Continuum 01 - Tempo da arte, arte do tempo

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ITAĂš CULTURAL Tempo da arte, arte do tempo

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. jul 2007 | itaucultural.org.br


Idéias em continuidade Ampliar o debate. Esse é um dos desafios que norteiam Continuum – a revista do Itaú Cultural. A publicação é uma das ferramentas para romper as fronteiras físicas de uma instituição que busca a democratização do acesso à cultura e que tem o compromisso de estimular a reflexão, sempre. O Itaú Cultural reafirma, com a revista, sua determinação de fazer a arte e a cultura reverberarem com maior intensidade e de estender ainda mais seu alcance a todo o país. Com vinte anos de atuação, o Instituto cria produtos culturais e os distribui nacionalmente de forma gratuita; leva programação a instituições; apóia a produção artística; e persegue a renovação constante. Continuum é uma renovação. Revista impressa e virtual (acessível em itaucultural.org.br), traz reflexões sobre um tema a cada mês. Aos textos publicados na edição impressa somam-se as atualizações da versão virtual, que passa a contar, inclusive, com matérias produzidas pelos usuários. Neste número, são exploradas as aplicações artísticas do conceito de continuum espaçotempo, que ganhou relevância com a teoria da relatividade de Einstein. A teoria é tema também da exposição Memória do Futuro – Dez Anos de Arte e Tecnologia no Itaú Cultural, que entre julho e setembro poderá ser visitada na sede da instituição. Como desdobramento do continuum espaçotempo, o tema geral desta edição é Tempo da Arte, Arte do Tempo, com artigos que refletem sobre a representação do tempo e do espaço nas artes plásticas, no cinema, na dança, na literatura e na música. Em entrevista, o físico Marcelo Gleiser dá exemplos desse conceito no cotidiano, e na Área Livre, seção dedicada a produções de várias áreas de expressão, uma fotografia tenta revelar a união entre tempo e espaço.

capa | imagem: Cia de Foto Tiragem 10 mil - distribuição gratuita Sugestões e críticas devem ser encaminhadas ao Núcleo de Comunicação e Relacionamento atendimento@itaucultural.org.br. Jornalista responsável Ana de Fátima Sousa MTb 13.554

As imagens das páginas 8 (reproduzida também no sumário), 9 e 11 estão sob licença de Creative Commons Attribution 2.5.

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ITAÚ CULTURAL

sumário .5 A literatura e o labirinto do tempo

Permanências e rupturas da escrita .8 A morte de Cronos

Tempo-técnica e tempo-tema nas artes plásticas . Tudo é relativo

Em entrevista, Marcelo Gleiser faz as pazes entre tempo e espaço . 6 A arte de consertar relógios

Paulinho da Viola faz o tempo correr a seu favor . 9 Morel ou o tempo da eternidade

Resenha de um livro extremamente humano . 0 O ano passado em 2046

Quando Maria Antonieta visitou o Hermitage . 5 Caos na dança

Grupo aprofunda possibilidades cinéticas do movimento

. 6 Área livre

Todos os tempos em uma foto

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imagem: Cia de Foto


A literatura e o labirinto do tempo

artigo

Como se dá a convergência de tempos e espaços na literatura mundial

Por Micheliny Verunschk Neste exato instante, enquanto Homero, aedo cego, de existência duvidosa, recita a Ilíada, ao som de sua cítara, Dante escreve um verso, o último, de um poema: l’amor che move il sole e l’altre stelle . Ainda nesse mesmo recorte de tempo, Fernando Pessoa, em Lisboa, sente dúvidas a respeito de “Tabacaria”, um poeta ainda não nascido vê o primeiro poema de sua vida num livro holográfico que sua mãe encomendou numa dessas lojas virtuais, e Jorge Luis Borges, tão cego quanto Homero, recita “O Labirinto”, cujo centro é ele, Minotauro de si mesmo, para deleite e encantamento de María Kodama. Este é o tempo da literatura, que não é o tempo cíclico, dado pelas transformações da natureza, mas também não é o tempo histórico, com suas manifestações e contradições socioeconômicas e culturais. E tampouco o tempo dos sentimentos e afetos, o tempo interior que cada ser humano vivencia como seu. Articulado entre todos os tempos, o tempo da literatura se estende como um continuum arquitetado entre permanências e rupturas, construção e destruição, coexistência num presente sempre presentificado, no ontem, no agora, no depois, como cogita Santo Agostinho: “[...] é impróprio afirmar que os tempos são três: pretérito, presente e futuro. Mas talvez fosse próprio dizer que os tempos são três: presente das coisas passadas, presente das presentes, presente das futuras” . Esse cruzamento entre as categorias de tempo extrapola o meramente cronológico e permite que obras (tanto de prosa quanto de poesia) e autores de diversas épocas dividam a mesma fatia espaço-temporal. De que modo, ou modos, isso é possível? Para Marcel Proust, autor de Em Busca do Tempo Perdido, por exemplo, os escritores de todas as épocas estão a ocupar-se da criação de uma única obra, que funcionaria como o elo com a contemporaneidade. Diz, em A Prisioneira: “[…] Eu explicava a Albertine que os grandes literatos nunca fizeram senão uma única obra, ou melhor, refrataram através de meios diversos uma mesma beleza que trazem ao mundo” .

