Um Ou Mais Graus de Separação

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Expectativa x Realidade

V

olto para casa à noite. Não há muitas pessoas na rua nesse horário. A maior parte da caminhada é bem solitária. Viro a esquina e vejo pessoas esperando no ponto de ônibus, provavelmente moram em outra cidade. Passo por um garoto bonito, abraçado a uma mochila, que espera por seu ônibus num canto isolado. Desço uma ladeira e a luz de um poste com defeito apaga. Todo dia é assim. Com o tempo, essa parte se tornou a mais esperada do meu dia. Há certa magia nessa rotina. Não sei ao certo para onde essas pessoas vão, como se chama o garoto bonito ou por que a lâmpada do poste se apaga quando eu passo. O certo é que todo dia isso acontece e todos esses pequenos mistérios me encantam. Um dia o garoto bonito olhou para mim com interesse. Acho que ele deu um pequeno aceno com a cabeça, como se nos conhecêssemos. Esbocei um sorriso. Ou pelo menos acho que o fiz. No fundo penso que ele sempre estará lá me esperando. Esperando que um dia eu pare e coloque a conversa em dia, conte as novidades, mas eu sempre estou apressada demais para fazer isso. Dia após dia ele se contenta apenas com o meu aceno. Quando me deitei nessa noite, fiquei um tempo imaginando como seria nossa conversa, se eu tivesse coragem. Eu perguntaria seu nome, ele responderia. Provavelmente algum nome bíblico. Ele diria que faz algum curso de exatas, e admiraria minha coragem de estudar humanas. Eu perguntaria o que estava tocando 59


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