Anais - Interaction South America 09

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Para a análise dos resultados do experimento, foi montada uma tabela (Tabela 1) que reúne as respostas de todos os participantes, separadas por grupo, constando médias das emoções positivas e das negativas para cada estímulo. De acordo com os desenvolvedores do sistema, cada animação representa uma emoção, tendo sido os termos traduzidos do inglês durante a realização deste estudo, mas vale ressalvar que os participantes não tiveram nenhum contato com tais nomenclaturas, que servem apenas para os procedimentos de análise. Em ambos os grupos observa-se que alguns dos participantes classificam as emoções de forma bastante polarizada. É comum por exemplo, classificarem com nota 4 todas as animações que representam emoções positivas e com nota 0 todas as que representam emoções negativas em relação a determinado estímulo. Tal comportamento sugere uma dificuldade no entendimento ou na adesão à ferramenta por parte desses participantes, já que um dos objetivos do sistema é indicar qual emoção cada estímulo suscita, e não apenas revelar preferências do tipo “gosto” ou “não gosto”. Esse comportamento pode ser observado muito claramente em dois dos participantes do grupo I e de forma mais sutil em outro participante do mesmo grupo e em um participante do grupo II. Outros participantes apresentam um comportamento curioso, oposto ao descrito anteriormente, dando notas altas e baixas para emoções positivas e negativas em relação a um mesmo estímulo, não permitindo avaliar se o sofá apresentado os agrada ou não, visto que suas respostas são contraditórias (exemplo: um participante declara sentir ao mesmo tempo o nível máximo de desejo e de repulsa). Esse comportamento também aparece com mais frequência no grupo I. Observa-se que os participantes do grupo I deram mais notas altas, em relação tanto às emoções positivas quanto às negativas. Assim, as médias das respostas são quase sempre mais altas no grupo I. Já no grupo II as classificações são mais baixas, seja para as emoções positivas ou negativas. A incidência de notas 0 é muito maior no grupo II do que no grupo I, chegando a ocorrer um caso em que todos os participantes classificaram com nota 0 todas as emoções negativas em relação a determinado estímulo. Esse é o caso do sofá 2, um sofá de canto com seis a oito lugares, que foi o preferido em ambos os grupos. Esse sofá recebeu notas muito altas em relação às emoções positivas, ficando com média 3,37 no grupo I – onde há uma incidência muito alta de notas 4 – e 2,3 no grupo II. Em relação às emoções negativas, apenas um participante deu notas diferentes de 0, o que resultou na média 0,45 no grupo I e na média 0 no grupo II. As emoções positivas que obtiveram notas mais altas em relação a esse estímulo diferem dentre os grupos, tendo sido alegria e fascinação no grupo I e satisfação no grupo II. Ao observar os sofás que suscitaram respostas mais negativas (médias positivas baixas e negativas altas) em cada grupo, verificam-se situações curiosas. O sofá 8 foi o que mais desagradou ao grupo I, recebendo respostas às emoções positivas que resul-

taram na média 0,33 e às emoções positivas, 2,95. Já no grupo II, esse sofá causou uma resposta positiva dos participantes, obtendo média 1,36 nas respostas positivas e 0,46 nas negativas. O sofá 10, que mais desagradou ao grupo II, obteve respostas positivas no grupo I. No grupo II todos os participantes deram nota 0 às emoções positivas e a média das emoções negativas foi de 2,04. No grupo I, o mesmo móvel recebeu média 2,08 para as emoções positivas contra 1,58 para as negativas. Todas as notas e médias aqui comentadas podem ser observadas em mais detalhe na tabela de análise de dados das respostas dos participantes ao PrEmo apresentada anteriormente. 3.2.4. Diário de registro de atividades e emoções

No contato com os primeiros participantes da pesquisa, parte deles foi solicitada a produzir um diário do sofá, registrando durante o período de uma semana anterior ao encontro com os pesquisadores as atividades realizadas no sofá e emoções relacionadas a esses momentos. Apenas uma participante dos cinco solicitados produziu esse diário. O registro é muito preciso, mostrando horários e a descrição de todas as atividades realizadas, incluindo impressões subjetivas sobre o sofá. No início da entrevista contextual com essa participante, ela comentou as anotações e muitas das observações registradas foram recorrentes durante a entrevista, confirmando que o diário é uma técnica útil para preparar o entrevistado, fazendo-o prestar mais atenção na questão estudada. Infelizmente, os demais participantes solicitados a produzir o diário não o fizeram por esquecimento ou por falta de tempo, o que sugere que o sucesso do método requer algum estímulo capaz de motivar o participante a colaborar, podendo ser um incentivo financeiro, um presente ou um mecanismo de status como a publicação da pesquisa em alguma mídia. Outra dificuldade encontrada na realização dos diários foi o fato de que muitas entrevistas não foram marcadas com a devida antecedência. Chegaram a ocorrer casos de indicação de participantes no momento da entrevista, por exemplo, quando os pesquisadores estavam na casa de uma família do grupo I e a participante apresentou uma vizinha que aceitou participar da pesquisa no mesmo momento. Também foram frequentes remarcações por pedido dos participantes. 4. CONCLUSÕES

O levantamento de métodos de sondagem de usuários aqui apresentado poderá ser utilizado como referência para o desenvolvimento de projetos no âmbito do design atitudinal. A metodologia adotada na pesquisa “Inovação familiar” serve como referência para o desenvolvimento de trabalhos similares. Os resultados da pesquisa levam a conclusões interessantes em relação aos usos e significados do sofá pelos dois grupos de participantes. No grupo I, de poder aquisitivo mais baixo, o sofá é um item importantíssimo no dia a dia de quase todos os entrevistados, concentrando grande parte das atividades domésticas e representando uma espécie de núcleo para o lazer doméstico

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