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Bergson, filósofo francês, denomina esse elo de durée (duração), uma sucessão heterogênea de estados da consciência em contínua ampliação ou enriquecimento, um fluxo criador que, entre memória e realidade, está sempre em movimento e apontando para o devir. Para ele, a durée está na base do processo evolutivo como um impulso vital de onde todas as coisas surgem e se transformam pelo primado da força e da beleza. Esse processo evolutivo promove um retorno à natureza e à relação de justiça com o mundo muito próximo da “aliança com as coisas” de que fala a poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen: “A coisa mais antiga de que me lembro é dum quarto em frente do mar dentro do qual estava, pousada em cima duma mesa, uma maçã enorme e vermelha. [...] Não era nada de fantástico, não era nada de imaginário: era a própria presença do real que eu descobria. [...] Em Homero reconheci essa felicidade nua e inteira, esse esplendor da presença das coisas. [...] Sempre a poesia foi para mim uma perseguição do real. Um poema foi sempre um círculo traçado à roda duma coisa, um círculo onde o pássaro do real fica preso” .

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imagem: Cia de Foto

Podemos afirmar que a literatura, como arte que agrega prosa e poesia, é, ela mesma, um work in progress que, à medida que se faz, prepara seus próprios autores e, mais, inventa, a seu modo e conforme suas exigências, seus próprios leitores. Estenderse, alongar-se, deslocar-se e transtornar-se pelo tempo é um jogo de criação. O espaço em que a literatura habita é a geografia do tempo e, desse modo, a vontade mais profunda não é outra senão o desejo de eternidade, com tudo de provisório que, é claro, cabe nessa palavra. Neste exato instante, enquanto Jorge Luis Borges, aedo cego, de existência duvidosa, recita um verso de A Divina Comédia, ao som de sua cítara, Fernando Pessoa ajuda um poeta ainda não nascido a escrever um verso de seu primeiro poema: l’amor che move il sole e l’altre stelle. Ainda nesse mesmo recorte de tempo, Dante, em Lisboa, sente dúvidas a respeito de “Tabacaria” e Homero, tão cego quanto Borges, recita um poema, cujo centro é ele, Minotauro de si mesmo, para deleite e encantamento de María Kodama, perdida e encontrada para sempre no labirinto do tempo..


Navegue nas dobras do tempo Sugestões de leitura As Mil e Uma Noites: clássico hipertexto da literatura árabe, é uma coletânea de contos encadeados num modelo em que cada história contém a seguinte ad infinitum. Inesgotabilidade, permanência e vitória da palavra dão a tônica dessa obra.

Finnegans Wake, James Joyce: segundo Donaldo Schüler, tradutor da obra para o português, trata-se de “uma descida na história até as origens da humanidade”. O romance manipula os extraordinários números de 60 línguas e 60 mil verbetes.

Viva Vaia, Augusto de Campos: “PASSENTE / PRESTURO / FUTUADO.” No livro, a confluência dos tempos deságua em um lugar que une os aedos gregos aos aedos popcretos da sociedade industrial.

O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam, Jorge Luis Borges: conto em que a multiplicidade do tempo abre um leque de mundos tão diversos quanto simultâneos e reais.

Os Cantos, Ezra Pound: “épica sem enredo”, segundo H. Kenner, esse poema alinhava referências que vão de Homero ao poeta provençal Guillem de Cabestanh, passando por Ovídio, Dante e Shakespeare, entre outros, sem prender-se a qualquer ordem cronológica.

O Ano da Morte de Ricardo Reis, José Saramago: entrecruzamento de vozes, personas e tempos num romance em que o Outro é personagem por excelência. Avalovara, Osman Lins: nesse romance híbrido, construído em espiral baseada em um quadrado mágico, as categorias de tempo e espaço convergem incessantemente por meio de oito linhas narrativas.

Notas . “O amor que move o sol e as outras estrelas.” . Santo Agostinho. Confissões. Petrópolis: Vozes, 990, p. 8 . . PROUST, Marcel. Em Busca do Tempo Perdido. In: BERGEZ, D. et al. Métodos Críticos para a Análise Literária. São Paulo: Martins Fontes, 997, p. 0 . . ARÊAS, Vilma (org.). Poemas Escolhidos. São Paulo: Cia. das Letras, 00 , p. 55.

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A morte de Cronos

artigo

Uma análise linear da não-linearidade da arte

Da redação Os artistas plásticos sempre beberam na fonte do tempo para compor suas obras. Seja como tema, seja como técnica, o tempo e sua passagem, sua sincronicidade e seu congelamento integram representações artísticas. Já no Egito Antigo, além dos objetos pessoais de seus ocupantes, câmaras mortuárias eram adornadas com imagens de alimentos, os quais, supunhase, garantiriam na eternidade o desfrute das riquezas acumuladas em vida. Como alimentos são perecíveis, a forma encontrada pelos egípcios para driblar o tempo foi a representação pictórica de víveres, executada por se acreditar que estes proveriam a subsistência dos mortos.

