adversárias do regime militar juntos no mesmo palanque a pregar um Brasil novo, mais desenvolvido, justo e solidário. Seus pronunciamentos inflamados davam ao povo a falsa impressão de que bastaria a democracia para termos resolvidos todos os problemas nacionais. Já enfraquecidos, os militares se retiraram e esses senhores assumiram o poder, aplaudidos pelo povo e incensados pelos intelectuais. Primeiro veio Sarney que, habilmente, saltou do barco que afundava para o que começava a viagem, e ainda teve a sorte de Tancredo morrer, para ele pegar o comando. Fez um governo populista, tentou acabar com a inflação por decreto e entregou o País, com Constituição nova, ao sucessor – Fernando Collor, o caçador de marajás –, que não conseguiu terminar o mandato. Seu vice, Itamar Franco, fez o mandato-tampão e, no decorrer, criou a URV e o Real, que serviram de base para conter o processo inflacionário. De Collor sobrou apenas a abertura dos portos para a globalização, que ocorreu em larga escala nos

O cidadão comum não pode continuar sofrendo a dor de não ter como cuidar da família e bem encaminhar seus filhos. Nossos jovens não podem continuar cooptados para o tráfico

dois mandatos de FHC. O até então temido esquerdista Lula veio a seguir e fez, também, dois mandatos, com política econômica muito parecida com a do antecessor e forte viés popular, que o credenciou a eleger a sucessora. O Brasil de hoje não chega a ser aquele que os ditos democratas da redemocratização prometiam. A inflação foi contida, a economia cresceu, a renda da população pobre melhorou tanto pela recuperação do salário mínimo quanto pelas discutíveis e eleitoreiras benesses que o governo distribui. Deixamos de dever ao FMI, mas devemos muito internamente. Conseguimos até nos safar da crise que desde 2008 inferniza o mundo desenvolvido. Mas esse Brasil atual ainda está muito longe do sonhado. Se, por um lado, a economia cresceu, a distribuição ainda é desigual e

ANDRÉ LUÍS JUNGBLUT Diretor Presidente

ROMEU INACIO NEUMANN Diretor de Conteúdo

os índices sociais são sofríveis. Todos os avanços que se pretendeu implementar na saúde, educação e segurança pública foram em vão. O brasileiro de hoje vive o estresse de, nem pagando, encontrar o devido atendimento médicohospitalar; de ver seus filhos sem aprendizado escolar condizente, e de ser obrigado a viver cercado de grades como as das prisões, pois a segurança pública é precaríssima. Vivemos dois Brasis. O da democracia e da economia, que serve de propaganda para o governo, e o da saúde, educação e segurança pública, tão ruim que chega a colocar em dúvida a validade da vida democrática. É preciso resolver, urgentemente, esse viés negativo que as práticas das últimas três décadas reservaram ao povo e, principalmente, à juventude brasileira. O cidadão comum não pode continuar sofrendo a dor de não ter como cuidar da família e bem encaminhar seus filhos. Nossos jovens não podem continuar cooptados para o tráfico de drogas e a criminalidade. Todos aqueles senhores que fizeram a redemocratização hoje devem isso à sociedade brasileira... Dirceu Cardoso Gonçalves Dirigente da Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo (Aspomil) – aspomilpm@terra.com.br

PAULO ROBERTO TREIB Diretor Industrial

ventos realizados em vários locais do mundo, no mês passado, assinalaram o Dia Internacional da Alimentação. O tema do combate à fome mundial centralizou debates dos mais variados. Aqui em Porto Alegre, em conjunto com a FAO, promovemos o Seminário Internacional Água, Irrigação e Alimentação. De cada oito habitantes do mundo, um passa fome. Mais estarrecedor é o que vemos na África, onde uma em cada três pessoas está nessa situação. Encontrar mecanismos que minimizem esse quadro, revoltante para todos, é tarefa ética diante da vida. Para além de nossas ações e gestos, individuais e coletivos, é imperativo aos governos um engajamento efetivo. O Brasil pratica, na última década, modelo de desenvolvimento que, se não promove o crescimento no mesmo ritmo da China, concilia o aumento da riqueza com a distribuição de renda, cria 14 milhões de novos empregos, promove ganho real de 60% no salário mínimo, garante renda mínima para pelo menos 12 milhões de famílias por meio do Bolsa Família e faz com que mais de 40 milhões ascendam à classe média. Retiramos pelo menos 10 milhões de pessoas da desnuPara continuar trição. Estamos cumprindo avançando com o com nosso papel. Nosso desafio é aumenMais Água, Mais tar a produção de alimenRenda temos que tos, elevando os índices de produtividade, já que vencer barreiras dispomos de poucos espaculturais que ços territoriais para ocupar a produção agropecuainda impedem o com ária. É fundamental, portanto, além de melhorar o aumento da área manejo, investir em novas irrigada tecnologias e fazer o correto uso da água. O seminário girou em torno destes temas: água, irrigação e alimentação. Um dos exemplos do potencial da irrigação que mais salta aos olhos é o do milho, produto fundamental para toda a cadeia agropecuária. A produtividade média gaúcha é de 40 sacos por hectare, a menor do Brasil. Nos Estados Unidos, obtém-se 170 sacos. Eles irrigam. Nós, não. Para continuar avançando com o Mais Água, Mais Renda temos que vencer barreiras culturais que ainda impedem o aumento da área irrigada. Por isso, promoveremos seminários regionais em busca do convencimento do produtor sobre os efeitos econômicos e sociais do bom uso da água. Irrigando, aumentamos a produtividade, produzimos mais alimentos, geramos mais riquezas e colaboramos para diminuir a fome de milhões de irmãos que vivem em condições indignas. Contribuímos, ainda, para o aumento da renda dos produtores e, com maior oferta, para a diminuição do preço dos alimentos. A água pode saciar a fome do mundo.

Luiz Fernando Mainardi Secretário estadual da Agricultura, Pecuária e Agronegócio

RAUL JOSÉ DREYER Diretor Comercial

JONES ALEI DA SILVA Diretor Administrativo

MARIA ROSILANE ZOCH ROMERO Editora-chefe

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