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Vanitas, de Fransciscus Gysbrechts


Impression, Soleil Levant, de Claude Monet

Outro indício de representação do tempo pode ser visto nos mosaicos da arte bizantina, na Idade Média. Nesse período, predominavam os temas sagrados, que serviam à afirmação e à propagação do cristianismo como credo oficial. Imagens de santos e de Cristo eram envoltas em uma aura grandiosa. Como não se utilizavam perspectiva, movimento e volume, as figuras tinham aspecto chapado e eram quase sempre colocadas de forma simétrica na composição, como se estivessem elevadas do solo. Esse recurso era utilizado para sugerir que os personagens representados não pertenciam ao plano terreno, eram atemporais. Outro símbolo do plano celestial era o fundo dourado, presente em quase todas as pinturas.

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A natureza-morta (do inglês still life, que, em tradução mais ou menos literal, significa vida parada) ganha força na pintura ocidental a partir do século XVII. Trata-se de uma vertente da pintura que aborda o tempo por excelência. As pinturas vanitas (uma alusão às palavras vaidade e hedonismo), freqüentes na Holanda no período barroco, trazem em sua composição suntuosos arranjos de flores, frutos e alimentos acompanhados de elementos simbólicos da impermanência da vida humana, como caveiras, velas queimando ou ainda flores despetaladas. No impressionismo, um mesmo objeto era representado várias vezes em momentos distintos, de forma que a passagem do tempo pudesse revelar nuances imperceptíveis ao olho humano, como na série Catedral de Rouen, pintada por Monet no fim do século XIX. Nessa seqüência, com mais de 0 telas, o pintor registra a imagem do edifício gótico desde a madrugada até o entardecer. A variação cromática quadro a quadro sugere, em caso extremo, efeitos como a dissolução da catedral. Técnica semelhante também pode ser vista na fotografia, arte que tem por excelência a missão de congelar o instante. Dando um salto no tempo, chega-se às primeiras vanguardas modernistas do século XX. Com o futurismo de Marinetti, Giacomo Balla, Carlo Carrà e Umberto Boccioni, entre outros, o tempo passa a ser um recurso para demonstrar a força transformadora da máquina, objetosímbolo da era moderna. Em O Manifesto Futurista, de 909, Marinetti faz uma apologia à velocidade, motor da passagem do tempo: “Tudo se move, tudo corre, tudo se desenrola rápido. Uma figura não é mais estável diante de nós, mas aparece e desaparece incessantemente. Pela persistência da imagem na retina, as coisas em movimento se multiplicam, se deformam, assim como um cavalo, que durante uma corrida parece ter 0 patas e não apenas ”.

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O trecho dá a dimensão da revolução proporcionada pelo futurismo na representação pictórica. Para esse grupo de artistas, os objetos se interpenetravam continuamente a um só tempo, como se houvesse vários tempos num só espaço. Exemplo é o Nu Descendo a Escada Nº 2, de um Duchamp que em 9 , ano de criação da obra, ainda militava na vaga futurista. A pintura apresenta estágios superpostos de movimento, garantindo a sensação cinemática do fluxo. Boccioni leva essa experiência para a escultura, criando, em 9 , a emblemática Formas Únicas de Continuidade no Espaço, que comemora a força e o dinamismo da vida moderna, a qual anda a passos largos, tal qual a figura representada. O cubismo, cujos principais representantes são Picasso, Braque, Gris e Léger, também se preocupou em registrar as várias etapas de um movimento e, como decorrência, a passagem do tempo. Dividido em duas vertentes, cubismo analítico e cubismo sintético, analisava a forma dos objetos, partindo-os em fragmentos e espalhandoos pela tela. Segundo David Cottington, em Cubismo (Cosac Naify, 999, p. 8), “[...] no contexto da filosofia bergsoniana então em voga, foi o caráter distintivo da experiência urbana moderna que chamou atenção de muitos. Seus conceitos de duração (la durée), abarcando passado, presente e futuro, ou de élan vital, que conferia um ímpeto coletivo à vida cognitiva dos indivíduos, compunham um quadro de referência para as interpretações imaginativas dessa experiência”. O termo simultaneidade surge nessa época de culto ao moderno, segundo o teórico. Tais experiências formam o caldo de cultura para o surgimento do surrealismo. Espécie de radicalização das experiências anteriores, o movimento, cujos principais representantes são Miró, De Chirico e Dalí, bebe na fonte da psicanálise freudiana ao trabalhar com a livre associação e a análise dos sonhos. Em uma espécie de automatismo, o surrealismo, ou além do realismo, pregava a criação sem o controle consciente. As pinturas passam a representar cenas alucinatórias e objetos


distorcidos em uma atmosfera onírica. A questão temporal se impõe, já que a dimensão inconsciente embaralha qualquer tentativa de classificar o ontem, o hoje e o amanhã. Com seu método Paranóia Crítica, Dalí investiga a neurose e o conteúdo dos sonhos, representados pela distorção de formas, como em uma de suas mais famosas telas, A Persistência da Memória, de 9 , que curiosamente apresenta em primeiro plano um relógio esvaziado de sua massa.

Criam-se novas formas de subjetividade, mais hedonistas, com os avatares (representações criadas pelo próprio representado, que assume assim a tarefa divina de criar os seres), e até mesmo uma vida paralela, a Second Life, que não despreza o consumismo, haja vista as negociações de obras de arte nesse ambiente. Nos dias atuais, vive-se uma valorização do presente, em interessante contraponto à antiguidade e sua glorificação do passado e ao futurismo e sua crença no progresso do porvir.

Mais recentemente, vê-se a nova e curiosa configuração temporal proporcionada pela virtualidade, que com efeito reverbera na arte que se faz neste momento. Surgida nos estertores do século XX, a era virtual traz outra escala de tempo: a instantaneidade. No contexto de um mundo cada vez mais globalizado e sem fronteiras, abremse, com certa democracia, as portas de um território não-físico, o ciberespaço.

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Composição cubista de Maria Blanchard


Tudo é relativo

entrevista

Da redação Professor do Dartmouth College, em Hannover, Estados Unidos, o físico e astrônomo Marcelo Gleiser, de 7 anos, é reconhecido por sua habilidade em traduzir para uma linguagem acessível aos leigos conceitos científicos herméticos e por criar convergências entre os fenômenos estelares e as artes e a história universal. Doutor pela Universidade de Londres, sua disciplina é conhecida no campus da universidade americana como física para poetas. Autor de cinco livros, roteirista e colunista de jornal há mais de dez anos, Gleiser é membro convidado da Academia Brasileira de Filosofia. Nesta entrevista a Continuum, por telefone, ele aborda o conceito físico de continuum espaço-tempo, que ganhou relevância com a teoria da relatividade de Einstein, em 905, segundo o qual tempo e espaço são dimensões equivalentes. O físico aponta algumas aplicações do continuum espaço-tempo na vida cotidiana, como em aparelhos a laser e digitais e no sistema GPS, e esclarece que tempo e espaço têm relação direta com a velocidade da luz, por isso sua equivalência é imperceptível aos seres humanos: “[...] a teoria da relatividade mostrou que existe uma relação muito profunda entre o espaço e o tempo, e que a percepção que se tem da realidade é uma percepção míope”.

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O que é o continuum para um cientista familiarizado com o assunto e para um leigo? Cientificamente, quando se fala em continuum, está-se falando em continuum espaço-tempo. Antes de Einstein, a concepção de espaço e tempo que tínhamos era a de Isaac Newton, que separava essas duas dimensões, chamadas de espaço e tempo absolutos. Para Newton, o espaço é a percepção humana da realidade, como nós vemos o mundo. É uma espécie de palco onde os fenômenos da natureza acontecem sem interferência. Quando Einstein criou, em 905, a teoria da relatividade, mostrou que existia uma relação muito profunda entre o espaço e o tempo, e que a percepção que se tem da realidade é uma percepção míope. Como se dá essa relação? A diferença entre as teorias de Newton e de Einstein é que o primeiro separava o espaço e o tempo e o segundo mostrou que, na verdade, eles formam uma coisa só. Esse é o chamado continuum espaçotempo. Einstein mostrou que a estrutura do continuum espaço-tempo tem a ver com a velocidade da luz. Quanto mais próximo da velocidade da luz se está, mais essa estrutura se revela. Como os movimentos humanos são muito mais lentos do que a velocidade da luz, que é a velocidade-limite, não se percebe a união do espaço e do tempo.

Marcelo Gleiser | imagem: arquivo particular .


Se tempo e espaço são uma coisa só, pode-se dizer que existe passado, presente e futuro? Passado, presente e futuro existem exatamente por causa da velocidade da luz. Ela é o limite da causalidade, da relação entre causa e efeito. Ela ordena nossa percepção da realidade. O continuum espaço-tempo é simplesmente uma relação que explica como as coisas acontecem. O conceito de continuum espaço-tempo tem aplicação prática? Existem várias aplicações práticas, uma delas é o sistema GPS. Tudo o que tem a ver com laser, tecnologia digital, energia de circuitos muito rápidos tem a ver com relatividade.

Na história da humanidade, há alguma incongruência que possa ser vista como conseqüência dessa falha? Eu posso dizer o seguinte: a falha mais importante na história do universo é uma falha no espaço-tempo: o Big Bang, o início de tudo. Nascemos essencialmente de uma falha no espaço-tempo. No centro de nossa galáxia, a Via Láctea, há um buraco negro que pesa mais de milhões de sóis. Exatamente lá, no olho da tempestade, vamos dizer assim, há uma grande falha no espaço-tempo.

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Atualmente, temos a percepção de que o tempo passa cada vez mais rápido. Essa percepção tem a ver com o continuum? Essa percepção é somente psicológica. Mais do que nunca, estamos sendo bombardeados por informações, o que dá a impressão de que as coisas estão acontecendo mais rápido, já que o cérebro tem de processar de forma mais rápida essas informações. Nosso cérebro está processando muito mais inputs do que antigamente. Então, temos a impressão de que o tempo está passando mais rápido. Mas, em termos físicos, a Terra continua girando a cada horas!

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Os cientistas admitem a possibilidade de falha no continuum espaço-tempo? Imagine o continuum espaço-tempo como se fosse a superfície de um colchão. Se não há ninguém sentado no colchão, ele é bem plano. Esse é o continuum da relatividade especial. Se alguém sentar no colchão, ele vai encurvar. Esse é o continuum da relatividade geral. Quanto mais massa, mais curva será a geometria do espaço-tempo. O efeito da massa é encurvar a geometria do espaço e alterar o fluir do tempo. O buraco negro é uma falha no continuum espaço-tempo. É uma região de espaço-tempo que tem tanta massa, tem tanta gravidade, que o espaço se curva de tal forma que se fecha sobre si mesmo. Nada escapa desse espaço, nem mesmo a luz, por isso se chama buraco negro. Em uma analogia, é como se uma pessoa se sentasse no colchão e ele a engolisse.

Como o continuum espaço-tempo pode ser aplicado nas diversas expressões artísticas? Existem várias discussões sobre o efeito da relatividade nas artes. Einstein escreveu a teoria da relatividade especial em 905, e Picasso pintou Les Demoiselles d’Avignon, obra que inaugura o cubismo, em 907. As pinturas cubistas representavam todas as dimensões de uma pessoa ou objeto, como uma forma de desarticular a estrutura do espaço e rearticulá-la num plano bidimensional. Mesmo que Picasso e Einstein não tenham se conhecido, seu contexto cultural era o mesmo. Na literatura também há a idéia do relativismo. Pode-se contar a mesma história de maneiras diferentes, segundo pontos de vista diferentes e com um fluir diferente. Um livro profético é A Máquina do Tempo, escrito por H.G. Wells em 895, dez anos antes da teoria da relatividade, que tem como tema a viagem no tempo por meio de uma máquina. Na música, no início do século XX, temos Mahler, Stravinsky e a idéia de repensar a representação da música, o ritmo. Todas essas vanguardas também sofreram a influência da teoria da psicanálise, de Freud, e trabalhavam com o inconsciente. No cinema, o filme 2001: Uma Odisséia no Espaço (de Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke) também apresenta a idéia de viagem no tempo e no espaço. Na verdade, é uma reflexão sobre o que significa ser divino, é uma reflexão sobre Deus. Outro filme, mais moderno, que trabalha a questão da viagem no tempo é Contato (de Robert Zemeckis), baseado no livro de Carl Sagan.


é que o n i e t s n i E on e de undo mostrou t w e N orias de empo e o seg só. e t s a e r a ent eot a o ç ç n a ma cois e p r u s e f e m a o a A di m separav rdade, eles for o r i e Então, nesse caso, os paradoxos não existem. m i ve pr que, na No momento, essa é a teoria mais aceita.

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O continuum pressupõe que tudo já está determinado? As leis de Newton poderiam ser utilizadas para prever tudo o que vai acontecer no futuro. Há uma questão filosófica muito profunda nisso, porque dessa forma se acaba com o livre-arbítrio. Já que tudo está predeterminado, não se tem mais escolhas. O que se mostrou na física moderna é que existem falhas e que nada está predeterminado. Sabemos que a Terra dá uma volta em torno de si a cada horas, e isso vai continuar acontecendo. Futuramente, vai haver uma desaceleração, mas esse fenômeno vai demorar muito para acontecer. A Lua vai se afastar um pouco da Terra, mas isso não está agendado. Existem sistemas físicos com os quais podemos determinar o que vai acontecer no futuro. Eu escrevi um livro sobre o fim do mundo, chamado O Fim da Terra e do Céu, e creio que precisaríamos ter muito mais informações sobre o universo do que dispomos no momento para prever quando será o fim do mundo. Pesquisando para esta entrevista, deparamos com a expressão paradoxo do tempo. Você poderia explicar esse conceito e sua relação com o continuum? Um exemplo de paradoxo do tempo ocorre se hipoteticamente uma pessoa puder viajar mais rápido no tempo do que a velocidade da luz. A princípio, essa pessoa poderia voltar para o passado. Vamos supor que essa pessoa voltasse para o passado e matasse seu avô. Isso seria um paradoxo do tempo, pois essa pessoa não existiria no futuro. Existem várias tentativas de explicação desse paradoxo. Uma delas é que, se fosse possível viajar para o passado, isso criaria uma nova vertente do continuum, uma nova história. Outra diz que as leis da física parecem proibir que se viaje para o passado.

Agora, viagens para o futuro são possíveis. Nesse caso, ocorre o que é chamado de paradoxo dos gêmeos da relatividade, que é o seguinte: imaginemos uma situação em que irmãos gêmeos se separam. Um fica na Terra, e o outro viaja, numa espaçonave, durante um tempo próximo ao da velocidade da luz. Quando um relógio viaja em uma velocidade alta, o tempo passa mais devagar. Então, o irmão que ficou na Terra teria envelhecido quarenta anos. E o que viajou próximo à velocidade da luz, quando retornasse à Terra, teria envelhecido somente vinte anos. Ele viajou vinte anos para o futuro. Essa situação hipotética, segundo a relatividade, é possível, contanto que haja uma máquina, um foguete, que viaje próximo à velocidade da luz. Quais as implicações filosóficas do conceito de continuum? As equações da relatividade são da física, e na matemática o conceito de continuum também existe. Mas ele pode ainda ter conseqüências filosóficas, como a idéia de que nossa percepção da realidade é limitada, já que nunca nos aproximamos da velocidade da luz. Temos, então, uma visão míope do que realmente acontece no mundo. Mas o continuum espaço-tempo é um conceito essencialmente da física, com várias conseqüências observacionais. As teorias de Einstein são teorias que estão muito além de nossa percepção do real. Uma coisa interessante da teoria da relatividade é que Einstein criou uma plasticidade do espaço. Antes dele, o espaço era rígido; depois, o espaço e o tempo passaram a ser coisas performáveis pela ação do observador. Existem várias maneiras de analisar como a plasticidade do espaço criada pela teoria da relatividade influenciou o pensamento artístico no século XX.

O burac o no con negro é uma f tinuum alha . 5


A arte de consertar relógios

resenha

Ou por que Paulinho da Viola não sente saudades

Da redação Paulinho da Viola gosta de consertar relógios. É uma das atividades com as quais ocupa suas horas livres. Abre os aparelhos, analisa as engrenagens, retira a poeira, troca as peças. Muitos sabem fazer reparos em relógios, mas o músico vai além: ele também conserta, a seu favor, o fluxo ininterrupto do tempo.

divulgação/videofilmes

Neto artístico de Noel Rosa, filho verdadeiro do lendário sambista Paulo César Faria, um dos fundadores da Portela, afilhado de Manacéa, Paulo da Portela e outros bambas, contemporâneo de Clara Nunes, Leci Brandão e Paulinho Nogueira e “pai” de uma geração frondosa, que inclui nomes como Marisa Monte e Teresa Cristina, Paulinho parece reunir todos os tempos em um. O que fica claro em Paulinho da Viola – Meu Tempo É Hoje, documentário de 00 dirigido pela carioca Izabel Jaguaribe.

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Cenas do filme Paulinho da Viola – Meu Tempo É Hoje, de Izabel Jaguaribe


O longa, que conta com argumento e entrevistas realizados pelo jornalista Zuenir Ventura, mostra cenas musicais memoráveis. Em uma delas, Paulinho, no cavaquinho, toca, acompanhado por seu pai e pelo filho João, ambos no violão, Rosinha, Essa Menina. Representantes de três épocas, três tempos distintos – passado, presente e futuro – numa roda de samba. Em outro momento, Marisa Monte canta com Paulinho aquela que ele considera uma das principais músicas do século, que atravessou os anos sem sofrer danos do tempo: Carinhoso, de Pixinguinha. Zeca Pagodinho, Elton Medeiros, Marina Lima e, é claro, a Velha Guarda da Portela também participam de outras seqüências do filme.

A relação que o artista Paulinho estabelece com o tempo já é conhecida; está presente em muitas de suas composições – Foi um Rio que Passou em Minha Vida, Sinal Fechado, 14 Anos, entre outras. Menos conhecida – e agora revelada no documentário de Izabel – é a relação que o Paulinho pai de família, discreto cidadão carioca, estabelece com o tempo. Ou melhor, com o seu tempo. Pois é de fato um tempo próprio, que muitas vezes contrasta com a noção de tempo daqueles com quem o cantor, instrumentista e compositor convive. “Quando eu penso no futuro, não esqueço meu passado.” Os versos de Dança da Solidão ilustram bem a maneira como o músico, que tem uma relação muito intensa com o passado, encara a saudade. Para ele, que diz nunca sentir nenhum tipo de nostalgia, tudo aquilo que foi engolido pelo tempo não está de forma alguma perdido. O passado vive no presente. Parafraseando os versos de Wilson Batista (“meu mundo é hoje, não existe amanhã pra mim”), um de seus compositores favoritos, Paulinho conclui: “Eu costumo dizer que meu tempo é hoje; eu não vivo no passado, o passado vive em mim”.

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Morel ou o tempo da eternidade

resenha

Por Micheliny Verunschk O que faríamos se nos fosse permitida a eternidade? Poderíamos fazer alguma coisa com ela? Isso seria uma dádiva ou uma maldição? Essas e outras questões se cruzam na leitura daquela que foi definida por Jorge Luis Borges como uma trama perfeita, o romance A Invenção de Morel (Cosac Naify, 006), de Adolfo Bioy Casares. Narrado sob a forma de diário por um fugitivo da justiça que escolhe uma ilha supostamente tocada pela peste, ou algo que o valha, como refúgio, a história gira em torno da relação do homem com o tempo em sua dupla função: engendrar e destruir. Publicado pela primeira vez no ano de 9 0, esse romance denso e curto tem como eixo uma fantástica invenção, uma máquina capaz de capturar momentos fugidios da realidade em todos os seus aspectos materiais e sensoriais e, além disso, reproduzi-los e manipulá-los no espaço. Assim, na ilha misteriosa, tudo o que o narrador aventureiro percebe é duplicado: a paisagem prefigurada em duas luas, a vegetação simultaneamente exuberante e degenerada, o impulso de vida e a contundência da morte que o levam a se apaixonar por Faustine, mulher e imagem de mulher, tão enredada nas projeções da máquina quanto todo o resto. Faustine é uma nova Eva. É por ela que o invento é construído, é por ela que o tempo é conquistado, submetido. No entanto, toda maçã tem seu preço e, embora Morel – Adão e Prometeu −, movido pelo desejo por essa mulher, consiga suster o tempo e manipulá-lo, o que fica preso fica, inevitavelmente, tocado de morte, terrível morte que aprisiona o ser num momento para sempre repetido. Assim, Faustine e toda a ilha não passam de reflexos apodrecidos e sempre renovados do que um dia foram, e o que o narrador presencia e acaba por amar já não existe senão sob aquela forma. Atual e perturbador, A Invenção de Morel pode ser lido como crítica à sociedade tecnológica e midiática − “Sede não É Nada, Imagem É Tudo”. Mas são as questões sobre o tempo que suscitam maior interesse: a multiplicidade e simultaneidade temporal e espacial, a possibilidade do eterno, a compreensão das histórias pessoais pelos detalhes mínimos, o mito da felicidade, o ser humano perante a dissolução, tudo ao mesmo tempo agora. Humano, demasiadamente humano, o diário revela que o personagem principal se expõe à peste para estar, ainda que por simulação, ao lado da amada. Sua súplica final parece se dirigir a todos nós que vivemos na desagregadora contemporaneidade.

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O ano passado em 0 6

artigo

O cinema e a construção de uma nova temporalidade

Da redação As luzes se apagam. O projetor começa a rodar e a tela se ilumina. O tempo não é mais aquele que conhecemos. O tempo de uma vida. O tempo de uma história. O tempo de uma jornada. O tempo de outrora. O tempo de agora. O tempo do porvir.

divulgação/pandora filmes

Todos os tempos em um só tempo, o tempo do cinema. Como numa espécie de mágica, o cinema subverte toda uma noção temporal com a qual estamos acostumados a viver. Ao apagar das luzes e no início da sessão, durante alguns minutos – de um curta, média ou longa-metragem –, somos transportados a outro universo, em que segundos se transformam em horas e estas podem se transformar em séculos; em que passado, presente e futuro se transformam em unidade. A tão falada magia do cinema deve muito ao fato de ele nos deslocar de uma realidade temporal para outra, e isso, em tempos em que a velocidade torna a vida em sociedade cada vez mais frenética, é sem dúvida um dos melhores subterfúgios para a ditadura do relógio.

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2046: o passado presente em cada mulher


Tempo do cinema. Tempo do espectador Se o cinema tem a capacidade de transformar nossa percepção temporal, é porque ele cria sua própria concepção de tempo. Ao longo da história do cinema, diversas noções temporais foram aplicadas às obras. Se D.W. Griffith, na década de 9 0, instaurou a linguagem narrativa clássica em que o tempo segue uma linearidade de causa e efeito, Orson Welles, com seu Cidadão Kane, de 9 , torna o tempo circular, como o movimento de uma espiral. Se Eisenstein, na década de 9 0, fazia da montagem um discurso ideológico, cuja organização de imagens e sons transparece o passar do tempo, o neo-realismo italiano retira o efeito discursivo da montagem e trabalha com longos planos-seqüência, atribuindo ao tempo um caráter mais próximo da realidade.

Mas a realidade temporal raramente é alcançada em sua plenitude no cinema. Recentemente o russo Aleksandr Sokurov conseguiu o que Hitchcock, devido a limitações técnicas, tentou realizar em Festim Diabólico: um filme com uma única cena em planoseqüência. Arca Russa, de 00 , faz um passeio, de quase cem minutos, pelo Museu L’Hermitage, em São Petersburgo, mostrando personagens históricos da Rússia. Entretanto, mesmo em Arca Russa, o tempo ganha a aura cinematográfica, na qual ele é transformado em uma surreal viagem histórica. A magia – sim, ela novamente – do cinema pode ser entendida justamente pela interação temporal entre o filme e seu espectador. De um lado, o espectador carrega consigo uma série de registros mentais e experiências temporais aos quais está habituado; de outro, o filme possui seu ritmo singular, que agrega sistemas temporais próprios e dissonantes aos de quem o vê. Quando nos sentamos em frente à grande tela e assistimos a um filme, tem início uma série de relações em um âmbito temporal. Por meio de um mecanismo dialético, os valores de tempo da obra cinematográfica criam uma tensão com os valores de tempo de quem assiste a ela, estabelecendo, assim, outro tempo no qual espectador e filme podem conviver harmoniosamente ou não por alguns minutos ou horas.

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Lembrança do futuro Não são poucos os filmes que trabalham bem a questão do tempo, não somente em formato mas também em conteúdo. Em O Ano Passado em Marienbad, filme de 96 dirigido por Alain Resnais, são apresentados, em uma mesma dimensão, passado e presente – e muito provavelmente o futuro também – e os pensamentos e lembranças materializadas do narrador. Não se sabe ao certo em que temporalidade ocorrem as ações dos personagens. O ritmo lento, sombrio e muitas vezes onírico deixa claro que tudo o que é exposto ali não pertence a tempo algum que o espectador possa conhecer, surgindo daí um sentimento de estranhamento. O ano em Marienbad pode simplesmente nunca ter existido ou, se existiu, pode estar em alguma lembrança que teima em se repetir ao infinito, uma lembrança eternizada pela obra cinematográfica.

A lembrança é um tema caro no que diz respeito à questão do tempo no cinema. Em 2046 – Os Segredos do Amor, de Wong Kar-Wai, as recordações do personagem principal convivem no presente e, até mesmo, no futuro. O jornalista Chow Mo Wan, interpretado por Tony Leung, escreve uma ficção sobre 0 6, uma espécie de continuum espaço-tempo ao qual as pessoas vão para recuperar suas lembranças. Entretanto, esse futurista ano-lugar 0 6 nada mais é que a representação do próprio presente vivido por Chow, um homem incapaz de se desgarrar de certa lembrança que o atormenta. Passado, presente e futuro coexistindo simbolicamente. Talvez a cena emblemática de 2046 que resuma essa idéia seja a da atriz Faye Wong fumando um cigarro. A cena é feita em câmera lenta, os movimentos da atriz são todos desacelerados, no entanto a fumaça que sai do cigarro é veloz, causando uma belíssima incongruência temporal e evidenciando a presença de diversas temporalidades em um só momento. Se a fascinação pelo tempo no cinema é grande, o que dizer então dos filmes que têm a pretensão de retratar determinada época? Sabe-se que os filmes históricos representam muito mais o período no qual foram realizados do que propriamente o período que almejaram retratar. Das produções cinematográficas históricas recentes, um dos exemplares mais interessantes é o filme sobre a rainha austríaca Maria Antonieta. Como a própria diretora Sofia Coppola afirmou, Maria Antonieta não é exatamente um filme histórico, mas, sim, uma obra sobre a geração atual. Recorre-se a um tempo passado para retratar o atual. O passado é uma alegoria para ilustrar o agora. Em Maria Antonieta, há indícios concretos de que o século XVIII é também o século XXI.

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Cinco filmes de todos os tempos

• Primavera, Verão, Outono, Inverno e... Primavera, de Kim Ki-Duk, Coréia do Sul, 2003 Fábula sobre dois monges budistas, um novo e outro velho, e a passagem do tempo para cada um deles. • Um Homem com uma Câmera, de Dziga Vertov, Rússia, 1929 Marco do cinema mundial no que diz respeito à linguagem narrativa. A progressão temporal é ditada pela montagem de imagens e sons.

• Os 12 Macacos, de Terry Gilliam, EUA, 1995 Um prisioneiro do futuro é enviado em uma missão ao passado para impedir uma ação terrorista, que causará a destruição de boa parte da humanidade. • Trilogia De Volta para o Futuro, de Robert Zemeckis, EUA, 1985, 1989 e 1990 Uma das mais divertidas e inventivas viagens no tempo. O filme brinca diversas vezes com o conceito físico de continuum espaço-tempo.

divulgação/sony pictures

• A Máquina, de João Falcão, Brasil, 2006 Adaptação do livro homônimo, o filme desloca outra realidade espaço-temporal para uma pequena cidade do Nordeste.

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Maria Antonieta: rainha atemporal


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D.A.M. em ação | imagem: Gustavo Ramos


Caos na dança

resenha

Projeto D.A.M. aprofunda as possibilidades cinéticas do movimento

Da redação Uma bolinha de borracha cortada ao meio. Esse foi o princípio do processo criativo do espetáculo Continnum, do coreógrafo Roberto Ramos. Princípio de fato, pois, segundo Roberto, a tal bolinha estava no palco num dia de ensaio, e, quando ele se deu conta, ela já se transformara num objeto de estudo que aos poucos foi englobando conceitos polpudos como física quântica, teoria do caos, teoria dos sistemas, cibernética e, como não poderia deixar de ser, continuum espaço-tempo. Uma das poucas experiências no território da dança, em nível nacional, de aplicação, não só motora mas também filosófica, de leis da física, Continuum integra o reportório de espetáculos do projeto D.A.M. (Desenvolvimento Anímico do Movimento), linha de pesquisa realizada por Roberto, seu irmão Gustavo Ramos, artista visual, e a coreógrafa Catalina Cappeletti. Juntos, eles trabalham com a aplicação, no movimento coreográfico, das possibilidades cinéticas de situações específicas. No palco, é a bolinha, em trajetória circular constante, quem dita o movimento, que é aleatório, numa clara alusão à teoria do caos. No chão, uma listra vermelha, em formato de um grande círculo, concentra essa trajetória, como rastros deixados, registros de um passado não muito distante, um quase-presente – referência ao continuum espaço-tempo. O grupo parte da observação desse processo para criar o conceito, e com base nesse conceito criar o movimento, resultado do processo. Circularidades. Segundo Roberto, a atuação dos bailarinos consiste em perceber, em uma fração de segundo anterior, a trajetória que a bolinha vai realizar num futuro imediato, e com isso adequar seu movimento, que está no presente, não sem uma dose de improviso. Dessa maneira, bailarino e objeto formam um corpo único e o movimento leva a situações de aprisionamento e libertação, em quadridimensionalidade. Trocando em miúdos: continuum espaço-tempo. Se esse corpo é único, ele também é híbrido. Nesse caso, entra a contribuição de Gustavo, na elaboração de uma linguagem que integre mídias. Ao trabalhar com o conceito de continuum espaço-tempo, D.A.M. evoca a natureza, que, em estado puro, é integração de elementos. “Em nosso processo de trabalho, os elementos constituem um corpo híbrido. Na hibridez não se reconhece nem tempo nem espaço.” Dessa forma, Roberto, Gustavo e Catalina vão perscrutando, a cada passo aleatório, a alma do movimento.

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รกrea livre por Luiza Fagรก

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